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ME ESCUTA?

A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
ORGANIZADORAS
Ana Paula Lima Carvalho de Oliveira
Cláudia Regina Rodrigues N. Magalhães
Rayanne Braga Sampaio Fernandes
Sinara Narciso de Lima Aguiar

Divisão de Educação Infantil - DEI


Educação
Secretaria Municipal
ADMINISTRAÇÃO
David Almeida
Prefeito de Manaus

Marcos Rotta
Vice-Prefeito de Manaus

Pauderney Tomaz Avelino


Secretário Municipal de Educação

Carlos Antônio Magalhães Guedelha


Subsecretário de Gestão Educacional

Evaldo Bezerra Pereira


Diretor do Departamento de Gestão Educacional

Cláudia Regina Rodrigues Nazaré Magalhães


Chefe da Divisão de Educação Infantil

Ana Paula Lima Carvalho de Oliveira


Coordenadora de Pré-Escola
Educação
Secretaria Municipal

ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

Divisão de Educação Infantil - DEI


FICHA CATALOGRÁFICA
Ficha Catalográfica elaborada por
Vilza Maria Ramos - CRB 11/807

Me escuta? : a expressão da criança pequena da cidade de Manaus


/ organizado por Ana Paula Lima Carvalho de Oliveira ... [et al.]. –
Manaus : Divisão de Educação Infantil, 2022.
76 p. : il., color.

ISBN 978-65-00-41092-1

1. Educação infantil – Práticas pedagógicas 2. Crianças –


Relatos I. Oliveira, Ana Paula Lima Carvalho de (org.).

CDU 372.3(811.3)

Textos e ilustrações: Crianças da Pré-escola/Semed-Manaus


COLABORADORAS

Adilai da Silva Cunha


Assessora da Caravana da Educação Infantil

Cláudia Costa de Almeida


Professora da Escola Municipal
Desembargador Francisco Felismino Soares
DDZ Sul

Elis Cristina Vieira Lima


Pedagoga do Cime Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira
DDZ Leste II

Fabiane Bandeira Viana


Professora do Cmei Profª Santina Castro Pereira
DDZ Centro-Sul

Karolina Silveira Fernandes de Sousa


Professora do Cmei Ismail Aziz
DDZ Rural
Rita Cristina Guimarães de Almeida
Professora do Cmei Profª Elza Damasceno da Silva
DDZ Oeste

Royane Maygna Ribeiro da Silva


Professora da Escola Municipal Zilda Arns Neumann
DDZ Norte

Suely Figueiredo Pinheiro


Professora do Cmei Fátima Maciel da Costa
DDZ Leste I

Cmei Humberto de Alencar Castelo Branco


DDZ Sul

Cmei Dr. Manuel Bastos Lira


DDZ Norte

Escola Indígena Municipal Kanata T-Ykua


DDZ Rural-Rio Negro
ORGANIZADORAS
Cláudia Regina Rodrigues Nazaré Magalhães
Chefe da Divisão de Educação Infantil

Ana Paula Lima Carvalho de Oliveira


Coordenadora de Pré-Escola

Rayanne Braga Sampaio Fernandes


Assessora Pedagógica

Sinara Narciso de Lima Aguiar


Assessora Pedagógica

ARTE GRÁFICA
Augusto Vieira
Assessoria de Comunicação
DEDICATÓRIA

Às professoras, aos professores e às


crianças da Pré-Escola de Manaus.
SUMÁRIO
Apresentação.........................................................................1 1
É inteligente escutar a criança...............................................13
Brincar....................................................................................17
Escola....................................................................................22
Alimentação...........................................................................26
Hábitos de autocuidado.........................................................31
Pandemia e morte..................................................................34
Medo......................................................................................39
Violência.................................................................................46
Famílias..................................................................................48
Moradias................................................................................51
O clima manauara..................................................................57
Tempo....................................................................................60
Autonomia da criança indígena.............................................62
Natureza................................................................................6 3
Diversidade............................................................................70
Sonhos...................................................................................72
A escuta como experiência humana......................................74
Referências............................................................................76
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A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

APRESENTAÇÃO
A criança é um sujeito ativo, criativo, capaz de se expressar de diferentes
formas e de participar ativamente da produção da cultura. Assim, torna-se
necessário o estabelecimento de uma relação que lhes permita participar do
processo educativo junto com seus professores e professoras.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (2010), nessa etapa da Educação Básica busca-se articular as
experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico.

As experiências infantis de “escuta, fala, pensamento e


imaginação” ganham sentido quando o professor
envolve as crianças na escuta de histórias, na
participação em conversas, nas descrições de objetos,
brincadeiras, nas narrativas elaboradas individualmente
ou em grupo e nas implicações com as múltiplas
linguagens (CME, p.126).

APRESENTAÇÃO
Partindo desse pressuposto, os objetivos de aprendizagem definidos
para a Educação Infantil refletem a implantação de práticas pedagógicas que
valorizem diferentes contextos e experiências vivenciadas por meninos e
meninas que fazem parte desta etapa da Educação Básica.
Escutar as crianças, ouvindo suas fantasias, imaginação, desejos,
anseios, medos e curiosidades torna-se uma prática essencial no cotidiano da
escola da infância, visto possibilitar a compreensão das necessidades
imediatas dos pequenos, bem como suas necessidades de desenvolvimento.
11
Neste sentido, a Coordenação de Pré-Escola da Divisão de Educação
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

Infantil apresenta falas de crianças pequenas que corroboram com


documentos normativos pensados para assegurar direitos de aprendizagem
na primeira infância. As falas foram transcritas por professoras de referência
no cotidiano das Unidades de Ensino e são organizadas por temas propostos
pelas próprias crianças, em uma necessidade observada de falar o que as
afeta.

Nesta publicação, profissionais da educação encontrarão um repertório


de relatos feitos pelas crianças a partir de situações vivenciadas por elas, seja
no ambiente escolar, familiar ou social. Situações essas que revelam tanto a
experiência do mundo externo como as experiências de seu mundo interno.
Dessa forma, essa publicação torna-se um forte contributo ao processo
educativo por compartilhar experiências, aprendizados, vivências e
necessidades das crianças que frequentam a Educação Infantil da cidade de
Manaus.
APRESENTAÇÃO

Equipe da Divisão de Educação Infantil - Semed/Manaus

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ME ESCUTA?
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É INTELIGENTE ESCUTAR A CRIANÇA

Um dia eu estava dirigindo o carro com minha família e sofremos um


acidente na estrada, em uma curva muito fechada. O carro saiu da pista e,
descontrolado, começou a descer em um precipício, deixando-nos
apavorados. Mas graças à providência divina, ninguém se feriu, apesar do
grande estrago. Alguns amigos que vinham logo atrás pararam para prestar
socorro e nos ajudaram a devolver o carro para a pista. Um deles comentou:
“Sigam com cuidado. Vocês nasceram de novo!”
No restante da viagem pela estrada, aconteceu algo surpreendente: o
meu filho André, criança bem pequena, sentado atrás de mim, de dez em dez
minutos me cutucava e dizia: “Pai, vai devagar. Eu não quero nascer de novo
outra vez não!”

ESCUTAR A CRIANÇA
Descobri ali que a criança não gostara nem um pouco da experiência de

É INTELIGENTE
nascer de novo, que para mim havia sido maravilhoso, pois significava que
ainda estava vivo. Fiquei pensando que sentido o pequeno atribuíra a essa
expressão. Descobri também que as coisas não passam despercebidas aos
olhos e ouvidos atentos de uma criança: ela vê, ouve, processa e verbaliza a
partir de sua percepção muito particular do mundo. É a sua forma de interpretar
e expressar o mundo.
O escritor Rubem Alves certa vez arriscou explicar como o conhecimento
surgiu, e aponta para o corpo humano como a fonte de todas as nossas
aprendizagens: 13
O conhecimento nasceu como uma extensão do corpo,
para ajudá-lo a viver. O corpo sentiu dor, e a dor fê-lo usar
a inteligência a fim de encontrar uma receita para pôr fim
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

à dor. O corpo sentiu prazer, e o prazer fê-lo usar a


inteligência a fim de encontrar uma receita para repetir a
experiência de prazer. Esse é o início do conhecimento.
Foi assim que nasceu a ciência (ALVES, 1999)

Quando observamos atentamente as crianças em suas atividades de expressão,


verificamos que é exatamente isso que acontece: tomando o seu corpo como principal
ponto de referência no mundo, elas apropriam-se do mundo por meio da linguagem. E
assim produzem arte, manipulam a palavra e registram as experiências de existir, pensar e
sentir.
E nesse mergulho da criança na serendipidade, o jogo e as brincadeiras são
fundamentais. Segundo o pensador holandês Johan Huizinga (2007), o ser humano é
lúdico por natureza, sendo que desde crianças aprendemos e descobrimos as coisas
brincando e jogando. Huizinga demonstra que, embora a tradição historicamente tenha
posto em destaque o “Homo Sapiens”, supervalorizando o ser que pensa, que raciocina, e
também o “Homo Faber”, concedendo um espaço especial para o ser que faz, é urgente que
se resgate um lado essencial do ser humano, muitas vezes esquecido até mesmo nos
ESCUTAR A CRIANÇA

processos educativos, que é o “Homo Ludens”, conceito segundo o qual o ser humano tem
É INTELIGENTE

uma tendência natural para jogar, para brincar, para rir, para o prazer, considerando que o
lúdico faz parte da natureza humana, assim como o pensar e o sentir.
E quando a criança brinca e joga, manipulando as mais variadas linguagens, ela está
transitando entre o “sabor” e o “saber”. Isso porque as palavras sabor e saber derivam da
mesma raiz latina, ou seja, etimologicamente o saber significa “conhecimento com sabor”.
Assim, é válido afirmar que todo saber é um conhecimento, mas nem todo conhecimento é
um saber, porque somente pode ser um saber o conhecimento que tem sabor.
Portanto, ao(à) professor(a) cabe o grande privilégio e responsabilidade de
14 sintonizar o seu “paladar” com os sabores que a criança experimenta em seus saberes e
descobertas, para, assim, ser um(a) mediador(a) à altura desse ser maravilhoso – a criança
– que é especialista em recriar o mundo ao lhe atribuir sentidos. É uma atitude inteligente
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

escutar a criança e estar atento(a) à sua expressão. Ela tem muito a nos ensinar sobre a
vida!

Dr. Carlos Guedelha


Pós-Doutor em Literatura (UNB)
Doutor em Linguística (UFSC)
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM)

ESCUTAR A CRIANÇA
É INTELIGENTE
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BRINCAR
-Olha gente eu sou um investigador!
-O que é investigar? Brincar configura-se
-É procurar as coisas, nós estamos como um dos Direitos
brincando! de Aprendizagem de
-O que é brincar? todas as crianças tendo
-É brincar com minha irmã e brincar de em vista o estímulo ao
boneca com ela. desenvolvimento da
-É o dinossauro! imaginação, da
-Não sei! Acho que brincar é brincar. criatividade, das
-É pegar o barquinho e consertar. experiências emocionais,
-É divertimento! É brincar muito. corporais, sensoriais,
-É brinquedo. Olha essa moto, esse carro, expressivas, cognitivas
esse jogo. e sociais (CEM, p. 81).
-O brincar é uma brincadeira.

ESCUTA
-Brincar pra mim é brincar, ué!

MEBRINCAR
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A escola, o balanço, o escorregador e aquele negócio que sobe e desce


BRINCAR

A brincadeira é um elemento essencial na vida


de qualquer criança, independentemente de seu
contexto social. É ela a maneira pela qual as
crianças aprendem e dão sentido ao mundo
18 (CEM, p.82).
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-É diversão! Brincar de corrida, -Eu brinco de bola com meu irmão


brincar de boneca com meus Davi, ele já sabe andar. A gente brinca
colegas e minha irmã. Fazer comida na cozinha, só pode brincar lá porque é
para minha mãe. grande, na rua é perigoso.

-Eu gosto de brincar com


brinquedos e gente.

BRINCAR
O escorregador da escola
19
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Para um brincar que


seja visto como direito
garantido à criança na
Educação Infantil, é
necessário considerar
os espaços, os
brinquedos e objetos
que são
disponibilizados às
crianças como
potencializadores de
aprendizagens
(CEM, p. 82).
Um parquinho, um monte de criança brincando
BRINCAR

20
Uma piscina de bolinhas
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Um campinho de futebol, o sol e o céu

BRINCAR
O escorrega
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O parquinho
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ESCOLA
-O que vocês não gostam na
escola?
-Não gosto dos números!
-Eu não gosto de ficar na escola... ... a escola tem uma
-Não gosto de ir embora da escola, importante função
porque eu gosto da escola. social que é garantir o
acesso aos
conhecimentos
científicos, artísticos,
estéticos, filosóficos
que são próprios à
formação realizada no
contexto escolar, no
sentido da
ESCOLA

humanização (CEM, p.
22).

-Eu desenhei a escola e eu na


escola, as cadeiras, a professora e o
22 Rafael.
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ESCOLA
-É colorida a escola. -Para que serve a escola?
-Para estudar.
-Para aprender a fazer as coisas... 23
-A escola serve para pintar!
-A escola serve para cantar!
ME ESCUTA?
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-O que você quer melhorar na escola?


-Brincar, porque na escola tem parquinho.
Educação Infantil é um
-Para que serve a escola? espaço e lugar de brincar. De
-Porque a gente tem que ficar inteligente. cuidar. De educar. De
-Eu gosto da escola porque tem um oferecer oportunidades para
parquinho. a criança se reconhecer no
-Gosto de brincar e fazer tarefa... mundo e encontrar nele
-Gosto de estudar e pintar. diferentes formas de se
-Eu gosto de brincar no parquinho e no relacionar (CEM, p. 82).
balanço.
-Eu fico brincando com meus coleguinhas.
ESCOLA

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Minha escola
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-Como é a escola de vocês? -Eu gosto de bolo, eu gosto de


-A escola é de lavar as mãos... chocolate.
-A escola é de fazer tarefa!
-A escola é de fazer xixi... -Vocês comem isso na merenda da
-A escola também é de beber água. escola?
-Não.
-O que você mais gosta na
escola? -O que vocês comem aqui na
-De bombom. escola?
-Eu gosto de militos. -Comida!
-Eu gosto de doce!

ESCOLA
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ALIMENTAÇÃO
-É comer macarrão!
-É comida!
-É comer frutas saudáveis!
-É comer verduras!
-É comer banana, uva, maçã!
-Eu nunca comi morangos, mas eu
gosto muito!
-Será que jacaré come jaraqui com
farinha?
-Quando eu chego em casa eu como
pão doce. Eu como pão doce todo dia.
-Quando o papai chega do trabalho, a
ALIMENTAÇÃO

mamãe faz comida para ele, o papai


come dois pratos de comida.
Um doce de coração

A saúde, a nutrição e o bem-estar são condições indispensáveis ao


desenvolvimento infantil e perpassam as práticas da Educação
26 Infantil, exigindo relação de cooperação e corresponsabilidade da
gestão e dos profissionais com as famílias e outros setores da
sociedade (CEM, p 156).
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Piquenique

-Alguém já dormiu com fome?

ALIMENTAÇÃO
-Eu dormi assistindo filme... -Gosto de comer salsisha.
-Teve um dia de madrugada -Ovo...
que o meu estômago estava -Ovo com farofa!
-Salsicha.
doendo de fome, não tinha
-Carne...
comida...

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ALIMENTAÇÃO

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-O que você mais gosta de comer?

-Macarrão e espaguete.
-Linguiça com farofa e farinha.
-Peixe com macarrão e farofa.
-Bolo com chocolate.
-Pão com mortadela...
-Eu gosto de chocolate.
-Eu gosto de lasanha!
-A mamãe esqueceu o bolo e
queimou o bolo lá na casa da
minha vó.

ALIMENTAÇÃO
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Uma coca pra tomar
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ALIMENTAÇÃO

-O que fazer para ficar saudável? picadinho e algumas saladas.


-Comer! -Eu gosto de pepino e uva e
-Eu gosto de comer salada e fruta tangerina e maçã...
e às vezes um chocolate... -Eu gosto de comer maçã e
-Eu adoro comer feijão com chocolate.
30 macarrão e farinha. -Eu gosto de tomate, miojo e ovo.

- Eu gosto de macarrão,
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HÁBITOS DE AUTOCUIDADO
-O que acontece se a gente
não tomar banho?
... garantimos à
-A gente só usa uma roupa.
criança um corpo,
-Fica calor. espaços e objetos
-Fica fedido... limpos saudáveis e
-Fica fedorento. agradáveis?
-Parece morador de rua... (CEM, p. 81).
-Eu tomo banho com sabonete.
-Lá em casa tem banheiro.

AUTOCUIDADO
HÁBITOS DE
31
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-Tomar banho, escovar os


dentes, comer alguma coisa pra
ficar forte...

-Tem que comer verduras e


frutas e legumes e depois que
vem a sobremesa, só um
pouquinho!

-E cortar as unhas também,


porque se não cortar ela fica
muito afiada!
AUTOCUIDADO
HÁBITOS DE

Para garantir esse direito fundamental das crianças, as instituições


devem atender às necessidades respeitando as regionalidades e
32 culturas, garantindo a participação ativa e autonomia da criança nos
momentos de alimentação e nas rotinas de cuidado (CEM, p. 156).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
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-Tem que tomar banho, passar


xampu e sabonete.

-Tem também que passar


creme no cabelo e pentear o
cabelo.

-Fazer penteado e botar um


lacinho...

-Tem que escovar os dentes


também para não ficar podre.

-Colocar máscara, passar


álcool em gel, tomar vacina e
calçar a sandália.

AUTOCUIDADO
HÁBITOS DE
Cuidar caracteriza-se
por sua dimensão
necessariamente humana
de lidar com questões de
intimidade e afetividade,
de zelo e bem-estar da
criança (CEM, p. 81). 33
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PANDEMIA E MORTE
-Hoje é dia de uma pessoa que
protege nosso país, quem é?

-Eu já sei! É Deus!

-Eu já sei, eu sei... é o dia da


máscara!

-O vírus mata gente e deixa gente Um vírus


sozinho.

-Aqui a gente lava as mãos, lá em


casa não tem sabão.
Cuidar caracteriza-se por
PANDEMIA

-Têm crianças no hospital e os pais um dimensão


E MORTE

choram lá. necessariamente humana de


lidar com questões de
-O pato morreu... ele caiu e morreu! intimidade e efetivamente, de
Foi... o olho dele ficou grande... zelo e bem-estar da criança
(CEM, p. 81).
-Ele está agora no buraco, ele
34 morreu... e só professora.
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-A vovó da minha irmã morreu. -A minha avó morreu, eles passaram


correndo com a faca, aí acabou
-Eu não tenho vovô e nem vó... pegando na testa e cortou. Ela foi lá
morreram. Acho que foi um tubarão pro céu no caixão, mas ela tava
ou um crocodilo que morderam. Ele dentro... ela foi enterrada também.
tava pescando e caiu no lago, ele
não sabia nadar.

-Eu não tenho vó, só tenho aquele


vô que veio me buscar.

PANDEMIA
E MORTE
Eu e a minha casa de máscara 35
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-E se estiver doente, toma vacina de novo


e toma remédio e fica em casa, porque se
sair pega Coronavírus.
PANDEMIA
E MORTE

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PANDEMIA
-O meu tio pegou Coronavírus de

E MORTE
-Quarentena, tornado de Coronavírus.
Tem que ficar em casa, porque quando mim, porque eu tava gripado.
a gente tá gripado, a gente vai lá e toma
vacina. -Coronavírus, vovó morreu no céu,
as nuvens...
-A vacina protege todo o planeta, o
planeta Terra está sendo cercado. A -Eu tô com o nariz entupido...
vacina cura a gente, tem que tirar
sangue. -O meu tio que morava lá no Pará 37
morreu de Coronavírus.
-A minha avó pegou Coronavírus e ela
morreu...
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

... realizar práticas de


higiene eficazes para
ajudar a controlar a
propagação de doenças
infecciosas e promover
hábitos saudáveis
(CEM, p. 157).
PANDEMIA
E MORTE

-Uma vez, um tubarão se gripou da mal lá no cinema, aí tinha que


tosse de Coronavírus e o meu tataravô internar ela e ela morreu... não deu
morreu porque nhac... mordeu ele! Ele mais.
morreu, era o meu tataravó, morreu 60
anos de anos atrás... -Eu tenho álcool na minha bolsa.

-A minha avó pegou Coronavírus, que a -E eu vi um Coronavírus, espirrei


38 gente foi sair pro cinema e ela passou álcool nele.
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MEDO
-Eu tenho medo de ficar sozinha em -Eu tenho medo da mamãe morrer e
casa. Uma vez minha mãe foi pegar eu vou ficar sozinha com meu
uma coisa na vizinha, eu chorei muito irmão, porque meu pai passa o dia
porque pensei que a mamãe não ia trabalhando e só chega a noite.
voltar.

MEDO
39
ME ESCUTA?
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-O que você vê?


MEDO

LEITURA DE
IMAGEM

40
ME ESCUTA?
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-Os porquinhos tinham medo do


lobo mau...
O cuidar também envolve o
-Eu tenho medo de a noite sem a acolhimento da expressão
mamãe, porque eu tenho medo de dos sentimentos dos bebês
ficar sozinha. e das crianças – no
momento em que sorri,
-Eu tenho medo do escuro... chora, canta, dança, grita e
fala daquilo que lhe causa
-Eu também tenho medo do escuro! medo, que gosta ou não

MEDO
gosta; quando fica triste
-De noite eu tenho medo da minha quando alguém pega seu
própria boneca... brinquedo preferido ou
quando corre em direção
-Eu também tenho medo de uma aquele que lhe traz o
boneca minha. objeto que lhe deixa feliz
(CEM, p. 81).
41
-O meu primo fica contando história de
terror...
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MEDO

-Eu tenho medo de bicho debaixo da cama...


-Mas não existe!
-Mas vem da imaginação!
42
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Eu seguro na mão do


papai e da mamãe, não
solto nem um pouquinho,
porque outro dia quando
eu tava na rua com o meu
avô passeando... eu vi um
saco com um homem se
mexendo aí eu corri pra
dentro da casa do vovô.

-O homem do saco preto


tem uma sacola preta, eu
fui lá na casa dele. A
mulher dele era normal,
ele também era normal,
mas a mulher era do bem

MEDO
e o filho da mulher era do
bem, mas o pai era do
mal.

43
ME ESCUTA?
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Perceber que as pessoas


têm diferentes
sentimentos, necessidades
e maneiras de pensar e
agir é um dos objetivos
de aprendizegem e
desenvolvimento
encontrados no Currículo
Escolar Municipal de
Manaus (CEM, p. 101).

-Eu tenho medo de barata! -Não tenho medo de nada, olha...


eu tenho até um muque.
-Eu tenho medo de tigre...
-Sempre que aparece uma barata
-Eu tenho medo de monstro. lá em casa eu pulo assim... o
MEDO

papai mata, mas eu choro, aí eu


-Mas alguém já viu algum monstro vou pra cama.
por aí?
-Tenho medo de palhaço, eu já vi o
-Eu já vi um monstro! palhaço assassino na televisão,
por isso fico assustado. Tem
44 -Aonde? Netflix, eu assisti o filme, meu pai
assistiu comigo.
-Na floresta!
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Eu tenho medo de boneca, eu penso -Eu tenho medo que a minha mãe
que ela tem vida, aí a minha mãe e o meu pai morram, por causa que
embrulha toda ela, porque eu não gosto um ladrão atirou neles...
de ver a cara dela não. De manhã eu
brinco com ela, mas de noite eu tenho -Eu tenho medo de uma pessoa
medo. Eu já assisti um filme de terror, que o nome dela é lesma, ela
mas eu sou corajosa, sempre peço pro pega a pessoa e come.
meu pai botar um filme bem bem bem
de terror. -Uma vez o ladrão roubou o celular
da vovó Cristina e eu estava
-Eu tenho medo que alguém me brincando com as minhas primas,
roube. aí eu vi uma moto lá, era um ladrão.

MEDO
Saber deles as preferências, gostos, desejos, anseios e medos.
Considerar todas as falas para garantir aos pequenos um
ambiente acolhedor e seguro (CEM, p. 160).

45
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
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VIOLÊNCIA

-Não pode bater no colega... -Fiz um pau, o pau é dessa


cor. O pau pra bater nele, a
-Não pode bater no colega, porque m a m ã e b a t e c o m a
você não é a mãe dele! palmatória.

-Bater não é bom exemplo...


VIOLÊNCIA

...cabe a escola proporcionar


-Quem pode me dar um bom
uma formação cidadã onde
exemplo de não bater no colega, o
todas as crianças e
que podemos fazer?
adolescentes sejam protegidos
contra práticas que fomentem
-Polícia...
todo tipo de violência,
preconceito e desigualdades
46 -Fala pra polícia!
(CEM, p. 28).
-Chama a polícia.
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Não pode receber do estranho o que -O meu pai me levou pra ver os
ele quer dar... não pode conversar com bandidos e também ele me levou
ele, não pode seguir ele pra onde ele pra praça pra tomar milk-shake e
vai. Se ele falar: - Vem cá pra minha depois ele me levou pro circo.
casa... Eu falo: - Não, minha mãe não

VIOLÊNCIA
deixa! -Quem já ficou triste?

-O meu pai tem uma arma, de matar -Eu já!


galinha e porco. O papai me treinou
pra mim matar porco. -Porque o Matheus bateu na Ana
Vitória...
-O meu pai tem uma arma de choque.
-Porque vai chorar se bater. 47
-O meu pai tinha uma espada, mas só
que quebrou, tava cortando madeira e
quebrou.
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FAMÍLIAS
FAMÍLIAS

-O papai é motorista de ônibus e a mamãe trabalha no shopping. Eles


só chegam a noite e eu fico com a vovó até eles chegarem do trabalho.
48
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

As famílias são as
primeiras referências de
-Minha irmã teve neném e agora ela educação e cuidado das

FAMÍLIAS
não mora mais com a gente. crianças, pois elas oferecem
os cuidados necessários ao
-Ela mora em um apartamento com a seu bem-estar, saúde e
outra mãe dela. necessidades afetivas. É na
família que as crianças
-Ela é minha irmã no coração, minha encontram as primeiras
possibilidades de
mãe diz que ela é filha do coração.
significarem o mundo que
49
as rodeia (CEM, p. 82).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
FAMÍLIAS

-Eu queria que a minha avó estivesse dela e eu queria que ela estaria aqui
no Natal, mas ela tá no céu e eu vou ter comigo, mas ela não tá.
50 que passar o Natal com a minha família.
-Ela tá lá no céu.
-Também eu tô com muita saudade
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

MORADIAS
-Eu moro num apartamento, ele é muito
bonito. Eu moro com meu tio, com a
minha tia e com a minha mãe e tem até
bebezinho. O espaço comunica
concepções e mensagens
-A minha casa é cheia de gato e cheia para as crianças do que
de cachorro, eu moro com meu pai e elas podem fazer naquele
a minha mãe. lugar. O espaço físico, para
tornar-se um ambiente de
-Eu moro ali, a minha mãe resolveu aprendizagem, deve
fazer umas coisas lá em casa, que ela proporcionar segurança, ser
reformou. Então eu moro com o meu acolhedor, flexível em sua

MORADIAS
avô e com a minha avó e às vezes a organização e conforto
minha tia traz a filha dela grandinha e (CEM, p. 113).
também a Sofia que é a bebezinha.

-Minha casa é de pau.

51
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
MORADIAS

52
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

Nota-se que cada vez


mais fica claro o
quanto a criança é
influenciada pelos
espaços que habita e
influencia-os em uma
transformação
constante ao
conhecimento por meio
da intencionalidade do
adulto de referência
(CEM, p. 88).

-A minha casa é de tijolo, ela é roxa. -Mas você fica sozinha?

MORADIAS
-Mora lá na minha casa o meu pai, -Não, eu fico com meus pelúcia
minha irmã e minha mãe, eu durmo quando minha mãe vai trabalhar.
com a minha irmã.

-Eu durmo sozinha, quando a minha


mãe vai embora, eu tranco a porta pra 53
ficar segura com a chave.
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
MORADIAS

-A minha casa é verde, o chão é preto e -A minha casa é de pedra e também


branco, eu durmo com a minha mãe, por fora ela é cinza e por dentro ela é
porque tenho medo. branca.

54
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

MORADIAS
-A minha casa é cinza, eu moro com o -A minha casa é laranja, a
papai e com a mamãe, aí o chão dela é cerâmica dela é preta e branca, eu
liso, não posso pisar com o pé durmo sozinho na minha cama.
molhado, porque escorrega, aí eu
tenho que enxugar meus pés. 55
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
MORADIAS

Enquanto as crianças se desenvolvem, muitas coisas acontecem em


simultâneo. Elas obtêm informações, vivem emoções, têm
experiências. Enquanto aprendem, avançam em seus processos de
subjetivação. Tudo isso se passa desde muito cedo, quando o bebê
aprende a expressar suas necessidades e desejos. O desenvolvimento
56 da linguagem e da imaginação faz parte desse processo (CEM, 119).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

O CLIMA MANAUARA

MANAUARA
-Eu gosto da escola, mas por que é tão -Árvores são sombrinhas com

O CLIMA
quente voltar para casa? folhas para proteger as pessoas.

-Minha mãe me chama de o ‘‘sol da -Onde o Sol fica quando a chuva


minha vida’’. começa?

-A minha casa fica bem perto do Sol. É -Acho que o sol é o melhor amigo
muito quente! dalua. 57
-O sol é um fogo que queima? -Fico cansada de andar no sol.
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Dia ou noite?
MANAUARA
O CLIMA

As crianças constroem as suas hipóteses


sobre o mundo a partir de uma constante
investigação de tudo o que acontece ao seu
58 redor (CEM, 86).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

MANAUARA
O CLIMA
-Eu gosto mais da noite, porque -Eu sinto muita saudade da
é quando minha mãe chega do mamãe quando ela está no
trabalho e fica comigo. trabalho.

59
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

TEMPO
TEMPO

60 A escola, o Sol, uma pessoa e uma pessoa e o escorregador


ME ESCUTA?
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TEMPO
61
A menina que tá na chuva
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PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

AUTONOMIA
DA CRIANÇA INDÍGENA
CRIANÇA INDÍGENA

-Acabou a aula, mas vamos


AUTONOMIA DA

esperar o seu pai chegar...


O ambiente fora da sala propicia
à criança aprender a lidar com
-Meu pai não tá aqui não!
diferentes situações, a superar
os próprios limites, a encontrar
-Mas como você vai para casa?
desafios e acionar modos de
pensar para resolver problemas,
-Eu vou sozinho!
desenvolvendo assim sua
autonomia em escolher riscos,
62 -Dá tchau pra ela Rodrigo!
gerenciá-los e aprender sobre
eles (CEM, p. 146).
-Tchau! Obrigado!
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

NATUREZA
As experiências e
atividades na educação
infantil indígena,
preferencialmente,
deverão ser realizadas
extraclasse por meio de
atividades nos
Jacaré e peixes
arredores da escola,
-Alguém sabe subir na árvore? como brincar na terra,
subir em árvores,
-Eu! Eu! separar o lixo em

NATUREZA
orgânico e reciclável,

NATUREZA
-A galinha sabe subir. assim como usar
recursos das novas
-Quando estamos dormindo o coração bate
igual uma tartaruga. tecnologias de
informação, bem como
-O coração bate lento igual a uma tartaruga ter acesso a
e jabuti. brinquedos pedagógicos
-O coração bateu rápido, porque andamos
(CEM, p. 151). 63
rápido.
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

Educação Infantil
oferecida às crianças
indígenas deverá se
preocupar em
compreender a
cosmovisão, a
socialização primária,
cujo contexto é de
bricolage, um espaço de
organização sócio
temporal diferente: outra
lógica, outro lócus de
saber, de modo que se
NATUREZA

possa garantir a
sobrevivência de
tradições de uma
determinada cultura ao
longo do processo de
construção de identidade
da criança (CEM, p. 150).
64
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

NATUREZA
-Quem sabe nadar aqui? -Eu não, porque é muito alto e
muito fundo.
-Eu sei!
-E pode pular sozinho na água?
-Onde você nada?
-Não!
-Na piscina!
-Eu já fui no fundo...
-Alguém aqui tem coragem de 65
pular no rio? -Eu mergulhei!
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS
NATUREZA

Um peixe andando no mar

66
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

... trabalhar as
-Vamos desenhar árvores perto das diferentes formas e
casas?
maneiras de criar,
-Mas perto da minha casa não tem recriar e explorar a

NATUREZA
árvore, tem igarapé... natureza, colando-os
ou pintando-os sobre
-As pessoas jogaram lixo no igarapé e pratos de papelão,
a minha avó tomava banho no igarapé produzindo então, em
quando era limpo, mas as pessoas um objeto de arte é
jogaram lixo e a minha avó nunca mais
uma demonstração de
voltou a tomar banho no igarapé.
carinho e cuidado com
a natureza (CEM, p. 67
156).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Eu quase desligo a luz do


banheiro. O desafio é transformar o
NATUREZA

conteúdo em
-Eu já desliguei. conhecimento, informações
-Meu irmão só fica no ar, mamãe em saberes,
briga muito, muito com ele. e ainda, trabalhar atitudes
e fazeres, tais como:
-Eu vou economizar! pesquisa, observação,
68 -Não pode dizer onde fica.
entrevista, curiosidades...
(CEM, p.138).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

Aproximar-se e escutar
as crianças para conhecer
suas singularidades,
podendo, assim, melhor
atender suas
necessidades, medindo
suas relações com o
outro e o ambiente (CEM,
p. 112).

-De onde vem a energia elétrica? -Eu escuto também é barulhão.

-Vem lá da usina que faz assim na -No poste tem energia, a parede da
água, gira, gira... minha casa está rachada.

-É da água da chuva, chega no fio, -Vem da água, terra e.... no fio.

NATUREZA
mas a mamãe diz que não pode
pegar. -Sol, água e terra.

-Eu moro perto da usina professora é -A energia elétrica vem pela água,
barulho grande bem altão. pela terra por debaixo da terra...

69
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

DIVERSIDADE
-Crianças, agora deixem ela falar... -O Lucas vai doar o cabelo dele, sua
mãe corta pra fazer peruca.
-Mas eu não sou menina, eu sou
menino. Você sabia que não é só -Essa é minha caixinha de som
menina que tem cabelo grande? crianças...

-Sabe que menino e menina podem -Uma caixinha pequena para mini
ter cabelo grande? casas.

-Eu vou doar o meu cabelo, por isso -Essa caixinha é para formigas...
deixo meu cabelo crescer... A minha
mãe vai deixar meu cabelo crescer, -Chamam de anã pra quem é pequeno.
ela vai cortar para fazer doação.
DIVERSIDADE

Os estudos de gênero consideram processos


históricos e culturais que classificam e posicionam as
pessoas, essencial para o desenvolvimento de um
olhar referente à reprodução de desigualdades que
atingem as crianças e toda a comunidade escolar
(CEM, p. 39).
70
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-O que é uma coisa feia? -A mamãe nem tem isso aí....

-Eu já vi a história do Patinho -Nós somos iguais ou diferentes?


Feio...
-Somos diferentes...
-É zombar!
-Mas por isso somos feios?
-É pretinho!
-Não!
-É o patinho que não consegue
achar a mamãe dele. -Ei, o Papai do Céu me criou.

-O coleguinha é feio? -O Papai do Céu criou eu...

-O coleguinha não é feio não! -Você se acha feio ou bonito?

-Eu não acho o patinho feio. -Bonito!

DIVERSIDADE
-Professora o que é isso aí? -Acho bonita!

-É um colar, um enfeite. -Eu sou linda!

Os princípios estéticos são garantidos à medida que haja


sensibilidade e valorização do ato criador de cada criança frente
às singularidades em diversificadas experiências culturais, 71
artísticas, ambientais (CEM, p. 77).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

SONHOS

-Sabia que eu já sonhei com -Eu assisti do macacão...


SONHOS

um bicho?
-Eu assisti dois do bicho, do
-Era grande ou pequeno? bicho, do bicho...

-Grandão, macetão! -Nossa! É muito bicho né?

72 -Eu vou sonhar com o bicho -Tudo é do bicho!


da televisão...
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

-Qual é teu maior sonho?

-Não sei!

-Meu sonho é ser policial!

-Eu quero ser médica e dentista!

-É ter um iphone 12!

-É ir lá na lua, num foguete!

-Eu não lembrei.

-Meu sonho é voltar para o Rio


As percepções da professora e
Branco.
do professor da Educação

SONHOS
Infantil ganham amplitude a
-Tenho saudade da mamãe, da
partir das possibilidades
minha bisa, da minha avó e da
tratadas com as crianças para
minha tia Rizelda.
que elas expressem seus
sentimentos, pensamentos, ideias
-Aqui em Manaus eu moro com meu
e possam usar diferentes
pai e minha avó.
linguagens par se expressar 73
(CEM, p. 122).
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

A ESCUTA COMO EXPERIÊNCIA HUMANA


Culturalmente, as pessoas registram o que vivem e o que valorizam dos
momentos vividos. Álbuns de fotografias, quadros nas paredes, selfies são
formas de captar momentos e de eternizá-los.
Na História, os templos, as estátuas e monumentos, as grandes obras
de Arte, Música e Arquitetura são também registros que permitem guardar as
histórias vividas, os amores, as dores, as experiências.
Os registros documentam nossas experiências, conquistas, desafios.
Nos humanizam porque à medida que tomamos consciência das histórias que
guardam, somos capazes de revivê-las com a imaginação, sentindo o que já foi
sentido; entendendo os enredos vividos por outros ou revivendo momentos
nossos.
Registrar o que dizem as crianças é valorizar as histórias e experiências
vividas nessa etapa da vida, é dar-lhes voz e nos humanizar também.
EXPERIÊNCIA HUMANA

As crianças têm uma forma própria de ver o mundo. Seus sentidos são
A ESCUTA COMO

sentidos inaugurais. Isso significa que veem o mundo e as coisas com aquele
olhar de descoberta e de maravilhamento que muitos de nós, os adultos, já
esquecemos.
Quando podemos ouvi-las, é como se pudéssemos também recuperar
o nosso olhar inaugural. E vemos mais do que nossos olhos - descuidados e
desacostumados do maravilhamento - podem ver sozinhos. Nos
reencantamos e nos reencontramos. Ouvi-las nos torna capazes de perceber
74 que elas, apesar da pouca idade, têm experiências que revelam os sentidos
que o mundo assume, em sua história, a cada momento.
As crianças são capazes. As crianças têm voz. Educá-las exige que as
ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

vejamos na integralidade e isso pressupõe buscar ver o que veem, sentir o que
sentem, perceber o que percebem para que possamos dar as mãos a elas e
juntos olhar mais longe, lendo o mundo...

Profª. Drª. Michelle de Freitas Bissoli


Professora Titular da UFAM

EXPERIÊNCIA HUMANA
A ESCUTA COMO
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ME ESCUTA?
A EXPRESSÃO DA CRIANÇA
PEQUENA DA CIDADE DE MANAUS

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Folha de São Paulo. São Paulo, 12 setembro de


1999.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura


[tradução João Paulo Monteiro]. São Paulo: Perspectiva, 2007.

MANAUS. Currículo Escolar Municipal. Secretaria Municipal de


Educação. Manaus, 2020.
REFERÊNCIAS

76
Educação
Secretaria Municipal

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