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LIÇÃO 02

TEMPOS DE RENOVAÇÃO!
OBJETIVO: Suscitar o anseio por renovação da parte de Deus, ao considerar como
ele veio operando na vida de seu povo em várias épocas do Antigo Testamento.

TEXTO BASE: Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos,
faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. (Hc 3:2b)

INTRODUÇÃO

Quem nunca ouviu falar sobre revolução? Revoluções democráticas, por


exemplo, Revolução Francesa e Revolução Americana. Também ouvimos sobre
revoluções industriais, desde o surgimento das indústrias com o uso carvão até
chegar ao desenvolvimento técnico e científico que hoje conhecemos. O termo
“revolução” pode ser entendido como “uma transformação radical de determinada
estrutura política, social, econômica, cultural ou tecnológica”.1
Quando voltamos ao Antigo Testamento, deparamo-nos com algo que é muito
mais transformador do que uma revolução social: estamos falando de avivamento.
Este não trata de coisas terrenas e transitórias, mas espirituais, que servem a todas
as gerações e aplica-se a todas as áreas da vida. Não é impulsionado por homens,
mas vem do alto. Não é uma proposta de novidades, não é moda, antes, é uma
chamada de retorno a Deus e à sua vontade.

I. ANALISANDO O TEMA

De Gênesis a Malaquias, a Bíblia narra acontecimentos inspiradores na


esfera da fé, momentos de renovo que podem, com justiça, ser chamados de
avivamentos. A palavra “avivamento” não é encontrada na Escritura, contudo,
substantivos e verbos correspondentes são usados ao longo dela, como “voltar” e
“curar” (Jr 3:22), bem como “converter” e “renovar” (Lm 5:21). Deus sempre renovou
o seu povo! Constataremos isso a partir de agora.
1. Épocas de renovação no AT: Em primeiro lugar, é possível destacarmos
uma renovação ocorrida na época do Êxodo. Quando Israel trocou Deus por um
bezerro de ouro, o líder Moisés, nas palavras de Franklin Ferreira, teve um “santo
horror”. Se em Atos dos Apóstolos o sinal da renovação foram três mil almas sendo
convertidas, lá, aos pés do monte Sinai, três mil rebeldes foram mortos e o restante
do povo foi ferido com pragas (Ex 32:28; 32:35). Depois disso, o povo experimenta
um tempo de quebrantamento e renovação (Ex 33:47-11; 34).
Em segundo lugar, após uma fase de fidelidade a Deus com Josué,
encontramos o período de infidelidade dos Juízes, de confusão e fracasso espiritual 2
por falta de conhecimento do Senhor (Jz 2:10; Dt 6:6-9), seguidos de vários ciclos de
renovação. Às vezes, essa renovação era regional, às vezes, nacional. Aconteciam
simultaneamente em certas ocasiões. No total, houve oito ciclos de “paz, apostasia,
castigo, arrependimento e libertação”. Em cada período de libertação, o povo
experimentava um tempo de refrigério da parte do Senhor!

1
FERNANDES, C. O que é revolução? Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-
revolucao.htm. Acesso em: 06 out. 2021.
2
Também houve fracasso militar (Jz 1:1-2:9).
Veja que o próprio Senhor trazia castigo por parte dos inimigos de Israel (Jz
2:7, 10-15, 18). Em seus planos eternos, Deus também traz derrotas que, no final,
promovem renovação! Em terceiro lugar, surge Samuel, juiz e profeta. As pessoas
foram reunidas em Mizpá, onde se deu uma renovação da aliança por meio de
oração, jejum e confissão de pecados (1 Sm 7:5-6).
Em quarto lugar, é possível nos voltarmos para o período dos reis. O episódio
da arca da aliança e a morte de Uzá fez Davi ter uma nova perspectiva sobre Deus.
Presenciamos a reverência ganhar a proporção devida e a adoração ser tão intensa
a ponto de Davi fazer acrobacias (2 Sm 6:14-15). Em quinto lugar, após o reino ser
dividido, percebemos que o Reino do Sul, Judá, ainda que tenha cometido graves
pecados, experimentou renovações, especialmente com os reis Asa, Josafá,
Jeoiada, Ezequias e Josias, sempre envolvendo atitudes de devoção a Deus.
A começar pelo rei Asa, percebemos dedicação e seriedade (2 Cr 15:11-13).
Nessa mesma linha de devoção, nos tempos de Josafá, suscitou-se adoração
retumbante (2 Cr 20). Jeoiada é exemplo de renovação através de um sacerdote (2
Cr 23:16). Continuando mais à frente nesse período de monarquia, na época de
Ezequias borbulhou uma comoção “dentro do templo”, isto é, houve revisão da
atividade eclesiástica3 (2 Cr 29:4-11). Ainda constatamos um apelo evangelístico:
Josias levou a sério a obediência à lei do Senhor, a ponto de destruir os altares que
se encontravam nas áreas malquistas do antigo Reino do Norte, em tribos israelitas
destruídas pela Assíria (2 Cr 34:33).
Continuando nossa caminhada, o Antigo Testamento termina com o período
do pós-exílio, narrando a história dos líderes Zorobabel, Esdras e Neemias. Deus
também trouxe períodos de renovação na época destes líderes (Ed 6:16-22; 8:21-
23; 9:5-15; Ne 8:1-18). Há no Antigo Testamento ainda, no livro do profeta Zacarias,
a promessa do “Renovo” ligada ao Messias, o Ungido (Zc 3:8; 6:12; Cf. Is 53:2; Jr
23:5). Realmente, conforme clamou Habacuque, em meio aos anos Deus agiu em
seu povo trazendo tempos de refrigério: Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos
anos. (...) na tua ira lembra-te da misericórdia (3:2).
2. Caraterísticas da renovação no AT: Até aqui, descobrimos seis épocas
que mais se sobressaem como “tempos de renovação”, a saber: durante o castigo
pela rebelião no monte Sinai em Êxodo; durante as libertações em Juízes; na fase
de transição para a monarquia em Samuel; no reino ainda unido de Davi; nos vários
reinados em Judá, Reino do Sul, que foi resultado da divisão das tribos de Israel em
931 a.C.; e no pós-exílio. Emergindo desse elenco no tópico anterior, aparecem
destacadas três características preciosas da renovação provinda do alto, do
avivamento.
Primeiro, o agir de Deus é direcional. Constatamos confluência nos
acontecimentos, um fluxo centrípeto4 do que Deus está fazendo em relação a Israel.
Note como a sequência de avivamentos começa em um deserto, depois se
manifesta mais especificamente nas várias tribos de Israel, vai até o campo de
batalha, em Mizpá e, finalmente, entra na cidade de Jerusalém, no centro do culto
ao Senhor, no período dos reis. Mesmo na comunidade pós-exílica, as renovações
acontecem em Jerusalém na restauração do culto a Deus.
É como se Deus estivesse guiando um cortejo rumo ao relacionamento mais
íntimo com ele. Ainda mais tocante é perceber como isso se contrasta com o Novo

3
Conforme explica Franklin Ferreira em palestra divulgada pelo “Ministério Fiel”, foi uma reforma purificadora
para restabelecimento do culto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PJBQLarLX7o. Acesso em
06 out. 2021.
4
Centrípeto quer dizer de fora para dentro, como um redemoinho.
Testamento, pois lá a história não começa no deserto para depois ir a Jerusalém,
pelo contrário, começa em Jerusalém e marcha até os confins da Terra, em um
derramamento contínuo do poder do Espírito! Deus sabe aonde quer chegar
conosco!
Voltando ao Antigo Testamento, se, por um lado, há uma ação divina por
meio de estreitamento geográfico, por outro lado, há dilatação dos efeitos
restauradores e essa é a segunda característica dos tempos de renovação. Em
outras palavras, a intensidade é crescente. Prova disso é que a grande alegria que
houve na Páscoa dos dias de Ezequias (2 Cr 30:23) foi superada nos dias de Josias
(2 Cr 35:18).
No pós-exílio, em um singelo recomeço dos judeus, acompanhado de um
templo aparentemente inferior, residia um evento ainda maior a se cumprir em Cristo
(Ag 2:3; 2:6-9). Novamente, Deus está se comunicando cada vez mais aos seus.
Bem exprimiu Zacarias que não se pode desprezar os pequenos recomeços (Zc
4:10). Em terceiro lugar, cabe ressaltar como esses momentos de recomeço foram
marcados por semelhanças.
Vejamos essas similaridades frequentes: por diversas vezes, a renovação se
dá ante a um caos espiritual generalizado; sempre há um líder mediador a mando de
Deus e usado por ele para reconciliar os pecadores; há constantemente uma
mobilização coletiva; há ênfases na contrição, quebrantamento, zelo pela Palavra,
práticas devocionais, revisão da conduta moral e muito mais.
Isso demonstra que Deus não está experimentando “métodos de avivamento”
com os homens. Ao longo da história, o Pai celeste tem sido consistente em suas
ações misericordiosas e sempre tem renovado o seu povo. Assim, terminamos essa
análise recapitulando que o agir de Deus no processo de renovação possui
características notáveis, quais sejam, a direção, a progressão e consistência. Pois
bem, é hora de aplicarmos esses ensinos à vida.

01. Segundo a introdução desta lição bíblica, é correto dizer que o avivamento
é mais transformador do que uma revolução social, como as que têm ocorrido
ao longo da História? Por quê?

02. De posse do conhecimento adquirido no item 1, faça um breve resumo dos


principais períodos de avivamento que o povo israelita vivenciou até o período
da monarquia. Leia Ex 33:7-11; 1 Sm 7:5-6; 2 Cr 34:31-33; 35:18, dentre outros.

03. Depois que o povo voltou do cativeiro na Babilônia, período chamado de


pós-exílio, também experimentou tempos de renovação. Comente um pouco
sobre eles. Baseie-se em Ed 6:16-22; 8:21-23; 9:5-15; Ne 8:1-18.

04. Quantas e quais caraterísticas a lição destaca dos tempos de renovação


que ocorreram no Antigo Testamento? Concorda que o Pai celeste tem sido
consistente em suas ações misericordiosas e sempre tem renovado o seu
povo?

II. APLICANDO O TEMA

1. Busquemos tempos de renovação com consciência!


Vimos que o avivamento ou, em um termo veterotestamentário, a
“renovação”, vai muito além de uma mudança marcante e passageira na ordem das
coisas, como são as revoluções sociais. Quando o avivamento vinha, Deus sempre
propunha um novo paradigma de vida, durável e eficaz. Quando Habacuque ora
para que Deus avive sua obra em meio aos anos (Hc 3:2), o profeta sabe que este é
o padrão de Deus agir!
De tempos em tempos, o Senhor envia avivamentos coletivos poderosos para
renovar seu povo. Contudo, às vezes, o tempo de misericórdia é antecedido pelo de
juízo (Hc 3:2b). Sejamos conscientes, analisando as histórias de avivamento do
Antigo Testamento. Antes de renovar, Deus disciplinava seu povo por conta de seus
descaminhos. Com a habilidade de um cirurgião, Deus sabe fazer o melhor para o
seu povo, convencendo do pecado, despertando os que dormem, aguçando o
paladar espiritual daqueles que perderam o gosto pelas coisas do céu.

05. Você acredita que Deus pode trazer tempos de renovação ainda em nossos
dias? O que pode vir acompanhando os tempos de renovação? Justifique sua
resposta.

2. Busquemos tempos de renovação com quebrantamento!


Se tem uma coisa em comum em todas as ocasiões em que Israel
experimentou vida nova é que sempre há servos do Senhor buscando a sua face,
sejam líderes, sejam pessoas comuns. Ainda que não possamos agendar datas para
o avivamento, podemos fazer como 2 Crônicas 7:14 nos receita: se o meu povo, que
se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos
seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua
terra.
Heresias, falsos cristãos, políticas anticristãs, crises sociais, e muito mais têm
assolado grande parcela do povo de Deus destes últimos dias, em ciclos não muito
diferentes dos tempos em que viveram os juízes de Israel. Que um “santo horror”,
igual ao que sentiu Moisés, possa haver também entre nós, um que brote nas raízes
de nosso coração a mais pura devoção a Deus e que nos impulsione a promover
sua glória. Que nossa vida seja inundada de uma alegria que calhe em adoração
retumbante como a de Davi. Nos acheguemos ao Senhor de tal maneira que ele se
achegue a nós!

06. Você tem buscado na prática o avivamento ou tem negligenciado esse


tema? Geralmente, antes de períodos de avivamentos é importante períodos
de quebrantamento?

MEU DESAFIO SEMANAL


Como é bom saber que o mesmo Deus a quem servimos também já foi
servido por gerações e gerações muito anteriores a nossa, gente que experimentou
o poder do alto e efetivamente presenciou tempos de renovação como uma
expressão de genuíno avivamento. O estudo de hoje se prestou justamente a esse
propósito conscientizador. Cabe a nós uma postura de atitude confiante.
Comecemos logo a viver essas verdades. Que elas extrapolem as margens
do papel e se encarnem no coletivo: no corpo de Cristo, a Igreja. Assim, seu desafio
é sair da zona de conforto com sua comunidade cristã local. Marquem mais períodos
de orações, um dia de jejum e confissão de pecados ou aquilo que o Senhor lhes
puser no coração. Levantemo-nos do sofá e busquemos tempos de renovação!
REFERÊNCIAS

ARENDT, H. Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

DEVER, M. A mensagem do antigo testamento: uma exposição teológica e


homilética. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

DOCKERY, D. S. Manual bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.

SELMAN, M. J. 1 e 2 Crônicas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova,


2006.

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