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EJesus foi o maior professor que já viveu.

Sua mensagem principal era que Deus queria


nos amar e nos conhecer. Neste livro, fala-
remos sobre um de Seus ensinamentos que
possui um gigantesco efeito na vida de todos
nós: a compaixão.
O Evangelho registra que Jesus, em Suas
andanças por todas as cidades e aldeias, ao
ver as multidões, tinha compaixão, porque an-
davam desgarrados e errantes como ovelhas
que não têm pastor (Mateus 9.35,36). Jesus
também expressou, verbalmente, esse senti-
mento por ocasião da segunda multiplicação
de pães e peixes: Tenho compaixão da multi-
dão (Mateus 15.32).
Porque Jesus não só enxergava, mas tam-
bém se compadecia do sofrimento alheio, mui-
tos clamavam e gritavam diante dele: “Filho de
Davi, tem misericórdia de nós”. A compaixão
Silas Malafaia de Jesus pelo sofrimento alheio ia muito além
é psicólogo clínico, conferencista do mero sentimento, pois Ele se entregava ao
internacional e pastor evangélico. ministério de aliviar os outros de suas dores.
Compaixão. Eis um dos grandes ensina-
mentos de Jesus que temos esquecido ou re-
legado a um segundo plano, apesar de repetir-
mos a palavra constantemente. Aprender com
Jesus é o que faremos neste livro, e, ao final,
esperamos ser capazes de exercer a compai-
xão como nosso Mestre. Boa leitura!

EDITORA CENTRAL GOSPEL


Estrada do Guerenguê, 1851
Taquara - Rio de Janeiro - RJ
CEP: 22713-001
PEDIDOS: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com

ISBN 978-85-7689-472-8
33010
SILAS MALAFAIA

LIÇÕES DA
COMPAIXÃO DE
JESUS
Copyright © 2014 por Editora Central Gospel
DIRETORA EXECUTIVA
Elba Alencar
Dados Internacionais de Catalogação
GERÊNCIA EDITORIAL na Publicação (CIP)
Jane Castelo Branco

COORDENAÇÃO
EDITORIAL Lições da compaixão de Jesus / Silas Malafaia
Michelle Candida Caetano Rio de Janeiro: 2014
64 páginas
PESQUISA,
ESTRUTURAÇÃO E ISBN: 978-85-7689-472-8
COPIDESQUE 1. Bíblia - Vida cristã I. Título II.
Marcus Braga

REVISÃO As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas


Débora Costa da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), salvo
Paulo Pancote indicação específica, e visam incentivar a leitura das
Sagradas Escrituras.
CAPA
E DIAGRAMAÇÃO É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste
Eduardo Souza livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos,
xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações
breves, com indicação da fonte bibliográfica.

Este livro está de acordo com as mudanças propostas


pelo novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor a
partir de janeiro de 2009.

1ª edição: Dezembro/2014

Editora Central Gospel Ltda


Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara
Cep: 22.713-001
Rio de Janeiro – RJ
TEL: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com
SUMÁRIO

Apresentação................................................................

Capítulo 1 – Compaixão – o que é isso?........................

Capítulo 2 – A compaixão de Jesus pelos necessitados.....

Capítulo 3 – A compaixão e a hipocrisia do falso zelo......

Capítulo 4 – A compaixão que produz milagres............

Conclusão.....................................................................

Ore comigo...................................................................
APRESENTAÇÃO
E percorria Jesus todas as cidades e
aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e
pregando o evangelho do reino, e curando to-
das as enfermidades e moléstias entre o povo.
(Mateus 9.35).

Jesus foi o maior professor que já viveu. No


entanto, Ele era muito mais que isso. Como Filho
de Deus, os seus ensinamentos eram a verdade.
Sua missão era instruir aos outros como conhecer a
Deus. Sua mensagem principal era que Deus queria
nos amar e nos conhecer. Ele ensinava enquanto
andava com os seus seguidores. Ele ensinou de um
barco, de um monte, de uma casa e do templo. Ele
ensinava em sermões, mas preferia usar uma histó-
ria ou uma parábola. Muitas pessoas têm perguntas
sobre o que Jesus falou sobre vários tópicos. O que
Ele ensinou sobre Deus? O que ele pensava de si
próprio? O que Ele queria dizer quando falou do
Reino? Qual era o significado de sua morte? O que
Ele falou do Espírito Santo? Como Ele descreveu
os seres humanos e suas necessidades? E a Igreja?
Aprender com Jesus

Ele ensinou alguma coisa sobre o fim do mundo?


Quais eram as principais características de seus
ensinamentos morais?
Neste livro nos dedicaremos a falar sobre um
dos ensinamentos de Jesus que possui um gigan-
tesco efeito na vida de todos nós – a compaixão.
O Evangelho registra que Jesus, em suas an-
danças “por todas as cidades e povoados”, ao ver
as multidões, tinha compaixão, porque andavam
desgarrados e errantes, como ovelhas que não têm
pastor. (Mateus 9.35-38). Pouco adiante, Mateus
volta a registrar: E Jesus, saindo, viu uma grande
multidão, e possuído de íntima compaixão para
com ela, curou os seus enfermos (Mateus 14.14).
Jesus mesmo expressa verbalmente esse sentimento
por ocasião da segunda multiplicação de pães e pei-
xes: Tenho compaixão da multidão (Mateus 15.32).
Porque Jesus não só enxergava, mas também
se compadecia do sofrimento alheio, muitos cla-
mavam e gritavam diante dele: “Filho de Davi,
tem misericórdia de nós”. É o caso dos dois cegos
(Mateus 9.27), da mulher cananeia cuja filha estava
endemoninhada e sofrendo muito (Mateus 15.22),
do homem cujo filho também estava endemoni-
nhado e era jogado ora no fogo ora na água para
ser morto (Marcos 9.22), do cego Bartimeu, que
pedia esmola numa rua de Jericó (Marcos 10.47).
6
Silas Malafaia

A compaixão de Jesus pelo sofrimento alheio


ia muito além do mero sentimento. Ele se entre-
gava ao ministério de aliviar os outros de suas
dores. O povo lhe trazia todos os que padeciam,
acometidos de várias enfermidades e tormentos,
os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos,
e ele os curava (Mateus 4.23-25).
Compaixão. Eis um dos grandes ensinamentos
de Jesus que temos esquecido ou relegado a um
segundo plano, apesar de repetirmos a palavra
constantemente. Aprender com Jesus é tarefa a
qual devemos nos dedicar diariamente, pois o
Evangelho é dinâmico e atual. Aprender com Jesus
é garantia de que estaremos em sintonia com a
Palavra de Deus, e seremos chamados de amigos
pelo Mestre. Aprender com Jesus é proclamar a Sua
Verdade salvadora, evangelizando os que perten-
cem ao mundo e sofrem com o Maligno. Aprender
com Jesus é ter compaixão por todos os que sofrem
algum tipo de necessidade física, emocional ou
espiritual, quer estejam em nossa própria casa, tra-
balho ou igreja, quer estejam clamando pelas ruas.
Aprender com Jesus é o que faremos neste li-
vro, e ao final esperamos ser capazes de responder
à profunda e questionadora pergunta: “Que estou
fazendo se sou cristão?”
Boa leitura!
7
Capítulo 1

COMPAIXÃO
– O QUE É ISSO?
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua
direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por
herança o Reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo; porque tive fome, e destes-
-me de comer; tive sede, e destes-me de beber;
era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu,
e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive
na prisão, e fostes ver-me. [...] Em verdade vos
digo que, quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus
25.34-36,40).

A palavra “compaixão” (do latim compassio-


ne) pode ser descrita como uma compreensão do
estado emocional da pessoa; não deve ser confun-
dida com empatia. A compaixão frequentemente
combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o
sofrimento de outro ser, bem como demonstrar
especial gentileza com aqueles que sofrem. A
Aprender com Jesus

compaixão pode levar alguém a sentir empatia pelo


outro. A compaixão é frequentemente caracteriza-
da através de ações, na qual uma pessoa, agindo
com espírito de compaixão, busca ajudar aqueles
pelos quais se compadece.
Ter compaixão é permanecer num estado
emotivo positivo, enquanto tentamos compreender
o outro, sem invadir o seu espaço.
A compaixão diferencia-se de outras formas
de comportamento prestativo humano no sen-
tido de que seu foco primário é o alívio da dor
e sofrimento alheios. Atos de benevolência que
busquem principalmente conceder benefícios
em vez de aliviar a dor e o sofrimento existentes,
são mais corretamente classificados como atos de
abnegação, embora, neste sentido, a compaixão
possa ser vista como um subconjunto do altruísmo,
sendo definida como o tipo de comportamento
que busca beneficiar os outros minorando o so-
frimento deles.
Os antigos entendiam bem o significado de
compaixão. No hebraico, compaixão (rahum)
possuía uma força de significado como sentimen-
to a ser seguido por todos, pois tinha origem no
próprio Deus: Mas tu, Senhor, és um Deus cheio
de compaixão, e piedoso, e sofredor, e grande em
benignidade e em verdade (Salmos 86.15).
10
Silas Malafaia

A compaixão de Deus é livre (Êxodo 33.19;


Romanos 9.15) e carinhosamente dada, como a
compaixão da mãe (Isaías 49.15) ou pai (Oseias
11.8) por uma criança. Jeová ousadamente declara:
Terei misericórdia de quem eu quiser ter miseri-
córdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter
compaixão (Êxodo 33.19, NVI). Enquanto a sua
compaixão pode ser frustrada pela desobediência
(Deuteronômio 13.17; 30.3; 2 Crônicas 30.9), há
momentos em que a esperança do seu povo deso-
bediente é somente que sua compaixão supere a
sua ira (Oseias 11.8). A compaixão do Senhor está
enraizada em sua relação de aliança com seu povo
(2 Reis 13.23). A esperança para o futuro (Isaías
49.13, Jeremias 12.15) também está enraizada na
compaixão de Deus. Diz-se que a compaixão segue
a ira (Jeremias 12.15; Lamentações 3.32), é nova
a cada manhã (Lamentações 3.22-23), e supera o
pecado (Salmos 51.1; Miqueias 7.19) ao invés de
ignorá-lo.
Uma vez que os atos de compaixão fluem das
pessoas compassivas, não estamos surpresos em
saber que a compaixão é constitutiva do próprio
ser de Deus (Êxodo 34.6, Jeová, o Senhor, Deus mi-
sericordioso e piedoso). Ecos desta declaração são
encontrados por toda a Escritura. A compaixão de
Deus era essencial para a manutenção da aliança e
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Aprender com Jesus

seu povo o louvou por isso continuamente (Salmos


78.38; 86.15; 103.13; 145.8). A “compaixão”, não
é frequentemente usada com um sujeito humano.
Encontra-se, entretanto, na atitude de uma mãe
para com seu filho (1 Reis 3.26), na reação de
uma princesa para com uma criança abandonada
(Êxodo 2.6), e no tratamentos dos zifeus para com
Saul (1 Samuel 23.21).
A palavra grega que significa ter compaixão
(splanchnizomai), também tem um significado mais
amplo, como “ser movido como pelas entranhas
da pessoa”, “condoer-se por dentro”, “mostrar
pena”, “amar” e “mostrar misericórdia”, e é muito
mais forte do que apenas ter solidariedade. Outros
sinônimos próximos de compaixão são “ser amado
por”, “mostrar preocupação com”, “ser compassi-
vos”, e “agir com gentileza.”
O Novo Testamento continua a falar sobre
Deus como o compassivo. A compaixão de Deus
é demonstrada no ministério do seu Filho e de
seu povo (Mateus 9.36, Marcos 6.34). A compai-
xão messiânica se estende às multidões indefesas
(Mateus 9.36), às massas doentes (Mateus 14.14),
ao povo faminto (Marcos 8.2), e aos homens cegos
(Mateus 20.34). O pai que espera (Lucas 15.20) é
cheio de compaixão quando vê seu filho rebelde

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Silas Malafaia

voltar – assim como Deus tem compaixão de nós


e nos aceita quando nos arrependemos e voltamos
para Ele. Os cristãos aprendem sobre compaixão
através do exemplo e exortação. Imitar a Deus e a
Cristo tem levado muitos a uma vida de compaixão
exemplar. As Escrituras também exortam os cristãos
a fazer da compaixão parte integrante de suas vidas
(Zacarias 7.9; Colossenses 3.12).
Quando uma noiva começa a planejar sua
cerimônia de casamento, ela considera com muito
cuidado como vai ser o seu vestido e quais enfei-
tes que usará. A moça pensa se vai usar véu, se
colocará flores no cabelo, o que levará nas mãos,
se usará luvas, qual tipo de sapatos calçará. To-
dos estes acessórios, ou enfeites, ou adornos, são
importantes para completar a beleza dela naquele
dia único na sua vida. Sem os adornos, a beleza
da noiva ficaria incompleta.
A compaixão serve de adorno em termos de
beleza espiritual. A compaixão é um sentimento
que nos desperta para a dor de outros, é compa-
decer-se do outro. A compaixão bíblica nos faz
dar um passo a mais: é uma atitude ou sentimento
para com alguém que nos motiva a uma ação. É
uma generosidade de espírito que resulta em ajuda
ao necessitado.

13
Aprender com Jesus

Esta compaixão pode ser vista com mais


nitidez na vida de Jesus.
Ele teve compaixão em muitas circunstâncias
diferentes que servem de modelo para as nossas
próprias vidas:
• Necessidades materiais (Mateus 15.32).
Jesus teve compaixão no caso das necessi-
dades físicas (neste caso, a fome). Ele sentiu
esta necessidade do povo que estava sem
comer há três dias, e providenciou alimen-
tação para suprir essa necessidade.
• Doença física (Marcos 1.41,42). Jesus ficou
profundamente compadecido vendo um
homem doente de lepra e o curou.
• Doença do espírito (Marcos 5.2-20). Jesus
viu o sofrimento do homem que estava do-
minado por espíritos imundos e o restaurou
ao juízo perfeito. O versículo 19 nos explica
que Jesus fez isto porque teve compaixão.
• Necessidades espirituais (Marcos 6.34). Je-
sus enxergou a grande multidão em termos
espirituais e viu que eram como ovelhas
sem pastor. Eles não tinham alguém que
pudesse mostrar-lhes o caminho. Por isso,
Jesus compadeceu-se deles e passou a
ensinar-lhes muitas coisas.
14
Silas Malafaia

• Morte (Lucas 7.11-15). Nesse dia Jesus en-


controu uma situação realmente triste. Uma
viúva estava indo enterrar o seu único filho
que havia falecido: E, vendo-a, o Senhor
moveu-se de íntima compaixão por ela,
e disse-lhe: Não chores. Naquela mesma
hora, pelo poder de Deus, Jesus ressuscitou
o jovem morto e o restituiu à mãe. A com-
paixão moveu Jesus a fazer um maravilhoso
milagre.
• Tentações (Hebreus 4.15,16). O autor de
Hebreus nos diz que o nosso Sumo Sacer-
dote (Jesus) pode compadecer-se das nossas
fraquezas, porque ele mesmo passou por
muitas tentações. Ele sabe o que sentimos e
as dificuldades que passamos. Ele nos ofere-
ce graça para socorro em ocasião oportuna.
Podemos observar que em cada uma dessas
ocasiões Jesus sentiu a dor, o sofrimento, a
necessidade das pessoas e então agiu para
ajudá-las.

Nós também devemos usar o adorno da


compaixão em nossas vidas.
Em muitas das situações citadas, Jesus usou
o seu poder de Filho de Deus para resolver os
problemas das pessoas. Se não possuímos aquele
15
Aprender com Jesus

poder que Jesus possuía, sendo o próprio Deus,


temos a capacidade para ajudar nosso próximo.
Usar de compaixão para com as pessoas significa
que vamos sentir com elas o que estão passando
e agir dentro das nossas possibilidades a fim de
socorrê-las.
Em casos de necessidades materiais, nós
podemos compartilhar os nossos bens materiais.
Providenciar alimentos, roupas ou medicamentos é
uma maneira de ajudar. Às vezes o melhor apoio é
ajudar a pessoa a encontrar um emprego, pois esta
é uma solução mais duradoura para o problema.
Quando alguém adoece em uma família, há
muitas maneiras em que podemos servir. É possível
levar o doente ao médico, providenciar alimenta-
ção para a família ou cuidar das crianças por algum
tempo. Se a doença for prolongada, poderemos
assumir outras responsabilidades provisoriamente.
Sempre devemos permanecer em oração a favor
da pessoa doente.
A pessoa que tem uma doença emocional ou
espiritual precisa de amor acima de tudo, aquele
amor verdadeiro que tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta (1 Coríntios 13.7). Nós cris-
tãos temos a capacidade de oferecer este tipo de
amor porque aprendemos a amar com Deus: Nós
o amamos porque ele nos amou primeiro (1 João
16
Silas Malafaia

4.19). Nós amamos sem esperar nada em troca.


Portanto, podemos dar o apoio de que a pessoa
precisa.
As necessidades espirituais são supridas pela
palavra de Deus. Ao mostrarmos Jesus como a
nossa única esperança para uma vida abundante
agora e uma vida eterna com Deus, temos muitas
oportunidades de compartilhar a nossa fé com
aqueles que ainda não têm conhecimento da
vontade de Deus. Ajudamos assim as pessoas com
necessidades espirituais.
Em cada situação a nossa compaixão nos
leva a agir em benefício daqueles que estão ne-
cessitados. Se nos colocarmos no lugar do nosso
próximo, descobriremos o que podemos fazer para
socorrê-lo. Jesus disse: Portanto, tudo o que vós
quereis que os homens vos façam, fazei-lho tam-
bém vós, porque esta é a lei e os profetas (Mateus
7.12). O adorno da compaixão é muito importante
para a nossa beleza espiritual. Vamos nos lembrar
que um dos fatores que o Senhor usará em nosso
julgamento final será a nossa compaixão (ou falta
dela). Escutemos as palavras do Juiz:
Vinde, benditos de meu Pai, possuí por
herança o reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-
-me de comer; tive sede, e destes-me de beber;
17
Aprender com Jesus

era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu,


e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive
na prisão, e fostes ver-me. [...] Em verdade vos
digo que, quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus
25.34-36,40).

E o que temos feito se somos cristãos? Apren-


damos com Jesus!

18
Capítulo 2

A COMPAIXÃO DE JESUS
PELOS NECESSITADOS
E Jesus, saindo, viu uma grande multidão
e, possuído de íntima compaixão para com ela,
curou os seus enfermos (Mateus 14.14).

O ensino mais distintivo do cristianismo é que


Deus deixou a esfera do divino e entrou comple-
tamente na experiência humana. Nesse processo,
Jesus mostrou ao mundo que os seres humanos
podem ser santos mediante uma compaixão prá-
tica em favor dos necessitados, dos oprimidos e
dos excluídos.
Os evangelhos revelam a verdade irresistí-
vel de que Jesus foi tocado pelas necessidades
humanas, e atendeu-as por atos de misericórdia.
Frequentemente Ele chamava a atenção para as
necessidades e preocupações dos pobres e des-
prezados. Cristo tinha um interesse particular em
alcançá-los e partilhar-lhes as boas-novas da salva-
Aprender com Jesus

ção. Mas Jesus também atendia às suas carências


físicas, muitas vezes antes mesmo de suprir-lhes as
insuficiências espirituais. Ele desafiava aqueles que
tinham recursos a cuidar dos pobres como sendo
seu dever. Disse que eles nos proporcionavam a
oportunidade de fazer o bem; eles são um teste de
aptidão para o Reino (Mateus 25.31-46).
A compaixão de Jesus pela multidão no texto
acima utiliza, como vimos, a fortíssima palavra
grega splanchnizomai. Essa palavra é utilizada seis
vezes nos evangelhos.
Jesus “compadeceu-se” quando viu a neces-
sidade das multidões (Mateus 9.36). Eram como
ovelhas tosquiadas sem qualquer cuidado: esta-
vam exaustas, feridas e andando sem rumo. Em
duas ocasiões, o Senhor compadeceu-se ao ver
multidões famintas (Mateus 14.14; 15.32). Os dois
homens cegos (Mateus 20.34) e o leproso (Marcos
1.41) também despertaram a compaixão de Jesus;
ele também se apiedou do sofrimento da viúva em
Naim (Lucas 7.13).
Jesus empregou esse termo em três de suas
parábolas. O rei teve compaixão de seu servo falido
e perdoou suas dívidas, portanto, devemos perdoar
uns aos outros (Mateus 18.21-35). O samaritano
teve compaixão do judeu à beira da estrada e cui-
dou dele com amor (Lucas 10.25-37). O pai teve
20
Silas Malafaia

compaixão do filho desobediente e correu para


saudá-lo quando voltou (Lucas 15.20). Uma vez
que nosso Pai celeste tem tamanha compaixão
para conosco, acaso não devemos também nos
compadecer dos outros? A provisão de alimentos
para as cinco mil pessoas encontra-se registrada
nos quatro Evangelhos (Mateus 14.13-21; Marcos
6.35-44; Lucas 9.12-17; João 6.4-13) e foi, sem dú-
vida alguma, um feito miraculoso. Os que ensinam
que Jesus apenas incentivou o povo a comer e a
compartilhar os alimentos que haviam escondido
desconsideram a declaração inequívoca da Palavra
de Deus. João 6.14 afirma, categoricamente, que
esse acontecimento foi um “sinal” ou “milagre”.
Que motivo a multidão teria para desejar proclamar
Jesus seu Rei se ele apenas tivesse usado de algum
artifício para levá-los a compartilhar os alimentos
que alguns estavam escondendo? (João 6.14,15).
Provavelmente nenhum!
A empatia de Jesus pelos pobres é revelada
repetidamente nas páginas do Novo Testamento.
Ele contou a história do rico que pensava ter um
problema com a armazenagem inadequada de
sua colheita. A preocupação desse homem ficou
expressa numa ansiosa declaração: Que farei? Não
tenho onde recolher os meus frutos (Lucas 12.17).
Enquanto esse homem próspero tencionava edifi-
21
Aprender com Jesus

car celeiros maiores para armazenar sua colheita


abundante, parecia completamente esquecido
das necessidades dos pobres. Mas Jesus apontou
para o verdadeiro problema de sua vida: egoísmo
e ganância. Ele poderia ter resolvido o problema
simplesmente reconhecendo seu dever para com
os pobres. Precisava aprender a lição que Jesus tão
claramente ensinou: Somos abençoados a fim de
ser uma bênção para os outros; somos privilegiados
em servir a outros. Jesus chamou o homem de lou-
co e ensinou onde reside a verdadeira sabedoria:
na ajuda aos necessitados!
Outro exemplo da profunda preocupação
de Jesus com os necessitados é Seu diálogo com
o jovem rico. Esse homem não era somente po-
deroso economicamente, mas possuía também
influência religiosa e política. Evidentemente, a
riqueza e a influência não satisfaziam os anseios
profundos do seu coração. Assim, aproximou-se
de Jesus com a sincera intenção de buscar a vida
eterna. Jesus demonstrou solene interesse por ele
e, em resposta à sua pergunta, disse-lhe: Falta-te
uma coisa: Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos
pobres; [...] e vem, e segue-me. Mas essa exigência
de discipulado era demais para ele – pelo menos
assim pensava. Era um preço muito alto a pagar
para seguir a Jesus. Por isso, o jovem rico retirou-se
triste (Marcos 10.21-22).
22
Silas Malafaia

Dentre as muitas lições que podemos tirar


dessa história, pelo menos uma é clara: Jesus re-
petidamente demonstrava preocupação com os
necessitados. Eles estavam sempre em Sua mente
e eram parte de Sua conversação. Ele começou
Seu ministério público lendo o que o profeta Isaías
tinha predito acerca do Messias: O Espírito Santo
é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar
os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do
coração, A apregoar liberdade aos cativos, e dar
vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimi-
dos; a anunciar o ano aceitável do Senhor (Lucas
4.18,19).
Jesus estava consciente de que Seu ministério
no mundo incluía cuidar dos necessitados. Por
exemplo, quando João estava definhando na prisão
e dúvidas começaram a surgir em sua mente a res-
peito de Jesus, ele enviou alguns de seus discípulos
a fim de inquirirem Jesus. Ao se encontrarem com
Cristo, perguntaram-lhe: És tu aquele que havia
de vir, ou esperamos outro? A resposta de Jesus
foi simples: Ide, e anunciai a João as coisas, que
ouvis e vedes; os cegos veem, e os coxos andam;
os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mor-
tos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o
evangelho (Mateus 11.3-5). As obras de compaixão
de Jesus testificavam ser Ele o Messias.
23
Aprender com Jesus

Os seguidores de Cristo precisam demonstrar


por suas obras como eles cumprem sua responsa-
bilidade para com os pobres e necessitados; não
somente por palavras eloquentes concernentes à
pobreza, mas por ações simples que aliviam seu
sofrimento. Em outras palavras, nosso dever com
os necessitados vai além do que dizemos, para
incluir também o que fazemos.
O que temos observado hoje na vida de
inúmeros cristãos é um descaso e ausência de
compromisso com o ensino de Jesus para com os
necessitados. Muitos se comportam de maneira
egoísta e egocêntrica diante das necessidades do
próximo. Isso acontece em qualquer ambiente, seja
no lar, no trabalho e até mesmo nas igrejas.
Basta utilizar como exemplo o trabalho de
serviço social entre os cristãos. Quando somos
convocados a levar um quilo de alimento para
provimento do trabalho social em nossas igrejas,
o que mais se vê são quilos e quilos de sal e fubá.
Não que esses produtos não sejam necessários,
mas será que alguém consegue se manter apenas
com eles? Será que em nossos lares só fazemos uso
de sal e fubá? Será esse o alimento que proporcio-
namos, única e exclusivamente, aos nossos filhos
diariamente? Outro exemplo: quando é solicitada
ajuda para suprir as necessidades com material de
24
Silas Malafaia

higiene pessoal para trabalho social, o que mais


encontramos? Sabonetes! Dúzias e dúzias de sa-
bonetes! Higiene pessoal não se resume apenas
a isso, mas também a creme dental, xampu, e
outros itens essenciais, que todos utilizamos em
casa. Também aqui o ensinamento de Jesus sobre
compaixão é necessário. Pois foi o próprio Mestre
quem declarou: Um novo mandamento vos dou:
Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei
a vós, que também vós uns aos outros vos ameis
(João 13.34).
Será que temos sentido pelos necessitados
a mesma compaixão que Jesus sentiu? Será que
temos agido para com os necessitados da mesma
forma que o Senhor nos orientou que fizéssemos?
É preciso que lembremos que somos chamados
de cristãos porque nos declaramos discípulos de
Cristo. E assim devemos agir como Ele em todas
as circunstâncias, e não apenas com aqueles que
compartilham o mesmo banco na igreja.
O texto de Mateus 14.14 nos diz que Jesus,
ao ver a multidão que se apinhava aguardando-
-o, sentiu “íntima compaixão” dela. E essa íntima
compaixão, esse mover interior, esse sentimento
de aflição pelas adversidades dos outros, levou
Jesus à ação imediata – curou todos os enfermos
que havia entre eles. E não apenas isso. Veremos
25
Aprender com Jesus

no próximo capítulo que o Mestre transformou essa


compaixão em outra ação concreta, operando mais
um milagre – saciando a fome daqueles que ali se
encontravam.
E nós? O que temos feito se somos cristãos?

26
Capítulo 3

A COMPAIXÃO E
A HIPOCRISIA
DO FALSO ZELO
E, sendo chegada a tarde, os seus discí-
pulos aproximaram-se dele, dizendo: O lugar
é deserto, e a hora é já avançada; despede a
multidão, para que vão pelas aldeias e comprem
comida para si. Jesus, porém, lhes disse: Não
é mister que vão; dai-lhes vós de comer. Então,
eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco
pães e dois peixes. E ele lhes disse: Trazei-mos
aqui (Mateus 14.15-18).

A compaixão de Jesus pelo povo faminto é


a preocupação mais óbvia por detrás do milagre
e do seu relato. Embora Jesus se recusasse a usar
poder miraculoso para satisfazer a sua própria fome
(Mateus 4.2-4), ele se preocupava ativamente com
as necessidades materiais e físicas das outras pes-
Aprender com Jesus

soas. Seja o que for, além disso, que esse milagre


dê a entender, esta compaixão de Jesus não pode
ser obscurecida sem causarmos grave injustiça à
intenção da história. Os milagres na natureza são
mais difíceis para a mente moderna do que os de
cura, porque os fatores psicológicos são excluídos.
A questão básica com respeito aos milagres na na-
tureza não se relaciona com o poder que Deus tem
para operar esses milagres. A fé não pode colocar
limites ao poder de Deus.
Não é preciso muita imaginação para visuali-
zar a situação embaraçosa dos discípulos. Diante
deles, uma multidão de mais de cinco mil pessoas
famintas sem coisa alguma para comer! Por certo,
os discípulos sabiam que Jesus era poderoso o su-
ficiente para suprir as necessidades de todos, mas,
ainda assim, não buscaram sua ajuda. Em vez disso,
fizeram um levantamento da comida disponível
(um jovem havia trazido cinco pães e dois peixes)
e do pouco dinheiro que tinham em mãos. Quan-
do consideraram a hora (já estava escurecendo) e
o lugar (desolado), chegaram à conclusão de que
não poderiam fazer coisa alguma para resolver o
problema. Seu conselho para o Senhor: “Mande
todos embora”.

28
Silas Malafaia

Nada diferente da atitude de muitos do povo


de Deus hoje. Por algum motivo, para esses, nunca
é a hora nem o lugar apropriado para Deus agir.
Jesus ficou observando enquanto seus discípulos,
frustrados, tentavam resolver o problema, mas ele
bem sabia o que havia de fazer (João 6.6). Desejava
que aprendessem uma lição de fé e de entrega.
Também conhecemos muito bem aqueles que
são os “provedores da multidão”, os discípulos de
Cristo que olham antes para a sua própria condição
antes de procurar auxiliar o próximo. A multidão
clama por amor, mas os cristãos de hoje alegam
não ter tempo para isso – Mas Jesus ordena: “Dai-
-lhe vós de comer!” A multidão reclama por paz,
mas os cristãos mal têm paz em seus próprios cora-
ções – Mas Jesus ordena: “Dai-lhe vós de comer!”
A multidão chora com o desequilíbrio familiar,
e os cristãos estão concordando silenciosamente
com a desintegração da família – Mas Jesus ordena:
“Dai-lhe vós de comer!”
A responsabilidade por alimentar as multidões
é nossa, seja com o pão de centeio, seja com o
Pão da Vida! É responsabilidade de cada um de
nós funcionarmos como provedor das multidões
atuais e de suas necessidades. Façamos nova-

29
Aprender com Jesus

mente a leitura de Mateus 14.17: Então, eles lhe


disseram: não temos aqui senão cinco pães e dois
peixes. Existem quatro argumentos utilizados pelos
discípulos que ficam subentendidos para que não
fossem os provedores da multidão, e esses mesmos
quatro argumentos são ainda empregados hoje
pelos cristãos, quando alegam a impossibilidade
de demonstrar compaixão pelo próximo.
Primeiro, “nós não podemos fazer”. Verifica-
mos hoje o mesmo: qualquer coisa que nos pro-
ponhamos a fazer pelo Reino de Deus, qualquer
coisa, já são colocados obstáculos regidos pela
declaração de que não é possível fazer. É algo
difícil? “Não podemos fazer” É algo que exija
comprometimento? “Não podemos fazer” É algo
custoso ou trabalhoso? “Não podemos fazer” Vai
ocupar nosso tempo, ou momentos de folga ou
lazer? “Não podemos fazer”. É uma verdadeira
epidemia essa que se alastra entre o povo de Deus,
a epidemia do “não posso fazer”!
Segundo, o argumento de que “não temos o
suficiente”. Repetimos hoje exatamente as mesmas
desculpas daqueles discípulos. Naquele momento,
eles declararam que possuíam muito pouco para
saciar a fome daquela multidão. E aplicada a lógica

30
Silas Malafaia

racional sobre a situação, tal fato era verdadeiro.


Mas eles não estavam sob o comando e a direção
da lógica racional! Eles estavam sob a direção do
Rei do Universo! E esperava-se deles o mesmo que
se espera dos discípulos de Cristo hoje – fé! Mas
declaramos hoje, como há vinte séculos: “O que
temos é muito pouco para saciar a multidão!” É
verdade: temos muito pouco. Temos muito pouca
fé! Temos muito pouco amor! Temos muito pouco
poder! Precisamos, como nunca, aprender com
Jesus!
Terceiro, o argumento de que “isso mal dá
para nós mesmos”. Os discípulos do Mestre alega-
ram, através da declaração de Mateus 14.17, que
aqueles cinco pães e dois peixes mal davam para
eles próprios. E esse é um argumento repetidíssimo
entre os discípulos de hoje: “Isso mal dá para nós
mesmos”, Mas tal argumento só revela aos olhos
do Senhor um tipo de comportamento – revela
um egocentrismo indisfarçável. “Como eu posso
pensar nos outros se mal tenho para mim mesmo?”
– egocentrismo! “Se eu empregar isso ou aquilo
na obra, vai faltar em minha própria casa” – ego-
centrismo! “Se investirmos tal valor no trabalho de
evangelismo, faltará recursos para o movo templo”

31
Aprender com Jesus

– egocentrismo! E o Senhor abomina o egocentris-


mo, que reveste com outras roupagens o pecado da
soberba. E não nos esqueçamos de que a soberba
precede a ruína, e a altivez do espírito precede a
queda (Provérbios 16.18). Aprendamos com Jesus!
Quarto, poderíamos chamar de argumento do
equívoco: aqueles discípulos de Jesus responderam
errado ao comando do Mestre. Quando o Senhor
Jesus ordenou a eles: “Dai-lhes vós de comer”, o
máximo que poderiam responder seria: “Senhor,
como faremos isso?” Eles estavam debaixo da auto-
ridade do Criador dos céus e da terra, o Senhor da
natureza, o Provedor de toda a humanidade! Mas
esqueceram-se disso. Desconversaram e saíram
pela tangente. Assim também acontece nos dias
atuais. Estamos sob essa ou aquela autoridade e,
após uma exigência ou comando, apresentamos
desculpas por nossa própria incompetência. Re-
cebemos uma ordem da autoridade e queremos
fugir da responsabilidade. Quando recebermos
uma ordem ou comando, não demonstremos nem
incompetência nem fujamos de nossas responsabi-
lidades – antes procuremos saber como agir para
cumprirmos as ordens recebidas.
Se quisermos ser provedores eficientes da
multidão que se apresenta diante de nós nos dias
32
Silas Malafaia

de hoje, isentos de qualquer traço de hipocrisia,


devemos ter em mente algumas verdades.
Em primeiro lugar, não podemos nos prender
à perspectiva humana. Se mantivermos o foco
em nossa própria capacidade ou recursos, nos
defrontaremos com muitas impossibilidades. Se
buscarmos soluções para as necessidades da mul-
tidão pelo viés sociológico ou psicológico, nos
sentiremos impotentes, incapazes. Só conseguire-
mos efetiva solução para todo o auxílio que se faz
necessário se nos prendermos ao viés sobrenatural,
à manifestação do poder do Senhor. Dessa forma
seremos capazes de sentir uma íntima compaixão
tal como Jesus sentiu.
Em segundo lugar, se imaginarmos que para
que sejamos capazes de prover auxílio para as
multidões precisamos, antes, ter as nossas próprias
necessidades pessoais satisfeitas, nunca conse-
guiremos nos tornar provedores de nada nem de
ninguém. Porque sempre nos faltará algo, sempre
teremos necessidade de alguma coisa. Ou será que
já nos esquecemos do que o apóstolo Paulo fala
em 1 Coríntios 1.27-29?
Mas Deus escolheu as coisas loucas des-
te mundo para confundir as sábias; e Deus

33
Aprender com Jesus

escolheu as coisas fracas deste mundo para


confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas
vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que
não são, para aniquilar as que são; para que
nenhuma carne se glorie perante Ele.

Deus escolheu os loucos, os fracos, os de


origem inferior (“humildes”) e os desprezados para
mostrar ao mundo arrogante sua necessidade e a
graça divina. O mundo perdido admira as origens,
a posição social, o sucesso financeiro, o poder e
o reconhecimento. Mas nenhuma dessas coisas
garante a vida eterna.
A mensagem e o milagre da graça de Deus
em Jesus Cristo são absolutamente desconcertantes
para os grandes e os poderosos do mundo (“para
envergonhar”). Os sábios deste mundo não são
capazes de entender como Deus transforma peca-
dores em santos, e os poderosos deste mundo se
veem impotentes ao tentar reproduzir esse milagre.
A “loucura” de Deus confunde os sábios, e sua
“fraqueza” confunde os poderosos!
Os anais da história da Igreja encontram-se
repletos de relatos de grandes pecadores cuja vida
foi transformada pelo poder do Evangelho. Em
meu próprio ministério, bem como no ministério
34
Silas Malafaia

da maioria dos pastores e pregadores, vemos coi-


sas espantosas acontecerem que nem advogados
nem psicólogos são capazes de explicar. Vemos
adolescentes delinquentes tornarem-se alunos
bem-sucedidos e cidadãos produtivos. Vemos ca-
samentos restaurados e lares reconstruídos, para
espanto de juízes e de advogados.
E por que Deus revela a loucura e a fraqueza
do sistema deste mundo mesmo com sua filosofia
e religião? Afim de que ninguém se vanglorie na
presença de Deus (1 Coríntios 1.29). A salvação
deve ser inteiramente pela graça; de outro modo,
Deus não recebe a glória que lhe é devida. É essa
verdade que Paulo deseja nos transmitir, pois às
vezes somos culpados de nos gloriarmos em ho-
mens. Se nos gloriamos em pessoas – mesmo que
sejam excelentes cristãos, privamos Deus da glória
que somente Ele merece.
Uma vez que todo aquele que crê está “em
Cristo” e tem tudo de que necessita, por que com-
petir entre si ou se comparar uns com os outros?
Foi o Senhor quem fez tudo! Aquele que se gloria,
glorie-se no Senhor (1 Coríntios 1.31).
Não pensemos que para fazer a obra do Se-
nhor ou agirmos com compaixão diante das neces-
sidades do próximo precisamos estar completos,
35
Aprender com Jesus

precisamos de uma maior santidade ou carecemos


de uma nova unção. Não! Deus nos usa com todas
as limitações que estejamos experimentando, com
todas as imperfeições que porventura tenhamos.
Sabe por quê? Para que a glória seja única e ex-
clusivamente de Deus, e não nossa!
Precisamos ter em mente, com arraigada e
eficiente fé, que é Deus quem provê todas as neces-
sidades. A nós compete agir segundo a Sua Palavra,
vontade e autoridade, em plena obediência a elas.
Esse é o caminho para que experimentemos uma
verdadeira compaixão pelo próximo!
Em terceiro lugar, Jesus ensina a prioridade a
ser atendida. No texto de Mateus 14.15-18, qual
era a prioridade? A fome da multidão, as neces-
sidades do povo. Os discípulos e o próprio Jesus
estavam com fome? “Dai-lhe vós de comer”. É
preciso que as necessidades da multidão sejam
satisfeitas primeiro. Também aqui Jesus nos deu o
exemplo, e precisamos aprender com Ele. Vejamos
o que diz Mateus 14.6-14:
Festejando-se, porém, o dia natalício de
Herodes, dançou a filha de Herodias diante
dele, e agradou a Herodes. Pelo que prometeu
com juramento dar-lhe tudo o que pedisse; E

36
Silas Malafaia

ela, instruída previamente por sua mãe, disse:


Dá-me aqui num prato a cabeça de João Batista.
E o rei afligiu-se, mas, por causa de juramento,
dos que estavam à mesa com ele, ordenou que
se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere,
e a sua cabeça foi trazida num prato, e dada à
jovem, e ela a levou a sua mãe. E chegaram os
seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepulta-
ram; e foram anunciá-lo a Jesus. E Jesus, ouvin-
do isto retirou-se dali num barco, para um lugar
deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o
a pé desde as cidades. E Jesus, saindo, viu uma
grande multidão, e possuído de íntima compai-
xão para com ela, curou os seus enfermos.
Herodes Antipas era culpado de incesto, pois
se casou com Herodias, esposa de seu meio-irmão
Filipe I, divorciou-se da esposa e a mandou de
volta para o pai, o rei de Petra (Levítico 18.16;
20.21). Herodes deu ouvidos à voz da tentação e
se entregou ao pecado.
Com toda ousadia, João Batista advertiu Hero-
des e pediu que se arrependesse. João sabia que o
pecado do governante só serviria para corromper a
terra e incentivar o pecado de outros, e que Deus
julgaria os pecadores (Malaquias 3.5). É louvável a
coragem de João ao expor o pecado e condená-lo.
37
Aprender com Jesus

Israel era a nação da aliança de Deus, e os peca-


dos dos governantes (ainda que fossem incrédulos)
trariam sobre o povo a disciplina de Deus.
Em lugar de ouvir o servo de Deus e de obe-
decer à Palavra de Deus, Herodes mandou prender
João na fortaleza de Maquero, localizada cerca
de sete quilômetros a leste do mar Morto e cerca
de um quilômetro acima do nível do mar, no alto
de um precipício acessível apenas por um lado.
Herodias, a esposa de Herodes, ofendeu-se com a
admoestação de João (Marcos 6.19) e influenciou
o marido. Elaborou um plano no qual sua filha
adolescente faria uma dança sensual para Herodes
durante sua festa de aniversário. Herodias sabia que
seu marido sucumbiria aos encantos da moça e lhe
faria alguma promessa impulsiva. Também sabia
que Herodes manteria sua palavra para não man-
char a reputação diante de seus amigos e oficiais.
O plano funcionou, e João foi executado.
Qual foi a reação de Jesus à notícia do assas-
sinato de João? Tristeza. Retirou-se discretamente
para um “lugar deserto”. Retirou-se pois precisava
lamentar no íntimo a morte daquele que o prece-
deu e já praticava o batismo de arrependimento. E,
além disso, João Batista era primo de Jesus, e por
isso sua morte entristeceu tanto o Senhor.
38
Silas Malafaia

A Galileia deve ter sido um lugar onde era


difícil estar sozinho e afastar-se da multidão. É uma
região pequena; não tem mais de oitenta quilô-
metros de norte a sul e quarenta de leste a oeste.
Josefo nos diz que nessa época havia 204 cidades
e aldeias, nenhuma das quais tinha uma popula-
ção de menos de 15.000 habitantes. Em um lugar
tão densamente povoado não era fácil apartar-se
das pessoas por um período muito longo. Mas do
outro lado do lago era muito tranquilo e em sua
parte mais larga este não tinha mais que doze qui-
lômetros. Os discípulos de Jesus eram pescadores
e não era difícil embarcar em um de seus barcos e
procurar tranquilidade na margem oriental do lago.
Isso foi o que Jesus fez ao tomar conhecimento da
morte do João.
No entanto, a Bíblia diz que Jesus, saindo, viu
uma grande multidão e, possuído de íntima com-
paixão para com ela, curou os seus enfermos (v.
14). Aqui vemos Jesus abrindo mão de sua priori-
dade – vivenciar o luto por João Batista –, em prol
daquela multidão – que passa a ser a prioridade
do Mestre naquele momento.
Agora, fazendo uma aplicação para os dias
de hoje, podemos afirmar que estamos realizando
cultos em nossas igrejas para satisfazer os cristãos
39
Aprender com Jesus

membros, o coral, os grupos de louvor, o pregador,


os cantores. Porém, na verdade, qual é a priorida-
de? Será que a prioridade é “encher a barriga” dos
cristãos, inflando o ego de cada grupo que participa
do culto, ou a prioridade deveria ser a multidão lá
fora, os pecadores que precisam ouvir a mensagem
salvadora?
Mas se o coral não cantar, é possível que
metade dele se afaste da igreja; se os jovens e
adolescentes não participarem do momento de
“louvorzão”, as queixas pululam e corremos o risco
de se desviarem da fé; se os cantores não tiverem
uma oportunidade de louvar o Senhor, logo apon-
tam o dedo para o pastor presidente e o acusam
de implicância ou antipatia pessoal. Enquanto isso,
os belíssimos hinos da Harpa Cristã, carregados de
teor evangelístico e forte viés espiritual, são cada
vez menos ouvidos em nossos cultos – e a multi-
dão deixa de ser plenamente alimentada, pois até
o pregador precisa apresentar uma mensagem que
faça com que seja derramado mais fogo do que
necessariamente edifique e evangelize!
Sempre que estivermos nos dirigindo à igreja,
lembremos que o culto é lugar de oferecimento, de
prestarmos louvor, honra e glória ao Senhor. Mas

40
Silas Malafaia

muitos hoje buscam o culto apenas com a intenção


de receber algo: uma bênção, uma emoção mais
forte, ouvir um hino novo, um hino de fogo, um
hino para chorar, para deixar arrepiado. E esse é
um dos erros mais colossais que muitos cometem
hoje. Qual é a nossa motivação? Será acariciar o
nosso ego, saciar nossos caprichos? Ou atender às
necessidades das multidões? Devemos aprender
com Jesus isso também: compaixão pela multidão
nos leva a mudar prioridades, caso contrário, não
será compaixão!

41
Capítulo 4

A COMPAIXÃO QUE
PRODUZ MILAGRES
Então eles lhe disseram: Não temos aqui se-
não cinco pães e dois peixes. E ele disse: Trazei-
-mos aqui. E, tendo mandado que a multidão se
assentasse sobre a erva tomou os cinco pães e os
dois peixes, e erguendo os olhos ao céu, os aben-
çoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos,
e os discípulos à multidão. E comeram todos, e
saciaram-se; e levantaram dos pedaços que so-
bejaram, doze alcofas cheias. E os que comeram
foram quase cinco mil homens, além das mulheres
e crianças (Mateus 14.17-21).

Este milagre nos fala com toda clareza sobre o


lugar do discípulo na obra de Cristo. O relato diz
que Jesus deu aos discípulos e os discípulos deram
à multidão. Nesse dia Jesus operou por meio de
seus discípulos e o segue fazendo até agora. Uma
e outra vez nos confrontamos com a verdade que
Aprender com Jesus

está no coração da Igreja. É certo que o discípulo


fica desamparado sem o Senhor, mas também é
certo que o Senhor fica desamparado sem o dis-
cípulo. Se Jesus quer levar algo a cabo, se quiser
que se instrua a um menino ou que se ajude a uma
pessoa, deve conseguir alguém que o faça.
Jesus Cristo necessita de discípulos por meio
dos quais possa agir, e mediante quem sua verdade
e seu amor possam entrar na vida de outros. Ne-
cessita de homens a quem possa dar para que eles
possam dar a outros. Sem esses homens não pode
operar e nossa tarefa é virmos a ser esses homens.
Seria fácil sentir-se desalentado e afligido por
uma tarefa de semelhante magnitude e enverga-
dura. Mas há outro elemento neste relato que nos
encoraja. Quando Jesus disse a seus discípulos que
alimentassem a multidão, eles responderam que
tudo o que tinham eram cinco pães e dois peixes.
E, entretanto, com o que lhe ofereceram, Jesus fez
um milagre. Jesus impõe a cada um de nós a tarefa
tremenda de comunicá-la aos homens, mas não
nos exige brilhos, qualidades e magnificências que
não possuímos. Ele nos diz: “Venha a mim como
você está, por pouco que você tenha; traga-me o
que você tem, por pouco que seja, e o usarei em

44
Silas Malafaia

grande medida em meu serviço.” Um pouco sem-


pre é muito nas mãos de Cristo!
No final do milagre está esse estranho pequeno
toque a respeito de que se recolheram os pedaços.
Inclusive quando com um milagre se alimentava
abundantemente as pessoas, não se desperdiçava
nada. Aqui devemos assinalar algo. Deus dá aos ho-
mens com liberalidade, mas nunca é correto desper-
diçar os dons de Deus. Deus dá generosamente, mas
uma extravagância esbanjadora nunca está certa. O
dom generoso de Deus e nosso emprego inteligente
desse dom devem caminhar de mãos dadas.
Há pessoas que leem os milagres de Jesus
e não experimentam nenhuma necessidade de
entender. Deixemo-los imperturbáveis na doce
simplicidade de sua fé. Há outros que leem e suas
mentes se fazem perguntas e sentem que devem
compreender. Não se envergonhem esses porque
Deus se aproxima para defrontar-se com o espíri-
to que se faz perguntas. Mas qualquer que seja a
forma como nos aproximemos dos milagres de Je-
sus, há uma coisa inquestionável: jamais devemos
tomá-los como algo que aconteceu; mas sempre
devemos vê-los como algo que ainda acontece.
Não são acontecimentos isolados na história: são

45
Aprender com Jesus

demonstrações do poder sempre atuante e contí-


nuo de Jesus Cristo.
Porém, além de tudo, cabe-nos responder à
pergunta: Qual é o grande segredo de transformar
o impossível em possível, de transformar o caos
em bênção, de transformar derrota em vitória?
Jesus desejava que seus discípulos de ontem e de
hoje aprendessem uma lição de fé e de entrega.
Com base nesse milagre, é possível definir alguns
princípios para solucionar problemas.
• Começar com o que temos. André encon-
trou um rapaz disposto a dividir seu lanche
e o levou até Jesus. Deus parte de onde
estamos e usa o que temos no momento.
• Entregar tudo o que temos ao Senhor. Jesus
pegou o lanche, o abençoou e repartiu. O
milagre da multiplicação deu-se em suas
mãos! “Se Deus está presente, o pouco
transforma-se em muito.” Jesus partiu o pão
e deu os pedaços para os discípulos, que,
por sua vez, alimentaram a multidão.
• Obedecer às ordens de Jesus. Os discípulos
pediram que a multidão se assentasse, con-
forme Jesus havia ordenado. Em seguida,
pegaram os pedaços de pão, distribuíram ao
46
Silas Malafaia

povo e descobriram que havia o suficiente


para todos. Como servos de Cristo, somos
“distribuidores”, não “produtores”. Se lhe
entregarmos o que temos, ele abençoará
e nos dará de volta, a fim de usarmos para
ajudar a outros.
• Conservar os resultados. Depois de o povo
ter comido e se fartado, ainda havia doze
cestos cheios de pedaços de pão e peixe.
Os restos foram recolhidos, e nada foi des-
perdiçado (Marcos 6.43; João 6.12). Fico
imaginando os pedaços de pão que o rapaz
levou para casa consigo e o espanto da mãe
quando o garoto lhe contou a história!

O apóstolo João registra o sermão sobre o “pão


da vida” que Jesus pregou no dia seguinte na sina-
goga em Cafarnaum (João 6.22ss). O povo estava
disposto a receber o pão físico, mas não queria
saber do Pão vivo – o Filho de Deus que veio dos
céus. O milagre da multiplicação dos pães foi, na
verdade, um sermão prático. Jesus é o pão da vida,
e somente ele pode saciar a fome espiritual do co-
ração humano. Infelizmente, porém, desde aquele
tempo até os dias de hoje, o ser humano continua

47
Aprender com Jesus

desperdiçando seu tempo e dinheiro “naquilo que


não é pão” (Isaías 55.1-7).
Jesus ainda se compadece das multidões fa-
mintas e continua a dizer à sua Igreja: “Dai-lhes
vós de comer”. Como é fácil mandar as pessoas
necessitadas embora! Inventamos desculpas e ale-
gamos falta de recursos. Jesus pede para dar a Ele
tudo o que temos e deixá-lo usar como lhe aprou-
ver. O mundo faminto alimenta-se de substitutos
vazios, enquanto o privamos do verdadeiro Pão
da vida. Quando entregamos a Cristo tudo o que
temos, nunca saímos perdendo. Sempre acabamos
recebendo mais bênçãos do que tínhamos antes.
Então, aqui, podemos verificar alguns prin-
cípios que Jesus opera quando entregamos a Ele
nossos “pães e peixes”. Em primeiro lugar, fica
muito claro que Jesus sempre irá abençoar tudo
o que entregarmos a Ele. Em Mateus, como nos
outros Evangelhos, emprega-se uma linguagem
expressiva da Santa Ceia do Senhor. As palavras
“tomou”, “abençoou”, “partiu” e “deu”, pertencem
também à linguagem da Santa Ceia. Em Mateus
14.19, quando lemos que Jesus tomou os cinco
pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao
céu, os abençoou, enxergamos a exata imagem do

48
Silas Malafaia

que acontece quando entregamos todas as coisas


a Ele. Por exemplo, o que acontecerá caso você
entregue a sua família para Jesus? A família é de
fundamental importância na sua trajetória de vida.
Nela estão inseridos os seus queridos: seu cônjuge,
seus filhos, seus pais e todos os demais que estejam
inseridos no seu círculo doméstico. Então, você
os entrega a Jesus, para que estejam guardados
ali. E o que acontece? Jesus abençoa poderosa-
mente sua família, guardando-a, protegendo-a,
afastando o maligno, retribuindo com sabedoria
e discernimento a leitura de Sua Palavra, quando
realizada pelos membros de Sua família. Mas, e
se essa família estiver distante do Senhor, ou se
forem incrédulos? Jesus opera, tocando aqueles
corações e mostrando o caminho da salvação que
há em Seu sangue! E o mesmo acontece quando
entregamos nosso ministério, nossas dificuldades,
nossos problemas para Jesus. Ele manifesta o Seu
poder, a Sua glória e a Sua graça, derramando Suas
abundantes bênçãos!
Em segundo lugar, quando entregamos algo
para Jesus, Ele nunca nos devolve da mesma ma-
neira, sem alterações, sem mudanças. Ele sempre
nos devolve de forma muito melhor, muito mais

49
Aprender com Jesus

diferenciada. Tudo o que entregamos a Jesus recebe


uma atenção especial da Sua parte. Nossa vida,
nossos bens, tudo o que somos e possuímos recebe
do Mestre um cuidado sem igual, e é aperfeiçoado
e melhorado. Basta que entreguemos a Ele.
Em terceiro lugar, o princípio que Deus utiliza
para saciar as multidões que clamam neste mundo
passa por nós. É fácil notar que Jesus mesmo não
deu nem pão nem peixes para a multidão. Cou-
be aos discípulos fazerem isso. Foram eles que
levaram a Jesus aquele mantimento, para que Ele
os abençoasse e os devolvesse aos discípulos. E
foram os discípulos que entregaram aqueles ele-
mentos abençoados e multiplicados à multidão.
Não foram os anjos. Somos nós os instrumentos
nas mãos de Deus para o sustento, para a alimen-
tação do povo. Os instrumentos que Deus utiliza
para o anúncio e promoção da Sua obra neste
mundo somos nós. Deus age na vida dos seus
familiares, na sua casa, na vida daqueles que o
cercam, através de nós mesmos, seus discípulos,
através da sua igreja. Somos nós os agentes da
graça de Deus! O apóstolo Paulo afirma isso em 2
Coríntios 5.20: De sorte que somos embaixadores
da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse.

50
Silas Malafaia

Somos embaixadores do Reino de Deus. Mesmo


com todas as nossas necessidades, com todas as
nossas limitações, com todas as nossas imperfei-
ções, Deus quer nos usar!
Você está lendo este livro agora porque Deus
quer usar a sua vida. Ele quer usar tudo aquilo que
tem colocado em suas mãos para honra e glória
do Seu nome! Quando agimos pela fé o milagre
acontece! Muitas vezes nós deixamos de experi-
mentar o milagre porque o medo, a dúvida ou a
desconfiança nos impede de dar o passo da fé ou
lançar as redes no que parece improvável.
Ainda em Mateus 14.19, lemos que Jesus antes
de abençoar os pães e peixes e operar o milagre da
multiplicação, determina que o povo se assentasse
na grama.
A narrativa que se acha aqui é uma das mais
importantes dos evangelhos, e isso pelas seguintes
considerações:
• Mostra e exemplifica o poder e o desenvol-
vimento de Cristo como nosso padrão.
• Só o milagre da primeira multiplicação dos
pães se encontra em todos os quatro evan-
gelhos, o que confirma sua importância
como ocorrência histórica autêntica.

51
Aprender com Jesus

• Este milagre é uma amostra da supremacia


do Filho do Homem. Jesus usou de poder
semelhante quando da criação.
• Este milagre demonstra o poderoso poder
divino ou sobrenatural entre os homens, e
ensina o teísmo em contraste com o deís-
mo. Este milagre forma a base doutrinária
de alguns dos ensinos mais importantes de
Jesus acerca da natureza de sua pessoa,
conforme achamos no sexto capitulo do
evangelho de João. Esse foi o milagre de
que Jesus se utilizou, em seu ensino aos
discípulos, a fim de encorajá-los a com-
preenderem a pessoa do Messias e a de-
senvolverem a atitude de confiança nele,
rejeitando as tendências que endurecem o
coração. Pois não tinham compreendido
o milagre dos pães; antes o seu coração
estava endurecido (Marcos 6.5 2).

Jesus orienta aos discípulos que fizessem


com que a multidão se sentasse na grama. Aqui
fica claro o seguinte ensinamento: Ao ouvirmos
as orientações de Jesus, devemos nos colocar
na posição que Ele determina para nós. Esperar

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Silas Malafaia

em Deus significa demonstrar plena confiança


de que Ele agirá a nosso favor, nos abençoará e
mudará a nossa sorte. A única coisa que de nós
é cobrada é que tenhamos fé em Sua operação, e
que nos coloquemos na posição que Ele exige de
nós. Mais uma vez, não devemos nos preocupar
com a nossa falta de capacidade, com as nossas
imperfeições e limitações. É Deus quem vai agir,
é Ele quem irá operar o milagre. A nós resta obe-
decer e confiar!
E quando Deus opera, Ele não utiliza um
conta-gotas, para nos abençoar na medida exata
daquilo que necessitamos. Não! Ele é o Deus da
abundância, o Senhor da fartura, o que faz sobejar
o pão em nossos cestos! Ora, àquele que é pode-
roso para fazer tudo muito mais abundantemente
além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo
o poder que em nós opera; a esse glória na igreja,
por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo
o sempre. Amém (Efésios 3.20).
E quando Deus age, Ele o faz em uma dimen-
são inimaginável para nós. Temos a capacidade de
compreender o que é necessário para nós nesse ou
naquele momento. Somos capazes de distinguir o
que é abundância e nos regozijamos disso, para a
nossa satisfação pessoal. Mas não somos capazes
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Aprender com Jesus

de compreender a dimensão da fatura de Deus,


daquela abundância que Ele tem reservada para
cada um de nós. E é assim que Deus age; será assim
que Deus fará abundante as Suas bênçãos para as
multidões que clamam por Ele, utilizando a nós
mesmos como instrumentos de Sua poderosa mão!
“Dai-lhes vós de comer”. Ao aplicarmos o
ensinamento de Jesus aqui, alimentaremos mul-
tidões com pão e peixe. Com o Pão da Vida e o
peixe da fé, da satisfação, da fartura. Não daremos
de comer à multidão com pudins, doces e outros
alimentos que deixam uma sensação de estômago
cheio, mas que na verdade não possuem valor al-
gum. Pudins são saborosos ao paladar, assim como
doces, gelatinas e hambúrgueres apetitosos, que
são agradáveis aos olhos e ao paladar, mas que
na verdade não alimentam, e só contribuem para
deixar doentes os que dele se alimentam. São os
pudins do racionalismo, os apetitosos doces da
moderna filosofia, as coloridas gelatinas do hedo-
nismo; só enchem barriga, mas não alimentam a
mente carente de Cristo! “Dai-lhes vós de comer”.
Alimentemos as multidões com pão e peixe. Com
o pão e o peixe da Palavra de Deus, do verdadeiro
discipulado, do pleno caminhar em obediência e

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Silas Malafaia

fé no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo!


Como diz o apóstolo Pedro: Antes crescei na graça
e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus
Cristo. A ele seja dada a glória assim agora, como
no dia da eternidade. Amém (2 Pedro 3.18).
Quando aplicarmos os ensinos de Jesus à
nossa vida, e conscientemente assumirmos nosso
verdadeiro papel de discípulos, então constatare-
mos, dia após dia, a verdade contida em Atos 16.5:
De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé,
e cada dia cresciam em número. Sejamos, todos
nós, homens e mulheres que darão de comer aos
famintos de Deus! “Dai-lhes vós de comer!”
Aleluia!

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CONCLUSÃO

Goteje a minha doutrina como a chuva,


destile o meu dito como o orvalho, como chuvis-
co sobre a erva e como gotas de água sobre a
relva. Porque apregoarei o nome do Senhor; dai
grandeza a nosso Deus (Deuteronômio 32.2,3).

Este extraordinário milagre realizado por Jesus


nos ensina algumas lições:
• Ao encontrarmos pessoas famintas ou ne-
cessitadas (tanto material como espiritual),
devemos, como discípulos do Senhor Jesus,
fazer tudo que pudermos para socorrê-las.
• Cada cristão individualmente é possuidor
de talentos, dons e capacidade para servir.
• Quando confiamos e colocamos nossos ta-
lentos, dons e recursos nas mãos do Senhor
Jesus, Ele opera o milagre da multiplicação,
e nos capacita para socorrer e atender a
necessidade de muitas pessoas.
• Para identificarmos e representarmos Jesus,
devemos nos preocupar com as necessida-
Aprender com Jesus

des espirituais e materiais do maior número


de pessoas da nossa sociedade.

Aprender com Jesus é a chave para obtermos


todo o tipo de bênção material e espiritual. E são
inúmeros os ensinamentos do Mestre ao longo dos
evangelhos para nosso proveito em todas as áreas
da vida. Porém, para que tais ensinamentos sejam
plenamente proveitos, é necessário obedecer aos
princípios que Jesus nos apresenta. Dentre eles, o
principal, sem dúvida, é a obediência à Palavra
de Deus.
Podemos aprender muito com a maneira como
Jesus ensinava. A vida de Jesus seguia o modelo das
Suas palavras: Ele fazia o que pregava, ao contrário
dos escribas e fariseus, que eram cheios de pala-
vras finas, mas cujas ações não correspondiam a
elas (Mateus 23.1-4). Como Ele falava as palavras
que o Pai lhe havia dado, falava com autoridade
absoluta, transmitindo a verdade de Deus a todos
os que o ouviam. As palavras de Jesus eram vida e
davam vida àqueles ao seu redor. E elas ainda dão
vida a todos nós que o ouvimos falar aos nossos
corações. Frequentemente os que o ouviam se sur-
preendiam com os Seus ensinamentos e lhe faziam
perguntas. Jesus também variava o estilo dos Seus
ensinamentos para adequá-los ao contexto. Ele
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Silas Malafaia

tinha um dom para se comunicar com as pessoas


comuns através de histórias.
Ser discípulo é aprender com Jesus, aprender
a depender dele e obedecê-lo. É como ser um
aprendiz que passa algum tempo com o seu mes-
tre, observando-o e aprendendo a fazer o que ele
está fazendo. Como discípulos de Jesus, também
somos chamados a discipular uns aos outros. Ca-
minhando com Jesus, passamos a ser mais como
Ele e mais capazes de mostrarmos uns aos outros
o que significa “aprender com Jesus”.
Aleluia!

Ore comigo:
Senhor Deus, permita-me compreender e
receber os Teus ensinamentos estudado neste
livro. Desejo conhecer-te cada vez mais, e cada
vez melhor a Tua Palavra, para que eu possa
aplicar à minha vida os sublimes ensinamentos
de Jesus para a minha vida. Permita-me alcan-
çar esse propósito de tal forma que demonstre a
Tua verdadeira doutrina e os princípios bíblicos
que Tu ensinas ao longo dos evangelhos. Que
eu possa ser instrumento atuante no verdadeiro
milagre da multiplicação de bênçãos sem par,
na vida de todos aqueles que clamam por ti e ca-
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Aprender com Jesus

minham famintos por este mundo. Peço que me


abençoes, que me guardes, que me proporciones
um verdadeiro conhecimento da Tua Palavra, e
que assim eu possa experimentar cada vez mais
a Ti, Senhor. Que eu possa vivenciar a experi-
ência de ser um provedor, que possa atender
ao Teu chamado de “dai-lhes vós de comer!”,
abençoando minha casa e meus familiares. Em
nome do Teu amado Filho, Jesus, meu Senhor
e Salvador. Amém e amém!

EDITORA CENTRAL GOSPEL


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