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Não demorou para a servidora pública perceber que o buraco era bem mais
embaixo. Mesmo os sem-teto que tinham benefícios aprovados não
conseguiam sacar o dinheiro na Caixa Econômica Federal. Às vezes, eram
impedidos por seguranças de entrar nas agências, porque estavam com
roupas sujas e carregavam grandes sacos com objetos pessoais. A confusão
11h e 12h30, para prestar assistência nas ruas. Lidou com casos absurdos,
como os dos mais excluídos entre os excluídos: os que não tinham
documentos. Uma identificação com foto era obrigatória para sacar o
auxílio emergencial, mas as unidades do Poupatempo, encarregadas de
emitir as carteiras de identidade, pararam de funcionar. “Comecei a encher
o saco de autoridades que conheço, pedindo providências. Estavam todas
confusas, sabiam menos do que eu, um caos. Alguns, irritados, me
bloquearam no celular.”
Rigotti entrou na conversa. “Eu disse: ‘Péra, vou arrumar um lugar!” Por
volta das oito da noite, chegou à unidade do Serviço Franciscano de
Solidariedade (Sefras), na Sé, onde funciona o Chá do Padre, um dos
maiores serviços de atendimento à população vulnerável de São Paulo.
“Ela perguntou se a polícia poderia fazer os RGs aqui. Os frades
responderam que sim. No dia seguinte, já apareceu com tudo articulado,
trazendo dois delegados. Uma iniciativa impressionante”, diz Rosangela
Pezoti, coordenadora de programas do Sefras.
para levá-los até o prédio onde funciona o Chá do Padre. Nesse período,
foram emitidos quatrocentos RGs. A procura ficou tão gigantesca que o
mutirão foi transferido para um prédio da Polícia Civil na região central.
“No fim, os policiais foram incríveis. E olha que teve uns bafos na fila,
como o cachorro de um sem-teto que mordeu um delegado”, conta.
Casada com um advogado, Rigotti está grávida. Com medo dos efeitos da
Ômicron, só sai de casa para o essencial. As autoridades podem, por um
tempo, dormir sossegadas.
Repórter da piauí.