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NATAL/RN
2021
THAYZA MENEZES GOUVEIA DE MEDEIROS FALCÃO
NATAL/RN
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -
CCHLA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dra. Denise Pereira do Rego
UFRN
Orientador
_______________________________________
Profa. Dra. Tatiana de Lucena Torres
UFPB
_________________________________________
Dra. Anuska Irene de Alencar
UFRN
NATAL/RN
2021
Dedico este trabalho a Pedro Lucas, a quem
ofereço todas as minhas conquistas e
realizações. Amo-te!
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………….……….........…….. 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO….………................................................................................ 17
2.1 CONTRIBUIÇÕES HISTÓRICAS PARA A COMPREENSÃO DA MODALIDADE DO
TELETRABALHO...................................................................................…………..………. 17
2.1.1 TELETRABALHO..........................................................................................................20
2.1.2 AS NORMATIVAS DA MODALIDADE DO TELETRABALHO...............................25
2.1.3 AS POTENCIALIDADES E VULNERABILIDADES DO TELETRABALHO...........27
2.2 O TELETRABALHO NAS INSTITUIÇÕES PUBLICAS EM UM CONTEXTO DE
CRISE ………………………………....….…........................................................................ 31
2.3 A SAÚDE E BEM-ESTAR DOS SERVIDORES NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS:
UM RECORTE EM TEMPOS DE PANDEMIA.................................................................... 35
3 MÉTODO.......………….……………………………………………………….………… 40
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ……………………………………..…………………... 45
4.1 O PERFIL DOS SERVIDORES TÉCNICOS-ADMINISTRATIVOS NAS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO .................................................…………...............................45
4.2 A FUNÇÃO DOS SERVIDORES TÉCNICOS-ADMINISTRATIVOS EM
UNIVERSIDADES FEDERAIS……...…….……………......…...….....................................68
4.3 A RELAÇÃO DO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO DAS UNIVERSIDADES
FEDERAIS COM O TRABALHO REMOTO.........................................................................71
4.4 OS EFEITOS DO TELETRABALHO NA SAÚDE E BEM ESTAR DO SERVIDOR
TÉCNICO ADMINISTRATIVO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS ..............................75
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………….............…... 86
REFERÊNCIAS
13
1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
produção em termos de tempo e custo e quanto deveria ser produzido por cada trabalhador,
porém, sem levar em consideração às questões sobre as relações de trabalho (MACIEL, et.al,
2017).
Para Marx (1982) apud Costa (2012), o conceito de trabalho é baseado na relação de
constantes modificações entre o homem e a natureza, geradora de um produto ou serviço. Este
por sua vez, é mais que apenas uma fonte para se ganhar dinheiro em troca da prestação de
serviços, mas representa a identidade do indivíduo. Para o autor, o processo de trabalho é
composto por três elementos: 1) a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho; 2) a
matéria aplicada ao trabalho, o objeto de trabalho; 3) os instrumentos de trabalho, os meios de
trabalho.
Esse entendimento sobre os processos de trabalho foi modificando ao longo do tempo.
Nas décadas finais do século XIX, Taylor propôs a harmonia de interesses entre capital e
trabalho, cooperação dos empregados, busca do rendimento máximo e desenvolvimento do
empregado para obter maior produtividade, através de métodos de experimentação do
trabalho, regras e maneiras padrões de executar o trabalho (FINCATO, 2020).
Tais regras foram obtidas pela melhor equação possível entre tempo e movimento, isto
é, na organização do trabalho através da rotinização e nas relações baseadas na hierarquia,
supervisão e trabalho coletivo (apesar de cada trabalhador fazer apenas uma parte do processo
total), métodos padronizados de execução que deveriam melhorar a relação entre tempo e
movimento (MIZIARA, 2018 e RIBEIRO, 2015).
Do mesmo modo que os princípios do taylorismo caminharam em direção ao controle
do trabalho, no início do século XX, Ford também pregou o controle do processo de trabalho.
Porém, com a diferença de tentar racionalizar a organização do trabalho, com intensificação,
automatização e mecanização do processo de trabalho. Uma das inovações, a esteira rolante
no processo industrial se constituiu como uma maneira de controlar o ritmo do trabalho de
forma automatizada e intensa. Isso gerou um processo de trabalho desgastante para os
trabalhadores (RIBEIRO, 2015).
Características na era pós-fordismo, a autonomia, a descentralização e a flexibilidade,
tiveram em sua essência a relação entre o tempo e a vida do trabalhador. Na
contemporaneidade, o foco das competências esperadas do trabalhador vai além do manuseio
e da competitividade das máquinas, está na subjetividade, em aspectos não mensuráveis como
a expansão de seu tempo, a superação de seus limites, a conquista do impossível: trabalhar
infinitamente, doar-se integralmente. O processo de organização do trabalho atual decorre de
um modelo de produção alicerçado na intensificação na rotina laboral, com controle rigoroso
19
das atividades, e demais consectários próprios desse ambiente, o que ocasiona profundos
impactos sobre a saúde do trabalhador (MIZIARA, 2018).
É conveniente mencionar que as pesquisas não apresentam, ainda, um consenso no uso
de uma tipologia específica das condições de trabalho nem de uma conceituação comum,
versando apenas algumas variáveis relacionadas ao tema, demonstrando a diversidade de
abordagens que perdura até então (TAKANO, et.al, 2020).
Para Dejours (1992), há uma diferença entre as condições de trabalho e a organização
do trabalho. Para este autor, as condições de trabalho estão ligadas aos ambientes físico,
químico, biológico, às condições de higiene, de segurança, e às características
antropométricas do posto de trabalho e, estariam relacionadas à carga física e mental do
trabalho; enquanto que a organização do trabalho diz respeito à divisão do trabalho, ao
conteúdo da tarefa, ao sistema hierárquico, às modalidades de comando, às relações de poder,
às questões de responsabilidade, e estariam relacionadas à carga psíquica do trabalho.
Os processos e características inerentes a cada atividade configuram a categoria que
expressa o formato e a maneira como o trabalho é organizado e realizado, e envolvem o
conteúdo do trabalho e as características presentes nas atribuições cotidianas do fazer
profissional. De modo que englobam características, tais quais, níveis de complexidade,
monotonia, repetição e possibilidade de aprender novas habilidades (WALLAU, et.al, 2019).
No mundo atual, em que tudo está relacionado ao tempo e a uma sobrecarga de
informações, os trabalhadores devem estar cientes dessas condições para se inserirem no
mercado de trabalho. Assim sendo, o ritmo de trabalho também faz parte dessa categoria,
sendo necessária a definição dos prazos, velocidades das atividades e tempo definidos para o
cumprimento das atividades e responsabilidades assumidas (WALLAU, et.al, 2019).
Nas últimas décadas, uma nova realidade chega para dinamizar a realidade laboral - o
teletrabalho. Esse novo regime de trabalho possibilita diversos benefícios às organizações e
aos colaboradores, os quais podem ser citados: redução de custos, aumento da produtividade e
melhoria na qualidade de vida. Esses são apenas alguns dos ganhos alcançados com a adesão
do teletrabalho (CARNEIRO; LIMA, 2019).
O trabalho remoto já é uma realidade no mercado em geral e atualmente, ganha espaço
inclusive no meio acadêmico. Com o aprimoramento das tecnologias da informação e da
educação a distância, muitos profissionais desenvolvem suas atividades laborais fora do
espaço das Universidades (OLIVEIRA, SILVA, ECHEVESTE, 2019).
Para de Souza; Moreira e Martins (2018), o teletrabalho contempla, por sua própria
natureza, a flexibilidade de tempo e espaço. Afirmam também que, com o avanço das
20
2.1.1 Teletrabalho
AUTOR DEFINIÇÃO
MENDES, 1999 Trata-se de chegar o trabalho onde está o trabalhador em vez deste se
deslocar para onde está o trabalho, decorrendo este processo,
geralmente com recurso a uma linha telefônica, um modem e um
computador, num formato que se considera mínimo para executar o
trabalho.
Carneiro e Lima (2019) trazem em sua pesquisa outras definições de teletrabalho. Eles
citam os autores Welz e Wolf (2010), os quais afirmam que o teletrabalho é uma forma de
organizar e/ou executar o trabalho usando tecnologia da informação, no contexto de um
contrato de trabalho/relacionamento, onde o trabalho, que também poderia ser realizado nas
instalações do empregador, é realizado longe dessas instalações em uma base regular.
Destacam ainda a definição de Goulart (2009), o qual ressalta o teletrabalho como uma
modalidade de trabalho possível de ser realizado distante da empresa utilizando recursos
tecnológicos modernos que viabilizem essa prática.
Ainda no estudo de Carneiro e Lima (2019), os autores afirmam que para Goulart
(2009), de todas as definições de teletrabalho, a mais utilizada é a da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), a qual define o teletrabalho como “a forma de trabalho
realizado em lugar distante do escritório central e/ou do centro de produção, permitindo a
separação física e implicando o uso de novas tecnologias facilitadoras de comunicação”.
Para Costa (2004), há diferentes modalidades de teletrabalho. E todas elas possuem a
mesma base, mas cada uma com sua especificidade, voltada para o atendimento das
necessidades imanentes às aplicações pretendidas. Podemos identificar as seguintes
modalidades: teletrabalho em casa; telecentros comunitários, satélites ou virtuais; centro de
trabalho a distância; teletrabalho móvel ou em regime misto.
Na primeira, o trabalhador desenvolve suas atividades em casa. Na sequência, os
telecentros comunitários são centros equipados com computadores e facilidades diversas de
telecomunicações; enquanto que nos telecentros satélites o trabalho é executado em um
sistema integrado com a sede da empresa; ao passo que nos virtuais não existe um local físico
para exercer as tarefas. Os centros de trabalho a distância funcionam em áreas rurais/remotas
23
sinalizando novas bases para o planejamento das ações de gestão dessas equipes. (COSTA,
2004; OLIVEIRA, SILVA, ECHEVESTE, 2019).
Em um levantamento de 2014, a SOBRATT estimava que havia, no Brasil, 12 milhões
de teletrabalhadores (SOBRATT, 2015). Sete anos depois, esse número deve ser muito maior,
pois muitas empresas praticam essa forma de trabalho de maneira informal, e pela eclosão da
pandemia em 2020, quando muitas instituições tiveram que se adaptar e ofertar o teletrabalho
aos seus funcionários (CARNEIRO, 2019). Corroborando a imprescindibilidade do
teletrabalho, estudos apontam que essa forma de trabalho perdurará mesmo após o contexto
pandêmico vivenciado (LEAL, RODRIGUES, 2020).
O teletrabalho é reconhecidamente uma nova maneira de se trabalhar com muitas
vantagens, porém é preciso apresentar alguns tópicos negativos existentes. No estudo de
Lanzarini (2018), são apresentados alguns desses pontos, os quais podem ser citados:
possibilidades de isolamento social/profissional, o que pode gerar impactos negativos para a
família se não houver uma grande disciplina no processo e adequadas condições para o
trabalho; perda de sentimento de pertencer ao grupo profissional/empregador; sensação de
disponibilidade quase permanente, face ao empregador; exploração do trabalhador, quando
este é classificado como trabalhador independente para evitar o pagamento de benefícios e
custos com a segurança social.
Ainda são citáveis: a supervisão remota, quando a empresa dispõe de sistemas
eletrônicos de supervisão fazendo com que os trabalhadores percam alguns benefícios do
teletrabalho; a carência da higiene e segurança no trabalho, principalmente em relação as
condições ergonômicas desfavoráveis as quais podem prejudicar o desempenho do
teletrabalhador; falhas na segurança da informação; e, possível, criação de conflitos na
empresa, a partir da falta de informação e diminuição do contato pessoal entre colegas
fisicamente afastados (LANZARINI, 2018).
A respeito deste último ponto, o teletrabalho pode interferir na habilidade e vantagens
do trabalho em equipe. É preciso habilidade da empresa na organização do trabalho, de forma
que as atividades individuais sejam desenvolvidas nos dias de teletrabalho, mas que as
atividades colaborativas possam ocorrer presencialmente com a participação da equipe (DE
BITENCOURT, 2019).
Este autor ainda aponta que para minimizar os efeitos negativos, a instituição precisa
se assegurar que os trabalhadores possuem o perfil para o teletrabalho. Também é necessário
priorizar a comunicação através de recursos com acessos adaptados, tais como voice-mail, fax
ou e-mail, entre tantos outros meios disponíveis com a empresa e vice-versa.
25
Embora não haja uma regulamentação clara e eficiente acerca do controle e modo da
execução de serviços por meio de teletrabalho, o trabalhador deve ter seus direitos básicos
garantidos, embora ele também deva ser responsável por seu ambiente laboral equilibrado.
(LEAL, RODRIGUES, 2020).
Outro ponto relevante sobre os efeitos da precarização de condições laborais é a
intensificação do trabalho, uma vez que facilmente ocorre a ampliação da jornada. O
trabalhador ocupa-se em horas e atividades extras sem sua devida remuneração, além do
cenário de informatização, o qual sobrecarrega a produtividade, exigindo dos trabalhadores
comportamentos robóticos, com tarefas acumuladas diante da redução da mão de obra nas
empresas, com metas inalcançáveis, ou mesmo pelos trabalhadores compulsivos (ALMEIDA,
2020).
benefícios para a compreensão de longo prazo das especificidades desta modalidade de labor
ainda permaneceram fragilizadas. Tendo em vista que não foi função desta definir de que
forma, a rigor, os trabalhadores executariam estas funções, apenas as legitimou como uma
possibilidade, até mesmo uma necessidade diante do processo de modernização.
Ante a necessidade de ampliação desta discussão, a Lei de nº 13.467, de 13 de Julho
de 2017, altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e promulga as modificações
acerca da legislação das novas formas de trabalho, na qual versa a respeito da modalidade de
Teletrabalho.
Através da Lei º 13.467 há a discussão acerca de algumas especificidades sobre este
método de labor, como a possibilidade híbrida do cumprimento do Teletrabalho.
Considerando que a empresa poderá carecer, em algumas circunstâncias, da presença do
empregado, o trabalhador que se insira nesta modalidade deverá, assim como qualquer outro,
possuir contrato que expresse ligação com a empresa, podendo vir a exercer o trabalho
totalmente presencial, mediante aviso prévio de 15 dias. Além do direito aos recursos
necessários para o cumprimento do seu trabalho e até mesmo do reembolso, caso haja
despesas não previstas pelo contrato definido. Os trabalhadores também devem ser orientados
e prevenidos quanto aos riscos de trabalho, ainda que não ocupem função fixa no âmbito do
empregador e este, assim como os demais, terá direito a férias remuneradas (BRASIL, 2017).
De forma clara, as discussões a respeito da prática do Teletrabalho passaram a ser
ampliadas a partir do capítulo II desta Lei. Porém, ainda há muitas lacunas que dão margem à
precarização da modalidade aqui discutida e que ainda permanecem ao critério do
empregador. O maior exemplo crítico e muito atual nas discussões é no que concerne a
relativização da jornada de trabalho do empregado que cumpre suas funções de forma remota.
Tendo em vista as discussões mobilizadas em 2017, um período ainda recente, muitas
destas problemáticas permaneceram silenciadas, uma vez que, apesar da crescente ampliação
das vagas de trabalho com possibilidade de cumprimento em home office, estas não se
sobrepunham ao trabalho presencial.
Foi apenas diante da realidade imposta pelo surto da pandemia da COVID-19, em
2020, que os trabalhadores e os empregados careceram estabelecer, celeremente, métodos
eficientes do cumprimento da jornada de trabalho. E, se anteriormente, a adequação do
Teletrabalho era percebida como uma possibilidade para as empresas e instituições, agora
passava a ser, muitas vezes, a única possibilidade (GOES; MARTINS; NASCIMENTO,
2020).
27
quais provocam um confronto aos arranjos anteriores, considerando que nem sempre os
impactos dessas mudanças provocam reflexos positivos se pensarmos nos aspectos subjetivos
e não apenas econômicos (ROCHA, AMADOR, 2018).
Nesse contexto, é possível visualizar uma realidade de ampliação do mercado de
trabalho por meio dos avanços considerados oriundos de uma era digital. Além disso, fornece
ao trabalhador um aumento na sua autonomia em relação ao seus horários de trabalho, não
possuindo uma carga horária distribuída de forma fixa (TASHETTO, FROEHLICH, 2019).
De forma que o próprio trabalhador poderá assumir, por meio dos recursos
tecnológicos, o controle da suas ações de trabalho. Estas, por sua vez, desempenhadas no
âmbito residencial. O que sugere, para além de uma flexibilidade nos horários de trabalho, a
oportunidade de mais tempo em contato com a família, e a possibilidade de resoluções de
problemáticas no âmbito pessoal, a comodidade e um maior desenvolvimento da habilidade
de gerenciamento em relação ao trabalho presencial (LEITE, DA CUNHA LEMOS, 2021).
No que se refere ao âmbito econômico, a prática do teletrabalho se apresenta como um
instrumento imprescindível à economia, que perpassa por inúmeras transformações
provenientes dos avanços tecnológicos (FILARDI; CASTRO; ZANINI, 2020). Tais avanços
possibilitaram a ampliação de redes de contato, da comunicação e, consequentemente, do
modo de realizar o labor. É factual que o teletrabalho se efetivou na nossa modernidade como
um espelho de todo este processo de globalização e que foi este mesmo processo que
possibilitou uma quebra nas barreiras de tempo e espaço (TASHETTO, FROEHLICH, 2019).
Em decorrência dessas mudanças, o trabalhador pôde efetivar o seu trabalho sem que
necessariamente precisasse ocupar uma postura enrijecida no seu local de trabalho, o que
inegavelmente apresentou um reflexo dos avanços realizados por intermédio dos processos
tecnológicos (VIEIRA, 2020).
Uma possibilidade do mercado de trabalho que contemple as ações dessa modalidade
de labor é não carecer que o profissional esteja preso não apenas a um local de trabalho, mas
que possibilite que este possa vir a realizar atividade trabalhística numa empresa que não
funciona na sua cidade. Dessa forma, viabiliza uma realidade na qual o deslocamento não é
necessário, o que para muitas pessoas significa mais tempo com a sua família e, para muitos,
essa seria a solução para muitos problemas (CARNEIRO, LIMA, 2019).
Com os avanços da urbanização, muitos reflexos positivos acompanharam as práticas
do teletrabalho, que dispõe de uma realidade de melhoria na mobilidade urbana, redução do
trânsito e dos gases poluentes, diminuição nos dispêndios das instituições (menos consumo de
energia, menos investimento com espaços físicos amplos e consumo de recursos),
30
possibilidade de oferta de uma lógica de autonomia aos funcionários e, com isso, proporciona
uma prática de maior produtividade e melhor qualidade de vida dos trabalhadores (SANTOS,
2017).
A aplicação e disseminação destes benefícios fizeram com que cada vez mais os
trabalhadores se interessasem pela prática do teletrabalho e, também as instituições. Muitas
dessas buscaram adequar suas práticas nessa modalidade (PACHECO, MOREIRA, 2020).
Porém, nem todos os cargos podem ser adequados a esta modalidade de trabalho e é certo
que nem todas as instituições também se sentem preparadas para reverter as atividades
práticas, de presença física dos profissionais em uma realidade virtual (SOUZA, MOREIRA,
2018).
É nesse contexto que se inserem as principais queixas dos trabalhadores que se
encontram cumprindo sua carga horária de trabalho de forma não presencial (LEITE, DA
CUNHA LEMOS, 2021). Muitos dos trabalhadores, que já se enquadram nesta função,
relatam que a lógica de possuir a comodidade de transformar sua residência em seu local de
trabalho é um discurso de sedução que obsta o que há por trás do véu: não é possível se
desconectar do trabalho (BUSNELLO, PALMA, 2018).
Nessa realidade, o que cabe na discussão é que o sujeito está sempre inserido em seu
ambiente de trabalho, ocasionando uma confusão e desordem frente sua rotina, afetando
principalmente a qualidade de vida, ponto que, paradoxalmente, muitos teóricos apresentam
como uma vantagem do teletrabalho (CARNEIRO, LIMA, 2019). Com o tempo, essa prática
pode apresentar prejuízos reais e, por algumas vezes, tão severos quanto a condição que o
sujeito tenha de administrar o seu tempo. Uma realidade a qual ele não consegue identificar
em que momento do dia inicia a jornada de trabalho e se, realmente, a encerra (PACHECO,
MOREIRA, 2020).
Um dos grandes problemas para a ativação das práticas de teletrabalho, sem maior
prejuízo para o trabalhador, é a falta de habilidade com planejamento. É preciso definir, com
precisão, limites nas horas de trabalho para que o trabalhador possa, de fato, usufruir do
benefício da flexibilidade (PACHECO, MOREIRA, 2020). No entanto, normalmente, os
sujeitos não possuem esta habilidade e as empresas/instituições contratantes também não
fornecem, geralmente, capacitações e esclarecimentos acerca das práticas desenvolvidas
(TASHETTO, FROEHLICH, 2019).
Como já discutido anteriormente, até hoje não há legislações consistentes que definam
e assegurem essas práticas, estendendo esse alheamento às instituições praticantes e aos
trabalhadores (RODRIGUES, 2019). Assim, as atividades de teletrabalho apenas se
31
disseminam, mas quase sempre são afixadas em convicções sem precisão, o que pode se
converter em prejuízo para ambas as partes (SOUZA, MOREIRA, 2018).
Outra contradição é em relação a produtividade, já que, normalmente, esta decai
quando o trabalhador percebe a sua qualidade de vida sendo afetada proveniente da não
adaptação nesse sistema de trabalho (BUSNELLO, PALMA, 2018). Nessa realidade, o que
também intensificará as dificuldades atravessadas na modalidade teletrabalho é o prejuízo nas
relações sociais, já que os trabalhadores não possuem vínculos solidários com os outros
colegas, nem com o seu contratante. De forma que a fragilidade desses vínculos pode resultar
na dificuldade de falar a respeito das vulnerabilidades vivenciadas no processo de adaptação e
assim dificultar na conversão para práticas mais adequadas (DE FREITAS, 2021).
Diante disso, também há o desacordo na noção da melhoria das formas de
comunicação através da modernização como um todo, já que esta melhoria ocasionou uma
intensa separação dos sujeitos e, apesar destes terem muitos meios para se comunicar, é
factual o prejuízo das relações sociais na nossa atualidade (DE FREITAS, 2021).
Nesse contexto, pode-se identificar que as práticas de teletrabalho corroboraram para
uma precarização do trabalho quando este não se desenvolve de forma voluntária e não há
uma noção muito definida das ações de planejamento para a sua efetivação. O âmbito do
trabalho atravessará todas as outras esferas da vida do trabalhador, usurpando o tempo que é
necessário que se adeque aos interesses e necessidades pessoais de cada um (DE LIMA
FILHO, PEREIRA, 2020).
Em contato com a realidade da pandemia da COVID-19, o trabalhador, em algumas
situações, não possuiu outra alternativa a não ser as práticas de modalidade não presencial de
trabalho, o que tem aflorado muitos sentimentos de frustração por parte dos trabalhadores (DE
LIMA FILHO, PEREIRA, 2020). Estes, que afastados obrigatoriamente, sem nenhum preparo
ou planejamento para essa nova rotina de trabalho, se viram repentinamente atingidos por
uma realidade que exige uma mudança ágil e prática na forma de executar todas as suas
ações, inclusive no labor (DE OLIVEIRA, TOURINHO, 2020).
É a isto que se dedicará a continuidade deste trabalho, compreender e apresentar a
possibilidade de práticas precarizadas no trabalho em decorrência desta imposição no período
da pandemia da COVID-19, mais especificamente, nas Universidades Federais.
Para que seja possível entender a adoção do teletrabalho nas Universidades Federais,
se faz necessário apresentar um breve histórico da pandemia de Covid 19. Em 31 de
dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de
pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China.
Tratava-se de um novo tipo de coronavírus que, até então, não havia sido identificado antes
em seres humanos. Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chinesas
confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus (OPAS, 2020).
Em 30 de janeiro de 2020, a OMS publicou a Declaração de Emergência em Saúde
Pública de Importância Internacional. Em 03 de fevereiro de 2020, o Governo Federal declara
Emergência em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) em decorrência da Infecção
Humana pelo novo Coronavírus (BRASIL, 2020).
No dia 11 de fevereiro de 2020, o novo coronavírus, responsável por causar a doença
COVID-19, recebeu o nome de SARS-CoV-2 (OPAS, 2020).
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou
oficialmente a pandemia da Covid-19. E a partir daí, o mundo teve que se adaptar a uma nova
realidade: usar máscara de proteção; manter os cuidados básicos de higiene, lavar
constantemente as mãos e higienizá-las com álcool gel; distanciamento social evitando
qualquer aglomeração.
O trabalho, intrínseco a vida moderna, sofreu grande impacto. Se antes da pandemia a
prática do teletrabalho já estava em crescimento, com a recomendação do isolamento e
distanciamento social, essa modalidade despontou como opção para vários segmentos e
setores econômicos do país e do mundo. Muitos trabalhadores tiveram, dentro do trabalho que
realizam, que se adaptar a uma nova forma de executar suas atividades laborais (BRIDI,
ZANONI, RIBAS, 2020).
Considerando as documentações brasileiras oficiais relacionadas à normatização, bem
como as sugestões indicadas por elas, no Brasil, o contexto da pandemia resultou na
suspensão de aulas presenciais nos setores público e privado. Como exemplo, segundo dados
do início de maio de 2020, cerca de 89,4% das universidades federais estavam com as
atividades de ensino suspensas (BRASIL, 2020). Ressalte-se que, embora as atividades de
ensino regulares não estejam ocorrendo nessas instituições, as demais atividades de pesquisa,
extensão e administrativas continuam – quando possível – de modo remoto. Adicionalmente,
são facilmente identificados, em reportagens nos jornais diversos, novos projetos de pesquisa
e extensão, relacionados à pandemia e promovidos pelas universidades públicas. De acordo
com levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
33
(ABMES, 2020), 78% das IES privadas estão com aulas por meios digitais e 22% delas
optaram por suspender as aulas.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), milhões de estudantes estão sem aulas com o fechamento total ou parcial de
escolas e universidades em mais de 150 países devido a pandemia do coronavírus. No Brasil,
grande parte das aulas presenciais ainda estão suspensas em todo o território nacional e essa
situação, além de imprevisível, deverá seguir ritmos diferenciados em cada Estado e
Município, a depender da extensão e intensidade da contaminação.
O MEC já identificou alguns riscos decorrentes da suspensão das atividades escolares
presenciais, entre eles, o comprometimento do calendário escolar, retrocessos do processo
educacional e aprendizagem dos estudantes, danos estruturais e sociais para estudantes e
famílias de baixa renda e abandono e aumento da evasão escolar. Impende considerar ainda as
fragilidades e desigualdades estruturais da sociedade brasileira que incidem e agravam esse
cenário. Também devem ser consideradas as desigualdades em relação às condições de acesso
às tecnologias digitais por parte dos estudantes e de suas famílias e as consequências
socioeconômicas que resultarão dos impactos da COVID-19 na economia.
No que se refere ao ensino superior, por meio da promulgação da Portaria nº 343, de
18 de março de 2020 e Medida Provisória nº 934, de 01 de abril de 2020, foi possível
predispor, respectivamente, a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais,
enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus; e, estabelecer normas
excepcionais sobre o ano letivo da educação superior, decorrentes da situação de emergência
em saúde pública. Dessa forma, o estudo por parte da SESU, ocorreu, na verdade, em tempo
real, através do monitoramento das Instituições de Ensino da Educação Superior da Rede
Federal por meio do Portal de Monitoramento das IFES no período da Pandemia do
Coronavírus (BRASIL, 2020). O Painel foi instituído em março/2020, e em outubro/2020
todas as IFES se encontram em funcionamento letivo via Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), isto é, de forma remota.
Este texto, elaborado pela Comissão Nacional de Supervisão de Carreira da Fasubra,
analisa os impactos da Instrução Normativa (IN)65/2020, que pretende regulamentar o
trabalho remoto do serviço público, sob o viés dos trabalhadores técnico administrativos em
educação.
Balanço divulgado pela SGP apontou que 95% dos servidores da rede federal de
educação e 49% dos servidores dos demais órgãos estão em teletrabalho durante a pandemia,
além disto, uma pesquisa realizada pela ENAP/Universidade de Duke aponta que em de 30
34
mil respostas de servidores públicos: 82% relataram que após a pandemia, gostariam de
passar menos de 80% das horas de trabalho no escritório, ou seja, em teletrabalho pelo menos
por um dia da semana; 65% reportaram que “concordam totalmente” ou “concordam” com a
frase: “No futuro, vou pedir permissão para teletrabalho”. Dos servidores públicos que
gostariam de continuar em teletrabalho, 29% estão gerenciando outras pessoas que trabalham
de casa.
Dados do MEC, no período de dezembro de 2019 até julho de 2021, apontam que das
Universidades Federais no território brasileiro, 26 delas permanecem realizando suas
atividades de forma remota, quatro delas aderiram o formato de trabalho e Ensino híbrido,
quatro se encontram em recesso e três estão a decidir a forma que executarão as suas
atividades (BRASIL, 2021)
Em relação a estes dados, com excessão do estado de Mato Grosso do Sul, que possui
todas as IES federais funcionando de forma híbrida, a maior parte destas instituições, em
todos os estados, seguem atuando de forma remota até a presente data (BRASIL, 2021).
A prática das atividades na modalidade remota consiste como uma medida de
biosegurança determinada em prol da redução do contágio pelo vírus, como já mencionado
anteriormente. Em casos em que esta possibilidade não possa ser aplicada, como foi o caso de
algumas circunstâncias como a prática de estágio na área da saúde, define-se a prática de
Ensino/Trabalho híbrido (BRASIL, 2021).
Com este novo modelo de prestação de serviço e ensino das IES federais, os dados
apresentados, também pelo MEC, apontam que houve ampliação nos números de trancamento
e cancelamento de cursos tanto nos setores de graduação (111.574 trancamentos e 112.154
cancelamentos), pós-graduação (3.269 trancamentos e 9.780 cancelamentos) e educação
profissional (16.729 trancamentos e 23.088 cancelamentos) (BRASIL, 2021).
Para a efetivação de práticas mais equânimes, o Ministério propôs algumas medidas de
inclusão digital para os afetados no âmbito da educação: concessão de auxílio financeiro para
a obtenção de chip ou plano de dados móveis; Progama Aluno Conectados; ampliação de
acesso aos livros em bibliotecas virtuais; ação de fornecimento de chip ou plano de dados de
função autônoma para aqueles que obtivessem dificuldade no manejar de suas atividades em
decorrência destas deficiências, inclusive o corpo docente (BRASIL, 2021).
Em discussão com as ações efetivadas da prática do teletrabalho, é importante refletir
a respeito do papel do capitalismo sobre esta modalidade de labor. Diante do observado, as
práticas do teletrabalho parecem ter se difundido e se fortificado com os avanços capitalistas,
com o interesse em uma maior produção e elevação do lucro. Vale mencionar que não foge
35
Neste sentindo, pode-se inferir que a saúde mental implica no entendimento de que é
preciso deter equilíbrio emocional, segurança e confiança naquilo que se predispõe a fazer
para que haja êxito. A saúde psíquica, portanto, é mais atingida em momentos de crise,
sobretudo quando se tem um trabalho instável com o potencial de determinar relações
interpessoais em prol de cuidados excessivos para o evitar do contágio de uma doença grave.
Sendo assim, entende-se que o contexto de pandemia requer maior atenção ao
trabalhador no que se refere aos aspectos que dizem respeito a sua saúde mental. Comumente,
há relatos de aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda da qualidade do sono,
exaustão, aumento do uso de drogas, sintomas psicossomáticos e medo de se infectarem ou
transmitirem a infecção aos membros da família (FIOCRUZ et al, 2020).
Somado a isso tudo, a vida social restringe-se. Não há o contato com colegas de
trabalho, visto que as medidas restritivas de distanciamento social impedem diretamente o
convívio fora de casa, o que diminui vínculos e hábitos que trariam distração ou diversão a
esses indivíduos. Algo tão imprescindível, mas que nesta conjuntura, tem contribuído mais
ainda para o isolamento e exacerbação de emoções negativas (SOBRINHO, BONILHA,
2020).
No setor público, especificamente nas Universidades Federais, a adesão das práticas
de Teletrabalho não era tida como uma medida prevista, mas foi, em amplitude, aplicada, o
que não se restringiu apenas ao ensino EaD, mas, em resposta a uma demanda emergencial,
acarretou no afastamento de diversos servidores que desempenhavam as suas funções de
forma presencial (MANCEBO, 2020).
O afastamento dos trabalhadores do seu local de trabalho deve ser analisado, também,
pela perspectiva da saúde e do bem estar do servidor, já que, normalmente, as práticas
remotas são associadas a condições precárias, baratas e de fácil substituição, aspectos que
podem se fundir com elementos determinantes para a saúde do trabalhador, principalmente a
saúde psíquica (MANCEBO, 2020).
Neste momento, negligenciar o cuidado à própria saúde psíquica é preocupante e pode
trazer consequências a quem opta por ser como uma “máquina” ao lidar com toda essa
situação. Sem falar que, o autocuidado, tem reflexos também no trabalho, vida social e
familiar, favorecendo que o indivíduo seja capaz de desenvolver melhor qualquer tarefa que
lhe seja dada (ASSAD, FUJIHARA, 2019).
Desta maneira, ainda no início da pandemia em 2020, alguns estudos comprovaram
que os profissionais sofrem pelo medo de serem infectados, bem como, pela angústia dos
familiares, a falta de suprimentos médicos e informações incertas sobre vários recursos.
37
Solidão e preocupações com entes queridos foram aspectos também relatados em outro estudo
que abordou o sofrimento psíquico e o adoecimento mental dos profissionais, principalmente
aqueles que se viam obrigados a trabalhar em situações instáveis, o que pode ser o caso das
práticas do Teletrabalho (FIOCRUZ, 2020).
Alguns estudos já realizados no período de pandemia indicaram que as práticas do
Teletrabalho nas Universidades Federais acarretam prejuízos a longo prazo na qualidade da
troca de conhecimento e construção coletiva e não expressam condições necessárias para a
sua progressão, evidenciando, também, a pouca ou escassa experiência com a modalidade do
Teletrabalho (FREIRE; PAIVA; DE MATTOS FORTES, 2020).
Atrelado a esses fatores, a pandemia não tem previsão de acabar. Enquanto isso, o
crescimento exponencial das infecções só tem piorado a situação, aumentando, muitas vezes,
a jornada de trabalho desses profissionais. Exigindo, também, turnos seguidos sem pausa para
descanso, uma vez que a prática do Teletrabalho ainda é confundida com a relativização da
jornada de trabalho do servidor (BERTOLDI et al, 2020).
Neste momento de esgotamento e exaustão, a figura do líder pode ser crucial e deve
fornecer meios necessário para auxiliar os profissionais, não apenas por uma recomendação
vinda de autoridades em saúde, mas como uma alternativa viável de aplicabilidade.
Para tal, leva-se em consideração que estes profissionais os quais executam suas
atividades em meio a situações precárias diversas podem desenvolver problemas como o
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), a Síndrome de Burnout e o estresse traumático
secundário (BERTOLDI et al, 2020).
O líder ou gerente de uma equipe pode propor resoluções de problemas por meio de
medidas preventivas ou corretivas a curto e longo prazo, devendo também estar atento àqueles
profissionais que já tenham diagnósticos ou suscetibilidade a adoecimento mental, não apenas
as comorbidades físicas previstas pelo grupo de risco, e protegê-los de maneira diferenciada
(BRASIL, 2020).
Tem que haver a garantia de tempo e espaço adequado no âmbito ocupacional para
que os trabalhadores descansem e a rotatividade entre setores de alta e baixa tensão sejam
mantidas, porém não são todas as Universidades Federais que, de fato, aderiram esta prática a
longo prazo (BENAVIDES, et.al, 2020).
Também é importante o líder oportunizar momentos nos quais os profissionais possam
falar em coisas positivas e não relacionadas a pandemia. Dessa maneira, gerentes e líderes
assumem diante da Cartilha do Ministério da Saúde funções que são listadas em múltiplas
recomendações com o intuito primordial de proteger os trabalhadores (BRASIL, 2020).
38
Ainda sobre promover saúde mental dos profissionais, tanto individualmente como
institucionalmente, uma boa opção pode ser utilizar materiais de psicoeducação confiáveis
sobre o estresse (o que é, suas manifestações e como pode ser enfrentado). A partir de então, o
trabalhador poderá dispor de estratégias eficazes contra o adoecimento mental e usufruir do
bem-estar no trabalho (MIYAZAKI; SOARES, 2020).
Visto isso, algumas atitudes como manter uma boa alimentação, ingerir pelo menos
dois litros de água por dia, praticar exercícios físicos, descansar entre longos turnos e manter
vínculos com amigos e familiares são ideias gerais comuns sobre autocuidado em saúde metal
e, portanto, devem ser mantidas sobretudo em momentos difíceis como o de uma pandemia
(BRASIL, 2020).
Somado a tais ações pode-se listar outros subsídios eficazes nesse processo de
enfrentamento, tais como, recordar estratégias já utilizadas e que foram efetivas em situações
semelhantes; respirar profundamente durante alguns minutos antes de entrar no ambiente de
trabalho; limitar o arsenal de notícias vistas em jornais, televisão ou redes sociais; ater-se a
fontes confiáveis de informação; focar naquilo que está dentro da possibilidade individual de
cada um mesmo em se tratando da COVID-19; questionar pensamentos catastróficos e
substituir por outros encorajadores; realizar práticas de relaxamento e meditação
(MIYAZAKI; SOARES, 2020).
Urge a necessidade de cuidados em saúde mental fornecida por meio de assistência
psicológica presencial ou on-line para uma escuta voltada ao enfrentamento de cada
profissional. Vários artigos expõem ações de promoção e proteção da saúde mental dos
profissionais ativos em período de pandemia e apontam a necessidade de se abordar melhor
esta área, destacando-se enquanto alternativas a criação de equipes de suporte psicológicos,
oferecimento de cursos online e outras estratégias que incluem micropráticas (TEIXEIRA et
al, 2020).
Importante fazer a ressalva de que algumas estratégias de enfrentamento são
disfuncionais, como o uso de tabaco, álcool ou outras drogas. A longo prazo, o consumo
39
destas substâncias pode piorar o bem-estar físico e mental dos profissionais. Uma alternativa
para não recorrer a esses meios é o trabalhador recordar as características que o fez escolher a
profissão que exerce e apoiar-se conjuntamente em ajuda psicológica (BRASIL, 2020).
Seja qual for a demanda emocional que afeta o trabalhador (transtorno depressivo,
estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade, etc) é preciso ajuda de profissional ou
equipe habilitada para que ele consiga gerenciar melhor seus conflitos.
Os transtornos mais frequentemente identificados em momentos de estresse coletivo
intenso são as Reações Agudas ao Estresse e os Transtornos de Ajustamento. Na maioria dos
casos, em curto prazo, é necessária escuta acolhedora dos sentimentos e preocupações da
pessoa. As prioridades se fixam em estabelecer um vínculo respeitoso de suporte, identificar
necessidades urgentes, normalizar reações de estresse e luto, reforçar pensamentos de
esperança para o futuro e orientar técnicas que podem diminuir o estresse, além de auxílio
com questões práticas (COSTA, 2020).
Assim, estudos tem demonstrado que o conhecimento sobre prevenção, tratamento e o
estabelecimento de protocolos corroboram para o sentimento de maior segurança e confiança
por parte desses profissionais, impactando diretamente em sua atuação segura. A tecnologia
atual está mais difundida no meio social quando comparada à época das epidemias e
pandemias anteriores, facilitando, por exemplo, a comunicação, a descoberta de materiais de
orientação e o acesso à terapia (BERTOLDI et al, 2020).
Visto isso, não se pode tardar na busca e implementação de medidas que assegurem
confiança aos profissionais mediante a realização de seu trabalho. Diante de um contexto
como o atual, conforme assinalam Almeida et.al, (2020), constantemente, os trabalhadores se
veem despreparados e sem saber como gerenciar um turbilhão de emoções causadas pelo luto,
medo de contaminação, sentimento de impotência, desamparo e desgaste, tendo que, muitas
vezes, sem nenhum incentivo ou preparo institucional, se adequar às nuances presentes na
prática do Teletrabalho.
40
3. MÉTODO
Deste modo, foram utilizados os operadores booleanos “AND” e “OR” com as seguintes
palavras-chaves: precarização, trabalho, ensino. Em relação a base de dados, optou-se por
utilizar essas seis bases: Scielo, Google Acadêmico, Lillacs, Repositório da UFRN, Revista de
Administração Pública (RAP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e plataformas
institucionais como o SIGRH, pois elas abarcam os principais periódicos que tratam do
assunto de interesse e nos forneceram as informações imprescindíveis para a concretização
dos dados que serão apresentados.
Ao efetivar-se a leitura dos resumos e títulos foram excluídos os estudos duplicados,
aqueles que não contemplavam os critérios de inclusão da pesquisa e que os não
contemplavam o interesse da pessquisa. Os estudos que se enquadraram dentro destas
categorias foram aqueles selecionados para compor os dados aqui apresentados.
Na sequência, apresenta-se na Figura 1 a seleção dos estudos.
final. Antes da análise, os documentos que serão utilizados devem ser preparados (BARDIN,
1977). Posteriormente, o pesquisador realiza implicações dos resultados com base nos
procedimentos adotados, buscando ir além do material, a fim de atribuir um grau de
significação mais amplificada aos conteúdos analisados (LAKATOS; MARCONI, 2017).
No caso do presente estudo, foram definidas as seguintes categorias de analise:
aspectos relacionados às condições, processo de trabalho e impactos no desempenho e
produtividade, aspectos relacionados aos impactos na saúde e bem estar psíquico e aspectos
relacionados aos impactos na saúde física, evidenciados por distúrbios somáticos variados.
Para a apresentação dos dados, considerando o uso da abordagem quantitativa, por
meio de tabelas, quadros e gráficos, foram sistematizadas as informações sobre os servidores
que aderiram a modalidade de teletrabalho. As queixas em relação à experiência de
teletrabalho e precarização foram apresentadas em quadros sintéticos e categorizadas a partir
de variáveis derivadas dos dados obtidos após a analise qualitativa de estudos e documentos
consultados ao longo da pesquisa.
Nos termos da Resolução nº 510 do Conselho Nacional de Saúde, de 07 de abril de
2016, ressalta-se que o tipo de pesquisa proposta não exige registro e avaliação no sistema da
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CEP/CONEP, como indicado no parágrafo único,
inciso VII:
" Não serão registradas, nem avaliadas no sistema CEP/CONEP:
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
que são estes que fazem parte do corpo técnico das Universidades Federais, que serão
apresentados ao longo da discussão deste capítulo.
A maior parte destes servidores, segundo as fontes de pesquisa selecionadas, se
encontram na região Sul do Brasil, a que destinam tais vagas de trabalho não apenas nos
setores públicos mas, de forma recorrente, estes também aparecem inseridos nos âmbitos
privados.
Considerando que a perspectiva deste estudo se voltou para uma análise mais
aprofundada do perfil do servidor técnico administrativo no âmbito educacional,
especificamente nas instituições federais de ensino superior, será apresentado um quadro mais
detalhado acerca dos números encontrados no Sistema Integrado de Gestão de Recursos
Humanos (SIGRH) disponibilizados pelas universidades.
Para a esquematização dos dados acerca do perfil destes funcionários, buscou-se
quantificar uma média relativa a região, escolaridade, idade e o sexo, realizando,
primeiramente, um quantitativo de servidores técnico administrativo para embasar os demais
apontamentos.
Especificamente, no que concerne ao quantitativo dos servidores nas instituições
federais de ensino superior, foram utilizamos os dados fornecidos pelo SIGRH das UF’S
brasileiras e, considerando as informações mais recentes, tem-se:
Além dos resultados acima apresentados, ressalta-se que os dados das instituições
UFGD, UNIRIO, UFRJ, UFFS e da UNIR estavam fora do ar, os dados da UFG UNIFAL-
MG, UFSCar, UNIFESP, UFU, UFSM, UFPR, UFRGS estavam indisponíveis para consulta
53
pública, e os dados relativos a UFC, UFAC, UFT, UFJF, UFMG, UFOP, UFES, UFTM,
UTFPR, UFCSPA, UFPel, UFSC, UNIPAMPA, FURG, UFDPar, UFNT, UFMT e UFAM
não dispõem de um sistema integrado como o que foi utilizado na busca ou não fornecem os
dados necessários ao embasamento da pesquisa.
Desta forma, considerando os dados apresentados acima, tem-se um quantitativo de
38.669 técnicos administrativos nas 33 universidades federais listadas e, dividido-os por
região, tem-se o seguinte cenário:
8%
15%
13%
Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Sudeste
Sul
63%
empresas privadas, a maioria desempenha suas funções na cidade de São Paulo, seguido do
Rio Grande do Sul. Nas demais pesquisas analisadas, observa-se que não há consolidação de
dados referentes ao quantitativo de servidores nas outras regiões.
Já em relação ao perfil educacional destes servidores, o profissional técnico-
administrativo compõe o rol de trabalhadores de nível médio, portanto devem preencher tais
vagas do trabalho aqueles profissionais que possuem ensino médio completo (2º completo), o
que não exclui a possibilidade de que outros níveis superiores possam concorrer e assumir tal
cargo.
Considerando o mesmo quadro de servidores nas UF’S acima foi apresentado, o
Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos (SIGRH) também fornece informações
acerca do perfil educacional destes servidores.
12.000
9.000
6.000
3.000
0
Ensino Médio Especialização Graduação Ensino Técnico Outros
Escolaridade dos Técnicos Administrativos
Percebe-se que, apesar da formação exigida para este servidor ser de nível médio, a
maior parte dos trabalhadores inseridos nas UF’S possuem pelo menos graduação. Segundo o
gráfico apresentado acima, a maior parte de trabalhadores tem pelo menos especialização,
seguido da categoria “outros”.
No que concerne aos dados relativos a faixa etária, segundo os portais das UF’S,
especificamente através do SIGRH, obteve-se os seguintes dados:
Universidade Sem dados Sem dados Sem dados Sem dados Sem Sem dados
Federal da dados
Bahia (UFBA)
Universidade 12 197 98 20 5 0
da Integração
Internacional
da Lusofonia
Afro-
Brasileira
(UNILAB)
61
Universidade Sem dados. Sem dados Sem dados Sem dados Sem Sem dados
Federal da dados
Paraíba
(UFPB)
Universidade Sem dados. Sem dados. Sem dados. Sem dados. Sem Sem
Federal do dados. dados.
Cariri (UFCA)
Universidade 7 140 82 66 42 4
Federal de
Roraima
(UFRR)
Fundação Sem dados Sem dados Sem dados Sem dados Sem Sem dados
Universidade dados
Federal do
Amapá
(UNIFAP)
Universidade 0 75 166 85 54 8
Federal de
Itajubá
(UNIFEI)
6750
7000
5317
5250
3683
3051
3500
1750 958
122
0
Menor de 24 25-34 anos 35-44 anos 45-54 anos 55-64 anos Mais de 64
anos anos
Faixa etária dos Téc. Administrativos
Ao buscar os relatórios que pudessem contribuir com a pesquisa, não foi possível
alcançar dados fidedignos da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e a Universidade
Federal do Amapá (UNIFAP), pois ambas não disponibilizavam em seu sistema as
informações relativas ao quantitativo de servidores técnicos administrativos divididos por
gênero.
No total, das 23 universidades federais que forneciam dados de interesse para a
pesquisa, observa-se uma predominância no número de mulheres que executam função de
técnico administrativo nas UF’s brasileiras, obtendo um número de 13.286 (51%), em
comparação ao público masculino, que apresentou um total de 12.900 (49%).
Este resultado corrobora o que foi apontado por Oliveira, Barbosa e Hegedos (2017),
indicando que a maior parte destes servidores, não apenas no âmbito das UF’s, mas num
contexto geral, são do sexo feminino. O gráfico a seguir resume melhor a distribuição dos
servidores no âmbito das UF’s em função do gênero:
68
13.125
13.000
12.875
12.900
12.750
12.625
Masculino Feminino
Autores como Schwetz, et.al, (2021) e Ferreira et.al (2020), indicam que o trabalho
desenvolvido pelos servidores técnicos-administrativos, durante o período pândemico, não
flexibilizou em muito as responsabilidades inerentes ao trabalho presencial, mas apontam que
muitos destes se viram numa situação em que o acesso aos recursos necessários para o
desempenho da função ainda estava distante.
Levando-se em conta os dados anteriormente apresentados, no que se refere ao perfil
destes trabalhadores, observa-se que 958 técnicos-administrativos se encontram na faixa
etária acima de 64 anos, o que sinaliza que é preciso pensar acerca das necessidades
específicas desses servidores, notadamente quanto a habilidades e competências na seara
tecnológica.
Vale salientar que esta informação faz referência apenas às instituições que registram
em seu banco de dados a tabulação da faixa etária dos servidores e que, na verdade, este
número pode ser ainda maior, o que permite supor que são muitos os problemas derivados da
escassez de recursos e qualificação para a execução do trabalho remoto entre estes
funcionários que, além de tudo, estão alocados dentro da classe de risco e devem,
obrigatoriamente, executar suas funções de forma exclusivamente remota, independente de
terem tido tempo e condições de se prepararem para tal mudança.
A exigência de recursos para o desenvolvimento de função destes servidores se
apresenta como outra problemática, já que uma parte considerável do trabalho consiste na
utilização de tecnologia dura (aparatos, máquinas e equipamentos) e leve-duras,
(conhecimento, expertisse) para o manuseio de computadores e utilização de programas, na
elaboração de documentos próprios da instituição e no uso de insumos de ordem geral que
muitas vezes não possibilita o deslocamento (DRIGO, LIMA, 2020).
Assim, a execução das funções dos servidores no formato remoto para muitos se
tornou mais complexa e dificultosa, já que, por vezes, é possível que estes não possuam as
condições mínimas para o cumprimento de seu trabalho em sua residência, como um local
adequado e livre de interferências, um computador particular e os aparatos necessários para a
execução de suas atribuições específicas.
Estudos desenvolvidos por autores como por Ferreira et.al (2020), Soares (2021) e
Fernandes (2021) indicam que o trabalho do técnico administrativo é fundamental para o bom
funcionamento das instituições de ensino e que, por isto mesmo, tais profissionais carecem de
um maior incentivo e melhor qualificação quanto as práticas desenvolvidas no teletrabalho,
considerando não apenas as especificidades do trabalho deste servidor, como também, a
necessidade de desenvolver ações para dirimir os problemas enfrentadas por estes.
74
seguir, discute-se brevemente acerca dos efeitos do teletrabalho na saúde e bem estar dos
servidores técnicos administrativos no contexto pandêmico.
O termo “crise” origina-se da palavra grega krisis, que significa a decisão tomada por
um juiz ou um médico, e que advém do verbo krino, que quer dizer “eu decido, separo,
julgo”. Sendo assim, o juiz e o médico avaliam as circunstâncias e tomam a decisão pelo tipo
de sentença ou pelo tipo de doença, de modo que esse processo decisório é chamado de crise
(SÁ, WERLANG, PARANHOS, 2008; PERRETT et al, 2010).
Crise também pode se referir aos momentos de transformações que ocorrem ao longo
do curso da vida, no qual as diferenciações de um momento anterior e a emergência de uma
nova situação provocam a perda de um equilíbrio já estabelecido, mas, com base na condição
do sujeito, a mudança é incorporada e um novo equilíbrio é restabelecido. Desse modo, os
indivíduos são constantemente desafiados a estabelecerem, manterem e reorganizarem seus
relacionamentos e comportamentos no meio ao qual estão inseridos (PERRETT et al, 2010).
Segundo Sá, Werlang e Paranhos (2008), o fenômeno da crise pode ser diferenciado
em crises evolutivas e crises circunstanciais. As crises evolutivas dizem respeito à efetuação
não satisfatória das passagens do desenvolvimento do indivíduo, enquanto as crises
circunstanciais decorrem de situações encontradas em especial no ambiente, em outras
palavras, elas surgem em decorrência de eventos raros e extraordinários, de forma que o
indivíduo não consegue prever ou controlar, como enfermidades, o desemprego, os desastres
naturais, etc.
As doenças epidêmicas são normalmente percebidas como eventos críticos que
fogem dos enquadres cotidianos da sociedade, que ultrapassam a experiência individual e
põem em risco as estruturas sociais que cimentam e dão sentido à existência em comum, ou
seja, são eventos que afetam a ordem pública, os ritos religiosos, as atividades econômicas e
os valores morais, estando associadas à crise devido a rapidez e a intensidade com que
impactam na organização da vida social (SILVEIRA, 2010).
A pandemia da COVID-19, que surgiu na China em dezembro de 2019, é um claro
exemplo de crise. Devido a sua rápida disseminação, a COVID-19 foi declarada como
Pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020, atingindo
todos os continentes e resultando em um preocupante cenário de crise socioeconômica, cuja
76
pandemia, o que, somado com a flexibilização sem instruções de execução adequadas, muitos
comuns na modalidade do teletrabalho, poderia produzir uma ampliação neste sentimento.
Além disso, há de se mencionar também queixas tais como a dificuldade de conciliar
as metas de produção com os recursos disponíveis para a execução do trabalho, o que é
muitas vezes produzia um sentimento de impotência e insuficiência, corroborando para que
muitos trabalhadores relatassem reflexos desta nova modalidade de trabalho em sua saúde
mental (LOSEKANN, MOURÃO, 2020).
Autores como Vilarinho, Paschoal e Demo (2021) e Casagrande (2021), assinalam que
os trabalhadores apresentam sentimentos relacionados ao medo de adoecer, medo em relação
ao novo tanto na progressão do vírus como nas mudanças do trabalho e suas exigências, o
medo de perder entes queridos, da insegurança acerca da temática da vacina ou cura,
sentimentos de irritabilidade frente a impotência para responder a suas questões e medos,
sentimentos de incertezas e a tristeza acarretada e/ou agravada pelo isolamento, pelo
enfrentamento e pelo processo de adoecimento ou perda de pessoas queridas.
Como sintomatologia, alguns trabalhadores também destacaram ter vivenciado
inapetência, distúrbios de sono e de convívio interpessoal, alterações de humor, inquietação
ou apatia (DA SILVA; DE MELO SALLES; DUARTE, 2020). Outros, tiveram crises de
ansiedade e de pânico, um aumento tanto nos sentimentos depressivos como nos casos de
depressão e prejuízos de comunicação provocados pelo distanciamento (VILARINHO,
PASCHOAL, DEMO, 2021).
Dentre os aspectos que tendem a impactar mais intensamente na execução do trabalho
e produzir sentimentos de impotência estão aqueles relacionados com a falta de adequação de
equipamentos e de uma infraestrutura, a dificuldade na rede de comunicação e ausência de
uma definição de rotina de trabalho que considere as novas questões que estão envoltas na
forma de fazer labor através do teletrabalho (MULARI, DA SILVA, 2018).
Deve-se levar em conta que grande parte das instituições públicas de ensino superior
no âmbito federal, bem como as outras tantas instituições que tiveram que se adequar ao
modelo do teletrabalho de forma compulsória, não tinham preparo suficiente para efetivar este
modelo de labor de forma satisfatória, não apenas para instituição, mas também para o
trabalhador, considerando as mudanças impostas e novas necessidades que emergiram.
Em relação as estratégias que podem ser adotadas como forma de dirimir os aspectos
negativos vivenciado pelos trabalhadores na modalidade de teletrabalho, pode-se elencar o
estabelecimento de horários flexíveis, ações que propiciem o bem estar psicológico, baixa
rotatividade de trabalhadores, melhores estratégia para gestão dos setores, o desenvolvimento
79
Sindicato dos Servidores Falta de acesso aos recursos necessários para a execução do
Técnicos Administrativos da trabalho;
Bahia (SINTEST) (2020);
Foi possível identificar que a maior parte das queixas apresentadas pelos servidores
técnicos administrativos são demandas de foro psíquico, tendo o relato de ansiedade como a
queixa mais corriqueira nas falas dos servidores.
Dentre os 15 estudos incluídos na Revisão Intergrativa empreendida, observa-se a
prevalência de impactos no âmbito da saúde psíquica. Em oito deles, a palavra ansiedade foi
identificada como uma queixa recorrente entre os servidores. Em segundo lugar, como
83
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados coletados permitiram identificar que há, ainda, muito a se fazer para que o
teletrabalho possa se configurar como uma modalidade que venha a impactar positivamente
nas organizações, sobretudo quando se trata de instituição pública de ensino superior. Dentre
as maiores dificuldades, está a ausência de previsões legais que assegurem, de fato, uma
normativa, garantindo aos servidores o exercício de seu trabalho de forma consistente, como
ocorre no exercício da modalidade presencial.
Considerando o período pândemico, as atividades desenvolvidas por intermédio desta
modalidade se ampliaram, incorporando um grande contigente de servidores técnico
administrativos, visto que o teletrabalho foi a solução possível e imediata que permitiu a
continuidade dos processos levando-se em conta a necessidade de medidas de contenção em
relação a progressão do contágio da COVID-19.
Apesar de se reconhecer os benefícios do modelo de home office, sem dúvida, a
implantação do teletrabalho, da forma como se deu no âmbito das IES públicas, se mostrou
uma alternativa que trouxe a tona antigos problemas e fomentou novas dificuldades. As
instituições de ensino superior precisaram se adaptar e modificar as suas práticas de prestação
de serviço e, com isto, alterou as funções executadas pelos servidores técnico administrativos
e a relação destes com o seu trabalho. Na medida em que o trabalho passou a ocupar também
os espaços da vida privada, mudam-se aspectos frente ao trabalhador e os sentidos atribuídos
por este ao seu ofício.
Grande parte dos servidores administrativos avaliam os efeitos da implementação da
modalidade de teletrabalho no período pândemico como negativo, principalmente devido ao
fato de que, devido as contingências, a adesão se deu de forma repentina e sem o suporte
necessário, de modo a assegurar as condições mínimas para a execução do trabalho,
considerando que boa parte dos servidores não dispunha de recursos mínimos para tal
empreitada. Por outro lado, haviam uma expectativa (positiva) e certa romantizacão do
teletrabalho por parte de grande parte dos trabalhadores, que viam nesse modelo a
possibilidade de maior controle e autonomia. Entretanto, para muitos, o que se deu foi
justamente uma sobreposição de tarefas, papeis e atribuições que inviabilizaram a separação
entre as esferas publica e privada, afetando amplamente a vida do trabalhador.
Para um grande contingente de servidores, a sedução inicial do modelo do teletrabalho
se desfez, revelando-se um engano, uma aposta que tem custado muito caro ao trabalhador,
cada vez mais enredado em atividades que lhe consomem o tempo e a saúde. O levantamento
85
REFERÊNCIAS
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Tecnologia e Sociedade em tempos de pandemia. Revista Ciência, Tecnologia & Ambiente,
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pandemia: O que eu sinto, você sente?. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 1, p.
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Ricardo. Assédio Moral no Trabalho Remoto em Tempos de COVID-19: A Percepção de
Servidores de uma Universidade Federal/Moral Harassment in Remote Work in times of
COVID-19 The Perception of Servers at a Federal University. ID on line REVISTA DE
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