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Teoria e

Evidência
Econômica
Brazilian Journal of Theoretical
and Applied Economics

Ano 22 – N. 47
jul./dez. 2016
Teoria e
ISSN On-line 2318-8448
ISSN Impresso 0104-0960

Evidência Teoria e Evidência Econômica é uma


publicação semestral da Faculdade de
Ciências Econômicas, Administrativas

Econômica e Contábeis da Universidade de Passo


Fundo, que tem por objetivo a divul-
gação de trabalhos, ensaios, artigos e
Brazilian Journal of Theoretical resenhas de caráter técnico da área de
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Sumário

Apresentação..................................................................................................... 268
O impacto da política comercial da União Europeia sobre as exportações
brasileiras de hortifrúti.................................................................................... 270
El impacto de la política comercial de la Unión Europea sobre las exportaciones
brasileñas de horticultura
The impact of the European Union´s trade policies on the exports of brazilian
fruits and vegetables
Mygre Lopes da Silva
Daniel Arruda Coronel
Reisoli Bender Filho
Rodrigo Abbade da Silva
O valor econômico da extração de madeira em tora na Ilha do Marajó, Pará...... 296
The economic value of the roundwood extraction in the Marajó Island in th
state of Pará
El valor económico de la extracción de madera en rollo en la Isla de Marajó en el
estado de Pará
Antônio Cordeiro de Santana
Ádamo Lima de Santana
Cyntia Meireles de Oliveira
Marcos Antônio Souza dos Santos
Mário Miguel Amin
Nilson Luiz Costa
Instituições e enforcement na redução do desmatamento na Amazônia........ 312
Institutions and enforcement to reduce the deforestation in Amazon
Instituciones y enforcement en la reducción de la deforestación en la Amazonia
Daiana Brito dos Santos
David Costa Correia Silva
Marcos Rodrigues
Os Portais da Transparência: um estudo sobre as informações
disponibilizadas pelos municípios do Corede Rio da Várzea, RS................... 331
The Portals of Transparency: a study on the information provided by the
municipalities of Corede Rio da Várzea, RS
Los Portales de la Transparencia: un estudio sobre la información proporcionada
por los municipios del Corede Rio da Várzea, RS
Tagiane Graciel Fiorentin Tres
Evandra Maria Fugalli
Desafios gerenciais do cooperativismo: fidelização versus competitividade..... 352
Management challenges of cooperative: versus loyalty competitiveness
Retos de gestión de cooperativa: lealtad versus competitividad
Raquel Breitenbach
Janaína Balk Brandão
Marcelo Nogueira
Os riscos da financeirização do microcrédito................................................... 369
The risks of the microcredit financialization
Los riesgos de la financiarización del microcrédito
Luccas Assis Attílio
Orientação para o mercado de empresas de base tecnológica produtoras
de software: uma análise à luz do modelo de George Day.............................. 385
Market orientation in technology based companies software producers:
an analysis of George Day model
Orientación para el mercado de empresas de base tecnológica productoras de
software: un análisis según el modelo de George Day
Agnelo Câmara de Mesquita Júnior
Fernando Gomes de Paiva Júnior
O crowdsourcing como fator de competitividade na publicidade: o caso
da Teaser Propaganda...................................................................................... 413
The crowdsourcing as competitiveness factor in publicity: the case of Teaser
Propaganda
El crowdsourcing como factor de competitividad en la publicidad: el caso de la
Teaser Propaganda
Anderson Diego Farias da Silva
Mayara Barbosa da Cunha
Fernanda Martins Ramos
Diretrizes para autores..................................................................................... 433
Apresentação
Prezados colaboradores e leitores, é com grande satisfação que apresentamos
o número 47 da Revista Teoria e Evidência Econômica, o segundo do ano de 2016.
Neste número, os primeiros três artigos da RTEE abordam de forma especifica
e abrangente o tema dos impactos do comércio exterior e as questões de economia e
meio ambiente na exploração dos recursos naturais. Na sequência, os cinco últimos
artigos tratam dos Portais da Transparência, de cooperativismo e competitividade,
dos riscos do microcrédito e, finalmente, dos processos com orientação ao mercado
bem como de alguns aspectos da publicidade e propaganda.
Esperamos que os temas publicados na revista contribuam com o atual debate
econômico e social e com a atualização permanente dos interessados pelas ciências
gerenciais.
Atenciosamente,

Marco Antonio Montoya


Editor
Revista Teoria e Evidência Econômica
Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis.
Universidade de Passo Fundo
(54)3316-8245 - rtee@upf.br

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, jul./dez. 2016

268
O impacto da política comercial da
União Europeia sobre as exportações
brasileiras de hortifrúti
Mygre Lopes da Silva*
Daniel Arruda Coronel**
Reisoli Bender Filho***
Rodrigo Abbade da Silva****

Resumo
Este estudo visa analisar efeitos da redução das barreiras comerciais da União Europeia
para o setor exportador brasileiro de frutas, vegetais e nozes, especificamente, quanto
à eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias. Para tal, fez-se uso do Modelo de
Equilíbrio Geral Computável. Foram simulados dois cenários: a liberalização completa e
as reduções das barreiras comerciais das exportações de hortifrúti do Brasil para a União
Europeia conforme proposto pela Rodada de Doha. Os resultados indicaram que, para o
Brasil, em ambos os cenários, há crescimento da quantidade produzida, das exportações e
importações e dos preços domésticos do setor.

Palavras-chave: Exportações. Frutas. Vegetais. União Europeia. GTAP.


*
Mestre em Administração. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração da Uni-
versidade Federal de Santa Maria. Bolsista da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível
Superior. E-mail: mygrelopes@gmail.com
**
Doutor em Economia Aplicada. Professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Administra-
ção da Universidade Federal de Santa Maria. Diretor da editora da Universidade Federal de Santa
Maria. Bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
co. E-mail: daniel.coronel@uol.com.br / Homepage: www.daniel.coronel.com.br
***
Doutor em Economia Aplicada. Professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Administra-
ção da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: reisolibender@yahoo.com.br
****
Bacharel em Ciências Econômicas. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível
Superior. E-mail: abbaders@gmail.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6811

Submissão: 31/05/2016. Aceite: 08/09/2016.

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1 Introdução
O comércio internacional de produtos do agronegócio é importante gerador
de divisas, representando uma atividade responsável por manter o equilíbrio da
balança comercial (CRUVINEL, 2009). Os estudos de comércio internacional fre-
quentemente abordam pesquisas sobre soja, milho, minérios, entre outros produ-
tos, embora sejam escassas as que tratam do setor de hortifrúti.
Verifica-se que a exportação desse setor gera renda, que é responsável por im-
pulsionar as atividades e modernizar o setor nos últimos anos. Houve uma queda
na área plantada de 5% e aumento da produtividade de 32% entre 1995 a 2005. Os
ganhos em produtividade decorreram dos melhoramentos tecnológicos e gerenciais
das propriedades, dos ganhos de escala, da consolidação de novas regiões produto-
ras e da abertura do setor ao mercado externo (BOTEON, 2006).
O mercado europeu destacou-se pela demanda de produtos hortícolas e fru-
tícolas de 1999 a 2013, período em que a participação média no total exportado
pela União Europeia (UE) foi de 24,42% e 54,2%, respectivamente (ANÁLISE DAS
INFORMAÇÕES DE COMÉRCIO EXTERIOR, 2013). Pode-se ressaltar que para o
setor de frutas, a União Europeia é o principal destino desses produtos.
A elevada demanda europeia por produtos hortícolas e frutícolas pode estar
relacionada com aspectos socioeconômicos, como a faixa etária dos indivíduos, o
nível de escolaridade e o número de bens no domicílio, por exemplo. O consumo
de frutas e vegetais é maior à medida que esses indicadores se elevam (JAIME;
MONTEIRO, 2005; CIOCHETTO; ORLANDI; VIEIRA, 2012). Na medida em que
a União Europeia é uma economia desenvolvida, justifica-se a procura por esses
bens no mercado brasileiro.
Contudo, cabe destacar que a imposição de barreiras tarifárias e não tarifá-
rias torna as frutas e vegetais brasileiros mais caros no mercado internacional e
exige maior padrão de qualidade ao produto enviado. As principais barreiras não
tarifárias utilizadas pelos países são cotas e restrição voluntária às exportações,
já as novas barreiras comerciais são técnicas, ecológicas, burocráticas, sanitárias
e fitossanitárias (AZÚA, 1986; MAIA, 2001). Para as exportações brasileiras de
frutas e vegetais para o mercado europeu, as principais barreiras incidentes são
as fitossanitárias, de padronização na finalização do produto, além das barreiras
tarifárias e de subsídios à produção e exportação.
Ao discutir esses aspectos, este trabalho busca analisar os possíveis impactos
das políticas comerciais da União Europeia para o setor exportador brasileiro de
frutas e vegetais. Com esse estudo, pretendeu-se responder à seguinte pergunta:
reduções e/ou eliminações das barreiras tarifárias e não tarifárias pela UE alavan-
cariam as exportações brasileiras de frutas e vegetais?

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Com essa questão, buscou-se melhor compreender os possíveis fatores ine-
rentes à competitividade das exportações brasileiras de frutas e vegetais, o que,
entre outros aspectos, contribui para a formulação de políticas econômicas visando
a uma maior competitividade e inserção internacional. A promoção do consumo
de frutas e vegetais, devido aos aspectos nutricionais e de manutenção de uma
alimentação de qualidade nas economias desenvolvidas, como nos países da UE,
propicia a ampliação desse nicho de mercado, com elevação da demanda por frutas
e vegetais brasileiros.
É importante ressaltar que ainda são incipientes os estudos que tratam do
setor exportador de frutas e vegetais em relação a possíveis políticas tomadas pelos
principais demandantes dos produtos, o que apresenta o aspecto inovador deste
trabalho. Além disso, são praticamente inexistentes estudos sobre o comércio in-
ternacional brasileiro de produtos hortícolas, que são necessários para a melhor
articulação das cadeias produtivas e acesso a outros mercados.
O artigo está estruturado em cinco seções, além desta Introdução. Na segunda
seção, é apresentado o referencial teórico, na terceira, apresentam-se os aspectos
metodológicos, na quarta, os resultados são analisados e discutidos e, por fim, na
quinta, são delineadas as principais conclusões da temática explorada.

2 Referencial teórico
Nesta seção, apresentam-se os principais argumentos da Teoria da Integração
Econômica, bem como suas fases ao longo do processo de integração. Além disso,
analisam-se os efeitos estáticos da integração econômica, da criação e do desvio de
comércio. Posteriormente, analisam-se as principais barreiras ao livre comércio.

2.1 A formação de blocos econômicos


A integração comercial entre os países ocorre de duas formas: por meio de ne-
gociações multilaterais, no sistema Gatt/OMC (General Agreement on Tariffs and
Trade1/Organização Mundial do Comércio), ou por meio de acordos regionais. A pri-
meira forma promove ganhos de bem-estar e eficiência, de acordo com as teorias de
comércio internacional, enquanto que para a segunda não há concordância teórica
a respeito da ocorrência de ganhos ou perdas (MORAIS, 2005).
A integração econômica pode ser entendida como uma forma de cooperação
econômica entre determinadas regiões, que tem como principal objetivo dos acordos
e processos de integração a criação de mercados maiores, eliminando obstáculos aos

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fluxos de mercadorias, fatores e serviços entre países, nos moldes da teoria clássica,
nos quais os mercados maiores operam com maior eficiência (VIEIRA, 2006).
Contudo, há divergências em relação à abrangência dos acordos regionais en-
tre os países, na medida em que existem diferentes graus de integração bem como
diferentes objetivos. Esses acordos econômicos ajudam a promover um comércio
mais livre além de evitar conflitos comerciais destrutivos, com base em retaliações
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Em outra perspectiva, a integração regional tende a incentivar a especializa-
ção das nações na produção de bens que possuam vantagens comparativas. A re-
dução (ou eliminação) de barreiras resulta em aumento da competição, o que afeta
a estrutura produtiva dos países participantes do acordo. Destacam-se os ganhos
com economias crescentes de escala, dada a tendência à especialização somada ao
crescimento do tamanho do mercado (BARCELLOS NETO, 2002). Na Figura 1,
destacam-se as fases do processo de integração econômica.2

Figura 1 – Fases da integração econômica entre países e/ou regiões

Fonte: Coronel (2008).

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O aumento da eficiência e a abertura comercial tornam a região inserida em
blocos e/ou acordos comerciais mais atrativa ao aumento do fluxo de investimen-
tos estrangeiros diretos, o que se reflete na migração de capital em direção aos
membros do acordo (SALVATORE, 2000). Ressalta-se também a alteração nos ter-
mos de troca, decorrente da redução dos preços em função do acirramento compe-
titivo, pelos ganhos de especialização e de escala, além da redução dos custos de
transação devido à menor distância entre os mercados fornecedores, produtores e
consumidores.
Porém, destaca-se que as pressões de grupos de interesse, os ciclos políticos e
a interrupção das etapas do processo bem como o forte poder de mercado adquirido
pelos participantes dos acordos comerciais podem reduzir os possíveis ganhos gera-
dos (BALDWIN, 1989; MAGEE, 1997; BARCELLOS NETO, 2002).

2.2 Efeitos da integração econômica: criação e desvio de


comércio
Por meio dos benefícios e dos custos gerados pela formação de blocos econômi-
cos, Viner (1950) propôs os conceitos de criação e de desvio de comércio. A primeira
ideia trata do aumento das importações de uma mercadoria de um país pertencen-
te ao bloco por meio de reduções tarifárias, mesmo que isto implique queda de pro-
dução doméstica. Isso elevará o bem-estar das nações integrantes porque acarreta
maior especialização na produção com base nas vantagens comparativas, assim
como das nações não integrantes, pois parte do aumento dessa receita transforma-
-se em importações crescentes de outros países (SALVATORE, 2000).
Para compreender melhor o conceito de criação de comércio, supõe-se a for-
mação de uma área de livre comércio entre dois países, A e B, em que apenas os
produtos originados no interior do bloco podem circular livremente. Considere-se
que o país A é o país exportador e B, o país importador, “t” é a tarifa imposta antes
do acordo, “S” e “D” são as curvas de oferta e de demanda de um produto qualquer
do país B.
Após a liberalização das tarifas intrabloco, o preço do bem produzido em A e
importado por B reduz-se de “p0” para “p1”, de acordo com a Figura 2. A redução
de preço, ocasionada pela eliminação da tarifa “t”, resulta em um aumento nas
quantidades de consumo do bem, representado pela área “p0fgp1”, por meio de um
duplo ganho por parte dos agentes: preço menor e maior quantidade consumida
(SALVATORE, 2000).

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Figura 2 – Criação de comércio

Fonte: Salvatore (2000).

Contudo, apenas parte dessa área representa o ganho líquido para a nação B.
O retângulo “afhd” refere-se à perda tarifária pelo país B e a área representada por
“p0aep1” expressa uma dedução de renda ou do excedente do produtor.
Verifica-se que a área de ganhos é maior do que a área de perdas, o que resulta
em um ganho líquido para o país B composto por dois efeitos: o efeito produção e o
efeito consumo. O primeiro consiste no deslocamento da produção de bens menos
eficientes do país B para a produção de bens mais eficientes vindos da nação A. O
efeito produção está representado por “ade”. O segundo, o efeito consumo, repre-
sentado pelo triângulo “fgh”, é resultado do aumento no consumo dos indivíduos da
nação B. A soma de ambos os efeitos implica ganhos de bem-estar, ou seja, o efeito
de criação de comércio (RUBIN, 2005).
Em suma, os ganhos de bem-estar são representados pelo aumento do con-
sumo interno de bens, produzidos a preços mais baixos, importados de países que
apresentam vantagens comparativas em sua produção, com custos mais reduzidos
em relação à produção doméstica (CAVES; FRANKEL; JONES, 2001).
O segundo conceito abordado nessa seção é o de desvio de comércio, que acon-
tece quando há um deslocamento das importações de uma nação fora do bloco para
uma que participa dessa aliança. Isso ocorre devido à eliminação de tarifas entre

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os países-membros, tornando-se mais vantajoso transacionar com um produtor
menos eficiente, o que acarreta perda de bem-estar da sociedade (BARCELLOS
NETO, 2002). A Figura 3 ilustra essa situação.

Figura 3 – Desvio de comércio

Fonte: Salvatore (2000).

Supondo-se que exista um terceiro país não parceiro, o país C, e que, inicial-
mente, “SC” e “p0” sejam a curva de oferta, perfeitamente elástica, e o preço do pro-
duto ofertado pelo país C, respectivamente.
Após um acordo de livre comércio entre os países A e B, o preço do produto
ofertado pelo país C fica relativamente mais caro, igual a “p0”, e a curva de oferta
“SC+t” de produtos de origem extrabloco tende a ser mais elevada. Nesse caso, o
país C, que é mais eficiente na produção do produto em questão, continua sofrendo
restrições tarifárias igual a “t”.
O país B passa a desviar suas importações do país C, que é mais eficiente,
para importações do país parceiro a um preço de oferta menos eficiente, dado por
“p1”. Essa substituição de supridores, que acarretará aumento do volume exporta-
do entre os países parceiros, o que, por sua vez, gera desvio de comércio ou perda
de bem-estar, igual à área do retângulo “dhnj” (RUBIN, 2005).

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Verifica-se que o deslocamento da produção dos produtores mais eficientes
não integrantes do bloco para os produtores menos eficientes que dele participam
causa uma deterioração da alocação internacional dos recursos e afastamento da
produção das vantagens comparativas (SALVATORE, 2000). A formação do bloco
comercial é desejável apenas se os ganhos resultantes da criação de comércio forem
maiores que as perdas do desvio de comércio (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Contudo, o aumento da participação das trocas intrarregionais pode ser ge-
rado por melhorias efetivas de produtividade de algum país, que não possuem
necessariamente qualquer vinculação com incentivos ou distorções tarifárias
(BARCELLOS NETO, 2002). Em suma, quanto maior a área abrangida pelo bloco
econômico, quanto mais países o integrarem e quanto mais competitivos os países
membros, maior será a probabilidade de predominância da criação de comércio
sobre o desvio de comércio (ROBSON, 1985).
Pode-se flexibilizar a proposta original de Viner, e desse modo, a criação de
comércio pode ser entendida como um crescimento mais do que proporcional do co-
mércio intrabloco, o que permite o aprofundamento do processo de integração entre
os países membros. De forma semelhante, a destruição de comércio acontece quan-
do há um crescimento menos do que proporcional do comércio intrabloco (OLIVEI-
RA et al., 2009). Porém, deve-se destacar a necessidade de isolar-se a influência
das demais variáveis, como preços, taxa de câmbio, ganhos de produtividade, que
podem influenciar os efeitos de comércio pós-integração (VASCONCELOS, 2001).

2.3 Barreiras ao livre comércio


As barreiras comerciais são os principais empecilhos ao laissez-faire, e são
aplicadas com o intuito de proteger as economias nacionais. No entanto, existem
diversas formas de protecionismo, uma delas é a tarifa, um imposto cobrado quan-
do um bem é importado (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
As tarifas é a forma mais utilizada para um país proteger a economia e seus
efeitos são distintos, pois os produtores se beneficiam, embora os consumidores
sejam prejudicados, visto que pagam um preço mais elevado pelas mercadorias
(BRUM; HECK, 2005). As tarifas podem ser de três tipos: ad valorem, específicas
e compostas. De acordo com Salvatore (2000), as tarifas ad valorem são expres-
sas como uma porcentagem fixa do valor da commodity comercializada. As tarifas
específicas são expressas com uma quantia fixa por unidade física da commodity
comercializada; já a tarifa composta é uma combinação das tarifas ad valorem e
específica.

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Todavia, as tarifas diminuíram nos últimos tempos, porque os governos prefe-
rem proteger suas indústrias por meio de barreiras não tarifárias, como forma de
evitar sanções e discussões na OMC (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005). A proteção
com base nas barreiras não tarifárias passou a se chamar de novo protecionismo,
em contraste com o velho protecionismo, que se baseava nas tarifas alfandegárias
(WILLIANSON; MILNER, 1991).
As cotas, as restrições voluntárias às exportações, os subsídios às exportações
e as novas barreiras comerciais, caso das técnicas, ecológicas, burocráticas e sanitá-
rias são as principais barreiras não tarifárias utilizadas pelos países (AZÚA, 1986;
MAIA, 2001). A cota é uma restrição quantitativa que limita as importações de
determinadas commodities. Define-se restrição voluntária às exportações como um
pedido do país importador ao país exportador no sentido de reduzir a quantidade de
mercadorias exportadas a fim de evitar maiores sanções no âmbito macroeconômico
internacional (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Os subsídios às exportações são pagamentos diretos, com concessão de isenção
fiscal e empréstimos subsidiados aos exportadores das economias. Os subsídios
também podem ocorrer na forma de empréstimos a juros baixos concedidos a com-
pradores estrangeiros de maneira a estimular as exportações do país (SALVATO-
RE, 2000).
Já as barreiras técnicas são mecanismos que as nações utilizam para proteger
seu mercado, ou seja, o país só importará determinados produtos se seguir certos
padrões, enquanto que as barreiras ecológicas têm como pretexto proteger a natu-
reza. Entende-se por barreiras sanitárias a proibição da importação de determi-
nadas mercadorias por considerar-se que esses produtos podem causar problemas
à saúde da população (MAIA, 2001). Essas barreiras podem ser vistas como uma
forma de as nações protegerem seus mercados.

3 Metodologia
Esta seção aborda o funcionamento: do Modelo de Equilíbrio Geral, das rela-
ções econômicas e do comportamento dos agentes, do fechamento macroeconômi-
co do modelo e alocação do investimento entre regiões. Além disso, trata-se dos
cenários analisados e da fonte de dados utilizados na pesquisa.

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3.1 O Modelo de Equilíbrio Geral
O modelo GTAP (Global Trade Analysis Project) é um modelo estático, mul-
tirregional e multissetorial, que agrega setores e bens, países e regiões, fatores de
produção e de mobilidade livre dentro de uma dada região (trabalho qualificado,
trabalho não qualificado e capital) e fatores de produção fixos (terra e outros recur-
sos naturais) (GURGEL, 2007).
Os Modelos de Equilíbrio Geral são construídos sobre sólidas bases microeco-
nômicas, já que é preciso definir os agentes (consumidores, produtores, governo e
resto do mundo) por meio de equações de comportamento, além de apresentarem
consistência interna entre todas as variáveis, uma vez que derivam de uma base
de dados necessariamente consistente e coerente. Esses modelos fornecem soluções
numéricas para todas as variáveis endógenas, o que possibilita analisar os efeitos
de mudanças em políticas econômicas (FOCHEZATTO, 2005).
Os choques de políticas comerciais podem ser aplicados como a alteração de
tarifas às importações e impostos às exportações. Essas alterações implicam mu-
dança dos preços relativos de produtos importados e exportados, que afeta as de-
mandas finais e intermediárias (GURGEL, 2002). A Figura 4 apresenta as inter-
-relações dos agentes do modelo.

Figura 4 – Economia multirregional e aberta

Fonte: Hertel e Tsigas (1997).

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279
Conforme a Figura 4, observa-se que a despesa do agente regional é dada por
uma função de utilidade agregada, em que as despesas são alocadas entre consumo
privado (PRIVEXP), consumo do governo (GOVESP) e poupança global (SAVE). A
receita do agente regional é função da venda dos serviços dos fatores primários de
produção, representado por VOA (valor do produto, a preços dos agentes) e pelos
impostos TAXES (incididos sobre os bens domésticos), MTAX (tarifas à importação)
e XTAX (taxas à exportação).
Os produtores têm suas receitas oriundas das vendas de sua produção aos
agentes domésticos, que são os agentes privados (VDPA = valor das compras do-
mésticas pelo setor privado, a preços de agente), o governo (VDGA = valor das com-
pras domésticas do governo, a preços de agente), outras firmas (VDFA = consumo
intermediário) e os agentes externos (resto do mundo, que representa a fonte de
importação e o destino das exportações), por meio das exportações (VXMD). Ainda
nesse contexto, a receita pode ser gerada pelo valor das vendas de bens de investi-
mento para satisfazer à demanda de poupanças pelos agentes regionais (REGINV).
A receita dos produtores é gasta com consumo intermediário (VDFA), na aqui-
sição de serviços dos fatores primários (VDPA), nas importações (VIFA) e no paga-
mento de impostos (TAXES) ao governo. Assim, toda receita gerada é despendida
com a compra de fatores intermediários e serviços de fatores primários, o que per-
mite a condição de lucro econômico zero, pressuposto do fechamento do modelo.
O governo e os agentes privados gastam suas rendas em produtos domésticos
e importados, VIGA e VIPA, respectivamente, bem como ambos os agentes pagam
impostos de importação (MTAX) e de consumo (TAXES) e poupam (SAVE). Os flu-
xos regionais de poupança são agregados em nível global (poupança global), que
são distribuídos para investimento em cada região (MONTE; TEIXEIRA, 2007).

3.2 Relações econômicas e comportamento dos agentes


A tecnologia utilizada pelas firmas em cada indústria do modelo é caracte-
rizada pela árvore tecnológica ou de produção, que representa as tecnologias de
forma separada e com retornos constantes à escala. O fechamento macroeconômico
do GTAP é do tipo neoclássico, no qual vigora a lei dos rendimentos constantes de
escala (MONTE; TEIXEIRA, 2007). A Figura 5 ilustra a árvore de produção.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

280
Figura 5 – Árvore de produção

Fonte: Hertel e Tsigas (1997)

Admite-se que as firmas escolhem sua combinação ótima de fatores de produ-


ção independentemente dos preços dos insumos intermediários. Por admitir esse
pressuposto da separabilidade, impõe-se que a elasticidade de substituição entre
quaisquer dois fatores primários, de um lado, e entre quaisquer dois insumos in-
termediários, de outro, seja igual. Isso permite a obtenção da árvore de produção,
pois, como sua elasticidade é comum, consegue-se traçar o primeiro nó da árvore,
na qual insumos intermediários e fatores primários são combinados.
Dentro do grupo de fatores primários, as possibilidades de substituição redu-
zem-se a um único parâmetro, ou seja, admite-se uma função do tipo Elasticidade
Constante de Substituição (CES),3 conforme a Equação 1:

Q = A[δK − p + (1 − δ ) − p ]−1 (1)

em que A > 0; 0 < δ < 1; p > -1, em que Q é a quantidade produzida; os fatores de
produção K e L, o capital e trabalho. Os parâmetros A, p e δ são um indicador do
estado de tecnologia, o valor da constante da elasticidade de substituição, e o pa-
1 distribuição que se relaciona com as participações relativas dos fatores
râmetro de
σ=
1 + prespectivamente.
no produto,
Para funções do tipo CES, que possuem elasticidade de substituição cons-
tante e diferente da unidade, as mudanças percentuais na relação de preços

σ −1 σ −1
− − σ
σ Teoria e Evidência
σ Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016
Q = A[δK + (1 − δ ) ]
σ −1

281
Q = A[δK − p −+p (1 − δ ) − p −]−p1 −1
Q = A[δK + (1 − δ ) ]
refletem sempre a substitutibilidade dos bens ou fatores (MONTE; TEIXEIRA,
2007). Dada a Equação 1, tem-se a elasticidade de substituição na Equação 2:
1
σ= 1
σ 1= + p
1+ p (2)

Substituindo-se (2) em (1), obtém-se a Equação 3:

σ −1 σ −1
−− pσ σ −1 −
QQ=Q=A=A[[δAδKK[δK −+σ (1+−(1δ−)δ ) ] σ
+ (1 − δ )− pσ− σ−]1−σ1−1 σ (3)
σ

]σ −1
O fator terra é empregado apenas na atividade agrícola e é imperfeitamente
móvel entre os setores, enquanto os fatores L e K são empregados em todos os seto-
res e são considerados perfeitamente móveis em uma economia. A elasticidade de
θCP θCG θS
U = KCP
substituição entre CG
os
θCP
paresSde fatores primários varia de atividade para atividade,
θCG θS
U = KCP CG S
1
mas não entre regiões.
σ=Os fatores intermediários também admitem a separabilidade, isto é, a com-
1+ p
binação ótima dos fatores intermediários também independe do preço dos fatores
primários. Assume-se que a elasticidade parcial de substituição entre os fatores in-
S − I ≡seja
termediários X +constante
R − M e igual a zero, isto é, a combinação entre eles ocorre em
S − I ≡ X +R−M
proporção fixa. Admite-se a separabilidade entre insumos domésticos e importados,
ou seja, as firmas decidem a fonte de suas importações e, baseadas nos preços de
importação, determinam a combinação ótima de insumos domésticos e importados.
Para a análiseσ −1do comportamento
σ −1 dos indivíduos, verifica-se que o consumo
− − σ
regional δ
Q = éAformado
[ K por+uma
σ
(1 −funçãoδ
) σde]utilidade
σ −1
agregada que depende do consumo
privado (CP), das despesas do governo (CG) e da poupança (S). Assim, a renda re-
gional é distribuída de acordo com a demanda final, do consumo privado, consumo
do governo e da poupança, por meio de uma função de utilidade per capita Cobb-
-Douglas, de acordo com a Equação 4:

(4)
U = KCPθCP CGθCG S θS
em que U é a utilidade total em cada região, K e θ os parâmetros da função. A ma-
ximização da função utilidade determina a alocação da renda em cada região. O
fechamento padrão do GTAP faz com que a participação de cada um daqueles itens
da demanda final na renda total seja constante, uma vez que a função de utilidade
S −Cobb-Douglas.
é uma I ≡ X +R−M

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

282
Q = A[δK − p + (1 − δ ) − p ]−1

3.3 Fechamento
1 macroeconômico do modelo e alocação do
σ=
investimento
1+ p entre regiões
O GTAP não considera as políticas macroeconômicas e os fenômenos monetá-
rios, que são fatores explicativos do investimento agregado. Por não ser um modelo
intertemporal e sequenciado no tempo, o investimento não é capaz de afetar a
capacidade produtiva

σ −1 das indústrias/regiões.

σ −1
σ
A alocação de investimentos entre as
regiões [δK a produção
Q = Aafeta σ
+ (1 − δe)o comércio
]
σ σ −1
apenas por meio dos efeitos sobre a demanda
final. Essas observações justificam a maior atenção dada a essa questão, além de o
tratamento entre poupança e investimento ser necessário para completar o siste-
ma econômico global, assegurando consistência no sistema de contas.
Além disso, é necessário lidar com mudanças potenciais na conta corrente.
U = KCPθCP
Geralmente, osCG θCG θS
S
procedimentos de fechamento forçam a convergência entre pou-
pança e investimento doméstico, fixando o balanço da conta corrente, que pode ser
expresso pela fixação do lado esquerdo da identidade das contas nacionais, como
segue:

S − I ≡ X + R − M (5)

em que S representa a poupança; I, o investimento; X, as exportações; M, as impor-


tações e R, as transferências internacionais.
No lado direito da identidade citada será assegurada a igualdade entre pou-
pança e investimento global, mesmo sem presença de um banco global para fazer a
intermediação. Essa abordagem representa um fechamento de equilíbrio neoclás-
sico, uma vez que o investimento é forçado a se alinhar às mudanças regionais da
poupança.

3.4 Cenários analisados


Definiram-se dois cenários analíticos. O primeiro supõe a mensuração dos
efeitos da liberalização comercial completa, com a eliminação total das barreiras
tarifárias, dos subsídios à produção e exportação, como também a eliminação das
barreiras não tarifárias. O segundo supõe a redução de tarifas de importação e de
subsídios à produção bem como eliminação dos subsídios à exportação, conforme
proposto pela Organização Mundial do Comércio na Rodada de Doha.
Para as tarifas de importação, as reduções propostas pela Rodada de Doha
valem para os produtos agrícolas e manufaturados, para as quais as simulações

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

283
observaram o Método de Girard ou a fórmula suíça. Esse método resulta em maio-
res reduções em tarifas mais elevadas do que em tarifas menores, obtendo, assim,
uma harmonização tarifaria (PEREIRA; TEIXEIRA; GURGEL, 2009). A Tabela 1
aborda a redução tarifária proposta pela fórmula suíça.

Tabela 1 – Proposta de redução de tarifa para produtos agrícolas (Método de Girard)


Grupo Tarifas atuais Redução proposta
1 0 - 20/30% 20% - 65%
2 20/30% - 40/60% 30% - 75%
3 40/60% - 60/90% 35% - 85%
4 > 60/90% 42% - 90%
Fonte: Organização Mundial do Comércio (2005).

Este método recomenda cortes maiores sobre tarifas de importação mais ele-
vadas e estabelece um nível máximo de tarifas. Aplica-se o limite inferior de cada
grupo, isto é, redução de 20% para países do Grupo 1, 30% para o Grupo 2; para
países com tarifas nos níveis do Grupo 3, aplicou-se redução de 35% e redução de
42% para países com tarifas atuais superiores a 60%, do Grupo 4. A redução pro-
posta para os instrumentos comerciais apresentados acima compõem o cenário I
(SONAGLIO; BENDER FILHO; TEIXEIRA, 2009).
No caso proposto, as barreiras para o setor de frutas, vegetais e nozes é infe-
rior a 10% para todos os destinos analisados (GLOBAL TRADE ANALYSIS PRO-
JECT, 2014), portanto, aplica-se a redução proposta em seu limite inferior, 20%.
A redução nos subsídios à produção agropecuária segue a proposta da OMC,
que sugere a redução dos subsídios de acordo com o valor total de subsídios con-
cedidos pelos países/regiões. Dessa forma, divide-se a economia mundial em três
grupos, conforme se observa na Tabela 2.

Tabela 2 – Proposta da OMC para redução dos subsídios à produção agrícola


Grupo Gastos em US$ bilhões Redução proposta
1 0 – 10 31%
2 10 – 60 53%
3 > 60 70%
Fonte: Organização Mundial do Comércio (2005).

No Grupo 1, encontram-se os países que concedem subsídios de até US$ 10 bi-


lhões anuais, para o qual a proposta de redução é de 31%. No Grupo 2, encontram-se

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

284
os países com gastos em subsídios à produção entre US$ 10 e US$ 60 bilhões anuais,
para esses, a proposta de redução chega a 53%. No grupo 3, estão os países com gas-
tos superiores a US$ 60 bilhões ao ano, e a redução proposta para os países integran-
tes desse grupo é de 70%. No Grupo 2, destacam-se os Estados Unidos e no Grupo 3
a União Europeia. Os demais países/regiões analisadas encontram-se no Grupo 1.
Em relação aos subsídios à exportação de produtos agropecuários, a proposta
da OMC é mais enfática, uma vez que propõe a eliminação completa desse tipo
de barreira de comércio. Cabe destacar que ambos os cenários avaliam apenas os
efeitos de alterações na política comercial europeia para os produtos do setor de
hortifrúti brasileiro. Não foram realizados choques nas políticas comerciais nas
demais regiões devido aos objetivos propostos.

3.5 Fonte de dados

O banco de dados utilizado é o do Global Trade Analysis Project, versão 8, com


base de dados para 2004 e 2007. Essa versão compreende 129 regiões4 e 57 setores/
commodities. A Tabela 3 agrega as principais regiões e mais importantes setores
que foram analisados.

Tabela 3 – Agregação entre regiões e setores realizadas no GTAP


Regiões Setores
Brasil (BRA)
MERCOSULex, exceto Brasil, (MERex)
Estados Unidos (EUA) Vegetais, frutas e nozes
União Europeia 25 (EUR) Outros setores
BRICex,5 exceto Brasil, (BRICex)
Resto do mundo (RDM)
Fonte: elaborada a partir do GTAP-8.

Obs.: os símbolos entre parênteses indicam os códigos que serão utilizados para a estimação na análise e discussão dos
resultados.

A agregação dessas regiões justifica-se na medida em que os Estados Unidos


e a União Europeia representam parcela significativa das exportações brasileiras
de frutas, atingindo aproximadamente 86,10% em 2013 (ANÁLISE DAS INFOR-
MAÇÕES DE COMÉRCIO EXTERIOR, 2013). Os países do BRICs, exceto o Brasil,
representa o comportamento dos países em desenvolvimento, com ênfase para Chi-
na e Índia, que são os maiores produtores mundiais de frutas (ANDRADE, 2012).

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

285
4 Análise e discussão dos resultados
Esta seção trata dos dois cenários da pesquisa. Primeiramente, discute-se a
liberalização completa do comércio entre União Europeia e Brasil para o setor de
frutas e vegetais. Posteriormente, faz-se a análise com a implementação do cenário
proposto pela Rodada de Doha, com reduções das barreiras comerciais entre as
duas regiões para o setor de hortifrúti.

4.1 Análise do cenário 1


Em um cenário de eliminação completa das barreiras tarifárias e não tari-
fárias pela União Europeia para as frutas, os vegetais e as nozes brasileiras, de
acordo com a Tabela 4, verificam-se mudanças mais acentuadas na quantidade
produzida do Brasil e do bloco europeu. A quantidade produzida por esse setor
eleva-se para 3,53%, no caso brasileiro, devido às condições menos restritivas de
acesso ao mercado e consequente aumento na demanda. Há queda na produção
europeia de hortifrúti, em torno de 0,82%, em função da eliminação de subsídios
de produção e da realocação produtiva do setor, dos países menos eficientes para
os mais eficientes.
Em termos de exportações, observa-se crescimento de 15,24% das exporta-
ções do Brasil e queda de 0,63% das exportações europeias, ou seja, a eliminação
completa dos entraves ao comércio brasileiro de hortifrúti para a União Europeia
desestimula as exportações desse destino em prol do crescimento das exportações
desses produtos realizadas pelo Brasil, conforme a Tabela 4. Assim, pode-se sugerir
que a eliminação completa das barreiras tarifárias e não tarifárias para as frutas
e vegetais brasileiros causa um efeito de criação de comércio, uma vez que há au-
mento da quantidade produzida e exportada desses bens do Brasil, e redução da
produção e exportação da União Europeia, sugerindo, portanto, maior fluxo comer-
cial entre ambos a partir desse cenário.
Além disso, esse resultado permite inferir que parte do crescimento do setor
brasileiro é restringida pelo protecionismo praticado pelo bloco europeu, seriam ne-
cessárias ações estratégicas de negociação com o intuito de reduzir ou eliminar as
barreiras comerciais bem como de inserir e adequar o produto brasileiro às normas de
qualidade europeias. Ressalta-se que as mudanças nas exportações geralmente acom-
panham as mudanças na produção, com algumas poucas exceções (GURGEL, 2007).
Nota-se a falta de competitividade europeia nesse setor em um cenário de
liberalização de comércio, o que permite supor que os subsídios à produção, à ex-
portação e tarifas de importação são alguns dos mecanismos que mantêm o setor de

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

286
hortifrúti europeu. Verifica-se que os BRICex, os EUA e o MERCOSULex também
ampliariam suas exportações nesse cenário, embora em menores porcentagens.
De acordo o que é apresentado na Tabela 4, em termos de importações, obser-
va-se que a União Europeia ampliaria suas importações de hortifrúti em 0,59% e
o Brasil em 0,42%. Esse resultado é a contrapartida dos resultados da produção
e da exportação, uma vez que o país aumentaria sua competitividade em frutas e
vegetais, em alguns produtos do setor, mais especificamente, em detrimento da im-
portação de outros produtos também do setor. Esse aspecto pode ser justificado por
um tipo de comércio intrassetorial entre os países, entre as diferentes variedades
de frutas e vegetais, se cultivadas em clima tropical ou temperado.
Além disso, pode-se evidenciar que houve um aumento mais do que proporcio-
nal da quantidade exportada em relação à quantidade de frutas e vegetais produ-
zida pelo Brasil, indicando que o crescimento da demanda externa não foi suprido
pelo incremento de oferta brasileira, acarretando maior absorção do produto brasi-
leiro. Assim, o país pode vir a recorrer ao mercado externo para suprir parte do seu
mercado nacional, o que pode ser verificado na Tabela 4.

Tabela 4 – Mudanças na quantidade produzida (qo), exportações (vxwfob), importações (viwcif),


preços domésticos (pm) e no bem-estar dos consumidores (ev) em um cenário de
liberalização completa do comércio europeu para as exportações brasileiras do setor,
em variações percentuais (%)
Variação na quantidade produzida
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 3,53 0,02 0,08 0,15 -0,82 0,09
Out. setores -0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Variação no valor das exportações
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 15,24 0,43 0,50 0,72 -0,63 0,52
Out. setores -0,07 0,00 0,00 -0,01 0,01 0,00
Variação no valor das importações
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 0,42 -0,12 0,00 0,02 0,59 -0,04
Out. setores 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Variação nos preços domésticos
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 0,34 0,01 0,02 0,03 0,63 0,02
Out. setores 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Mudanças no bem-estar dos consumidores*
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
23,23 -59,92 -2,83 -0,14 149,80 -44,44
Fonte: elaborada pelos autores.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

287
Quanto aos preços, observam-se elevações de 0,34% e 0,63% dos preços domés-
ticos do setor de frutas e vegetais do Brasil e da União Europeia, considerando a
eliminação total de barreiras tarifárias e não tarifárias das exportações do Brasil
para a União Europeia. Para o bloco europeu, a redução na quantidade produzida
internamente acarreta uma menor oferta doméstica, o que pressiona a suba de
preços.
No caso brasileiro, pode-se sugerir que a demanda externa é superior à oferta
desses produtos, o que pressiona a elevação de preços. Tais aumentos referem-se
ao crescimento da demanda pelos produtos exportados pelo Brasil no mercado ex-
terno, uma vez que esses produtos são relativamente mais protegidos no restante
do mundo do que no Brasil (GURGEL, 2007).
Para o primeiro cenário, destacam-se mudanças mais significativas de bem-
-estar para os consumidores europeus do que para os brasileiros, em torno de
149,80%. A queda das barreiras comerciais possibilita maior eficiência, por meio da
alocação dos insumos e fatores produtivos, na produção e no comércio internacional
do setor de hortifrúti, o que acarreta incremento de bem-estar para a população.

4.2 Análise do cenário 2


Os resultados obtidos pelas simulações para produção, preços, bem-estar dos
consumidores e fluxos comerciais internacionais decorrentes da proposta realizada
na Rodada de Doha estão representados na Tabela 5.
Em um cenário de eliminação parcial, considerando a redução das barreiras
tarifárias e não tarifárias pela União Europeia para frutas, vegetais e nozes bra-
sileiras, observa-se crescimento na quantidade produzida pelo Brasil e decréscimo
na produção europeia, 0,83% e 0,54%, respectivamente. A redução das barreiras
comerciais permitiu a ampliação da produção brasileira, visto que há vantagens
comparativas na produção (CORONEL et al., 2014). Para o mercado europeu, há
um desestímulo do setor produtivo, dada a redução dos subsídios à produção.
De acordo com os dados da Tabela 5, verifica-se crescimento de 3,52% das ex-
portações brasileiras de frutas brasileiras devido à queda das barreiras comerciais
para o destino em questão. Dessa forma, verifica-se que o Brasil tende a ganhar
com a redução de barreiras comerciais da UE (GURGEL, 2007). Além disso, ob-
serva-se crescimento de 0,36%, 0,42%, 0,56% e 0,43% nas exportações do BRICex,
EUA, MERCOSULex e RDM, respectivamente. O cenário mais próximo do livre
comércio permite que as regiões que possuam vantagens na produção intensifi-
quem suas exportações. Por outro lado, pode-se destacar a redução de 0,38% nas

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

288
exportações europeias, o que sugere a queda de competitividade deste setor quando
se reduz os mecanismos de proteção do mercado.

Tabela 5 – Mudanças na quantidade produzida (qo), exportações (vxwfob), importações (viwcif),


preços domésticos (pm) e no bem-estar dos consumidores (ev) em um cenário proposto
pela Rodada de Doha do comércio europeu para as exportações brasileiras do setor,
em variações percentuais (%)
Variação na quantidade produzida
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 0,83 0,02 0,06 0,11 -0,54 0,08
Out. setores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Variação no valor das exportações
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 3,52 0,36 0,42 0,56 -0,38 0,43
Out. setores -0,02 0,00 0,00 -0,01 0,00 0,00
Variação no valor das importações
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 0,09 -0,11 0,00 0,03 0,39 -0,03
Out. setores 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Variação nos preços domésticos
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
FVN 0,08 0,01 0,01 0,02 0,45 0,02
Out. setores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Mudanças no bem-estar dos consumidores*
BRA BRICex EUA MERex UE RDM
5,21 -51,86 -1,40 0,86 108,69 -37,97
Fonte: elaborada pelos autores.

Nesse caso, assim como no cenário anterior, pode-se sugerir também a criação
de comércio, em que o setor brasileiro de hortifrúti amplia sua produção e expor-
tação, devido à redução das barreiras comerciais, em detrimento da redução da
produção e exportação do bloco europeu.
Verificou-se a variação positiva no valor das importações de frutas de 0,09% do
Brasil e 0,39% da União Europeia. Para essa última, a eliminação de parte da pro-
teção do setor torna seus produtos menos competitivos e há a procura por produtos
mais baratos, oriundos de outros mercados, o que acarreta a elevação dos preços
desse setor em 0,45%, o que corrobora a informação anterior.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

289
Para o BRICex e RDM, observa-se redução no valor importado de frutas e
vegetais de 0,11% e 0,03%, respectivamente. Para o primeiro, com o atual cená-
rio, houve ampliação da quantidade produzida, aumento das exportações e queda
das importações, devido ao maior suprimento do mercado interno. Para o segundo
cenário, as mudanças foram mais significativas em termos de bem-estar para os
consumidores europeus do que para os brasileiros, em torno de 108,69%. A queda
das barreiras comerciais possibilita maior eficiência no comércio internacional do
setor, o que permite o incremento de bem-estar para a população.
Além disso, pode-se verificar que o cenário de liberalização total do comércio
de frutas e vegetais do Brasil para o bloco europeu apenas influenciou na magnitu-
de da variação das variáveis analisadas, se comparado com o cenário proposto na
Rodada de Doha. Em ambos os cenários, os sinais encontrados para cada variável
e região foram, de forma geral, similares.
Para um cenário de liberalização tarifária completa entre os blocos do Mer-
cosul e União Europeia e para todas as regiões do mundo por meio da Rodada de
Doha, Gurgel (2007) evidenciou aumentos dos preços domésticos e das importações
para o setor de frutas e vegetais, o que corrobora com os resultados encontrados.
Contudo, encontrou-se queda das exportações brasileiras de frutas e vegetais e do
valor de produção setorial, e esses últimos resultados vão de encontro ao identifi-
cado no presente trabalho.
Porém, sugere-se que os diferentes níveis de agregação regional e choques nas
reduções de barreiras e subsídios podem causar algum viés na comparação. Gurgel
(2007) analisou o cenário de liberalização somente tarifária, ou apenas eliminação
de subsídios domésticos ou eliminação dos subsídios às exportações, de forma de-
sagregada, ao passo que neste estudo foi considerada como liberalização comercial
a eliminação completa de tarifas às importações e de subsídios à exportação e à
produção de forma conjunta. Além disso, o cenário analisado aplica as condições
propostas pela Rodada de Doha, mas somente para o comércio de frutas e vegetais
brasileiros ao bloco europeu, e não para toda a economia mundial.
Já Sampaio e Sampaio (2009) encontraram o saldo negativo para a balança
comercial de frutas e vegetais, quando analisados os fatores abertura ampla na
OMC e negociação entre o Mercosul e a União Europeia (Mercoeuro). Contudo, a
agregação supõe a eliminação total das tarifas de importação e exportação, para
os países envolvidos, mas com manutenção de subsídios domésticos à produção de
produtos primários, a insumos agrícolas e a pagamentos à terra e ao capital.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 270-295, jul./dez. 2016

290
5 Conclusões
Este trabalho buscou analisar os possíveis impactos das políticas comerciais
da União Europeia, como eliminação e redução de barreiras tarifárias e não tarifá-
rias, para o setor exportador brasileiro de frutas e vegetais. Foram analisados dois
cenários, o primeiro de liberalização do comércio europeu de frutas e vegetais com
eliminação total de tarifas de importação, subsídios à produção e à exportação. O
segundo cenário propõe a redução de tarifas de importação e subsídios à produção
e eliminação de subsídios à exportação da UE para com os produtos do hortifrúti
brasileiro, conforme proposto pela Rodada de Doha.
Destaca-se que, em ambos os cenários analisados, houve crescimento da quan-
tidade produzida e exportada pelo Brasil, em detrimento da redução desses quan-
titativos para a União Europeia. Este fato corrobora a teoria, pois, em uma situ-
ação de maior liberalização comercial, o país que possuir vantagem na produção
e exportação de determinado setor intensifica sua produção e exportação, como é
o caso do Brasil para as frutas e vegetais. De outro lado, a região mais ineficiente
reduz a produção e a exportação em uma situação de queda do protecionismo, caso
do mercado europeu.
Além disso, verificou-se crescimento das importações e do preço doméstico
desses produtos para os mercados brasileiro e europeu. Esse resultado é consisten-
te com a intensificação dos fluxos de comércio, dado que, em uma situação de am-
pliação do livre comércio, as importações tendem a se expandir. A maior demanda
pelos produtos brasileiros de hortifrúti e a baixa capacidade de expansão da oferta
no curto prazo ampliam os preços desses bens no mercado nacional. No mercado
europeu, a queda na produção do mercado doméstico, em função da eliminação ou
redução dos incentivos do setor, reduz a oferta, ocasionando a elevação dos preços.
Houve melhoria significativa nas condições de bem-estar dos consumidores brasi-
leiros e europeus em função da eliminação e redução das barreiras comerciais.
Embora os resultados tenham mostrado consistência, pode-se ressaltar como
limitação o fato de não ter sido incorporado o equivalente tarifário correspondente
às barreiras não tarifárias, como as barreiras fitossanitárias. Para pesquisas futu-
ras, sugere-se uma análise incorporando alterações no fechamento do modelo, tais
como alguns procedimentos de calibração, considerando a possibilidade de ocorrên-
cia de desemprego e economias de escala, o que permite maior aproximação com a
estrutura analítica e sistêmica dos setores analisados.

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291
El impacto de la política comercial de la Unión Europea
sobre las exportaciones brasileñas de horticultura
Resumen
Este estudio tiene como objetivo analizar los efectos de la reducción de las barreras comer-
ciales de la Unión Europea para las exportaciones brasileñas de frutas, verduras y nueces,
concretamente, sobre la eliminación de las barreras arancelarias y no arancelarias. Con
este fin, se hizo uso del Modelo de Equilibrio General Computable. Se simularon dos esce-
narios: la liberalización completa y la reducción de las barreras comerciales a las exporta-
ciones de horticultura de Brasil a Unión Europea según lo propuesto por la ronda de Doha.
Los resultados indicaron que, para Brasil, en ambos escenarios, hay un crecimiento de la
cantidad producida, de las exportaciones e importaciones, y de los precios de la industria
nacional de horticultura.

Palabras clave: Exportaciones. Frutas. Verduras. Unión Europea. GTAP.

The impact of the European Union´s trade policies on the


exports of brazilian fruits and vegetables
Abstract
This study aims to analyze the effects of reducing the European Union´s trade barriers
for the Brazilian export sector of fruits, vegetables and nuts, specifically regarding the
elimination of tariff and non tariff barriers. In order to accomplish this, the Computable
General Equilibrium Model was used, and two situations were simulated: the complete
liberalization and reduction of trade barriers, as proposed by the Doha round, of the export
of fruits and vegetables from Brazil to the European Union. The results indicated that,
for Brazil, in both scenarios, there is an increase in relation to the quantity produced, the
exports and imports and the domestic prices of the fruits and vegetables sector.

Keywords: Exports. Fruits. Vegetables. European Union. GTAP.

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292
Notas
1
O General Agreement on Tariffs and Trade, criado em 1947, era um acordo que tinha como objetivo dimi-
nuir as barreiras comerciais entre os signatários. Em 1994, esse acordo foi transformado na Organização
Mundial do Comércio, que detém mecanismos destinados a resolver disputas comerciais.
2
Moreira (2010) e Barcellos Neto (2002) divergem quanto aos estágios de integração regional:,o primeiro
suprime o estágio de acordos preferenciais de comércio e o segundo autor não aborda o estágio da inte-
gração econômica total. Krugman e Obstfeld (2005) não apontam os três últimos estágios de integração
regional.
3
A sigla CES refere-se a Constant Elasticity of Substitution.
4
Para mais detalhes sobre quais países e quais produtos estão inseridos na base de dados do modelo, acesse
o endereço eletrônico <https://www.gtap.agecon.purdue.edu/databases/v8/>.
5
BRICs, bloco formado pelos países em desenvolvimento: China, Rússia, Índia e Brasil.

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295
O valor econômico da extração de
madeira em tora na Ilha do Marajó, Pará
Antônio Cordeiro de Santana*
Ádamo Lima de Santana**
Cyntia Meireles de Oliveira***
Marcos Antônio Souza dos Santos****
Mário Miguel Amin*****
Nilson Luiz Costa******

Resumo
O objetivo deste trabalho foi estimar o valor econômico e a margem de comercialização da
madeira em tora oriunda de áreas manejadas. Utilizou-se o preço líquido atualizado da
madeira para estimar o valor econômico da exploração florestal madeireira no polo Marajó.
Os dados foram obtidos em pesquisa de campo realizada em vinte empresas que operam
no local. O valor econômico médio da extração e comercialização da madeira em pé no
mercado local foi de R$ 28,46/m3, com um valor mínimo de R$ 18,47/m3 para as espécies da
categoria C4 (madeira branca) e um máximo de R$ 92,25/m3 para as espécies da categoria
C1 (madeira especial). Assim, para um fluxo de trinta anos e extração de 25 m3/ha nos
planos de manejo das áreas de concessão florestal do estado do Pará, gera-se um valor
médio de R$ 688,75/ha. Esse resultado é superior ao gerado pelas atividades de pecuária
extensiva (em torno de R$ 180,00/ha) e de lavouras de grãos (em torno dos R$ 420,00/ha),
principais responsáveis pelo desmatamento da Amazônia. A margem de comercialização
mostrou que a sociedade tende a se apropriar de 12,4% do valor econômico gerado na ca-
deia de madeira oriunda dos contratos de transição.

Palavras-chave: Preço da madeira em tora. Concessão florestal. Viabilidade econômica.


Desmatamento. Amazônia.

*
S.D. Professor da Universidade Federal Rural da Amazônia. E-mail: acsufra@gmail.com -
Autor para correspondência.
**
S.D. Professor da Universidade Federal do Pará. E-mail: adamo@ufpa.br
***
S.D. Professora da Universidade Federal Rural da Amazônia. E-mail: cyntiamei@hotmail.com
****
Me. Professor da Universidade Federal Rural da Amazônia. E-mail: marcos.santos@ufra.edu.br
*****
PhD. Professor da Universidade da Amazônia. E-mail: marioamin@gmail.com
******
S.D. Professor da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: ecnilson@msn.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6812

Submissão: 25/04/2015. Aceite: 21/09/2016.

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296
1 Introdução
O setor florestal tem alto peso na economia paraense pelos empregos, renda e
divisas que gera. Em 2008, apresentou um valor adicionado de US$ 4,46 bilhões e
gerou 30.481 empregos, participando, respectivamente, com 9,6% e 3,6% do PIB e
do emprego total do Pará. O comércio nacional e internacional apresentou superá-
vit de US$ 1,08 bilhão (SANTANA; SANTOS; OLIVEIRA, 2010).
Não obstante essa importância, a efetividade do marco regulatório da explora-
ção florestal na Amazônia, que a partir de 2004 coibiu fortemente o desmatamento
e a extração ilegal de madeira em tora, juntamente com os efeitos da crise econô-
mica internacional a partir de 2007 – o mercado paraense de produtos madeireiros
diminuiu 64,6% entre 2007 e 2009 – causaram forte impacto na indústria madei-
reira, comprometendo o abastecimento do mercado. Para atenuar esse problema de
abastecimento e contribuir para a recuperação da indústria madeireira, o Instituto
de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor) (2010) implementou a
política de gestão de florestas públicas por meio de contratos de concessão florestal.
Esses contratos, destinam-se a legalizar e viabilizar a extração e comercialização
dos produtos florestais madeireiros e não madeireiros pela iniciativa privada, apli-
cando as técnicas de manejo florestal sustentável.
Para viabilizar tais contratos, estimou-se o preço da madeira em pé para de-
terminar o valor a ser pago pelas empresas em cada contrato, de acordo com o volu-
me máximo de madeira a ser extraído, estabelecido por meio dos planos de manejo
sustentável dessas áreas. Então, o desafio inicial foi estimar o preço da madeira
em pé, a partir do preço de mercado da madeira em tora, dos custos de produção e
da margem de lucro. De acordo com Santana, Santos e Oliveira (2010a; 2010b), o
mercado de madeira em tora do polo madeireiro do Marajó, configurado por vinte
serrarias em funcionamento dos municípios de Breves e Portel, opera em concor-
rência perfeita. Portanto, o valor econômico da atividade madeireira, determinado
a partir do preço de equilíbrio desse mercado, reflete o custo de oportunidade dos
contratos de concessão florestal.
O dimensionamento do valor econômico da floresta manejada e sua compara-
ção com as principais alternativas de uso das áreas de floresta da Amazônia (pe-
cuária extensiva e agricultura de grãos) deve revelar resultados que confirmam a
hipótese de que a exploração sustentável da floresta é mais rentável do que as ati-
vidades agropecuárias que, para serem implantadas, exigem a retirada da floresta.
Essa hipótese foi comprovada por Santana et al. (2012) para o polo madeireiro do
Baixo Amazonas.

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297
Com isso, a viabilidade econômica da concessão florestal pode contribuir efe-
tivamente para combinar os objetivos de maximização do lucro das empresas com
o objetivo da sociedade de tornar mínimo o impacto ambiental das alternativas
econômicas de uso do solo no Pará, especificamente na Ilha do Marajó, onde foram
implantados os primeiros contratos de transição, gerenciados pelo Ideflor, que são
autorizações outorgadas às empresas para manejar e extrair madeira em áreas de
florestas públicas do estado do Pará, por um período de cinco anos, após a aprova-
ção dos órgãos ambientais e fundiários.
O objetivo deste trabalho é estimar o valor econômico da extração manejada
de madeireira em tora dos contratos de transição do polo madeireiro do Marajó e
as margens de comercialização total, social e dos agentes intermediários da cadeia
produtiva da madeira.

2 Valor econômico da floresta manejada


O setor florestal mundial passa por um processo de reestruturação produtiva
com dinâmicas diferenciadas entre os países produtores e consumidores de madei-
ra tropical, em especial na Amazônia, para onde convergem os esforços visando
combater a destruição da floresta. Assim, os aspectos da sustentabilidade econô-
mica e ambiental estão mais concretamente incluídos nos contratos de concessão,
em função da maior visibilidade do mercado e das ações dos grupos de interesse,
porém, os ganhos sociais da participação coletiva e inclusão das populações tra-
dicionais ainda estão no início do percurso. O inventário florestal não identifica o
potencial dos produtos não madeireiros. Também não obriga os proprietários dos
contratos de concessão a explorar os resíduos de madeira e nem incluir as popula-
ções tradicionais locais do entorno dessas áreas de florestas públicas (MONTEIRO
et al., 2011).
As dimensões econômica, ambiental e social da sustentabilidade estão deter-
minadas nos documentos oficiais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, do Serviço Florestal Brasileiro e do Ideflor, porém
a execução deixa em segundo plano ou não contempla parte do capital florestal e as
comunidades locais (SANTANA, 2002).
Neste trabalho, combinou-se o conceito de valor econômico à abordagem da
cadeia de valor da madeira, adaptado de Porter (1999), envolvendo o conjunto das
atividades competitivas implementadas pelas empresas madeireiras, que operam
nos elos de produção florestal (manejo e extração) e de desdobramento da madeira
em tora (SANTANA et al., 2012; SANTANA, 2012). Esse ponto é de fundamental

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298
importância para criar vantagem competitiva por parte da indústria madeireira
paraense, pois iniciativa do tipo foi adotada pelos demais países produtores de ma-
deira tropical (INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION, 2008;
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,
2010). Portanto, como estratégia de sobrevivência em longo prazo, a política de
concessão florestal deve criar mecanismos para alavancar essa trajetória de desen-
volvimento do setor madeireiro da Amazônia (MONTEIRO et al., 2011; AZEVEDO-
-RAMOS; SILVA; MERRY, 2015).
As empresas que sobreviveram à crise econômica internacional estão incor-
porando inovações tecnológicas, conforme Santana (2012): (1) no processo de pro-
dução de madeira em tora (manejo florestal sustentável e reflorestamento); (2) no
desdobramento e beneficiamento da madeira (serrada, laminada, compensada) e
(3) na indústria de móveis e artefatos, mediante a incorporação de novos designs,
aproveitamento de resíduos (briquetes, pellets, pedaços de madeira) e diferenciação
dos produtos finais. Essas ações produziram um amplo processo de reestruturação
produtiva na indústria madeireira brasileira, sobretudo, do estado do Pará, que é o
maior produtor e exportador de madeira tropical da Amazônia e do Brasil.
O valor econômico estimado no âmbito da cadeia de valor de Porter (1999)
contempla o resultado das diversas atividades que se diferenciam do ponto de vis-
ta tecnológico, econômico, ambiental e social, que são desenvolvidas ao longo dos
processos produtivos e de gestão das empresas. O valor agregado pela empresa, em
cada etapa do processo de produção e comercialização, é mensurado por meio do
preço que os clientes estão dispostos a pagar pelo produto. A atividade é economi-
camente viável quando o valor que a empresa cria é superior ao custo do desenvol-
vimento da respectiva atividade.
A cadeia de valor contempla três componentes: (1) atividades de apoio; (2) ati-
vidades primárias e (3) margem ou valor econômico quando considera o resultado
do fluxo líquido atualizado (SANTANA, 2012). As atividades de apoio incluem a
implementação e gestão do plano de manejo e os custos de extração e a infraestru-
tura. As atividades primárias contemplam a logística operacional, o marketing e as
vendas, os serviços de certificação do produto e a orientação dos produtos para os
mercados nacional e internacional. Por fim a componente margem gera a magni-
tude da diferença entre o custo unitário e o preço do produto pago pelo cliente, que
se transforma em valor econômico líquido ao se considerar o fluxo da exploração
manejada de madeira.
Até o momento, como não se conhecia o custo de oportunidade da madeira,
em função da extração ilegal, não era possível determinar a competitividade real

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 296-311, jul./dez. 2016

299
das empresas. Todas as estimativas realizadas até então, conforme Santana et al.
(2012), superestimam os benefícios privados e subestimam os benefícios sociais.
Para os contratos de transição gerenciados pelo Ideflor, o preço da madeira em
pé foi definido com base do preço de equilíbrio do mercado da madeira em tora
local, que funciona em concorrência perfeita (SANTANA et al., 2009; SANTANA;
SANTOS; OLIVEIRA, 2010a; SANTANA et al., 2011a; SANTANA, 2012). Assim,
considerando a extração manejada de madeira, a determinação do valor econômi-
co permite revelar não apenas a viabilidade do negócio, mas a comparação com o
valor gerado nas atividades que estão ligadas diretamente ao desmatamento na
Amazônia. O argumento principal para o desmatamento é que a rentabilidade da
agropecuária é substancialmente superior ao que a floresta é capaz de gerar.
O conceito de valor econômico foi aplicado apenas ao elo da cadeia produtiva
de extração manejada de madeira em tora no Marajó. A margem de comercializa-
ção contempla os elos de extração e processamento industrial da madeira, nível em
que se define o preço equivalente da madeira serrada das espécies extraídas pelas
empresas com contratos de concessão florestal do Marajó.
Como os preços da madeira em pé refletem o custo de oportunidade da atividade
florestal manejada, as empresas detentoras dos contratos de concessão podem criar
vantagem competitiva em relação às demais empresas fora do processo e às demais
concorrentes no mercado internacional de madeira tropical (SANTANA; SANTOS;
OLIVEIRA, 2010b; SANTANA et al., 2011a, SANTANA et al., 2011b; AZEVEDO-
-RAMOS; SILVA; MERRY, 2015). Essa perspectiva contribui para que as empresas
ampliem o leque de novas espécies florestais a serem introduzidas no mercado de
madeira serrada e aumentem a oferta do produto, uma vez que ainda é grande o es-
toque desse recurso natural nas áreas destinadas às concessões estaduais e federal
na Amazônia (SANTANA et al., 2009; MONTEIRO et al., 2011; SANTANA, 2012).

3 Metodologia
Neste trabalho, estimou-se o valor econômico da madeira em pé do polo ma-
deireiro do Marajó, com base nos dados disponibilizados nos relatórios de pesquisa
produzidos por Santana, Santos e Oliveira (2010a; 2011b), Santana et al. (2011b)
e Santana (2012), com o objetivo de estimar o preço da madeira em pé para subsi-
diar a definição dos editais dos contratos de transição lançados pelo Ideflor. Foram
aplicados questionários nas vinte empresas em funcionamento dos municípios de
Breves e Portel, em junho de 2011, por ser o período de preços mais baixos para
a madeira em tora e para a madeira serrada. Foram obtidas informações sobre o

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 296-311, jul./dez. 2016

300
preço da madeira em tora, os custos e a gestão dos planos de manejo, o custo de
extração de madeira, do transporte das toras e a margem de lucro dos agentes.
Neste trabalho, o valor econômico foi estimado para as espécies florestais en-
contradas em todas as empresas que passaram pelo processo de entrevistas e com
contratos de concessão. Para isso, foram utilizadas as informações do estudo de
Santana, Santos e Oliveira (2010a; 2011) e de Santana et al. (2011a), que pioneira-
mente estimaram o preço da madeira em pé nos polos madeireiros do Marajó e do
Baixo Amazonas. O preço da madeira em pé, por recomendação da legislação dos
contratos de transição, deve ser atualizado anualmente com base em uma pesqui-
sa de campo, aplicando-se a metodologia proposta por Santana, Santos, Oliveira
(2010a). Com o preço da madeira em pé obtido nesses estudos, foi possível estimar
o valor econômico da floresta nos contratos de concessão, e compartilhar o resul-
tado com os grupos de interesse que participam da gestão de florestas públicas do
estado do Pará. O valor econômico das espécies de madeiras foi obtido por meio da
atualização do preço líquido da madeira para um fluxo de trinta anos, recomenda-
do para o ciclo de exploração florestal dos planos de manejo sustentável adotados
nos contratos de transição. A fórmula utilizada no cálculo do valor econômico é
dada por Pearce, (1990), Santana, Santos e Oliveira (2010a) e Santana (2012):

em que: VEi é o valor econômico da espécie florestal i; PLa é o preço líquido atuali-
zado da espécie florestal i, no período t, em R$/m3; P é o preço da espécie florestal
enquadrada na categoria i no mercado local, em R$/m3 (SANTANA et al., 2011a; Cu é
o custo unitário de produção da espécie florestal i, no mercado local, em R$/m3 (inclui
as atividades de manejo, extração e transporte da madeira em tora); Q é o volume
médio de madeira extraída pelas empresas da pesquisa, segundo a categoria, esti-
mado em 25 m3/ha; r é a taxa de desconto que representa o custo de oportunidade
do manejo florestal no mercado local (estimada em 8,5%); t é o horizonte de tempo
(T = 30 anos) considerado no ciclo de exploração madeireira nas concessões florestais.
Um valor positivo para VE atesta que a atividade é viável economicamente;
um valor zero indica neutralidade do resultado e um valor negativo indica inviabi-
lidade. Assim, para determinar a margem de comercialização da madeira ao longo
da cadeia produtiva, foi necessário calcular o preço equivalente da madeira em
tora, multiplicando-se o coeficiente de desdobramento pelo preço da madeira serra-
da, como a seguir, de acordo com Santana et al. (2012) e Santana (2012):

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301
em que: PEMi é o preço equivalente da madeira da espécie i; Kd é o coeficiente de
desdobramento da madeira (m3 de madeira em tora : m3 de madeira serrada) e
PMSi é o preço da madeira serrada da espécie i.
A partir desse preço foi possível determinar a margem de comercialização da
madeira em tora, que representa quanto do valor pago pela madeira serrada é
apropriado pelos agentes da comercialização e quanto se destina à sociedade, no
caso, representada pelo governo. A margem de comercialização total (MCT), con-
forme Santana (2005) representa a remuneração das operações de comercialização
realizadas ao longo do canal de distribuição do produto (custos e margens de lucro).
A fórmula é a seguinte:

em que MCTi é a margem de comercialização total da espécie de madeira i; PEMi


é o preço equivalente da madeira da espécie i e PMPi é o preço da madeira em pé.
Essa margem de comercialização pode ser desmembrada nas margens do inter-
mediário e das empresas. A margem de comercialização do intermediário é dada por:

A margem de comercialização da empresa é dada por:

A margem social (MS) de comercialização ou a parcela do preço pago pela ma-


deira serrada que fica com a sociedade é obtida, por diferença:

4 Resultados e discussão
Na Tabela 1 constam os resultados das estimativas das quantidades e dos
valores econômicos médios das categorias de espécies florestais C1 (duas espécies),
C2 (oito espécies), C3 (10 espécies) e C4 (14 espécies), contemplando as atividades
de apoio, atividades primárias e a margem da extração de madeira em tora em áre-
as manejadas. O valor econômico (VE) foi medido por hectare e por metro cúbico.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 296-311, jul./dez. 2016

302
Os resultados discriminados por espécie florestal constam na Tabela 1A e indicam
a viabilidade econômica da extração manejada da madeira em tora.

Tabela 1A – Preço líquido atualizado (PLa), Quantidade (Q), Valor econômico (VE), Preços da
madeira em pé (PMP), madeira em tora (PMT), Madeira serrada (PMS) e margens de
comercialização, polo Marajó, estado do Pará, 2011
Nome vulgar Nome científico PLa QP VE PMP PMT PMS Kd MTC MCI MCE
Ipê Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols. 71,90 0,35 25,17 85,60 262,70 1.050,00 38,7% 78,9% 43,6% 35,3%
Cedro Cedrela odorata L. 91,28 0,15 13,69 86,54 287,68 1.025,00 40,7% 79,2% 48,3% 31,0%
Média da Categoria C1 81,59 0,25 20,40 86,07 275,19 1.037,50 39,7% 79,1% 45,9% 33,1%
Jatobá Hymenaea courbaril 41,00 1,40 57,40 57,00 180,00 793,75 30,3% 76,3% 51,2% 25,0%
Cumaru Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. 31,00 0,50 15,50 51,00 168,00 815,00 33,9% 81,5% 42,4% 39,1%
Freijó Cordia goeldiana Huber 34,00 0,10 3,40 51,00 173,00 850,00 33,7% 82,2% 42,6% 39,5%
Angelim Dinizia excelsa Ducke 32,00 2,50 80,00 51,00 170,00 725,50 44,0% 84,0% 37,3% 46,7%
Maçaranduba Manilkara huberi (Ducke) Chevalier 33,00 3,30 108,90 47,00 170,00 792,86 30,1% 80,3% 51,5% 28,9%
Sucupira Bowdichia nitida Spruce 42,50 0,20 8,50 46,00 165,50 857,14 35,1% 84,7% 39,7% 45,0%
Muiracatiara Astronium ulei Mattick 33,00 0,90 29,70 45,00 162,00 785,71 38,4% 85,1% 38,8% 46,3%
Louro Ocotea spixiana (Nees) Mez. 52,50 1,50 78,75 41,50 176,00 597,14 36,2% 80,8% 62,3% 18,5%
Média da Categoria C2 37,38 1,30 48,59 48,69 170,56 777,14 35,2% 81,9% 45,7% 36,1%
Goiabão Pouteria pachycarpa Pires 28,00 0,25 7,00 36,00 149,00 555,00 37,0% 82,5% 55,0% 27,4%
Itaúba Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez 30,00 0,70 21,00 35,00 147,00 725,00 47,0% 89,7% 32,9% 56,9%
Andiroba Carapa guianensis Aubl. 16,50 0,70 11,55 33,50 130,00 662,00 38,6% 86,9% 37,8% 49,1%
Pau Roxo Peltogyne paradoxa Ducke 26,00 0,20 5,20 32,00 140,00 705,00 34,2% 86,7% 44,8% 41,9%
Amarelão Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. 12,00 0,60 7,20 31,00 125,00 600,00 34,0% 84,8% 46,1% 38,7%
Quaruba Vochysia paraensis Ducke 29,50 0,80 23,60 30,50 140,00 501,67 46,3% 86,9% 47,2% 39,7%
Cedrorana Vochysia maxima Ducke 24,00 0,25 6,00 27,50 130,00 556,25 39,9% 87,6% 46,2% 41,4%
Pau Amarelo Euxylophora paraensis 26,00 1,75 45,50 27,00 135,00 707,50 34,0% 88,8% 44,9% 43,9%
Tatajuba Bagassa guianensis Aubl. 16,00 0,50 8,00 24,00 123,00 721,67 35,8% 90,7% 38,3% 52,4%
Jarana Lecythis lurida (Miers) S.A.Mori 22,00 0,45 9,90 22,00 130,00 640,00 37,0% 90,7% 45,6% 45,1%
Média da Categoria C3 23,00 0,62 14,26 29,85 134,90 637,41 38,4% 87,5% 43,9% 43,6%
Cupiúba Goupia glabra Aubl. 22,50 1,05 23,63 18,00 115,00 622,00 40,3% 92,8% 38,7% 54,1%
Curupixá Micropholis nelioniana 16,00 0,10 1,60 18,00 115,00 733,50 33,0% 92,6% 40,1% 52,5%
Copaíba Copaifera guianensis Desf. 16,50 0,10 1,65 17,50 115,00 500,00 34,0% 89,7% 57,4% 32,4%
Tauarí Couratari guianensis Aubl. 23,50 1,10 25,85 16,50 115,00 587,50 39,5% 92,9% 42,4% 50,4%
Tanimbuca Terminalia amazonica 15,00 0,50 7,50 16,00 110,00 607,50 39,3% 93,3% 39,4% 53,9%
Taxi Triplaris surinamensis Cham. 9,00 0,50 4,50 16,00 105,00 575,00 37,0% 92,5% 41,8% 50,6%
Melancieira Alexa grandiflora Ducke 18,00 0,10 1,80 16,00 114,00 540,00 33,0% 91,0% 55,0% 36,0%
Timborana Piptadenia suaveolens Miq. 19,50 0,90 17,55 15,50 110,00 506,00 44,8% 93,2% 41,7% 51,5%
Marupá Simarouba amara Aubl. 18,50 0,45 8,33 15,50 114,00 593,50 32,8% 92,0% 50,6% 41,4%
Garapeira Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. 5,00 0,45 2,25 15,00 100,00 700,00 32,3% 93,4% 37,6% 55,8%
Faveira Piptadenia suaveolens Miq. 13,00 1,10 14,30 15,00 110,00 433,50 29,5% 88,3% 74,3% 14,0%
Piquiá Caryocar microcarpum Ducke 33,00 0,70 23,10 15,00 128,00 593,00 38,8% 93,5% 49,1% 44,4%
Mandioqueira Qualea lancifolia Ducke 17,00 0,35 5,95 15,00 114,00 533,50 41,6% 93,2% 44,6% 48,6%
Ucuúba Virola melinonii (R.Benoist) A.C.Sm. 18,00 0,50 9,00 15,00 105,00 575,00 34,0% 92,3% 46,0% 46,3%
Média da Categoria C4 17,46 0,56 9,85 16,00 112,14 578,57 36,4% 92,2% 47,1% 45,1%
Média geral 27,55 0,74 20,26 31,89 142,17 669,59 36,9% 87,6% 45,7% 41,9%
Fonte: Santana, Santos e Oliveira (2010a, 2011a).

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303
A média geral dos resultados mostra que foi extraído 0,74 m3/ha de madeira
em tora por espécie florestal, gerando um VE médio para todas as espécies de R$
20,26/ha ou R$ 27,55/m3. Considerando todas as espécies e a extração de 25 m3/ha,
em fluxo econômico de trinta anos, nas áreas manejadas dos contratos de conces-
são, gera-se um valor econômico de R$ 688,75/ha. Esse valor é superior ao gerado
pelas atividades que concorrem para a retirada da floresta, como soja (R$ 420,00/
ha) e pecuária extensiva (R$ 180,00/ha) (SANTANA; AMIN, 2002; SANTANA et
al., 2009; SANTANA et al., 2012; SANTANA, 2012; OLIVEIRA; SANTANA; HOM-
MA, 2013). Esse resultado é diferente dos relacionados na literatura, conforme
Karsenty et al. (2008), em que a floresta manejada gera uma renda inferior às
atividades agrícola, pecuária e de reflorestamento. Especialmente na Amazônia,
onde ainda não se conhece o valor econômico da atividade florestal madeireira, já
que sob o sistema tradicional de derruba e queima da floresta, o preço das árvores
é próximo de zero.

Tabela 1 – Quantidade extraída de madeira e valor econômico da madeira em tora dos contratos
de concessão do polo Marajó, estado do Pará
Número de Quantidade Valor econômico Valor econômico
Valor médio
espécies Q (m3/ha) VEa (R$/ha) VEb (R$/m3)
Categoria C1 2 0,25 20,40 81,59
Categoria C2 8 1,30 48,59 37,38
Categoria C3 10 0,62 14,26 23,00
Categoria C4 14 0,56 9,85 17,46
Média geral 34 0,74 20,26 27,55
Nota: VEa = resultado por hectare; VEb = resultado por m ; PLa = preço liquido atualizado.
3

Fonte: elaborado com base em Santana, Santos e Oliveira (2010b) e Santana et al. (2011b).

Nos sistemas de uso do solo na Amazônia, a venda das árvores de maior valor
comercial para os madeireiros geralmente se destina a custear parte do desmata-
mento e de implantação das atividades agrícolas e das pastagens para a criação de
gado (SANTANA, 2002). Confirmam-se, portanto, os resultados de Santana (2008)
e Santana et al. (2012) de que a agricultura tradicional e a pecuária extensiva
praticadas na Amazônia desenvolvem-se às custas da exploração dos recursos na-
turais e da mão de obra informal.
A extração florestal madeireira regulada pelos contratos de transição também
pode apresentar maior rentabilidade do que o reflorestamento. Um reflorestamen-
to com paricá implantado na microrregião de Paragominas, com fluxo de 28 anos,

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produtividade de 200 m3/ha e preço de R$ 70,00/m3, gera margem de valor econômi-
co de R$ 192,26/ha (VALE, 2010). Portanto, a gestão de florestas públicas por meio
dos contratos de concessão é uma alternativa economicamente viável, que deve se
integrar ao sistema produtivo e diversificado de base agrária do estado do Pará.
Observa-se pelos resultados da Tabela 1, que mesmo na situação em que a
floresta manejada contemple apenas madeira branca (categoria C4), o valor econô-
mico total estimado seria de R$ 436,50/ha, portanto, superior ao gerado nas alter-
nativas de produção agropecuária. A razão para a maior rentabilidade econômica
deve-se ao baixo custo de produção, uma vez que a dependência de insumos moder-
nos é insignificante fora do ano em que se realiza a colheita das árvores.
Como em todas as áreas de concessão constam espécies das quatro categorias,
a extração manejada de madeira na Amazônia torna-se economicamente viável, o
que deve despertar o interesse dos empresários e dos órgãos de fomento para inves-
tir nesse negócio. Sendo assim, observa-se que na categoria C1, que contempla as
madeiras especiais cedro e ipê, tem-se o maior VE médio da produção por metro cú-
bico (R$ 81,59), em função da grande demanda, que assegura uma elevada cotação
no mercado de madeira tropical. Por outro lado, gera um VE por hectare (R$ 20,40/
ha) entre as categorias, dada a escassez dessas espécies florestais nas áreas de ma-
nejo (produção media de 0,25 m3/ha), por causa do longo período de extração ilegal.
As categorias C2 e C3 abrigam as madeiras nobres e vermelhas, demandadas
pela construção civil rural e urbana, indústria de móveis e artefatos, cercas rurais,
etc., tanto no mercado nacional quanto internacional. As espécies da categoria C2
apresentam a maior produção media (1,30 m3/ha) e VE médio (R$ 48,59/ha). A
categoria C4 (madeira branca), por sua vez, engloba as espécies de menor valor
comercial, porém têm ampla utilização na produção de laminados, compensados
e artefatos de madeira. Atualmente, em função da crise financeira e econômica
global, a indústria de laminados e compensados de madeira tropical foi fortemente
abalada, o que propiciou à indústria de madeira serrada inserir no mercado bra-
sileiro algumas dessas espécies. Tais espécies, inclusive, substituíram madeiras
enquadradas nas categorias anteriores, tanto para a cobertura de residências como
matéria-prima na indústria de móveis e artefatos. Como resultado, essa categoria
de madeira já representa a segunda maior quantidade média produzida nas áreas
manejadas (0,56 m3/ha), gerando um VE médio por espécie de R$ 9,85/ha. O VE
médio de R$ 17,46/m3 é superior ao preço de R$ 10,00/m3 que se paga por metro cú-
bico de madeira especial ou nobre extraída ilegalmente das áreas não manejadas.

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305
Por outro lado, esse valor econômico, além de subestimado, apresenta limita-
ções em termos da distribuição da renda com as comunidades locais, dado que não
foram computados o valor dos resíduos da extração madeireira, geralmente desti-
nada à produção de lenha e carvão, e o valor dos produtos não madeireiros. Esses
produtos constituem um canal importante, com a inserção das populações tradicio-
nais para alavancar a indústria de móveis, artesanatos e de produção de energia a
partir da biomassa, o que contribui para fortalecer o desenvolvimento local.

5 Margem de comercialização da madeira em tora


A Tabela 2 resume os resultados para as margens de comercialização e o coefi-
ciente de desdobramento da madeira, utilizado para estimar o preço equivalente da
madeira serrada. Esse coeficiente é um indicador do nível tecnológico das empresas
entrevistadas. Quanto maior o Kd, maior é o aproveitamento da madeira em tora e,
consequentemente, menor o volume de resíduo produzido. Os resultados por espé-
cie florestal encontram-se na Tabela 1A.
Observa-se que a MCT apresentou comportamento inverso ao do VE das ma-
deiras, em que o maior valor foi atribuído às espécies de menor valor econômico da
C4 e o menor das espécies da C1. Isto ocorre em função dos custos de processamen-
to e dos riscos para a inserção do produto no mercado, uma vez que sua utilização
no mercado ainda é limitada.

Tabela 2 – Coeficiente de desdobramento e margens de comercialização da madeira em tora do


Marajó, estado do Pará
Valor médio Kd MCT MCI MCE MS
Média da categoria C1 39,7% 79,1% 45,9% 33,1% 20,9%
Média da categoria C2 35,2% 81,9% 45,7% 36,1% 18,1%
Média da categoria C3 38,4% 87,5% 43,9% 43,6% 12,5%
Média da categoria C4 36,4% 92,2% 47,1% 45,1% 7,8%
Média geral 36,9% 87,6% 45,7% 41,9% 12,4%
Nota: Kd é o coeficiente de desdobramento da madeira em tora; MCT é a margem de comercialização total; MCI é a margem
de comercialização do intermediário; MCE é a margem de comercialização do empresário e MS é a margem social.

Fonte: elaborado a partir de Santana, Santos e Oliveira (2010b) e Santana et al. (2011b).

A margem de comercialização dos intermediários (MCI) é atribuída aos produ-


tores que vendem madeira em tora no mercado local, ou dos extratores que adqui-
rem a madeira de comunidades locais e de planos de manejo (conhecidos como “to-
reiros”), mas que não fazem o desdobramento da madeira. Por isso, respondem pela

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306
maior parcela da margem de comercialização, uma vez que arcam com os custos
de extração da madeira e transporte até a beira dos rios ou das estradas vicinais
para o embarque do produto. Para esses agentes, as espécies enquadradas nas C2
e C3 apresentam as menores margens de comercialização e nas categorias C1 e C4
as maiores. As espécies da categoria C1 apresentam maiores custos de extração,
transporte, impostos, e o preço da madeira em tora é relativamente mais alto do
que das espécies da categoria C4. Por outro lado, a categoria C4 apresenta custos
e margens de lucro mais elevados em função do alto risco de preço do mercado da
madeira em tora.
No caso dos empresários que adquirem a madeira em tora a margem de comer-
cialização (MCE) é menor do que a margem do intermediário, porque se adiciona ao
preço da madeira em tora apenas os custos de transporte e do desdobramento da
madeira. A margem cresce no mesmo sentido da MCT, com a menor margem para
as madeiras da C1 e a maior para as madeiras da categoria C4. Por outro lado, as
empresas verticalizadas realizam todas as etapas da extração ao desdobramento e
se apropriam de toda a margem de comercialização. Assim, a madeireira busca equi-
librar sua margem de lucro com as madeiras de menor valor comercial, uma vez que
os estoques naturais dessas árvores são substancialmente mais abundantes e di-
versificados. Esse resultado explica as razões para a representação dos madeireiros
que têm contratos de transição reivindicar uma redução dos preços das madeiras de
menor valor comercial.
A margem social (MS), ou margem apropriada pelo produtor rural ou cabo-
clo da Amazônia, caminha no sentido inverso da MCT, tendo maior participação
no negócio das madeiras situadas nas categorias mais nobres. A média geral de
d
= 36,9% indicou que são necessários 2,71 m3 de madeira em tora para produzir
1,0 m3 de madeira serrada. Esse resultado deve-se ao baixo padrão tecnológico das
empresas e aos problemas de rachadura, ocos e nós das toras.
A MCT de 87,6% indica que para cada R$ 1.000,00 que os clientes gastam
na aquisição de madeira serrada, R$ 876,00 são apropriados pelos agentes da co-
mercialização, distribuídos entre os intermediários (R$ 457,00) e os empresários
(R$ 419,00), e R$ 124,00 ficam com os produtores. Portanto, a sociedade apropria-
-se de 12,4% do valor total do negócio da madeira produzida nos contratos de con-
cessão do Marajó.
Os resultados das pesquisas de campo, conforme Santana, Santos e Oliveira
(2010b) e Santana et al. (2011b), revelaram um número considerável de espécies
florestais que antes era enquadrada como madeira branca e desconhecida do mer-
cado de madeira serrada pelas indústrias de móveis, artefatos e da construção
civil. Atualmente, essas madeiras estão atingindo parcela do mercado em função

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da coloração e da adequação à fabricação de móveis e artefatos, como madeira para
cobertura de casas, fabricação de portas, janelas, lambris, entre outros produtos.
Portanto, algumas empresas estão criando vantagem competitiva com base nas
oportunidades que surgiram com a crise financeira internacional e com a nova
dinâmica da política ambiental brasileira.

6 Conclusões
O valor econômico médio da extração manejada de madeira em tora no Marajó
foi de R$ 27,55/m3, assumindo um valor mínimo de R$ 17,46/m3 para as espécies da
categoria C4 e um máximo de R$ 81,59/m3 para as espécies da categoria C1. Assim,
para uma extração de 25 m3/ha de madeira nas áreas de florestas manejadas dos
contratos de concessão do estado do Pará, em fluxo econômico de trinta anos, gera-
-se um valor econômico de R$ 688,74/ha. Esse resultado é superior ao gerado pelas
atividades de pecuária extensiva e de lavoura de grãos, principais responsáveis
pelo desmatamento da Amazônia.
Conclui-se, portanto, que a extração manejada de madeira das áreas de con-
cessão florestal do estado do Pará, ao contrário do esperado, apresenta valor eco-
nômico superior à agricultura tradicional de grãos e a pecuária extensiva, o que
sinaliza para a eficiência econômica da gestão de florestas públicas na Amazônia.
Os produtores de madeira em tora e a produção comunitária dominam, em
média, 12,4% do valor econômico do negócio da madeira e os 87,6% restantes ficam
com as empresas florestais. No caso dos contratos de transição, a sociedade apro-
pria-se de 12,4% desse negócio. Assim, a cada R$ 1.000,00 gastos na aquisição de
madeira serrada, R$ 124,00 ficam com a sociedade (valor arrecadado pelo governo)
e R$ 876,00 ficam com os intermediários e empresários do setor florestal.
Finalmente, conclui-se que a política de concessão florestal apresenta viabili-
dade mesmo subestimando o valor socioeconômico e ambiental da floresta uma vez
que apenas a madeira em tora está em pauta.

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The economic value of the roundwood extraction in the
Marajó Island in the state of Pará
Abstract
The aim of this study is to estimate the economic value and marketing margins of roun-
dwood from managed areas. We used the net present price of timber to estimate the eco-
nomic value of logging in polo Marajó. The data were obtained from field research conduc-
ted in 20 companies in operation on site. The results indicate that the average economic
value of extraction and sale of standing timber, on the local market, is R$ 28,46/m3, which
shows a minimum value of R$ 18,47/m3 for the species of the C4 category (white wood)
and a maximum value of R$ 92,25/m3 for species of the C1 category (special wood). Thus,
for a flow of 30 years and an extraction rate of 25 m3/ha, under the managed forest tran-
sition areas in the State of Pará, an average value of R$ 688,75/ha is noted. This result
is relatively higher than the values obtained from extensive livestock farming (around
R$ 180,00/ha) and grain crop cultivation (around R$ 420,00/ha), which are largely res-
ponsible for Amazonian deforestation. The marketing margin shows that about 12.4%
of the economic value generated from the timber’s supply chain transition contracts, is
appropriated by society. Additionally, the mean rate of unfolding of 36.2% (2.76 m3 of logs
for each 1.0 m3 of lumber), indicates poor technological advancements, which threatens
enterprises’ market competitiveness.

Keywords: Price of roundwood. Transition contracts. Economic viability. Deforestation.


Amazon.

El valor económico de la extracción de madera en rollo en


la Isla de Marajó en el estado de Pará
Resumen
El objetivo de este estudio fue estimar el valor económico y la margen de comercialización
de madera en rollo procedentes de zonas administradas. Se utilizó el precio actual neto de
la madera para estimar el valor económico de la extracción de madera en el Polo Marajó.
Los datos fueron obtenidos de la investigación de campo realizada en 20 empresas en fun-
cionamiento en el sitio. O valor económico positivo demuestra la viabilidad del negocio. El
valor económico medio de la extracción y venta de madera en pie en el mercado local fue
de R$ 28.46/m3, con un valor mínimo de R$ 18.47/m3 para las especies de la categoría C4
(madera blanca) y un máximo R$ 92,25/m3 para las especies de la categoría C1 (madera
especial). Por lo tanto, para un periodo de 30 años y extracción de 25 m3/ha en los planes de
manejo de las áreas de concesión forestal del estado de Pará, se genera un valor promedio
de R$ 688,75/ha. Este resultado es relativamente mayor que el generado por las activida-
des de ganadería extensiva (cerca de R$ 180.00/ha) y de cultivos de cereales (cerca de R$
420.00/ha), principales responsables por la deforestación de la Amazonia. La margen de
comercialización demostró que la sociedad tiende a apropriarse de 12,4% del valor econó-
mico generado en la cadena de madera derivado de contratos de transición.

Palabras clave: Precio de la madera en rollo. Concesiones forestales. Viabilidad económica.


Deforestación. Amazonía.

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311
Instituições e enforcement na redução
do desmatamento na Amazônia
Daiana Brito dos Santos*
David Costa Correia Silva**
Marcos Rodrigues***
Resumo
Este artigo tem como objetivo avaliar o papel das instituições (formais e informais) em
relação ao desmatamento na Amazônia, no período de 1988 a 2013. Em levantamento
estatístico do desmatamento e dos autos de infração na região, foi possível estabelecer
uma correlação com a evolução do ambiente legal institucional e verificar a atuação do
Estado no cumprimento das leis ambientais (enforcement), avaliando mais especificamente
os casos dos estados de Mato Grosso e Pará que são os estados com maior volume de des-
matamento acumulado ao longo do período. Conclui-se que, embora a legislação e atuação
do Estado tenham contribuído para a redução do desmatamento no período, a economia
regional continua a se basear em atividades primárias extensivas (agricultura, pecuária
e extrativismo vegetal e mineral) e que atividades ilegais continuam a existir, limitando a
capacidade do ambiente formal institucional em conter o desmatamento.

Palavras-chave: Instituições. Legislação ambiental. Indústria madeireira. Agronegócio.


*
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Mestra em Pla-
nejamento do Desenvolvimento do Trópico Úmido pela Universidade Federal do Pará. E-mail:
dai.dbrito@hotmail.com
**
Bacharel em Ciências Econômicas. Mestre em Economia Regional pela Universidade Federal do
Pará. Doutorando em Desenvolvimento Socioambiental no Programa de Pós-Graduação do Trópico
Úmido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará. E-mail: davidcor-
reiasilva@hotmail.com
***
Bacharel em Administração pela Universidade Estadual do Mato Grosso. Doutorando em Desen-
volvimento Socioambiental no Programa de Pós-Graduação do Trópico Úmido pelo Núcleo de Altos
Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará. E-mail: marcos.rodrigues.adm@gmail.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6831

Submissão : 12/07/2016. Aceite: 21/09/2016.

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312
1 Introdução
Historicamente a inserção da Amazônia na instância econômica do mundo re-
mete aos tempos da colonização do território brasileiro no século XVI, mas a região
tornou-se de fato uma fronteira econômica para o Brasil a partir da década de 1970
com o Programa de Integração Nacional. As principais atividades desenvolvidas
concentraram-se no setor primário, com extração vegetal, pecuária, agricultura
e exploração de recursos minerais e energéticos, a maioria dessas atividades tem
grande impacto no ambiente natural, causando a elevação das taxas de desmata-
mento (RIBEIRO, 2006).
Sobre o desmatamento verifica-se que houve incentivo do Estado brasileiro
para a ocupação e desenvolvimento econômico da região e a crescente demanda
mercadológica por recursos naturais proveniente da floresta, o que resultou em
um contínuo processo de desmatamento para o progresso dessas atividades. Atu-
almente, a lógica de mercado de atendimento da demanda por meio do desflores-
tamento é visto como um problema e uma série de agentes governamentais e não
governamentais tem se mobilizado para combater essa questão.
Sobretudo nas últimas décadas do século XX, o governo brasileiro criou me-
canismos institucionais formais para regular a atividade madeireira por meio de
uma legislação ambiental adequada à realidade que supõe o monitoramento das
regiões estratégicas que disponham de recursos naturais de grande valia para ago-
ra ou no futuro, uma grande pressão por parte de governos e pessoas que valorizam
a natureza e questionam o modelo de desenvolvimento implantado no mundo ao
longo do tempo. Nesse sentido, o ambiente institucional no tratamento da nature-
za e recursos dela proveniente tem mudado e os governos têm um papel prepon-
derante na organização de regras, isto é, fazer cumprir uma regulação que possa
resguardar o interesse da coletividade.
Santos adiciona que: “em diversas regiões do mundo a cadeia produtiva da
madeira representa objetos de investimentos e transações comerciais de elevado
valor, isto é, representam um ativo de elevada liquidez, impactando no desenvol-
vimento dos países” (2015, p. 50). De acordo com Acevedo Marin e Araújo (2010)
e Santos (2015), por diversas vezes a Amazônia desempenhou o papel da última
grande fronteira aberta dos recursos naturais do mundo. Diante disso, pode-se
inferir que a economia da madeira, representa a possibilidade de desenvolvimento
regional de diversos municípios da Amazônia e, em alguns casos, pode representar
até sua principal atividade econômica.

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Esse fato não é uma coincidência e nem cabe interpretações simplistas, de
vê-lo como modismo do tema ou de contingência de pesquisa. A resposta é intrín-
seca à demanda do mercado florestal mundial, que apresenta 65% do suprimento
mundial proveniente de florestas naturais; movimentando, desde 2005, a produção
mundial de madeira na ordem de 3,5 bilhões de m³/ano (FOOD AND AGRICULTU-
RE ORGANIZATION, 2010).
Diante dessa situação, este artigo busca contribuir para a compreensão do pa-
pel das instituições formais sobre o desmatamento da Amazônia em anos recentes.
O problema levantando questiona se o ambiente institucional é capaz de conter o
desmatamento na Amazônia Legal. As instituições informais são originadas da
tradição e da cultura de uma sociedade (FIANI, 2011; NORTH, 1994). Tal qual
uma regra formal, as instituições formais também possuem papel no combate ao
desmatamento. Embora seja complexo medir a pressão que surge das instituições
informais, percebe-se que delas resultam a elaboração mais detalhada e ampliação
do alcance da legislação, ou seja, instituições informais produzem um ambiente
formal mais preciso e consistente com a necessidade de combate ao desmatamento.
A metodologia do trabalho procura discutir os impactos das regras formais na
redução do desmatamento na Amazônia Legal, por meio da avaliação de parâme-
tros ambientais como taxa de desmatamento anual, autos de infração do Institu-
to Brasileiro do Meio Ambiente e do Instituto dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e do mercado de trabalho, assim como as regras formais que limitam o
desmatamento.
As regras formais impõem aos agentes econômicos a obediência por meio da
lei, ou seja, o Estado tem o enforcement, o poder de execução legal e coercitivo
para fazer as regras serem cumpridas. A Amazônia Legal é determinada pela Lei
nº 5.173, de 27 de outubro de 1966, e compreende os estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte do estado do
Maranhão, região a oeste do meridiano 44º. O trabalho focaliza o desmatamento
nos territórios mato-grossense e paraense em função deles acumularem as maiores
taxas de desmatamento do país, motivo pelo qual as instituições formais tendem a
serem executadas com maior intensidade em tais regiões.

2 Instituições e enforcement
Instituições são constrangimentos ou restrições criados para reduzir incerte-
zas e conflitos bem como para aumentar as garantias e facilitar a cooperação dos
agentes produtivos na coordenação das atividades econômicas. As instituições são

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compostas de regras formais, tais como constituições, leis, direitos de propriedade,
ou informais, como costumes, tabus, tradições e códigos de conduta. North (1991,
p. 91) afirma que historicamente as instituições foram criadas para por ordem e
reduzir a incerteza nas trocas, determinar os custos de transação e de produção
e, portanto, a rentabilidade e a viabilidade de se engajar na atividade econômica.
O estudo da evolução institucional é uma forma de se conectar o passado com o
presente e o futuro, pois o desempenho de uma economia só pode ser entendido
como parte de um processo sequencial histórico e são as instituições que fornecem
a estrutura de incentivos de uma economia, elas moldam a direção da mudança
econômica para o crescimento, estagnação ou declínio (NORTH, 1991).
O ambiente institucional em prol do desenvolvimento econômico deve facilitar
a cooperação e reduzir a disputas, nesse sentido, vale destacar o termo enforce-
ment, que designa a capacidade de execução de uma regra, sendo ela formal ou
não (NORTH, 1991; NORTH, 1994; FIANI, 2011). Ou seja, é a capacidade de se
constranger os agentes de maneira que determinadas decisões sejam cumpridas a
favor do progresso coletivo.
Cabe ressaltar que o cumprimento de regras é um importante fator de desen-
volvimento, pois a organização das atividades produtivas eficazes também depen-
de das limitações impostas no ambiente institucional para inibir comportamentos
oportunistas dos agentes. Naturalmente, os governos, entre as atribuições que lhes
são investidas, detêm a capacidade de usar de coerção para o cumprimento das
regras. Dessa maneira, os agentes devem saber que há fiscalização e sansões exe-
cutadas pelo Estado aos desvios de conduta realizados pelos indivíduos que operam
contra as normas vigentes.
Os Estados nacionais são constituídos por um aparato legal que serve para
colocar ordem ao sistema social e econômico, nem que seja necessário impor sua
autoridade, quer dizer, fazer cumprir a aplicação das leis ou regras de conduta for-
mais (law enforcement), o que, na prática, significa defender os interesses da nação
sobre os individuais (OLSON, 2002; XU; PISTOR, 2002).
Nas últimas décadas, os problemas ambientais são discutidos amplamente na
sociedade mundial e em muitas ocasiões a sociedade brasileira foi provocada a res-
ponder pela questão do desflorestamento na Amazônia. O desmatamento na maior
floresta tropical do planeta possui diversas justificativas econômicas e sociais. O
Estado possui órgãos fiscalizadores e poderes para aplicação de punições que, se
colocados em prática, gerariam o respeito às regras descritas nos códigos de con-
duta ambientais nacionais e, portanto, restringiria o desmatamento na Amazônia
Legal.

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315
3 Regulação ambiental no Brasil
Mundialmente as questões ambientais ganharam importância na segunda
metade do século XX, quando alguns eventos levaram à incorporação da dimen-
são ambiental à análise das políticas econômicas. Meadows, Randers e Meadows
(2004) e Mueller (2007) destacam que a acentuação da poluição no primeiro mundo
e a expansão industrial nos países de vanguarda industrial criavam um constante
incremento na demanda por recursos naturais. A degradação das cidades, cujas
regiões do entorno foram exposta pela poluição, os choques do petróleo da década
de 1970 e o fim da energia a preços baixos e o relatório do Clube de Roma (Limits to
Growth) demonstraria os limites físicos dos recursos naturais e do meio ambiente
em assimilar a poluição e se regenerar. A partir de então ficava claro a importância
estudar e tratar os problemas ambientais em âmbito global.
Na década de 1930, o Brasil já contava com ações governamentais a favor da
preservação ambiental no país, o Código Florestal de 1934 (Decreto nº 23.793) obri-
gava os proprietários terras a manter 25% da área de seus imóveis com a cobertura
de mata original. Dessa maneira, data de 1934, a elaboração do primeiro Código
Florestal Brasileiro para regulamentar o uso da terra no sentido de preservar o
meio natural.
Em 1965, outro Código Florestal foi instituído (Lei nº 4.771), levando-se em
conta a modernização na cultura do solo, devido ao continuo avanço da agricultura,
o Código Florestal de 1965 teve de se adequar às mudanças na lavoura e às novas
perspectivas econômicas de crescimento da agricultura.
A partir de 1981, com a Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei
nº 6.938), a estrutura da legislação ambiental começou a ser implantada no Bra-
sil, abordando uma série de instrumentos (princípios e diretrizes) para a gestão
ambiental e a fiscalização. Além disso, essa lei é considerada um marco no direito
ambiental brasileiro, por ter criado o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisna-
ma). Na perspectiva de gestão ambiental do Sisnama, a capacidade de atuação do
Estado na área ambiental baseia-se em responsabilidades compartilhadas entre
União, Estados, Distrito Federal e municípios, além da relação desses com os di-
versos setores da sociedade.
A Figura 1 sistematiza como o Estado atua na gestão da política ambiental, de
modo que o Sisnama surge para estabelecer um conjunto articulado de órgãos, en-
tidades, regras e práticas em prol da proteção do meio ambiente, estruturando-se
político-administrativamente por: a) Conselho de Governo, com assessoria direta ao
presidente da República no que tange à formulação de diretrizes governamentais

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316
e a política nacional ambiental; b) Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)
é um órgão consultivo e deliberativo com a finalidade de assessorar o Conselho de
Governo e propor diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente, e
que engloba diferentes setores sociais: representantes de entidades de trabalhado-
res e da sociedade civil, representantes de entidades ambientalistas, representan-
te de trabalhadores da área rural, representante de entidades profissionais com
atuação na área ambiental e de saneamento indicado pela Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental, representante da comunidade indígena in-
dicado pelo Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil
e representantes dos ministérios públicos federal e estaduais; c) Ministério do Meio
Ambiente (MMA), que funciona como órgão central, atua na formulação, no pla-
nejamento e na coordenação da política nacional e nas diretrizes governamentais
para o meio ambiente; d) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, que atua como órgão executivo das políticas e diretrizes go-
vernamentais ambientais e sua fiscalização; e) os órgãos seccionais são entidades
estaduais, como a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), direcionadas à execução
de programas em prol do uso racional dos recursos naturais e projetos de controle
e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras.

Figura 1 – Atuação do Estado na gestão ambiental no Brasil

Fonte: elaboração dos autores com base na Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981).

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317
Já os órgãos locais correspondem aos órgãos ou entidades municipais volta-
dos ao meio ambiente, como as secretarias municipais, que são responsáveis por
avaliar e estabelecer normas relativas ao controle e à manutenção da qualidade do
meio ambiente, supletivamente ao Estado e à União.
É fundamental ressaltar que existem instrumentos jurídicos à disposição da
sociedade para propor ação de responsabilidade por danos ao meio ambiente, como
a Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985). A partir dessa lei, não apenas o particular,
mas Ministério Público, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de
economia mista ou associações legalmente constituídas que apresentam em suas
finalidades a proteção ao meio ambiente tornaram-se legalmente capazes de acio-
nar os poluidores.
A Constituição federal (CF/1988) traz um capítulo específico sobre o meio am-
biente (art. 255), ressaltando a importância de garantir a vida com qualidade para
as gerações presentes e futuras. A orientação para proteção do meio ambiente apa-
rece em vários artigos da CF/1988, inclusive obrigando que sejam feitos estudos
de impacto ambiental para a instalação de obras ou atividades que possam causar
danos ao meio ambiente. É importante observar que a partir de então, surge um
novo arcabouço legal sobre meio ambiente nas esferas do governo brasileiro.
Assim, a legislação materializa a gestão ambiental pautada no principio da
legalidade. A legislação ambiental surge para mudar comportamentos dentro de
uma relação muitas vezes deletéria entre o homem e o meio ambiente. Ademais,
dentro do que a sociedade busca enquanto desenvolvimento sustentável, a gestão
ambiental pode ser interpretada como princípio, objetivo e instrumento. Entretan-
to, para se atingir o desenvolvimento sustentável dentro da perspectiva da edu-
cação ambiental deve-se respeitar alguns critérios, tais como, o uso social da pro-
priedade. Inclusive, a esse respeito o art. 186 da CF/1988 determina que uma vez
que a propriedade rural atenda, simultaneamente, a critérios e graus de exigência
estabelecida em lei, tais como aproveitamento racional, respeitando a utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis, preservando o meio ambiente e cum-
prir das disposições que regulam as relações de trabalho favorecendo o bem-estar
dos proprietários e dos trabalhadores, tem-se o uso social da propriedade.
Dentro da ótica descentralizada da política e legislação ambiental no Brasil,
a Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011, define que constituem
objetivos dos três entes da federação brasileira (União, Estados, Distrito Federal
e municípios) a cooperação nas ações administrativas decorrentes do exercício da
competência comum, relativas à proteção ao meio ambiente e combate à poluição e
preservação da fauna e flora.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 312-330, jul./dez. 2016

318
A partir da criação da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), tanto a
pessoa física como a jurídica tornaram-se passíveis de sanções. Dito isso, percebe-
-se que a legislação ambiental brasileira é bastante avançada, é inclusive uma
ferramenta pedagógica, dado que a Política de Educação Ambiental (Lei Federal
nº 9.795/1999) entende por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, praticas e competências volta-
das para a conservação do meio ambiente.
Em vigor a partir de julho de 2008, o Decreto nº 6.514 estabelece as sanções
administrativas a serem aplicadas em relação a crimes contra o meio ambiente.
Esse decreto estabelece desde advertências e multas até a suspensão das ativi-
dades que infrinjam a legislação ambiental, passando a ser o principal meio legal
para a aplicação da legislação ambiental e assegurar a preservação. O combate ao
desmatamento ilegal, à exploração irregular de madeiras florestais, à comerciali-
zação de produtos da fauna e flora sem devida autorização, entre outros crimes,
passam a ter a devida sanção, de um lado, coibindo-se a prática desses delitos de-
vido à possibilidade da devida punição e, de outro, funciona como instrumento de
ação dos poderes fiscalizados em caso de tais atividades.

4 Desmatamento na Amazônia Legal


A atividade madeireira é de suma importância no campo econômico, sendo
responsável por impulsionar a economia de vários municípios amazônicos, uma vez
que a exploração do recurso tende a aumentar a renda e o emprego das regiões nas
quais essa atividade é realizada. Adicionalmente, a economia madeireira tende a
abrir caminho para atividades como a pecuária e agricultura (FERREIRA; VEN-
TICINQUE; ALMEIDA, 2005). Ainda nessa perspectiva, a exploração de madeira
insere-se no setor da indústria de transformação, uma área econômica importante,
pois agrega valor ao produto e ainda irradia efeitos no desempenho de outros seto-
res, como o de comércio e serviços.
Em que pese à dinâmica econômica que a extração de madeira promove, o des-
florestamento é um dos principais problemas ambientais existentes na Amazônia.
O Gráfico 1 demonstra a evolução das taxas de desmatamento (km²/ano) para os
estados do Pará, Mato Grosso e os demais estados da Amazônia Legal, no período
entre 1988 e 2013.

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319
Gráfico 1 – Taxa de desmatamento nos estados da Amazônia, de 1988 a 2013, (km²/ano)1

Fonte: elaboração dos autores com base em Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2013).


Verifica-se que o desmatamento acumulado entre 1988 a 2013 é superior a
400 mil km², as taxas de desmatamento na Amazônia Legal nos últimos períodos
são inferiores as das primeiras observações e as unidades federativas que acumu-
lam a maior quantidade de desmatamento são o Mato Grosso (137.251 km²) e o
Pará (136.127 km²). Vale destacar que desde 2006 o desmatamento no território
paraense é o maior da Amazônia Legal (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS
ESPACIAIS, 2013).
As causas e incentivos ao desmatamento são diversificados e tendem a variar
ao longo do tempo, alguns autores apontam o incentivo à colonização regional, à
construção de estradas, ao acesso a crédito, às dinâmicas econômicas do setor agro-
pecuário, entres outras razões, em muitas ocasiões com auxílio estatal. Porém, nos
últimos anos, o Estado usa sua influência (enforcement) para reduzir as taxas de
desflorestamento e isso tem tido impacto na extração de madeira legal. A Tabela 1
apresenta dados de empresas e empregos formais no Mato Grosso, Pará e demais
estados da Amazônia Legal no período de 2002 a 2013.

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Tabela 1 – Total de empregos formais e empresas ativas no setor madeireiro nos estados da
Amazônia no período de 2002 a 2013

Demais estados da
Mato Grosso Pará
Ano Amazônia Legal
Empregos Empresas Empregos Empresas Empregos Empresas
2002 22.580 1.659 34.586 1.151 19.551 1.244
2003 22.707 1.664 36.486 1.235 18.906 1.278
2004 24.562 1.684 41.566 1.268 20.935 1.352
2005 17.812 1.650 36.565 1.240 19.319 1.388
2006 18.779 1.567 37.495 1.205 17.100 1.348
2007 18.974 1.558 33.933 1.200 18.270 1.407
2008 17.933 1.621 25.595 1.129 16.517 1.375
2009 17.111 1.628 23.172 1.053 15.345 1.367
2010 17.055 1.602 25.690 1.045 16.588 1.391
2011 16.816 1.629 25.211 1.084 16.326 1.374
2012 16.559 1.634 22.587 1.113 15.607 1.388
2013 15.911 1.595 19.845 1.105 15.597 1.437
Fonte: Brasil (2014b).

Os dados da Tabela 1 mostram que em todas as regiões estudadas tanto o


número de empresas (esse em menor proporção) quanto o de empregos formais no
setor madeireiro está declinando, acompanhando a queda do desmatamento, mas
também impactando a economia da região devido à própria redução do emprego.
No que tange à fiscalização ambiental do setor florestal, a Tabela 2 apresenta a
quantidade de autos de infração2de flora lavrados pelo Ibama, correspondentes aos
estados do Pará, Mato Grosso e demais estados da Amazônia Legal no período en-
tre 2008 e 2012.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 312-330, jul./dez. 2016

321
Tabela 2 – Número de autos de infração de flora aplicados pelo Ibama entre 2008 e 2012

Demais estados da
Ano Mato Grosso Pará
Amazônia Legal
2008 1.614 2.056 4.053
2009 1.383 1.548 3.242
2010 863 1.486 3.100
2011 1.261 1.412 2.407
2012 1.066 1.177 1.860
Total 6.187 7.679 14.662
Fonte: elaboração dos autores com base em Ibama (2013).

De maneira similar às taxas de desmatamento, os estados do Pará e Mato


Grosso são as regiões em que o Ibama mais registra autos de infrações de flora.
Como mostra a Tabela 2, na área de estudo foram lavrados 28.528 autos de in-
fração, desses, 49%, ou seja 13.866 registros, foram nos dois principais estados
desmatadores. Verifica-se também que há uma tendência de queda nas quantida-
des multas, isso é relevante, pois a atuação do Ibama representa um tipo de law
enforcement, já que o Estado age punindo eventuais infratores. Entretanto, com a
tendência de queda nessas punições, há também disposição de queda nas taxas de
desmatamento, o que podemos abstrair como uma mudança de comportamento dos
agentes em curso no setor florestal. Na próxima seção analisaremos mais detalha-
damente os impactos da legislação e os resultados no Mato Grosso e Pará.

3 Análise do caso no Mato Grosso


O estado de Mato Grosso faz parte da Amazônia Legal e, junto com o Pará,
é um dos estados da Amazônia que apresentou maiores índices de desmatamento
nos últimos anos (conforme o Gráfico 1). A exploração econômica de base primária
(principalmente a pecuária, agricultura e indústria madeireira) é a principal causa
para esses elevados índices de desmatamento.
Em relação ao ambiente institucional legal, o Código Ambiental Estadual de
Mato Grosso surge em 1995 como uma primeira forma de intervenção sobre o des-
matamento no estado, pois estabelece instrumentos de licenciamento e estudos de
impactos ambientais de atividades que possam causar dano ao meio ambiente, ai

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 312-330, jul./dez. 2016

322
incluído o desmatamento. Essa é uma das primeiras formas do governo em nível
estadual (enforcement) de atuar sobre a questão ambiental.
A vocação da região como fronteira agrícola teve início com o Plano de Inte-
gração Nacional, durante as décadas de 1960 e 1970, que visava o aproveitamento
econômico da região e desenvolvimento de atividades produtivas. A abundância de
recurso madeireiro na floresta Amazônica permitiu o rápido desenvolvimento des-
sa atividade na região. Marta (2007) afirma que a extração permitia a internaliza-
ção de recursos e contribuía (por meio da derrubada e queima) para atividades que
seriam implantadas posteriormente, como a agricultura e a pecuária. A atividade
pecuária permitia a concentração fundiária, característica da região por ser uma
forma de ocupar grandes áreas de terra e realizar uma atividade nela que exigia
pouco capital.
A partir, principalmente da década de 1990, a soja ganhou espaço considerável
no cenário mato-grossense, sendo o principal produto de exportação do estado, com
mais de 12,3 milhões de toneladas exportadas em 2013 (BRASIL, 2014a). Partindo
das áreas de cerrado e indo em direção à Amazônia, a soja se expandiu a partir
da ocupação de áreas de floresta nativa (provocando o desmatamento) ou a par-
tir da substituição da pecuária por esta cultura (nesse caso, as áreas já estavam
desmatadas).
Analisando o papel das instituições em Mato Grosso, pode-se dividi-lo em dois
momentos: o primeiro, representa a expansão das atividades econômicas dentro
do estado, que compreende o período de colonização promovido durante o Plano de
Integração Nacional até aproximadamente 2004. Nesse período, embora existam
regulações formais quanto ao problema do desmatamento, o mercado foi o principal
agente regulador, quando a lógica de oferta e demanda atuou no sentido da expan-
são das atividades, promovendo tanto o crescimento econômico como também o
desmatamento por meio da extensão da produção. O mercado pode ser caracteriza-
do como uma instituição informal, na qual os agentes orientam-se pela lei de oferta
e procura. O aumento da demanda por produtos primários incentivou a expansão
das atividades. Imori et al (2011), ao realizar estudo sobre a emissão de gases de
efeito estufa na região Amazônica, perceberam que o desmatamento é o principal
meio emissor desses gases e que ocorre devido à expansão das atividades agro-
pecuárias (principalmente gado, soja, cana-de-açúcar), mas tais atividades são o
principal meio de desenvolvimento econômico da região e grande parte da pressão
para expansão das atividades ocorre pela demanda externa dos produtos.
A soja passou de uma demanda no mundo aproximada de 47 milhões de tone-
ladas em 1972 para 241 milhões de toneladas em 2012, um incremento de mais de

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 312-330, jul./dez. 2016

323
400% (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2012). O rebanho bovino
do Mato Grosso em 1974 era de 11 milhões de cabeças, aumentou para 28 milhões
de cabeças em 2012, e o estado passou a concentrar o maior rebanho bovino do país
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).
O segundo momento é caracterizado por uma crise dentro da instituição infor-
mal, que é o mercado, e pela ascensão de instituições formais, com objetivos claros
de reduzir o nível de desmatamento, principalmente, daquele provocado pela ex-
pansão das atividades primárias na Amazônia. A partir de 2004, o preço da soja
caiu drasticamente de uma média nacional de R$ 51,11/saca, em março de 2004,
para R$ 28,17/saca, em novembro de 2005 (CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS
EM ECONOMIA APLICADA, 2004; CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM
ECONOMIA APLICADA, 2005), ou seja, o mercado (como instituição informal)
por meio da mesma concepção de oferta e demanda que orientou a expansão ini-
cial dessa atividade, agora atua como limitador de expansão da soja na Amazônia.
Já a partir de 2005 é possível notar uma queda da taxa de desmatamento, de
11.814 km², em 2004, para 7.145 km², em 2005 (INSTITUTO NACIONAL DE PES-
QUISAS ESPACIAIS, 2013).
A moratória da soja, a partir de 24 de julho de 2006, é um acordo firmado en-
tre as empresas de comercialização de soja para que não comprem mais o produto
quando originário de áreas desflorestadas na Amazônia (RUDORF et al., 2011).
Essa proposta surge como uma instituição formal, organizada pelos próprios agen-
tes privados frente à questão ambiental que toma conta no mundo e produz impac-
tos diretos sobre o desmatamento na Amazônia devido à expansão da soja. A im-
possibilidade de comercialização do produto atua como restrição aos proprietários
de terra dentro da Amazônia, forçando a expansão dessa atividade continuamente
para áreas de cerrado (CAMPOS, 2012).
Outra instituição formal é o Decreto nº 6.514, de 2008, que passou a ser ins-
trumento para punir infrações contra o meio ambiente, na qual está incluído o
desmatamento ilegal dentro da Amazônia, principalmente, por expansão das ati-
vidades primárias, como a madeireira, a pecuária e, parcialmente, a própria soja.
Nesse mesmo ano intensifica-se o monitoramento de desmatamento ilegal na Ama-
zônia (como as operações Arco de Fogo da Polícia Federal e Guardiões da Amazônia
do Ibama), atuando tanto em relação a ações preventivas contra o desmatamento
como também realizando diversas apreensões tanto de madeira ilegal e como efe-
tuando prisões, reduzindo a extração ilegal na Amazônia.

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324
4 Análise do caso no Pará
Desde 2006, o estado do Pará é o principal desflorestador do país, contudo, a
partir de 2008, excetuando-se o último período, inseriu-se uma tendência de queda
nas taxas de desmatamento no território paraense (Gráfico1). O desmatamento nos
primeiros anos do século XXI tem sido influenciado pelas atividades agropecuárias.
Apesar de ter assumido a primeira posição na geração do desmatamento no Brasil,
cabe ressaltar que existem esforços institucionais nacionais e regionais no sentido
de reduzir a taxa de desmatamento, assim vale destacar a legislação ambiental do
Estado do Pará está em consonância com a legislação federal.
Ao longo dos anos extração madeireira na Amazônia foi responsável por di-
namizar a economia de muitas regiões paraenses, a inserção dessa atividade pro-
piciou o desenvolvimento de práticas agropecuárias, em especial para produção
bovina. A criação de gado nas áreas desmatadas consolidou no Pará mais um ciclo
produtivo no estado (MONTEIRO, 2005). Sobre as principais causas de desmata-
mento na Amazônia Legal, Rivero et al. (2009) apontam que uma forte correlação
entre pecuária e desflorestamento, a soja também aparece positivamente correla-
cionada com o desmatamento.
Com a tendência de crescimento da demanda nacional e internacional por com-
modities agropecuárias o Estado brasileiro tende a lançar mão do law enforcement
para regular as atividades madeireiras e limitar a devastação das florestas nativas,
visto que o mercado tende a demorar demasiadamente para controlar os problemas
ambientais, tendo em vista que uma parte significativa da extração de madeira é
ilegal, devido ao descumprimento da legislação ou à exploração em áreas proibidas,
a ação governamental é fundamental. Segundo Pereira et al. (2010), em 2009, foram
extraídos 14,1 milhões de metros cúbicos de madeira em tora na Amazônia, desse
montante, 64% (ou 9,4 milhões de metros cúbicos) foram autorizados legalmente para
exploração, no Pará a proporção de madeira autorizada para extração foi de 38%.
O combate à ilegalidade é realizado com ações de controle pelos órgãos de
repressão estatais que conta com ações perpetradas pelas entidades de cunho am-
biental com o apoio da polícia e exército. Como foi mostrado, o Estado brasileiro
está operando para criar um ambiente institucional capaz de reduzir a extração
de madeira, em especial a extração ilegal. No Pará, há alguns avanços, mas ainda
há pontos relevantes a serem tratados no que se diz respeito à fiscalização e ao
controle.

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325
5 Considerações finais
Embora o desmatamento continue a existir na Amazônia, foi possível perceber
uma redução nos índices ao longo das últimas duas décadas. Ações do Estado con-
tribuíram para essa redução, como a atividade legislativa representando o papel
de regulação (ambiente formal) e a fiscalização representando a execução dessas
normas (enforcement). Todavia, atividades ilegais continuam a ocorrer em todos
os setores, daí cabe aos órgãos fiscalizadores fazerem valer as normas formais já
existentes por meio de sua devida aplicação.
Entretanto, aparentemente as reformas nas estruturas do Ibama e do Minis-
tério do Meio Ambiente ainda não expressam instrumentos pertinentes que viabi-
lizem um projeto de desenvolvimento sustentável para o setor madeireiro, dado o
crescente número de multas aplicadas contra crimes de flora.
Instituições informais podem tanto contribuir para o aumento como para a
redução do desmatamento. A ocupação da Amazônia a partir das décadas de 1950
e 1960 foi baseada no modelo capitalista agroextrativista e persiste até hoje. De
um lado, esse modelo foi expansivo, fomentando a produção econômica a partir da
substituição da floresta nativa da Amazônia, permitindo o crescimento da região;
de outro, foi incentivado e retraído por instrumentos de mercado, como o preço
regulando a oferta e demanda e acordos (como o embargo da soja) entre empresas,
sociedade civil e o Estado para conter o avanço da produção agrícola sobre a região.
Esse conjunto de situações aponta que as instituições conseguiram reduzir o
desmatamento (quando voltadas para esse fim), embora não o tenham eliminado
completamente, a atividade econômica da região continua a ser baseado na ex-
ploração agroextrativista, o que fomenta tanto sua expansão pela necessidade de
crescimento econômico como também atividades ilegais ligadas a esse setor.
Nesse sentido, explorar estratégias de desenvolvimento regional, como o in-
centivo a atividades de menor impacto, cooperação entre agentes, fortalecimento
de setores sustentáveis e geradores de mão de obra, é uma forma de contribuir
com a sustentabilidade além de serem capazes de ampliar a geração de renda e
fortalecer o crescimento econômico (COSTA, 2012; TAVARES, 2011). Sugere-se que
trabalhos futuros possam demonstrar como iniciativas locais, que se baseiam em
instituições informais, conseguem contribuir para o desenvolvimento e preserva-
ção do meio ambiente.

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326
Institutions and enforcement to reduce the
deforestation in Amazon
Abstract
This article aimed to evaluate the role of institutions (formal and informal) on deforesta-
tion in the Amazon from 1988 to 2013. Through statistical survey of deforestation and tax
assessments in the region, it was possible to establish a correlation with the evolution of
the institutional and legal environment verify the performance of the State in compliance
with the environmental laws (enforcement), specifically evaluating the cases of Mato Gros-
so and Pará that are the states with the highest volume of accumulated deforestation dur-
ing period. Was possible to conclude that, although the legislation and state action have
contributed to reducing deforestation in the period, the regional economy continues to be
based on extensive primary activities (agriculture, livestock and vegetable and mineral ex-
traction) as well illegal activities still exist, limiting the ability of the formal institutional
environment to contain the deforestation.

Keywords: Institutions. Environmental legislation. Timber industry. Agribusiness.

Instituciones y enforcement en la reducción de la


deforestación en la Amazonia
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo evaluar el papel de las instituciones (formales e informales)
sobre la deforestación en la Amazonía entre los años 1988-2013. A través de estudios es-
tadísticos de las evaluaciones de la deforestación y los fiscales en la región, fue posible
establecer una correlación con la evolución del entorno jurídico institucional y comprobar
el estado de las operaciones en el cumplimiento de la ley (ejecución), evaluar de manera
más específica los casos de los estados de Mato Grosso y Pará que son los estados con el
mayor volumen de la deforestación acumulada durante el período. Se concluye que, si bien
la legislación y la acción del estado han contribuido a la reducción de la deforestación en
el período, la economía regional sigue basándose en las actividades primarias extensas
(agricultura, ganadería y vegetales y extracción de minerales) y las actividades ilegales
todavía existen, lo que limita la capacidad del medio ambiente institucional formal en la
contención de la deforestación.

Palabras clave: Instituciones. Legislación ambiental. Industria de la madera. La agroin-


dustria.

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327
Notas
1
Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o resultado de 1988 é a média
entre os anos de 1977 e 1988, os resultado de 1993 e 1994 são médias entre esses anos e os dados de 2013
são provenientes de estimação.
2
Os autos de infração referem-se a multas aplicadas pelo Ibama a pessoas físicas ou jurídicas que tenham
cometido alguma ação indevida sobre flora.

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328
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 13 fev. 1998.
Seção 1, p. 1.
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lítica Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
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tes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação
das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial
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330
Os Portais da Transparência:
um estudo sobre as informações
disponibilizadas pelos municípios do
Corede Rio da Várzea, RS1
Tagiane Graciel Fiorentin Tres*
Evandra Maria Fugalli**

Resumo
O objetivo deste estudo é avaliar se os municípios do Corede Rio da Várzea, RS atendem
às determinações da Lei nº 12.527/2011 e da Lei Complementar nº 131/2009, que norma-
tizam a publicação das informações governamentais. A pesquisa classifica-se como des-
critiva, de levantamento documental, com abordagem quanti-qualitativa. Conclui-se que
os municípios analisados atendem à Lei Complementar nº 131/2009. Apenas o item refe-
rente à “disponibilização das informações em tempo real” não está sendo cumprido pela
administração de todos os municípios. Quanto ao atendimento da Lei nº 12.527/2011, 65%
dos itens verificados obtiveram respostas positivas, evidenciando o comprometimento das
administrações com a divulgação de informações públicas. Os municípios estudados não
tiveram grandes avanços desde o estudo realizado pelo Tribunal de Contas do Estado do
Rio Grande do Sul em 2013.

Palavras-chave: Transparência. Contas Públicas. Lei nº 12.527/2011. Lei Complementar


nº 131/2009.


*
Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo. Especialista em Contabilidade
Pública pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Especialista em
Controladoria e Gestão Tributária pela Universidade de Passo Fundo. Mestranda em Educação na
Universidade de Passo Fundo. Professora na Universidade de Passo Fundo. E-mail: tfiorentin@upf.br
**
Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: evandra.fugalli@
gmail.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6832

Submissão: 14/06/2015. Aceite: 23/09/2016.

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1 Introdução
A transparência é considerada um princípio da gestão fiscal responsável, ligada
diretamente ao princípio constitucional da publicidade. Ela estimula a divulgação
das ações dos agentes públicos e visa garantir o acesso às informações relativas à ar-
recadação e aplicação dos recursos públicos, servindo ao cidadão como instrumento de
controle social e ao gestor como mecanismo de punição em caso de não atendimento.
O processo de regulamentação do princípio constitucional da publicidade ga-
nhou força com a Lei Complementar nº 101/2000, denominada Lei de Responsabili-
dade Fiscal (LRF), que está assentada nos pilares norteadores do planejamento, da
responsabilização, do controle e da transparência. Na mesma esteira, foi editada a
Lei Complementar nº 131/2009, conhecida como Lei da Transparência. Seu objetivo
principal é regulamentar a Lei Complementar nº 101/2000 no que tange à transpa-
rência e à publicidade das contas públicas. A determinação foi no sentido de que os
governos disponibilizassem, em tempo real, as informações sobre as receitas e des-
pesas, em meio eletrônico, possibilitando o acesso público e propiciando ao cidadão
informações de forma simples e compreensível.
Na sequência, a Lei nº 12.527/2011, a Lei de Acesso à Informação (LAI), foi pro-
mulgada, garantindo o acesso às informações governamentais que devem ser execu-
tadas de acordo com os princípios básicos da administração pública, enfatizando a pu-
blicidade. Os principais pontos evidenciados na LAI que os meios eletrônicos devem
apresentar são: a estrutura organizacional, os endereços e números de telefone, os
programas e ações, o orçamento e a despesa, as licitações e os contratos, os repasses
ou transferência de recursos, entre outros detalhes. As informações disponibilizadas
nos portais, segundo a lei, devem ser transparentes, claras e de fácil compreensão.
O meio eletrônico, portanto, constituiu-se como o principal canal de divulga-
ção das informações referidas pela legislação, e são denominados Portais da Trans-
parência. A obrigatoriedade de divulgar nos meios eletrônicos as informações sobre
a gestão pública traz clareza aos atos públicos e fortalece a democracia brasileira.
Com mais transparência na coisa pública, os atos de corrupção e má gestão tendem
a se reduzir, aumentando a governança da administração e fazendo com que os
gestores planejem suas ações.
Tendo em vista a grande quantidade de informações que devem ser publicadas
e o prazo para o atendimento das referidas leis, este estudo objetiva avaliar se os
municípios que fazem parte do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede)
Rio da Várzea, Rio Grande do Sul, atendem às determinações legais sobre a publi-
cação das informações governamentais.

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332
2 Referencial teórico
Nesta seção são apresentadas as principais referências que fundamentaram
o presente estudo.

2.1 A contabilidade pública como instrumento de controle


social
Nas últimas décadas, especialmente após a promulgação da Constituição fede-
ral de 1988 (CF/1988), o cidadão brasileiro passou a desempenhar o papel de prota-
gonista na gestão pública, contribuindo com sugestões, fiscalizando e controlando
os atos dos gestores e a contabilidade apresenta-se como uma ferramenta para o
exercício dessa democracia. A função social da contabilidade consiste em instru-
mentalizar o cidadão para o controle social, conforme consta na Norma Brasileira
de Contabilidade Aplicada ao Setor Público nº 16.1. Trata-se de um compromisso
fundado na ética profissional, que pressupõe o exercício cotidiano de fornecer in-
formações que sejam compreensíveis e úteis aos cidadãos no desempenho de sua
soberana atividade de controle do uso dos recursos e do patrimônio público pelos
agentes públicos.
Todo o processo de evidenciação dos atos e fatos correlatos à administração
pública inicia-se com a elaboração dos instrumentos de planejamento definidos na
CF/1988. “O planejamento como instrumento de administração no setor público
sempre foi amplamente debatido e exigido como requisito para a boa administra-
ção” (CAVALHEIRO, 2005, p. 26). Mas para que ocorra, de fato, o amplo debate, é
indispensável que as “autoridades e a própria sociedade organizada estejam con-
vencidas da necessidade da informação contábil como suporte para a tomada de de-
cisões e mecanismos de controle na utilização dos recursos públicos” (PISCITELLI;
TIMBÓ; ROSA, 1999, p. 29).
Com a consolidação da democracia brasileira, percebe-se que cada vez mais,
a sociedade exige dos gestores públicos no planejamento e na execução das ações
governamentais atitudes pautadas em princípios éticos e administrativos e em ha-
bilidades técnicas e políticas no trato com a coisa pública. Neiva argumenta que a
“sociedade atual exige novo perfil da Administração Pública” em que o Estado, “ao
invés de procurar impor sua vontade, deve propiciar fórmulas ou medidas que im-
pliquem na participação dos integrantes da coletividade na elaboração de critérios
para a realização de interesses coletivos” (NEIVA, 2011, p. 1).

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333
A contabilidade aplicada ao setor público está diretamente ligada à gestão
de recursos públicos que alcançou, ao longo dos últimos anos, maior importância
e valorização devido à utilidade das informações por ela geradas, pois ela utiliza
uma técnica capaz de produzir, com oportunidade e fidedignidade, relatórios que
sirvam no processo de tomada de decisões e controle de seus atos, demonstrando,
por fim, os efeitos produzidos por esses atos de gestão no patrimônio da entidade
(KOHAMA, 2012). A contabilidade pública é um mecanismo de controle dos atos e
fatos relacionados ao patrimônio e ao orçamento público, representando uma fer-
ramenta que proporciona ao gestor e à sociedade, informações necessárias para a
tomada de decisões e o para o controle social, respectivamente.
No cenário atual, em que a participação da sociedade está ganhando espaço
na gestão pública, também se coloca a contabilidade governamental em evidência
na medida em que auxilia na tomada de decisões sobre a gestão dos recursos e
proporciona aos usuários informações adequadas de interesse da coletividade, seja
sobre a situação patrimonial e financeira da entidade, seja sobre o planejamento e
execução do orçamento ou, ainda, sobre os custos de determinada obra ou serviço
colocado à disposição da sociedade, como também sobre atos potencias que poderão
vir a alterar a situação da entidade no futuro.

2.2 A transparência pública no Brasil: a influência da Lei


Complementar nº 131/2009 e da Lei 12.527/2011
Os detentores do poder têm o “dever administrativo de manter plena transpa-
rência em seus comportamentos. Não poderá haver em um Estado Democrático de
Direito, no qual o poder reside no povo, ocultamento aos administrados dos assun-
tos que a todos interessam” (MELLO, 2011, p. 114).
Silva defende que “a noção de transparência no âmbito governamental é cada
vez mais empregada em países que defendem o processo democrático de acesso às
informações sobre a ação dos gestores públicos” (2011, p. 350). O termo transpa-
rência na administração pública é amplamente utilizado para “designar o velho
princípio da publicidade e afastar a atuação sigilosa” (DI PIETRO, 2011, p. 1),
O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) define transparência pública
como “indispensável à democracia, pois viabiliza o monitoramento entre os Pode-
res, portanto, o devido equilíbrio entre eles, aferindo assim o quanto eles estão
sendo exercidos em prol dos legítimos interesses da sociedade” (2011, p. 3).
Uma boa gestão fiscal pressupõe responsabilidade e transparência. A gestão
fiscal é transparente quando os “atos praticados pelo gestor público são divulgados

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334
amplamente de forma clara e objetiva à sociedade toda” (SILVA; AMORIM; SILVA,
2004, p. 115). Trata-se de introduzir na gestão pública a cultura da divulgação, da
publicidade, da transparência, em que “a administração [...], sabendo que da boa
comunicação interna e externa, particularmente quando espontânea, franca e rá-
pida, resulta um clima de confiança, tanto internamente, quanto nas relações da
empresa com terceiros” (SLOMSKI, 2009, p. 132).
A publicidade não se dá tão somente sob o aspecto da divulgação dos atos
administrativos, mas, sim, da divulgação de forma clara e eficaz, ou seja, compre-
ensível a toda população. Na visão de Speck, “a apresentação clara e transparente
dos objetivos, dos recursos aplicados e de outras informações necessárias para a
compreensão dos processos decisórios é fundamental para que a sociedade possa
cobrar resultados e criticar omissões de seus governantes e representantes polí-
ticos” (2002, p.171), ou seja, “a administração transparente e democrática deve
mostrar o que vai fazer e onde vai tirar os seus recursos, para que possa contar
com a confiança da população, que pagará os seus tributos de uma maneira mais
consciente e motivada” (KHAIR, 2001, p. 85).
“A transparência, como princípio da gestão fiscal responsável, pressupõe a
publicidade e a compreensibilidade das informações” (PLATT NETO et al., 2007,
p. 3). A compreensão das informações disponíveis pelos entes públicos deve permi-
tir que qualquer cidadão usuário consiga identificar e entender onde e como o di-
nheiro público está sendo gasto. Somente dessa forma tem-se a efetiva participação
da sociedade na gestão pública, realizando seu papel de controle social, necessário
para atingir níveis satisfatórios na administração pública.
A divulgação das informações públicas geram benefícios à população. Justen
Filho destaca que a “possibilidade de conhecimento público sobre as escolhas de-
sincentiva a prática de irregularidades, especialmente em vista da ampliação da
possibilidade de repressão a ilícitos e a desvios” (2008, p. 76). Além disso, os ins-
trumentos de transparência, embora relativamente novos, “configuram-se como
importantes elementos no processo democrático e participativo da população para
a consolidação das políticas regionalizadas, estreitando as relações entre os inte-
ressados” (CASTOLDI; SANTOS, 2013, p. 170).
A transparência das contas governamentais favorece o exercício do controle
social fornecendo elementos necessários ao cidadão, empoderando-o. Platt Neto et
al., (2007) sustenta que a participação popular é alicerce do controle social e depen-
de fortemente da transparência das ações governamentais e das contas públicas,
pois sem informações as decisões são prejudicadas. Nesse sentido, transparência é
um conceito mais amplo do que publicidade, isso porque uma informação pode ser
pública, mas não ser relevante, confiável, tempestiva e compreensível.

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335
A LRF foi muito importante no fortalecimento do princípio da publicidade,
mas foi a Lei Complementar nº131/2009 que consolidou a transparência das contas
públicas. Ela acrescentou dispositivos à LRF a fim de determinar a disponibiliza-
ção, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária
e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios.
A referida lei, no entendimento de Martins, Coelho e Almeida (2012) institui a
obrigatoriedade de se fazer transparente todas as informações públicas, por inter-
médio de um portal eletrônico, pois facilita a execução de uma efetiva fiscalização
e controle, se houver a disponibilização de informações em tempo real. Esse regra-
mento é utilizado para auxiliar a sociedade no seu papel de fiscalizador, uma vez
que essa lei determina a divulgação de informações referentes aos lançamentos e
recebimentos de todas as receitas, e quanto às despesas, os entes devem disponibi-
lizar, no mínimo, dados referentes ao número do processo, ao bem fornecido ou ao
serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando
for o caso, ao procedimento licitatório realizado.
Em linhas gerais, a Lei Complementar nº 131/2009 determinou aos entes públi-
cos, a disponibilização em tempo real, de informações sobre a execução orçamentária
e financeira. A Controladoria Geral da União (CGU) (CONTROLADORIA GERAL
DA UNIÃO, 2013a, p. 26), buscando orientar os municípios sobre a implementação
da referida lei, definiu o termo “tempo real” como a divulgação das informações para
acesso público, em meio eletrônico até o primeiro dia útil subsequente à data do re-
gistro contábil no respectivo sistema, sem prejuízo do desempenho e da preservação
das rotinas de segurança operacional necessários ao seu pleno funcionamento.
A lei prevê que os entes que não disponibilizarem as informações no prazo
estabelecido sofrerão penalidades. O impedimento de receber transferências volun-
tárias é o que mais preocupa os gestores públicos, uma vez que as transferências
voluntárias representam uma importante fonte de receita necessária para a reali-
zação de investimentos públicos.
Vieira e França afirmam que o país necessita de “administradores que cum-
pram as disposições legais e permitam que qualquer pessoa saiba onde, quanto e
como o dinheiro público está sendo arrecadado e gasto” (2011, p. 16).
Os sítios de internet são ferramentas utilizadas para garantir a boa e corre-
ta aplicação dos recursos públicos. O Portal da Transparência “é um canal onde
os cidadãos podem acompanhar diretamente os gastos realizados pelos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Tribunal de Contas do Estado e o Mi-
nistério Público” (MARTINS; COELHO; ALMEIDA, 2012, p. 5) e devem facilitar
o acesso às informações seguindo as normas internacionais de desenvolvimento
“a observância a esses critérios tem por objetivo possibilitar uma navegação mais

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336
fácil e inclusa para o cidadão que utilizar as ferramentas oferecidas pelo portal”
(CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2013a, p. 7).
As principais informações que devem ser disponibilizadas, de acordo com o de-
terminado pelas Lei Complementar nº 131/2009, são aquelas relativas à execução
orçamentária e financeira, ou seja, a “arrecadação da receita e à execução da des-
pesa fixada na Lei Orçamentária Anual” (VIEIRA; FRANÇA, 2011, p. 6). Quanto à
despesa, devem ser publicados todos os atos praticados pelas unidades gestoras no
decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização (CONTROLADO-
RIA GERAL DA UNIÃO, 2013a, p. 25), ou seja, as despesas deverão pelo menos ter
as seguintes informações: o valor do empenho, liquidação e pagamento, classifica-
ção orçamentária com unidade orçamentária, função, subfunção, natureza da des-
pesa, a fonte dos recursos que financiam o gasto, o número do processo da execução
e a pessoa física ou jurídica beneficiada com o pagamento.
Quanto à receita, deve ser publicado o lançamento e o recebimento de toda a re-
ceita das unidades gestoras (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2013a, p. 25),
com os valores de todas as receitas da unidade gestora e sua natureza, relativos
à previsão, ao lançamento, à arrecadação, inclusive aos recursos extraordinários.
A gestão financeira, por sua vez, refere-se ao fluxo de recebimentos e paga-
mentos constantes da programação financeira do ente que “devem ser registradas
no sistema no momento da ocorrência de seu fato gerador, independentemente de
seu pagamento ou recebimento” (VIEIRA; FRANÇA, 2011, p. 6), evidenciando o
princípio contábil da competência.
Entretanto, segundo Vieira (2011) cumprir essas determinações é um proble-
ma para a maioria dos entes da federação, pois a Lei da Transparência promoveu
a abertura de uma caixa-preta que até então era protegida pela maioria dos cofres
públicos. Conforme pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos
em março de 2011, mais de 70% das capitais do país disponibilizam suas informa-
ções orçamentárias e financeiras em seus Portais de Transparência de forma péssi-
ma, ruim ou medíocre (INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 2011).
Um bom sistema de informática é fundamental no processo de implementação
das exigências da Lei Complementar nº 131/2009. Espera-se que o suporte possi-
bilite o armazenamento, a importação e exportação dos dados disponíveis, além de
possuir mecanismos que garantam a integridade e confiabilidade das informações.
A lei criou critérios que os entes públicos devem atender quanto à qualidade míni-
ma das informações.
Os agentes públicos que não respeitarem a Lei Complementar nº 131/2009,
suas exigências e regulamentação, de acordo com Vieira e França “poderão so-
frer ações de improbidade administrativa por atentarem contra o princípio da

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publicidade” (2011, p. 5). As sanções variam da perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de três a cinco anos e multa.
Os entes sujeitos à LRF igualmente tiveram de se adequar à Lei Complemen-
tar nº 131/2009, criando os Portais da Transparência e obedecendo a determinados
prazos. A lei estabeleceu prazo de adequação até 28 de maio de 2010, para a União,
os Estados, o Distrito Federal e os municípios com mais de 100 mil habitantes.
Para os municípios com população entre 100 mil e 50 mil habitantes, o prazo fin-
dou em 28 de maio de 2011; para os municípios com até 50 mil habitantes o prazo
estabelecido pela lei foi 28 de maio de 2013.
Recentemente, a Lei nº 12.527/2011, denominada Lei de Acesso à Informação,
foi editada com o objetivo de regular o acesso às informações, previsto no inciso
XXXIII do artigo 5º, no inciso II do § 3º do artigo 37 e no § 2º do artigo 216 da
CF/1988, ou seja, garantir ao cidadão o acesso amplo a qualquer documento ou
informação de interesse público.
A CF/1988 refere-se a tal assunto, sustentando que todos têm direito de rece-
ber dos órgãos públicos informações de interesse particular ou coletivo. O acesso
aos atos dos agentes públicos deve ser possibilitado a todos, cabendo à administra-
ção pública fornecer os meios para que isso ocorra.
O cumprimento da LAI refere-se a todos os órgãos públicos da administração
direta, dos poderes Executivo e Legislativo, dos Tribunais de Contas, do Judiciá-
rio e do Ministério Público, além das autarquias, fundações e entidades sem fins
lucrativos que recebam recursos públicos. Vários fatores impulsionaram a criação
da LAI, Miola (2013, p. 10) cita, para exemplificar, a crescente preocupação da so-
ciedade no trato com a coisa pública, a sensibilização acerca da supremacia do inte-
resse público sobre o privado, a percepção sobre a importância do controle social no
combate à corrupção e os compromissos internacionais do país em relação ao tema.
A referida lei, em seu art. 5º, aponta que “é dever do Estado garantir o direi-
to de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objeti-
vos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão”
(BRASIL, 2011). Assim, as informações divulgadas na internet ou em outros meios
devem ser compreensíveis para o público leigo, ou seja, livre de siglas ou termos
técnicos, pois isso pode inviabilizar sua compreensão.
Quando amplamente divulgadas de forma clara e compreensível, as informa-
ções das administrações públicas geram resultados positivos para a sociedade e
para o aperfeiçoamento da gestão governamental, pois “a corrupção, a má ges-
tão e a inoperância administrativa se valem de ambientes obscuros, que tendem
a se reduzir, com a LAI”, pois ela permite que se traga luz aos atos e fatos da

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administração. O acesso às informações públicas é um requisito importante para a
luta contra a corrupção, o aperfeiçoamento da gestão pública, o controle social e a
participação popular (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2013b, p. 6).
O grande mérito da LAI, segundo Miola (2013), está em oportunizar que se
traga para o mundo dos fatos o que antes era uma previsão abstrata, mesmo conti-
da na CF/1988. A criação da nova lei vai muito além de simplesmente fixar regras
procedimentais, institucionalizou a transparência como uma diretriz de gestão,
trouxe um amadurecimento para a democracia brasileira, que, com esse mecanis-
mo de ampla acessibilidade, poderá avançar ainda mais. Acredita-se também que
a LAI promoveu uma grande mudança cultural tanto nas administrações como na
sociedade ao franquear a informação a todos, representando um importante passo
na construção de uma sociedade livre, justa e solidária (MIOLA, 2013, p. 12).
No ano de 2012, a Câmara dos Deputados Federais elaborou uma Cartilha
de Orientações ao Cidadão, mencionando que a referida lei regulamenta o direito
à informação garantida pela Constituição federal, obrigando os órgãos públicos a
considerar a publicidade como regra e o sigilo como exceção e salienta que os ob-
jetivos da lei são fomentar o desenvolvimento de uma cultura de transparência e
controle social na administração pública.
De acordo com o apresentado no artigo 8º da LAI, algumas informações mí-
nimas devem ser disponibilizadas nos portais, como estrutura administrativa, re-
gistros das despesas e repasses de recursos financeiros, procedimentos licitatórios,
editais, contratos, dados sobre programas, ações, projetos e obras, respostas e per-
guntas. No entanto, os órgãos públicos podem e devem definir outras informações
que possam ter interesse coletivo e merecem divulgação.
A LAI estabelece também que os órgãos públicos disponibilizem o Serviço de
Informação ao Cidadão (SIC), necessário ao processo de atendimento ao público,
que serve para envio de pedidos de informações. Cada ente federativo pode regu-
lamentar seu SIC, que deve possibilitar o registro de pedidos de informação e o
acompanhamento dos trâmites e prazos, a realização de reclamações, de consultas
a respostas recebidas, a protocolos de documentos e requerimentos, entre outros
serviços. Os SICs podem ser criados nos portais da internet ou em espaços físicos
nos órgãos públicos, já que ainda muitas pessoas não têm ferramentas ou compu-
tadores com acesso à internet.
Outro ponto importante que a LAI destaca é o fornecimento de informações
de forma gratuita, salvo quando houver cópias de documentos, quando poderá
ser cobrado o ressarcimento do valor dos custos dos serviços e materiais utiliza-
dos. Também não serão permitidas divulgações classificadas como sigilosas pelas

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autoridades competentes, ou seja, quando consideradas imprescindíveis à seguran-
ça da sociedade ou do Estado, como descrito no artigo 23 da LAI. Também, confor-
me o artigo 31, as informações pessoais, relativas à intimidade, privacidade, honra
e imagem, que não dizem respeito ao interesse público, devem ser preservadas por
prazo de cem anos, a contar da data de sua produção, com exceção quando forem
apurados casos de irregularidade.
Os portais precisam ser elaborados de forma a facilitar o acesso dos cidadãos,
com ferramentas de busca, garantindo que as informações possam ser utilizadas
amplamente. Contudo, em plena era da informação, algumas prefeituras não têm
nem mesmo portais na internet e ainda mantêm as informações públicas em se-
gredo, o mesmo acontece também com os Poderes Legislativos (INSTITUTO DE
ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 2011). É preciso conscientizar o agente público
quanto à importância da transparência, já que a cultura de que o servidor é o dono
da informação que produziu não tem mais lugar no ambiente que se pretende ga-
rantir o direito de acesso à informação.
A CGU refere-se que a “transparência e acesso à informação são termos que
devem ser inseridos nas rotinas e procedimentos do serviço público” (2013b, p. 34),
pois, se a administração é pública, públicas são as informações produzidas por ela,
salvo algumas exceções previstas em lei. Para garantir a qualidade das informa-
ções e, consequentemente, a qualidade da LAI é necessário um constante acompa-
nhamento das atividades de atendimento ao cidadão, capacitação de servidores,
engajamento das autoridades e uma permanente atualização dos portais.
Os entes públicos que descumprirem a LAI estão sujeitos à improbidade admi-
nistrativa, conforme disposto na Lei de Improbidade Administrativa nº 8.429/1992.
A legislação obriga todos os órgãos públicos brasileiros ao cumprimento da Lei
Complementar nº131/2009, que trata da divulgação das informações sobre a execu-
ção orçamentária e financeira, e obriga apenas os municípios com mais de 10 mil
habitantes ao atendimento da Lei nº 12.527/2011, estimula aqueles que têm menos
de 10 mil a adotar as providencias necessárias para a adequação à lei.

3 Metodologia
Esta pesquisa tem abordagem quanti-qualitativa, delineada para um estudo
de natureza bibliográfica e documental em páginas de sítios web. Gil diz que “a
internet constitui hoje um dos mais importantes veículos de informações” (2010,
p. 57). Os sítios da web no entendimento de Diehl e Tatim (2004, p. 75) auxiliam
na realização de pesquisas para coleta de dados por meio da qual o pesquisador

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pode ter acesso a uma grande quantidade de informações, que poderão servir como
referência ao estudo. Ainda, os dispositivos de busca permitem refinar a pesquisa
para direcioná-la de forma mais precisa, evitando a obtenção de resultados muito
amplos ou muito restritos.
O universo de pesquisa é constituído por vinte municípios que fazem parte do
Corede Rio da Várzea, RS. Os municípios que fazem parte do Corede Rio da Vár-
zea, conforme o Decreto Estadual nº 47.543, de 8 de novembro de 2010, são: Barra
Funda, Boa Vista das Missões, Cerro Grande, Chapada, Constantina, Engenho
Velho, Jaboticaba, Lajeado do Bugre, Liberato Salzano, Nova Boa Vista, Novo Bar-
reiro, Novo Xingu, Palmeira das Missões, Ronda Alta, Rondinha, Sagrada Família,
São José das Missões, São Pedro das Missões, Sarandi e Três Palmeiras.
Os dados foram coletados dos sítios dos municípios em estudo no período
de 1º de maio a 18 de maio de 2014, seguindo checklist elaborado pelas autoras,
adaptado do estudo realizado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do
Sul em 2013, que foi dividido em três blocos: a) atendimento à Lei Complementar
nº 131/2009; b) atendimento à Lei nº 12.527/2011; c) qualidade das informações
disponibilizadas.
Para avaliação das respostas do checklist da Lei Complementar nº 131/2009,
foram adotados os seguintes critérios: SIM, para quesitos atendidos, NÃO, para
quesitos não atendidos, e ERRO, nos casos em que, embora os municípios dispuses-
sem de portal próprio, não tenha sido possível acessar a página.
Para avaliação das respostas do checklist da Lei nº 12.527/2012 e da qualida-
de das informações disponibilizadas adotaram-se os seguintes critérios: SIM, para
quesitos atendidos, NÃO, para quesitos não atendidos, PARCIAL, para os quesitos
cujos parâmetros não tenham sido atendidos em sua totalidade, e NÃO DISPONÍ-
VEL (ND), para links inexistentes ou, caso tivessem sido encontrados, cujas infor-
mações não estavam disponíveis.
Conforme Beuren (2003), checklist é o instrumento de coleta de dados em que
o pesquisador elabora um roteiro de itens que devem ser verificados e por meio de
uma entrevista ou visita à amostra selecionada para pesquisa checa todos os ele-
mentos necessários para a aplicação de seu estudo monográfico.

4 Análise de dados
Nesta seção constam os dados relacionados ao Corede Rio da Várzea, à análise
da Lei Complementar nº131/2009, à análise da Lei nº 12.527/2011 e à análise da
qualidade das informações disponibilizadas nos sítios municipais.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

341
4.1 Análise da Lei Complementar nº 131/2009
O Quadro 1 apresenta as questões e respectivas respostas do estudo sobre e
Lei Complementar nº 131/2009.

Quadro 1 – Análise da Lei Complementar nº 131/2009

Quanto à despesa, o sítio informa


os bens fornecidos ou os serviços
Há indicação das informações re-
lativas à execução orçamentária e

As informações são liberadas em

Quanto à despesa, o sítio informa

Quanto à despesa, o sítio informa


quem é a pessoa física ou jurídica

O sítio apresenta despesa por fun-

O sítio apresenta natureza da des-

Quanto à receita, o sítio informa a


previsão dos valores da receita da

Quanto à receita, o sítio informa os


valores da arrecadação da unidade
o número e o valor de empenhos,

beneficiária com os pagamentos?


liquidações e pagamentos?
Órgãos municipais

pesa e fonte de recursos?


ção e subfunção?

unidade gestora?
tempo real?
financeira?

prestados?

gestora?
Barra Funda SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Boa Vista das Missões SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Cerro Grande SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Chapada SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Constantina SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Engenho Velho SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Jaboticaba SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Lajeado do Bugre SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Liberato Salzano SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Nova Boa Vista SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Novo Barreiro SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Novo Xingu SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Palmeira das Missões SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Ronda Alta SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Rondinha SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Sagrada Família SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
São José das Missões SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
São Pedro das Missões SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Sarandi SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Três Palmeiras SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Fonte: elaborado pelas autoras, adaptado de Tribunal de Contas do Estado (2013).

A Lei Complementar nº 131, publicada em 2009, obrigatória para a União, os


Estados, o Distrito Federal e os municípios, independente do número de habitan-
tes, amplia a transparência na gestão dos recursos públicos e incentiva o exercício
do controle social. Ainda que para os municípios com população de até 50 mil ha-
bitantes a lei tenha conferido prazo de quatro anos para implantação, esse prazo

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

342
encerrou-se em maio de 2013, estando, portanto, em vigência em 2014. A análise do
Quadro 1 permite inferir que a lei está sendo atendida pelos municípios em estudo
quase que na totalidade, corroborando o estudo realizado pelo Tribunal de Contas
do Estado do Rio Grande do Sul em 2013. Observou-se que 60% dos municípios
não atendem ao quesito “liberação das informações em tempo real”, pois mesmo
nos casos em que o sítio é atualizado diariamente, algumas informações não eram
disponibilizadas no primeiro dia útil subsequente à data do registro.

4.2 Análise da Lei nº 12.527/2011


O Quadro 2 apresenta os dados do estudo sobre e Lei nº 12.527/2011, Lei de
Acesso à Informação

Quadro 2 – Análise da Lei nº 12.527/2011


1) O sítio apresenta indicação

3) Endereço e telefone da

7) Informações de licitações,
2) Apresenta meios de solici-

5) Registro de repasses ou

8) Informações de contratos

9) Dados gerais para acompa-


nhamento de programas,

10) Estrutura organizacional?

11) Permissão de gravação


de relatórios em formato
4) Horário de atendimento?

ações, projetos e obras?


6) Perguntas e respostas?
tação de informações?
Órgãos municipais

editais e resultados?

12) Há SIC disponível?


transferências?

celebrados?

eletrônico?
unidade?
à LAI?

Barra Funda NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM SIM NÃO SIM SIM NÃO
Boa Vista das Missões SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL SIM SIM SIM SIM SIM
Cerro Grande NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM NÃO
Chapada NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO
Constantina NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM NÃO
Engenho Velho NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL SIM NÃO SIM SIM NÃO
Jaboticaba NÃO NÃO SIM NÃO SIM SIM PARCIAL NÃO SIM SIM SIM ND
Lajeado do Bugre NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM NÃO
Liberato Salzano SIM SIM SIM SIM SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM SIM
Nova Boa Vista NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM NÃO
Novo Barreiro NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Novo Xingu NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM NÃO
Palmeira das Missões SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Ronda Alta SIM SIM SIM SIM SIM NÃO PARCIAL SIM SIM SIM SIM SIM
Rondinha NÃO NÃO SIM NÃO SIM NÃO PARCIAL NÃO NÃO NÃO SIM NÃO
Sagrada Família SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM
São José das Missões NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO PARCIAL NÃO SIM SIM SIM NÃO
São Pedro das Missões SIM SIM SIM NÃO SIM SIM PARCIAL NÃO SIM SIM SIM SIM
Sarandi SIM SIM SIM SIM SIM ND PARCIAL NÃO SIM SIM SIM ND
Três Palmeiras SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM
Fonte: elaborado pelas autoras, adaptado de Tribunal de Contas do Estado (2013).

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

343
Embora a Lei nº 12.527/2011 dispense municípios com população de até 10
mil habitantes de publicar dados e documentos públicos em meios eletrônicos, os
direitos constitucionais enaltecem essa conduta, garantindo ao cidadão acesso ao
que é público. Dos municípios em estudo, 15% apresentam população acima de 10
mil habitantes (Palmeira das Missões, Ronda Alta e Sarandi) ficando, portanto
obrigados a cumprir a LAI. Os demais 85% apresentam população inferior a 10 mil
habitantes e estão desobrigados do cumprimento da referida lei.
A análise do Quadro 2 possibilita concluir que até 2014, não houve a tão espe-
rada mudança de cultura sobre a disponibilização das informações ao público, pois
informações básicas, como horário de atendimento e estrutura organizacional ain-
da não podem ser acessadas pelo público. Apenas 40% dos municípios em estudo
apresentam indicação clara à LAI em sua página inicial, que consiste basicamente
em apresentar os principais objetivos e o número da lei que rege esse processo, Lei
nº 12.527/2011. Grande parte dos municípios, 60%, não apresenta meios de solicita-
ção de informações por meio de requerimentos eletrônicos ou a indicação de locais
físicos para atendimento ao quesito. Qualquer pessoa pode fazer pedido de infor-
mações a órgãos públicos e, se a informação não puder ser prestada, é necessário
apresentar uma justificativa.
Também há baixo percentual de atendimento ao item que se refere à apresen-
tação de link sobre perguntas e respostas, o quesito aparece em apenas 25% dos
sítios analisados. Um município, embora disponibilizasse o link, não enviava para
o quadro de perguntas e respostas. Observou-se também que 70% dos municípios
atendem parcialmente ao item sobre a divulgação de licitações, editais e resulta-
dos, enquanto que somente 25% apresentam pleno atendimento à questão. Notou-
-se que as informações relativas a licitações são divulgadas parcialmente, pois não
consta, por exemplo, os resultados ou os licitantes vencedores.
O mesmo ocorre com a divulgação dos contratos celebrados. Cerca de 70% dos
municípios não os publicam no site do município. Em 2013, no estudo feito pelo
Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, o resultado foi semelhante,
sendo que do total de 497 municípios do Rio Grande do Sul, 335 (67%) municípios
não divulgavam seus contratos.
Verificou-se também, que nos portais dos entes examinados 55% não apresen-
tam Serviço de Informações ao Cidadão. Por outro lado, observaram-se alguns re-
sultados positivos: todos os municípios pertencentes ao Corede Rio da Várzea dispo-
nibilizam informações quanto a repasses ou transferências. No estudo do Tribunal
de Contas em 2013, observou-se que 426 municípios do total de 497 também dispo-
nibilizavam informações relativas a repasses ou transferências, 85% divulgam as

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344
informações para acompanhamento das ações do governo, ou seja, os Executivos,
por meio de matérias, disponibilizam informações de cunho social, do andamento de
obras da administração pública e informativas; todos os portais estudados apresen-
tam meios de gravação dos arquivos em formato eletrônico, atendendo às exigências
legais, os sítios, também possibilitam, comandos como copiar e colar.

4.3 Análise da qualidade dos sítios municipais


O Quadro 3 apresenta os dados do estudo sobre a qualidade das informações
disponibilizadas nos Portais da Transparência.

Quadro 3 – Qualidade das informações


2) É fácil encontrar os principais

3) Nome dos responsáveis pelas

4) Os conteúdos estão organiza-


dos por departamento ou se-

5) Os formulários são fáceis de

6) O sítio evita a solicitação de se-


nhas ou cadastros para aces-

7) O sítio apresenta fontes em ta-

8) As frases são curtas, com ape-


1) O número de telefone funciona?

9) Os conteúdos são atualizados?


nas uma ideia por parágrafo?
sar dados e informações?
serviços e informações?
Órgãos municipais

serem preenchidos?

manho adequado?
secretarias?

cretaria?

Barra Funda SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM ND


Boa Vista das Missões SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Cerro Grande SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM SIM
Chapada SIM SIM SIM SIM ND SIM SIM SIM SIM
Constantina SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM SIM
Engenho Velho SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM ND
Jaboticaba SIM SIM NÃO NÃO ND SIM SIM SIM SIM
Lajeado do Bugre SIM SIM NÃO NÃO ND SIM SIM SIM SIM
Liberato Salzano SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM
Nova Boa Vista SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM NÃO
Novo Barreiro SIM SIM NÃO NÃO ND SIM SIM SIM NÃO
Novo Xingu SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM NÃO
Palmeira das Missões SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM
Ronda Alta SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM
Rondinha SIM ND ND ND ND SIM SIM ND ND
Sagrada Família SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM NÃO
São José das Missões SIM SIM SIM SIM ND SIM SIM SIM NÃO
São Pedro das Missões SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM SIM
Sarandi SIM SIM SIM NÃO ND SIM SIM SIM SIM
Três Palmeiras SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM
Fonte: elaborado pelas autoras.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

345
Os sítios governamentais foram criados para atender às necessidades do cida-
dão, que procura por informações. Quando se cria um sítio, deve-se levar em conta
critérios como usabilidade, acessibilidade, veracidade da informação, agilidade do
serviço e transparência.
A análise do Quadro 3 possibilita concluir que, em todos os municípios estu-
dados, os telefones indicados nos sítios funcionam. Em 95% dos municípios estuda-
dos, é fácil localizar os principais serviços e informações. Apenas 65% divulgam em
meios eletrônicos os nomes dos responsáveis pelas suas secretarias. Os responsá-
veis pelos Executivos, quando nomeiam seus secretários, deveriam atentar a boas
práticas de gestão pública e divulgarem para a comunidade a composição de suas
secretarias.
Notou-se que, em 75% dos municípios em estudo, as informações e notícias
vinculadas nos sítios estudados não estão organizadas por secretarias. Constatou-
-se ainda que 65% dos municípios não disponibilizam formulários para solicitação
de informações, nos 35% que disponibilizam formulários, os materiais são de fácil
entendimento e preenchimento. Observou-se que todos os sítios dispensam a solici-
tação de senhas para obtenção de informações disponibilizadas. Levou-se em conta
as informações disponibilizadas nos portais relacionadas às duas leis. Do exame,
observou-se que 100% dos municípios disponibilizam fontes em tamanho adequa-
do, que facilmente podem ser lidas, bem como as mantém em formato uniforme.
Neste trabalho também foi analisado se as informações ou notícias apresenta-
vam fácil compreensão, com frases curtas e objetivas, imprescindíveis para a boa
transparência, uma vez que todos os cidadãos, de qualquer classe social e escola-
ridade, têm o direito à informação e, portanto, os textos devem ser compreensíveis
a todos. Não foram levadas em conta aqui as publicações oficiais, como editais de
licitações ou concursos, que, por sua natureza, possuem linguagem técnica. Em
95% dos municípios as frases de contextualização de notícias ou informações rela-
cionadas à administração pública eram curtas e de fácil compreensão, compostas
em linguagem clara e objetiva.
Quanto à atualização dos conteúdos, levou-se em conta se as notícias referen-
tes às atividades dos Executivos estavam atualizadas, para essa análise conside-
rou-se que pelos menos uma informação ou notícia estivesse atualizada no período
de coleta os dados. Não foram levadas em consideração informações relacionadas
a editais e licitações. Observou-se que os sítios apresentam conteúdos (notícia ou
informação) atualizados em 60% dos municípios, contatou-se que três deles não
apresentam link de notícias.

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346
5 Considerações finais
O presente estudo busca chamar a atenção para a ideia de um processo de
transparência e divulgação das contas públicas cada vez mais necessárias em um
país democrático. A implantação de programas de governo eletrônico vem ao encon-
tro da democratização das informações públicas, aproximando o cidadão do gover-
no. A Lei Complementar nº 131/2009 e a Lei nº 1.257/2012 surgiram como um pode-
roso instrumento de educação e cidadania fiscal, seus atos decorrem legalmente do
processo de democracia do país, e não necessitariam de dispositivos constitucionais
para sua aplicação.
A disponibilização das informações pelos órgãos públicos, nos meios eletrôni-
cos, além de facilitar o acesso do cidadão, reduz os custos com a prestação de infor-
mações. A implantação dos portais municipais possibilitou o acesso à informação e
a sociedade passou a ser protagonista das questões de interesse público. Os sítios
devem permitir que o usuário faça uso de todas as ferramentas e sinta necessidade
de retornar a fazer uso do serviço.
No presente estudo buscou-se analisar se os municípios que fazem parte do
Corede Rio da Várzea estão atendendo às determinações da Lei Complementar nº
131/2009 e da Lei nº 12.527/2011 no que se refere à disponibilização das informa-
ções nos Portais da Transparência bem como a sua qualidade. Percebeu-se que,
embora as informações encontradas nos sítios tivessem relevância, há necessidade
de se melhorar o padrão de agilidade e rapidez de acesso.
No que se refere ao cumprimento da Lei Complementar nº 131/2009, o estudo
revelou que os municípios do Corede Rio da Várzea atendem quase que na totali-
dade à referida Lei, disponibilizando informações sobre a execução orçamentária e
financeira. Ressalta-se que o não atendimento da lei ficou por conta da disponibili-
dade das informações em “tempo real”, já que 60% dos municípios não as disponi-
bilizam no primeiro dia útil subsequente ao do fato gerador.
Quanto à Lei nº 12.527/2011 e a qualidade dos sítios municipais, constatou-se
que embora alguns municípios apresentem bons níveis em relação aos quesitos for-
mulados, nenhum atendeu a todos. Ressalta-se que o descumprimento de alguns
quesitos, como perguntas e respostas, horário de atendimento e contatos, foram ob-
servados em alguns sites dos municípios com mais de 10 mil habitantes. O estudo
mostrou que há boa adesão dos municípios do Corede Rio da Várzea em relação à
Lei nº 12.527/2011, pois a grande maioria, por ter menos de 10 mil habitantes, está
dispensada de divulgar informações na rede mundial de computadores.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

347
Quanto aos quesitos analisados, solicitados pela Lei 12.527/2011, e à qualida-
de dos sítios municipais, observou-se que 65% deles tiveram resposta afirmativa,
ou seja, atenderam à referida lei, 26,19%, resposta negativa, 5,48%, tiveram regis-
tro de item não disponível e 3,33%, atendimento parcial dos quesitos.
Cabe destacar o importante papel da contabilidade no cumprimento das leis
sobre a transparência pública, especialmente da Lei Complementar nº 131/2009,
pois todas as informações por ela exigidas são extraídas do sistema contábil e dos
subsistemas de informações orçamentárias, financeiras, patrimonial, de custos e
de compensação, e, portanto, necessitam estar devidamente integrados, de forma
que as informações possam ser disponibilizadas de forma automática e tempestiva.
Como sugestão recomenda-se que os municípios que não cumprem o quesito
“tempo real” da Lei Complementar nº131/2009, identifiquem as razões e solucio-
nem o problema. Quanto ao que é tratado na Lei nº 12.527/2011, sugere-se que
os municípios desobrigados ao cumprimento divulguem suas informações mesmo
assim, pois como a informação é pública, deve ser levada ao conhecimento de todos.
A criação de um software padrão poderia auxiliar na divulgação das informações e
ser utilizado por qualquer município do Brasil.
Assim, nos dias atuais, do nosso estado democrático, é necessário que cada vez
mais os gestores públicos divulguem informações, não somente as relacionadas à
execução orçamentária e financeira, mas de todos os atos por eles realizados.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

348
The Portals of Transparency: a study on the information
provided by the municipalities of Corede
Rio da Várzea, RS
Abstract
The objective of this study is to assess whether the municipalities of COREDE Rio da
Várzea/RS meet the provisions of Law No. 12.527/2011 and the Supplementary Law
No.131/2009 on the publication of government information. The research is classified as
descriptive, documental survey with quantitative and qualitative approach. We conclude
that the municipalities analyzed meet the Supplementary Law No. 131/2009. Only the
item referring to “availability of information in real time” is not being served by all
municipalities. The service of Law No. 12.527/2011, 65% of the checked items showed
positive responses, showing the commitment of the authorities to the disclosure of public
information. Municipalities studied did not achieve great advances since the study by the
Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul in 2013.

Keywords: Transparency. Public Accounts. Law No.12.527/2011. Complementary Law No.


131/2009.

Los Portales de la Transparencia: un estudio sobre la


información proporcionada por los municipios del
Corede Rio da Várzea, RS
Resumen
El objetivo de este estudio es evaluar si los municipios del COREDE Rio da Várzea/RS
cumplen las disposiciones de la Ley Nº 12.527/2011 y la Ley Complementaria nº 131/2009
sobre la publicación de información gubernamental. La investigación se clasifica como
descriptivo mediante encuestas, documental con enfoque cuantitativo y cualitativo. Llegamos
a la conclusión de que los municipios analizados cumplen con la Ley Complementaria
nº 131/2009. Sólo el punto que hace referencia a “la disponibilidad de información en tiempo
real” no está siendo servida por todos los municipios. El servicio de la Ley Nº 12.527/2011,
el 65% de los puntos controlados mostraron respuestas positivas, mostrando el compromiso
de las autoridades para la divulgación de la información pública. Municipios estudiados no
logró grandes avances desde el estudio realizado por el Tribunal de Contas do Estado do
Rio Grande do Sul en 2013.

Palabras clave: Transparencia. Las cuentas públicas. Ley Nº 12.527/2011. Ley Comple-
mentaria Nº 131/2009.

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349
Nota
Artigo aprovado na XV Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, realizado em Bento Gonçalves,
1

em agosto de 2015.

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Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 331-351, jul./dez. 2016

351
Desafios gerenciais do
cooperativismo: fidelização versus
competitividade
Raquel Breitenbach*
Janaína Balk Brandão**
Marcelo Nogueira***
Resumo
O objetivo deste trabalho foi analisar o nível de satisfação dos associados acerca dos condi-
cionantes de competitividade da Cooperativa Agrícola X bem como compreender a percep-
ção dos associados em relação à gestão da cooperativa, verificando suas políticas de atu-
ação e os sistemas de fidelização do associado. A pesquisa envolveu entrevistas com uma
amostra de 414 associados. Como resultados, destaca-se um bom nível de satisfação dos
associados quanto aos serviços e produtos ofertados pela organização. Destacam-se como
pontos com menor índice de satisfação dos associados: flexibilidade e rapidez em atender
pedidos não programados, ações de preservação ao meio ambiente, reposição de perdas e
serviços do departamento técnico e financeiro.

Palavras-chave: Cooperativa agrícola. Competitividade. Satisfação dos associados.

*
Bacharel em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial pela Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul. Licenciada em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial pela Universidade
Federal de Santa Maria. Mestre e doutora em Dinâmicas Econômicas e Organizacionais na Agri-
cultura pela Universidade Federal de Santa Maria. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em
Economia Agroindustrial e do Grupo de Estudos Referentes ao Agronegócio. Professora efetiva do
Instituto Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: raquel.breitenbach@sertao.ifrs.edu.br
**
Engenheira agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestre e doutora em Extensão
Rural pela Universidade de Santa Maria. Professora adjunta III do Departamento de Educação Agrí-
cola e Extensão Rural e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade de
Santa Maria. E-mail: janainabalkbrandao@hotmail.com
***
Tecnólogo em agronegócio pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul, campus Sertão. Supervisor
Comercial da Cooperativa Agrícola Água Santa. E-mail: engenhogrande@coasars.com.br

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6833

Submissão: 24/11/2015. Aceite: 21/09/2016.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 352-368, jul./dez. 2016

352
1 Introdução
O cooperativismo é uma forma de associação na qual a sociedade se organiza em
sistema de ajuda mútua para resolver diversos problemas relacionados ao dia a dia.
De acordo com a Política Nacional de Cooperativismo, definida pela Lei nº 5.764/1971,
art. 3º, compartilham do contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciproca-
mente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade
econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro (BRASIL, 1971).
O ano de 2012 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas como o Ano
Internacional das Cooperativas, aumentando o conhecimento da sociedade sobre
essa forma de organização econômica e social, além de divulgar seu papel no de-
senvolvimento mundial, por meio da geração de renda e emprego. De acordo com
a Aliança Cooperativa Internacional, em todo o mundo há, aproximadamente,
um bilhão de pessoas que faz parte de cooperativas, dentre os ramos de atuação
das cooperativas, um dos que reúne maior número de membros é o agropecuário
(ALIANÇA COOPERATIVA INTERNACIONAL, 2011). No mundo, há cerca de um
bilhão de pessoas que estão vinculadas uma cooperativa (ORGANIZAÇÃO DAS
COOPERATIVAS DO BRASIL, 2014). No Brasil, cerca de 46 milhões de pessoas
beneficiam-se de alguma forma com o cooperativismo, sendo que 11,5 milhões estão
ligadas diretamente a uma das mais de 6,5 mil cooperativas que atuam em trezes
ramos diferentes, envolvendo cerca de 340 mil profissionais (ORGANIZAÇÃO DAS
COOPERATIVAS DO BRASIL, 2014). Em relação ao comércio exterior, as expor-
tações brasileiras, em 2014, por intermédio das cooperativas, foram de 5,3 bilhões
de reais. O número de cooperados entre 2004 e 2013 cresceu 87,9% e o de empregos
83% (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO BRASIL, 2014).
Mas, para Valadares ([201-?]), as evidências mostram que a sobrevivência
das cooperativas no sistema econômico concorrencial capitalista requer sua inte-
gração às regras impostas pelo sistema. Essa integração provoca um conjunto de
modificações na forma organizacional das cooperativas pela incessante busca da
racionalidade e da eficiência econômica. Assim, o autor destaca que a ação das
cooperativas diante da exigências econômicas e sociais do mundo moderno passa
necessariamente pela busca de novos modelos de gestão, na tentativa de ajustar
suas estruturas à realidade.

As cooperativas se vêem forçadas à evolução, assim como as demais organizações, no que


diz respeito às suas atividades, à interface tecnológica, à gestão, à complexidade da estru-
tura organizacional, e no que diz respeito aos relacionamentos com pessoas e instituições
([201-?], p. 55).

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353
Dessa forma, observa-se que as cooperativas assumem uma atuação mais
agressiva nos mercados finais, por força dos altos níveis de competitividade exigi-
dos pelos novos mercados, deixando de lado a passividade dos modelos de gestão
utilizados nas décadas anteriores (VALADARES, [201-?]).
No que diz respeito à gestão, nas cooperativas mais simples, prevalece o prin-
cípio da autogestão, na qual os próprios cooperados eleitos como dirigentes exercem
a administração. Porém, nas cooperativas de maior complexidade administrativa e
que atuam em mercados e atividades mais dinâmicas, a gestão passou a requerer
maior grau de profissionalização e, portanto, de investimento na qualificação de
seus associados-administradores e na contratação de profissionais no mercado de
trabalho (VALADARES, [201-?]). Assim, destaca-se que na busca por esse novo mo-
delo de gestão, as experiências atuais demonstram que é necessária uma reflexão
inicial para que a cooperativa posicione-se em relação à sua missão, ao seu negó-
cio, aos seus objetivos e às suas metas. E que faça tal reflexão por meio da análise
da cadeia de valor de seu processo produtivo, detectando falhas e excelências e
analisando as ameaças e oportunidades do ambiente externo no qual se insere.
Dessa busca, já iniciada por algumas cooperativas brasileiras, alguns fatores con-
siderados chave no sucesso já foram identificados e atualmente direcionam a ação
de várias delas. O Quadro 1 apresenta sinteticamente os fatores considerados por
Valadares ([201-?]).

Quadro 1 – Síntese dos fatores determinantes para o sucesso das cooperativas


Fatores-chave
Formas de operacionalização
para o sucesso
Direcionar esforços para a gestão da qualidade, implementação de sistemas
de informação gerencial e para a mudança do padrão cultural; simplificar e
agilizar o processo administrativo, enxugar a estrutura e aumentar a produti-
Profissionaliza- vidade; manter o máximo de transparência administrativa nas decisões, bem
ção da gestão como periodicamente estabelecer prioridades e metas de trabalho e avaliar a
situação empresarial; planos de desenvolvimento empresarial elaborados com
técnicas de planejamento estratégico intensificam o processo de profissionali-
zação da gestão e a modernização do aparato administrativo.
Não antecipar dinheiro de financiamento a cooperado; não conceder crédito
além da capacidade de endividamento do cooperado; cobrar em dia as dívidas
dos associados; subscrever e integralizar novas cotas-parte de capital; excluir
cooperados que se beneficiam da cooperativa, mas que não mantêm fidelida-
Financiamento de a ela.
das atividades Equacionar a distribuição de lucros e benefícios ao cooperado e capitalizar a
empresa; criar e disseminar mecanismos de preços que valorizem a escala de
produção de produtos ou de serviços, a qualidade do produto ou do serviço e
a regularidade da oferta; também, conscientizar o cooperado de que é funda-
mental investir para a cooperativa crescer.

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354
cont.
A modernização e o progresso tecnológico das cooperativas baseiam-se na in-
formação, no valor do conhecimento, na importância da qualidade e da diferen-
ciação de produtos e serviços no mercado concorrencial. Nesse cenário voltar
atenções para a pessoa que produz o produto ou serviço é o passo número
Tecnologia e um. É do sucesso das unidades produtivas individuais que depende o sucesso
produtividade das cooperativas. A produtividade e a modernização tecnológica devem ser
buscadas em toda a cadeia de valor. Caberá às cooperativas liderar a criação
e a implantação de mecanismos que incentivem a especialização dos coopera-
dos, como o pagamento diferenciado que força a melhoria dos índices técnicos
de produção de serviços médicos e o nível de qualidade desse serviço.
Geração de um quadro de associados mais compromissado com as ativida-
des e decisões da cooperativa. Garantir o comprometimento dos produtores
com as decisões da direção da cooperativa e, consequentemente, propiciar
um maior nível de investimentos dos cooperados. Em decorrência, as coope-
rativas terão condições de atuar de forma mais agressiva nos mercados de
produtos e serviços nos quais têm participação.
Organização
Com a crescente profissionalização de seu quadro diretivo e o maior compro-
empresarial
metimento do seu quadro social, por meio da fidelidade, acompanhamento e
monitoramento das decisões da direção, há a evolução de um modelo de-
fensivo de organização para um modelo que possibilite assumir uma atitude
ofensiva com relação aos mercados, profissionalizando suas atividades e au-
mentando o comprometimento de seus cooperados com os destinos traçados
para a empresa.
A pesquisa de mercado, o marketing e a publicidade passam a ser funda-
mentais para a empresa moderna e cabe à cooperativa conscientizar todos
os associados para tal exigência. As expectativas do consumidor quanto aos
produtos e serviços são muitas e a tendência é que sejam cada vez mais acu-
Enfoque no
radas. Com vistas a garantir sua produtividade e competitividade no mercado,
cliente
as cooperativas precisam administrar o vasto deserto tecnológico que as ca-
racteriza – com relação ao padrão tecnológico do cooperado, aos modelos de
gestão e às estratégias de integração regional – e desempenhar papéis que
lhes permitam especializar-se e alcançar níveis de competitividade.
Fonte: elaborado pelos autores com base em Valadares ([201-?]).

A busca pela eficiência na gestão pode ser verificada em evidências empíricas.


Exemplos disso são as iniciativas premiadas pela Organização das Cooperativas
Brasileiras, que, em 2014, premiou três cooperativas que apresentam iniciativas
inovadoras de gestão, incluindo a categoria Fidelização. Esse ranking visa premiar
práticas e projetos elaborados com a meta de aproximar o cooperado e aumentar sua
participação no cotidiano da cooperativa, que lhe permite contar com um quadro
social fidelizado, comprometido com o crescimento da instituição (ORGANIZAÇÃO
DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2014). Das três cooperativas, duas eram de
produção, o primeiro lugar ficou com a COOPATOS, do município Patos de Minas
(MG), devido à Semana Coopatos, e o terceiro lugar com a C.VALE, de Palotina (PR).

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355
Os dirigentes da COOPATOS, criada em 1957, explicam que o projeto surgiu
com a constatação de que era necessário redirecionar as ações para aumentar a
competitividade na oferta de produtos e serviços aos cooperados. Para que hou-
vesse o sucesso do projeto, deveria haver a mudança de aspectos culturais, pois
a cooperativa estava levando à região um tipo de negócio inovador, que poderia
encontrar certa resistência da comunidade (GLOBO RURAL, 2014).
Desde a primeira edição, a Semana Coopatos revelou-se um evento de grande
importância não só para os seus cooperados como para todos da região de abran-
gência da cooperativa. Em sua programação, havia atividades como palestras téc-
nicas, exposição de fornecedores, torneios de produtividade, leilões de animais,
shows e várias ações de âmbito cooperativista. O evento é realizado em parceria
com expositores, patrocinadores e apoiadores institucionais. Em 2014, a cooperati-
va investiu R$ 150 mil em recursos próprios e contou com aporte de R$ 586,5 mil de
parceiros do projeto (COOPATOS, 2015). Os dirigentes observam que a diversidade
de eventos resultou na maior participação de cooperados, que inicialmente eram
225 e passaram a 1.800.
O projeto Cooperativismo do Futuro, desenvolvido pela C.VALE, de Palotina
(PR), foi o terceiro colocado na categoria fidelização. O objetivo do projeto é estrei-
tar os laços com as novas gerações de associados e suas famílias. Os dirigentes da
C.Vale destacam que a campanha despertou os jovens para a importância da atua-
ção da cooperativa na estruturação dos negócios da família. Segundo os dirigentes,
em pouco tempo, os jovens perceberam o papel da C.Vale, quando a cooperativa
fornece apoio técnico, facilita o acesso ao crédito e, assim, melhora as condições de
compra de insumos e de escoamento da produção (C.VALE, 2014).
Pondera-se que a existência e manutenção das cooperativas dependem do seu
vínculo com os associados, que são os responsáveis pela gestão dos negócios. Por-
tanto, a participação e a atuação direta fortalecem a cooperativa, já que deter-
minam os rumos a serem seguidos pelo negócio (PIVOTO, 2013). Nesse contexto,
destaca-se que com a fidelidade dos associados é possível o planejamento sustenta-
do e o crescimento da cooperativa, já que associados comprometidos, participativos
e fiéis são fatores fundamentais para a segurança dos negócios da cooperativa,
interligados, é claro, a uma gestão eficiente.
Pivoto (2013) considera que o cooperativismo agropecuário no Rio Grande do
Sul passa por um período de reestruturação e que muitas cooperativas agropecu-
árias passam por crises financeiras, algumas até estão em processo de liquidação.
O autor alerta, ainda, que o cenário atual exige uma análise do cooperativismo
agropecuário no estado, buscando identificar e resolver os problemas.

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Nesse contexto, o intuito deste trabalho é analisar o nível de satisfação dos
associados quanto aos condicionantes de competitividade de uma importante co-
operativa agrícola do Norte do estado do Rio Grande do Sul, compreendendo a
percepção dos associados em relação à gestão da cooperativa, verificando suas po-
líticas de atuação e os sistemas de fidelização do associado.

2 Material e métodos
A cooperativa agrícola estudada, doravante denominada Cooperativa Agrícola X
está localizada na cidade de Água Santa, no Rio Grande do Sul, com um quadro de
associados composto por 77% de agricultores familiares. A Cooperativa Agrícola X
atende seus associados em filiais distribuídas em boa parte da Região Norte do Rio
Grande do Sul, desse modo os agricultores de outros municípios também podem
se beneficiar com os serviços prestados. Cada filial mantém uma equipe com pro-
fissionais da área técnica para atender e colaborar com os associados para que o
associado possa produzir melhor, com mais eficiência e de maneira correta.
A Tabela 1 mostra onde estão localizadas as filiais e o número de associados
que participaram da pesquisa, que contemplou todos os municípios da região de
atuação da Cooperativa Agrícola X.

Tabela 1 – Localização dos agricultores participantes da pesquisa


Município Entrevistados (%)
Santa Cecília 7,73%
Mato Castelhano 22,71%
Tapejara 1,45%
Gentil 1,93%
Água Santa 32,61%
Ciríaco 13,29%
Coxilha 0,96%
Vila Lângaro 13,04%
Lagoa Vermelha 0,97%
Caseiros 3,86%
David Canabarro 1,45%
Total 100,00%
Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

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357
Portanto, para identificar o nível de satisfação dos associados quanto aos di-
versos fatores envolvendo os serviços prestados pela cooperativa, este estudo de
caso levou em consideração os seguintes aspectos: preços de produtos comercializa-
dos pelos concorrentes, preços dos produtos agrícolas comercializados, tecnologia
dos produtos, condições de pagamento, pós–venda, parceria associado e cooperati-
va, prazo de entrega, localização, qualidade do produto, imagem da cooperativa, ca-
pacidade dos funcionários, capacitações para associados, flexibilidade dos pedidos,
preservação ambiental, responsabilidade social, ofertas e ações nos produtos, re-
posição de perdas, comunicação, mix de produtos, atendimento no balcão e vendas,
assistência técnica, atendimento financeiro, informação na aquisição de produtos,
participação nas decisões e ações.
Para o levantamento dos dados empíricos foi utilizado um instrumento de
coleta de dados, na forma de questionário, aplicado em uma amostra de 414 as-
sociados, sobre uma população de 2.187 sócios da cooperativa em estudo. Para a
definição da amostra foi utilizada a fórmula:

(1)

O valor definido como erro amostral foi de 5%, com nível de confiança de 95%.
A amostra foi aleatória, já que os primeiros associados que foram até a sede da
cooperativa foram respondendo o questionário. Para a amostra foi considerada a
representatividade das regiões de atuação da cooperativa, ou seja, todas as filiais
tiveram associados respondentes de forma proporcional.
O questionário fechado aplicado contemplava questões de múltipla escolha,
cujas respostas eram definidas em alternativas previamente estabelecidas. No
caso específico da pesquisa, as alternativas corresponderam às seguintes opções:
1 – totalmente insatisfeito; 2 – Insatisfeito; 3 – Razoavelmente satisfeito; 4 – Sa-
tisfeito; 5 – Totalmente satisfeito.
Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados em planilha Ex-
cel e tratados estatisticamente pelo programa estatístico SPSS (Statistical Packa-
ge for the Social Sciences). As análises realizadas foram univariada e bivariada.

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358
3 Resultados e discussão
3.1 Políticas de comercialização da cooperativa
Verifica-se que existem algumas políticas adotadas pela Cooperativa Agrícola
X cujo intuito é beneficiar (fidelizar) o associado. Nesse sentido, cita-se a devolução
de parte das sobras líquidas de cada ano, proporcional ao seu movimento de com-
pra e venda da safra, sendo que o valor lhe é creditado na forma de cota capital.
Outra forma relevante de atuação refere-se à diferenciação de preço pago
ao associado, pois a cooperativa oferece preço superior ao praticado no mercado,
incentivando o agricultor a entregar seu produto para a Cooperativa Agrícola X.
Constatou-se também a existência de contratos de garantia de preço, tratando de
preço futuro, garantindo ao associado o valor no momento da colheita. Assim, por
meio desse contrato, o agricultor fica assegurado e a cooperativa repassa o serviço
para corretoras ou mesmo para esmagadoras de grãos.
Por outro lado, existe o acompanhamento técnico fornecido pela cooperativa
aos estabelecimentos de seus associados, como o planejamento de projetos de plan-
tio (investimentos e custeio de lavouras), realizado por uma equipe de técnicos
especializados em atender a todas as demandas dos associados e clientes.

3.2 Análise de satisfação dos associados da Cooperativa


Agrícola X
Esta seção apresenta os resultados do nível de satisfação dos associados
da Cooperativa Agrícola X. Para tanto, é dividida em duas etapas: na primeira,
apresenta-se a análise univariada dos resultados, ou seja, discute-se cada um dos
itens considerados no levantamento da satisfação, apresentando o percentual de
associados totalmente insatisfeitos, insatisfeitos, mediamente satisfeitos, satis-
feitos e totalmente satisfeitos. Além disso, discute-se alguns fatores que podem
ser os responsáveis por essa satisfação, ou não, dos associados. Na segunda parte,
são apresentadas as análises bivariadas realizadas com base no Programa SPSS,
quando foi feito o cruzamento de localização dos associados com todas as varáveis
no intuito de identificar se havia diferença no nível de satisfação dos associados em
diferentes filiais.

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359
3.2.1 Análise geral da satisfação dos associados da Cooperativa
Agrícola X em relação a critérios de vantagem competitiva

As oito condicionantes ponderadas demonstram o percentual de associados


em cada um dos níveis de satisfação pré-estabelecidos para a pesquisa nos oito
primeiros condicionantes analisados (Tabela 2). Observa-se que o nível de satisfa-
ção dos associados, em sua maioria, ficou de medianamente satisfeito a totalmente
satisfeito. Porém, em duas questões, obteve-se a opção Insatisfação apontada por
alguns associados, esses são aspectos que precisam ser revistos e melhorados (Tec-
nologia dos produtos comercializados e Condições de pagamento).

Tabela 2 – Análise de satisfação dos associados da Cooperativa Agrícola X, parte 1

Totalmente Medianamente Totalmente


Nível de satisfação Insatisfeito Satisfeito
insatisfeito satisfeito satisfeito

Produtos comercializados pela cooperati-


 0 0  18,4 62,3 19,3
va (em reais)

e Produtos comercializados para a coo-


 0  0 20,8 58,9 20,3
perativa (em reais)

Tecnologia dos produtos comercializados


 0 1 7,7 72,9 18,4
pela cooperativa (em reais)

Condições de pagamento na compra de


0,2 1 7,2 54,8 36,2
produtos

Condições de pagamento da venda da


 0  0 12,3 50,2 37
produção

Assistência pós-venda  0  0 16,4 58 25,4

Parceria associado 0  0  10,1 49,8 40,1

Prazo de entrega dos produtos adquiridos 0,2 0,2 13,8 46,9 38,9

Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

A Tabela 3 apresenta os principais fatores correlacionados que ocasionam a


satisfação e, principalmente, a insatisfação dos condicionantes analisados a fim
de identificar a realidade analisada sob cada aspecto competitivo contemplado na
pesquisa.

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360
Tabela 3 – Grupo 1 de condicionantes de competitividade da Cooperativa Agrícola X, opção Satisfação

Condicionantes de
Considerações acerca da satisfação dos associados
competitividade

A questão acerca dos preços foi apontada como de satisfação razoável por
Os preços dos produtos co-
18,4% dos associados, o que pode ser explicado pelo fato de a área de atua-
mercializados pela Coopera-
ção da cooperativa ter várias empresas ofertantes de insumos. Concorrentes
tiva Agrícola X comparados
entram nessa área com muita agressividade para buscar o mercado que tem
com os da concorrência
potencial. Dessa forma, nem sempre é possível ser líder em preços baixos.

Os preços dos produtos agrí- A cooperativa trabalha com preços diferenciados para associados, principal-
colas comercializados para a mente os que têm carta de aptidão ao Pronaf. Dessa forma, o nível de satis-
Cooperativa Agrícola X com- fação apresentado na pesquisa foi de 20,8% de associados razoavelmente
parados com a concorrência satisfeitos, 58,9% satisfeitos e 20,3% totalmente satisfeitos.

Tecnologia dos produtos A cooperativa mantém boa tecnologia nos produtos oferecidos a seus as-
(embalagem, aparência) co- sociados, tanto que 72,9% mostraram-se satisfeitos. Por outro lado, 7,7%
mercializados para a Coope- consideraram que estão razoavelmente satisfeitos, explicado pelo fato de
rativa Agrícola X comparados algumas unidades da Cooperativa Agrícola X ter depósitos com espaço limi-
com a concorrência tado o que, muitas vezes, compromete a aparência do produto.

Devido a reformulações no setor financeiro da cooperativa, que ficou mais


Condições de pagamento rigoroso, as exigências e os prazos são analisados caso a caso e pode ser
(parcelamento, prazos, etc.) por isso que muitos associados estão insatisfeitos ou razoavelmente satisfei-
na compra de produtos tos. Porém, esse procedimento foi adotado para diminuir a inadimplência na
cooperativa, e já apresenta bons resultados.

Condições de pagamento Ainda existe insatisfação de alguns associados quanto a esse fator, que pode
(parcelamento, prazos, etc.) ser explicado em alguns casos, pois o pagamento leva de dez a quinze dias
na comercialização da pro- para ser efetuado, no caso do milho e do trigo. Desse modo, sempre poderá
dução haver associados não totalmente satisfeitos, que desejam o pagamento à vista.

A análise apontou que o serviço pós-venda está passando por problemas,


apenas 25% dos associados estão totalmente satisfeitos. Isso mostra que
A frequência e a qualidade da não está se fazendo o acompanhamento após a conclusão dos negócios.
assistência pós-venda Esse aspecto está sendo trabalhado pela equipe técnica da cooperativa,
para que possa ser corrigido e o associado tenha assistência personalizada
e programada.

A parceria associado e cooperativa cresce anualmente e o acumulado de to-


Parceria entre associado e a
talmente satisfeitos ou satisfeitos demonstra que 90% dos associados estão
cooperativa
satisfeitos com a forma de trabalho da cooperativa.

O prazo de entrega é um fator que não depende somente da cooperativa,


já que muitas vezes depende de terceiros para a entrega dos produtos que
Prazo de entrega dos produ-
a cooperativa irá repassar para os associados. Essa dificuldade de controle
tos adquiridos na cooperativa
com outras empresas faz com que exista um índice de insatisfação dos só-
cios, por haver demora em alguns casos.

Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

Na Tabela 4, apresenta-se um segundo conjunto de condicionantes de competi-


tividade, também analisados sob o aspecto da satisfação dos associados. As questões
que tiveram destaque devido ao índice de insatisfação explicam-se especialmente

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devido à distância das unidades de atendimento da sede da cooperativa ou por fa-
tores como mais concorrentes diretos, que fazem com que o associado tenha mais
oportunidades de negociação. Dessa forma, percebe-se que o concorrente pode ter
alguma vantagem competitiva.

Tabela 4 – Análise de satisfação dos associados da Cooperativa Agrícola X, parte 2


Totalmente Medianamente Totalmente
Nível de satisfação Insatisfeito Satisfeito
insatisfeito satisfeito satisfeito

Localização Cooperativa Agrícola X 0,5 0,7 12,6 39,6 45,7

Garantia do produto  0  0 6,5 56,3 37,2

Imagem da Cooperativa Agrícola X  0  0 13,5 51,9 34,3

Capacitação dos funcionários  0 0  5,8 72,9 21,3

Capacitações para associados 0  0  16,9 69,6 13,5

Pedidos não programados 0  0  31,4 53,6 14,7

Preservação ambiental 0  0,2 29,7 61,6 7,5

Responsabilidade social  0 0,2 11,8 59,4 27,8


Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

A seguir, na Tabela 5, são descritos os itens contemplados pela Tabela 4 no


que se refere aos motivadores de satisfação quanto aos condicionantes analisados.

Tabela 5 – Grupo 2 de condicionantes de competitividade da Cooperativa Agrícola X e considerações


acerca da satisfação dos associados
Condicionantes de
Considerações acerca da satisfação dos associados
competitividade
A cooperativa buscou fixar-se em locais estratégicos, em que não houvesse
tanta concorrência, e acabou ficando distante de alguns associados, depen-
dendo da região em que eles residem. Destaca-se ainda que alguns asso-
Localização da cooperativa
ciados são de localidades e municípios onde já existem outras cooperativas
estabelecidas e a Cooperativa Agrícola X procura não se estabelecer nessas
áreas, o que pode não ser bem compreendido pelos associados.
Garantia do produto entregue
Esse item teve alto índice de satisfação, demonstrando que a cooperativa
conforme as especificações
consegue cumprir com o estabelecido.
(padrão/ qualidade)
A marca da Cooperativa Agrícola X ainda precisa ser fortalecida, já que a
A marca ou nome da coope- pesquisa mostrou que 51,9% dos associados estão satisfeitos e 13,5% ra-
rativa (imagem) zoavelmente satisfeitos. Isso demonstra que até então não houve um traba-
lho que fortalecesse a marca ou o nome.
Este índice aponta um nível bastante elevado de satisfeitos, o que mostra
A capacitação dos seus fun-
que a cooperativa esforça-se para capacitar seus funcionários, incentivando
cionários
a participação em cursos de graduações e pós-graduação.

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362
cont.
A cooperativa proporciona aos sócios muitos cursos de formação e trabalha
As capacitações ofertadas o lado humano e a relação com os associados, programando palestras entre
aos associados os casais nas comunidades. Esse fator está sendo trabalhado com mais in-
tensidade nos últimos anos.
Este quesito apresenta o índice de satisfação. Segundo informações obtidas
Resposta rápida a pedidos na cooperativa, alguns associados deixam para a última hora a tomada de
não programados (flexibilida- decisão, o que é ruim para cooperativa, que nem sempre consegue atender
de/rapidez) às solicitações com rapidez. A cooperativa trabalha com vendas antecipadas
e estoque mínimo, isso dificulta o atendimento de pedidos de última hora.
A cooperativa não trabalhava este quesito, embora, no último ano, tenha ade-
Ações de preservação am-
rido a várias campanhas e, por isso, muitos associados ainda não se sentem
biental
satisfeitos, talvez por não ter acesso às campanhas realizadas.
Na pergunta sobre a responsabilidade social não foi possível identificar as
Responsabilidade social da
causas de insatisfação, é necessário aprofundar a pesquisa para identificar
cooperativa
com exatidão os motivos.
Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

Na Tabela 6 evidencia-se a insatisfação em relação a alguns pontos, mostran-


do que a cooperativa precisa tomar algumas medidas para ajustar fatores, como a
reposição de perdas, o mix de produtos, o atendimento no balcão e a participação
nas decisões. Mas a opção Satisfeito, que prevaleceu em todas as questões, deixou
evidente que a organização atende às expectativas dos agricultores de um modo ge-
ral, embora ajustes tenham de ser feitos em alguns aspectos para que a cooperativa
tenha ainda mais participação no mercado em que atua.

Tabela 6 – Análise de satisfação dos associados da Cooperativa Agrícola X, parte 3


Totalmente Medianamente Totalmente
Nível de satisfação Insatisfeito Satisfeito
insatisfeito satisfeito satisfeito
Promoções 0 0 14,7 66,7 18,1
Reposição de perdas 0 1,7 18,1 61,1 18,6
Facilidade de comunicação 0 0,7 21,3 61,8 15
Mix de produtos 0 2,2 16,7 48,1 32,1
Atendimento do balcão/vendas 0 0,5 6,5 53,4 39,1
Assistência técnica 0 0 8 65,5 26,3
Atendimento setor financeiro 0 0 27,1 53,4 19,6
Informação produtos adquiridos 0 0 7,5 68,8 23,7
Participação nas decisões 0,2 1,2 33,8 50,5 14,3
Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

A seguir, na Tabela 7, são explanadas as questões relativas aos condicionantes


de competitividade da Cooperativa Agrícola X e as devidas considerações acerca da
satisfação dos associados.

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363
Tabela 7 – Grupo 1 de condicionantes de competitividade da Cooperativa Agrícola X e considerações
acerca da satisfação dos associados
Condicionantes de
Considerações acerca da satisfação dos associados
competitividade
Observou-se que 14% dos associados não estão satisfeitos com as promo-
Oferta de ações promocionais nas
ções realizadas pela organização, ou seja, a cooperativa não está competi-
diversas categorias de produtos
tiva no que se refere a esse item.
A questão mostrou percentual de satisfação bem elevado, mas ainda apresen-
Reposição de perdas (produtos
ta índice de insatisfeitos e de medianamente satisfeitos. O mercado em que a
estragados, avariados, irregula-
cooperativa atua tem muitos fornecedores e, por isso, fica dependente de ter-
res)
ceiros, assim nem sempre é possível fazer da forma que o associado gostaria.
O que se destacou na pesquisa é a difícil comunicação com a equipe técni-
Facilidade de comunicação com
ca, pois muitos associados reclamam dos telefones que nunca estão dispo-
a cooperativa
níveis. A cooperativa está procurando melhorar as linhas telefônicas.
O que pode justificar a insatisfação de muitos nesse item é o fato de prefe-
rirem marcas comerciais ou produtos com os quais a cooperativa não tra-
Mix de produtos
balha. Por outro lado, a cooperativa busca satisfazer os clientes com linhas
destaque no mercado.
O atendimento ao balcão varia com base nas unidades. Muitas vezes, o
Atendimento do balcão/vendas associado quer mais tempo e algumas filiais dispõem de pouco pessoal, que
precisa ser ágil, o que pode deixar o associado insatisfeito.
A Cooperativa Agrícola X investe em assistência técnica personalizada
para os associados, que mostra um resultado satisfatório, já que a pesquisa
Assistência técnica
apontou 65,5% dos associados como satisfeitos. A cooperativa continua in-
vestindo nesse item, considerando as possibilidades de melhoria.
O setor financeiro apontou um índice médio de satisfação devido a muitos
Atendimento do setor financeiro
fatores difíceis de explicar sem um aprofundamento de pesquisa.
Disponibilidade de informação As informações acerca dos produtos da cooperativa são disponibilizadas de
sobre os produtos adquiridos modo que o associado tenha amplo conhecimento sobre o que está adquirindo.
Nem todas as decisões na cooperativa podem passar por todos do quadro de as-
Participação nas decisões e sociados, por haver a necessidade de agilidade, com isso cria-se a insatisfação.
ações da Cooperativa Agrícola X Porém, a cooperativa sempre toma as decisões com os integrantes do conselho
fiscal e da direção reunidos, que são os representantes imediatos nas decisões.
Fonte: elaboração dos autores com base da pesquisa.

3.2.2 Análise da satisfação dos associados da Cooperativa Agrícola


X em relação às particularidades de localização

A análise bivariada realizada contemplou o cruzamento de localização dos as-


sociados com todas as variáveis analisadas. Essa análise não demonstrou haver,
necessariamente, correlação entre as variáveis. Entretanto, dá-se destaque para
os resultados das análises que apresentaram maiores diferenças entre as localiza-
ções/unidades da Cooperativa Agrícola X.
Destaca-se que Mato Castelhano apresentou um percentual de associados to-
talmente insatisfeito ou pouco satisfeitos com a localização da cooperativa. Isso

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 352-368, jul./dez. 2016

364
porque as unidades ficam distante 13 km do município. Os associados apontam a
necessidade de ter uma unidade mais próxima, para que possam ser atendidos de
melhor forma. Em Vila Lângaro, a pesquisa apontou insatisfação também, já que
a unidade mais próxima a esse município está localizada a uma distância mínima
de aproximadamente de 12 km.
No que se refere aos preços dos produtos agrícolas comercializados pela Coope-
rativa Agrícola X para os agricultores, o município de Caseiros ficou em destaque
com um percentual elevado de media satisfação, com 43,8% dos entrevistados. A
explicação para a insatisfação é pelo fato de a concorrência entre empresas que
comercializam insumos ser maior nesse município, comparativamente aos demais.
Acerca dos preços dos produtos agrícolas comercializados pelos agricultores
para a cooperativa, observa-se que os associados de Tapejara e de Caseiros estão
mediamente satisfeitos, o que se deve ao fato de que nessas cidades há um índice de
concorrência entre empresas compradoras mais elevado, se comparado a outras ci-
dades. Já a satisfação dos associados acerca da qualidade pós-venda da Cooperativa
Agrícola X, os números apontam para um índice médio de satisfação para municí-
pios de Coxilha e Caseiros. Acredita-se que o motivo para isso é que a assistência da
cooperativa está mais distante dessas cidades, comparativamente às demais, e, com
isso, há dificuldade em se fazer um trabalho mais próximo aos associados. Destaca-
-se, portanto, a necessidade de que a equipe técnica e os vendedores dediquem mais
atenção para os associados dessas regiões, que demonstraram maior insatisfação.
A correlação entre localização e satisfação quanto à disposição de informações
pela cooperativa para seus associados apontou média de satisfação elevada, exceto
em dois municípios, pelo fato de os associados de Coxilha estarem mais distantes da
cooperativa e não acompanharem de perto as informações. Já no município de Tape-
jara, o motivo pode ser por que existe outra cooperativa competitiva e, sendo assim,
os associados geralmente participam de ambas e comparam o acesso à informação.
Finalmente, correlaciona-se a localização dos associados com satisfação quan-
to à sua participação nas ações da Cooperativa Agrícola X. Ficou claro que o muni-
cípio de David Canabarro apresenta 100% de associados medianamente satisfeitos,
isso se deve à forma de atuação da cooperativa, que tem conselheiros e líderes das
comunidades em que está estabelecida. Dessa forma, são definidas as lideranças
por voto nas reuniões e no município de David Canabarro a unidade ainda não
está pronta e, provavelmente por isso, tem menor participação. Já no município
de Tapejara, que também apresenta alto percentual de associados medianamente
satisfeitos, por que a cooperativa tem unidade de recebimento somente na safra e
os associados dessa região tem menor participação nas atividades de cooperativa.
Portanto, a pesquisa também demonstrou que há ainda um trabalho de cam-
po a ser desenvolvido, com ações e decisões que poderão contribuir para melhorar

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 352-368, jul./dez. 2016

365
a visão do associado em relação à cooperativa, já que falhas na satisfação foram
apontadas no resultado da pesquisa. Essas falhas dizem respeito, especialmente, à
flexibilidade e rapidez em atender pedidos não programados, às ações de preserva-
ção ao meio ambiente e reposição de perdas.
É importante lembrar que algumas comunidades dentro desses municípios
estão mais distantes de unidades da cooperativa, o que dificulta o trabalho nos que-
sitos apresentados. Por fim, alerta-se que esses condicionantes de competitividade
precisam ser revistos com os associados para que eles apontem quais as melhores
formas para aprimorá-los.

4 Conclusão
O objetivo da pesquisa era avaliar os índices de satisfação dos associados quan-
to aos serviços prestados pela cooperativa bem como compreender a percepção dos
associados em relação à gestão, verificando suas políticas de atuação e os sistemas
de fidelização em relação ao associado. Conclui-se que, de modo geral, o resultado
foi satisfatório do ponto de vista das vantagens competitivas da organização e das
ações de fidelização dos associados. Afirma-se isso já que para a maioria dos con-
dicionantes de competitividade analisados, os associados mostraram-se satisfeitos.
A pesquisa permite ainda, ao apontar os condicionantes de competitividade
que estão sendo mal trabalhados pela cooperativa, indicar em quais pontos a coope-
rativa em estudo necessita agir para aumentar a fidelidade dos clientes e melhorar
suas vantagens competitivas em relação a outras organizações. Destacam-se como
critérios de ação urgente os itens avaliados com baixo índice de satisfação, especial-
mente, os que dependem diretamente da ação dos dirigentes da cooperativa.
Os critérios com maior nível de insatisfação foram: atendimento no setor finan-
ceiro, participação dos associados nas decisões da cooperativa, resposta a pedidos
não programados, ações de preservação ambiental. Também com nível importante
de insatisfação, mas menor se comparado aos itens mencionados anteriormente,
destacam-se: preço dos produtos comercializados pela cooperativa, preço pago pe-
los produtos vendidos pelos associados para a cooperativa, atendimento pós-venda
e prazo de entrega dos produtos.
A organização que objetiva melhorar sua competitividade de mercado utiliza-se
de pesquisas como esta para identificar os pontos críticos de ação. Como observado,
a presente cooperativa tem como fator essencial de competitividade a satisfação do
grupo de associados. Por outro lado, os associados visualizam a Cooperativa Agrícola
X, em muitos casos, como mais uma opção de empresa para efetuar transações de
compra e venda de produtos e/ou de prestação de serviços. Nesse sentido, a competiti-
vidade necessita estar em alta, comparativamente a essas empresas do setor.

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366
Management challenges of cooperative:
versus loyalty competitiveness

Abstract
The aim of this study was to analyze the level of satisfaction of members about the
Agricultural Cooperative X competitiveness constraints as well as to understand the
perception of members in relation to the cooperative management by checking the
performance of policies the same and systems loyalty by the member. A survey was
conducted which involved interviews with a sample of 414 members. As a result, there
is a good level of satisfaction of members about the services and products offered by the
organization. It stands out as points with lower rates of satisfaction of members: flexibility
and speed in meeting requests unscheduled; actions to preserve the environment;
replacement losses and services of technical and financial department.

Keywords: Agricultural cooperative. Competitiveness. Satisfaction of members.

Retos de gestión de cooperativa:


lealtad versus competitividad

Resumen
El objetivo de este estudio fue analizar el nivel de satisfacción de los miembros sobre
las condiciones de competencia de la Cooperativa Agrícola X, así como para entender
la percepción de los miembros con respecto a la gestión cooperativa, comprobando las
mismas políticas y sistemas de acción la lealtad por el miembro. La investigación involucró
entrevistas con una muestra de 414 miembros. Como resultado, hay un buen nivel de
satisfacción de los miembros acerca de los servicios y productos ofrecidos por la organización.
Se destaca como puntos con menores índices de satisfacción de los miembros: flexibilidad
y velocidad en las convocatorias de reunión no programada; acciones para preservar el
medio ambiente; pérdidas de recambio y servicios de oficina técnica y financiera.

Palabras clave: Cooperativa agrícola. Competitividad. Satisfacción de los miembros.

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Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 352-368, jul./dez. 2016

368
Os riscos da financeirização do
microcrédito
Luccas Assis Attílio*
Resumo
As políticas de liberalização financeira das décadas de 1970 e 1980 fizeram com que as
finanças ganhassem proeminência no funcionamento de várias economias. Como um coro-
lário, o fenômeno da financeirização emergiu e é marca do capitalismo contemporâneo.
Todavia, a financeirização incorporou o microcrédito, instrumento que ganhou notoriedade
na década de 1980 no combate à pobreza. Esse artigo é uma revisão da literatura que
aponta riscos da entrada do microcrédito na lógica da financeirização.

Palavras-chave: Microcrédito. Financeirização. Liberalização financeira. Governo.

Código JEL: G21, O16, G10, G28.

*
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Viçosa. Mestre em Economia pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Professor de Economia da Universidade Federal de Ouro
Preto. E-mail: luccas2014assis@gmail.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6834

Submissão: 19/07/2016. Aceite: 23/09/2016.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

369
1 Introdução
A crescente financeirização da economia mundial é um fenômeno que há dé-
cadas desperta o interesse de alguns pesquisadores quanto às suas implicações no
desempenho dos países. Aumento da disponibilidade do crédito, incorporação de
agentes pobres no sistema financeiro, crescente endividamento privado e surgi-
mento de ativos financeiros são marcas que caracterizam o atual estado do capita-
lismo na esfera financeira.
Pode-se depreender que a financeirização originou-se das políticas de liberali-
zação financeira empreendidas em várias nações, principalmente, nas décadas de
1970 e 1980. Com a liberalização dos fluxos de capitais e maior liberdade financei-
ra para as instituições, elas procuram explorar novos territórios no globo e incorpo-
rar maior número de clientes para ofertar seus serviços.
Em meio a esse processo, a pobreza era uma das mazelas sociais que contras-
tava com as partes prósperas das economias. O microcrédito tornou-se exemplo de
combate à pobreza em Bangladesh por meio do Grameen Bank, em 1983, e desde
então esse instrumento difundiu-se na economia global e é considerado mundial-
mente como política indispensável para reduzir o número de pobres. Todavia, se
na década de 1980 o microcrédito era apoiado pelo Estado, nos anos seguintes o
governo afastou-se dessa atividade, deixando-a a cargo das forças do mercado.1
Os riscos advindos com a liberalização financeira e a crescente financeiriza-
ção da economia representam potenciais perigos para práticas financeiras que têm
cada vez mais incorporado o microcrédito. Especulação, securitização, afastamento
da relação de instituições financeiras com os clientes, manipulações de mercado,
negligência com a produtividade de tais empréstimos e perda de foco no combate à
pobreza são problemas corriqueiros envolvendo capitais no sistema financeiro, to-
davia, caso o microcrédito realmente seja englobado nos mercados financeiros como
os demais capitais, os riscos citados tornam-se reais. É esse o objetivo do artigo,
apontar canais pelos quais a financeirização do microcrédito pode representar ris-
cos para os pobres. Ao mesmo tempo, ressaltamos que não estamos afirmando que
o afastamento do microcrédito da esfera pública é algo prejudicial per si, tampouco
que o Estado administrando esse serviço é uma panaceia. Apenas alertamos sobre
possíveis ramificações dessa tendência.
Justifica-se esse trabalho em decorrência do debate atual sobre os efeitos do
neoliberalismo sobre as economias (OSTRY; LOUNGANI; FURCERI, 2016). Esse
artigo pretende proporcionar subsídios para essa questão na medida em que aponta

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

370
riscos para uma guinada do microcrédito em direção à maior concorrência e menor
intervenção pública.
A ideia é que a maior regulação financeira e a aproximação do Estado das
atividades de microcrédito podem mitigar possíveis distorções ocasionadas pela fi-
nanceirização desse instrumento. Baseou-se essa recomendação em função dos de-
sequilíbrios que ocorreram devido à financeirização, que foi impulsionada pela li-
beralização financeira – tópico que é explorado no decorrer do artigo –, com o maior
endividamento das famílias e o aprofundamento da busca pelo lucro financeiro.
O artigo está dividido em cinco seções, além desta introdução. Nas seções 2, 3
e 4 conceituam-se, respectivamente, os termos liberalização financeira, financeiri-
zação e microcrédito; na seção 5, apontam-se os riscos que podem ser transportados
para o microcrédito e na seção 6 algumas considerações finais são articuladas.

2 Liberalização financeira
A liberalização financeira é um conjunto de medidas direcionadas para o seg-
mento das finanças com a intenção de tornar os mercados financeiros mais integra-
dos, abertos e dinâmicos. Seu surgimento ocorreu em um contexto de desempenho
econômico errático por diversas nações na década de 1970, no qual vários Estados
viram-se com baixo crescimento do produto, inflação persistente, aumento do de-
semprego e deterioração das contas internas e externas. No intuito de retirar esses
países do estado combalido em que estavam, essas políticas econômicas focaliza-
ram, primordialmente, em reduzir a participação do Estado na economia e deixar
que as forças do mercado guiassem as ações dos agentes econômicos (SHAW, 1973;
MCKINNON, 1973).
De acordo com Williamson e Mahar (1998), a liberalização financeira pode ser
entendida sob seis dimensões, quais sejam: eliminação do controle de crédito, livre
entrada no setor bancário e na indústria de serviços financeiros, autonomia para
o funcionamento dos bancos, desregulamentação da taxa de juros, liberalização
dos fluxos de capitais e bancos de propriedade privada. Vale ressaltar que para
que determinado regime financeiro seja considerado liberalizado, ele não precisa
contemplar todas essas características.
O controle do crédito foi debatido, pois consequências negativas para a econo-
mia, como corrupção, favorecimento político e ineficiente alocação, foram questio-
nadas pelos adeptos da liberalização (MISHKIN, 2009). Ao retirar o controle desses
empréstimos, esperava-se que segmentos excluídos do sistema financeiro fossem
beneficiados com o instrumento. Em particular, setores produtivos da economia

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

371
que não recebiam esse crédito passaram a recebê-lo, em detrimento de setores pou-
co produtivos, mas que contavam com suporte político para receber esses fluxos.
A produtividade geral da economia tenderia, portanto, a recrudescer, conforme a
distribuição desses créditos fosse guiada por argumentos estritamente econômicos
(LEVINE, 1997).
A desregulamentação da taxa de juros combateria o baixo nível de poupança e
de investimento e reduziria a volatilidade do consumo (HERMANN, 2003). Dessa
forma, ao liberar a taxa de juros, aumentar-se-ia seu patamar, o que auxiliaria na
estabilidade macroeconômica e reduziria o risco de choques inflacionários na eco-
nomia (FRY, 1988).
O setor bancário de economias financeiramente fechadas era geralmente con-
centrado em poucas instituições e com reduzida concorrência, dando margem para
práticas monopolistas e denotando pouco incentivo para que melhores métodos
financeiros fossem desenvolvidos (DEMIRGUC-KUNT; LEVINE, 1996). A entrada
de bancos estrangeiros, sobretudo em países em desenvolvimento, acarretaria o
choque de gestão e eficiência, que; se no curto prazo poderia gerar efeitos deletérios
para a economia doméstica (quebra de bancos domésticos, desemprego e; talvez;
até queda no produto), no longo prazo traria benefícios estruturais que alavanca-
riam o crescimento econômico (GOLDBERG, 2009; GRAHAN, 2004).
Conforme o governo exercia forte influência nesse regime, principalmente por
meio dos bancos, a privatização passou a ser defendida (LEVINE; ZERVOS, 1998).
O argumento subjacente a essa medida era de que as forças do mercado melhor
guiariam a economia, pois considerariam o custo e benefício das opções disponíveis;
novamente, é a crença dos argumentos econômicos se sobrepondo aos políticos. En-
tretanto, cabe ressaltar que as privatizações dos bancos estavam inseridas em um
processo de maior escopo, que foram as privatizações de várias empresas estatais
(CHANG; GRABEL, 2004).
Um corolário da última característica era conceder maior autonomia operacio-
nal para os bancos, incluindo o banco central (ROGER, 2009), que deveria adquirir
credibilidade perante os agentes e combater a inflação, o que não seria uma tarefa
de difícil realização, caso lograsse confiança no mercado. Para tal empreitada, a
instituição passou a utilizar precipuamente o regime de metas inflacionárias. Nesse
regime, a autoridade monetária focaliza sua política monetária em determinado pa-
tamar da inflação, por vezes, tendo uma margem de tolerância de 1% a 3%, variando
conforme o país (EPSTEIN; YELDAN, 2008). A ênfase no combate à inflação é uma
marca da liberalização financeira, uma vez que durante o fordismo o foco centrava
em políticas para o pleno emprego (BOYER, 2000). O mesmo pode ser dito em rela-
ção ao comportamento do banco central, que, de agente fomentador do crescimento

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

372
econômico por intermédio de variadas ferramentas intervencionistas, passou a ope-
rar principalmente na questão concernente à inflação (EPSTEIN, 2013).
O último traço é a liberalização dos fluxos de capitais, ou seja, a retirada de
controles da conta de capital. Talvez esse seja o ponto mais simbólico do processo
de liberalização financeira (MISHKIN, 2009). A eliminação de controles traria no-
vas fontes de financiamento, maior liquidez e baratearia o custo desses capitais,
não deixando de citar que o governo teria de ser mais disciplinado para que esses
influxos ocorressem em seu território (FRY, 1988).
O objetivo dessa seção foi demonstrar que a liberalização financeira represen-
tou o passo inicial para que o processo de financeirização pudesse emergir. Confor-
me os mercados financeiros passaram a ser mais integrados, desregulamentados e
abertos, o comportamento dos agentes neles inseridos modificou-se gradualmente.
Portanto, a financeirização da economia deve ser entendida como uma consequên-
cia do processo da liberalização financeira.

3 Financeirização
Algumas características da financeirização são relacionadas com a liberaliza-
ção financeira, como o ganho de importância do setor financeiro sobre o setor real
da economia (PALLEY, 2007). Isso é percebido pelo aumento dos lucros do setor
financeiro e a proeminência dos juros na remuneração dos fatores de produção.
Traduzindo em números, na economia dos Estados Unidos da América, entre os
anos de 1970 e 1978, os lucros financeiros foram de 47% dos lucros totais, subindo
para 68% no período de 1979 a 2003 (BEITEL, 2009).
As instituições financeiras passaram a aumentar de tamanho com fusões e
aquisições, principalmente a partir da década de 1970, recrudescendo os seus es-
copos da mesma forma (DYMSKI, 2012). Novamente utilizando números para elu-
cidar essa tendência, em 1990 as dez maiores instituições financeiras dos EUA
possuíam 10% de todos os ativos financeiros da nação, subindo para 60% em 2008.
Globalmente, o fenômeno é de igual forma perceptível; maiores bancos globais pos-
suíam 59% dos ativos financeiros globais em 2006, passando para 70% em 2010
(FOSTER, 2010).
Um ponto chave é a crescente participação dos trabalhadores no mundo das
finanças. Crédito para consumo, hipotecas, educação ou saúde, juntamente com a
provisão de ativos financeiros (seguro, pensão, habitação, fundos financeiros) são
uma marca nesse processo. Fatores como a estagnação dos salários reais, desi-
gualdade de renda e redução do papel do governo como estado de bem-estar social

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

373
contribuíram para que as pessoas recorressem ao crédito para manter determina-
do padrão de vida. Nos EUA, o total de crédito como proporção do produto interno
bruto subiu de 140% para 328,6% de 1973 a 2005 (PALLEY, 2007).
A entrada das finanças na vida social e individual dos indivíduos é interpre-
tada por Lapavitsas (2009) como expropriação financeira. À medida que bancos
comerciais passam a agir como BANCOS de investimento (receita financeira ad-
vém de comissões, taxas e securitizações) e miram o segmento pobre e excluído
do mercado financeiro, o autor denota que a extração de lucros financeiros dessa
classe é a expropriação, um novo tipo de exploração do trabalhador no capitalismo
do século XXI. Por conseguinte, e considerando a crescente desigualdade de renda,
a desconexão dos ganhos de produtividade com aumentos salariais reais, redire-
cionamento da política econômica a favor dos mercados financeiros e as inúmeras
crises financeiras que eclodiram, a financeirização é relacionada com tensões, de-
sequilíbrios e explorações (LAPAVITSAS, 2009; KRIPPNER, 2005).
O redirecionamento da política econômica ocorre devido à busca de credibili-
dade no mercado financeiro, que passa a valorizar medidas que restrinjam o au-
mento da inflação, déficits públicos e deterioração das contas externas. Em compa-
ração ao fordismo, ocorre o abandono da meta de pleno emprego em prol da baixa
inflação, guinada que vai ao encontro dos interesses da elite financeira (PALLEY,
2007). Sotiropoulos e Lapatsioras (2014) compreendem essas políticas econômicas
circunscritas a uma nova governabilidade que o mercado financeiro impôs, qual
seja, de manter o poder e a riqueza para as elites.
A alteração do comportamento das corporações não financeiras – que foca-
lizam em lucros financeiros em detrimento de ganhos produtivos –, a crescente
especulação financeira por meio, principalmente, de derivativos, preços de ativos
baseados em rumores, sentimentos e manipulação, alastramento do crédito abas-
tecendo bolhas financeiras e a redução da regulação do sistema financeiro aumen-
tam a fragilidade financeira (BRYAN; MARTIN; RAFFERTY, 2009; LUCARELLI,
2012), processo que se corporificou em crises financeiras que afligiram a economia
global, como a mexicana, em 1994, asiática, em 1997, russa, em 1998, brasileira,
em 1999, e norte-americana, em 2007, e o estresse dos mercados financeiros como
o da Rússia no final de 2014.
Sucintamente, a financeirização pode ser entendida pela entrada dos traba-
lhadores nas finanças, o alastramento do crédito na economia, a proeminência do
setor financeiro sobre o setor real, o acúmulo de dívidas privadas pelos agentes
econômicos, a nova operacionalização do mercado financeiro e o comportamento
de curto prazo pelos participantes desses mercados, que buscam primordialmente

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

374
lucros financeiros. Os riscos intrínsecos da financeirização, que podem se exacer-
bar com a adesão do microcrédito nesse processo, serão explanados na seção 5.

4 Microcrédito
Desde as operações de microcrédito do Grameen Bank em 1983, esse tipo de
atividade cresceu em escala e escopo em várias economias em volta do globo. Im-
pulsionado pelo Prêmio Nobel da paz para Yunus em 2006, o microcrédito foi defen-
dido como ferramenta eficaz no combate à pobreza e desigualdade de renda. Entre
os seus defensores, o próprio Yunus (2000) assinala que as pessoas são pobres não
devido à baixa escolaridade ou ausência dela, mas por causa do acesso ao capital,
aquele que detém seu controle possui melhores meios de prosperar na vida. Como
se observará ao longo dessa seção, a própria definição de pobreza implica contro-
vérsia no uso do microcrédito como meio de superar esse gargalo social, além de
diferentes correntes econômicas interpretarem esse tipo de empréstimo de modo
distinto.
Nos anos 1950, 1960 e 1970 os agentes pobres eram vistos primordialmente
como sendo familiares de fazendeiros em condições econômicas pouco abastadas;
na década de 1980 passou a ter como foco as mulheres e seus dependentes; de 1990
em diante, porém, – e denotando uma evolução no conceito de pobreza –, classificar
grupos como de pobres foi percebido como algo mais complexo e difícil de ranquear,
dada a heterogeneidade dos agentes envolvidos (ELLIS, 2000). Concomitantemen-
te com a análise dos grupos de pobreza, a maneira de empregar o microcrédito so-
freu mudanças, tanto na forma de ser disponibilizado – deixando de ser subsidiado
pelo Estado nos anos 1980 para ser guiado pelos mercados –, quanto no público-
-alvo – de dependentes de fazendeiros para diferentes atribuições de o que seria
considerado como indivíduo pobre (MATIN; HULME; RUTHERFORD, 2002).
No eixo econômico, o pobre era caracterizado pela pouca atenção recebida pelos
economistas (MATIN; HULME; RUTHERFORD, 2002). Por vezes, visto como inca-
paz de empreender atividades lucrativas, manusear uma carteira de crédito ou ge-
renciar o seu negócio, essas pessoas da classe de renda mais pobre ficaram por anos
sem receber maiores atenções dos formuladores de política econômica. Como con-
sequência dessa negligência, instrumentos para auxiliá-los a ascender socialmente
eram pouco desenvolvidos (CHLIOVA; BRINCKMANN; ROSENBUSCH, 2014).
Foi nesse estado das artes que o Grameen Bank teve o mérito de combater
a questão da pobreza com o uso do sistema financeiro. Fornecendo créditos com
taxa de juros abaixo do nível de mercado, recebendo retornos desses desembolsos

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

375
pelos tomadores e auxiliando inúmeras famílias que não possuíam colaterais para
garantir o empréstimo a ascender de condição social, essa instituição despertou o
interesse de vários políticos (CHLIOVA; BRINCKMANN; ROSENBUSCH, 2014;
MICK, 2003). Acoplado a isso – e diferentemente do comportamento dos bancos
convencionais –, muitas vezes são os agentes das instituições de microcrédito
(IMCs) que se deslocam até o cliente para ofertar o serviço (SILVA, 2012).
O microcrédito pode ser usado para o beneficiário aproveitar de alguma opor-
tunidade de negócio vislumbrada, suavizar seu consumo, aumentar seu padrão
de vida, em casos de emergência médica, morte prematura de algum membro da
família, roubo, para melhorar a segurança, na prevenção de riscos naturais, despe-
sas com partos, casamento, no envelhecimento e na construção de ativos, ou seja,
essa ferramenta permite ao pobre atingir determinados objetivos sociais de sua
vida (MATIN; HULME; RUTHERFORD, 2002). A variedade de possibilidades que
advém com o microcrédito ajuda a entender seu maciço aumento, que atinge mais
de 205 milhões de pessoas desde 2010 (MAES; REED, 2012).
Essa amplitude de possíveis usos do microcrédito, entretanto, é vista de dife-
rentes formas por algumas correntes da economia (SILVA, 2012). Os neoliberais
tendem a ver o microcrédito como instrumento para reduzir a desigualdade criada
pelo mercado. Nesse caso, é uma concepção de compensação pelas falhas da eco-
nomia de mercado (MICK, 2003). A concepção emancipatória interpreta o micro-
crédito como meio para aumentar a igualdade e a solidariedade entre os agentes,
criando novos campos sociais que possam promover maior cooperação pelas pesso-
as envolvidas (SILVA, 2012). A abordagem marxista denota que o microcrédito não
altera a lógica intrínseca do capitalismo, que é a exploração do trabalho pelo capi-
tal, o que ocorre é somente a apropriação do capital por agentes excluídos do seu
uso, e eles podem vir a explorar outros destituídos do capital (PANIAGO, 2008).
O microcrédito, além da dificuldade de consenso entre as correntes, sofre com
a questão de combate à pobreza. Conforme Bangladesh testemunhou significativa
redução desse problema social com a prática do microcrédito, a relação microcré-
dito/pobreza passou a ser vista como uma panaceia para extirpar essa mazela que
aflige várias nações. Entretanto, alguns autores colocam-se contra essa relação,
como é o caso de Hulme (2000), Bateman e Chang (2012) e Matin, Hulme e Ru-
therford (2002). Hulme (2000) defende que o microcrédito não atinge a camada
mais necessitada desse tipo de instrumento, pelo contrário, muitos receptores do
empréstimo já possuíam previamente um padrão de vida confortável. Para corro-
borar o seu ponto, o autor demonstra em seu estudo que o Quênia, nação africana
caracterizada por enfrentar problemas sociais e econômicos, sobretudo relativos à

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376
pobreza, possui aproximadamente 10 milhões de pessoas na condição de pobres,
todavia, menos de 70 mil delas tiveram acesso ao microcrédito.
Bateman e Chang (2012) explanam de forma mais elucidativa a razão da po-
breza não ser reduzida, sendo em alguns casos até incrementada pelo microcré-
dito. Fatores como a negligência com a economia de escala pelas microempresas,
incentivo ao aumento da oferta de produção dessas firmas, desconsiderando que a
demanda para os produtos desse segmento de mercado esteja estagnada e falhas em
conectar microempresas de um mesmo setor para trabalharem cooperativamente,
ajudam a entender o insucesso do microcrédito em algumas regiões. Ademais, o fra-
casso de tais empreitadas é custoso para os tomadores, que se endividam, perdem
ativos, deixam de ter os seus sustentos mínimos e vendem o que têm a preços irrisó-
rios. O custo de oportunidade é alto para as pessoas que estão na linha da pobreza.
Destarte, considerar o microcrédito como a solução para a pobreza parece pou-
co plausível, uma vez que a pobreza é uma questão mais complexa e que para a
sua superação outros mecanismos devem ser traçados. Além disso, como assinalam
Chliova, Brinckmann e Rosenbusch (2014), a eficácia do microcrédito varia depen-
dendo do contexto em que ele é empregado, ou seja, para cada localidade um estudo
compreendendo as peculiaridades seria o recomendável antes de empreender esses
empréstimos, dado os custos sociais citados anteriormente. Em resumo, one size
fits all não parece ser válido.

5 Os riscos da disseminação do microcrédito no


contexto da financeirização
O comportamento de curto prazo das corporações que estão envolvidas no
mercado financeiro reflete-se nas instituições de microcrédito, que securitizam e
comercializam o microcrédito para auferir lucros financeiros. A securitização per-
mite que a IMC empreenda novos créditos sem que tenha recebido pelo primeiro
desembolso, transferindo o risco para outros agentes. Esse tipo de operação foi
um dos fatores que deflagrou a crise das hipotecas subprime nos EUA em 2007
(AITKEN, 2013).
A lógica do lucro financeiro incentiva as IMCs a efetuar inúmeros créditos
com base em padrões de viabilidade e lucratividade financeira, distanciando, por-
tanto, do interesse de mitigar a pobreza (AITKEN, 2013). O microcrédito, bem
como o crédito, tornou-se um fim para ele mesmo, ou seja, pouco interessa o seu
impacto na vida dos receptores ou quais agentes irão recebê-lo, o que importa é a

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377
sua comercialização e o surgimento de lucros financeiros. Infere-se, pois, que uma
das características do microcrédito, de que os agentes que fornecem o empréstimo
se desloquem até os potenciais destinatários, está sendo erodida por esse processo.
O agente beneficiário está perdendo contato com a instituição que fornece o capi-
tal. Redução da informação disponível sobre os clientes e dificuldade em avaliar
os riscos dessas operações são consequências que podem emergir com esse hiato
(LUCARELLI, 2012).
A redução do rigor com o crédito para a sua liberação é outro risco que existe
no sistema financeiro e que pode ser transmitido para o microcrédito. De forma
parecida com as consequências dos empréstimos hipotecários norte-americanos da
década passada, a redução do rigor pode colocar a população pobre em pior situação
que a priori. Os empréstimos ajustáveis (Adjustable Rate Mortgages) exerceram
um importante papel no desencadeamento da crise de 2007 na medida em que os
seus juros cobrados subiram e deixaram seus tomadores em situação desfavorável,
tomadores que pertenciam a uma classe de renda frágil (LAPAVITSAS, 2009). Na
esfera do microcrédito, e dado que os seus tomadores se caracterizam por ser agen-
tes vulneráveis, o risco torna-se ainda maior. E se for considerado que a crescente
securitização do microcrédito incorpora essa redução no rigor do crédito, juntamen-
te com o fato da transferência dos riscos, a piora na situação das famílias pobres,
que em última instância são os que apoiam a base de toda a operação de securiti-
zação, pode acarretar instabilidades no sistema financeiro.
A estagnação dos salários reais, o crescente endividamento das famílias, a re-
dução das provisões do governo devido ao enfraquecimento do estado de bem-estar
social, a flexibilidade no mercado de trabalho e os mercados informais saturados
que causam a queda dos preços, lucros e salários das microempresas, podem ser os
ingredientes que deflagrem uma possível crise financeira no segmento do microcré-
dito (BATEMAN; CHANG, 2012; LAPAVITSAS, 2011; PALLEY, 2007). E como foi
explanado que o microcrédito tem sido securitizado e comercializado, o risco pode
se alastrar e afetar outras áreas da economia. Esse risco pode ser englobado na
afirmação de Boyer (2000) de que a difusão das finanças pode colocar a economia
em uma zona de instabilidade estrutural.
Em alguns casos, 90% de todo o microcrédito liberado por uma IMC é direcio-
nado para o consumo (BATEMAN, 2010). Essa é uma tendência que ocorre nes-
se segmento do sistema financeiro, pois além de tentar aquecer a economia com
a demanda agregada, o crédito permite o aumento do consumo para níveis que
ultrapassem a restrição orçamentária. Ademais, deve-se se ater à lógica do ca-
pitalismo pela busca do lucro, em particular, lucros financeiros (MARX, 1968). E

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

378
nesse contexto, as IMCs usam o crédito para auferir lucros, embora esse processo
tenha limites, uma vez que o endividamento dos agentes privados esbarra em no-
vos limites.
Na financeirização, a produtividade não é a peça central conforme foi durante
o fordismo (BOYER, 2000). A implicação disso para o domínio do microcrédito é
que ele não foi primordialmente pensado em termos de economias de escala pelas
microempresas, interação entre elas e eficiência, mas, sim, com base nos lucros
financeiros pelos agentes que o disponibilizam. A negligência com a produtividade
mostrou seus efeitos em alguns países, como é o caso de falências de instituições de
microcrédito no Marrocos, no México, na Nicarágua, no Paquistão, na Bósnia e na
Índia (BATEMAN; CHANG, 2012; ARUNACHALAM, 2011).
Matin, Hulme e Rutherford (2002) defendem que o alastramento do microcré-
dito pode permitir que o pobre especulasse, analisando esse fenômeno como algo
positivo. O presente artigo discorda dessa visão, dado que a especulação tem cau-
sado vários danos no lado real da economia, o que pode ser percebido nas inúmeras
crises financeiras que emergiram desde a liberalização financeira (GRABEL, 1995;
STIGLITZ, 1989; STIGLITZ, 2000). A especulação tende a separar ainda mais as
finanças da economia real (SOTIROPOULOS; LAPATSIORAS, 2014). Ademais, a
especulação financeira pelo pobre é outro risco que a financeirização do microcré-
dito pode desencadear.
O alastramento do microcrédito fez com que agências de classificação de mi-
crocrédito surgissem, tais como a MicroRate, Planet Rating e Micro Credit Rating
International (AITKEN, 2013). O risco da emergência dessas instituições é uma
possível analogia com as agências de classificação de crédito que erraram na ava-
liação dos títulos hipotecários subprime na crise de 2007; denotando bons ratings
para títulos de caráter duvidoso, essas agências incentivaram a comercialização
desses ativos, o que se concretizou em uma bolha imobiliária. Alguns autores de-
notam que essas instituições foram pressionadas por bancos para fornecerem ava-
liação favorável a tais títulos (GOWAN, 2009), enquanto outros questionam possí-
veis subornos (LAPAVITSAS, 2009). Todavia, a hipótese de que essas agências não
conseguiram compreender o sistema financeiro, bem como seus riscos, não pode
ser descartada, dada a complexidade desse mercado. Desse modo, o mercado de
microcrédito está sujeito a riscos similares.
A financeirização utiliza-se do microcrédito para se perpetuar e se alastrar em
segmentos não explorados da economia. Ao fazer isso, ela transporta falhas do sis-
tema financeiro para as famílias pobres servindo-se de conceitos teóricos de com-
bate à pobreza como véu para justificar práticas pró-lucro. Portanto, o microcrédito

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

379
pode ter se afastado do seu ideal de combate à pobreza e aproximou-se cada vez
mais da lógica do lucro, não obstante trazendo potenciais riscos para a população
mais pobre.
As crises financeiras que eclodiram com a liberalização financeira e a finan-
ceirização (com destaque para a crise de 2007) elucidam que o atual funcionamento
do mercado financeiro deve se alterar para que uma maior estabilidade seja aufe-
rida pelos Estados. A incorporação do microcrédito nesse mercado reproduz o seu
funcionamento, não obstante aumentando seus riscos. Desse modo, microcrédito e
financeirização é uma relação que merece maior estudo para compreender os seus
riscos e auxiliar na construção de políticas que minimizem os danos econômicos e
maximizem os ganhos sociais.

6 Considerações finais
O artigo conceituou o termo liberalização financeira de modo a demonstrar
que as políticas circunscritas nessa ideologia forneceram terreno para que a finan-
ceirização emergisse. O alastramento das finanças na economia é uma tendência
que persiste nos dias atuais e que tem incorporado cada vez mais o microcrédito
no seu escopo.
Os riscos apontados ao longo do artigo são críveis, ainda mais considerando
que muitos deles engatilharam a crise de 2007 nos EUA. Portanto, é importante
rever o funcionamento do microcrédito em um sistema econômico cada vez mais
financeirizado.
Todavia, independentemente dos riscos apontados, uma reflexão deveria ocor-
rer sobre o afastamento do uso do microcrédito para fins sociais. Caso a crescente
financeirização conseguisse mitigar a pobreza global com o uso do microcrédito,
esse artigo perderia a sua essência, porém, não é o que se observa.
Maior regulação financeira e aproximação do Estado nas atividades de micro-
crédito são medidas que podem mitigar os possíveis riscos elencados nesse traba-
lho. Essa recomendação é baseada no período entre os anos posteriores ao fim da
Segunda Guerra Mundial até a conjuntura de crise dos anos 1970 e 1980. Nesse
período, o maior controle das atividades financeiras pelo governo possibilitou o
surgimento de um ambiente econômico mais estável. A resposta para minimizar os
danos da financeirização do microcrédito pode estar nesse período.

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380
The risks of the microcredit financialization
Abstract
The financial liberalization policies of the 1970s and 1980s have provided the finances to
gain prominence in the operation of various economies. As a corollary, the phenomenon of
the financialization emerged and has been a trace of contemporary capitalism. However,
the financialization has incorporated the microcredit, an instrument that gained notoriety
in the 1980s to combat poverty. This article is a survey in which points risks of microcredit
entry in the logic of financialization.

Keywords: Microcredit. Financialization. Financial liberalization. Government.

JEL Code: G21, O16, G10, G28.

Los riesgos de la financiarización del microcrédito


Resumen
Las políticas de liberalización financiera de los años 1970 y 1980 significaron que las finan-
zas ganaron prominencia en el funcionamiento de diferentes economías. Como corolario,
el fenómeno de la financiarización ha surgido y tiene sido una marca distintivo del capi-
talismo contemporáneo. Sin embargo, la financiarización tiene incorporado microcréditos,
un instrumento que ganó notoriedad en la década de 1980 para reducir la pobreza. Este
artículo es una revisión de la literatura que señala riesgos de entrada de microcréditos en
la lógica de la financiarización.

Palabras clave: Microcréditos. Financiarización. Liberalización financiera, Gobierno.

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381
Nota

1
No decorrer do artigo é explicado como ocorreu essa guinada pró-mercado.

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Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 369-384, jul./dez. 2016

384
Orientação para o mercado de
empresas de base tecnológica
produtoras de software: uma análise à
luz do modelo de George Day
Agnelo Câmara de Mesquita Júnior*
Fernando Gomes de Paiva Júnior**

Resumo
O presente trabalho analisa os elementos e processos que integram a orientação para o
mercado (OPM) no segmento de tecnologia da informação e comunicação em empresas de
base tecnológica da cidade do Recife, Pernambuco. Para tanto, são descritos os conceitos
de empresa de base tecnológica e de processo de OPM, com atenção especial ao modelo
proposto por George Day. Foi conduzido um estudo de caso cuja população é composta por
duas empresas pernambucanas que desenvolvem softwares como principal atividade. O
instrumento de coleta utilizado foi uma entrevista elaborada com base em um questionário
concebido por Day, capaz de estabelecer características típicas das organizações orientadas
para o mercado e fornecer subsídios necessários à implementação de aperfeiçoamentos por
gestores e colaboradores.

Palavras-chave: Marketing. Orientação ao mercado. Tecnologia da informação.

*
Especialista com MBA em Gestão Estratégica de Marketing. Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: agnelocamara@hotmail.com
**
Doutor em Administração pela UFMG e professor Associado II da Universidade Federal de Per-
nambuco.

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6835

Submissão: 27/06/2016. Aceite: 15/08/2016.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

385
1 Introdução
Diante da alta competitividade experimentada pelos mercados, tornou-se im-
perativo para as organizações investir em métodos e processos que garantam tanto
a diferenciação dos produtos e serviços oferecidos como a criação de valor para os
stakeholders envolvidos na negociação dessas mercadorias. Particularmente, no
mercado de tecnologia da informação e comunicação (TIC), determinar a criação
de valor por meio do desenvolvimento de produtos inovadores, elaborados de acor-
do com as necessidades e expectativas dos clientes ganha contornos particulares.
Mohr et al. (2011) argumentam que as empresas de alta tecnologia, com pesadas
estruturas burocráticas, precisam lutar para se manter inovadoras e propiciar essa
característica aos seus produtos. No caso de organizações do mesmo setor, mas de
porte menor, o desafio reside em mudar sua postura unicamente voltada para a
tecnologia e engenharia para outra orientada para o mercado (OPM).
Embora seja comum enxergar a orientação ao mercado como fator intrínse-
co à sobrevivência e/ou diferenciação de uma empresa em relação aos seus con-
correntes, poucas organizações, na verdade, o fazem com maestria. No caso das
empresas de tecnologia da informação, tal prática constitui-se uma das tarefas
mais desafiadoras, pois algumas barreiras impeditivas surgem, transformando a
OPM em verdadeira odisseia. Day (2001) lembra a ausência de uma cultura que,
de fato, envolva toda a organização da necessidade de estar orientada ao mercado
e a confusão sobre o que de fato significa o termo OPM como alguns dos percalços
experimentados por essas organizações.
Mohr et al. (2011), citam a filosofia do desenvolvimento de produtos buscando
tão somente o estado da arte da tecnologia e a ausência de colaboração entre os
setores de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e Marketing como elementos dificul-
tadores à orientação ao mercado.
Sendo a orientação para o mercado uma prática multifacetada, constituindo
campo complexo de definições, este estudo deteve-se a identificar e analisar ele-
mentos constitutivos da OPM com base no modelo de análise proposto por Day
(2001). Para tanto, foram conduzidas duas entrevistas apoiadas em questionário
previamente estruturado com o intuito de estabelecer um comparativo de cenários,
sendo um favorável à OPM e outro com elementos impeditivos dessa prática.
Diante das considerações, o estudo aborda, em um primeiro momento, defini-
ções sobre o que é uma empresa de base tecnológica. Em seguida, são elaboradas
reflexões sobre as concepções de orientação para o mercado, discorrendo-se sobre
as estruturas apresentadas por alguns pesquisadores, relacionando-as com as ati-
vidades das empresas de tecnologia da informação. A seguir, a pesquisa dedicará

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386
análise mais profunda ao modelo de OPM apresentado por George Day, porme-
norizando cada um daqueles que autor chama de elementos-chave de empresas
orientadas para o mercado que lograram êxito em suas atividades. Em seguida,
este levantamento ilustrará tais observações por meio das entrevistas com os diri-
gentes de duas empresas de base tecnológica, que apresentam posições e condições
distintas no que tange à OPM.

2 Referencial teórico
O referencial teórico do presente trabalho abordará definições referentes a
temas-chave da discussão aqui proposta. Em primeiro lugar, apresentam-se con-
siderações sobre o conceito de empresa de base tecnológica, evidenciando suas ati-
vidades e sua composição organizacional. Em seguida, o estudo discutirá aspectos
relacionados à orientação para o mercado, com especial atenção para o modelo
proposto por George Day (2001). Os elementos constitutivos da análise do autor se-
rão pormenorizados e cruzados com observações de outros autores, a fim de que se
tenha, ao final, um campo de discussões capaz de fundamentar uma análise sólida
dos cenários abordados neste levantamento.

2.1 Empresa de base tecnológica


Dada a importância dos desenvolvimentos tecnológicos na economia e ao cará-
ter plural assumido pelo termo tecnologia, categorizar determinados setores como
de alta ou baixa tecnologia e empresas como de base tecnológica pode não ser tarefa
tão fácil. Entretanto, percebe-se que vários estudos analisam o escopo de ativida-
des dessas organizações com base na sua relação com tecnologia, na qualificação
dos colaboradores e na influência da tecnologia na sua atuação de mercado. Mar-
covitch, Santos e Dutra (1986), por exemplo, entendem que as empresas de base
tecnológica já são orientadas, desde o seu nascimento, a desenvolver ou oferecer
serviços que envolvem elevado conteúdo tecnológico. Essa mesma visão pode ser
corroborada com os trabalhos de Capon e Glazer (1987), que definem tais orga-
nizações com a expressão empresas de alta tecnologia, que, por conceituação, são
aquelas envolvidas no projeto, desenvolvimento e introdução de novos produtos e/
ou processos inovadores de fabricação por meio da aplicação sistemática de conhe-
cimento técnico e científico.
Frequentemente associa-se o conceito de empresa de base tecnológica a
processos de inovação, vinculando a competitividade dessas organizações à sua

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

387
capacidade de desenvolvimento de produtos e serviços, seja por meio de novidades
incrementais ou radicais. É o caso de estudos como o de Piscopo (2010), que enten-
de empresas de base tecnológica como sinônimo de alta tecnologia, caracterizando-
-as com empresas atuantes no setor, cuja competitividade fundamenta-se na sua
capacidade de inovação em negócios como software, semicondutores, química fina,
biotecnologia, aeronáutica, tecnologia da informação e comunicação.
As indústrias de alta tecnologia possuem características em comum que abrangem
um grupo de incertezas: a) de mercado, englobando aspectos como as necessidades do
consumidor e os impactos das novas tecnologias no futuro; b) tecnológicas, que envol-
vem o funcionamento do produto, cronograma de entrega de funcionalidades e de su-
porte ao cliente; c) volatilidade competitiva (Mohr et al., 2011). Portanto, esse grupo de
incertezas descreve quais são as empresas que concorrem nesse mercado, quais os pro-
dutos oferecidos e quais ferramentas e técnicas são utilizadas por essas organizações.
Como define o Glossário da Financiadora de Estudos e Projetos, empresa de
base tecnológica é aquela “de qualquer porte ou setor que tenha na inovação tecno-
lógica os fundamentos de sua estratégia competitiva”.1 De acordo com o que informa
a empresa pública, para que uma organização atenda a essa condição é necessário
apresentar pelo menos duas das características, conforme apresentadas Quadro 1.

Quadro 1 – Características das empresas de base tecnológica

Critério Descrição

Desenvolver produtos, serviços ou processos produtivos ou processos tecnologicamente no-


Produtos
vos ou melhorias tecnológicas significativas em produtos ou processos existentes.
Obter pelo menos 30% de seu faturamento [...] pela comercialização de produtos protegidos
Faturamento
por patentes ou direitos de autor ou em processo de obtenção das referidas proteções.
Encontrar-se em fase pré-operacional e destinar pelo menos o equivalente a 30% de suas
Investimento
despesas operacionais [...] a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Não se enquadrar como micro ou pequena empresa e destinar pelo menos 5% de seu fatura-
Porte
mento a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Não se enquadrar como micro ou pequena empresa e destinar pelo menos 1,5% de seu fa-
Parceria com
turamento a instituições de pesquisa ou universidade para o desenvolvimento de projetos de
instituições
pesquisa que visem ao desenvolvimento de projetos de pesquisa relacionados ao desenvolvi-
de ensino
mento ou aperfeiçoamento de seus produtos ou processos.
Empregar, em atividades de desenvolvimento de software, engenharia, pesquisa e desenvol-
Recursos
vimento tecnológico, profissionais técnicos de nível superior em percentual igual ou superior a
humanos
20% do quadro de pessoal;
Grau de
Empregar, em atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, mestres, doutores ou pro-
instrução da
fissionais de titulação equivalente em percentual igualou superior a 5% do quadro de pessoal.
equipe
Fonte: disponível em: <http://www.finep.gov.br/biblioteca/glossario>. Acesso em: 27 dez. 2016.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

388
Para fins metodológicos, está sendo considerada a parcela das empresas de
base tecnológica do segmento de tecnologia da informação desenvolvedoras de sof-
tware ou hardware que atuam na produção de bens e serviços relacionados a esse
mercado.

2.2 Orientação para o mercado


A OPM é uma das principais aptidões a serem desenvolvidas por empresas
que desejam adquirir vantagens de longo prazo sobre os concorrentes e construir
elementos organizacionais que possibilitem o direcionamento do foco permanente
nessa direção. Sbragia e Lima (2013) defendem que a OPM apresenta-se como
opção para as empresas que desejam se voltar para as necessidades do merca-
do e transformá-las em insumo para o aumento da capacidade competitiva das
organizações.
Mas o que seria, de fato, orientação para o mercado? Alguns dos primeiros
estudos da temática, como os de Kohli e Jaworski (1990) e Narver e Slater (1990)
dão conta de que a OPM é um processo relacionado à geração e disseminação de
inteligência de mercado objetivando a criação de valor superior para o cliente. A
prática dessa filosofia implica, para os autores, a adoção de três focos: orientação
para o cliente, para os competidores e coordenação interfuncional. Oliveira (2006)
percebe o primeiro elemento como o processo de pesquisa e disseminação por toda
a empresa de informações sobre os clientes, levando-a a conhecer a cadeia de valor
de modo a construir um valor superior a eles. O segundo foco diz respeito à prática
semelhante, só que voltada para os concorrentes. Conforme Pereira:

As empresas que quiserem ser efetivamente orientadas para o mercado deverão compreen-
der como as necessidades dos clientes e as competências da organização interagem em um
ambiente competitivo, pois todos esses fatores convergem na formação do valor percebido
pelo cliente. Também é crucial que a organização conheça as ofertas e as competências de
seus concorrentes, e a visão dos consumidores em relação a esses fatores (2005, p. 7).

A relação existente entre a OPM e o marketing relacional implica na com-


preensão do último como peça análoga à execução do primeiro. É o que ilustram
estudos como o de Curi (2007), que traz como característica extrínseca à OPM uma
cultura mais orientada para o cliente, a fim de oferecer-lhes produtos de maior
valor agregado. É necessário ainda, segundo a autora, que a empresa estreite seus
relacionamentos com o cliente, aumentando seu grau de fidelização para conseguir,

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389
assim, a vantagem competitiva de compreender melhor seus desejos e necessida-
des atuais e potenciais.
A OPM é definida por Abbade, Zanini e Souza (2012) como a cultura organi-
zacional que desenvolve os comportamentos necessários à criação de valor elevado
para o cliente, de forma mais eficaz e eficiente, gerando vantagem competitiva
para a empresa. Os autores afirmam ainda que uma empresa orientada para o
mercado oferece soluções que podem ir além das expectativas de valor dos seus
clientes por meio da criação de um relacionamento em longo prazo. Esse esforço
torna-se responsabilidade não só da área de marketing, mas de todos os setores da
empresa, tornando-se elemento da cultura organizacional.
É possível elencar também outros elementos fundamentais para que as em-
presas consigam atingir um grau avançado de orientação para o mercado. A disse-
minação e utilização de inteligência de mercado são, segundo Mohr et al. (2011),
suportes para a tomada de decisão da alta gerência, deixando este setor da organi-
zação mais comprometido com a criação de valor para o cliente. Para o êxito dessa
filosofia, pressupõe-se uma gestão eficaz do conhecimento advindo de várias áreas
da empresa, não apenas do marketing, bem como uma estrutura organizacional
flexível, com responsabilidades compartilhadas e amplos processos de comunicação
lateral.
Day (2001), por sua vez, apresenta um modelo próprio para compreender os
elementos constitutivos de uma empresa orientada ao mercado. Segundo o pesqui-
sador, essas organizações apresentam uma capacidade mais elevada para compre-
ender, atrair e manter clientes importantes por criarem um contexto virtuoso que
as possibilita atingir grau elevado de OPM. É sobre esse modelo que a pesquisa
debruçar-se-á.

2.2.1 Orientação para o mercado segundo Day

A definição proposta por Day sintetiza um esquema (Figura 1) que relaciona


alguns elementos-chave que, na visão do autor, compõem uma organização orien-
tada ao mercado:

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390
Figura 1 – Elementos de uma orientação para o mercado

Fonte: Day (2001, p. 20).

A cultura orientada para fora deve impregnar toda a organização e enfatizar


tanto um valor superior para o cliente como a busca contínua de novas fontes de
vantagem. As aptidões, por sua vez, permitem que a empresa tenha uma visão
estratégica avançada, estabelecendo conexões mais fortes e duradouras com seus
clientes. As atividades da empresa passam a acompanhar a evolução do mercado,
antecipando riscos e identificando novas oportunidades para o sucesso. Por fim, a
estrutura organizacional dá subsídios para que a entrega de valor ao cliente seja
adotada integralmente por todos os departamentos da empresa, de modo a criar
unidade no seu dever-ser. O alicerce para esse contexto produtivo reside na base
compartilhada de conhecimento, capaz de intensificar o comprometimento dos fun-
cionários e construir relacionamentos mais duradouros com os clientes. Day defen-
de cada um desses elementos precisa ser, no mínimo, tão bom quanto o melhor dos
concorrentes para que a estratégica de atuação no mercado adotada seja proveitosa.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

391
2.2.1.1 Cultura

A cultura é uma dimensão organizacional complexa. Sua compreensão, en-


quanto elemento capaz de conferir à empresa condições para orientar-se para o
mercado, requer olhares atentos a respeito do que vem a ser, de fato, uma cultura
organizacional.
A cultura organizacional, pela ótica de Mohr et al., pode ser entendida como o
conjunto de valores e crenças que permeia a empresa e que molda as normas (táci-
tas e explícitas) do seu comportamento. O conceito difere de clima organizacional,
apresentado, segundo os autores, “como aquilo que realmente acontece na empre-
sa, sendo um conjunto de comportamentos esperados, apoiados e recompensados”
(2011, p. 60).
A essência da cultura de uma organização pode ser entendida, ainda, como
reflexo da maneira como os negócios são conduzidos, do relacionamento com clien-
tes e funcionários, do grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unida-
des ou escritórios e o grau de lealdade expresso por seus funcionários com relação
à empresa, que, desse modo, torna-se representante da mentalidade da empresa
(RACHEL; SALOMÃO, 2011).
Frequentemente, a cultura organizacional é entendida como um dos fatores
que contribuem para a competitividade das empresas, tendo especial relacionamen-
to com a sua capacidade de inovação. O entendimento dessa relação não é tarefa
simples, pois envolve a necessidade de compreensão da empresa em seu aspecto ma-
cro, incluindo sua estrutura hierárquica, as funções desempenhadas por cada cola-
borador e os impactos delas na execução da missão da instituição. Para Maia et al.:

Priorizar formas de gestão que compreendam a execução especializada das diversas fun-
ções na operação de uma organização e sua integração adequada na cultura organizacional
passa pelo alinhamento de planejamento, estratégia e compreensão do que efetivamente é
o processo de inovação (2014, p. 7).

George Day entende que a cultura orientada para o mercado deve ir além de
uma alegoria dos discursos motivacionais, devendo permear todo o tecido organi-
zacional. À empresa cabe promover incentivos, instrumentos e o contexto capaz de
permitir o desenvolvimento de produtos capazes de fazer com que o cliente perceba
valor superior neles. Dessa maneira, é possível entender que:

[...] “qualidade” passa a ser um esforço coletivo ao invés de uma máquina imposta, “fide-
lização de clientes” é uma motivação com significado e não uma frase mecânica e “equi-
pes transfuncionais” são mecanismos de aperfeiçoamento ao invés de uma perda de tempo
(2001, p. 22).

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

392
2.2.1.2 Aptidões

As aptidões propostas por Day (2001) sugerem que uma organização orientada
para o mercado deve ser capaz de desenvolver três habilidades necessárias para
alcançar essa condição.

Capacidade de sentir o mercado


A primeira delas diz respeito à capacidade de sentir o mercado, identificando
oportunidades de negócio e compreendendo mudanças. Essas organizações “[...] es-
tão melhor equipadas para prever como os mercados irão reagir a ações concebidas
para atrair ou manter clientes, melhorar relações com os distribuidores ou barrar
concorrentes” (DAY, 2001, p. 68).

Marketing de relacionamento
A segunda habilidade refere-se ao marketing de relacionamento. Ao elencar
esse ponto como primordial, quando se trata das aptidões de uma empresa OPM,
Day (2001) afirma que é por meio dele que é possível adicionar valor ao cliente. A
ampliação de serviços, incentivos e interações sob medida, para o autor, cria um
ciclo virtuoso de compartilhamento de experiências de sucesso e benefícios mútuos,
capaz de reforçar as conexões com os clientes a fim de se evitar que não migrem
para a concorrência.
No ambiente de negócios de alta tecnologia, a necessidade de apresentar solu-
ções cada vez mais complexas a um mercado cada vez mais exigente implica o es-
tabelecimento de parcerias, alianças e relacionamento com o cliente. Com os curtos
ciclos de vida e os custos elevados desse processo, é vital para as empresas de tec-
nologia da informação e comunicação considerarem o desenvolvimento conjunto de
produtos como uma estratégia a ser explorada, seja em parceria com outros players
do mercado ou mesmo com o consumidor final. Além disso, como essas organizações
dependem dos consumidores tanto para a realização dos testes dos seus artefatos
como para criar ideias para inovações, o estabelecimento de reações próximas aos
clientes torna-se fonte preciosa de informações de mercado e de receita em longo
prazo (Mohr et al., 2011, p. 91).
O nível de sintonia entre a empresa e o cliente tende a aumentar à medida que
o marketing de relacionamento é trabalhado de forma eficaz. Dessa maneira, o con-
sumidor percebe que é muito mais estratégico estar em contato com a empresa do
que migrar para a concorrência. E esse comportamento será motivado não apenas
pelo laço emocional, mas, sobretudo, pela conveniência, que pode ser ilustrada nas
palavras de Monçores:

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Uma empresa orientada para as relações com seus clientes realiza o desenvolvimento de
um “Relacionamento de Aprendizado Contínuo”, que vai se tornando cada vez mais inte-
ligente a cada interação, definindo com detalhamento cada vez maior as necessidades e
os gostos individuais de um cliente específico. A lealdade do cliente não é gerada por um
vínculo emocional ou senso de obrigação e dever, mas meramente por conveniência. Não há
necessariamente exclusão dos laços emocionais como fatores significativos na manutenção
de relacionamento com clientes. Mas estes laços não são o principal mecanismo em ação na
garantia de lealdade do cliente. A conveniência, sim (2004, p. 12).

2.2.1.3 Estrutura

Day (2001) entende que a estrutura é o relacionamento estreito entre cultu-


ra, aptidões e processos da empresa, incluindo a habilidade em sentir o mercado,
relacionar-se com ele e desenvolver a visão estratégica. O pesquisador enumera
então três características que distinguem as estruturas das empresas orientadas
ao mercado daquelas que não o são, conforme se observa no Quadro 2:

Quadro 2 – Características inerentes à estrutura de empresas orientadas ao mercado

Característica Descrição

Diz respeito à estrutura montada para oferecer valor mais ele-


vado ao cliente. As atividades e os investimentos funcionais
Foco estratégico no mercado
da empresa fazem parte de um modelo de operações centra-
das no mercado.
Ocorre quando há sinergia entre a cultura, as aptidões e as
estruturas. Quando a coerência inexiste, ocorrem rupturas na
Coerência de fatores
estratégia e implantação, criando lapsos que costumeiramen-
te são percebidos primeiramente pelo cliente.
Permite combinar a profundidade do conhecimento encontra-
Flexibilidade do em uma hierarquia vertical com a sensibilidade das equi-
pes operacionais horizontais.
Fonte: elaborado pelo autor.

Além das características destacadas no Quadro 2, Day (2001, p. 67) afirma


que as organizações orientadas para o mercado criam estruturas que desenvolvem
suas aptidões para melhor sentir o mercado e com ele se relacionar. Esse arranjo,
em seu estado de arte, inclui o modelo de organização, as outras aptidões da em-
presa e os sistemas de informações de apoio e recompensa.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

394
3 Metodologia
3.1 Setor de tecnologia da informação no Brasil, alguns
indicadores
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Software (2014) indicam que
o crescimento dos investimentos em tecnologia da informação no Brasil foi expres-
sivo, com um aumento de 15,4%. O país figurou entre os dez maiores crescimentos
setoriais no mundo e está na sétima posição em investimentos em TIC. O mercado
doméstico de tecnologia da informação, que inclui hardware, software e serviços,
movimentou 61,6 bilhões de dólares em 2013, representando 2,74% do PIB brasi-
leiro e 3% do total de investimentos no setor no mundo. Desse valor, 10,7 bilhões
de dólares vieram do mercado de software e 14,4 bilhões de dólares do mercado de
serviços, sendo que a soma desses dois segmentos já superou 40% do mercado total
de tecnologia da informação.
O mercado interno de tecnologia, ainda segundo dados da associação, apresen-
ta-se conforme o Quadro 3:

Quadro 3 – Mercado brasileiro de tecnologia da informação em 2013

Mercado interno total de tecnologia da informação em 2013 (U$ bilhões)

Hardware: 36,5 Software: 10,7 Serviços: 14,4

Distribuição regional do mercado brasileiro de tecnologia da informação (61,6 bilhões de dólares)

Região Hardware Software Serviços Total

Norte 2,14% 2,23% 2,17% 2,17%

Nordeste 8,12% 8,68% 8,54% 8,84%

Centro-oeste 13,93% 11,03% 13,73% 13,21%

Sudeste 64,23% 64,63% 63,16% 63,91%

Sul 11,58% 13,43% 12,41% 12,31%

Brasil 100% 100% 100% 100%


Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Software (2014).

Já a Associação das Empresas de Serviços de Processamento de Dados (Asses-


pro Nacional), em 2014, realizou censo em 434 empresas do setor de TIC no Brasil,
averiguando sobre seus principais mercados: 37,8% das organizações pesquisadas

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395
responderam que concentram suas atividades em desenvolvimento de sistemas sob
encomendas dos clientes; 22,4% ocupam-se com o setor industrial, desenvolvendo
produtos de software aplicativo, e 17,7% em serviços de suporte técnico.

3.2 Descrição das empresas estudadas


As empresas participantes do presente estudo, conforme apresentado ante-
riormente, são duas organizações do setor de tecnologia da informação e comu-
nicação, desenvolvedoras de sistemas de informação e prestadoras de serviço de
suporte e consultoria aos seus respectivos clientes. A fim de manter o sigilo solici-
tado pelos responsáveis pelas corporações, por motivos legais, o estudo nomeou as
organizações como Alfa e Beta.

Empresa Alfa

Sediada na cidade do Recife, a empresa A iniciou suas atividades em 1993.


Especializou-se no desenvolvimento de softwares para conselhos regionais e fede-
rais de profissionais liberais, englobando: a) sistemas para a administração dos
processos gerenciais dessas organizações; b) sistema de autoatendimento via inter-
net para profissionais registrados, que disponibiliza alguns serviços oferecidos no
atendimento presencial; c) software para gestão de eleições eletrônicas via inter-
net. Em 2015, a empresa atende 75 clientes, espalhados nas cinco regiões do país, e
conta com 24 colaboradores. O faturamento médio da organização foi de 1,5 milhão
de reais em 2014. Considerando a Classificação Nacional de Atividades Econômi-
cas proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007,
a empresa, pelo quantitativo de funcionários, é catalogada como sendo de pequeno
porte (de 10 a 49 funcionários).

Empresa Beta

Considerada a maior empresa embarcada no Porto Digital do Recife, a empre-


sa B obteve faturamento próximo dos 60 milhões de reais em 2012 e um quadro
de funcionários com quase 600 colaboradores, considerada, segundo a classificação
do IBGE (2007), uma empresa de grande porte. Fundada em 1996, a organização
desenvolve soluções que abrangem todo o processo de geração de inovação no setor
de tecnologia da informação e comunicação. Entre as principais áreas de atuação

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

396
da empresa estão gestão e execução de projetos, consultoria, educação e criação de
negócios. Conta com quatro representações nas cidades de Recife (sede), Sorocaba
(SP), São Paulo (SP) e Curitiba (PR).

3.3 Coleta de dados


Considerando o objetivo da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitati-
va. Entende-se que esse corte metodológico propicia, neste caso, melhor entendi-
mento sobre os cenários apresentados e, consequentemente, pode-se relacionar os
elementos inerentes aos processos de orientação ao mercado praticados por ambas
as empresas estudadas. Portanto, conduziram-se aqui dois estudos estudo de caso,
pois, conforme relata GIL (2008), esse método é indicado para: a) explorar situa-
ções da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) descrever a situa-
ção do contexto em que se está sendo feita determinada investigação; c) explicar as
variáveis causais de determinado fenômeno em atividades muito complexas.
O objetivo deste estudo é apresentar dois cenários distintos em relação ao
tema tratado. A empresa A, na qual um dos pesquisadores foi colaborador, apresen-
ta indícios de que as suas práticas de orientação ao mercado estavam deficitárias,
tendo em vista a perda de liderança no segmento no qual a empresa atua. Dada a
hipótese, realizou-se entrevista com o gerente-geral da organização.
A empresa B, por sua vez, é reconhecida como um dos centros de inovação
e pesquisa em soluções de TIC mais dinâmicos do Brasil. Com sede em Recife e
embarcada no Porto Digital, parque tecnológico cuja “atuação se dá nos eixos de
software e serviços de tecnologia da informação e comunicação e economia criati-
va, com ênfase nos segmentos de games, multimídia, cine-vídeo-animação, música,
fotografia e design” (PORTO DIGITAL, 2015). A entrevista foi feita com um dos
gerentes de negócios da organização.
Os dados para análise foram obtidos por meio de entrevistas estruturadas com
base no formulário de avaliação proposto por Day, com a finalidade de “ilustrar os
traços das organizações orientadas para o mercado e ajudar equipes a estabelecer
prioridades para seu programa de mudança” (2001, p. 237). As perguntas foram
estruturadas de acordo com cinco dimensões:

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397
I. Orientação geral: valores, crenças e comportamento.
II. Capacidade de sentir o mercado.
III. Capacidade de relacionamento com o mercado.
IV. Visão estratégica.
V. Sistemática organizacional.

O formulário de avaliação propõe uma escala diferencial de quatro pontos:
as marcações no lado direito representam um desempenho superior ou a melhor
prática de orientação para o mercado, os registros mais à esquerda, por sua vez,
indicam práticas deficientes. Entretanto, esse índice não foi utilizado, pois optou-
-se pela elaboração de um protocolo com base em algumas perguntas sugeridas
por Day (2001) para cada uma das dimensões apresentadas. Yin (2011) entende o
protocolo como um instrumento capaz de aumentar a confiabilidade dos estudos de
caso. Martins (2008) observa que o protocolo apresenta um conjunto pré-definido
de procedimentos que auxiliam na condução da estratégia da pesquisa, permitindo
que o estudo seja replicado. Da mesma forma, oferece condições para averiguar a
confiabilidade do estudo, ou seja, “obterem-se resultados assemelhados em aplica-
ções sucessivas a um mesmo caso” (2008, p. 10).
No que tange à análise dos resultados, foi realizada uma análise de conteúdo,
método que, na visão de Bardin (2006), apresenta-se como um conjunto de técnicas
de análise das comunicações que faz uso de procedimentos sistemáticos e objetivos
de descrição do conteúdo das mensagens. Realizou-se a transcrição das entrevis-
tas e a identificação dos pontos mais importantes do registro com base no modelo
proposto por Day (2001) para orientação ao mercado, considerando as dimensões
de estrutura, aptidões e cultura. Para tanto, foi montado um mapa de codificação,
descrito no Quadro 4:

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

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Quadro 4 – Mapa de codificação para identificação dos elementos de orientação ao mercado
propostos por George Day
Elementos Subelementos Definição
1.1 Valor superior para o Diferencial competitivo presente “do projeto
cliente dos produtos à execução do pedido” (p. 21).
Equipes transfuncionais, cultura de qualidade
e aptidão para relacionamento com o mercado
1.2 Coerência estrutural
1. Estrutura (p. 24).
Criação de uma estrutura que combine a pro-
fundidade de conhecimento encontrada em
1.3 Adaptabilidade
uma hierarquia vertical com a sensibilidade
das equipes operacionais verticais (p. 26).
Crenças, valores e comportamentos dominan-
2. Cultura orientada
- tes enfatizando valor superior para o cliente e
para fora
busca contínua de fontes de vantagem (p. 20).
Abrir a mente coletiva a novas informações
para antever oportunidades e novas ameaças
3. Aptidões 3.1 Sentir o mercado da concorrência, além de prever com maior
precisão como o mercado irá reagir a mudan-
ças na estratégia (p. 90).
Disposição para mudar suas mentalidades e
seus comportamentos, adquirir conhecimento
3.2 Relacionar-se com o
total a respeito de seus clientes mais valiosos
mercado
e integrar e alinhar seus processos mais im-
portantes (p. 142).
Utilização de um processo adaptável de pla-
3.3 Visão estratégica
nejamento e antecipação ao mercado (p. 204).
4. Base comparti-
A empresa coleta e dissemina seus critérios
lhada de conheci- -
sobre o mercado (p. 20).
mentos
Fonte: elaboração do autor com base em Day (2001).

As marcações foram feitas nas transcrições das entrevistas, identificando, nas


respostas dos gestores, as referências a cada um dos subelementos descritos da
tabela acima.

3.4 Análise de dados


A análise das entrevistas revelou práticas distintas coordenadas pelos diri-
gentes de ambas as organizações no que diz respeito aos elementos constitutivos
do modelo proposto por Day (2001). Visando preservar a identidade das empresas,

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

399
elas serão identificadas como empresa Alfa e Beta e seus dirigentes, por dirigente
A e dirigente B.

3.4.1 Estrutura

Conforme relato do dirigente A, que ocupa o cargo de gerente-geral na empre-


sa Alfa, a organização carece de uma estruturação que confira condições de perme-
ar o desenvolvimento dos seus produtos e serviços de valor superior ao cliente. Foi
percebida a dificuldade da organização com relação a duas questões principais que
dizem respeito ao subelemento estrutura:
a) a empresa A não consegue adotar práticas de avaliação de retorno sob investi-
mento considerando o esforço empregado na ações que envolvem atendimento
a cliente e desenvolvimento de melhorias e/ou demais implementações nos
softwares comercializados. Tal prática permite conferir maior valor agregado
ao produto e, consequentemente, facilitar o valor percebido pelo cliente”;
b) pôde-se inferir que a empresa A apresenta dificuldade para construir uma
estrutura organizacional que permita maior interação entre os membros da
organização. Um arranjo com esta característica facilita a tomada conjunta
de decisões, além de vivência de uma cultura colaborativa.

A conclusão registrada na alínea a pôde ser observada nos registros da entre-


vista com o Dirigente A. A opinião da gestora quando perguntada sobre o estabele-
cimento de missão, visão e valores e aplicação de visão de curto ou longo prazo nas
atividades da organização foi:

Quando eu disse que é classificado como longo prazo, é porque não existe uma associação
entre o esforço que vai se fazer e o valor agregado a isso. Não existe uma análise de ROI.
Então muitas vezes são priorizadas ações cujo retorno vem ser a longo prazo. [...] Então nós
acabamos muitas vezes priorizando ações que só vão ter retorno a longo prazo em detrimen-
to de ações que poderiam ter um retorno mais rápido até com um esforço menor.

Ao ser perguntada sobre como a empresa trabalha a questão do valor percebi-


do pelo cliente, a dirigente reconhece que esse é um tópico ainda a ser aperfeiçoado:

Esse é um dos nossos pontos fracos. Hoje em dia não existe um trabalho feito em relação ao
valor percebido. Tanto que é muito comum ouvirmos dos de alguns clientes que eles “pagam
muito”. E então a partir do momento que a gente ouve isso a gente já identifica que tem
algum problema. Primeiro porque a gente conhece o sistema e sabe da qualidade, dos be-
nefícios e das suas vantagens. E segundo, quando você está satisfeito com as necessidades
atendidas, dificilmente você vai ser a sensação de que está “pagando muito”.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

400
Galhanone (2013) sugere que a empresa deve criar um sistema adequado de
entrega desse valor, alinhado com o que os clientes esperam. Para a autora, parte
dessa tarefa depende da habilidade de seus profissionais de marketing em plane-
jar propostas muito bem definidas e de influenciar os vários processos básicos da
empresa. A empresa Alfa, entretanto, além de não dispor de uma área dedicada
às questões de marketing, teve sua estrutura organizacional concebida de forma
peculiar, como relata o Dirigente A:

O normal é você estabelecer o organograma e você vai captar talentos para preencher as
vagas que estão nele. Aqui foi o contrário. Todo mundo já ocupava cargos quando o orga-
nograma foi desenhado. Depois que eu cheguei aqui, era uma das coisas que senti falta, o
estabelecimento de papéis, de responsabilidades. E isso ficou mais claro para mim quando
eu fiz um curso na área de gestão de pessoas e a cada aula que eu presenciava, eu sentia
mais e mais a necessidade de se ter isso formalizado como forma de nortear as pessoas no
dia-a-dia. Sobre o que se espera delas e futuramente poder avaliá-las.

A resposta nos leva a refletir sobre a conclusão indicada na alínea b. Do ponto


de vista da adaptabilidade, considerando-se o que expõe Day em relação à capa-
cidade de a organização criar uma estrutura funcional e integrada que permita
a entrega de valor ao cliente, é possível perceber que a empresa Alfa carece de
uma organização que confira a adaptabilidade necessária para integrar processos
e estabelecer sinergia entre os colaboradores para criar uma atmosfera benigna à
inovação.
Como resposta a essas adversidades, conta o Dirigente A, foi estabelecido um
grupo de trabalho chamado Comitê de Mudança, reunindo colaboradores das áreas
comercial, desenvolvimento de software, suporte ao cliente, gerência geral e di-
reção. A ideia do grupo é promover a integração das áreas da empresa, melhorar
o debate sobre as implementações que são feitas no sistema e colher impressões
sobre as atividades rotineiras de cada departamento.
Percebe-se, portanto, que o cenário mais frequente da empresa A apresenta
características típicas de empresas de TIC em relação à estrutura e cultura de
inovação, como registram Adler e Moura (2010). Os autores afirmam que não é
difícil organizações de tecnologias da informação carecerem de cultura de inovação.
Quando lançam mão de métodos para alcançá-la, fazem-no por meio de um proces-
so pouco estruturado, distante das reais necessidades dos usuários para a qual a
solução se destina.
Na empresa Beta, a estrutura é, na opinião do Dirigente B, favorável a um
ambiente que propicie a colaboração. A opinião do dirigente é explicitada ao expli-
car os responsáveis pelo levantamento das necessidades dos clientes:

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

401
Existe uma área que nós chamamos de área de negócios que é responsável por marketing
e vendas. Esse setor, mais do que qualquer outro, tem que estar muito antenado em en-
tender as necessidades do cliente. Isso, entretanto, não é restrito a essa área de negócios.
Qualquer profissional é encorajado a fazer isso, a trazer insights. Nós temos mais de 100
projetos rodando no ano... Então é impossível o gerente de negócios estar acompanhado
tudo isso. Todas essas pessoas que interagem com os clientes são encorajadas a captar as
necessidades, que muitas vezes não são explícitas.

No que tange ao organograma da empresa B, percebe-se uma estrutura mais


flexível, em consonância com a necessidade de a empresa apresentar-se como pro-
vedora de soluções práticas. Nas palavras do Dirigente B, “O nosso organograma
muda constantemente. E uma coisa que prevalece é que ele é muito achatado, não
tem muitos níveis, é basicamente CEO e diretores”. Uma das consequências dessa
mudança é o fato de os profissionais estarem em contato com múltiplos projetos,
conhecendo o escopo de diferentes frentes de trabalho. “O profissional não espera
também passar muito tempo numa coisa só. Ele pode estar em um projeto hoje e
daqui a quatro meses ele pode estar em outro, e aí começa a aprender outras coisas,
seu conhecimento começa a se acumular e a gerar mais experiência”.
Percebe-se aqui a presença de um elemento importante constituinte de um
modelo organizacional para inovação. Queiroz (2007) menciona que as empresas
que inovam buscam justamente manter uma estrutura de poucos níveis hierárqui-
cos, organizando o trabalho em tudo de equipes de projetos, facilitando, com isso, a
comunicação, coordenação e cooperação dos seus membros.
A disposição organizacional dos integrantes da empresa Beta permite também
maior integração entre as equipes. Quando perguntado sobre o relacionamento en-
tre as equipes de pesquisa e desenvolvimento e marketing/negócios, o Dirigente B
revela que o objetivo que une os colaboradores é a entrega de valor para o cliente:

Nós não temos uma equipe de pesquisa e desenvolvimento. E isso talvez seja o motivo que
facilita as coisas para nós. Não temos estrutura dessa maneira. Não estamos aqui para
fazer isso. A gente não faz pesquisa do nada. A gente quer entregar valor para o cliente.
Não existe aquele pensamento de: “Ah, eu sou P&D” ou “Ah, eu sou marketing/negócios.”

Embora não seja o caso da empresa Beta, é comum que as organizações de


base tecnológica criem barreiras entre os setores de P&D e marketing, seja por
supervalorização de uma dessas áreas ou pelas diferenças de metas, necessidades
e motivação. Contudo, é preciso entender que a interação entre as equipes técnica
e de marketing é primordial, sobretudo, nos primeiros estágios de desenvolvimento
de produto, como apontam Mohr et al. (2011). Para os autores, a voz que o ma-
rketing traz para o processo de inovação deve vir acompanhada do conhecimento

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

402
oriundo do setor de P&D, com o intuito de desenvolver um produto realmente vol-
tado para as necessidades dos clientes.

3.4.2 Cultura orientada para fora

Day (2001) observa que as empresas orientadas para o mercado têm a cultura
como elemento unificador concebido para oferecer qualidade e vantagens aos pró-
prios clientes, além de criar diferenciais competitivos em relação à concorrência.
Ao discorrer sobre as diferenças crenças, valores e normas que diferenciam as or-
ganizações orientadas para o mercado daquelas centradas em si mesmas, o autor
elenca alguns tópicos considerados por ele pertinentes à discussão. Tais pontos pu-
deram ser observados em ambas as entrevistas, conforme os relatos reproduzidos
a seguir.

a) “A pesquisa de mercado é uma garantia para as decisões.”


Na empresa Alfa, segundo o Dirigente A, não existe uma rotina de pesquisa
de mercado formalizada. Entretanto, “existem aquelas demandas que surgem por
parte do cliente que os setores comercial e de suporte reportam ao setor de desen-
volvimento de software. Só que isso eu não considero uma prática de pesquisa de
mercado, pois é muito limitado”. A criação do Comitê de Mudança é uma das alter-
nativas para contornar o problema.
Na empresa Beta, o Dirigente B afirmou que sua organização tinha, até pouco
tempo, um profissional dedicado a questões de inteligência de mercado, responsá-
vel pela captura de informações, números e métricas sobre os mercados principais
nos quais a empresa atua, bem como os dos clientes. A empresa chegou a contra-
tar algumas ferramentas de conteúdo que traziam relatórios e notícias, agregando
todas essas informações sobre o mercado e sobre determinado cliente. O dirigente
B relata que a situação sem um profissional é um pouco diferente: “[...] Em vez de
ter uma pessoa dedicada como antes, nós temos uma área de marketing que não é
focada em inteligência de mercado. É uma área que nos apoia em tudo, inclusive
com pesquisa de mercado”.

b) “O comportamento dos concorrentes pode ser previsto e influenciado.”


Não há, na empresa Alfa, metodologias de estudo de concorrentes. Con-
forme descreve o Dirigente A, “Não existe esse trabalho. A gente acaba saben-
do de algumas dessas informações nos processos de licitação nos quais participa-
mos ou em algumas visitas realizadas. Nessas ocasiões a gente acaba tendo como

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

403
consequência essas informações. Mas o objetivo principal não é esse”. Quando per-
guntada se colaboradores das equipes de desenvolvimento de software e suporte
ao cliente conseguem identificar os principais concorrentes da empresa, a resposta
dada foi afirmativa.
A empresa Beta também não adota processos formais de estudo dos con-
correntes. Entretanto, é feita uma coleta de informações a partir de “[...] notícias,
conversando e analisando o movimento dos concorrentes”, como afirma o dirigente
B. O gestor ainda observa que:

[..] mais importante do que os concorrentes diretos são os outros concorrentes. Por exemplo,
se uma empresa deixar de fazer um projeto conosco para fazer treinamento interno, isso é
encarado como uma concorrência. Tudo o que ameaça um cliente não buscar a nossa empre-
sa para desenvolver alguma coisa, a gente encara como concorrente. Não é só aquele que
vai mandar uma proposta. É uma ameaça também se a gente, por exemplo, fica muito caro
ou se a gente oferece a proposição de valor é errada. O governo está sempre modificando
leis e isso também nos afeita… Empresas que não são de tecnologia, empresas de design,
por exemplo, também são nossos concorrentes. Então, resumindo, olhamos as duas coisas:
o concorrente direto e também tudo que pode estar nos ameaçando, tirando negócio de nós.

c) “O conhecimento do cliente é um ativo valioso.”


Verifica-se que na empresa Alfa as práticas de estudo de clientes ainda são
incipientes. Segundo o Dirigente A, é utilizada uma ferramenta de pesquisa de
satisfação que avalia o atendimento do analista de suporte, além de haver uma
categoria SRE (sugestão, reclamação e elogio), que permite ao cliente fazer outras
observações. Mas, como observa o gerente, “Basicamente é isso... Hoje a gente se
limita a verificar as respostas dessas pesquisas, que têm um retorno muito baixo,
considerando o valor de atendimento que é feito”. Outra prática destacada é a reu-
nião do Comitê de Mudanças, em uma tentativa de universalizar as informações
colhidas sobre os clientes no dia a dia da instituição. Também são realizadas visi-
tas esporádicas aos clientes. Conforme relata o Dirigente A:

Sempre foi intenção de a gente ter um representante ou mais de um representante que


estivesse constantemente visitando o cliente para poder desenvolver e manter esses rela-
cionamentos. Mas dada a questão territorial, já que a gente tem clientes em todo o Brasil,
continua sendo inviável. Mas a gente percebe que essa é uma das formas mais efetivas
porque nas poucas vezes que a gente tem a oportunidade de visitar, é bem proveitoso.

A tentativa de estabelecimento de um novo cenário para estimular a partici-


pação efetiva dos colaboradores quanto a esse aspecto encontra fundamento no que
dizem Maia et al. (2014) sobre o tema. Para os autores, “a capacidade continuada
dos colaboradores de uma empresa para inovar no dia a dia, como rotina da empre-
sa, de forma participativa e sem medos ou receios, é fundamental”. Na empresa B,

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404
identifica-se ainda a tendência a estimular o perfil empreendedor dos seus colabo-
radores. Comenta o Dirigente B que:

Uma coisa que é importante é esse espírito empreendedor. Se forem pessoas que têm o
perfil de receber a tarefa e executar da melhor maneira possível, não funciona. Não todas,
mas tem que ter umas pessoas que têm o perfil de empreendedor: “Eu vou fazer uma coisa
diferente. Eu vou contra a maré. Eu estou disposto a fazer isso dentro da empresa”... Então
isso acontece aqui.

Alguns eventos promovidos pela organização também têm o intuito de projetá-


-la para o mercado como centro de referência em inovação. Entre as práticas, o
Dirigente B cita:

A gente faz maratona de inovação. Então tem dia em que vários profissionais passam o dia
falando sobre vários tópicos de inovação. Isso é transmitido via web e é uma forma de se
aproximar do mercado, de mostrar para o mercado que nós fazemos inovação. Nós promo-
vemos também o dia da tecnologia, trazendo especialistas de uma determinada área… É
um evento mais técnico que discute sobre uma determinada tecnologia ou mercado… Nós
fizemos diversas iniciativas com cidades inteligentes, com a internet das coisas, já fizemos
coisas com saúde. Então estamos sempre fazendo eventos, ações, às vezes, com os clientes,
às vezes, com outras pessoas, para se aproximar do mercado, para o mercado nos perceber
como um centro de inovação. E a gente começa a se relacionar melhor com o mercado. Pro-
mover palestras para começar debates na sociedade.

A afirmação do dirigente B corrobora Day, que afirma que “o grau em que o


comportamento orientado para o mercado está embutido na cultura – valores, nor-
mas e crenças comuns que dão significado aos membros da organização – é cada
vez mais levado em conta”.

3.4.3 Aptidões
As organizações orientadas para o mercado desenvolvem uma série de habili-
dades específicas que as tornam capazes de se posicionarem estrategicamente a res-
peito das tendências do mercado. Essa vantagem pode significar atração de clientes,
melhora da relação com distribuidores e contenção dos concorrentes (DAY, 2001).
Na empresa Alfa, segundo o dirigente entrevistado, não há processos formali-
zados de pesquisa de mercado. Conta ele que “[...] Foi-se pensada a criação de um
papel para isso que é o de analista de negócios, mas houve evolução quanto a isso.
Esse papel foi abortado e a pessoa que iria exercê-lo voltou para o setor de suporte
técnico”, afirma. Entretanto, o dirigente também fala que “[...] existem aquelas
demandas que surgem por parte do cliente que os setores comercial e de suporte
reportam ao setor de desenvolvimento de software. Só que isso eu não considero
uma prática de pesquisa de mercado, pois é muito limitado”.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

405
Quanto ao estudo dos concorrentes, o gerente confirma não existir rotinas
dedicadas a essa atividade. As principais informações sobre o trabalho deles são
coletadas nos processos de licitação dos quais a empresa Alfa participa, além das
visitas aos clientes que são realizadas.
No que diz respeito às práticas de relacionamento com os clientes, o Dirigente
A julga que a empresa em que trabalha estabelece relações de longo prazo com eles,
mas avalia que quando classifica a interação desta maneira, “[...] é porque não existe
uma associação entre o esforço que vai se fazer e o valor agregado a isso. Não existe
uma análise de ROI. Então muitas vezes são priorizadas ações cujo retorno vem ser
a longo prazo”. Entre outras práticas que estimulam o bom relacionamento com o
cliente promovidas pela empresa, estão o envio de brindes durante o período natali-
no, a realização de pronto atendimento de demandas solicitadas pelos clientes – “sem
sequer avaliar o retorno financeiro sobre isso” –, como comenta o Dirigente A e outras
ações “mais sutis” como a prática mais branda de cobrança pelos serviços prestados e
a extrapolação do limite de horas vigente nos contratos para suporte ao usuário.
Quanto à questão do planejamento estratégico da organização, o dirigente A
informou que a empresa Alfa não dispõe desde processo gerencial:

Eu digo que a gente ainda está muito incipiente na questão de planejar. Não existe essa
prática aqui. Existem tentativas isoladas. O setor de desenvolvimento de software tem
uma tradição mais dinâmica [...] com metodologia ágil. O setor de suporte, por sua vez, há
tentativas de se implementar algumas práticas com base na biblioteca ITIL que também
defendem a questão do planejamento. Mais uma vez eu volto a dizer são tentativas ainda
muito verdes que requerem ainda maturação, principalmente, para os demais setores como
o próprio suporte, o comercial, que ainda está muito carente, e me parece que o único setor
em que há planejamento por conta da adoção da metodologia que foi o SCRUM, seja o setor
de desenvolvimento de software.

É perceptível a tentativa da empresa Alfa de estabelecer métodos que garan-


tam às áreas o acompanhamento de suas atividades. Entretanto, fica clara a falta
de unidade e congruência interssetorial no que diz respeito à obediência de um
plano estratégico que seja capaz de conferir à organização a capacidade de alocar
recursos humanos e materiais para execução de atividades orientadas ao cumpri-
mento de metas. É dessa maneira que, segundo Lima e Carvalho (2011), a empresa
torna-se apta a adequar os objetivos e recursos da empresa às mudanças de opor-
tunidades de mercados, aproveitando-as de maneira mais estratégica com seus re-
cursos (dinheiro, capital humano, intelectual, produtos diferenciados, outras van-
tagens perante os concorrentes), estabelecendo objetivos (o que se deseja atingir) e
estratégias (como chegar aos objetivos) factíveis.
A empresa B, por sua vez, apresenta elementos que evidenciam uma maturi-
dade mais elevada, tendo em vista que a organização, nas palavras do Dirigente B,

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

406
permite a criação de um planejamento participativo, reforçando o caráter empre-
endedor que a entidade deseja desenvolver em cada colaborador.

É completamente cooperativa, ou seja muito democrática. Às vezes, isso traz problemas,


mas eu acho isso acaba sendo o ponto forte da instituição. Qualquer área, qualquer pessoa
pode tocar uma coisa, basta convencer os demais que aquilo é importante e interessante. É
óbvio que a alta direção dá alguns direcionamentos. Mas não se restringe a eles.

Na opinião do Dirigente B, esse processo é importante porque “engaja as pes-


soas, faz com elas representem”. Além disso, a empresa B também desenvolve ou-
tras atividades para potencializar a cooperação entre seus colaboradores e a di-
fusão de conhecimento sobre assuntos estratégicos para a atuação de mercado da
organização bem como o aperfeiçoamento das habilidades dos colaboradores. Além
da maratona de inovação já citada pelo Dirigente B, acrescenta-se:

[...] Outro exemplo, dois anos já que a gente faz, que um ciclo de palestras no estilo do TED,
só que interno. Passamos uma semana com oito, dez palestras. A gente convida CEOs,
diretores, gente de opinião com quem temos um relacionamento, eles não são pagos, eles
querem vir, e falam sobre sistemas teve gente aqui falando sobre urbanização, sobre câncer,
sobre experiências internacionais, varejos, sobre o que é estudar o futuro. Isso tem sido
feito interno, mas queremos tornar isso uma das principais ferramentas para o público
externo. Promover palestras para começar debates na sociedade.

As tentativas de relacionamento com o cliente e o mercado surgem, portanto,


como vitais para a sobrevivência e o destaque das organizações em relação à con-
corrência e ao próprio mercado.

3.4.4 Base compartilhada de informações


Las Casas e Garcia (2007) reconhecem a comunicação como um dos diferen-
ciais competitivos de maior valor para empresas. Para os autores, nem sempre os
produtos, os preços ou o potencial de distribuição são capazes de diferenciar uma
marca de outra, muitas vezes, é o valor agregado por meio da comunicação e pela
proximidade com os consumidores. A base para a construção desse diferencial re-
side na capacidade das organizações de estimularem a troca de informações entre
os participantes das equipes para que o conhecimento possa construir relaciona-
mentos com clientes, disseminar a estratégia da empresa e aumentar o comprome-
timento dos funcionários com as necessidades do mercado.
Em ambas as empresas, registrou-se certa dificuldade de compartilhamento das
informações estratégicas entre os setores. No caso da empresa A, antes da instalação
do Comitê de Mudança, não havia um processo instaurado de compartilhamento de
informações. A organização faz uso de ferramentas de gestão do relacionamento com

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407
os clientes, mas os registros não circulam entre as áreas. Segundo o Dirigente A, “[...]
não existe nenhuma estratégia por trás da ferramenta. E é aquilo: não ainda ter fer-
ramentas e pessoas, apenas. Você precisa de um processo pra fechar esse triângulo”.
O gerente reconhece essa dificuldade, pois mesmo em uma organização de pequeno
porte existem barreiras impeditivas à comunicação entre os setores:

Circulam, até por conta dos grupos informais, na hora do cafezinho… Mas de uma maneira
muito informal. Intersetorialmente não existe muita interação. São feitas reuniões de final
de ano… Mas não existem momentos dedicados para a comunicação. Dentro dos próprios
setores existe. O setor de suporte, por exemplo, realiza reuniões semanalmente. O setor de
desenvolvimento também, por conta da própria metodologia que eles adotam.

Situação diferente é percebida na empresa B. Ao ser perguntado sobre os pro-


cessos de pesquisa de mercado e disseminação de informações, o Dirigente B foi
categórico:

Aqui a gestão da informação é muito importante. Toda quarta-feira à tarde, temos um horá-
rio reservado para encontros. Ele é chamado de intervalo técnico. Mas ele não é só técnico.
É um espaço em que qualquer pessoa pode ir lá e assistir presencialmente ou de suas baias,
caso não possa se deslocar por estar dedicado a um projeto no momento. Nesses estudos,
ocorrem apresentações de projetos, de experiências, pesquisas que fazemos e coisas que
deram errado, além de muita informação sobre determinado mercado ou cliente.

A prática condiz como que o que afirma Yanaze sobre a importância da infor-
mação, reconhecendo-a como “um dos inputs mais importantes para uma organi-
zação que pretende sobreviver e crescer no mercado; é a matéria-prima de suas
decisões” (2011, p. 270).
A difusão de conhecimento sobre clientes, mercados, processos de desenvolvi-
mento de sistemas e tecnologias, além de debates constantes sobre temas atuais,
podem ajudar as empresas de base tecnológica a superar os desafios impostos pelo
mercado de TICs. Mohr et al. (2011) aconselham, ainda, que a difusão do conhe-
cimento sobre clientes e mercado, especialmente para as equipes técnicas, seja
intensificada por meio do contato direto desses grupos tanto com clientes como com
outras fontes de informação.

4 Considerações finais
O presente trabalho buscou estabelecer um comparativo entre duas realida-
des distintas de empresas de base tecnológica e seus processos de orientação ao
mercado considerando o modelo proposto por George Day em 2001. Considerando
os elementos que o compõem, as organizações foram avaliadas e apresentaram

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

408
alguns elementos importantes para que se práticas exitosas e deficitárias sejam
identificadas e debatidas.
Verificou-se que uma estrutura organizacional enrijecida não estimula a par-
ticipação dos colaboradores na opinião quanto a inovações nos produtos e serviços
oferecidos. A falta de planejamento estratégico, de maior sensibilidade nas ques-
tões de marketing e na disseminação de conhecimento em diversos setores, a exem-
plo de uma das empresas aqui analisada, acabaram por criar um ambiente no qual
prevalece a retração. O relacionamento com os clientes torna-se comprometido em
virtude de não haver metas, indicadores e outros índices capazes de oferecer norte
aos colaboradores. É o que Moh et al. (2011) classificam como “rotinas enraizadas”,
que acabam por se tornar barreiras a uma avaliação realista e mais atenta às no-
vas oportunidades de mercado. Em cenários como esse, é tolhida a habilidade de
uma empresa de ser inovadora e de agir sobre informações do mercado.
O grau de maturidade desejado pode ser alcançado, conforme verificado neste
estudo, com processos bem desenhados, criando condições de “oferecer valor ao
cliente”. As práticas de integração que ocorrem internamente, a exemplo de inter-
valos técnicos e de palestras sobre temas pertinentes ao mercado, podem permitir
que os stakeholders percebam a empresa como centro de referência nas atividades
por ela desenvolvidas.
Analisando o modelo de orientação ao mercado proposto por Day (2001), ve-
rificou-se que esse pode ser um caminho para apresentar processos e estruturas
capazes de conferir às organizações a sensibilidade necessária para criarem um
ambiente virtuoso que permitam atenção e capacidade técnica para atender as
exigências de clientes e mercados. Contudo, ao considerar o mercado de tecnologia
da informação e comunicação, é necessário considerar alguns tópicos que não são
apresentados com o detalhamento necessário no modelo de Day (2001). Entre eles,
vale destacar o processo de planejamento estratégico que considere as incertezas
do mercado e das tecnologias, a volatilidade da concorrência, os processos de de-
cisão de compra por parte do cliente e questões de marketing como propaganda e
promoção e gestão de marca em mercados de alta tecnologia.
O estudo em questão não assume caráter conclusivo, em virtude das limita-
ções da pesquisa. Sugere-se em iniciativas futuras que os pesquisadores investi-
guem também as interpretações dos colaboradores das empresas, com o objetivo de
se estabelecer um retrato mais diverso das realidades estudadas.
É importante considerar que as conclusões aqui registradas não são aplicadas,
necessariamente, em organizações de porte semelhante às empresas aqui anali-
sadas. Seus resultados, explícitos aqui na forma de estudo de caso, retratam tão-
-somente um corte de realidade momentâneo das duas organizações.

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409
Market orientation in technology based companies software
producers: an analysis of George Day model
Abstract
This article analyzes the elements and processes that make up the market orientation in
Information and Communication Technology segment in technology-based companies in
the city of Recife, Pernambuco. To that end, are described both the concept of technology-
based company and the process of market orientation, with special attention to the model
proposed by George Day and detail of the components of his approach. It was conducted
a case study whose population is composed of two Pernambuco companies that develop
software as its main activity. The population is composed by two Pernambuco compa-
nies which develop software as their main activity. The instrument used was an inter-
view which is based on a questionnaire prepared by Day capable of establishing typical
characteristics of market-oriented organizations and providing the necessary inputs to
the implementation of improvements by managers and collaborators.

Keywords: Marketing. Market orientation. Information technology.

Orientación para el mercado de empresas de base


tecnológica productoras de software: un análisis según el
modelo de George Day
Resumen
Este artículo analiza los elementos y procesos que conforman la orientación al mercado en el
segmento de Tecnología de Información y Comunicación en las empresas de base tecnológica
en la ciudad de Recife, Pernambuco. A tal fin, se describen el concepto de empresa de base
tecnológica, el proceso de la OPM, con especial atención al modelo propuesto por George Day.
A continuación se realizó un estudio de casos cuya población está compuesta de dos empre-
sas que desarrollan software como actividad principal. El instrumento utilizado fue una
entrevista elaborada sobre la base de un cuestionario elaborado por Day capaz de establecer
características típicas de las organizaciones orientadas al mercado y proporcionar los insu-
mos necesarios para la implementación de mejoras por parte de gerentes y colaboradores.

Palabras clave: Marketing. Orientación al mercado. Tecnología de la información.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 385-412, jul./dez. 2016

410
Nota
Disponível em: <http://www.finep.gov.br/biblioteca/glossario>. Acesso em: 27 dez. 2016.
1

Referências
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ADLER, Isabel Krumholz; MOURA, Heloisa Tavares de. A criação de uma cultura de inova-
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412
O crowdsourcing como fator de
competitividade na publicidade: o
caso da Teaser Propaganda
Anderson Diego Farias da Silva*
Mayara Barbosa da Cunha**
Fernanda Martins Ramos***

Resumo
A dinâmica das transformações geradas pela globalização e o desenvolvimento das tecnolo-
gias da informação e comunicação afetam diretamente as relações econômicas e sociais no
mundo contemporâneo. Nesse contexto, as organizações precisam desenvolver novas estra-
tégias de aperfeiçoamento de seus produtos e serviços. O objetivo deste estudo reside em
compreender o histórico do crowdsourcing na publicidade, ressaltando a importância da
participação coletiva no advento das novas tecnologias. Desenvolveu-se um estudo de caso
qualitativo a fim de compreender os principais conceitos relacionados ao crowdsourcing em
estratégias publicitárias. Os resultados demonstraram como essa estratégia pode ser útil
para formar uma rede de colaboradores, aproximando usuário e marca, convertendo-o de
comprador em cliente.

Palavras-chave: Crowdsourcing. Estratégia. Teaser Propaganda.

*
Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre e doutorando em Administração pelo
Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco. Especia-
lista em Administração de Marketing pela Universidade de Pernambuco. E-mail: andersondiego6@
gmail.com
**
Discente do curso de Bacharelado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: mayarabcunha@hotmail.com
***
Discente do curso de Bacharelado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: fernandamartinsramos@gmail.com

http://dx.doi.org/10.5335/rtee.v22i47.6836

Submissão: 26/06/2016. Aceite: 15/08/2016.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 413-432, jul./dez. 2016

413
1 Introdução
Com o advento de um conceito de mercado mais integrado e o registro de maior
acesso dos consumidores às plataformas tecnológicas, a sociedade contemporânea
vive a consolidação das redes de conhecimento e de inovação, redes que se articu-
lam como novos mecanismos da globalização. Essa sociedade, já prenunciada por
Manuel Castells em sua obra Sociedade em rede (2010), revela a transformação
estrutural assentada sob o poder da comunicação e tecnologia, chamando a aten-
ção para o indivíduo, que ressurge perante a sociedade como ser ativo e soberano
a esse poder. Segundo Castells (2010), a sociedade determina o sucesso ou fracasso
de uma tecnologia e a molda de acordo com seus costumes, necessidades e prefe-
rências. Pode-se afirmar que a aceitação da inovação, sobretudo tecnológica, é fun-
damental para legitimar e fortalecer essa produção de conhecimento na sociedade
pós-industrial,1 de maneira que os produtos e serviços prestados sejam antes vali-
dados pelo crivo social, levando-se em conta aspectos relevante para a comunidade
(JULIEN, 2010).
Em busca do feedback e de ações inovadoras para o aperfeiçoamento de seus
bens, as empresas passaram a trabalhar com novas técnicas de obtenção desses re-
cursos, os chamados brainstorm, método que propõe a reunião de ideias e projetos de
maneira a estimular o conhecimento e a inovação (TADEL, 2011), e o crowdsourcing,
conceito ligado à colaboração coletiva para desenvolver inovação e aprimorar produ-
tos (HOWE, 2009). A aplicação de tais conceitos nos levou a um novo modelo de desen-
volvimento da inovação, que ampliou sua área de atuação e se livrou das limitações
de salas de reuniões ao abrir as portas para ideias e pessoas de diferentes partes do
mundo e classes sociais que se uniram em prol de um mesmo objetivo.
Para vivenciarmos essa interação de maneira tão intensa, um longo cami-
nho teve de ser percorrido até a fundamentação da internet e das mídias sociais,
nos moldes que conhecemos hoje. Mesmo que inconscientemente a sociedade pós-
-industrial dedica-se a trabalhar ativamente em todos os processos de criação, vis-
lumbrando um novo produto ou serviço, o senso crítico e a sensibilidade para en-
contrar maneiras de associar a praticidade à inovação tornaram-se um trunfo para
os gestores empresariais que entenderam que a proximidade com o usuário acelera
de modo significativo a eficiência dos resultados.
A visão do conhecimento como um bem intangível cada vez mais valorizado,
desvelado a partir da Segunda Guerra Mundial, revelou a necessidade de bus-
car novas fontes de produção. Nesse sentido, o crowdsourcing surge como um
método importante para o desenvolvimento de informação e conhecimento: bens

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 413-432, jul./dez. 2016

414
caracterizados como matéria-prima da inovação criativa-tecnológica tão ansiada
pelas organizações para permanecer em condição competitiva no mercado global
(NASCIMENTO et al., 2014; HOWE, 2009).
Visando explorar a agregação de valor desses mecanismos – conhecimento e
inovação – em uma empresa e vislumbrar como isso ocorre, o presente estudo terá
o objetivo de compreender a aplicabilidade e os resultados do crowdsour-
cing na área de marketing e publicidade, por meio da análise do caso da
Teaser Propaganda. Estruturado em cinco seções, a primeira apresenta a relação
entre a publicidade e a participação coletiva, ressaltando a importância das novas
tecnologias e do novo contexto de rede atual, analisando o fator competitivo dessa
democracia para as empresas. A seguir, será apresentada a plataforma de crowd-
sourcing 99 Designs, que reúne concursos de design gráfico voltados para a publi-
cidade, promovendo um ambiente competitivo amigável e seguro. Posteriormente,
é apresentado o histórico do crowdsourcing na publicidade, com a apresentação de
casos de sucesso e de insucesso. Por fim, será apresentado o caso da Teaser Propa-
ganda, em que se descreve a estratégia que a organização utilizou na implantação
do crowdsourcing nas redes sociais para a criação de seu próprio portal eletrônico.

2 Fundamentação teórica
As seções a seguir foram elaboradas com o intuito de fundamentar a impor-
tância da relação empresa-consumidor dentro do escopo da publicidade bem como
esclarecer questões sobre como o uso do crowdsourcing pode romper com a estrutu-
ra tradicional de se fazer marketing e agregar vantagem competitiva com relação
ao mercado.

2.1 A publicidade e a participação coletiva


Com o crescimento da integração dos mercados, em muitas situações, o fator
determinante para a sobrevivência dos negócios poderá depender da intensidade
em que cada um investe em seus ativos intangíveis. Friedrich List foi pioneiro ao
introduzir o conceito de investimento intangível, no século XIX, afirmando que a
situação de um país resulta da acumulação de todas as descobertas, invenções, me-
lhorias, aperfeiçoamentos e esforços de todas as gerações antecedentes e que isso
forma o capital intelectual da raça humana (FREEMAN; SOETE, 1997). Conside-
rando o marketing como bem intangível, Kotler e Armstrong (1996), apresentam-no

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 413-432, jul./dez. 2016

415
como um fator de vantagem competitiva para a organização. Essa vantagem com-
petitiva poderá ser obtida por meio da influência na reputação de uma instituição,
representação simbólica que poderá valorizá-la ou prejudicá-la diante dos usuários
e os fornecedores.
Segundo Cocco, Galvão e Silva (2003), estamos diante de alterações sistêmi-
cas não compreendidas pelo capitalismo industrial e que, portanto, sugerem o uso
do termo capitalismo cognitivo, como forma mais adequada de representar essas
transformações, ou seja, compreender um ambiente dinâmico em que o sistema
econômico vigente privilegia o trabalho imaterial, que cria valor competitivo nas
empresas, pois o conhecimento é concebido como um tipo de mercadoria. Podemos
considerar patrimônios intangíveis bens como know-how, direitos autorais, paten-
tes, recursos humanos ou tecnologias. Esses bens estão fortemente vinculados ao
desenvolvimento de inovação, tanto tecnológica quanto na gestão administrativa
do patrimônio, o que reforça a importância da atividade inovativa dentro da orga-
nização, de forma a mantê-la presente e participativa no mercado.
O aumento da conectividade que as novas tecnologias da informação e comu-
nicação provocaram, que somada à ascensão de um novo perfil de indivíduo que
busca novos contatos a fim de difundir ideias com vistas à geração de algo inova-
dor, é considerado um dos maiores impulsionadores da inovação (CASTRO, 2011;
HOWE, 2009). Conforme argumenta Wersig, “o universo do conhecimento está se
desmembrando de forma crescente por muitas razões. Uma delas, certamente, é
o absoluto volume, que torna impossível para qualquer pessoa acumular todo o
conhecimento disponível” (1993, p. 232).
O surgimento de novas formas de comunicação, tais como as plataformas tec-
nológicas colaborativas e o encontro de novas pessoas que colaboram e difundem
as ideias é o que Hall (1994) intitula de mudança tecnológica incremental e gradu-
al, que é amplamente aceita, principalmente, em virtude da teoria evolucionária
(JOHNSON, 2001). Desse modo, no contexto da sociedade em rede, observa-se que
cada vez mais as empresas se aproximam uma das outras e de seus clientes, ge-
rando uma espécie de movimento dinâmico de cocriação no processo de desenvolvi-
mento de novos produtos e serviços (CASTELLS, 2010).
Na área publicitária não é diferente, pois, as empresas estão cada vez mais
fortalecendo esses novos canais de comunicação com seus consumidores. O públi-
co participa de campanhas publicitárias por meio do envio de fotos e vídeos para
concursos de marcas, os usuários da rede, por se sentirem inseridos no processo
de criação, criam peças publicitárias para se manifestarem positiva ou negativa-
mente em relação a produtos ou serviços, são criadas agências on-line, visando

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, p. 413-432, jul./dez. 2016

416
à colaboração criativa de terceiros conectados virtualmente, etc. Dessa forma, a
empresa tem essa nova estratégia colaborativa, que gera lucros não apenas infor-
macionais, mas econômicos também (AMARAL FILHO, 2014).
A inserção do crowdsourcing na publicidade está alterando a forma de relação
entre agentes publicitários, marcas e clientes. Porém, essa expansão encontra al-
guns empecilhos, pois:

A maioria de nós seja como eleitores, investidores consumidores ou administradores acre-


dita que o conhecimento valioso está concentrado em muito poucas mãos (ou, melhor, em
muito poucas cabeças). Nós presumimos que a chave para solucionar problemas ou tomar
boas decisões é encontrar aquela pessoa certa que terá a resposta. [...] sentimos a necessi-
dade de “caçar o especialista” [...] caçar o especialista é um equívoco, e um equívoco caro.
Nós devemos parar de caçar e, em vez disso, perguntar a massa (que, claro, inclui tanto os
gênios quanto todos os outros) (SUROWIECKI, 2006, p. 13).

O crowdsourcing na publicidade possibilita a utilização da inteligência coleti-


va, direcionando-a para seus próprios fins (JENKINS, 2009). Nesse novo cenário
de conectividade, os conteúdos e informações não fluem mais de forma unilateral e
o consumidor deixa de ser um agente passivo. Assim, esse indivíduo passa a ter um
poder maior de interação e comunicação, ou seja, é agora uma espécie de porta-voz
da marca, participando constantemente de discussões em comunidades, defenden-
do a marca ou gerando novas demandas. Dessa maneira, esse consumidor torna-se
um agente constituído por um discurso que poderá influenciar as organizações.
Essa participação do público consumidor poderá ser compreendida a partir do
equilíbrio entre os conceitos do fascínio e da frustração. Com relação ao fascínio,
ele ocorre na medida em que o indivíduo tem acesso às tecnologias da informação
e comunicação e passa a ser ouvido e visto por empresas, podendo expor opiniões
e habilidades. Em se tratando da frustração, ela ocorre com a empresa, marcas,
pessoas e governos. A junção desses dois sentimentos faz com que os consumidores
criem canais para mostrar sua insatisfação em relação a um produto, publicando
vídeos, compartilhando informações acerca da marca e participando ativamente de
campanhas (AMARAL FILHO, 2014).
O gosto por emitir opiniões é uma característica intrínseca do ser humano, que
sempre deseja se expressar com relação a determinados assuntos de seu interesse,
aconselhando ou desaconselhando. Nesse sentido, a propaganda boca a boca ocorre
quando esses comentários referem-se à marca, e essa é uma prática constante des-
de o aparecimento das opções de escolha (AMARAL FILHO, 2014). A opinião que o
consumidor produz e transmite a outros tem a credibilidade desses ouvintes, pois
quem opina, provavelmente, experimentou o produto/serviço.

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No ambiente mercadológico, a propaganda boca a boca está adquirindo ao lon-
go dos anos grande relevância no desenvolvimento das estratégias de marketing
e comunicação das empresas, passando a ser utilizada em função da experiência
dos consumidores com os produtos, visando atrair a atenção das pessoas para eles.
Desse modo, as empresas estrategicamente cedem espaços em seus portais eletrô-
nicos, no intuito de obter informações do público sobre a marca, buscando apreen-
der informações sobre indicações e benefícios que podem ser acrescidos ao produto.
O marketing viral (BARICHELL, 2011) faz uso da internet como meio de pro-
pagação da mensagem. Para Felinto, “o termo define uma estratégia de comuni-
cação fundada na ideia de explorar redes sociais pré-existentes para produzir au-
mentos exponenciais de propagação de uma marca ou conceito, de forma similar ao
que sucede numa epidemia” (2007, p. 35). Isso significa que a viralização não é um
fato atual, já que se registra que, mesmo antes da existência da web 2.0, que é uma
plataforma colaborativa por natureza, interativa e dinâmica, os usuários criavam
o conteúdo nesses sites tanto quanto eles o consumiam (O’REILLY, 2005), pois era
possível viralizar mensagens, por meio de e-mails, salas de bate-papo e programas
de mensagens instantâneas, como o ICQ. O que ocorre nos dias atuais é a ascensão
da propagação de todo tipo de mensagem pelo que distingue a web 2.0 da 1.0, ou
seja, a possibilidade de compartilhamento. Dessa forma, os usuários podem publi-
car e compartilhar vídeos em seus blogues e redes sociais, além de utilizar todas
as ferramentas disponíveis para disponibilizar endereços de vídeos, por exemplo,
que viralizam.
Os estudos desenvolvidos por Vickery e Wunsch-Vincent (2007) classificam o
conteúdo criado pelo usuário como sendo um conteúdo disponibilizado na internet,
reflexo de certo esforço criativo e com produção fora de práticas e rotinas profissio-
nais. Para os autores, a maioria desse conteúdo é feita sem a expectativa de haver
lucro ou remuneração e as motivações seriam a conexão com os pares, autoexpres-
são e aquisição de notoriedade.
Porém, diante do contexto da inovação aberta (open innovation), compreendi-
da por Chesbrough (2003) como o ato das empresas explorarem recursos de outras
organizações externas visando à redução de custos relacionados ao desenvolvimen-
to tecnológico, os riscos de entrada no mercado e o tempo de desenvolvimento de
um novo produto, além da sustentação de que o processo de inovação deva ser mais
colaborativo, buscando acessar conhecimento a partir de diversos atores externos,
dessa maneira, as empresas passam a ter uma visão estratégica de não estarem
apenas voltadas para as criações internas, mas também, para as tendências do
ambiente externo. Por esse motivo, algumas empresas têm um olhar diferenciado

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para esses virais da internet, por compreenderem o grande alcance que esses ví-
deos detêm. Exemplificando, aproveita-se esse sucesso para engrenar a marca por
meio de campanhas publicitárias que promovam fácil identificação com o público
consumidor (AMARAL FILHO, 2014).
A democratização da internet abre espaço para novas oportunidades de ex-
pressão, já que de um lado temos as empresas de mídia acelerando o fluxo de con-
teúdo por meio dos canais de distribuição, visando aumentar o lucro e o mercado,
de outro lado, os consumidores, cada vez mais inseridos na rede, aprendendo a
utilizar diferentes tecnologias para interagir com outros consumidores e com a em-
presa, sentindo-se satisfeito por participar de uma marca com a qual se identificam
(JENKINS, 2009). Em decorrência desses aspectos, o consumidor sente-se ativo e
acolhido pela marca, que o convida a se inserir em sua comunidade. Essa é também
uma forte estratégia das empresas, que estabelecem um vínculo afetivo com seus
clientes, de forma que se gera um comprometimento e um processo de fidelização
que aproxima o consumidor e fortalece a marca, fazendo com que o consumidor
escolha seu produto/serviço, independente de ser mais ou menos vantajoso.

2.2. Crowdsourcing e o 99 Designs


Em sua obra O poder das multidões, Jeff Howe (2009) definiu o termo crowd-
sourcing como sendo um modelo de produção que utiliza a inteligência coletiva e
a capacidade de indivíduos disseminados pela rede para resolver problemas, criar
soluções ou desenvolver novas tecnologias. Por meio dessa perspectiva teórica, po-
demos suscitar o dito popular que afirma que duas cabeças pensam melhor do que
uma, ou seja, o fato de que o crowdsourcing, por contar com mão de obra barata – já
que seus executores são pessoas que fazem disso um lazer –, cria um forte instru-
mento para o desenvolvimento da inovação aberta (NASCIMENTO et al., 2014).
Corroborando com os argumentos suscitados por Howe (2009), o estudo de-
senvolvido por Zatti, Ferrari e Belalian (2012) destaca ainda que o crowdsourcing,
em sua essência, dependeria da existência de uma multidão, seja para produzir
um vídeo ou para editar um tópico na Wikipédia, por exemplo. Dessa maneira,
pressupõe-se que inseridos em uma perspectiva da sociedade em rede, a inovação
dependerá menos dos gênios individuais para ser uma propriedade produzida de
forma colaborativa, em todo o seu processo de desenvolvimento (NASCIMENTO et
al., 2014; GARCIA, 2012; CASTELLS, 2003).
Desse modo, o crowdsourcing carrega um valor intrínseco compreendido como
a economia da reputação, uma vez que a reputação empresarial é considerada um

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capital intangível, cada vez mais visado no mercado, e que se não for bem gerencia-
do acarreta custos de difícil reparo para a empresa, assim, o crowdsourcing mostra
que o ser humano nem sempre segue padrões egoístas ou oportunistas, pois, temos
como exemplo a plataforma tecnológica colaborativa Wikipédia, na qual milhares
de pessoas ao redor do mundo contribuem com conhecimento voluntariamente.
Conforme Howe (2009) existem quatro categorias de crowdsourcing:
a) Inteligência coletiva: princípio de que grupos contêm mais conhecimento do
que pessoas isoladas;
b) Criatividade da multidão: princípio de que a multidão tem grande energia
criativa;
c) Poder de voto da multidão: aproveita opinião das pessoas para organizar
grandes volumes de informação (classificar);
d) Crowdfunding: aproveita renda coletiva, permitindo que grupos sejam fon-
tes de recursos financeiros.

Com relação à delimitação de regras, o intuito é a promoção da eficiência na


iniciativa de crowdsourcing, pois, Howe (2009) argumenta que a empresa deverá
saber escolher a multidão certa para o desenvolvimento do modelo, ou seja, nunca
perguntar o que a multidão pode fazer por você e, sim, o contrário, escolher os in-
centivos certos e usar os filtros corretamente.
A plataforma de crowdsourcing mais importante no ramo do design gráfico
voltado para o marketing é o 99 Designs, que tem a função de trazer a inovação
para o ramo, com objetivo de promover um ambiente interativo, profissional e se-
guro, no qual os usuários poderão competir, compartilhar informações e conquistar
novos clientes (SILVA, 2001). Assim, essa plataforma poderá promover concursos
voltados para o design de identidade (logotipo, papelaria), web design (background
para a rede social Twitter, banners de propagandas) e alguns outros produtos, en-
tretanto, para fins deste estudo, delimitaremos a compreensão acerca da criação
de logotipos.
Inicialmente, o usuário deverá criar um perfil e poderá promover e participar
de concursos, compartilhando informações. Ao criar um novo concurso, o usuário
define o que quer (logotipo, banner), em seguida, apresentará uma breve descrição
do negócio e do ramo de atuação de sua empresa, podendo escolher o estilo do logo
desejado por ele. Adiante, define características desejáveis para o logo, por meio de
um gráfico, podendo especificar a cor desejada. A plataforma tecnológica faz uma
relação entre cores e sentimentos (exemplo: vermelho reflete paixão, raiva, vigor,
amor, perigo). Além disso, é possível selecionar a plataforma em que o logo será

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utilizado: impresso, on-line, tela. Por fim, o usuário pode anexar quaisquer ima-
gens para auxiliar o designer na criação.

3 Procedimentos metodológicos
O presente estudo está fundamentado em pesquisas bibliográficas (LIMA e
MIOTO, 2007) realizadas em periódicos, livros e documentos oficiais, sob a lente
teórica dos conceitos inerentes ao crowdsourcing, compreendido como uma estraté-
gia competitiva as empresas, no que se refere à estratégia publicitária.
Com relação à natureza do estudo, trata-se de uma abordagem qualitativa,
que visa analisar o ambiente natural como fonte de dados e o pesquisador como ins-
trumento (MARTINS; THEÓPHILO, 2007). O argumento proposto por Richardson
corrobora essa definição, ao afirmar que “os estudos que empregam uma metodolo-
gia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, anali-
sar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos
e vividos por grupos sociais” (1999, p. 39).
Em se tratando do enfoque, esta pesquisa possui um caráter exploratório, pois,
o objetivo é analisar os fatores estratégicos que o crowdsourcing possibilita para as
agências publicitárias no contexto atual. Além disso, foram analisados casos con-
cretos e contextualizados no intuito de facilitar esse entendimento.
Quanto à estratégia de pesquisa, utilizou-se o estudo de caso, compreendido
por Creswell (2010) como uma estratégia de investigação que diz respeito a um
programa, um evento, uma atividade, um processo ou um ou mais indivíduos. No
processo de escolha dessa estratégia de investigação, observamos o quão era ne-
cessária sua aplicação pelas condições contextuais serem extremamente pertinen-
tes para se compreender o fenômeno estudado: o caso da Teaser Propaganda, no
intuito de verificar a aplicabilidade e os resultados do crowdsourcing na área de
marketing e publicidade.
No processo de construção do plano de coleta de dados, optou-se pela realiza-
ção de uma pesquisa documental por meio do acesso a relatórios, papers e demais
publicações a fim de encontrar dados que corroborassem a melhor observação do
caso estudado.
Na etapa de interpretação dos dados, foram realizados procedimentos de
triangulação e validação, buscando excluir possíveis interpretações equivocadas
(GASKELL; BAUER, 2002; STAKE, 1999). As tipologias nos procedimentos de
triangulação, conforme argumenta Denzin (2009), são a triangulação de fontes de
dados, baseada na utilização de diversas fontes de informação e a triangulação de

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421
investigadores, que sugere que mais de um pesquisador possa analisar os mesmos
dados. Esta pesquisa contou com o apoio de estudiosos e pesquisadores que com-
põem o Lócus de Investigação em Economia Criativa da Universidade Federal de
Pernambuco para a triangulação de métodos, que se refere à utilização de dois ou
mais métodos de pesquisa, e para a triangulação da teoria, que submete os achados
ao escrutínio teórico.

4 Crowdsourcing na publicidade: o caso da


Teaser Propaganda
A publicidade participativa não é algo recente, nem apenas fruto da ascensão
da internet, ocorria antes mesmo da consolidação desses acontecimentos. Na dé-
cada de 1990, observa-se uma iniciativa de crowdsourcing com consumidores da
empresa de vestuário Gang Gaúcha, que ao utilizar o slogan A loja que te entende
buscou investir na comunicação com o público consumidor, visando atraí-los para
que eles pudessem colaborar na criação de suas campanhas publicitárias. As pes-
soas foram convidadas a enviar sugestões de campanha para as coleções de verão
ou inverno, e essa foi a maneira pela qual o público jovem conseguiu lugar para se
expressar. Além disso, o slogan pretendia confirmar esse compromisso com seu pú-
blico, que estava em sincronia com a proposta de valor da marca (GANG GAÚCHA,
2015; AMARAL FILHO, 2014).
Seguindo um percurso semelhante, a agência Teaser Propaganda surgiu no
período chamado de terceira geração de agências de publicidade e propaganda no
estado de Sergipe. A primeira geração era formada basicamente por profissionais
de outros estados, visto que não havia curso de Publicidade e Propaganda nas
universidades sergipanas. Já a segunda geração contava com profissionais locais e
ações que visavam os meios de comunicações convencionais. Por fim, a terceira ge-
ração chega buscando mudar o foco dos meios de comunicações convencionais para
os alternativos, as mídias digitais, mas sem extinguir as mídias convencionais de
fato.
Com um site criado a partir de um brainstorm que envolveu centenas de co-
criadores externos (Figura 1), a Teaser Propaganda buscava se diferenciar das de-
mais agências do setor e apostou no crowdsourcing para se destacar em um cenário
incerto e ainda pouco desenvolvido no Brasil (TEASER PROPAGANDA, 2012).

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422
Figura 1 – Case site cocriativo Um projeto. Vários autores

Fonte: Teaser Propaganda (2012).

A estratégia da agência era desenvolver seu novo site e por meio dele aumen-
tar o diálogo com a comunidade on-line e criar um posicionamento na web para a
marca, foi em busca de uma forma original e eficiente para atingir seus objetivos.
Baseada na ideia de que todos os profissionais lidam com prazo e de que para ace-
lerar o processo de criação precisam de mais pessoas, o que resulta em mais prazo,
a Teaser desenvolveu uma ação que se iniciava ainda no brainstorm e se aliava ao
crowdsourcing.
O site foi lançado e o sucesso dessa plataforma de contribuições foi tão grande
que em menos de 48 horas a Teaser tornou-se a empresa do segmento local com o
maior número de fãs, foi citada em sites de referência, como o Inovadores ESPM e
no site especializado em crowdsourcing, o IdeasMe, além de se tornar referência em
estratégia para redes sociais. As ideias desse projeto não só ajudaram a desenvol-
ver o novo site da Teaser, como também incentivaram a criação de novos projetos.

5 Apresentação e discussão dos resultados


Nesta seção apresentam-se as discussões referentes à aplicação da ferramenta
crowdsourcing em uma agência de publicidade, especificamente, a empresa Teaser
Propaganda. Para tanto, buscou-se analisar conceitos interligados sobre o que é

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423
apregoado acerca desse assunto na literatura organizacional com a sua prática.
Desse modo, observamos que a escolha pelo presente caso corroborou para a com-
preensão sobre como o crowdsourcing e a inovação aberta valorizam as contribui-
ções externas e buscam não se limitar ao espaço físico da organização, tampouco
aos meios de comunicação convencionais.
Inicialmente, ao analisarmos o caso da Teaser Propaganda, percebemos que
a organização almejava obter um diferencial competitivo em seu mercado de atua-
ção. Nesse sentido, desenvolveu uma nova estratégia de comunicação direcionada
ao seu público consumidor, tornando-o uma espécie de cocriador de seus produtos
e serviços, por meio das redes sociais. Dessa forma, a Teaser não só conseguiu de-
senvolver seu site de forma inovadora, como conseguiu mostrar que não devemos
sempre esperar que os indivíduos ajam de forma egoísta ou interesseira baseados
apenas em boas recompensas. Segundo Machado Filho (2006), esse comportamen-
to oportunista pode ser justificado por questões intrínsecas aos seres e interações
humanas, sendo, portanto, papel da instituição garantir medidas eficientes que
minimizem tais ações.
Sendo assim, a empresa pode ser caracterizada como uma startup, modelo de
negócio empreendedor, em que o investimento em tecnologia e ideias inovadoras
traduz sua principal fonte de lucro (MUNHOZ et al., 2013). Por meio da inovação
estratégica, a empresa aperfeiçoou-se em termos de competitividade, tendo a inter-
net como viabilizadora da proposta.
As ações desenvolvidas pela agência tiveram o intuito de aproximar pessoas e
ideias, visando agregar valor ao produto final, além de promover a boa reputação
da nova marca. Assim, observamos que a reputação atua como um fator deter-
minante e que influência no engajamento e na produtividade dos envolvidos no
brainstorm, assim como na percepção de credibilidade por parte dos consumidores,
além de estimular os funcionários, influenciando na produtividade.
No período em que foi desenvolvido o portal eletrônico da agência Teaser Pro-
paganda, em 2011, não era comum no Brasil o uso assíduo de mídias digitais para
esses fins, especialmente no estado de Sergipe. Dessa maneira, ao implantar esse
modelo colaborativo, a empresa trouxe à tona um conceito que dialoga com o da
inovação aberta, pois, conforme define Chesbrough (2003), neste modelo a empresa
observa tendências externas e traz isso para dentro de si, e não necessariamente
um funcionário ou colaborador está literalmente trabalhando na empresa, mas
podem ser pessoas comuns, que se identificam com a marca e se sentem motivadas
a contribuir.

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No caso específico da empresa estudada, observamos que a estratégia de uso
da rede social Facebook e as iniciativas da promoção de uma hashtag intitulada
#CoCriadorDODIA dialogam com o que anteriormente denominamos de propagan-
da boca a boca (AMARAL FILHO, 2014). Nesse sentido, percebe-se que após essas
iniciativas, os seguidores da página eram incentivados a postar frases criativas em
troca da divulgação de sua foto pela empresa em sua fanpage, caracterizando um
vínculo e uma espécie de reconhecimento. A partir disso, a agência Teaser Propa-
ganda desenvolveu uma forte empatia com esses consumidores, convidando-os a se
engajar na criação do seu portal eletrônico, além de encher a “sala de reunião” do
brainstorm com pessoas de perfil criativo e colaborativo, caracterizando assim, a
existência da multidão, conforme argumentaram Zatti, Ferrari e Belalian (2012).
Dessa forma, constituiu-se uma rede colaborativa de indivíduos que interagiam
em torno da construção da marca, diferentemente, por exemplo, do que ocorreria
nos moldes tradicionais de atuação da empresa fordista. Entretanto, como forma de
atender aos requisitos básicos da estratégia de crowdsourcing, antes da criação do
portal eletrônico, a agência Teaser Propaganda selecionou diversos colaboradores
cujas ideias seriam inseridas no projeto, ou seja, a empresa utilizou filtros adequa-
dos para a escolha de colaboradores que mais se adaptassem à sua proposta de valor
e criou incentivos que consolidassem essa proposição, que, nesse caso, foi a ação
de distribuir bebida energética para os consumidores, perguntando-lhes como ela
poderia deixá-los mais criativos, além de convidá-los para que criassem frases ex-
pressando as suas expectativas (GARCIA, 2012; HOWE, 2009; CASTELLS, 2003).
O uso do crowdsourcing como estratégia de negócio possibilita a utilização de
uma mão de obra barata, visão partilhada pelos estudos de Howe (2009), pois, con-
forme observado no caso estudado, essa questão teve um forte impacto na redução
de custos na criação do portal eletrônico da empresa Teaser, ou seja, os indivíduos
que estiveram envolvidos nessa construção foram voluntários simpáticos à causa
e não foram pagos de alguma forma para isso. Além disso, é possível enquadramos
esse caso na categoria de criatividade de multidão, pois, foi utilizada a energia
criativa de vários indivíduos reunidos, inclusive, fazendo referência ao princípio de
inteligência coletiva, que prega que um grupo detém mais conhecimento do que um
indivíduo isolado (NASCIMENTO; HEBER; LUFT, 2014).
Com relação às principais consequências alcançadas por essa empresa a partir
do uso da estratégia do crowdsourcing, destacam-se o reconhecimento obtido no
mercado publicitário, as premiações concedidas pelo segmento, além da inspira-
ção para a realização de outros projetos com as ideias concebidas pelos intitula-
dos “cocriativos”. Esses acontecimentos geraram desdobramentos que estão sendo

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425
consolidados em iniciativas posteriores, tais como a estratégia A nova da Teaser,
uma série de palestras virtuais inspiradas por sugestões desses seguidores, que
contribui para a evolução desse mercado.
Analisando a distribuição de sua estrutura física, observamos que a empresa
criou um recurso no corredor de acesso aos departamentos, onde os fãs da marca
podem passar e interagir com os colaboradores da Teaser. O objetivo dessa medida
é de estimular a equipe, fazendo-as trabalhar ao longo do dia cientes de que muitas
pessoas estão atentas e apoiando o trabalho que está sendo desenvolvido. Esse fa-
tor reflete-se positivamente na produtividade da empresa, além de ser considerado
um valor competitivo.
Em se tratando do capital reputacional da empresa Teaser Propaganda, ana-
lisamos que a sua ocorrência não apenas se estabeleceu no ambiente externo, mas,
sobretudo, em seu ambiente interno pode ser registrado, uma vez que os próprios
colaboradores estavam se encarregando de desenvolver a chamada propaganda
boca a boca, incentivados pelo argumento de que faziam parte da equipe (AMARAL
FILHO, 2014; MACHADO FILHO, 2006).
Aliando o pensamento estratégico ao da inovação, percebemos que a empresa
buscou agregar valor competitivo à sua marca por meio da introdução de conceitos
do crowdsourcing no mercado publicitário brasileiro. Além disso, o intuito era não
deixar que a iniciativa pudesse ser interpretada como algo isolado, pois a questão
central era demonstrar que a criação de ambientes de colaboração permitiria que
novas iniciativas pudessem ser geradas, buscando extrair o máximo do sucesso de
cada caso, visando ao fortalecimento da própria marca, como fizeram na criação
de um vídeo divulgado em uma rede social (YouTube) que explica o processo de
cocriação do site, demonstrando as consequências e como as estratégias que foram
implantadas visam ao alcance de objetivos estratégicos da organização, atraindo
assim, não só os seguidores conquistados durante o processo de formulação, mas
também pessoas que poderiam vir a conhecer esse caso (PINTO; ANHOLON, 2006).
Por fim, o estudo do presente caso fez referência aos custos transacionais de
controle de pessoal, ou seja, no que tange ao fato de ter colaboradores estimulados
e alinhados à estratégia da empresa, essa situação poderia diminuir as consequên-
cias dos riscos de oportunismo interno. A redução desse risco, consequentemente,
acarretaria na diminuição de custos transacionais de controle desse pessoal, desen-
volvendo, assim, uma equipe confiável e integralizada (MACHADO FILHO, 2006).

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426
6 Considerações finais
O estudo do presente case à luz de conceitos extraídos da literatura organi-
zacional acerca do crowdsourcing, no contexto do capitalismo cognitivo, permite
compreender em quais condições o conhecimento funciona como uma espécie de
mercadoria – um bem simbólico – e de como o acesso à informação poderá ser livre
para a grande maioria das pessoas, ficando cada vez mais comum a existência de
uma forte interação entre o consumidor e a respectiva organização detentora da
marca. Nessa perspectiva, os consumidores têm mais poder de ação com base nas
informações que podem ser geradas sobre as organizações por meio das tecnologias
de informação e comunicação, podendo, inclusive, demonstrar apreensões positivas
ou negativas acerca da atuação desses negócios.
Entendendo que o marketing é caracterizado como um capital intangível e
que poderá, portanto, interferir diretamente na receita da empresa, torna-se fun-
damental conhecer novas estratégias que possam ser incrementadas a esse capi-
tal, no intuito de dinamizar a receita do negócio e elevar o seu valor competitivo.
Nesse sentido, analisar o desenvolvimento do crowdsourcing em uma empresa do
segmento publicitário brasileiro, nesse caso, a agência Teaser Propaganda, foi de
suma importância para a construção deste estudo, pois, além de desvelar conceitos
emergentes e que estão associados ao crowdsourcing, ao capital reputacional das
organizações, ao desenvolvimento da web 2.0 e da sociedade em rede, é um case de
sucesso promovido por uma organização empresarial estrategicamente localizada
na Região Nordeste do Brasil, próxima à nossa realidade.
Ainda, refletindo sobre os achados deste estudo, observamos que a estratégia
tradicional de marketing necessita ser repensada e muito bem elaborada para que
seja viável para as organizações garantirem a manutenção da reputação de suas
marcas em um contexto que exige cada vez mais transparência e menos dispari-
dade de informação. Desse modo, o estabelecimento da inovação aberta nas orga-
nizações empresariais poderá atuar como fator de elevação da competitividade,
funcionando como diferencial e influenciando diretamente na qualidade, expecta-
tiva e credibilidade dos produtos e serviços ofertados na ótica dos consumidores.
Desenvolvendo, assim, um vínculo afetivo que resultará em uma fidelização do
cliente, que compartilha boas informações sobre a marca. Isso não só poderá afetar
na conquista de novos clientes, mas também, internamente, na motivação dos cola-
boradores, por estarem inseridos em uma comunidade de práticas bem faladas, ou
seja, refletindo diretamente em sua produtividade.
O que se percebeu ao longo desse estudo, é que existe uma imensa gama de
vantagens quando se adotam estratégias de marketing alinhadas aos princípios da

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organização empresarial, especialmente, quando o recurso que possuirá a missão
de traduzir essa questão for o crowdsourcing, conforme foi demonstrado nos case
da agência Teaser Propaganda e da plataforma 99 Designs.
A ampla concorrência entre as empresas é considerada um fator impulsiona-
dor para a formatação de novas iniciativas de negócios que passam a ser integrados
em redes, vislumbrando a ampliação de seus mercados e a conquista por novos
consumidores. Para tanto, esses negócios necessitarão desenvolver práticas que
os diferencie no mercado, de uma maneira que seu público-alvo se identifique com
eles. No caso da Teaser Propaganda, o que percebemos é que ela não apenas de-
senvolveu uma plataforma de crowdsourcing para criação do seu portal eletrônico,
mas, além disso, elaborou campanhas que tinham o intuito de divulgar o sucesso
dessa iniciativa. Essas campanhas foram desenvolvidas por meio da elaboração de
vídeos didáticos que tinham a clara intenção de atrair as pessoas que porventura
não estiveram presentes no processo de brainstorm, mas que se identificaram com
essa iniciativa posteriormente.
Em se tratando das implicações gerenciais, ressaltamos que a empresa Teaser
Propaganda utilizou o crowdsourcing como estratégia para o desenvolvimento de
seu negócio por constatar que possui uma forte dependência das ideias criativas de
seus colaboradores. Por este motivo, acreditamos que uma contribuição importante
deste trabalho foi o de evidenciar que as organizações empresariais concebidas no
capitalismo cognitivo necessitam repensar suas estratégias de atuação, especifi-
camente, no segmento publicitário brasileiro, pois, conforme foi demonstrado, no
contexto atual, os consumidores passam a interagir na esfera cultural, nas chama-
das comunidades de afinidades, nas quais suas necessidades individuais emergem
e em que se observam o desprendimento desses indivíduos, que passam a interagir
em uma dimensão coletiva. Deste modo, as organizações devem repensar a dina-
micidade de seus modelos de negócios e adequá-los a esse novo ambiente, além de
observar potenciais tecnologias existentes no ambiente externo, ou seja, para além
de suas fronteiras.
Finalmente, como forma de contribuição para a realização de pesquisas futu-
ras, acreditamos que o desenvolvimento de estudos que se debruçassem por com-
preender a dinâmica atual do segmento publicitário brasileiro, as suas principais
tecnologias de gestão e o grau de dinamicidade que a utilização do crowdsourcing
poderia conceder a esse segmento, seriam importantes para o aprofundamento te-
órico sobre o tema bem como na constituição de um documento norteador para o
avanço das empresas inseridas no segmento. Além disso, seria interessante estu-
dar os obstáculos existentes para o desenvolvimento dos modelos de negócios base-
ados no crowdsourcing, especialmente, quando eles não têm o suporte necessário
para se constituírem.

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428
The crowdsourcing as competitiveness factor in
publicity: the case of Teaser Propaganda
Abstract
The dynamics of transformations generated by globalization and the development of Infor-
mation and Communication Technologies directly affect the economic and social relations
in the contemporary world. In this context, organizations need to develop new strategies
for improvement of their products and services. The aim of this study is to understand the
history of crowdsourcing in advertising, stressing the importance of collective participa-
tion in the advent of new technologies. We developed a qualitative case study in order
to understand the main concepts related to crowdsourcing in advertising strategies. The
results demonstrated how this strategy can be useful to form a network of collaborators
approaching user and brand and making it the buyer client.

Keywords: Crowdsourcing. Strategy. Teaser Propaganda.

El crowdsourcing como factor de competitividad en la


publicidad: el caso de la Teaser Propaganda
Resumen
La dinámica de las transformaciones generadas por la globalización y el desarrollo de las
Tecnologías de la Información y la Comunicación y afectan directamente a las relaciones
económicas y sociales en el mundo contemporáneo. En este contexto, las organizaciones
necesitan desarrollar nuevas estrategias para la mejora de sus productos y servicios. El ob-
jetivo de este estudio es comprender la historia de crowdsourcing en la publicidad, hacien-
do hincapié en la importancia de la participación colectiva en el advenimiento de nuevas
tecnologías. Hemos desarrollado un estudio cualitativo de casos con el fin de comprender
los principales conceptos relacionados con el crowdsourcing en las estrategias de publici-
dad. Los resultados demostraron cómo esta estrategia puede ser útil para formar una red
de colaboradores que se acercan usuario y la marca y hacer que el cliente comprador.

Palabras clave: Crowdsourcing. Estrategia. Teaser Propaganda.

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429
Nota
A utilização desse termo justifica-se, pois estamos diante de mudanças profundas e que geraram alte-
1

rações no sistema econômico contemporâneo, que passou de uma economia fundamentada em capital e
trabalho e centrada na produção em massa para uma economia que tem como base principal o capital
intelectual e que está centrada no indivíduo e na sua capacidade de construir redes e difundir o conheci-
mento (SILVA, 2014).

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432
Diretrizes para autores

Normas Revista Teoria e Evidência Econômica (UPF)

Apresentação do texto

Para efeito de padronização gráfica, os trabalhos deverão seguir, rigorosamente,


as normas abaixo especificadas, sob o risco de não serem aceitos, independentemente
da adequação do conteúdo. Os originais deverão conter as seguintes informações sobre
o(s) autor(es): nome completo, titulação e instituição a que está vinculado, além de en-
dereço eletrônico para correspondência.

1. Os artigos deverão ser originais e ter a seguinte estrutura: a) Título do


trabalho: letras minúsculas nas iniciais do título, salvo palavras que exijam,
pelas normas da língua portuguesa, o uso de letra maiúscula; b) Autoria: nome
completo e e-mail dos autores (quando a autoria for de acadêmicos, a coautoria
deverá ser do professor-orientador); c) Resumo/Palavras-chave: com no máximo
10 linhas, espaçamento entrelinhas simples, seguido de 3 a 5 palavras-chave,
em português, em espanhol e em inglês; d) Introdução; e) Desenvolvimento
(subdivisões do texto); f) Considerações finais; g) Referências; h) Notas de fim,
quando necessário.
2. Os trabalhos deverão limitar-se a 35 (trinta e cinco) páginas, incluindo
ilustrações, referências e notas de fim; sendo digitados em um editor de
texto Word for Windows, com texto em fonte Times New Roman, tamanho
12, espaçamento 1,5; em uma única face de folha tamanho A4, com margens
(superior e inferior, direita e esquerda) de 3 centímetros.
3. Resumo e Palavras-chave: o resumo deverá ser redigido em parágrafo único,
frases concisas (não em tópicos), com verbos na voz ativa e na terceira pessoa do
singular; as palavras-chave devem aparecer logo abaixo do resumo, separadas
por ponto.
4. Ilustrações, tabelas e outros recursos visuais: deverão ter identificação
completa (títulos - espaçamento simples, fonte 12, alinhamento justificado;
legendas e fontes - espaçamento simples, fonte 10, alinhamento justificado)
e ser numeradas consecutivamente, inseridas o mais próximo possível da
menção no texto. Por se tratar de publicação em preto e branco, recomenda-
se, na elaboração de gráficos, uso de texturas no lugar de cores. Em caso de
fotos ou ilustrações mais elaboradas, deverá ser enviado arquivo anexo com

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, jul./dez. 2016

433
os originais. Tabelas e quadros deverão estar no formato de texto, não como
figuras. Imagens e/ou ilustrações deverão ser enviadas como “Documentos
suplementares” em arquivo à parte, no formato JPG, ou TIF, em alta resolução
(no mínimo 300dpi). O autor é responsável pela autorização de publicação da
imagem, bem como pelas referências correspondentes. Os dados utilizados para
a elaboração de gráficos deverão ser enviados em arquivo separado ao texto, em
formato Excel. 
5. Símbolos: todos os símbolos deverão ser definidos no texto. Cada símbolo
de medida deverá mencionar as unidades entre parênteses. Os grupos sem
dimensão e os coeficientes deverão ser assim definidos e indicados.
6. Unidades e expressões matemáticas: as unidades de medição e abreviaturas
deverão seguir o Sistema Internacional. Outras unidades poderão ser indicadas
como informação complementar. As expressões matemáticas deverão ser
evitadas ao longo do texto, como parte de uma sentença, orientando-se digitá-
las em linhas separadas. As expressões matemáticas deverão ser identificadas
em sequência e referidas no texto como Equação (1), Equação (2), etc. Todas as
fórmulas deverão ser feitas no editor de fórmulas do Word.
7. Siglas: na primeira vez em que forem mencionadas, devem, antes de constar
entre parênteses, ser escritas por extenso, conforme exemplo: Universidade de
Passo Fundo (UPF).
8. Notas: deverão ser utilizadas apenas as de caráter explicativo e/ou aditivo. Não
serão aceitas notas de rodapé (converter em notas de fim).
9. Destaques: deverá ser usado itálico para palavras estrangeiras com emprego
não convencional, neologismos e títulos de obras/periódicos.
10. Citações: deverão obedecer à forma (SOBRENOME DO AUTOR, ANO) ou
(SOBRENOME DO AUTOR, ANO, p. xx). Diferentes títulos do mesmo autor,
publicados no mesmo ano, deverão ser diferenciados adicionando-se uma letra
depois da data (SOBRENOME DO AUTOR, ANOa) e (SOBRENOME DO
AUTOR, ANOb). As citações com mais de três linhas devem constar sempre em
novo parágrafo, em corpo 10, sem aspas, com espaçamento entrelinhas simples
e recuo de 4 cm na margem esquerda. Deverá ser adotado uso de aspas duplas
para citações diretas no corpo de texto (trechos com até três linhas). No caso
de mais de três autores, indicar sobrenome do primeiro seguido da expressão
latina et al. (sem itálico). A referência reduzida deverá ser incluída após a
citação, e não ao lado do nome do autor, conforme exemplo: De acordo com
Freire (1987, p. 69), “[...] o educador problematizador (re)faz, constantemente,
seu ato cognoscente, na cognoscitividade dos educandos” (1987, p. 69).
11. Referências: deverão constar, exclusivamente, os textos citados, em ordem
alfabética pelo nome do autor, seguindo as normas da ABNT. Deverá ser
adotado o mesmo padrão em todas as referências: logo após o sobrenome, que

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, jul./dez. 2016

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será grafado em caixa alta, apresentar o nome completo ou apenas as iniciais,
sem misturar os dois tipos de registro (FREIRE, Paulo ou FREIRE, P.).
12. Ao Conselho Editorial reserva-se o direito de aceitar, aceitar com revisão, aceitar
com resubmissão ou recusar os trabalhos encaminhados para publicação. 
13. Os autores receberão um exemplar do número em que seu trabalho for publicado.

Exemplos de referências mais recorrentes


Livros:
SOBRENOME, Nome. Título do livro: subtítulo. Número de edição. Cidade: Editora, ano.

Capítulos de Livros:
SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: SOBRENOME, Nome (Org.). Título do livro: subtí-
tulo. Número de edição. Cidade: Editora, ano. p. xx-yy. (página inicial – final do capítulo).

Artigos em periódicos:
SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Nome do Periódico, Cidade, v. ___ e/ou ano (ex.: ano 1), n.
___, p. xx-yy (página inicial – final do artigo), mês abreviado. ano.

Textos de publicações em eventos:


SOBRENOME, Nome. Título. In: NOME DO EVENTO, número da edição do evento em arábico,
ano em que o evento ocorreu, cidade de realização do evento. Tipo de publicação (anais, resumos,
relatórios). Cidade: Editora, ano. p. xx-yy (página inicial – final do trabalho).

Teses / Dissertações:
SOBRENOME, Nome. Título da D/T: subtítulo. Ano. Número de folhas. Dissertação/Tese (Mes-
trado em.../Doutorado em...) – Nome do Programa de Pós-Graduação ou Faculdade, Nome da
IES, Cidade, Ano.

Sites:
AUTOR(ES). Título (da página, do programa, do serviço, etc.). Versão (se houver). Descrição físi-
ca do meio. Disponível em: <http://...>. Acesso em: dd(dia). mês abreviado. aaaa(ano).

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3. Todos os endereços de URLs no texto (Ex.: http://www.ibict.br) estão ativos e
prontos para clicar.
4. O texto está em espaço espaço 1,5; usa uma fonte de 12-pontos; emprega
itálico ao invés de sublinhar (exceto em endereços URL); com figuras e tabelas
inseridas no texto, e não em seu final.
5. O texto segue os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos
em Diretrizes para Autores, na seção Sobre a Revista.
6. A identificação de autoria deste trabalho foi removida do arquivo e da opção
Propriedades no Word, garantindo desta forma o critério de sigilo da revista,
caso submetido para avaliação por pares (ex.: artigos). Em caso de citação de
autores, “Autor” e ano são usados na bibliografia e notas de rodapé, ao invés de
 
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remessa do trabalho implica que o(s) autor(es) concordam que, em caso de aceitação
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retical and Applied Economics) passa a ter os direitos autorais para a veiculação dos
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rão propriedade exclusiva da Revista Teoria e Evidência Econômica (Brazilian Journal
of Theoretical and Applied Economics). É permitida a reprodução total ou parcial dos
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lidades ou a terceiros.

Teoria e Evidência Econômica - Ano 22, n. 47, jul./dez. 2016

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Brazilian Journal of Theoretical
and Applied Economics
Uma publicação da Faculdade de Ciências Econômicas,
Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo - RS
www.upf.br/cepeac

Nº 1* Marco A. Montoya  Aspectos setoriais do desenvolvimento da região da produção gaúcha tchê: 1939-88 • Nelson Zang  Uma
análise da evolução da população em alguns municípios do Condepro, no período de 1940 a 1991 • Marco A. Montoya  O
futuro econômico-social de Passo Fundo: uma preocupação do presente • João C. Tedesco  Reflexões em torno do processo de
modernização da agricultura e a pequena produção familiar: o caso de Marau • Marco A. Montoya, Maria da Gloria Ghissoni  A
integração econômica regional do mercado de milho da região do pampa argentino e microrregião de Passo Fundo • Carlos
A. Morán, Gilson F. Witte  A conceitualização da inflação: uma análise dos planos econômicos brasileiros de 1970 até 1990 • Ivo
Ambrosi, Valmir Gonzatto  Situação energética no Brasil e alternativas frente à falta de investimentos no setor

Nº 2* João C. Tedesco, Rosa M. L. Kallil, Selina M. Dal Moro  Uma primeira aproximação do processo de urbanização na região de Passo
Fundo: “Moço, esta ida não vai ter volta!” • Marco A. Montoya, Gelmari V. Marcante  Aspectos socioeconômicos da informalidade
no setor comercial de Passo Fundo: uma análise do fator mão-de-obra • Aldomar A. Ruckert  O arrendamento capitalista na
agricultura de trigo-soja no centro-norte do Rio Grande do Sul • Carlos A. Morán  A importância da agricultura na determinação
dos setores-chave na economia brasileira • Ricardo L. Garcia  O Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira será um
imposto inflacionário? • Yuri M. Zaitsev, Marco A. Montoya, Margarita Y. Rysin  O setor governamental: um modelo para estimar a
participação plausível do governo na economia • Cleide F. Moretto  A provisão pública da educação: expansão ou redefinição?

Nº 3 Cleide F. Moretto  A elasticidade-renda dos gastos públicos em educação no Brasil • Ricardo L. Garcia  A crise do Estado e o
novo papel do sistema tributário • José J. do Amaral  Planejamento tributário: uma opção econômica da empresa • João A. M.
Pereira  Finanças públicas municipais: relação entre receita transferida do estado e receita própria dos municípios do estado do
Paraná, período 1980-1990 • João C. Tedesco  A agroindustrialização do espaço agrário e a pequena produção familiar: tendências
e controvérsias • Ivano D. de Conto, Marco A. Montoya  A produtividade de soja na região do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul • Ivo
Ambrosi, Renato S. Fontaneli  Análise de risco de quatro sistemas alternativos de produção de integração lavoura/pecuária • Marco
A. Montoya, Rizoni M. Baldissera  O Mercosul: uma análise dos mercados vinícolas da Argentina e do Brasil

Nº 4 Ricardo L. Garcia  O imposto único: realidade ou ficção • Derli Dossa  Programação linear na gestão da propriedade rural:
um enfoque alternativo • Marco A. Montoya, Cristina Chamináde  Teoria e praxe da integração econômica na América Latina:
uma abordagem dos desequilíbrios regionais • João C. Tedesco  A relatividade conceitual e os paradigmas da pequena produção
familiar no pensamento socioeconômico • Cássia A. Pasqual  A segurança pública: uma análise socioeconômica das ocorrências
de incêndios em Passo Fundo. Período 1980-1992 • Antonio O. Selli  Participação dos empregados no processo administrativo em
empresas da microrregião de Passo Fundo: um estudo exploratório

Nº 5 Marília Mattos  Passo Fundo, do caminho das tropas ao projeto de interiorização da Rodovia do Mercosul • Marco A. Montoya
(org.) et al.  A interiorização da Rodovia do Mercosul • Marco A. Montoya  Os custos e benefícios da integração econômica do Grupo
Andino: uma análise do comércio intra-regional no setor agropecuário • Ricardo L. Garcia  O déficit público e a inflação - o Estado
brasileiro como gerador da instabilidade econômica • João C. Tedesco, Adelar Dalsoto  Desvendando o invisível: considerações
introdutórias acerca da informalidade • Angélica M. da Silva, Cleide F. Moretto  O financiamento da saúde pública e o caso de Passo
Fundo sob a visão da oferta • Marli L. Razera  O ICMS e o IPI no custo da cesta de produtos básicos de consumo popular em Passo
Fundo e em Porto Alegre - RS • André S. Pereira  A economia do estado do Rio de Janeiro: ontem e hoje

Nº 6 Ginez L. R. de Campos  Agricultura e integração econômica: a questão agrícola no Mercosul e no contexto das transformações
da economia mundial • João C. Tedesco  A lógica produtivista e o camponês: ambigüidades e ambivalências no espaço agrário
atual  José Vicente Caixeta Filho • A modelagem de perdas em problemas de transporte • Aldemir Schenkel  A olericultura como uma
opção para o pequeno estabelecimento rural: a possibilidade de produção para o mercado não-me-toquense • Cleide F. Moretto,
Fabiane Parizzi  O município de Casca e sua indústria: uma primeira radiografia • Pery F. A. Shikida  Notas sobre a contribuição
de Keynes à teoria econômica

Nº 7/8 Marco A. Montoya, Ricardo S. Martins, Pedro V. Marques   Tendência da concentração no sistema agroindustrial brasileiro  • Ricardo
S. Martins, Cárliton V. dos Santos  “Custo Brasil” e exportações agroindustriais: o impacto do sistema portuário • Pery F. A.
Shikida  Um estudo empírico do logito e probito para o bem “máquina de lavar” em cinco regiões metropolitanas do Brasil • João
C. Tedesco  Técnica, Direito e Moral: o cotidiano em conflito-transformação no meio rural da região de Passo Fundo • André S.
Pereira, Ricardo L. Garcia, Cátia C. Horn  A carga tributária sobre os produtos da cesta básica de Passo Fundo • Carla R. Roman  A
ciência econômica e o meio ambiente: uma discussão sobre crescimento e preservação ambiental • Carlos R. Rossetto, Cristiano J.
C. de A. Cunha, Carlos H. Orssatto, Graciella Martignago  Os elementos da mudança estratégica empresarial: um estudo exploratório

Nº 9 Dinizar Fermiano Becker  Competitividade: o (des)caminho da globalização econômica • João Carlos Tedesco  O espaço rural e a
globalização: impressões sobre o caso francês • Nelson Colossi, Aldo Cosentino, Luciano C. Giacomassa  Do trabalho ao emprego: uma
releitura da evolução do conceito de trabalho e a ruptura do atual modelo • Cleide Fátima Moretto  O capital humano e a ciência
econômica: algumas considerações • Pery Francisco Assis Shikida, Ariel Abderraman Ortiz Lopez  A questão da mudança tecnológica
e o enfoque neoclássico • André da Silva Pereira  O método estrutural-diferencial e suas reformulações • Carlos R. Rossetto, Cristiano
J. C. de A. Cunha, Carlos H. Orssatto  Os stakeholders no processo de adaptação estratégica: um estudo longitudinal
Nº 10 Bernardo Celso de Rezende Gonzalez, Silvia Maria Almeida Lima Costa  Agricultura brasileira: modernização e desempenho •  João
Carlos Tedesco, Odolir Tremea  Pensar o desenvolvimento local: o caso da agricultura do município de Casca  •  Lírio José Reichert
A administração rural em propriedades familiares  •  Roberto Serpa Dias, Marco Antonio Montoya, Patrizia Raggi Abdallah, Ricardo
Silveira Martins  Plano Cruzado, inflação 100% inercial: um teste de ajustamento de modelos Arima • Andre da Silva Pereira  A
cesta básica de Passo Fundo e o Plano Real: uma nota comparativa • Pery Francisco Assis Shikida, Carlos José Caetano Bacha  Notas
sobre o modelo schumpeteriano e suas principais correntes de pensamento • Antônio Kurtz Amantino  Democracia: a concepção
de Schumpeter • Érica Cristiane Ozório Pereira, Rolf Hermann Erdmann  Do planejamento do controle da produção à produção
controlada por computador: a evolução do gerenciamento da produção • Nelson Germano Beck  A inveja: um comportamento
esquecido nas organizações

Nº 11 Augusto M. Alvim, Paulo D. Waquil  A oferta e a competitividade do arroz no Rio Grande do Sul •  José Luiz Parré, Joaquim B.
de S. Ferreira Filho  Estudo da tecnologia utilizada na produção de soja no estado de São Paulo  •  Denize Grzybovski, João Carlos
Tedesco Empresa familiar x competitividade: tendências e racionalidades em conflito  •  Ricardo Silveira Martins, José V. Caixeta
Filho  O desenvolvimento dos sistemas de transporte: auge, abandono e reativação recente das ferrovias • Henrique Dias Blois  A
infra-estrutura do transporte rodoviário de cargas: uma análise dos procedimentos tomados na fronteira Brasil/Argentina •
Marco Antonio Montoya  Relações intersetoriais entre a demanda final e o comércio inter-regional no Mercosul: uma abordagem
insumo-produto • Jorge Paulo de Araújo, Nali de Jesus de Souza  Sistemas de Leontief  • Paulo de Andrade Jacinto, Eduardo P. Ribeiro  Co-
integração, efeitos crowding-in e crowding-out entre investimento público e privado no Brasil: 1973-1989

Nº 12 Thelmo Vergara Martins Costa  Comércio intra-Mercosul de frangos: intensidade, orientação regional e vantagens
comparativas •  Luciano Javier Montoya Vilcahuaman  Esquema ótimo de comercialização da erva-mate em pé em função do risco e
da renda esperada •  Verner Luis Antoni A estrutura competitiva da indústria ervateira do Rio Grande do Sul  •  Denize Grzybovski,
João Carlos Tedesco  Aprendizagem e inovação nas empresas familiares • Marcelo Defante, Marco Antonio Montoya, Paulo Roberto
Veloso, Thelmo Vergara Martins Costa  O papel do crédito agrícola brasileiro e sua distribuição por estratos de produtores  •  Carlos
Ricardo Rossetto, Adriana Marques Rossetto  A combinação das perspectivas institucional e da dependência de recursos no estudo da
adaptação estratégica organizacional • Betine Diehl Seti, Maria de Fátima Baptista Betencour, Neuza Terezinha Oro, Rosana M. L. Kripka,
Vera Jussara L. Mühl  Estudo da dinâmica populacional usando os modelos de Malthus e Verhulst: uma aplicação à população de
Passo Fundo

Nº 13 Patrízia Raggi Abdallah, Carlos José Caetano Bacha  Evolução da Atividade Pesqueira no Brasil: 1960 a 1994 •  Regina Veiga
Martin, Ricardo Silveira Martins  Levantamento da cadeia produtiva do pescado no reservatório de Itaipu  •  Francisco Casimiro
Filho Valoração monetária de amenidades ambientais: algumas considerações  •  Fred Leite Siqueira Campos, Wilson Luiz
Rotatori  Mudança tecnológica em modelos de monopólio de bens duráveis com aluguel • Ronaldo Rangel  Uma leitura das políticas
industrial e de concorrência no Brasil sob ótica schumpeteriana, da contestabilidade e do pacto social  • Marilza Aparecida Biolchi,
Marco Antonio Montoya  A distribuição de renda no município de Passo Fundo no período de 1980 - 1991 • André da Silva Pereira,
Nicole Campanile  O método estrutural-diferencial modificado: uma aplicação para o estado do Rio de Janeiro entre 1986 e
1995 • Miguel Augusto Guggiana Interdependência: uma visão contemporânea da “teoria” da dependência

Nº 14 Ramón Pelozo, Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Influência do Mercado de Carne Brasileiro na formação de Preços da
Pecuária Bovina do Paraguai • Newton C. A. da Costa Jr., Paulo Sérgio Ceretta Efeito Dia da Semana: Evidência na América Latina •
Liderau dos Santos Marques Junior A Economia de Ricardo Sob Três Pontos de Vista • Nelson Colossi, Roberta C. Duarte Determinantes
Organizacionais da Gestão em Pequenas e Médias Empresas (PMEs) da Grande Florianópolis • Paulo Roberto Veloso, Maria Seli
de Morais Pandolfo Análise da Mortalidade das Micro e Pequenas Empresas e Evidências para o Município de Passo Fundo - RS •
Tânia Tait, Roberto Pacheco Tecnologia de Informação: Evolução e Aplicações • Nelson Germano Beck A percepção dos Professores
do Modelo de Administração da Universidade de Passo Fundo • Heron Lisboa de Oliveira O Papel do Cooperativismo Escolar na
Formação do Aluno/Associado em Sua Atividade Profissional

Nº 15 Ronaldo Bulhões, José Vicente Caixeta Filho Análise da Distribuição Logística da Soja na Região Centro-sul do Brasil através
de um Modelo de Equilíbrio Espacial • Sandro Rogério do Santos O método estrutural-diferencial ampliado: uma aplicação
para a região Sul frente à economia do Rio Grande do Sul entre 1986 e 1995 • Cleide Fátima Moretto Função minceriana de
determinação dos rendimentos individuais: uma aplicação do método de variáveis instrumentais • Arno Schmitz, Alzir Antonio
Mahl Reestruturação e automação bancária Versus emprego: um balanço ao final dos anos 90 • Geraldo A. Schweinberger Economia
Solidária • Sergio Schneider, Marco Antônio Verardi Fialho Pobreza rural, desequilíbrios regionais e desenvolvimento agrário no
Rio Grande do Sul • Luiz Fernando Fritz Filho, Lovois de Andrade Miguel A utilização da abordagem sistêmica para o diagnóstico de
realidades agrícolas municipais

Nº 16 Marco Antonio Montoya, Eduardo Belisário Finamore Evolução do PIB no agronegócio brasileiro de 1959 a 1995: uma estimativa
na ótica do valor adicionado • Wilson Luiz Rotatori, Thelmo Vergara Martins Costa Existem Ciclos Similares no Mercadodo boi gordo
no Brasil? Algumas evidências usando os modelos estruturais de séries de tempo e Filtro de Kalman • Evelise Nunes do Espírito
Santo, Claudemir Foppa Indicadores tecnológicos e o crédito rural no estado de Santa Catarina • Fernando Ferrari Filho The legacy
of the real plan: a monetary stabilization without economic growth • Denize Grzybovski, Roberta Boscarin, Ana Maria Bellani Migott
Mercado formal de trabalho e a mulher executiva • Jorge Castellá Sarriera, Marli Appel da Silva, Scheila Gonçalves Câmara, Maria
Cláudia Rosa Taveira Mano, Paula Grazziotin Silveira, Raquel Gonsalves Ritter, Renata Viña Coral Critérios utilizados - valores e crenças -
no processo seletivo de jovens em empresas de pequeno-médio porte • Rosalvaro Ragnini Balanço social na Universidade de Passo
Fundo - RS: instrumental de avaliação do desempenho em nível social

Nº 17 Ortega-Almón, M.A., Sánchez-Domínguez, M.A. The privatization process in Spain (1985-2001) • Wesley Vieira da Silva, Luciana
Santos Costa, Robert Wayne Samohyl Formulação e gerenciamento de carteiras com base nos modelos CAPAM e de Elton E Gruber
• Ricardo Luiz Chagas Amorim Assimetria de informações e racionamento de crédito: novo-keynesianos versus pós-keynesianos
• Edson Talamini, Marco Antonio Montoya O crédito agrícola na região da produção: informalidade versus formalidade • Thelmo
Vergara Martins Costa, Andrea Poleto Oltramari, Marco Antonio Montoya, Lucinéia Benetti, Andressa Ongaratto A competitividade da
suinocultura da Região da Produção / RS através da análise do cluster agroindustrial • Leonardo Susumu Takahashi, Thiagoa
Fernandes da Silva, José Vicente Caixeta Filho Aspectos log´siticos da importação da cultura do alho no Brasil: um estudo de caso •
Paulo de Andrade Jacinto, Juliane Strada, Sarita dos Santos Alves A indústria de móveis: o caso do Rio Grande do Sul
Nº 18 Sánchez-Domínguez, M.A., Ortega-Almón, M.A. The effects of European integration in the economic regional disparities: special
reference to the Spanish case • Ricardo S. Martins, Maria da Piedade Araújo, Eliane L. Salvador Fretes e coordenação entre os agentes
no transporte rodoviário: o caso do complexo soja paranaense • Marcus Vinícius Alves Finco, Patrízia Raggi Abdallah Valoração
econômica do meio ambiente: o método do custo de viagem aplicado ao litoral do Rio Grande do Sul • Luiz Fernando Fritz Filho,
Thelmo Vergara Martins Costa Mudanças na estrutura agrícola da região da produção: análise através da utilização dos efeito
escala e substituição • Cátia Tillmann, Denize Grzybovski Necessidades de profissionalização dos futuros herdeiros de empresas
familiares • Alexandre Negri Julião da Silva, José Luiz Parré Comparação das informações apresentadas por revistas nacionais
acerca do setor de telecomunicações no Brasil

Nº 19 Gentil Corazza, Orlando Martinelli Jr. Agricultura e questão agrária na história do pensamento econômico • Paulo Marcelo de
Souza, Henrique Tomé da Costa Mata, Niraldo José Ponciano Dinâmica do pessoal ocupado na agricultura brasileira no período de 1970
a 1995: uma aplicação do modelo estrutural-diferencial • Ivair Barbosa, Ricardo S. Martins Diagnóstico dos entraves no transporte no
Mercosul: o caso da Aduana de Foz do Iguaçu (PR)• César A. O. Tejada, Thelmo Vergara Martins Costa Competitividade e exportações
gaúchas de carnes suínas: 1992 - 2001• Ricardo Candéa Sá Barreto, Ronaldo A. Arraes Fatores institucionais e desenvolvimento
econômico • João Carlos Tedesco Terceirização industrial no meio rural: racionalidades familiares

Nº 20 Alcido Elenor Wander, Regina Birner, Heidi Wittmer Can Transaction Cost Economics explain the different contractual
arrangements for the provision of agricultural machinery services? A case study of Brazilian State of Rio Grande do Sul • Luís
Antônio Sleimann Bertussi, César A. O. Tejada Conceito, Estrutura e Evolução da Previdência Social no Brasil • Ricardo Candéa
Sá Barreto, Ahmad Saeed Khan O impacto dos investimentos no estado Ceará no período de 1970-2001 • Alesandra Bastiani dos
Santos, Carlos José Caetano Bacha A evolução da cultura e do processamento industrial da soja no Brasil - período de 1970 a 2002
•Karen Beltrame Becker Fritz, Paulo Dabdab Waquil A percepção da população do município de Candiota sobre os impactos sociais,
econômicos e ambientais decorrentes da produção e emprego do carvão mineral • André da Silva Pereira Uma resenha sobre a
evolução da teoria do crescimento econômico

Nº 21 João Carlos Tedesco Pluriatividade e agricultura de tempo parcial no norte/nordeste da Itália: considerações preliminares
• Augusto M. Alvim, Paulo D. Waquil Cenários de livre comércio e os efeitos sobre o mercado de arroz no Brasil: um modelo de
alocação espacial e temporal • Nali de Jesus de Souza Abertura comercial e crescimento dos estados brasileiros, 1991/2000 • Inácio
Cattani, Jefferson Andronio Ramundo Staduto A nova sistemática de risco de crédito: uma avaliação da Cooperativa de Crédito
SICREDI Costa Oeste • Valdir F. Denardin Abordagens econômicas sobre o meio ambiente e suas implicações quanto aos usos
dos recursos naturais • Ronaldo Herrlein Jr. Mercado de trabalho urbano-industrial no Rio Grande do Sul: origens e primeira
configuração, 1870-1920

Nº 22 Antônio Cordeiro de Santana, Ádamo Lima de Santana Mapeamento e análise de arranjos produtivos locais na Amazônia •Ricardo
Silveira Martins, Débora Silva Lobo, Eliane Lima Salvador, Sandra Mara Pereira Características do mercado de fretes rodoviávios
para produtos do agronegócio nos corredores de exportação do cento-sul brasileiro • Danilo R. D. Aguiar Impacto dos custos
de comercialização nas margens produtor-varejo de arroz e de feijão em Minas Gerais • Edson Talamini, Eugênio Ávila Pedrozo
Matriz do tipo insumo-produto (MIP) de uma propriedade rural derivada do estudo de filière • Thelmo Vergara Martins Costa, Luiz
Fernando Fritz Filho, Karen Beltrame Becker Fritz, César O. Tejada Economia e sustentabilidade: valoração ambiental do rio Passo
Fundo - RS • Rubens Savaris Leal, Marcelino de Souza Evolução das ocupações e rendas das famílias rurais: Rio Grande do Sul, anos
90 • João Ricardo Ferreira de Lima Renda e ocupação das famílias rurais paraibanas nos anos 90

Nº 23 Abel Ciro Miniti Igreja, Flávia Maria de Mello Bliska Análise econômica dos efeitos da substituição de pastagens cultivadas nos
estados de São Paulo e da região sul do Brasil • Edson Talamini, Eugênio Ávila Pedrozo Matriz de insumo-produto (MIP) e alguns
indicadores para gestão e planejamento de propriedades rurais: uma aplicação prática • Ana Claudia Machada Padilha, Lília Maria
Vargas A participação da informação da colheita de café nas microrregiões de Patos de Minas e Patrocínio - MG • Rômulo Gama
Ferreira, Antonio César Ortega Impactos da intensificação da mecanização da colheita de café nas microrregiões de Patos de Minas
e Patrocínio - MG • José Elesbão de Almeida, José Bezerra de Araújo Um modelo exaurido: a experiência da Sudene • Jefferson Bernal
Setubal, Yeda Swirski de Souza Feiras setoriais e seu potencial para a aprendizagem organizacional: um estudo sobre produtores
de componentes de calçados do Vale do Rio dos Sinos

Nº 24 José Cesar Vieira Pinheiro, Maria Eljani Holanda Coelho, José Vanglésio Aguiar Planejamento multicriterial para fruticultura: o
caso do Vale do Trussu em Iguatu - CE • Abel Ciro Minniti Igreja, Sônia Santana Martins, Flávia Maria de Mello Bliska Fatores alocativos
no uso do solo e densidade econômica no setor primário Catarinense • Christiane Luci Bezerra Considerações sobre a evolução da
indústria brasileira no ambiente de abertura comercial da década de 90 • Tanara Rosângela Vieira Sousa, Janaína da Silva Alves, Lúcia
Maria Góes Moutinho, Paulo Fernando de M. B. Cavalcanti Filho Um estudo de arranjos produtivos e inovativos locais de calçados no
Brasil: os casos do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba • Carlos Ricardo Rossetto, Cassiana Maris Lima Cruz O estudo da indústria
de móveis de Lagoa Vermelha, baseado na competitividade sistêmica, segundo o modelo IAD, na percepção dos representantes
do nível micro • Roberto Arruda de Souza Lima Avaliação da política de crédito rural e a teoria insumo-produto: um artigo-resenha
• Ronaldo Guedes de Lima O desenvovlimento agrário no debate científico: uma reflexão paradigmática a partir dos clássicos

Nº 25 Carlos José Caetano Bacha Eficácia da política de reserva legal no Brasil • Julcemar Bruno Zilli, Geraldo Sant’Ana de Camargo
Barros Os fatores determinantes para a eficiência econômica dos produtores de frango de corte da região sul do Brasil: uma
análise estocástica • Cristiano Aguiar de Oliveira, Pichai Chumvichitra Credibilidade de regimes de câmbio fixo: uma evidência
empírica da crise cambial brasileira • Fátima Behncker Jerônimo, Eugenio Avila Pedrozo, Jaime Fensterseifer, Tania Nunes da Silva
Redes de cooperação e mecanismos de coordenação: a experiência da rede formada por sete sociedades cooperativas no Rio
Grande do Sul • Cristiano Stamm, Rafaela Fávero, Moacir Piffer, Carlos Alberto Piacenti Análise regional da dinâmica territorial do
sudoeste Paranaense • Fernando Pacheco Cortez, Flávio Sacco dos Anjos, Nádia Velleda Caldas Agricultura familiar e pluriatividade
em Morro Redondo - RS • Cleide Fátima Moretto, Maristela Capacchi, Sandra Sebben Zornita, Ivanir Vitor Tognon, Fábio Antonio Resende
Padilha A prática do ensino contábil e a dinâmica socioeconômica: uma aproximação empírica
Nº Ed. Especial Joaquim José Martins Guilhoto, Silvio Massaru Ichihara, Fernando Gaiger da Silveira, Carlos Roberto Azzoni Joaquim
Comparação entre o agronegócio familiar do Rio Grande do Sul e o do Brasil • Marco Antonio Montoya, Eduardo Belisário Monteiro de
Castro Finamore Performance e dimensão econômica do complexo avícola gaúcho: uma análise insumo produto • Thelmo Vergara de
Almeida Martins Costa O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo como alternativa de política pública ambiental • Omar Benedetti,
Juan Algorta Plá, Régis Rathmann, Antonio Domingo Padula Uma proposta de modelo para avaliar a viabilidade do biodiesel no
Brasil • Ana Claudia Machado Padilha, Tania Nunes da Silva, Altemir Sampaio Desafios de adequação à questão ambiental no Abate
de frangos: o caso da Perdigão Agroindustrial - Unidade Industrial de Serafina Corrêa – RS • Cleide Fátima Moretto Educação,
capacitação e escolha: a análise institucionalista como alternativa aos limites do paradigma da racionalidade neoclássica •
Verner Luis Antoni, Claúdio Damacena, Álvaro Guillermo Rojas Lezana Um modelo preditivo de orientação para o mercado: um estudo
no contexto do Ensino Superior Brasileiro • Janine Fleith de Medeiros, Cassiana Maris Lima Cruz Comportamento do consumidor:
fatores que influenciam no processo de decisão de compra dos consumidores • Vânia Gisele Bessi, Andrea Poleto Oltramari, Mayara
Bervian Bispo Gestão de pessoas num processo de aquisição: mudanças culturais • João Carlos Tedesco O artesanato como expressão
de um sistema de autarcia econômico-familiar no meio rural: subsídios para uma história econômica regional • Silvana Saionara
Gollo Delineamento e aplicação de framework para análise das inovações numa perspectiva de processo interativo: estudo de
caso da indicação de procedência vale dos vinhedos - Serra Gaúcha/RS

Nº 26 Eduardo Grijó, Duilio de Avila Bêrni Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto • Carlos José
Caetano Bacha, Leonardo Danelon, Egmar Del Bel Filho Evolução da taxa de juros real do crédito rural no Brasil - período de 1985 a
2003 • Fátima Behncker Jerônimo, Angela de Faria Maraschin, Tania Nunes da Silva A gestão estratégica de sociedades cooperativas
no cenário concorrencial do agronegócio Brasileiro: estudo de caso em uma cooperativa agropecuária gaúcha • Monalisa de
Oliveira Ferreira, Lúcia Maria Ramos, Antônio Lsboa Teles da Rosa, Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima, Lucas Antônio de Souza Leite
Especialização produtiva e mudança estrutural da agropecuária Cearense • Daniela Dias Kuhn, Paulo Dabdab Waquil, Ana Monteiro
Costa, Ely José de Mattos, Karen Beltrame Becker Fritz, Luciana Dal Forno Gianluppi Pobreza no Rio Grande do Sul: a heterogeneidade
revelada pela abordagem das capacitações nos municípios gaúchos • Ginez Leopoldo Rodrigues de Campos Globalização e trabalho
na sociedade de risco: ameaças contemporâneas, resistências locais - globais e a ação política de enfrentamento

Nº 27 Regis Rathmann, Débora Nayar Hoff, Antônio Domingos Padula Estratégias de desenvolvimento regional com base na
diversificação da produção: o desenvolvimento da cadeia frutícola da região da campanha do estado do Rio Grande do Sul • Thaisy
Sluszz, Eugenio Avila Pedrozo Vantagens competitivas proporcionadas pelo consórcio brasileiro de pesquisa e desenvolvimento do
café (CBP&D/Café) • Jerusa Zerbielli, Paulo D. Waquil O papel das instituições na formação dos blocos econômicos regionais: o caso
do Mercosul • Maurício Simiano Nunes, Roberto Meurer Arranjos cambiais, crises monetárias e o papel das instituições na escolha de
taxas de câmbio: um estudo para economias emergentes • Fabrício Missio, Fabiano D. Alves, Daniel Frainer, Daniel A. Coronel Metas de
inflação e o modelo estrutural de previsão: uma análise a partir do caso brasileiro • Emanoel Márcio Nunes, Aécio Cândido de Sousa,
João Freire Rodrígues Renda rural e desenvolvimento em áreas de intervenção estatal do Nordeste: o caso de serra do mel / RN

Nº 28 Valdir F. Denardin, Mayra T. Sulzbach Fundamentos econômicos da Lei Recursos Hídricos - Lei nº 9.433 • Déa de Lima Vidal
Políticas do Banco do Nordeste do Brasil para a pecuária camponesa: apoio à biodiversidade de pequenos ruminantes em
sistemas de produção nordestinos? • Moisés Villalba González, Carlos José Caetano Bacha As políticas florestais do Brasil e Paraguai
• Rejane Aparecida Duarte, Achyles Barcelos da Costa O desenvolvimento de cluster industrial: a produção de móveis em Lagoa
Vermelha • Adriano Provezano Gomes, Antonio José Medina dos Santos Baptista, Eduardo Belisário Finamore Impactos da ineficiência
produtiva na estimação de funções de produção: uma aplicação para a agropecuária do Rio Grande do Sul • Mario Antonio
Margarido, Carlos Roberto Ferreira Bueno, Vagner Azarias Martins, Izabelle Felício Tomaz Utilizando modelos de séries temporais para
determinação de mercado geográfico relevante: o caso da farinha de trigo na cidade de São Paulo • Debora Nayar Hoff, Kelly
Lissandra Bruch, Eugenio Avila Pedrozo Desenvolvimento de nichos de mercado para pequenos negócios: leite e laticínios de cabras
e ovelhas em Bento Gonçalves, RS

Nº 29   Rodolfo Hoffmann, Angela Kageyama Pobreza, insegurança alimentar e pluriatividade no Brasil • Antônio Cordeiro de Santana
Análise do desempenho competitivo das agroindústrias de polpa de frutas do estado do Pará • João Ricardo Ferreira de Lima, Erly
Cardoso Teixeira Política de crédito agrícola para reestruturação da cultura do abacaxi no estado da Paraíba: uma análise sob
condição de risco • Juliano Machado de Magalhães, Cláudio Damacena Estudo dos efeitos da responsabilidade social corporativa e
da identificação sobre o comportamento do consumidor • Daniela Giareta Durante, Jorge Oneide Sausen O processo de mudança e
adaptação estratégica numa empresa familiar: uma análise com base nas escolas de formação de estratégia • Júlio C. G. Bertolin
Mercados na educação superior: das falhas dos quase-mercados à imprescindível regulação do estado • Simone Wiens, Christian
Luiz da Silva Índice de qualidade do ambiente para os bairros de curitiba

Nº 30 Régis Rathmann, Antônio Domingos Padula, Débora Nayar Hoff, Alberto Silva Dutra, João Armando Dessimon Machado A
decisão nos agronegócios: necessidade de estruturas analíticas sistêmicas para a observação de processos complexos
• Gisalda Carvalho Filgueiras, Antônio Cordeiro de Santana, Mário Miguel Amin Garcia Herreros Análise da economia florestal
no estado do Pará: uma aplicação da matriz de contabilidade social • Luis Afonso Fernandes Lima, Mario Antonio Margarido
Modelando a volatilidade do preço internacional do petróleo • Cássia Aparecida Pasqual, Eugênio Ávila Pedrozo, Marco
Antonio Montoya O posicionamento logístico no setor de máquinas e implementos agrícolas na mesorregião Noroeste do
estado do ­­­­­­­­­­­­­­­Rio Grande do Sul • David Basso, Fabíola Sostmeyer Polita Particularidades do desenvolvimento rural na região
delimitada “Vale dos Vinhedos” na Serra gaúcha • Ana Claudia Machado Padilha, Thaisy Sluszz, Paloma de Mattos, Lessandra
Scherer Severo, Joceline Lopes Descrição e análise das estratégias implantadas pela Bunge S.A. no período 2004 a 2006

Nº 31 Maria da Piedade Araújo, Joaquim José Martins Guilhoto Infraestrutura de transporte e desenvolvimento regional no Brasil •
Fábio Roberto Barão, Moacir Kripka, Rosana Maria Luvezute Kripka Utilização de ferramentas de pesquisa operacional no suporte às
tomadas de decisão na administração pública – proposta de modelagem para coleta seletiva no município de Passo Fundo - RS •
Adriana Ferreira Silva, Silvia Kanadani Campos, Jaqueline Severino Costa Razão ótima de hedge para os contratos futuros do boi gordo:
uma análise do mecanismo de correção de erros • Nali de Jesus de Souza, Valter José Stülp Valores religiosos e desenvolvimento
econômico • Jorge Oneiden Sausen, Silvia Augusta Schissi Maurer Gestão do capital intelectual como estratégia competitiva em or-
ganizações intensivas em conhecimento: o caso de uma universidade • Márcio Lopes Pimenta, Daniela de Castro Melo, Luiz Henrique
de Barros Vilas Boas, Andrea Lago da Silva, Ricardo de Souza Sette Bases de segmentação por valores: um estudo sobre o mercado
consumidor de orgânicos da cidade de Uberlândia
Nº 32 Aziz Galvão da Silva Júnior, Carlos Alberto Piacenti, Marco Antônio Viana Leite Impacto do aumento da área de banana-prata
nos preços e na renda da bananicultura do norte de Minas • Cleveonei da Silva, Flávio José Simioni, Edson Talamini Fatores deter-
minantes da renda de famílias rurais do município de Painel - SC • Pery Francisco Assis Shikida Desigualdades socioeconômicas
no Paraná: um estudo de caso mediante análise de componentes principais • Benedito Silva Neto, Márcia Dezen, Patrícia Eveline
dos Santos O conceito de reprodução social na análise de unidades de produção agropecuária • Janete Golinski, Paulo Marcelo de
Souza, Niraldo José Ponciano Desenvolvimento tecnológico dos assentamentos de reforma agrária do município de Seropédica - RJ
• Mayra Taiza Sulzbach, Valdir Frigo Denardin Estruturas de governança em produtos de marcas de distribuidor no Brasil • Verner
Luis Antoni, e Kenny Basso Atributos para a oferta de um curso de administração orientado para o mercado: um estudo em uma
universidade do Rio Grande do Sul

N. 33 Antônio Cordeiro de Santana, Ismael Matos da Silva, Rubens Cardoso da Silva, Cyntia Meireles de Oliveira, Adriana Gisely Tava-
res Barreto A sustentabilidade do desempenho competitivo das madeireiras da região Mamuru-Arapiuns, estado do Pará
• Tiago Farias Sobel, André Luiz Pires Muniz, Ecio de Farias Costa Divisão regional do desenvolvimento humano em Pernambuco:
uma aplicação da análise de cluster • Jaqueline S. Costa, Andressa Rodriguês Pavão Modelo de previsão de Box-Jenkins para o
preço médio da carne de frango no varejo para o estado de São Paulo • Paulo Marcelo de Souza, Marlon Gomes Ney, Niraldo José
Ponciano, Henrique Tomé da Costa Mata Estrutura agrária e padrão de desenvolvimento tecnológico: uma análise a partir dos mu-
nicípios das regiões Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro, no período de 1970 a 1995 • Henrique Dias Blois, Guilherme de
Oliveira As instabilidades socioeconômicas do setor metal-mecânico da mesorregião Noroeste do estado do Rio Grande do Sul:
evidências através da utilização de cenários prospectivos • Silvana Saionara Gollo, Jefferson Bernal Setubal, Cassiana Maris Lima Cruz
Competitividade da cadeia produtiva de confecções de Sarandi - RS: estudo exploratório em nível organizacional • Monica Nardi-
ni, Julcemar Bruno Zilli Percepção dos agricultores familiares frente ao sistema e aos serviços prestados pela Cotrisal

N. 34 João Garibaldi Almeida Viana, Antonio Domingos Padula, Paulo Dabdab Waquil Dinâmica e desempenho da suinocultura do Rio
Grande do Sul sob a ótica da organização industrial • Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual, Eduardo Belisário Finamore,
Guilherme de Oliveira Mudança setorial e a nova dinâmica do crescimento econômico do município de Passo Fundo • Alex Leonardi,
João Augusto Rossi Borges, João Batista de Freitas, Luciana Maria Scarton Redes de cooperação em agroindústrias familiares: a Casa da
Quarta Colônia • Silvana Saionara Gollo Inovações e estratégias de cooperação e competição no biodiesel: o caso de fornecedores
de óleo vegetal à BsBios – Passo Fundo - RS • Priscilla Welligton Santos Gomes, Antônio Cordeiro de Santana, Francisco de Assis Oliveira,
Marco Aurélio Dias Magalhães Análise sistêmica do Arranjo Produtivo Local (APL) de móveis de Santarém, estado do Pará • João Ricardo
Ferreira de Lima Diversificação de setores de atividades produtivas e o efeito sobre a pobreza no meio rural da Paraíba • Luiz Carlos
de Paula, Jersone Tasso Moreira Silva, Luiz Antônio Antunes Teixeira, Hugo Ferreira Braga Tadeu Análise do fator risco no lançamento de
novos produtos: o caso do setor de microcervejarias • Edward Martins Costa, Tiago Farias Sobel, Hermino Ramos de Souza, José Lamartine
Távora Junior Estimando carteiras de investimento: um estudo dos setores de energia elétrica e telecomunicações durante o primeiro
governo Lula

N. 35 João Carlos Tedesco Trabalho autônomo e empreendedorismo no cenário migratório internacional: trabalhadores brasileiros
na Itália • Eduardo Belisário Finamore, Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual Decomposição do crescimento da agricultura
e agroindústria na economia gaúcha: uma análise a partir do VBP e do emprego • Matheus Albergaria de Magalhães, Victor Nunes
Toscano Radiografando os processos de crescimento econômico e convergência de renda nos municípios do Espírito Santo • Lindaura Arouck
Falesi, Antônio Cordeiro de Santana, Alfredo Kingo Oyama Homma, Sergio Castro Gomes Dinâmica do mercado de frutas na mesorregião
Nordeste Paraense no período de 1985-2005: produção e preços • Oberdan Teles da Silva; Eric Dorion; Henrique Dias Blois Os atributos
que contribuem para o relacionamento entre uma rede de lojas e seus fornecedores • Marcus Vinicius Alves Finco, Fernanda Dias
Bartolomeu Abadio Finco The consumer willingness to pay for food services: an analysis of the Popular Restaurant Program in
northern Brazil

N. 36 Eduardo Belisário Finamore, Marco Antonio Montoya, Nadia Mar Bogoni, Rosálvaro Ragnini, Willian Ragnini A interação dos ato-
res públicos e privados no Corede produção do estado do rio grande do sul: uma medida de cooperação • Adilson Giovanini,
Solange Regina Marin Estrutura fundiária e desenvolvimento humano: evidências para os municípios do RS • Ismael Matos da Silva,
Antônio Cordeiro de Santana, Sérgio Castro Gomes, Manoel Malheiros Tourinho Associação de dados espaciais: uma análise exploratória
para desenvolvimento econômico do estado do Pará • Severino Félix de Souza, João Ricardo Ferreira de Lima, Aldenôr Gomes da Silva A
evolução da pobreza nas famílias rurais da região nordeste: 2003-2009 • Frederico Santos Damasceno, Marina Silva da Cunha Deter-
minantes da participação do idoso no mercado de trabalho brasileiro • Roberto Fray da Silva, Bruno Rógora Kawano, Giana de Vargas
Mores, Henrique Dias Blois Exportação da soja brasileira: será o corredor bioceânico uma alternativa para o seu escoamento?

N. 37 Alysson Luiz Stege, José Luiz Parré Desenvolvimento rural nas microrregiões do Brasil: um estudo multidimensional • Marco Antonio
Montoya, Cássia Aparecida Pasqual, Nadia Mar Bogoni, Thelmo Vergara Martins Costa Evolução do uso de energia na estrutura de produção e
consumo do Rio Grande do sul: uma abordagem insumo-produto • Douglas Alcantara Alencar Os determinantes do investimento di-
reto estrangeiro na década de 1990: um estudo teórico • Daiane Lindner Radons, Luciana Flores Battistella, Márcia Zampieri Grohmann,
Carlos Gustavo Martins Hoelzel A influência dos ídolos no comportamento de jovens consumidores Medidas diretas de avaliação
do desempenho de uma marca: um estudo exploratório no setor de serviços • Aline Mara Meurer, Janine Fleith de Medeiros, Liciane
Fritzen Medidas diretas de avaliação do desempenho de uma marca: um estudo exploratório no setor de serviços

N. 38 Fernanda Schwantes, Marcelo José Braga, Antônio Carvalho Campos Efeitos das barreiras geográficas e comerciais sobre as
exportações brasileiras de carne bovina (1996-2007) • Julcemar Bruno Zilli, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, Nádia Mar Bogoni
Precificação de terras de propriedades rurais em Cascavel - PR: uma análise das opções reais • armando Vaz Sampaio Equação sa-
larial por região no brasil, 1997, 2002 e 2007 – uma abordagem quantílica • Dilamar Dallemole, Diogo Amorim José de Almeida Análise
locacional dos aspectos socioeconômicos e fiscais da produção de soja em Mato Grosso • Exzolvildres Queiroz Neto Para além do
Programa Bolsa Família: complexidade dos contextos, metamorfoses do desenvolvimento, crescer o bolo ou dividir a receita •
Carla Colombelli, Mirna Muraro, Sandra Regina Toledo dos Santos O impacto da lei nº 12.101/2009 na apresentação das demonstrações
contábeis das Apaes/RS • Alexandre Dellamura Sarmento Notas sobre o take-off: a teoria rostowiana revisada
N. 39 Jaime Moron Macadar, Marcilene Martins Concentração industrial e desempenho das firmas na hipótese de cumulatividade tec-
nológica: um exercício de modelagem • Giovani da Silva Oliveira, Julcemar Bruno Zilli, André da Silva Pereira Transferência e absorção
de tecnologia: estudo de caso no Município de Soledade - RS • Edith Lemos Ornellas dos Santos A presença de cooperativas na área
de produção de grãos: um estudo da participação nordestina do matopiba • Márcio Marins, Cássia Aparecida Pasqual Comakership:
um escopo inovador no conceito de alianças estratégicas logísticas • Leonardo da Costa Urt, Marcelo Farid Pereira, Fernanda Helen
Mansano Análise da evolução temporal dos pontos fortes e fracos das empresas vinculadas à incubadora tecnológica de Maringá
no período de 2007 a 2012 • Cassiana Maris Lima Cruz, Janine Fleith de Medeiros, José Luis Duarte Ribeiro Qualificação do processo de
desenvolvimento de produtos: estudo de caso em uma indústria de implementos agrícolas • Cindy Olivier, Exzolvildres Queiroz Neto
Sistema sociedade-ambiente: perspectiva socioespacial na gestão do risco ambiental • Faisal Medeiros Awad, Jorge Oneide Sausen,
Daniel Demarchi A estruturação e a gestão do capital intelectual a partir do modelo de navegador de stewart: um estudo em uma
instituição de ensino superior (IES)

N. 40 Achyles Barcelos da Costa, Nelton Carlos Conte, Valquiria Carbonera Conte A China na cadeia têxtil – vestuário: impactos após a
abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial e do final dos Acordos Multifibras (AMV) e Têxtil Vestuário (ATV) • Luís
Antônio Sleimann Bertussi, Divanildo Triches Uma revisão da dinâmica macroeconômica da dívida pública e dos testes de sustenta-
bilidade da política fiscal • Kleber Ávila Ribeiro, Deise Cristiane do Nascimento, Joelma Fabiana Barros da Silva Cooperativismo agrope-
cuário e suas contribuições para o empoderamento dos agricultores familiares no submédio São Francisco: o caso da associação
de produtores rurais do núcleo VI – Petrolina/PE • Cássia Aparecida Pasqual, Eugênio Ávila Pedrozo, Marco Antonio Montoya O setor
de máquinas e implementos agrícolas no estado do Rio Grande do Sul: os determinantes de decisões logísticas • Robério Telmo
Campos, Kilmer Coelho Campos Diagnóstico técnico-econômico da ovinocaprinocultura no estado do Ceará • Paulo Eterno Venâncio
Assunção, Eiko Mori Andrade Spinelli, Jordão Silva Cardoso Caracterização da produção de tomate-industrial no município de Morri-
nhos/GO: da utilização de defensivos à vantagem dos contratos • Giovani Castoldi, Sandra Regina Toledo dos Santos A transparência
na publicação eletrônica das informações municipais disponíveis em suas homepages: uma análise dos municípios pertencentes
ao Corede Produção/RS • André Luiz Greve Pereira, Robson Antonio Grassi Compreendendo a redução dos homicídios no estado de
São Paulo no período 1998-2008.

N. 41 Vinicius Vizzotto Zanchi, Écio de Farias Costa, Fernanda Schwantes, Leonardo Ferraz Xavier Desempenho das exportações brasi-
leiras de frutas in natura (1996-2007): uma análise sob a ótica do modelo gravitacional • Miguelangelo Gianezini, Clandio Favarini
Ruviaro, Fernanda Scharnberg Brandão, Alex Leonardi Comércio internacional de terras e seus reflexos na segurança alimentar
dos países africanos • Marcus Vinicius Alves Finco, Werner Doppler Agro-economia na região da Amazônia legal: uma aplicação da
programação matemática para o desenvolvimento rural • João Candido Bracarense, Cárliton Vieira dos Santos, Sérgio Fernando Mayer-
le Tomada de decisão sob condições de risco e incerteza: uma aplicação da lógica fuzzy à bovinocultura de corte da região
Serrana de Santa Catarina • Gustavo Inácio de Moraes, Alexandre Rodrigues Loures A função de produção da agropecuária gaúcha em 2006
• César Augusto Oviedo Tejada, Giovani Baggio O desempenho econômico de Pelotas (1939 – 2009): uma análise comparativa com os prin-
cipais municípios do interior do RS • Alison Luft, Julcemar Bruno Zilli Concentração de mercado: uma análise para a oferta de crédito
pelo setor bancário brasileiro.

N. 42 Evandro Sadi Vargas, Joel Fiegenbaum A evolução da agroindústria de laticínios no Brasil com base nos indicadores de estru-
tura, conduta e desempenho • Ben-hur D. da Rocha Júnior, Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual, Eduardo Belisário Finamore
O perfil dos produtores de leite, o processo de sucessão e a renda bruta no Rio Grande do Sul: análise do Corede Produção •
Clovis Tadeu Alves Serviço de expansão da triticultura: política quantitativa, transformações qualitativas no agronegócio da me-
sorregião noroeste RS - 1940/1955 • Paulo Eterno Venâncio Assunção, Alcido Elenor Wander Avaliação de contratos em agroindústrias
processadoras de tomate em goiás • Hugo Fogliano Gonçalves, Edson Lopes Guedes Filho, Kacia Castelo Branco Chaves, Dayane Aparecida
dos Santos A situação da pesca artesanal nas regiões brasileiras • Rogério Barbosa Soares, Kilmer Coelho Campos Índice de propensão
à desertificação no estado do Ceará • André Cutrim Carvalho, David Ferreira Carvalho As leis do movimento do capital e a dinâmica
dos capitais plurais na concorrência capitalista.

N. 43 Élisson Telles Moreira Impactos da tecnologia e do capital humano sobre o crescimento econômico asiático: uma abordagem
via dadoS de painel • Rodrigo Angonese, Odir Luiz Fank, Sabrina do Nascimento, Rita Buzzi Rausch O ensino contábil no estado de
Santa Catarina: as matrizes curriculares dos cursos de graduação em análise • Nelton Carlos Conte Desempenho fiscal do estado
do Rio Grande do Sul: uma análise do período pós Lei de Responsabilidade Fiscal - 2004 a 2012 • Simão Ternoski As estratégias
de diversificação dos meios de vida e a formação da renda: uma análise empírica sobre os estabelecimentos agrícolas familiares
cooperados da Cresol Prudentópolis • Carlos Eduardo Caldarelli, Claudia Perdigão, Marcia Regina Gabardo da Câmara, João Paulo Alves
dos Santos, Solange de Cássia Inforzato de Souza Análise de indicadores de produção científica e geração de conhecimento nas uni-
versidades estaduais paranaenses • Nadia Mar Bogoni, Sílvia Letícia Bampi, Alícia Cechin, Amanda Guareschi Participações público-
-privadas: uma análise da aplicabilidade ao caso dos pedágios no Rio Grande do Sul • Henrique Viana Espinosa de Oliveira, Ricardo
Ramalhete Moreira Retornos médios à educação nos estados brasileiros: uma abordagem com Dados em Painel para as rendas
domiciliares per capita • Victor Rodrigues de Oliveira Viés de seleção, migração e saúde

N. 44 Diego Ferreira Regra de Taylor e política monetária no Brasil: considerações empíricas a partir de um modelo DSGE para
uma pequena economia aberta • Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual (in memorian), Ricardo Luis Lopes, Joaquim José Mar-
tins Guilhoto As relações intersetoriais do setor energético na economia brasileira: uma abordagem insumo-produto • Ana Carolina
Nunes Fraga, Orlando Monteiro da Silva Competitividade e barreiras não tarifárias nas exportações brasileiras de calçados • Adriana
Estela Sanjuan Montebello, Carlos José Caetano Bacha Evolução e estrutura diferenciadas dos segmentos da indústria de papéis no
Brasil – 1980 a 2010 • Márcia Voila, Divanildo Triches A cadeia de carne de frango: uma análise dos mercados brasileiro e mundial
de 2002 a 2012 • José Nazareno Araújo dos Santos, Ana Paula Vidal Bastos, Gisalda Carvalho Filgueiras O comportamento inovador e
os efeitos sobre a produção pesqueira industrial dos estados do Pará e Santa Catarina (Brasil) e da Galícia espanhola • Luciano
Vieira, Jorge Oneide Sausen, Lisiane Caroline Rodrigues Hermes A influência do determinismo ambiental no processo de mudança e
adaptação estratégica numa empresa distribuidora de gás liquefeito de petróleo • Rodrigo Ferneda, Luiz Fernando Fritz Filho, Denize
Grzybovski, Guilherme de Oliveira Alocação de gasto público no município de Marau: uma reflexão crítica sobre o processo de to-
mada de decisão erencial e o desenvolvimento econômico • Carlos Antônio de Rezende, Alcido Elenor Wander, Paulo Cesar Bontempo A
importância do Distrito Federal na composição do mercado de emprego celetista da Região Centro-Oeste do Brasil
N. 45 Clovis Tadeu Alves, João Carlos Tedesco A revolução verde e a modernização agrícola na mesorregião noroeste do Rio
Grande do Sul – 1960/1970 • Ísis Gomes Semenzato de Souza, Danilo R. D. Aguiar Mudança estrutural no mercado brasileiro de
automóveis • Daniela Almeida Raposo Torres, Larissa Carla Siqueira Arranjos produtivos locais tecnológicos como estratégia
de desenvolvimento regional no estado de Minas Gerais • Julcemar Bruno Zilli, Júnior Candaten, Lidiani Nunes Efeitos
das alterações no preço e na produtividade da produção de leite no Rio Grande do Sul, Brasil • Cláudio Vinicius Silva
Farias, Caroline da Costa Duschitz, Leonardo Xavier da Silva Fontes de risco e medidas de gestão em vinícolas do Rio Grande
do Sul: um estudo a partir da percepção dos enólogos • Rodrigo Angonese, Araceli Farias de Oliveira, Jorge Eduardo Scarpin Avaliação
das críticas relatadas na literatura aos métodos de custeio: percepção dos gestores de médias e grandes empresas industriais
catarinenses • Mateus Kellermann Soares, Lisiane Caroline Rodrigues Hermes, Luciano Vieira, Janine Fleith de Medeiros Atributos
influenciadores no comportamento de consumo de serviços: um estudo no segmento de troca de óleo lubrificante de veículos
leves na cidade de Passo Fundo, RS, Brasil • Rubiele Liandra Tartas, Amanda Guareschi, Nadia Mar Bogoni O perfil socioeconômico
dos MEIs passo-fundenses: uma análise no ano de 2013

N. 46 Samuel Alex Coelho Campos, Carlos José Caetano Bacha Evolução da agropecuária em São Paulo e Mato Grosso de 1995 a
2006 • Exzolvildres Queiroz Neto, Karoline Ribeiro, Luciane Vargas O xadrez da organização do espaço: o jogo do(s) plano(s) no
território do município • Kleber Ávila Ribeiro Economia solidária, uma alternativa à geração de trabalho e renda em território
semiárido: dificuldades e perspectivas • Luciano Pereira da Silva, Manoel Pereira de Andrade, Luiz Honorato da Silva Junior Análise
dos comportamentos ambiental e político em assentamentos rurais do Distrito Federal e entorno • Josiane Araújo Verão, Jaqueline
Severino da Costa, Rafael Forest Expansão da produção da cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul: uma análise do modelo shift-share
• Washington Valeriano dos Santos Filho, Ricardo Ramalhete Moreira Dívida pública, política monetária e dominância fiscal no Brasil:
questões de coordenação de políticas • Rafael Pavan, Rosimar Serena Siqueira Esquinsani, Marco Antonio Montoya, Nadia Mar Bogoni As
receitas do sistema tributário para a manutenção e o desenvolvimento da educação básica: um estudo de recursos financeiros
alocados para financiar o orçamento da educação básica no município de Passo Fundo-RS • Aline Fernanda Soares, Haroldo José
Torres da Silva, André Luís Ramos Sanches, Vitor Augusto Ozaki Análise da dinâmica inflacionária no Brasil e preços de commodities:
uma aplicação do modelo de vetores autorregressivos • Márcio Marins, Paula Elisângela Martins, Cássia Aparecida Pasqual Os pilares
da liderança e o modelo situacional: a influência do líder na formação de equipes de alta performance e nos resultados • Anderson
Neckel, Fabrício Zimmermann Serviços veterinários na Região Norte do Rio Grande do Sul: um estudo sobre o comportamento do
consumidor em relação a serviços clínicos e estéticos
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
A Universidade de Passo Fundo tem uma - Fabricação Mecânica (CST)
organização multicampi: - Farmácia (B)
Campus I, II e III - Passo Fundo - Filosofia (L ou B)
Campus Carazinho - Física (L)
Campus Casca - Fisioterapia (B)
Campus Lagoa Vermelha - Fonoaudiologia (B)
Campus Palmeira das Missões - Geografia (L ou B)
Campus Sarandi - Gestão de Recursos Humanos (CST)
Campus Soledade - Gestão Comercial (CST)
- História (L)
Compõe-se de faculdades e institutos: - Jornalismo (B)
- Instituto de Ciências Exatas e Geociências - Letras, Português - Espanhol e Respectivas
- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Literaturas (L)
- Instituto de Ciências Biológicas - Letras, Português - Inglês e Respectivas
- Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária Literaturas (L)
- Faculdade de Artes e Comunicação - Logística (CST)
- Faculdade de Direito - Matemática (L)
- Faculdade de Ciências Econômicas, Administra- - Medicina (B)
tivas e Contábeis - Medicina Veterinária (B)
- Faculdade de Educação - Música (L)
- Faculdade de Educação Física e Fisioterapia - Música Canto (B)
- Faculdade de Engenharia e Arquitetura - Música Instrumento (B)
- Faculdade de Medicina - Nutrição (B)
- Faculdade de Odontologia - Odontologia (B)
- Pedagogia (L)
Cursos de graduação: - Psicologia (B)
- Administração (B) - Publicidade e Propaganda (B)
- Agronegócio (CST) - Química (L ou B)
- Agronomia (B) - Secretariado Executivo (B)
- Análise e Desenvolvimento de Sistemas (CST) - Serviço Social (B)
- Arquitetura e Urbanismo (B) - Sistemas para Internet (CST)
- Artes Visuais (L ou B)
- Ciência da Computação (B) Cursos de pós-graduação FEAC:
- Ciências Biológicas (L ou B) - Especialização em Auditoria e Perícia
- Ciências Contábeis (B) - Especialização em Controladoria e Gestão
- Ciências Econômicas (B) Tributária
- Comércio Exterior (CST) - MBA em Gestão de Pessoas
- Design de Moda (CST) - MBA em Administração Estratégica
- Design de Produto (CST) - MBA em Economia e Gestão Empresarial
- Design Gráfico (CST) - MBA em Marketing Estratégico e Gestão de
- Direito (B) Vendas
- Educação Física (L ou B) - MBA Em Finanças Empresariais
- Enfermagem (B)
- Engenharia Ambiental (B) Ensino de línguas estrangeiras:
- Engenharia Civil (B) - Alemão
- Engenharia de Alimentos (B) - Espanhol
- Engenharia de Computação (B) - Inglês
- Engenharia de Produção (B) - Italiano
- Engenharia de Produção Mecânica (B) - Japonês
- Engenharia Elétrica (B) - Libras
- Engenharia Mecânica (B) - Francês
- Engenharia Química (B) - Português
- Estética e Cosmética (CST)
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS,
ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS
CENTRO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FEAC

O Centro de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas


e Contábeis (Cepeac) pretende proporcionar o desenvolvimento econômico e o aprimoramento
dos recursos humanos da região e tem como um dos seus objetivos específicos constituir-se
em centro de documento para produzir, sistematizar e divulgar informações e conhecimentos
técnicos e científicos.
Os grupos e respectivas linhas de pesquisa do Cepeac cadastrados no CNPq são os
seguintes:

Economia Aplicada
• Ambiente econômico, político e social
• Análise econômica e tomada de decisões

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