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Qual o sentido de não se ter sentido?

Objetivos, metas, perspectivas, se diluem, a


propriedade de si se esvai, o que resta? O vazio, o papel em branco que me olha e desafia, me
preencha, preencha o ser que já não sabe mais se é ou se ira ser. Dialética do ser, fico com o estou
sendo. Estou sendo, humano, filho, professor, moleque, homem, namorado, enamorado, hipócrita!
O sou, ainda desconheço. Talvez ele seja apenas mais uma construção social. De adjetivos estou
Farto, o fato é que existe um fardo, o fardo de sentir, de não querer sentir. O vazio.
Qual o sentido do vazio? Vazio, porque me desafias, o que queres do meu eu que se perdeu, se
perde, se engana e se estranha? Vazio, não me desafie!
—Sou fraco, homem também chora, na música já é clichê. Já me disseram, não se afine, isto
é coisa de mulherzinha. Lindo vazio que se apresenta como incógnita, longe de mim a matemática!
Se bem que já amigavelmente me alertaram sobre ela. — Meu querido, os problemas da matemática
são mais passiveis de solução dos que o da vida. O consolo vem quando relembro da hipótese
Riemann. Números primos, me assemelho a discussão que envolve vocês! Não devanearei na
conjectura de Hodge. Matemática, necessária, mas nunca gostei, quem sabe um dia….
—Vou encher meu copo. —Vodka barata, de limão, me desce melhor. Acendo o cigarro, a
resposta não está nele, foda-se, mesmo assim o fumarei. Me recordo de Tabacaria, Álvaro, grande
poeta. Cigarro, assim como a vida ele se finda em instante. Instantes. Acho digna essa palavra,
etimologia não vem ao caso. Passado, presente e futuro, tendo a acreditar na coexistência, se não
real, sensorial. Vazio, seu contraditório impalpável, tão hipócrita quanto eu, de vazio a excesso.
Oras, seu benigno maligno, do nada surge questões que preenchem o papel. Por hora, só o
papel. Devo lhe pedir perdão, melhor, irei lhe agradecer. Agradecer por me defrontar, Estimado
vazio, como você me enche, de questões, da metafísica a ciência. —Equivocado, equivocado!
Assim você me faz sentir. Muito rude de minha parte esquecer do tempo, a intenção não era o
trocadilho, mas ainda não estava no tempo de falar do tempo. Tempo? Você existe! Estou certo
disto. Mas me explique, o meu tempo não é o do outro, mas você é o mesmo. Quero me desnudar,
se afaste tempo. —Ei, volte aqui, se afaste, mas não precisa ser brusco. —Vá com calma você
antecede a existência e ainda não entendeu o que é calma. Talvez seja só o cronotomo me
confundindo. Uma confusão a mais ou a menos, tanto faz. Eu já me acostumei, com a instabilidade
o medo? O não saber. —1998, 1999, 2003, 2008, 2015, 2021, a sequência continua, até quando?
—Não sei. Me exponho, sorrio, me recordo e apego aos amigos, tanto os loucos quanto os
santos, e em cada um vejo uma de minhas faces, delicioso delírio. Exausto estou, dezembro vem
chegando, um novo marco. Janeiro é mais estimado, vou me renovar! Sera mesmo ? Não quero
pensar em nada, parem de me iludir… Metamorfose, estou sozinho. Não! Não estou ou estou? Só
mais uma confusão. O ritmo do desespero, a respiração ofegante, o som dos passos as batidas do
coração se assemelham a tambores. Tum, Tum, Tum, parei! Contemplei, ao meu redor. A garrafa
esta quase vazia. Queria mesmo contemplar as estrelas, mas estou tão inerte quanto cego, do tipo
que Saramago descreveu. Talvez não me atentarei mais a grafia pontos finais não gosto mas se faz
necessário mas já não quero um ponto quero fazer uma viagem despretensiosa no meu eu vazio no
meu tempo no meu sentido sentimento sem ponto sem virgula exclamação ou travessão quero a
vida fluida que não encontrarei no papel encontrarei em você que ira ler venha comigo contemple
comigo a lucidez que me vai e vem sou mero humano que da contemplação das estrelas voltara ser
pó pó da terra que veio das estrelas é lindo é fluido e reinicio mesmo leia leia leia sem pontos e
compare a sua vida a nossas vida se no papel a falta de suspiro lhe faz falta lhe impede a
compreensão imagine na vida que deve ser vivida da melhor forma possível passemos por Sócrates
que só sabia que nada sabia lutou com oraculo de Delfos não nos restringiremos a Sócrates
passemos a Aristóteles e aí você eu nós já sabemos nosso lugar ? ainda lhe pergunto esqueceremos
de Cristo espero que não ele marca ele pontua o amor venha venha sem demora não sou nada nunca
serei nada novamente Alvaro a garrafa secou nela vejo novamente a necessidade de um ponto.
Daqui ao final me conterei, não pedirei desculpas por meus devaneios, só pego meu copo, a vodka
esta toda no copo, talvez um terço do copo esta preenchido, assim como minha vida, Darei um gole,
com gosto, cuidado, e sensibilidade pois esta acabando, afinal percebemos o valor, no ultimo gole,
no ultimo trago, na ultima garfada, no ultimo acorde da canção, na ultima despedida. Vida, tu és
linda, por vezes mal dita, disto também estou certo. Lhe peço um caminho, você me alfineta e
mostra, escancara, descortina sem a mínima dó, não um caminho, e sim caminhos, escolho o meu. E
voce meu caro ser vivente? A vodka acabou, fumarei mais um cigarro, contemplarei mais uma
instante e levarei isso para a vida. Um último trago e termino com um ultimo ponto.

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