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A Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e sua Inserção Socioterritorial no Noroeste

Cearense © 2022 Copyright by José Osmar Fonteles | Luiz Antônio Araújo Gonçalves |
Virgínia Célia Cavalcante de Holanda (Orgs.)

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Alexandra Maria de Castro e Santos Araújo Raquel Oliveira dos Santos Fontenelle
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Carlos Augusto Pereira dos Santos Simone Ferreira Diniz
Claudia Goulart de Abreu Tito Barros Leal de Ponte Medeiros
Eneas Rei Leite Virgínia Célia Cavalcanti de Holanda
Eliany Nazaré Oliveira Revisão de texto
Francisco Helder Almeida Rodrigues Karina Maria Machado Matos
Israel Rocha Brandão Editoração designer e capa
Izabelle Mont’Alverne Napoleão Albuquerque Éder Oliveira França
Maria Adelane Monteiro da Silva
Maria Amélia Carneiro Bezerra
Maria José Araújo Souza

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA
Sistema de Bibliotecas
Bibliotecário: Francisco Ramos Madeiro Neto - CRB 3/1374

F682u Fonteles, José Osmar


A Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e sua
inserção socioterritorial no noroeste cearense. / José Osmar
Fonteles; Luiz Antônio Araújo Gonçalves; Virginia Célia
Cavalcante de Holanda. (orgs.) - Sobral: Edições UVA, 2022.
204 p.
ISBN: 978-65-87115-26-9
DOI:10.35260/87115269-2022

1. UVA – Inserção Socioterritorial. 2. UVA – Ensino,


Pesquisa e Extensão. 3. Educação – Inserção profissional.
I. Gonçalves, Luiz Antônio Araújo. II. Holanda, Virgínia Célia
Cavalcante de. III. Título.

CDD: 900
Ficha Técnica:

Professores Participantes da Pesquisa: A inserção


socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação

Antônia Helaine Veras Rodrigues


Benedita Marta Gomes Costa
Fábio Souza e Silva da Cunha
Josefa Dêis Brito Silva
José Osmar Fonteles
José Samuel Montenegro Santiago
Lourival Gerardo da Silva Júnior
Luiz Antônio Araújo Gonçalves
Nilson Almino de Freitas
Rejane Maria Gomes da Silva
Virgínia Célia Cavalcante de Holanda

Estudantes Participantes:

Alípio Augusto Sousa de Albuquerque


Ana Izabele Carneiro
Antônia Letícia Adriano Silva
Antônio Jarbas Barros de Moraes
Bertoni Vasconcelos Diogo
Breno de Abreu Lopes
Bruna Aparecida Oliveira Ferreira
Bruna Lima Soares
Carla Regina Alves Teixeira
Caubi Alves Braga
Cleane dos Santos Medeiros
Elias Guilherme Soares
Emanoeli Freire Fonseca
Fernando Farias Freitas
Flávio Pereira de Souza
Francisca Sena da Silva
Francisca Ingrid Aguiar Parente
Francisco Igor Taboza de Souza
Francisco Renan Dias Marques
Francisco Vinícius A. de Melo
Geniane Soares Adriano
Gladys Dantas Borges
Hélio da Silva Barbosa
Hiago Alves
Jander Adelaide Souza
Jhonata Silva Pontes
John David Rodrigues da Silva Fernandes
Jocilene Ramos Bastos
Karine Lima Sousa
Lenise Farias Martins
Luiz Eduardo Fernandes César
Maria Dedita Ferreira Lima
Maria do Carmo Rodrigues do Nascimento
Maria Flavia Damasceno
Maria Thayane Jorge Freira
Marineis Silva do Nascimento
Nathan Barbosa da Silva
Naiane Nobre Martins
Otávio Rodrigo Silva do Nascimento
Pedro Dias do Livramento
Roberto Rodrigues de Abreu
Robson Mateus Araújo
Samuel Mariano de Vasconcelos
Sarah Nepomuceno de Melo
Taynna Maria de Assis Rodrigues
Vones Coelho Miranda dos Santos
Vicente de Paulo Sousa
Wagner Cavalcante Farias
Wellingta Maria Vasconcelos Frota
Agradecimentos
Este é um momento repleto do sentimento de regozijo e
satisfação pela passagem dos 50 anos de existência da Universidade
Estadual Vale do Acaraú (UVA), fincada na cidade de Sobral, baliza-
da entre as planícies do rio Acaraú e o sopé da Serra da Meruoca. Ao
longo desse período, a UVA atuou de modo decisivo como pioneira
do ensino superior no desenvolvimento de Sobral e demais cidades
da região Noroeste do Estado do Ceará.
Nesse sentido, gostaríamos de agradecer à Reitoria da UVA,
em nome do Prof. Fabianno Cavalcante de Carvalho pelo desafio à
pesquisa e pela confiança que nos foi depositada para a sua realiza-
ção, marco importante na história e memória da Instituição.
Ao Instituto de Apoio ao Desenvolvimento da UVA
(IADE), na pessoa da Diretora Executiva, Professora Josefa Dêis Bri-
to Silva e do Diretor Adjunto, Professor Mauro Cézar Nogueira pelo
apoio institucional e financiamento da pesquisa empreendida em
vários municípios da região.
Aos professores que se envolveram efetivamente com a pes-
quisa, contribuindo com os encaminhamentos metodológicos, dis-
cussões e elaboração de textos que resultaram nos artigos que com-
põem este trabalho.
À professora Aline Vieira Landim, à época Pró-Reitora de
Assuntos Estudantis (PRAE), pelo esforço em ceder bolsistas do Pro-
grama de Bolsa de Permanência Universitária (PBPU) para a realiza-
ção do trabalho de campo.
Aos estudantes, bolsistas e voluntários que se empenharam
na pesquisa qualitativa, realizando as entrevistas nos diversos muni-
cípios que responderam positivamente com os seus depoimentos.
Aos gestores municipais, grande parte egressos da UVA
que, através das suas assessorias acolheram os estudantes responden-
do ao roteiro de entrevista, com depoimentos significativos sobre
a Intituição de Ensino Superior (IES) e a sua importância para a
região.
Ao corpo docente, discente e técnico-administrativo que
ao longo deste processo histórico, em tempos e experiências diversas
doou-se a esta Universidade, contribuindo com o ensino, a pesquisa,
a extensão e a gestão, de forma a transformá-la em um ambiente
desafiador e inovador de práticas educativas construídas e comparti-
lhadas com a sociedade, impactando no desenvolvimento regional.
Aos egressos com atividades profissionais liberais, atuação
na área pública e no terceiro setor, pela disponibilidade e contribui-
ção com a pesquisa, acolhendo os entrevistadores e contribuindo
com a avaliação sobre a UVA, destacando aspectos que consideraram
relevantes ao longo da história da Instituição.
SUMÁRIO

1. Apresentação 8

2. A inserção socioterritorial da UVA: os percursos da pesquisa


e seus territórios 19
José Osmar Fonteles, Luiz Antônio Araújo Gonçalves, Fábio Souza e Silva da
Cunha, Lourival Gerardo da Silva Júnior, Benedita Marta Gomes Costa

3. O ensino, a pesquisa e a extensão da UVA por ocasião do seu Jubileu 48


Virgínia Célia Cavalcante de Holanda

4. Perfil dos egressos da UVA 74


Rejane Maria Gomes da Silva, Adriana Campani

5. A inserção profissional dos egressos da UVA 88


Luiz Antônio Araújo Gonçalves, Antônia Helaine Veras Rodrigues

6. A atuação dos egressos nos municípios de inserção


socioterritorial da UVA 115
José Osmar Fonteles, Luiz Antônio Araújo Gonçalves, Virgínia Célia
Cavalcante de Holanda

7. A UVA, qual o seu futuro? 146


Nilson Almino de Freitas

ANEXO - Documentário - UVA, 50 anos: trajetórias 193

Sobre os Autores 196


//8

Apresentação

A função formadora do Ensino Superior por meio das


Universidades Públicas teve um papel regional significativo exerci-
do pelas cidades médias1 no Nordeste brasileiro, sobretudo, diante
da escassez de vagas fora dos centros urbanos tradicionais situados,
historicamente, nas zonas litorâneas. O aumento e a diversificação
das atividades produtivas e improdutivas vão, assim, se materializan-
do no espaço geográfico, reforçando hierarquias urbanas, por vezes
marcadas por contiguidades, gerando demandas pela formação de
pessoal ao nível superior.
Quando pensamos a presença dessas Universidades em
dadas cidades, podemos entrever como têm contribuído para mu-
danças do espaço urbano-regional, em paralelo ao avanço da oferta
de vagas no ensino superior privado. A expansão das Universidades
Públicas no território nordestino, amparadas no ensino, pesquisa e
extensão universitária trilham um futuro de novas possibilidades, de
um maior alcance territorial e anseio de redução de velhas assime-
trias regionais.
No Ceará, as três Universidades Públicas Estaduais de-
sempenharam historicamente, papéis preponderantes na oferta do

1  As cidades médias não são “metrópoles”, nem cidades pequenas, mas pensadas como
aglomerações urbanas significativas em termos demográficos, em funcionalidade e em re-
lação à sua região; possuem e geram dinamismos econômico, social, político e cultural. Cf.
HOLANDA, Virgínia C. C. de. Em busca dos sentidos que permeiam a Cidade Média.
Casa da Geografia de Sobral, Sobral/CE, v. 2/3, n. 1, p. 17-22, 2000/2001.
//9

ensino superior fora da Região Metropolitana de Fortaleza, conside-


rando que a expansão das Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) no território cearense ocorreu somente após os anos 2000,
em direção aos centros urbanos menores.
A Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) localizada
na cidade média de Sobral2 tornou-se peça central de um centro uni-
versitário que abrange cerca de 55 municípios da região Noroeste do
Ceará e parte do Piauí. A história da UVA está associada à Diocese
de Sobral de maneira que ainda hoje sua Reitoria está instalada no
antigo prédio do Seminário da Betânia. Os primeiros cursos de en-
sino superior em Sobral tiveram início com a Faculdade de Filosofia
Dom José mantida pela Diocese de Sobral, autorizada pelo Decreto
nº 49.978, de 11 de janeiro de 19613. A criação da Fundação Uni-
versidade Vale do Acaraú – UVA, pela Lei Municipal n.º 214, em 23
de outubro de 1968, pelo então Prefeito de Sobral, Jerônimo Medei-
ros Prado, constituiu uma ação importante que destacou o municí-
pio de Sobral no contexto histórico de surgimento de Instituições de
Ensino Superior no interior do estado do Ceará4.

2  No Estudo - Regiões de Influência das Cidades (2018), publicado pelo Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2018, Sobral pertence ao grupo de cidades com
hierarquia urbana intermediária e centralidade considerada alta em relação ao tema - deslo-
camento para cursar Ensino Superior. Esse grupo de cidades, abrigam importantes centros
universitários, sedes de institutos federais de educação e polos de Educação a Distância –
EaD. Sobral no Ceará, Viçosa em Minas Gerais e Santa Maria no Rio Grande do Sul são as
três primeiras cidades que se destacam nessa centralidade temática.
3  Cf. SOARES, José Teodoro. Crônica para uma Sobral moderna. Sobral:
Edições UVA, 1998.
4 Cf. COELHO, Luciano Arruda. A fundação da UVA no contexto histórico do
município de Sobral. In: SOARES, José Teodoro. (Org.). História Contemporâ-
nea de Sobral. Sobral: Edições UVA, 2006.
//10

A UVA foi encampada pelo Governo do Estado do Ceará


em 1984, através da Lei nº 10.933, de 10/10/1984, sob a forma de
autarquia, vinculada à Secretaria de Educação, com sede no municí-
pio de Sobral e jurisdição em todo o Estado do Ceará. Nesse mesmo
ato, conforme artigo 5º, foram encampadas “[...] a Faculdade de
Ciências Contábeis, a Falculdade de Enfermagem e Obstetrícia, a
Faculdade de Educação e a Faculdade de Tecnologia, todas integran-
tes da Fundação Vale do Acaraú, sediada em Sobral, bem ainda a
Faculdade de Filosofia da Diocese de Sobral [...]”.
Em 1993, a Universidade Estadual Vale do Acaraú foi trans-
formada em fundação, no mesmo ato que a Universidade Regional
do Cariri (URCA) e Universidade Estadual do Ceará (UECE), con-
forme o artigo 5º da Lei nº 12.077-A, de 01/03/1993, com pu-
blicação no Diário Oficial em 22/04/1993. A mesma Lei criou a
Secretaria da Ciência e Tecnologia – SECITECE5 de modo que a
três Universidades Estaduais passaram a ser subordinadas a essa Se-
cretaria que, de acordo com o artigo 2º, passava a ter a competência
de “[...] planejar, coordenar, fiscalizar e supervisionar as atividades
pertinentes ao ensino superior, à pesquisa e ao desenvolvimento tec-
nológico no âmbito do Estado”.

5 Posteriormente, a palavra Educação Superior foi incorparada à denominação da SECI-


TECE.
//11

Embora a lei de encampação da UVA já apontasse, no arti-


go 17, para a transformação dos cursos de graduação das faculdades
em Centros, estes continuaram a funcionar na forma de estabeleci-
mentos isolados de Ensino Superior até o término da tramitação do
processo de reconhecimento da Instituição. Somente com o Decreto
Estadual nº 20.686, de 20 de abril de 1990, a UVA passa a ser orga-
nizada como Universidade, gozando de órgãos de deliberação e di-
reção superior. E em 1994, deu-se o reconhecimento da instituição
pelo Conselho Estadual de Educação (CEE), por meio do Parecer nº
318/94, de 8 de março de 1994 e, posteriormente, pelo Ministério
da Educação (MEC), por meio da Portaria Ministerial nº 821, de 31
de maio de 1994.
Ressalta-se que a UVA, conectada com o projeto de desen-
volvimento imaginado para a região, avançou na descentralização
dos seus cursos, a partir de 1994. Conforme a Resolução nº 9, do
Conselho Universitário, criou os Campi avançados do Baixo Aca-
raú, Médio Acaraú, Vale do Coreaú e Planalto da Ibiapaba, com
sedes respectivas nas cidades de Acaraú, Santa Quitéria, Camocim e
Tianguá. Para atender aos territórios do Alto Acaraú e Sertão Cen-
tral, foram criados posteriormente os Campi Avançados de Difusão
Tecnológica de Nova Russas e Canindé6. No período atual, a UVA
conta apenas com os quatro Campi situados na cidade de Sobral e
tem projeto de implantar uma unidade descentralizada na cidade de
São Benedito.

6 Cf. ANDRADE. João Edson de. Os Campi Avançados da UVA. In: SOARES,
José Teodoro. (Org.). História Contemporânea de Sobral. Sobral: Edições UVA,
2006.
//12

Entendemos, desse modo, que os impactos urbano-regio-


nais da UVA na região Noroeste ainda não são plenamente men-
suráveis. Em entrevista ocorrida em 2017, o reitor da UVA, Prof.
Fabianno Cavalcante de Carvalho, já destacava o impacto da Ins-
tituição na formação de pessoal qualificado: “A UVA é a principal
formadora de recursos humanos, de líderes e de profissionais liberais
da região, atendendo cerca de 54 municípios da região Norte do Es-
tado do Ceará. Isso tem uma implicação direta na oferta de pessoal
qualificado ao mercado de trabalho.” 7.
No intuito de apreender a inserção socioterritorial da UVA
foi que surgiu o interesse dessa pesquisa que partiu de uma boa pro-
vocação do Reitor Prof. Fabianno, na ocasião do ano comemorati-
vo do jubileu da UVA, à direção do Centro de Ciências Humanas
(CCH). Acatado o desafio, o então Diretor Prof. José Osmar Fonte-
les, o tornou extensivo a outros docentes dos demais Centros.
A UVA completou 50 anos de existência em 2018, mas sua
projeção ocorreu a partir de meados dos anos de 1990, como institui-
ção que acompanhou o processo de mudança no território cearense.
Atualmente, a UVA conta com 26 cursos de graduação, 13 bachare-
lados, 12 licenciaturas e uma graduação tecnológica; três cursos de
Mestrado Acadêmico: Zootecnia, Geografia e Filosofia (iniciado em
2019). Três cursos de Mestrado Profissionalizante, em rede nacional:

7  Entrevista concedida em 18 de setembro de 2017 como atividade integrante da pesqui-


sa de estágio pos-doutoral intitulada: O papel da interiorização do Ensino Superior no espaço
Urbano e Regional das cidades médias do Nordeste Brasileiro, realizada pela Profª. Virgínia
Célia Cavalcante de Holanda junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
//13

Saúde da Família, Sociologia – PROFSOCIO e Ensino de Física.


Um Doutorado Profissional em Saúde da Família (DPSF), iniciado
em 2021, integrante da Rede Nordeste de Formação em Saúde da
Família (RENASF). A Pós-Graduação Lato Sensu oferta mais de 30
cursos de especializações em diversas áreas com foco no aperfeiço-
amento de profissionais e atualização de conhecimento científico.
No que se refere à qualificação docente, a Universidade
busca a parceria com outras instituições por meio dos Doutorados
Interinstitucionais (DINTER’s). Nesse sentido, professores estão
matriculados em cursos de doutorado, sendo eles: Filosofia pela
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Linguística na
Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Educação, ofertado pela
Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Computação, ofertado
pela Universidade Federal do Ceará (UFC); e Direito, iniciado em
2019, com a oferta da Faculdade de Direito de Vitória.
Segundo dados da Pró-Reitoria de Planejamento – PRO-
PLAN8, em 2019, a UVA efetuou 8.364 matrículas nos seus cur-
sos de graduação. Se considerarmos, ainda, as matrículas realizadas
em programas especiais de primeira e segunda licenciatura, progra-
mas de pós-graduação Stricto Sensu e vagas ofertadas no Lato Sensu
(1.148), o quadro discente da instituição chegou ao total de 10.126
estudantes. Os alunos matriculados nos cursos de graduação estão
distribuídos em quatro Campi na cidade de Sobral: Campus da Be-
tânia (4.130), Campus CIDAO (2.024), Campus do Junco (1.343)
e Campus do Derby (867).

8  PROPLAN. UVA em números 2020 – ano base 2019. PROPLAN: UVA, 2020.
//14

A infraestrutura da UVA em seus quatro Campi conta com:


4 bibliotecas, 10 auditórios e miniauditórios, 135 salas de aula, 67
laboratórios, 75 gabinetes de professores, 1 residência universitária,
1 restaurante universitário, 1 parque esportivo (Ginásio poliesporti-
vo, pista de atletismo, campo de futebol, piscina semiolímpica), 17
praças e áreas de convivência e 4 espaços culturais (Espaço Cultural
Trajano de Medeiros, Memorial Rachel de Queiroz, Memorial da
Educação Superior de Sobral – MESS e Museu Diocesano Dom José
– mantido pela UVA desde 1987). Em 2019, a instituição contava
com um corpo docente composto por 372 professores (332 efetivos
e 40 substitutos) e de 89 técnicos administrativos.
Em um período que se privilegia a competitividade, a
presença de uma Instituição de Ensino Superior do porte da UVA
em uma cidade média nos leva a pressupor o impacto que causa
no desenvolvimento socieconômico e cultural. Do ponto de vista
econômico, a presença de milhares de estudantes, professores e fun-
cionários representa uma injeção relevante de recursos na cidade,
estimulando a economia local e o surgimento de novas práticas de
consumo. Do ponto de vista sociocultural, a possibilidade de cursar
a Universidade representa uma janela aberta para muitos jovens de
municípios próximos e distantes, de maneira que a formação univer-
sitária ultrapassa a dimensão acadêmico-profissional, adquirindo um
senso emancipador, cumprindo com uma de suas missões.
Com relação ao papel da UVA, se destaca a relevância da
Universidade como instituição essencial para o desenvolvimento da
região onde está inserida, abraçando esse papel institucional não so-
mente pelo ensino, mas também “[...] pelo exercício da pesquisa e da
//15

extensão, tendo como base e finalidade a promoção da vida humana


em todos os seus aspectos, notadamente, dos que habitam a região
norte do Ceará”.9
Para ilustrar de modo breve o reflexo e extensão territorial
desse papel institucional, conforme os dados levantados pela pes-
quisa junto aos arquivos da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
(PROGRAD), podemos verificar que dos egressos que estudaram
na UVA, em Sobral, de 2008 a 2018, no que se refere à naturalida-
de, apenas 43,09% são nascidos no município de Sobral, os outros
56,91% correspondem a ex-alunos nascidos em diferentes municí-
pios cearenses, e também de outros estados e regiões do Brasil.
Quase metade dos egressos (49,85%) reside em Sobral, en-
quanto que a maior parte é proveniente da área de influência da
UVA composta de cerca de 55 municípios e, certamente, foram alu-
nos que enfrentaram o desafio do deslocamento diário de seus mu-
nicípios de origem até a Universidade, quase sempre com o apoio
importante das prefeituras municipais, proporcionando transporte
universitário. Outros, com recursos próprios e/ou da família, deci-
diram residir na cidade de Sobral e contribuíram para a expansão do
mercado imobiliário com aluguéis de casas, apartamentos e quitine-
tes.
O deslocamento pendular de estudantes promove um mo-
vimento diário de centenas de ônibus que circulam nas ruas de So-
bral diariamente nos turnos da manhã e noite. Esse movimento de
migração pendular se constitui num reforço significativo à economia

9  Cf. Plano de Desenvolvimento Institucional da UVA - 2018-2021 (p. 124).


//16

de Sobral, sobretudo no setor terciário (comércio e serviços).


Comparando, dessa maneira, o percentual de egressos nas-
cidos em Sobral com os residentes na mesma, podemos considerar
que o acréscimo de residentes nesse período foi pequeno, cerca de
6,76 %, o que nos aponta para a propensão do aluno formado retor-
nar ao seu município de origem. Essa condição também foi consta-
tada nas visitas realizadas nas pequenas cidades próximas a Sobral,
onde verificamos a presença de escritórios de advocacia, contabili-
dade, de serviços de engenharia, academias de ginástica, comércios,
atividades que tem a frente, egressos da UVA. Além disso, também
se constatou o grande número de servidores públicos municipais,
estaduais e federais, inclusive gestores municipais e seu secretaria-
do, também diplomados pela instituição e hoje atuam em diversos
municípios do Noroeste cearense. Verifica-se, portanto, uma rica
trajetória da Universidade ao longo dos seus 50 anos de existência,
necessitando ser revelada com mais atenção. Nesse sentido foi que
buscamos apreender de modo quantitativo e qualitativo sua inser-
ção socioterritorial junto aos municípios emissores de alunos para
Sobral.
A construção do relatório da pesquisa: A inserção socioter-
ritorial da UVA e seu contexto de atuação, contendo os resultados da
pesquisa, tomou esse formato de compêndio, abrigando reflexões
dos professores participantes da execução da pesquisa devidamente
cadastrada na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG).
Nesse sentido, vale ressaltar que cada articulista teve acesso aos re-
sultados gerais da pesquisa e fez uso de acordo com sua afinidade te-
mática, construindo individualmente ou em equipe, uma narrativa
//17

que convida o leitor a entender qual o lugar da UVA no cenário das


Universidades Públicas Cearenses dos tempos pretéritos aos tempos
presentes.
A autonomia na interpretação e análise dos resultados, cer-
tamente, enriqueceram essa obra com a pluralidade de pensamento,
considerando os articulistas também como sujeitos construtores da
Instituição e que a vivenciaram em períodos distintos; alguns desde
a formação na graduação, outros já como professores e gestores.
O somatório dessa construção, as experiências e narrativas
podem ser conferidas nos seis artigos que compõem essa obra. O pri-
meiro artigo vai apresentar os percursos metodológicos da pesquisa
e a abrangência territorial que nos permitiu apontar a dimensão da
inserção socioterritorial da UVA e sua aderência à região Noroeste
do Estado. O segundo artigo nos traz uma reflexão sobre a tríade
basilar – ensino, pesquisa e extensão – apresentando dados que nos
ajudam a dimensionar o ponto de partida e a avaliação que se faz
com o jubileu. O terceiro artigo vai tratar do perfil dos egressos da
Instituição. O quarto artigo avalia a inserção do egresso no merca-
do de trabalho. O quinto artigo realiza uma análise qualitativa dos
egressos que atuam no serviço público, setor privado e terceiro setor
(ONG’s, sindicatos e associações) e o sexto, e último artigo tece con-
siderações sobre o futuro da UVA.
Desejamos, por fim, que a leitura seja agradável e permita
o leitor pensar outras possibilidades sobre as relações tecidas entre a
Universidade e a sociedade, a quem ela serve, suas identidades ter-
ritoriais, salvaguarda sociocultural de saberes, produção do conhe-
cimento científico com foco no desenvolvimento social, relações
//18

interinstitucionais e comunitárias. Enfim, que a UVA chegue aos


100 anos como instituição pública de ensino superior, sólida, que
promova outras revoluções amparadas na democratização, inclusão
e interiorização do ensino superior. Essa é nossa esperança, que é
diferente de esperançar como nos ensina Paulo Freire.

Os organizadores
Sobral-CE, março de 2022
//19

A INSERÇÃO SOCIOTERRITORIAL
DA UVA: OS PERCURSOS DA
PESQUISA E SEUS TERRITÓRIOS
José Osmar Fonteles10
Luiz Antônio Araújo Gonçalves11
Fábio Souza e Silva da Cunha12
Lourival Gerardo da Silva Júnior13
Benedita Marta Gomes Costa14

1. Introdução
O conhecimento social produzido por uma Instituição
Educação Superior (IES), da formação promovida à sua extensão
universitária, tem um grande impacto para a sociedade que dela
usufrui e é favorecida. Para compreender a relevância de uma Uni-
versidade como centro gerador de conhecimento no período atual
faz-se necessária uma leitura do território, pois é nele onde “[...]
desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, to-
das as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem
plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência.”
(SANTOS, 2007, p. 13).

10  Professor Adjunto do Curso de Ciências Sociais (Bach. E Licenc) da UVA.


11  Professor Adjunto dos Cursos de Geografia (Bach. e Licenc) da UVA.
12  Professor Adjunto dos Cursos de Geografia (Bach. e Licenc.) da UVA.
13  Professor Assistente do Curso de Ciências da Computação da UVA.
14  Professora Adjunta do Curso de Administração da UVA.
//20

Os 50 anos de existência da Universidade Estadual Vale


do Acaraú - UVA suscitaram essa pausa, uma justa reflexão sobre
sua trajetória e rebatimentos por toda a porção Noroeste do estado
do Ceará. A UVA, ao longo de cinco décadas, teve atuação plena
na formação de pessoal ao nível superior e, sem dúvidas, promoveu
reentrâncias sociais e territoriais entre cidade e campo, atingindo o
planalto da Ibiapaba, repercutindo pelos sertões, cruzando os va-
les dos rios Coreaú, Acaraú, Aracatiaçu, alcançando, ainda, o litoral
Oeste.

2. O uso do território como fundamento para entender a inser-


ção socioterritorial da UVA
O território, entendido aqui a partir do seu uso, é compos-
to do chão que pisamos e nele criamos raízes e identidade. A identi-
dade “[...] é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O
território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, as tro-
cas materiais e espirituais e do exercício da vida.” (SANTOS, 2007,
p. 14) Desse modo, foi o uso do território que deu substância para
fazermos uma leitura da inserção socioterritorial da UVA nesses 50
anos, forjando, assim, um território onde atuou com protagonismo
e que hoje busca se expandir para atender às transformações que o
mundo contemporâneo demanda.
As pessoas que passaram pela UVA, sem dúvida, nela tive-
ram uma formação que lhes possibilitou desenvolverem seus campos
profissionais e contribuírem, de modo efetivo, com o desenvolvi-
mento de suas localidades, distritos e cidades. Promoveram novos
usos e outra dinâmica ao território, reafirmando a relevância desses
//21

lugares que a partir desses usos, se articularam ao movimento da glo-


balização. Ou seja, o valor atribuído aos espaços locais pelo uso do
território, ocorreu pela diretriz da educação superior que orientou
e hoje ainda orienta o caminho de muitos estudantes em direção à
UVA, em Sobral.
Os depoimentos dos egressos revelam essa dinâmica terri-
torial vivenciada em suas comunidades, alterando significativamente
o cotidiano, qualificando-o através de processos formativos desenca-
deados pela UVA. O desenvolvimento das redes técnicas, sem dúvi-
da, ajudou a ampliar e consolidar esse território, marcado, princi-
palmente, pela circulação diária de estudantes, mas também com a
expansão de cursos em novos Campi instalados em Sobral e outros
municípios.
A UVA se estendeu construindo vínculos, relações e inter-
venções que marcaram a trajetória desses lugares. Daí falarmos de
uma inserção socioterritorial, de caminhos trilhados e os resultados
colhidos desse trabalho ao longo de cinco décadas. Esse território
é representativo das relações construídas, das idas e vindas da resi-
dência à Universidade, do tempo gasto, do espaço percorrido, dos
estudos e trabalhos empreendidos que modificaram costumes, ree-
laboraram os caminhos de dependência e submissão que, por vezes,
foi o único caminho trilhado por seus antepassados.
Sem dúvida, a ação da UVA deu nova dinâmica, novos
saberes e esperança para esses lugares. O acesso ao conhecimento
“novo” sobre o lugar criou outro fluxo transformador dos territórios,
permitiu questionar algumas lógicas, se inquietar com outras, porém
semeou esperança e deu fruto bom a partir da formação universitá-
//22

ria, da pesquisa realizada sobre as coisas do lugar e, diante das neces-


sidades e carências pôde extensionar, ação de retribuir à sociedade
que construiu essa Universidade.
Essa fluidez efetiva de estudantes de dezenas de municípios
constituiu um território-rede15 que estabeleceu um fluxo de intera-
ção contínua, diária, que integrou e ajudou a fortalecer o território
de atuação da instituição a partir dos vínculos com os municípios,
unidades político-administrativas que foram e continuam sendo ele-
mentos primordiais para a efetivação dessa interação da UVA em seu
território.
O fluxo de pessoas, saberes e conhecimento transpassou
os muros da instituição e se estendeu pelos territórios municipais,
dando expressão a essa identidade socioterritorial constituída e pro-
tagonizada pela UVA como espaço de referência sociocultural e cien-
tífica. Para Haesbaert (1999, p. 186) o território de identidade que
compõe o “ser” de um grupo social pode ser “[...] uma prisão que
esconde e oprime ou uma rede que se abre e conecta e um ‘coração’
que emana poesia e novos significados.”. Entendemos que essa iden-
tidade socioterritorial promovida pela UVA conectou territórios,
municípios, distritos, localidades, abriu novos horizontes e resulta
da experiência decorrente das relações construídas social e territorial-
mente proporcionada pela vivência universitária classificada como
significativa pelos depoimentos dos egressos. O sentimento de mui-
tos egressos que concluíram a graduação na UVA é de que nunca a
deixaram, sempre a levaram consigo. Tentamos capturar as represen-

15  HAESBAERT (2006).


//23

tações e significações por meio das entrevistas, da interpretação dos


dados colhidos, dando expressão pelos gráficos e espacialização pelos
mapas, afim de revelar essa inserção socioterritorial.

3. A organização da pesquisa e seu percurso


A pesquisa teve o objetivo geral de revelar a inserção socio-
territorial da UVA e as contribuições ao processo de empoderamento
dos sujeitos sociais no Noroeste do estado do Ceará. De modo espe-
cífico, buscamos identificar os municípios emissores dos estudantes
de graduação; Traçar o perfil socioeconômico dos egressos; Analisar a
inserção profissional dos mesmos e em que medida retornaram para
os municípios de origem; Identificar junto aos municípios a atuação
profissional dos egressos no setor público, privado e Organizações
da Sociedade Civil (Organizações Não-Governamentais, Sindicatos
e Associações); E, por fim, identificar a demanda por novos cursos, a
partir dos representantes das gestões municipais.
O percurso da pesquisa teve início com encontros e debates
para a montagem e operacionalização da equipe formada por profes-
sores pesquisadores e estudantes de diversos cursos de graduação da
UVA. As reuniões deram conta de elaborar as categorias de análise
e delimitar os municípios componentes de sua área de abrangência.
Isso possibilitou definir o caminho que foi percorrido teórica e me-
todologicamente, resultando em três produtos: relatório da pesquisa,
publicação de um livro e a produção de um documentário.
Os sujeitos da pesquisa foram egressos que se formaram na
UVA entre os anos de 2008 e 2018 nos cursos de graduação oferta-
dos em Sobral, com exceção daqueles que concluíram a graduação
em cursos ofertados por institutos em unidades descentralizadas em
//24

vários outros municípios cearenses, de outros estados brasileiros16.


A reunião e tratamento de dados referentes aos muitos cur-
sos de graduação ofertados pela UVA, por meio de institutos conve-
niados constituiria uma difícil tarefa para o tempo de execução da
pesquisa, e, de outro modo, nos conduziria a uma análise crítica da
atuação da UVA no território cearense e brasileiro17.
O recorte espacial da pesquisa abrangeu, dessa maneira, aos
municípios de origem dos egressos que constituíram seis territórios
com os 55 municípios que tiveram maior número de emissão de alu-
nos no período de 2008 a 2018. A pesquisa teve como primeiro foco
atingir os egressos a partir das respostas a dois instrumentos opera-
cionais - um de cunho quantitativo e outro qualitativo. O questio-
nário foi o primeiro instrumento executado no cronograma da pes-
quisa. A definição dos indicadores permitiu colher dados, analisar
e produzir informações sobre os egressos. O segundo instrumento
foi a entrevista realizada com os egressos que tinham atuação profis-
sional como servidores públicos, profissionais liberais e do 3º setor
(Organizações Não-Governamentais – ONG’s, Sindicatos e Asso-

16  Nos anos 1990, a UVA passou a ofertar cursos fora da sede, em parceria com institu-
tos que, mediante a realização de convênios, passaram a oferecer cursos autofinanciados nos
próprios municípios. Em nome da “inclusão pela educação” e do acesso ao ensino superior,
a UVA adotou o modelo de cursos descentralizados em que os cursistas arcavam com o
dispêndio (taxas e mensalidades).
17  Estima-se que a instituição tenha um grande número de egressos formados em cursos
de graduação gerenciados pelos institutos conveniados. Nesse ínterim, alguns institutos
tiveram forte atuação na oferta de cursos fora da sede como o Instituto de Estudos e Pes-
quisas do Vale do Acaraú – IVA, criado em 1996, que registrava até 2018 a formação de
cerca de 27.000 alunos em seus cursos, na maioria de licenciatura. Já o Instituto Dom José
de Educação e Cultura – IDJ, criado em 2002, computava no ano de 2018, a formação de
mais de 33.000 alunos. (GOUVEIA JUNIOR, 2018; LIMA, 2018). No período atual, a
UVA ainda mantém convênios com institutos que ofertam cursos de graduação pagos tanto
no estado do Ceará quanto em outros estados da federação.
//25

ciações) nos municípios elencados. Os representantes das gestões


municipais também foram entrevistados, nesse caso, podendo ser ou
não formado pela UVA. O caminho metodológico foi estruturado a
partir de dois eixos principais, abaixo discriminados, que buscaram
dar conta dos temas suscitados na pesquisa.
Eixo I – Recorte espacial, temporal e as relações estabelecidas
– visou dar conta do papel desempenhado pela UVA no período
entre 2008 e 2018 estabelecendo relações com períodos anteriores,
afim de compreender, sobretudo, as mudanças ocorridas e as relações
construídas com os municípios vizinhos que compõem sua área de
abrangência. Para isso foram necessários os seguintes passos:
– Coleta de dados em séries estatísticas da Pró-Reitoria de
Graduação da UVA, além de outros materiais de consulta
como documentos oficiais, materiais jornalísticos e outros
registros representativos. Os dados coletados foram:
 Sobre a UVA: número de estudantes, professores, fun-
cionários, cursos, projetos de pesquisa, ações de exten-
são, acordos de cooperação, impacto social e acadêmi-
co (em série histórica);
 Sobre as cidades da área de abrangência: foi montada
uma base de dados com as seguintes variáveis/indica-
dores: população (taxa de urbanização, população re-
sidente total, população residente urbana, população
economicamente ativa urbana e total), economia (PIB
municipal, número de empresas comerciais e de servi-
ços) em base de dados de outros órgãos públicos.
Eixo II: Grupos e agentes envolvidos – tratou do levanta-
//26

mento de dados sobre os egressos da Universidade (idade, renda,


formação, emprego); Estudantes de graduação (idade, renda, curso,
origem); gestores públicos municipais; empresas (Indústria e Co-
mércio) estabelecidas nas cidades onde atuam profissionais formados
na UVA; Prestadores de serviços (com relações diretas e/ou indiretas
às funções da Universidade); Terceiro setor (Sindicatos, Associações
e Organizações Não-Governamentais).
Os dois eixos foram contemplados a partir das etapas lista-
das abaixo:
a) Levantamento bibliográfico, documental e estatístico: teses,
dissertações, livros, artigos de periódicos científicos, censos,
anuários, relatórios técnicos, diagnósticos, documentos
governamentais, jornais, entre outros que abordam a
Universidade;
b) A construção de banco de dados socioeconômico compreendeu dois
momentos complementares:

- 1º momento: levantamento de dados quantitativos, de acordo


com os grupos de variáveis selecionados, através de bancos
de dados virtuais e em bases digitais (Dados secundários).
Inicialmente, o levantamento de dados dos egressos ocorreu
por meio de consulta ao Departamento de Ensino e Graduação
(DEG) e ao Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) que
disponibilizaram uma planilha dos egressos por curso de
graduação. A partir dessa planilha foi realizada uma limpeza
de dados que precisaram ser tratados para serem analisados
//27

adequadamente18.
Desta forma, foi necessário o uso de uma ferramenta in-
teligente, sendo escolhido o Power BI da Microsoft por ser uma fer-
ramenta gratuita para funcionalidades essenciais, de fácil operação,
com uma versão online, vasta documentação e já consolidada no
mercado.
Os dados foram coletados, de início, numa planilha do Ex-
cel gerada pelo sistema acadêmico com mais de 15.000 registros dos
egressos dos últimos 40 anos. Após a definição do recorte temporal
da pesquisa pelo grupo de trabalho, criamos na ferramenta, filtros
que baixaram esse número para 8.569 registros no escopo de tempo
de 2008 a 2018. Gráficos foram gerados pela ferramenta para termos
uma visão geral do perfil dos egressos conforme a Figura 1:

Figura 1: Visualização dos dados referentes aos egressos da UVA entre 2008 e 2018.

18  Dois bolsistas (bolsa de trabalho IADE) trabalham sob a supervisão do Prof. Lourival
Gerardo da Silva Júnior para a realização dessa etapa de tratamento dos dados do sistema
acadêmico referentes aos egressos.
//28

ssa interface visual representa um Dashboard19(painel


E
dinâmico) onde foram cruzadas as informações abaixo dos alunos
egressos:
• Curso;
• Idade;
• Média de tempo no curso;
• Se estudou em escola pública ou particular;
• Tipo de graduação;
• Onde residem;
• Qual sua naturalidade;
• Qual o gênero;
• Média de idade;
• Média da renda salarial da família;
• Cor.

A partir desses cruzamentos pôde-se gerar, de forma rápida, as

seguintes informações:
• Qual curso formou mais alunos?
• Qual curso formou menos alunos?
• Qual modalidade de curso formou mais alunos?
• Qual modalidade de curso formou menos alunos?
• Se foram alunos de escola pública ou privada?
• Qual o município com maior número de egressos?
• Qual o município com menor número de egressos?
• Qual é a média de idade dos egressos?
• Qual a média de tempo em que se formaram?
• Qual é o número de egressos, por razão de sexo?
• Qual a renda salarial média do egresso?

19  O Dashboard (Painel eletrônico) da pesquisa pode ser acessado pelo link:
<https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWFlYTdmZDUtZDc5MC00Mzl-
mLWI0ODAtYWZmODZjY2Q1MmEyIiwidCI6IjIyZTBiMTExLTFhYzgtN-
DcxYi1hY2E3LWY3OGM2NGVlZWQ0YiJ9>.
//29

O segundo levantamento dados sobre os egressos ocorreu


por meio da aplicação de um questionário de 18 perguntas, enviado
pela Assessoria de Comunicação e Marketing Institucional (ACMI),
para o E-mail dos egressos no dia 20/07/2018. O questionário ficou
disponível para preenchimento no período de 20/07 a 06/08/2018
e obteve uma amostra de 1.488 respondentes. A pesquisa teve uma
margem de erro de 2,6%. De posse das respostas, foi feita a leitura e
análise dos dados, resultando em tabelas e gráficos conforme a figura
2.

Figura 2: Visualização no Power Bi dos dados referentes aos egressos responden-


tes do questionário20.

20  O Dashboard (Painel eletrônico) do questionário aplicado com os egres-


sos da UVA. Acesso em: <https://app.powerbi.com/groups/me/repor-
ts/56376854-a1d8-431c-bfac-10a9717c8fc8?ctid=22e0b111-1ac8-471b-aca7-f78c64eee-
d4b&pbi_source=linkShare>
//30

Os indicadores do questionário aplicado com os egressos


participantes da pesquisa foram assim definidos: Por Centro; curso;
ano de ingresso; ano de conclusão; estado civil; cor/raça/etnia; nú-
mero de pessoas residentes na moradia; número de pessoas na famí-
lia com nível superior; nível de renda; situação de trabalho; tempo
de inserção nas atividades profissionais; motivo de escolha do curso;
dificuldades encontradas para atuar na área de formação, motivo da
escolha da UVA; atuação profissional no município de origem; ati-
vidade profissional em que atua no presente, grau de exigência do
curso e atividade desenvolvida durante a graduação, indicação da
UVA para familiares e amigos; e a importância da pesquisa para a
formação.

- 2º momento: tratamento estatístico e produção cartográfica


visaram facilitar o entendimento dos leitores sobre a dinâmica
de inserção socioterritorial da UVA no Noroeste cearense. O
acervo reunido também é constituído de outros materiais sobre
o objeto da pesquisa (fotografias, vídeos, entrevistas gravadas).
Os dados permitiram gerar um cartograma que revelou os
municípios que mais enviaram alunos para a UVA, destacados
na cor verde. A tonalidade verde-escura corresponde aos
municípios com maior número de egressos (Figura 3).
//31

Figura 3 - Municípios onde residiram egressos entre 2008 e 2018.

Pode-se observar pelo mapa que a UVA atinge não só a


sua região circunvizinha, mas também outras mesorregiões do nosso
Estado como, por exemplo a região metropolitana de Fortaleza e a
região sul do Estado. Vale destacar que o levantamento registrou
a ocorrência de egressos residentes em outros estados nordestinos,
em outras regiões do país bem como em outros países. Além disso,
//32

insights (correlações não triviais) podem ser gerados, também pela


ferramenta, por exemplo:
• A correlação direta entre curso e cor;
• A correlação direta entre a naturalidade e tempo de curso;
• A correlação direta entre licenciatura e tempo de curso.

Nesse momento, tais correlações não estão sendo utiliza-


das, pois requereria um tempo maior para análise dos dados fugindo
ao escopo temporal da pesquisa. No entanto, poderão ser explorados
em trabalhos futuros que demandem uma análise mais profundada
dos dados com vistas a identificar padrões na relação entre eles que
normalmente não são triviais. Esses dados poderiam embasar novas
políticas de desenvolvimento da Universidade.
Como uma contribuição dessa pesquisa sugere-se a criação
de um módulo de gestão de egressos no sistema acadêmico da Univer-
sidade que possa fazer o acompanhamento desse público e oferecer
outros serviços como cursos de extensão, aperfeiçoamento e pós-gra-
duações. Além de incentivo à participação em eventos científicos e
divulgação de oportunidades de empregos, dentre outros.

c) Trabalho de campo – após o trabalho de captura dos dados


secundários, o cronograma da pesquisa avançou para a aplicação
do segundo instrumento, a entrevista – que foi realizada com
os sujeitos representativos, ou seja, servidores públicos (federal,
estadual ou municipal), profissionais liberais, e aqueles atuantes
no terceiro setor - ONG’s, Sindicatos, Associações, ambos
//33

egressos da UVA. A pesquisa qualitativa também foi aplicada com


os representantes das gestões públicas municipais, estes, porém,
podiam ser formados ou não na instituição. As entrevistas foram
obtidas diretamente em visita de campo, captando depoimentos
e registros por pesquisadores constituindo uma base de dados
primários. A princípio, tínhamos a proposta de compor equipes
de pesquisas formadas por professores e alunos para cobrir os 55
municípios distribuídos em rotas. Entretanto, essa proposta foi
redimensionada em razão dos recursos disponíveis e tendo em
vista que o tempo de trabalho dos professores pesquisadores não
era dedicado integralmente à pesquisa. Assim, a organização
das entrevistas foi realizada pelos estudantes bolsistas mediante
contato prévio para a identificação dos egressos representativos
em cada município.
A metodologia da pesquisa definiu um formulário
semiestruturado de entrevista composto por cinco pontos: A
importância da UVA para sua cidade; A contribuição da UVA
para a formação de recursos humanos no seu município; O
apoio dado pela gestão municipal para o envio de estudantes
para a UVA em Sobral; A relação da UVA com seu município;
e As demandas do seu município e como a UVA poderia
contribuir como novos cursos para o desenvolvimento regional-
local. O formulário de entrevista foi aplicado por estudantes
//34

de graduação21 e residentes nos próprios municípios. Tendo em


vista nossa pretensão em abranger o máximo de municípios
inseridos na área de influência da UVA, buscamos limitar o
tempo de gravação da entrevista em 30 minutos de modo que
o aluno bolsista teve como atividades no seu plano de trabalho:
auxiliar na identificação e agendamento dos entrevistados;
realizar quatro entrevistas com o formulário padronizado (um
representante da gestão municipal, um egresso - setor público;
um egresso - setor privado e um egresso - 3º setor); Auxiliar no
preenchimento e assinatura do Termo de consentimento livre e
esclarecido; realizar as transcrições das entrevistas.
As entrevistas foram realizadas em 23 municípios durante o último
trimestre de 2018 e o primeiro trimestre de 2019. Essa etapa
demandou mais tempo no cronograma da pesquisa em razão da
diversidade de pessoas a entrevistar e do tempo de resposta para
a realização de cada entrevista. O segundo trimestre de 2019 foi
ocupado no trabalho de coleta e arquivamento das transições das
entrevistas e do termo de consentimentos assinado. Assim foram
realizadas 73 entrevistas, todas autorizadas pelos entrevistados
através de Termo de Consentimento contemplando em cada
município visitado. A realização de entrevistas possibilitou
compreender melhor as implicações da atuação da UVA sobre

21  A operacionalização da pesquisa qualitativa contou com o apoio da Pró-Rei-


toria de Assuntos Estudantis (PRAE) que disponibilizou os alunos bolsistas do
Programa Bolsa de Permanência na Universidade (PBPU), para a realização da
pesquisa com os quatro perfis de entrevistados.
//35

sua área de influência. A realização dos trabalhos de campo foi


de fundamental importância para captar a realidade de cada
município revelando empiricamente os processos em curso.

d) Produção de um vídeo documentário – parte da equipe de pesqui-


sa também produziu o vídeo documentário intitulado: UVA, 50
anos: trajetórias, gravado nas cidades de Sobral, Ipú e Coreaú.
Contou com 15 entrevistas realizadas com gestores, professores

e profissionais egressos da instituição.

Para que o grupo de pesquisadores tivesse mais clareza so-


bre cada uma das etapas da pesquisa, foi feito um quadro, síntese do
plano de trabalho, articulando os objetivos, as metas e suas respec-
tivas atividades, delimitando períodos e identificando responsáveis
pela condução de cada atividade conforme o quadro 1 abaixo:
//36

Quadro 1 – Plano de trabalho da pesquisa


Objetivos
Metas Ações22
específicos
Fazer levantamento dos egressos
Identificar os Cartografar os junto ao DEG/NTI no período
municípios de municípios de origem de 1984 a 2018;
origem dos egressos dos egressos Realizar tratamento da planilha
da UVA de egressos com recorte
temporal de 2008 a 2018;
Elaborar uma plataforma
própria a ser utilizada na
pesquisa;
Definir os territórios de inserção
socioterritorial da UVA;
Apresentar o projeto para a
Envolver a comunida- Universidade, por meio das
de acadêmica da UVA, Coordenações de Cursos,
nos seus diversos seg- Diretorias de Centro, Pró-
mentos, para a locali- Reitorias e outras instâncias
zação dos egressos técnico-administrativas;
Sensibilizar as Coordenações
de Cursos para localização dos
egressos;
Buscar informações junto às Pró-
Reitorias para complementação
da pesquisa;
Comunicação da pesquisa
junto ao Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão - (CEPE/
UVA);

22  Estão registradas na tabela apenas as atividades que foram realizadas.


//37

Fazer levantamento
Identificar a inserção bibliográfico e documental;
Analisar a inserção do egresso no mercado Identificar a territorialização
dos profissionais de trabalho do quantitativo de egressos
egressos da UVA pelo número de municípios e
e em que medida inclusão nos territórios;
retornaram aos Identificar as instituições
municípios de públicas e do terceiro setor nos
origem Municípios pesquisados para
identificar egressos da UVA,
no mercado de trabalho, no
período pesquisado;
Verificar se os Levantamento da quantidade
egressos da UVA de egressos que atuam na sua
estão inseridos área de formação no município
socioeconomicamente de origem;
no seu município Verificar a tipologia de
ocupações dos egressos;
Elaborar instrumento de
pesquisa a ser aplicado -
Identificar o perfil Traçar o perfil dos matrizes metodológicas;
socioeconômico dos egressos no período Tabular os dados do
egressos pesquisado questionário aplicado;
Fazer análise quantitativa e
qualitativa dos dados obtidos;
Fazer registro, em vídeo,
de entrevistas com alguns
dos egressos identificados e
empregados/empregadores;
Identificar a Construir novas Realizar entrevistas com
demanda de novos possibilidades de representantes das gestões
cursos, a partir dos atuação da UVA, com municipais, profissionais
representantes das base em demandas liberais, funcionários públicos
gestões municipais profissionais locais e representantes do terceiro
setor, sindicatos e movimentos
sociais;
//38

Produzir um video- Editar o vídeodocu- Realizar entrevistas com


documentário da mentário depoimentos de egressos da
pesquisa UVA;

Fazer registros de imagem e som


das entrevistas;

Comunicar os resul- Apresentar os produ- Elaborar relatório final da


tados da pesquisa tos com os resultados pesquisa;
da pesquisa Organizar um livro a ser
publicado;
Lançamento do vídeo
documentário produzido.

ealizada a etapa de levantamento dos dados referentes aos


R
egressos, pôde-se sistematizar em tabelas e produzir uma espacializa-
ção dos dados com a confecção de mapas temáticos.

4. Os territórios de inserção socioterritorial da UVA


Podemos verificar que a inserção socioterritorial da UVA
abrange os 55 municípios com maior número de egressos nos ter-
ritórios situados no Noroeste do Estado do Ceará (Figura 1). Esta
área de influência foi definida com base em dados quantitativos dis-
ponibilizados pelo NTI – UVA com base no número de egressos dos
cursos de graduação ministrados na sede, na cidade de Sobral no
período de 2008 a 2018.
//39

Figura 1 – Mapa de localização das áreas de influência socioterritorial da UVA.

Os municípios foram reunidos em territórios de acordo


com a quantitativo maior ou menor de egressos. A porção central
que reúne o território de Sobral é composta por 18 municípios que
integram a Região Metropolitana de Sobral. São os seguintes mu-
nicípios: Alcântaras, Cariré, Coreaú, Forquilha, Frecheirinha, Gra-
ça, Groaíras, Massapê, Meruoca, Moraújo, Mucambo, Pacujá, Pires
Ferreira, Reriutaba, Santana do Acaraú, Senador Sá, Sobral e Varjo-
ta. A porção Oeste reúne 9 municípios que compõem o Território
da Ibiapaba (Carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte, Ibiapina,
Ipu, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa do Ceará). Na porção
Noroeste, encontram-se 6 municípios que integram o Território de
//40

Camocim (Barroquinha, Camocim, Chaval, Granja, Martinópole e


Uruoca). Na porção Nordeste situa-se o Território de Acaraú que é
composto por 7 municípios (Acaraú, Bela Cruz, Cruz, Itarema, Jijo-
ca de Jericoacoara, Marco e Morrinhos). O setor Leste reúne 5 mu-
nicípios no Território de Itapipoca (Amontada, Irauçuba, Itapajé,
Itapipoca e Miraíma). Por fim, na parte Sul temos o agrupamento de
10 municípios no Território de Santa Quitéria (Ararendá, Catunda,
Hidrolândia, Ipaporanga, Ipueiras, Monsenhor Tabosa, Nova Rus-
sas, Poranga, Santa Quitéria e Tamboril). A organização dos muni-
cípios em territórios, promovida pela mobilização ou agrupamento
intenta responder a uma questão de como eles participam, ou são
influenciados pelas ações da UVA. O que parece ser comum a todos
é o fluxo de jovens em direção à Sobral, porém, as demandas por for-
mação, por exemplo, podem ter uma resposta diferente a depender
do território.
Com base, ainda, nos dados obtidos com o NTI, a quan-
tidade de egressos dos cursos de graduação da UVA, em Sobral, no
período de 2008 a 2018 (Colações de Grau entre 23/01/2008 à
28/03/2018) foi de 8.569 egressos. A Tabela 1 e Figura 2 apresen-
tam a distribuição quantitativa e espacial dos egressos por território
de acordo com o local de residência.

Tabela 1 - Egressos de cursos de graduação da UVA por territórios de acordo


com local de residência*
Territórios Absoluto (Nº) Percentual (%)
Sobral 5.970 69,67
Ibiapaba 1.145 13,36
Acaraú 386 4,50
Santa Quitéria 328 3,83
Itapipoca 299 3,49
//41

Camocim 256 2,99


Residente fora da área de estudo 132 1,54
Endereço residencial não disponível 53 0,62
Total 8.569 100
* Colações de Grau entre 23/01/2008 à 28/03/2018.
Fonte: NTI - UVA

Figura 2 – Mapa de distribuição de valores absolutos de egressos de cursos de


graduação da UVA (2008-2018), por territórios.
//42

Os dados apresentados na Tabela 1 e Figura 2 demonstram


que mais de dois terços (2/3) do conjunto de egressos analisados es-
tão concentrados nos municípios do Território de Sobral, sobretudo,
em Sobral que concentra a maioria dos egressos da UVA. O Territó-
rio da Ibiapaba também reúne um grande número de egressos ana-
lisados (13,36% do total) demonstrando a influência da UVA em
seus municípios. Em termos quantitativos, em valores bem meno-
res, seguem-se em ordem decrescente os Territórios de Acaraú, Santa
Quitéria, Itapipoca e Camocim. Vale ressaltar que apenas 1,54% dos
egressos residem em municípios que não estão inseridos nos terri-
tórios analisados e somente 0,62 % dos dados não apresentam a
informação do endereço residencial.
A figura 3 apresenta os dados referentes a um índice elabo-
rado pela divisão dos dados de egressos de cada território pela po-
pulação estimada pelo IBGE, em 2018, nos respectivos territórios.
Neste caso, observa-se o impacto socioterritorial da UVA em termos
relativos, de acordo com a densidade populacional de cada território.
//43

Figura 3 – Mapa do índice de egressos de cursos de graduação da UVA (2008-


2018) pela população estimada em 2018, por Territórios.


Em busca de informações complementares sobre o perfil
do egresso dos cursos de graduação da UVA foi elaborado e dispo-
nibilizado um questionário para ser preenchido remotamente, por
acesso via internet, durante um período determinado. Após ampla
divulgação, foram obtidas respostas de 1.488 egressos, cuja distri-
buição territorial com base no endereço residencial é apresentada na
tabela 2 e figura 4.
//44

Tabela 2 - Egressos de cursos de graduação da UVA que responderam o questio-


nário por territórios onde residem
Territórios Absoluto (Nº) Percentual (%)
Sobral 850 57,12
Ibiapaba 182 12,23
Acaraú 80 5,38
Santa Quitéria 81 5,44
Itapipoca 57 3,83
Camocim 53 3,56
Residente fora da área de estudo 156 10,49
Endereço residencial não disponível 29 1,95
Total 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Figura 4 – Mapa de distribuição de valores absolutos de egressos de cursos de


graduação da UVA que responderam o questionário, por Territórios.
//45

A figura 5 já apresenta os dados referentes a um índice ela-


borado pelos dados de egressos de cada território que responderam o
questionário dividido pela população estimada pelo IBGE em 2018
no respectivo território. Neste caso, observa-se o impacto socioter-
ritorial da UVA em termos relativos, de acordo com a densidade
populacional de cada território.

Figura 5 – Mapa do índice de egressos de cursos de graduação da UVA que res-


ponderam o questionário pela população estimada em 2018, por Territórios.

O mapa da figura 5 reafirma a forte concentração dos cursos


de graduação da UVA em Sobral enquanto há uma grande demanda
em municípios cuja distância ultrapassa 100 quilômetros, levando a
uma grande perda de tempo no deslocamento dos estudantes.
//46

5. Considerações finais
Em uma análise comparativa dos dados espaciais de egres-
sos obtidos junto ao NTI em relação aos dados espaciais de egressos
que responderam o questionário, tanto em termos absolutos quan-
to relativos em relação à densidade populacional, observa-se uma
certa correlação positiva em termos quantitativos quanto à sua dis-
tribuição. Os resultados reforçam uma concentração de influência
socioterritorial da UVA no Território de Sobral, seguida em segundo
plano pela influência no Território da Ibiapaba, e na sequência de
forma aproximadamente equivalente nos demais territórios (Acaraú,
Santa, Quitéria, Itapipoca e Camocim).
Podemos concluir que a demanda desses territórios pelo
acesso ao ensino superior continua concentrada, ou melhor favorece
os municípios que compõem o território de Sobral e o território da
Ibiapaba. Essa foi uma tendência constatada nos dois levantamen-
tos realizados com os egressos, ou seja, esses territórios conseguiram
enviar e formar mais estudantes do que aqueles municípios que inte-
gram os territórios de Santa Quitéria, Acaraú e, ainda em menor nú-
mero, dos territórios de Camocim e Itapipoca onde esse elo parece
ser mais frágil. Nesse sentido, seria importante retomar a política de
expansão de Campi a partir das demandas de cada território.
//47

Referências bibliográficas
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MONT’ALVERNE. Glória G. S.; ALBUQUERQUE, Izabelle M.
N. (Orgs.). Cinquentenário da Universidade Estadual Vale do
Acaraú 1968-2018. Sobral: Edições UVA, 2018.

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DAHL, Zeny.; CORRÊA, Roberto L. Manifestações da cultura
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LIMA, Luciene S. Instituto Dom José de Educação e Cultura –


IDJ: conhecendo o Instituto. In: MONT’ALVERNE. Glória G.
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Universidade Estadual Vale do Acaraú 1968-2018. Sobral: Edi-
ções UVA, 2018.

SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: SANTOS, M.;


Becker, B.; SILVA, Carlos A. F. da; [et al]. Território, territórios:
ensaios sobre o ordenamento territorial. 3 ed. Rio de Janeiro: Lam-
parina, 2007. (Coleção espaço, território e paisagem)
//48

O ENSINO, A PESQUISA E A
EXTENSÃO DA UVA POR OCASIÃO
DO SEU JUBILEU

Virgínia Célia Cavalcante de Holanda23

1.Introdução
A presente narrativa é antes de tudo uma interpretação a
partir de minhas lentes, sobre a Instituição a qual estabeleci víncu-
los afetivos e fui me construindo como docente do Ensino Superior
Público, pois, foi no percurso, entre ensinar, pesquisar e fazer ex-
tensão que realizei mestrado, doutorado e pós-doutorado. Ingressei
no quadro de docentes da UVA aos 24 anos, por concurso público,
em 1995. Recém-graduada pela Universidade Estadual do Ceará -
UECE, buscava ali um lugar ao sol.
Embora essa narrativa tenha como escopo analisar como
foi se constituindo o Ensino, a Pesquisa e a Extensão na Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú (UVA), desde a formação até o seu
jubileu, considerei ser oportuno esse rápido preâmbulo, assumindo
os riscos que minhas inquietações possam provocar.
A escrita está ancorada, em parte, na minha experiência co-
tidiana nessas mais de duas décadas como docente, portanto, reche-

23  Professora associada do curso de Geografia e do Mestrado Acadêmico em Geografia


da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA. Pesquisadora do Programa de Bolsas de
Produtividade em Pesquisa e estímulo da Interiorização e Inovação Tecnológica – PBI,
Edital nº 02/2020 – FUNCAP.
//49

ada de subjetividades, a ela recorro para balizar o texto dos resultados


de um esforço conjunto de um pequeno grupo de professores que
aceitaram o convite do Prof. Osmar Fonteles para participar da Pes-
quisa intitulada: “A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto
de atuação”. Esse projeto foi iniciado em novembro de 2017, sem
dispormos de tempo de dedicação exclusiva às atividades do mesmo,
ocorrendo em reuniões esporádicas. Contamos com dados dispo-
nibilizados pelo Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI/UVA,
trabalhos de campo realizados por um grupo de bolsistas e pesquisa
por amostragem com questionários que contou com a resposta de
1.488 egressos.
A lógica da Divisão Territorial do Trabalho em um período
pensado por Santos (2002), como constituído pelo comando cada
vez mais intenso da técnica, da ciência e da informação, lança novos
desafios a todos os sujeitos, tornando os municípios de diferentes
escalas crescentemente demandantes de novos saberes e formações
mais qualificadas (SANTOS, SILVEIRA, 2000). Falo aqui não so-
mente da sede dos municípios, pois os universitários que buscam
historicamente a UVA, vêm dos mais diferentes rincões, sendo co-
mum para muitos o emprego de longas caminhadas a pé, de carona
ou com o uso de transporte individual até a sede do município, para
ali pegar o ônibus que leva a Sobral.
A oferta de cursos de graduação em Sobral é realizada no
presente por um número cada vez maior e diversificado de Institui-
ções de Ensino Superior (IES), mas nem sempre foi assim. Deste
modo, delimitei como elementos para análise da conformação da
UVA e os aspectos mais marcantes que condicionaram o tripé: En-
//50

sino, Pesquisa e Extensão. A UVA é uma instituição pública poten-


cializadora de dinamismo de cerca de 55 municípios do Noroeste
cearense, aglutinados nessa pesquisa em seis territórios com maior
emissão de egressos para a UVA (Sobral, Ibiapaba, Acaraú, Camo-
cim, Santa Quitéria e Itapipoca).
Segundo Soares (2005), a gênese da UVA remonta a 1961
a partir dos primeiros cursos superiores vinculados à Diocese de So-
bral, instituindo as bases do seu processo de formação. Foi encam-
pada pelo Governo do Estado em 1984, tornando-se Universidade
estadual legitimamente em 1993. Desde o início, a instituição dele-
gou para si o papel de referência de ensino de graduação e de acesso
ao ensino superior público a um número significativo de estudantes
que encontraram na Instituição a oportunidade de adquirir uma for-
mação ao nível superior. Ao alcançar uma melhor oportunidade de
formação, poderiam regressar ao lugar de origem e contribuir para
mudanças de suas realidades locais.

2. O que celebrar em 2018 depois da caminhada realizada até aqui?


No ano de 2018, comemorou-se o centenário do movi-
mento da reforma universitária que efervesceu a partir da Univer-
sidade de Córdoba, na Argentina, se espalhando por diversas Uni-
versidades Latino-Americanas. Grosso modo, esse movimento teve
como pedra angular a defesa da Universidade pensada pela e para a
América Latina. Passados cem anos, mantém-se aberta a necessida-
de de um balanço sobre as Universidades Públicas, que continuam
sendo construídas, em muitos casos, a partir de espelhos distantes.
//51

Por conseguinte, o ano de 2018 também foi marcado pelo Jubileu


da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), ou seja, seu quin-
quagésimo ano de fundação e me parece que a questão posta para
reflexão parte do mesmo princípio existente no bojo do centenário
da reforma universitária, qual seja: O que nós construímos nesses
cinquenta anos enquanto Instituição de Ensino Superior? Onde e a
quem estamos servindo?
A territorialização da UVA no Noroeste cearense teve al-
guns marcos que devem ser compreendidos, para que possamos des-
velar seus processos e desafios presentes. Sabe-se que a Igreja Católi-
ca teve uma participação importante na fundação das Universidades,
desde o século XVI, nos territórios coloniais da América espanhola,
porém, no Brasil, seu papel foi bastante protelado. No Ceará, as
instituições eclesiais contribuíram já no século XX para o surgimen-
to de Instituições de Ensino Superior que, posteriormente, foram
estadualizadas.
As universidades públicas e leigas, em geral, surgi-
ram em um ambiente de conflito com a Igreja ca-
tólica, que, em muitos países, optou por criar suas
próprias instituições de natureza privada, com ou
sem subsídios públicos. (...) No Brasil e uma grande
exceção nesse quadro porque nunca teve Universi-
dade Nacional e demorou muito a expandir o acesso
a Educação Superior (SCHWARTZMAN, 2014, p.
29-30).

Considerando o primeiro marco jurídico, ou seja, a Lei


Municipal n.º 214, de 23/10/1968, ao criar a Fundação Univer-
sidade Vale do Acaraú, foi indicado como primeiro Reitor, o Padre
//52

Francisco Sadoc de Araújo que contava com apoio do clero da Dio-


cese de Sobral. O antigo Seminário São José, também denominado
Seminário da Betânia24, ao encerrar suas atividades em 1967, passou
a abrigar a Universidade e que funciona nesse prédio até os dias atu-
ais. Conforme Araújo (2018), a criação da UVA por lei municipal
foi essencial, pois naquele momento político, o Ministério da Edu-
cação de forma impositiva determinava que qualquer Instituição de
Ensino Superior, não poderia existir sem entidade mantenedora que
lhe garantisse o sustento por meio de recursos próprios e satisfató-
rios. Dessa maneira, a Prefeitura Municipal de Sobral tornou-se a
entidade mantenedora da Universidade que surgia.
O segundo momento marcante da construção da UVA
ocorreu em 1984, quando o poder executivo torna a UVA uma au-
tarquia dotada de personalidade jurídica de direito público e auto-
nomia administrativa, financeira, patrimonial, didática e disciplinar.
A UVA tornava-se mais conhecida, passando a atrair agora um nú-
mero maior de alunos, mas mesmo com a encampação pelo estado,
a autarquia apresentava vários desafios para sua reestruturação admi-
nistrativa e consolidação como Universidade.
O terceiro marco na trajetória da UVA tem início em 1990
sob a batuta do Prof. José Teodoro Soares, indicado como Reitor Pro
Tempore, vindo da Universidade Regional do Cariri - URCA, onde
teve uma breve passagem na administração superior daquela IES.
Em 01 de março de 1993, por meio da Lei nº 12.077-A, a UVA

24  Cf. Gomes (2018, p. 34) a Diocese teve papel importante na construção da UVA,
pois “[...] Cedeu à Universidade, sem ônus, por 10 anos, todas as instalações do prédio do
Seminário Diocesano São José situado no bairro Betânia.”
//53

passou a se vincular a Secretaria de Ciência e Tecnologia, atendendo


às novas demandas do Estado Cearense.
O Reitor Prof. José Teodoro Soares ao lado do Vice-Reitor
Prof. Evaristo Linhares, assumiram determinados a envidar esforços
para tirar a UVA do contexto de instabilidade institucional e torná-
-la uma instituição de expressão no Noroeste cearense. Sob o bastão
dessa gestão foram realizados os primeiros concursos para professo-
res efetivos. A realização do primeiro concurso proporcionou a che-
gada do entusiasmo de jovens professores, muito recém-graduados
que se somaram à experiência daqueles incorporados ao quadro de
efetivos quando da encampação pelo Estado em 1984, sendo esse
enquadramento publicado em 1986. Alguns “arranhões” nas rela-
ções ocorreram, mas nada que impedisse que a experiência e sonhos
se cruzassem, positivamente, em muitos momentos.
Na tentativa de expandir seu território no Noroeste cea-
rense, com a estrutura de Campi avançados de difusão tecnológica,
ocorreu a implantação dos Campi nas cidades de Camocim, Tian-
guá, Acaraú, Santa Quitéria e Novas Russas. Alguns abrigaram o
curso regular de Pedagogia, contando com a presença de professores
efetivos e concursados para os referidos Campi. Essa situação mudou
pouco tempo depois, quando os professores efetivos foram integra-
dos aos cursos regulares da UVA em Sobral e os Campi avançados
passaram a abrigar os cursos de formação de professores ofertados
em regime especial inicialmente em parceria com os municípios.
Da virada dos anos 2000 até 2018, a UVA não se conver-
teu na Instituição Pública com a qual grande parte da comunidade
acadêmica sonhara, pois, não conseguiu fazer a revisão do seu Regi-
//54

mento para seguir pelo menos a metodologia de eleição para Reitor


e Vice-Reitor, algo já implementado na Universidade Regional do
Cariri - URCA e Universidade Estadual do Ceará – UECE. Acredi-
tamos que isso teria reverberado de modo mais rápido na construção
de uma cultura institucional em todas as esferas da vida acadêmica,
tornando-se um ato pedagógico para o exercício da democracia.
A lentidão na construção de políticas de Assistência Estu-
dantil repercute, ainda no grande número de alunos que precisam se
deslocar para Sobral diariamente, muitas vezes, enfrentando grandes
distâncias. O Restaurante Universitário da UVA passou a ser uma
realidade para alunos, professores e servidores somente em 2017,
enquanto a Residência Universitária foi inaugurada em 2018. Estas
são conquistas reais e simbólicas que levarão algum tempo para pro-
mover uma vivência acadêmica mais intensa.
Acreditamos, ainda, que em razão da lógica instituída pela
parceria da UVA com institutos na oferta de cursos fora da sede,
hoje a Instituição tem grande dificuldade em assegurar de forma
mais equânime os recursos para custeio e investimento em propor-
cionalidade com as outras duas Universidades Estaduais do Ceará.
Os Campi avançados foram descontinuados e isso reflete na repre-
sentação das universidades estaduais no território cearense (Figura
1). Enquanto a UECE apresenta uma maior cobertura no estado,
seguida pela URCA na região Centro-Sul, a UVA aparece com atua-
ção restrita com os Campi no espaço urbano de Sobral.
//55

Figura 1 – Territorialização das Instituições de Ensino Superior Públicas Estadu-


ais do Estado do Ceará.

Fonte: Pesquisa – O ensino superior e o desenvolvimento urbano-regional


(2019).

Tais fatos nos fazem refletir sobre a comemoração do cin-


quentenário da UVA como algo que não pode ser realizado sem uma
autocrítica por todos os pares e um debate que nos aponte para a
questão posta no início do texto, ou seja, sobre qual base estamos
construindo o futuro da UVA? Evidentemente, as constatações ex-
postas no parágrafo anterior não anulam ou desmerecem as conquis-
tas obtidas e destacadas mais adiante, porém, até quando poderemos
afirmar que a UVA é a maior formadora de recursos humanos da
//56

porção Noroeste do Ceará25 diante da abertura de outros Campi de


Instituições Federais de Ensino Superior e da expansão de Ensino
Superior Privado.
Embora a UVA seja a instituição mais antiga, é preciso
refletir sobre o percurso realizado e os desafios postos para a per-
manência do protagonismo sempre almejado pela instituição. Em
evento ocorrido no Auditório Central da UVA, no dia 25 de outu-
bro de 2017, o então Presidente da Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ceará - FUNCAP, já
atestava esse desafio afirmando que: “As Universidades Estaduais do
Interior do Ceará é uma inviabilidade, sobrevivem porque teimam.”.
Na minha leitura significa dizer que se não morremos de inanição
até hoje, poderemos ir muito adiante.

3. Extensão, Pesquisa e Ensino na UVA: alguns apontamentos


A partir da década de 1990 a UVA passou a apresentar um
cenário mais favorável para o desenvolvimento do tripé - ensino,
pesquisa e extensão. Houve um salto qualitativo e quantitativo que

25  Na opinião do atual Reitor Prof. Dr. Fabianno Cavalcante de Carvalho, a


UVA continua sendo a formadora de maior relevância no Noroeste cearense: “A
UVA é a principal formadora de recursos humanos, de líderes e de profissionais
liberais da região, atendendo cerca de 54 municípios da região Norte do Estado do
Ceará. Isso tem uma implicação direta na oferta de pessoal qualificado ao mercado
de trabalho. Hoje, Sobral conta com 05 instituições de ensino superior, sendo 03
públicas e 02 privadas, com fluxo diário aproximado de 20 mil alunos na gradua-
ção e pós-graduação dos municípios de abrangência da UVA e de outros estados
vizinhos, o que caracteriza uma grande influência das Universidades no desenvol-
vimento da cidade.” (Fabianno Cavalcante de Carvalho, Reitor da Universidade
Estadual Vale do Acaraú –UVA. Resposta concedida na entrevista do dia 18 de
setembro de 2017, no âmbito da pesquisa).
//57

retirou a Universidade de certa invisibilidade, dando passos mais lar-


gos. Não obstante, a UVA tomou uma direção com papéis ambíguos
no que se refere à opção pela expansão de cursos fora de Sobral, em
parceria com institutos. Essa ambiguidade, por exemplo, até hoje
não nos permite integralizar o quantitativo do público formado por
esses cursos, às estatísticas da instituição e, consequentemente, na
demanda de insvetimento por aluno. Essa é uma questão relevante,
porém, não cabe aprofundar aqui, tendo em vista não ser esse o foco
dessa reflexão.
O tempo deve colocar as coisas em seu devido lugar, pela
ação de sujeitos, homens e mulheres que colocam todo seu idealismo
e profissionalismo nessa Instituição. Outros fóruns, posteriormente,
foram sendo construídos mais abertos ao debate necessário sobre a
construção de uma Universidade mais plural. A comunidade acadê-
mica vai amadurecendo por meio do movimento docente e estudan-
til de modo a debater a Universidade que queremos e questionar,
por exemplo, por que até o presente a UVA não tem eleição direta
para Reitor?
Constata-se uma melhora na qualificação do quadro do-
cente que repercute significativamente na participação da UVA na
produção científica no interior cearense. Os concursos que ocorriam
outrora para professor auxiliar, a partir dos anos 2010, passam a ser,
em sua maioria, para professor Adjunto e isso teve impacto direto
na produção científica com o aumento dos trabalhos apresentados
nos eventos de Iniciação Científica e da Pós-Graduação na própria
Universidade, nas monografias construídas para término do curso da
Graduação, na manutenção das Revistas Científicas (Revista da Casa
//58

da Geografia, Revista Essentia, Revista Homem, Espaço e Tempo,


Revista Historiar e Revista Helius) diante dos parâmetros atuais de
qualificação e produtividade científica.
Da década de 1990 até o presente, a extensão universitária
sai de uma concepção tradicional, pouco articulada com o ensino e
a pesquisa, e considerada assistencialista, para uma visão mais pro-
cessual, de atos mais pedagógicos que combatem o assistencialismo,
e buscam articular a Universidade com as demandas sociais que re-
percutem nas ações da extensão expressas em programas, projetos,
cursos e eventos (SILVA, 2013).
A Pró-Reitoria de Extensão foi criada somente em 1988 e
assumia naquele momento a denominação de Pró-Reitoria de Ex-
tensão e Pesquisa. Os trabalhos de extensão contaram inicialmen-
te com figuras experientes como os Professores Benedito Genésio e
Osmar Fonteles. Era perceptível o esforço aglutinador nos idos de
1995, com trabalhos desenvolvidos junto as comunidades, contando
para isso com experiências acumuladas.
O Reitor Prof. José Teodoro Soares registrou em artigo re-
ferente às ações de extensão em sua primeira gestão (1990-1994), o
grande número de eventos, totalizando 300. Como mantenedora
do Museu Dom José, a UVA desempenha, desde 1987, papel impor-
tante na preservação e uso desse patrimônio, um compromisso que
a instituição vem cumprindo com êxito em conexão com a extensão.
Hoje a Universidade conta com uma participação mais equilibrada
em atividades de extensão, conforme pode ser verificada na tabela 1.
//59

Tabela 1 - Ações de Extensão por tipo de Atividade realizadas de 2016 a 2018.

Ação de Extensão 2016 2017 2018


Programas 8 3 16
Projeto 22 10 11
Cursos 34 24 45
Eventos 61 76 75
Prestação de serviço 15 10 7
Total 140 123 154
Fonte: Relatórios de Desempenho de Gestão - 2016, 2017, 2018.

A Pró-Reitoria registrou no VII Encontro de Extensão e


Cultura, no ano de 2018, 240 inscrições e um total de 224 traba-
lhos aprovados e apresentados, sendo o segundo evento com agenda
anual de maior apresentação de trabalhos, depois do Encontro de
Iniciação Cientifica conforme detalharemos mais a frente.
Quanto aos egressos que responderam o questionário da
pesquisa, quando indagados sobre a exigência e as atividades rea-
lizadas durante o curso, penso que o saldo é positivo. Nesse con-
texto, 84,95% participaram de atividades diversificadas que acabam
por contribuir para uma boa formação, podendo ser também vista
como característica marcante das universidades públicas. Dos 1.488
egressos respondentes, 51,01% vivenciaram a Pesquisa Cientifica,
47,45% fizeram estágio extracurricular. Já a Extensão aparece como
prática para 44, 69% e monitoria 38,71%. (Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6).
Essas tabelas também revelam como o egresso analisa a exigência do
Curso no processo de formação, pelo menos 36,09% asseveram que
foram exigidos na medida certa.
//60

Tabela 2 - Exigência do Curso em atividades além do Ensino – Pesquisa

Não participou
Pesquisa de atividades
Exigência do curso Total
Científica de Pesquisa
Científica
Deveria ter exigido muito
14,38% 16,06% 30,44%
mais de você
Deveria ter exigido um
16,26% 15,46% 31,72%
pouco mais de você
Exigiu de você na medida
19,89% 16,20% 36,09%
certa
Poderia ter exigido muito
0,13% 0,60% 0,74%
menos de você
Poderia ter exigido um
0,34% 0,67% 1,01%
pouco menos de você
Total 51,01% 48,99% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha

Tabela 3 - Exigência do Curso em atividades além do Ensino – Estágio Extracurricular

Não participou
Estágio extra- de atividades
Exigência do curso Total
curricular de Estágio
extracurricular
Deveria ter exigido
13,44% 17,00% 30,44%
muito mais de você
Deveria ter exigido um
16,47% 15,26% 31,72%
pouco mais de você
Exigiu de você na
16,80% 19,29% 36,09%
medida certa
//61

Poderia ter exigido


0,27% 0,47% 0,74%
muito menos de você
Poderia ter exigido um
0,47% 0,54% 1,01%
pouco menos de você
Total 47,45% 52,55% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha

Tabela 4 - Exigência do Curso em atividades além do Ensino – Extensão


Não participou
Exigência do curso Extensão de atividades de Total
Extensão
Deveria ter exigido muito
12,63% 17,81% 30,44%
mais de você
Deveria ter exigido um
14,58% 17,14% 31,72%
pouco mais de você
Exigiu de você na medida
16,80% 19,29% 36,09%
certa
Poderia ter exigido muito
0,40% 0,34% 0,74%
menos de você
Poderia ter exigido um
0,27% 0,74% 1,01%
pouco menos de você
Total 44,69% 55,31% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha
//62

Tabela 5- Exigência do Curso em atividades além do Ensino – Monitoria


Não participou
Exigência do curso Monitoria de atividades de Total
Monitoria
Deveria ter exigido muito
11,49% 18,95% 30,44%
mais de você
Deveria ter exigido um
13,24% 18,48% 31,72%
pouco mais de você
Exigiu de você na medida
13,37% 22,72% 36,09%
certa
Poderia ter exigido muito
0,20% 0,54% 0,74%
menos de você
Poderia ter exigido um
0,40% 0,60% 1,01%
pouco menos de você
Total 38,71% 61,29% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha

Tabela 6 - Exigência do Curso em atividades além do Ensino – Pesquisa Cientifi-


ca, Monitoria, Extensão e Estágio Extracurricular

Pesquisa Científica, Não participou


Exigência do Monitoria, de nenhuma
Total
curso Extensão ou Estágio atividade dessas 4
extracurricular possiblidades
Deveria ter
exigido muito 23,92% 6,52% 30,44%
mais de você
Deveria ter
exigido um pouco 27,28% 4,44% 31,72%
mais de você
Exigiu de você na
32,39% 3,70% 36,09%
medida certa
//63

Poderia ter
exigido muito 0,60% 0,13% 0,74%
menos de você
Poderia ter
exigido um pouco 0,74% 0,27% 1,01%
menos de você
Total 84,95% 15,05% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha

A pesquisa, como o outro pilar da Universidade, teve suas


primeiras Bolsas de Iniciação Científica concedidas, ainda nos anos
1990, pela recém-criada FUNCAP26, sendo implantadas através do
desenvolvimento de Projetos coordenados por professores doutores
aposentados da Universidade Federal do Ceará - UFC, que vieram
para a UVA como visitantes. Ressalta-se o trabalho precursor dos
professores José Vitorino de Souza e João Ambrósio de Araújo que se
tornaram professores titulares e que desenvolveram projetos de pes-
quisas, juntamente com professores recém-ingressos na UVA, aju-
dando a formar o grupo dos primeiros alunos bolsistas. Esse registro
visa apenas marcar o pioneirismo dos dois professores que iniciaram
projetos com bolsas de Iniciação Científica, sem desprestigiar a ação
de outros professores doutores aposentados com vasta experiência
em pesquisa que também ajudaram na construção do tripé - Ensino,
Pesquisa e Extensão.
O desenvolvimento da pesquisa vai tornando a UVA um
espaço cada vez mais reconhecido pela produção de conhecimen-

26  A FUNCAP foi criada pela Lei nº 11.752, de 12 de novembro de 1990.


//64

to científico, sendo imperativa a divulgação dos seus resultados nos


meios acadêmicos, surgindo assim três iniciativas de fôlego. A pri-
meira refere-se à implantação das Edições UVA, em 1997, que via-
bilizou a publicação de livros de diferentes áreas do conhecimento.
A segunda iniciativa foi a Semana de Iniciação Científica, evento
iniciado em 1998 com 14 trabalhos enviados e apresentados, sendo
12 trabalhos das Ciências Agrárias e Biológicas, e dois das Ciências
Humanas. O evento passou ser realizado anualmente e, em 2018,
na sua vigésima edição, obteve um total de 771 participantes e 431
trabalhos aprovados e apresentados. A terceira iniciativa foi marcada
pela idealização da Revista Científica da Casa da Geografia de So-
bral, com o primeiro número lançado em 1999, sendo a primeira
revista na área da Geografia, no âmbito das universidades cearenses.
A organização da Iniciação Cientifica é de responsabilida-
de da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PRPPG, criada,
oficialmente, em 2002 e reestruturada em 2005. O Programa de
Iniciação Científica foi estruturado em 2006, passando a receber as
cotas institucionais que oscilam de acordo com os relatórios do En-
contro de Iniciação Científica, enviados para as agências de fomen-
to. É possível identificar a partir da tabela 3, a evolução e variação
do número de bolsas de Iniciação Científica no período de 2006 a
2018, dentro dos respectivos programas.
//65

Tabela 7 - Bolsas de Iniciação Científica na Universidade Estadual Vale do Aca-


raú - UVA (2006-2018).

 BPI PIC/
Progra- PIBIC/ AF/ PIBITI/ BICT/
FUN- PBU Total
mas CNPQ CNPQ CNPQ FUNCAP
CAP UVA
2006 20 56 76

2007 20 - - 56 - 76

2008 25 - - 56 - 81

2009 30 - - 56 - 86
2010 40 07 07 39 11 17 121
2011 43 07 10 40 11 15 126
2012 45 -------- 13 40 17 13 135

2013 45 13 40 17 20 135

2014 48 13 43 * 24 128

2015 48 13 48 * 29 138

2016 48 13 46 * 20 127
2017 48 --------- 11 35 * 41 135
2018 50 11 50 36 37 184
Fonte:  Pesquisa intitulada: “A inserção sócioterritorial da UVA no seu contexto atual.” (2018)
* Dados disponibilizados pela PRPPG. Organização dos dados: Virgínia Holanda

A pesquisa como alicerce da Universidade deve envolver


todos os acadêmicos, de modo a garantir uma formação plena e,
dessa maneira, todos foram inseridos, depois de 2005, de forma efe-
tiva nos métodos de pesquisa científica, a partir da implementação
do Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, quando da reformu-
//66

lação dos Projetos Políticos Pedagógicos de todos os cursos de gra-


duação. Mas as repercussões dos Projetos Políticos Pedagógicos dos
Cursos são perceptíveis em todas as atividades desenvolvidas no cur-
so, pois, para 58,60% dos egressos respondentes que participaram
das 4 (quatro) possibilidades de atividades durante o curso a saber:
pesquisa, estágio extracurricular, extensão e monitoria, essas experi-
ências formativas os desafiaram a aprofundar conhecimentos e os
ajudaram a desenvolver competências reflexivas e críticas.

Tabela 8- atividades além do ensino desenvolvidas durante o curso e seus sig-


nificados para formação (Pesquisa Científica, Monitoria, Extensão ou Estágio
extracurricular)

Pesquisa Científica, Não participou


Significados Para Monitoria, de nenhuma
Total
Formação Extensão ou Estágio atividade dessas 4
extracurricular possiblidades
Aprendeu a trabalhar
3,63% 0,13% 3,76%
em equipe
Desafiaram você
a aprofundar
conhecimentos
58,60% 3,49% 62,10%
e desenvolver
competências
reflexivas e críticas
Não participei de
10,22% 9,54% 19,76%
atividades de pesquisa
Proporcionou
conhecimento em um 12,50% 1,88% 14,38%
assunto específico
Total 84,95% 15,05% 100,00%
Fonte: Pesquisa - A inserção socioterritorial da UVA no seu contexto de atuação
(2018). Organização da tabela: Fábio Cunha
//67

Nos anos de 1990, o Ensino como o outro tripé da Univer-


sidade passou também por transformações, melhorando a estrutura
com a informatização do Departamento de Ensino de Graduação
- DEG. Nesse momento, ocorreu também a organização do Centro
de Informática - CI/UVA, que, posteriormente, transformou-se no
Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI/UVA. Essa década foi
marcada, ainda, pela reorganização dos espaços acadêmicos com a
criação de laboratórios, gabinetes para professores, e também pela
implantação dos Campi no espaço urbano de Sobral: Campus do
Junco, Campus do Derby e Campus do Córrego.
O Campus do Junco ficava mais distante da Reitoria insta-
lada no Campus da Betânia. Ele surgiu com a implantação do Cur-
so de Geografia, em 1995, e ficou marcado na memória de muitos
como a Casa da Geografia de Sobral, tendo em vista que funcionava
ali apenas o Curso de Geografia. O Centro de Ciências Humanas -
CCH foi criado oficialmente em 1999, de maneira que o Campus
do Junco passou a abrigar o Curso de História que já tinha longa
existência na Instituição e o Curso de Ciências Sociais que teve sua
primeira turma iniciada em 1998.
O Campus do Derby foi criado em 1995 e acolheu o Cen-
tro de Ciências da Saúde - CCS, nele se estabelecendo dois cursos
já consolidados na Instituição: Enfermagem e Educação Física. O
primeiro tem suas raízes assentadas na Faculdade de Obstetrícia de
Sobral criada em 1971. Já o Curso de Educação Física iniciou suas
atividades em 1986, vinculado à Faculdade de Enfermagem.
O Campus do Córrego, situado no bairro Alto da Brasília
acolhia o Centro de Educação, institucionalizado na década de 1990
//68

e abrigava o Curso de Pedagogia, criado em 1979. Esse curso teve


durante muito tempo seu funcionamento solitário. O Campus do
Córrego era contíguo ao Centro de Atenção Integral a Criança e o
Adolescente - CAIC, funcionando dentro de uma filosofia de for-
mação integrada, com modelo de formação próximo das chamadas
“escola de aplicação”. Em 2002, o Campus do Córrego foi desativado
e o Curso de Pedagogia foi transferido para o recém-criado Campus
CIDAO, onde funcionava o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia
- CCET com os cursos de Ciências da Computação, Física, Mate-
mática, Química e Tecnologia da Construção Civil. Nesse contexto,
o Centro de Educação e o Curso de Pedagogia ficaram descolados
dos demais Cursos de Humanidades, sendo deslocado mais uma vez
para fazer parte do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA,
juntamente com o Curso de Ciências Contábeis. Somente em 2011,
o Curso de Pedagogia passou a integrar a estrutura do Centro de
Filosofia, Letras e Educação - CENFLE, passando a funcionar no
Campus da Betânia.
No Campus da Betânia27, onde se encontra a Reitoria, além
do CENFLE, abriga o Centro de Ciências Agrárias e Biológicas -
CCAB, com os cursos de Biologia, Zootecnia e o Centro de Ciên-
cias Sociais Aplicadas (CCSA), aglutinando os Cursos de Ciências
Contábeis, Administração de Empresas e Direito. Encontram-se

27  Vale ressaltar que o Campus da Betânia, desde a fundação da UVA, em 1968,
pertence à Diocese de Sobral, de maneira que ainda hoje a Universidade não tem
uma sede própria. Em 2019, o Governo do Estado do Ceará, por meio do De-
creto nº 33.281, de 23/09/2019, declarou o imóvel de utilidade pública para fins
de, porém, devido a posição contrária da Diocese de Sobral referente à venda do
imóvel, o referido decreto foi revogado pelo Decreto nº 33.363, de 18/11/2019.
//69

instalados no Campus Betânia os órgãos de Direção Superior (Rei-


toria e Pró-Reitorias), os órgãos de Assessoramento e de Represen-
tação Judicial (Cerimonial, Assessoria de Comunicação e Marketing
Institucional e Assessoria Jurídica) e os órgãos de Execução Instru-
mental, Departamento de Ensino de Graduação e Administrativo-
-Financeiro e suas unidades administrativas. Estão instalados ainda
nesse Campus, a Biblioteca Central, Auditório Central, Núcleo de
Línguas Estrangeiras - NUCLE, Prefeitura, Salão de Atos, a Capela
do Preciosíssimo Sangue e, mais recentemente, o Restaurante Uni-
versitário.
Os cursos de graduação hoje são 13 de bacharelado, 12 de
licenciaturas e um tecnológico totalizando 26 cursos, assim distri-
buídos no ano de 2018: Campus da Betânia 4.387 alunos, Campus
CIDAO 2.375 alunos, Campus do Junco 1.345 e Campus do Derby
895 alunos, totalizando 9.002 acadêmicos.
As licenciaturas que sempre tiveram grande expressão na
Instituição e impacto na formação de professores, tiveram em anos
recentes o incentivo de programas nacionais de apoio a formação
de licenciados em cursos regulares com destaque para o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência  - PIBID e Programa
da Residência Pedagógica - PRP que, no ano de 2018, envolveram
cerca 434 bolsas, 200 bolsitas PIBID e 234 bolsista RP. Como o
investimento desses programas, a Universidade teve a oportunidade
de avançar na formação de profissionais diferenciados pela passagem
em programa de iniciação à docência.
Com um quadro mais qualificado de professores pesqui-
sadores, a UVA tem formado alunos aptos a ingressar na pós-gra-
//70

duação em diferentes IES, bem como tem empreendido o esforço


de ampliar sua pós-graduação stricto sensu. Contudo, é preciso que
hajam estratégias mais céleres que ajudem a expandir os cursos de
mestrado e doutorado na instituição. O que se verifica é um espa-
çamento temporal entre a criação de um curso e outro. O primeiro
curso foi o Mestrado Acadêmico em Zootecnia, criado em 2005, o
segundo só veio surgir sete anos depois com a criação do Mestrado
Acadêmico em Geografia em 2012, e perdurou mais oito anos para
a criação do Mestrado Acadêmico em Filosofia em 2019.
Além dos mestrados acadêmicos, a UVA oferta o Mestrado
Profissional em Saúde da Família - MPSF, desde 2012, curso inte-
grante da Rede Nordeste em Formação em Saúde da Família - RE-
NASF, e recentemente, aprovou também o doutorado pela mesma
rede, porém, não assegurando a formação de um programa acadê-
mico próprio. Também é recente a criação do Mestrado Profissional
de Sociologia - PROFSOCIO, articulado em rede com outras 17
Instituições, tendo as atividades iniciadas em 2018.

4. Considerações Finais
Embora bem avaliada pelos egressos no que consiste a qua-
lidade de formação ancorada no tripé que sustentam a Universidade:
Ensino, Pesquisa e Extensão, seu jubileu merece uma autoavaliação,
para se pensar o presente e o futuro.
A UVA merece um debate no que consiste a construção
de sua identidade, tendo em vista que cada IES deve se perguntar
qual a sua missão efetiva? Definindo os caminhos para se consolidar
//71

nessa missão. Enquanto a URCA e a UECE, conseguiram manter os


Campi existentes e ampliaram sua atuação por outros territórios do
estado com ofertas de graduação gratuitas e regulares, a UVA perma-
nece com Campi restritos ao espaço urbano de Sobral.
São catorze anos sem criação de um novo curso, apregoa
uma vocação para formação de professores, mas não consegue dizer
o que faz a UVA ser diferente nessa perspectiva. Não ampliou sua
pós-graduação stricto sensu num mesmo ritmo em que ampliou o
quadro mais qualificado, por isso talvez veja encolher sua procura
com a chegada de outras Instituições de Ensino Superior em So-
bral. Seu quadro administrativo durante muito tempo reproduziu
uma estrutura de Gestão amparada em relações muito enraizadas
pela força de uma elite local que atuava nela como símbolo de status,
fazendo sofrer de certa atrofia pela qual não passou nem a URCA e,
nem a UECE, que permite maior alternância de grupos.
A pesquisa e a extensão embora tenham passado por mu-
danças significativas nos últimos vinte anos, o número de alunos
contemplados com bolsas, ocorreu num ritmo em termos propor-
cionais menores que as demais estaduais do Ceará. Necessitando
urgentemente de um bom debate sobre tais questões que colocam
a UVA sempre num quadro de desvantagens quando o assunto é
aporte de recurso.
//72

Referências bibliográficas
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MONT’ALVERNE. Glória G. S.; ALBUQUERQUE, Izabelle M.
N. (Orgs.). Cinquentenário da Universidade Estadual Vale do
Acaraú 1968-2018. Sobral: Edições UVA, 2018.

CEARÁ. Lei nº 12.077-A, de 01 de março de 1993 (D.O. de 22


de abril de 1993). Cria a Secretaria da Ciência e Tecnologia - SE-
CITECE e dá outras providências.

GOMES, Gonçalo de P. UVA e Diocese. In: MONT’ALVERNE.


Glória G. S.; ALBUQUERQUE, Izabelle M. N. (Orgs.). Cin-
quentenário da Universidade Estadual Vale do Acaraú 1968-
2018. Sobral: Edições UVA, 2018.

HOLANDA, Virgínia C. C. de. O ensino superior e o desenvol-


vimento urbano-regional. Relatório da Pesquisa, 2019.

SANTOS, B. de S. A universidade no século XXI: para uma re-


forma democrática e emancipatória da Universidade. São Paulo:
Cortez., 2010.

SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O ensino superior público e


particular e o território brasileiro. Brasília: ABMES, 2000.

SANTOS, M; A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e


emoção. 4 ed. São Paulo: EdUSP, 2002.

SCHWARTZMAN, Simon. (Org.). A educação superior na


América Latina e os desafios do século XXI. Campinas, SP:
UNICAMP, 2014.
//73

SILVA, Rejane M. G. de. A contribuição da extensão para a


formação dos universitários na Universidade Estadual Vale do
Acaraú – UVA, no período de 2009 a 2013. 2013. 173 f. Tese
(Doctorado em Ciências de la Educación), Universidad Autónoma
de Asunción. Asunción/Paraguay, 2013.

SOARES, José Teodoro. Ensaio sobre o ensino superior em So-


bral. Fortaleza: Edições Gráfica três irmãos, 2005.
//74

PERFIL DOS EGRESSOS DA UVA

Rejane Maria Gomes da Silva28


Adriana Campani29

1. Introdução
No ano de 2018 em que a Universidade Estadual Vale do
Acaraú completou seus 50 anos de existência, um grupo de profes-
sores realizou a pesquisa intitulada: “A inserção socioterritorial da
UVA no seu contexto de atuação”, considerando a missão da Insti-
tuição: “Ofertar ensino superior de excelência, de forma inclusiva,
flexível e contextualizada, e buscar, por meio da pesquisa e extensão,
soluções que promovam a qualidade de vida” (UVA, 2018-2022, p.
124). A pesquisa identificou os impactos de atuação da Universida-
de no período de 2008 a 2018 junto aos egressos que responderam
voluntariamente ao questionário enviado. Portanto, faz-se necessá-
rio analisar o perfil do egresso nesse período para compreendermos
como se efetiva a inserção da UVA e sua contribuição para o desen-
volvimento dos municípios emissores de alunos para Sobral.
Conhecer o perfil dos seus egressos é fundamental para que
a Universidade possa avaliar os impactos provocados por suas ações
de formação, bem como identificar os aspectos e áreas que precisam
ser trabalhadas, de forma a atender as demandas e expectativas dos

28  Professora Adjunta do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
29  Professora Associada do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
//75

cidadãos residentes no Noroeste cearense onde a Instituição está in-


serida.
Corroborando com essa perspectiva, Machado (2010) afir-
ma que conhecer o perfil dos egressos é importante para as univer-
sidades buscarem fomentar ações que possam garantir a permanên-
cia dos alunos. Outro aspecto importante é a contribuição para o
processo avaliativo tanto ao nível institucional como também para
os cursos de graduação que em seus Projetos Pedagógicos de Curso
(PPC’s), precisam definir nos objetivos, o perfil esperado do gradu-
ado ao término de sua formação, conforme as recomendações das
diretrizes curriculares nacionais e institucionais.

Nesse contexto a pesquisa teve por objetivo geral de revelar


a inserção socioterritorial da UVA e as contribuições ao processo
de empoderamento dos sujeitos sociais no Noroeste do estado do
Ceará, parte integrante do semiárido nordestino. Desta forma, nos-
so percurso metodológico foi organizado em dois eixos: a) recorte
temporal e b) as relações estabelecidas, grupos e agentes envolvidos.
A pesquisa é de abordagem quali-quantitativa. Os dados quantita-
tivos foram analisados qualitativamente, com vista a interpretar a
realidade encontrada. Nossa contribuição está centrada no perfil do
egresso que foi identificado por meio da aplicação de um questio-
nário com 24 perguntas, enviado pela Assessoria de Comunicação e
Maketing Institucional – ACMI/UVA para o E-mail dos egressos no
dia 20/07/2018, com link via google drive, disponibilizada no pe-
ríodo de 20/07/2018 a 06/08/2018. Responderam ao questionário
1.488 egressos, o que constituiu a amostra. Margem de erro, 2,6%.
//76

Os dados foram analisados estatisticamente e os resultados apresen-


tam as características do perfil pessoal, acadêmico e profissional dos
egressos.

2. Apresentação e análise dos dados


A seguir são apresentados os dados coletados na pesquisa,
relativa ao perfil dos egressos da UVA do período de 2008 a 2018.
Em relação ao gênero, verificou-se que: 54,37% são mulheres e
45,63% homens. Este dado vai ao encontro da média nacional que
constata a predominância de matrícula do sexo feminino nas Insti-
tuições de Ensino Superior, principalmente nos cursos de licencia-
tura. Para o ano de 2018, o Censo de Educação Superior realizado
pelo Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira - INEP, registrou que a participação de matrículas nos cur-
sos de graduação em licenciatura era de 78,3% de mulheres, contra
apenas 28,7% de homens. No caso da UVA, o percentual também
está ancorado na oferta maior de cursos de licenciaturas. A Insti-
tuição resguarda uma tradição na formação de professores, o que
permite um predomínio no número de profissionais que atuam na
rede da Educação Básica no Noroeste cearense.
Mas é importante destacar que nessa parte do território
cearense a UVA é pioneira na formação de profissionais na mo-
dalidade, bacharelado, em cursos como os de Zootecnia, Ciências
Contábeis, Direito, Educação Física, Enfermagem, Administração
de Empresa, Geografia, Engenharia Civil, dentre outros. É comum
encontrar graduados da UVA atuando como profissionais liberais,
//77

no terceiro setor, na gestão pública e na iniciativa privada, nos cerca


de 55 municípios emissores de universitários para Sobral.
No tocante ao estado civil dos egressos, conforme Tabela 1,
dos respondentes 61,36% são solteiros e 33,47% casados seguidos
por separados 2,53%, união estável, 0,07%, viúvo, 0,27% e outros
1,97%. Os percentuais apresentam número maior de solteiros po-
dendo ser explicado pela média de idade dos que ingressam na UVA,
concentrada na faixa etária entre 18 e 23 anos, seguindo a tendência
nacional que depois de 2003, registrou crescimento de ingresso da
população em idade universitária nesse nível de ensino. Nesse senti-
do a Universidade reafirma sua importância na formação de recursos
humanos para o desenvolvimento dos territórios de atuação da UVA
no estado do Ceará.

Tabela 1 - Estado civil dos egressos da UVA participantes da pesquisa.


Estado Civil Nº de participantes %
Solteiro (a) 913 61,36
Casado (a) 497 33,40
Separado (a) judicialmente/divorciado (a), 26 1,75
União estável 13 0,87
Viúvo(a) 4 0,27
Outros 35 2,35
Total 1488 100,00
Fonte: Dados da pesquisa
//78

No que consiste ao quesito, cor/raça/etnia, consta-se que a


maioria dos respondentes se autodeclara parda com 55,4%; 32,39%,
branca; 8,20%, preta; 1,95%, amarela; 0,40% indígena e, 2,02%
não declararam conforme a tabela 2. Esse predomínio está acima
da média nacional dos matriculados no ensino superior público em
2018. Segundo o INEP (2018), o universo era de 50,3% somando
os que se autodeclaram pretos e pardos (IBGE, 2019). No caso da
UVA, os autodeclarados pretos e pardos representam 63,24% do
número de egressos respondentes.

Tabela 2 – Percentual dos egressos participantes da pesquisa, por cor/raça/etnia.


Cor Nº de participantes %
Parda 819 55,04
Branca 482 32,39
Preta 122 8,20
Não quero declarar 30 2,02
Amarela 29 1,95
Indígena 6 0,40
Total 1488 100
Fonte: Dados da pesquisa

3. Perfil Acadêmico dos Egressos da UVA


O perfil acadêmico dos egressos, de acordo com a distri-
buição dos respondentes por curso ofertado, apresentados na tabela
3, mostra a relação dos cursos ofertados pela Instituição e a distri-
buição dentre os vinte e três cursos em funcionamento no período
de 2008 a 2018 definido pela pesquisa. O curso que apresentou o
maior número de respondentes foi o de Pedagogia com 143 partici-
//79

pantes, Ciências Contábeis (113), Letras (109), Enfermagem (105),


e Zootecnia (99).

Tabela 3 - Percentual e estrato dos egressos participantes da pesquisa por Curso


Número de partic-
Curso %
ipantes
Administração 88, 5,91
Ciências biológicas 123 8,26
Ciências contábeis 113 7,59
Ciências da computação 47 3,16
Ciências sociais 54 3,63
Direito 85 5,71
Educação física 66 4,44
Enfermagem 105 7,06
Engenharia civil 63 4,23
Filosofia 54 3,63
Física 35 2,35
Geografia 76 5,11
História 69 4,64
Letras 109 7,33
Matemática 73 4,91
Pedagogia 143 9,61
Química 38 2,55
Tecnologia em construção de edifícios 16 1,08
Zootecnia 99 6,65
Outros 32 2,15
Total 1.488 100
Fonte: Dados da pesquisa
//80

Em relação aos Centros, o de Filosofia, Letras e Educação -


CENFLE, teve o maior número de participantes seguidos do Centro
de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA e Centro de Ciências Exatas
e Tecnologia – CCET, conforme tabela 4. Outro destaque que pre-
cisamos fazer em relação a esses números dizem respeito aos cursos
de licenciatura que apresentam um número maior de respondentes,
tendo em vista que dos cursos ofertados, doze são de licenciatura.
Isso vem reafirmar o exposto na visão de futuro posta no Plano de
Desenvolvimento Institucional da UVA (2018-2022. p. 124), “ser
reconhecida por sua competência na formação de professores para a
educação básica.”.

Tabela 4 - Percentual, por Centro, dos egressos participantes da pesquisa.


Centro Número de participantes %
CENFLE 306 20,56

CCSA 286 19,22

CCET 271 18,21

CCS 171 11,49

CCAB 223 14,99

CCH 199 13,37

Outros 32 2,15

Total 1.488 100


Fonte: Dados da pesquisa

s cursos oferecidos pela UVA têm duração entre 4 e 5


O
anos e a maioria dos alunos consegue concluir sua formação no pe-
//81

ríodo estipulado pelo Projeto Pedagógico do Curso - PPC, talvez


pelo fato de entrarem já decidido pelo curso para o qual ingressaram,
situação constatada quando se analisa as razões de opção pelo curso.
Dentre as razões que motivaram a escolha, a vocação vem em pri-
meiro lugar com 40,19%; as perspectivas de empregabilidade repre-
sentam 28,90%; a obtenção de um diploma de nível superior com
8,87% conforme pode ser observado na tabela 5. Chama atenção o
número de jovens vocacionados para exercer a profissão e identifica-
dos com a UVA na escolha de formação.

Tabela 5 – Egressos participantes da pesquisa, por motivo da escolha do curso.


Motivo de escolha do curso Nº de
%
participantes
Vocação 598 40.19
Perspectiva de empregabilidade 430 28,90
A obtenção de diploma de nível superior 132 8.87
Ingressar no serviço público 117 7.86
Melhores perspectivas de ganhos materiais 79 5.31
Outros 68 4.57
O número de concorrentes ser menor no ves-
30 2.02
tibular
Imposição de membros da família 21 1.41
Prestígio Social 13 0.87
Total 1.488 100
Fonte: Dados da pesquisa

A escolha da Instituição para a formação superior está


atrelada a elementos tais como: condições de acesso para ingressar,
//82

qualidade de formação na área escolhida, distância do local de resi-


dência, referência dada por conhecidos, gratuidade, dentre outros.
A gratuidade foi apontada por 45,36% como a razão de escolha da
UVA, seguido da qualidade/credibilidade com 21,37%. A proximi-
dade com a residência ficou com 17,88%. O fato de ser pública
e gratuita também tem peso na sua indicação para outras pessoas,
pois, 45,36% afirmaram que indicariam a Instituição para familiares
e amigos, enquanto outros 20,66% a indicaria pela qualidade e cre-
dibilidade (Tabela 6).

Tabela 6 – Egressos participantes da pesquisa pela razão de escolha pela UVA


como Instituição de formação

Motivo de escolha da UVA Não Sim Total (%)


Gratuidade 2,35 43,01 45,36
Qualidade/credibilidade 21,37 21,37
Proximidade da minha residência 0,87 17,00 17,88
Única que oferecia o curso de graduação 0,27 4,97
5,24
desejado
Facilidade de acesso 0,27 5,24 5,51
Recomendação de amigos e/ou família - 2,69 2,69
Proximidade do meu trabalho - 0,27 0,27
Outros 0,17 1,68 1,68
Total (%) 3,82 96,18 100,00
Fonte: Dados da pesquisa

Esses indicadores demonstram o significado e importância


da UVA para seus territórios de atuação, tendo em vista que esses as-
pectos são fundamentais para a garantia do ensino superior público
//83

aos estudantes devido sua condição socioeconômica e impossibilida-


de de cursar uma graduação em outros centros.
A apreensão para os que ingressam no ensino superior, en-
volve as questões: Como será o futuro profissional? A formação está
sendo adequada às exigências do mercado? Por que se fala tanto de
formação contextualizada e continuada? Dentre tantas outras. Nessa
perspectiva o grau de exigência e as atividades desenvolvidas durante
o curso foi considerada na medida certa para 37,48% dos egressos.
31,50% opinaram que deveria ter exigido um pouco mais, o que
pode significar que as expectativas de formação em níveis gerais fo-
ram atendidas. Este aspecto é muito importante para o processo de
avaliação institucional que precisa sempre recorrer à análise da satis-
fação dos seus egressos.

4. Perfil socioeconômico/ profissional


Com a finalidade de conhecer a renda salarial média dos
egressos, foi elaborada uma questão acerca do rendimento, apresen-
tando opções por faixas de valores, onde 9,68% declararam que não
possuem renda salarial fixa; 19,62% dos egressos respondentes reve-
laram que tem rendimento de R$ 954,00 a R$ 1.431,00; 47,38%
contam com renda acima de R$ 1.431,00 a R$ 4.293,00; 12,5%
declararam ter renda acima de R$ 4.293,00 a R$ 9.540,00. Apenas
3,5% possuíam renda superior a R$ 9.540,00 (Tabela 7).
//84

Tabela 7 - Renda salarial dos egressos da UVA participantes da pesquisa

Renda Nº de participantes %
Não tem renda salarial 144 9,68
Até R$ 954,00 109 7,32
Acima de R$ 954,00 a R$ 1,431,00 292 19,62
Acima de 1,431,00 até R$ 2,862,00 412 27,69
Acima de R$ 2,862,00 a R$ 4,293,00 293 19,69
Acima de R$ 4,293,00 a 5,724,00 112 7,53
Acima de R$ 5,724,00 até RS 9,540,00 74 4,97
Acima de R$ 9,540,00 a R$ 14,310 37 2,49
Acima R$ 14,310,00 a R$ 19,080,00 7 0,47
Acima de R$ 19,080,00 8 0,54
Total 1.488 100,00
Fonte: Dados da pesquisa

Em relação à situação de ocupação, 32,62% trabalham ex-


clusivamente na área do curso em que se graduou e apenas 13,53%
não está atuando na área de formação. Este indicador nos permite
inferir que os cursos ofertados pela UVA têm atendido às demandas
advindas da sociedade. Outro fator que referenda a afirmação ante-
rior é que 60,47% ao sair da Universidade já estavam inseridos em
algum tipo de atividade profissional, situação que demonstra que os
cursos ofertados estão alinhados à demanda regional. Outra infor-
mação relevante é que 29,37% dos egressos são concursados, atuan-
do no serviço público. O tempo médio global de inserção no mer-
cado de trabalho tem ocorrido no intervalo de até dois anos. Dentre
os que ainda não se inseriram no mercado de trabalho, constatou-se
um percentual de 14,37% de maneira que a pesquisa não conseguiu
identificar as razões pelas quais não estão trabalhando.
//85

5. Considerações Finais
A UVA ao ofertar o ensino superior junto aos 55 muni-
cípios nos territórios de atuação de Sobral, contribui de forma sig-
nificativa para o desenvolvimento desses territórios, sobretudo por
oportunizar o ingresso ao ensino superior gratuito e de qualidade.
Os dados levantados demostraram que os conhecimentos e as com-
petências desenvolvidas nos cursos proporcionaram uma formação
reflexiva e crítica para os egressos que destacaram a Universidade
como satisfatória, resultados que reafirmam a contribuição positiva
da Instituição.
Quanto ao perfil socioeconômico e profissional, os egressos
consideram a formação como fator importante para sua entrada no
mercado de trabalho. Ressalta-se que existe um número significativo
de concursados e esse fato pode ser analisado diante da realidade de
nossos municípios onde o maior empregador de profissionais é a
gestão pública municipal, principalmente nas áreas de educação e
saúde. A maioria dos egressos trabalha na área do curso escolhido e
muitos estão inseridos no mercado de trabalho antes da conclusão
do curso de graduação.
Conhecer o perfil dos egressos se faz importante, na me-
dida em que essas informações podem servir de instrumento para a
avaliação e planejamento das ações da UVA, permitindo o cumpri-
mento da sua missão de fortalecer o desenvolvimento do território
alinhado às demandas da sociedade.
A Pesquisa demonstrou que a gratuidade, a credibilidade
acadêmica e a proximidade com a residência, foram os principais
motivos que levaram os egressos a escolherem a UVA. Dos cursos de
//86

graduação, as licenciaturas se destacam com maior número de egres-


sos, reafirmando sua relevância social na formação de professores
para a educação básica. Os egressos afirmaram que a UVA teve o ri-
gor acadêmico na medida certa, embora uma quantidade expressiva
apontou que a mesma poderia ter exigido mais. Isso acena à neces-
sidade de a Universidade refletir sobre os projetos dos seus cursos de
graduação e trabalhos pedagógicos nos processos formativos.
Para finalizar, espera-se que os resultados aqui apresenta-
dos possam contribuir para a criação de um programa de acompa-
nhamento dos egressos, tendo em vista considerarmos esses dados
importantes para o processo de avaliação e reflexão acerca das ações
por nós, desenvolvidas enquanto Instituição pública comprometida
com a sociedade.

Referências bibliográficas
MACHADO, Geraldo Ribas. Perfil do egresso da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. 337 f. 2010. Tese (Doutorado
em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação. Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
le/10183/24186/000744974.pdf?sequence=1>. Acesso em: 18 jun.
2018.

MEC. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais


Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior: Sinopse Estatística
– 2018. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/censosu-
perior/sinopse/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2020.
_____. Censo da Educação Superior 2017. 2. Resumo Técnico.
//87

Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais


Anísio Teixeira, 2018.

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ. Relatório


de Desempenho da Gestão 2018. Sobral: Ed. UVA, 2019.

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, Plano de


Desenvolvimento Institucional da Universidade Estadual Vale
do Acaraú (2018-2022). Disponível em: <http://www.uvanet.br/
documentos/PDI_2018_2022_v03.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2020.

Site consultado:

<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_infor-
mativo.pdf>.
//88

A INSERÇÃO PROFISSIONAL DOS


EGRESSOS DA UVA
Luiz Antônio Araújo Gonçalves
Antônia Helaine Veras Rodrigues

1. Introdução
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a inser-
ção profissional dos egressos da UVA com base na análise dos dados
levantados pela pesquisa no período de 2008 a 2018. A primeira
parte apresenta as variáveis do questionário aplicado com os egressos
de maneira que as tabelas e gráficos constituíram recurso importante
para dispor os dados quantitativos coletados. A segunda parte visa
expressar a importância da formação universitária para a atuação dos
egressos em seus contextos laborais a partir das entrevistas realiza-
das com os mesmos e perceber em que medida estes conseguiram
retornar para os municípios de origem e ali atuarem na sua área de
formação.
A inquietação de Freire (1967) com a contribuição da edu-
cação para o desenvolvimento e democracia residia na promoção de
uma educação crítica e critiquizadora capaz de ofertar aos educandos
instrumentos capazes de dar respostas não somente ao desenvolvi-
mento econômico, mas a inserção popular nesse desenvolvimento.
De uma educação que possibilitasse inserir/discutir as problemáticas
postas e colocasse a educação a serviço de um projeto autêntico de
//89

nação. De uma educação que levasse as pessoas a uma nova postura


diante dos problemas de seu tempo e de seu espaço, ou seja, de anali-
sar a realidade a qual se depara e encontrar novos caminhos. Assim, o
desenvolvimento não deveria envolver apenas “[...] questões técnicas
ou de política puramente econômica ou de reformas de estruturas,
mas guardando em si, também, a passagem de uma para outra men-
talidade. A da adesão à necessidade das reformas profundas, como
fundamento para o desenvolvimento e este para a própria democra-
cia.” (FREIRE, 1967, p. 87).
Esse parece ser um preceito fundamental quando tratamos
da formação de sujeitos capazes de problematizar o seu espaço-tem-
po e ambicionamos que esse alinhamento também seja parte da for-
mação das Universidades brasileiras. Celso Furtado (1984, p. 56)
já afirmava que o traço específico da instituição universitária se en-
contra na “[...] combinação do trabalho produtor de conhecimento
com o de transformação desse conhecimento em instrumento de
ação posto a serviço da sociedade [...]”. Assim, a ideia de profissio-
nalização deve também está associada ao atendimento da demanda
socioeconômica, política e cultural dos territórios constituídos pela
pesquisa. O fluxo de estudantes universitários para Sobral delineou
territórios de atuação da UVA e com base nas trajetórias profissio-
nais dos egressos, suas idas e vindas associadas à formação universi-
tária obtida promoveu uma identidade territorial da instituição com
diversos municípios. Desse modo, conhecer um pouco mais sobre a
inserção profissional dos egressos constitui uma informação relevan-
te que pode ajudar a UVA a avaliar o cumprimento de sua missão
institucional.
//90

2. Atentando para a trajetória do egresso


O termo trajeto ou trajetória segundo o Dicionário Au-
rélio descreve o espaço que alguém, ou algo percorre para ir de um
lugar a outro. De modo específico para a pesquisa, visa descrever o
movimento realizado por pessoas egressas que contribuíram para a
construção da identidade territorial da UVA.
Ao tratar das escolhas profissionais e percursos de inser-
ção profissional, Cunha e Las Casas (2019) afirmam que o estudo
da temática dos egressos reúne várias dimensões do ensino superior
repondo questões como “[...] o ingresso, as escolhas profissionais de
partida, traz luz ao percurso e as trajetórias escolares ao elucidar o
fenômeno da evasão, os dilemas na orientação ao longo da formação
tal como as escolhas curriculares, indaga sobre a mobilidade social e
preferências de grupos, entre outros aspectos.” (P. 31).
Nesse sentido, o questionário da pesquisa levantou infor-
mações sobre os egressos com indicadores que detalharemos daqui a
diante. No que se refere à razão de sexo, verificamos que a maioria
dos formados pela UVA entre 2008 e 2018 é de mulheres com o
percentual de 54,37% e 45,63% de homens (Gráfico 1). A pesquisa
não alcançou as questões de gênero, primeiramente em razão da sé-
rie histórica dos registros dos egressos levantada junto à Instituição
e envio do questionário da pesquisa por E-mail para esse público, e
também pela ausência de dados referentes a identidade de gênero na
instituição.
Contudo, em razão do Conselho Estadu-
al de Educação do Ceará (CEE) já dispor de resolução
que orienta sobre a inclusão do nome social em documentos oficiais ex-
//91

pedidos por instituições de ensino e do Estado do Ceará dedicar uma Lei


específica que assegura o direito ao nome social respeitando a identi-
dade de gênero das pessoas transexuais e travestis, cabe à UVA avan-
çar no reconhecimento do nome social como ação afirmativa para
o conhecimento do público LGBTQI+ como corpos-territórios no
espaço acadêmico.
Desse modo, a relação de co-existência e co-presença desses
corpos no espaço universitário contribui para entendê-los como cor-
pos sociais e sendo território-corpo como define Haesbaert (2020)
também deve ajudar a identificar os conflitos que medeiam essa di-
nâmica e apontar caminhos de diálogo e respeito. Por enquanto,
estas pessoas permanecem invisíveis para as estatísticas da Universi-
dade que poderá incorporar a dimensão de gênero em estudos pos-
teriores.

Gráfico 1 – Frequência percentual dos egressos participantes da pesquisa, por


razão de sexo.

Fonte: Pesquisa Direta (2019).


//92

No que se refere ao estado civil e cor declarada, a tabela


1 aponta que, de modo geral, a maioria dos egressos é de solteiros
(61,36%) e desse percentual, a maioria (483) se declara de cor par-
da, seguidos de brancos, pretos, amarelos, indígenas e não declara-
dos. Os casados representam 33,40% do universo que respondeu ao
questionário, seguindo a mesma tendência de distribuição daqueles
que declaram sua cor. Vale ressaltar os percentuais menores relativos
ao estado civil dos egressos em que encontramos pessoas separadas
ou divorciadas, viúvos(as), em relações com união estável e em ou-
tros relacionamentos não tipificados pelos indicadores da pesquisa.
Schwartzman (2005) chama atenção para o problema de
equidade e os níveis de desigualdade que relacionam origens étnicas,
renda e oportunidades de instrução no Brasil. Com relação à cor
declarada, de modo geral, 55,04% dos respondentes se declararam
de cor parda, enquanto 32,39% de cor branca; 8,20% de cor preta;
1,95% de cor amarela; 0,40% de cor/etnia indígena e 2,02% não
declararam sua cor. De modo geral, as informações sobre estado civil
e cor declarada são relevantes quando tratamos de inserção profis-
sional haja vista o conjunto de aspectos do perfil dos egressos que
podem levar a contextos de fácil inserção no mundo do trabalho
ou obstáculos que devem ser identificados. A questão referente aos
vínculos familiares tem influência sobre a mobilidade da força de
trabalho, ou seja, da disposição do egresso, por exemplo, para migrar
por motivo de trabalho ou a permanecer em seu lugar de origem em
razão dos vínculos familiares.
//93

Tabela 1 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pelo estado civil e cor declarada

Não
Estado Civil Parda Branca Preta Amarela Indígena Total %
declarada
Solteiro(a) 483 311 86 19 10 4 913 61,36
Casado(a) 293 145 30 11 18 - 497 33,40
Outros 21 7 5 - 1 1 35 2,35
Separado(a)/ 12 14 - - - -
26 1,75
divorciado(a)
União Estável 7 5 1 - - - 13 0,87
Viúvo(a) 3 - - - - 1 4 0,27
Total 819 482 122 30 29 6 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

O gráfico 2 referente ao ano de ingresso dos egressos apre-


senta uma participação mais significativa daqueles que ingressaram
na UVA a partir dos anos 2000, com patamares superiores a 100
participantes entre os anos de 2007 a 2013, denotando um público
cuja maioria ingressou na Universidade e cursou regularmente o en-
sino superior nos últimos 10 anos. O referido gráfico aponta, ainda,
uma maior concentração dos egressos que entraram na UVA entre
os anos de 2008 a 2016, com 1.079 respondentes, representando
72,51% dos participantes da pesquisa.
O percentual de 27,49% corresponde aos respondentes
que ingressaram na UVA em décadas anteriores (1980, 1990, 2000)
e que concluíram o curso de graduação fora do prazo de tempo
estipulado, fato que pode ter ocorrido por causa de ingresso após
abandono, mudança de curso ou de IES, pedido de matrícula insti-
tucional ou, ainda, de matrículas em semestres posteriores ao tempo
previsto para conclusão do curso devido à UVA ainda não dispor de
//94

instrução normativa para jubilação. Esses egressos passaram, assim,


por mudanças curriculares dos cursos como implementação de nova
carga horária de estágios curriculares, práticas, curricularidade da
extensão, além de ter testemunhado outras mudanças na instituição
como o crescimento do número de bolsas de iniciação científica e de
extensão, do quadro docente efetivo.

Gráfico 2 – Frequência simples dos egressos participantes da pesquisa por ano de


ingresso na UVA

Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Outro ponto que justifica a maior participação de egressos


que entraram na UVA nessas duas últimas décadas pode ser expli-
cado pelo acesso à internet, o uso do correio eletrônico (E-mail)
como ferramenta de comunicação e acesso ao formulário eletrônico
da pesquisa, o que aponta para o perfil de egresso que foi alcançado
pelo contato do E-mail que constava no cadastro do sistema acadê-
mico da UVA. Essa realidade, porém, tende a se tornar ineficaz com
o tempo haja vista o avanço das comunicações pelas redes sociais e
//95

aplicativos de mensagem, cabendo à Universidade rever e aperfei-


çoar as abordagens e metodologias de comunicação com o público
egresso.
Desse modo, o gráfico 3 destaca o número de egressos que
finalizaram sua graduação dentro do recorte temporal da pesquisa
(2008-2018). Com relação ao ano de conclusão, podemos observar
a concentração de participantes dos últimos cinco anos (2013-2018)
em que 70,7% concluiu o curso superior, ou seja, um quadro de
profissionais formados em anos recentes pela UVA e que pôde con-
tribuir com informações sobre o processo de inserção profissional.
Gráfico 3 – Frêquência simples dos egressos participantes da pesquisa por ano de
conclusão de curso na UVA

Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Freire (2011) afirma que o papel da UVA no contexto urba-


no-regional mudou quando o Governo do Estado do Ceará passou
a tratar as universidades estaduais como vetores de modernização do
//96

estado, de maneira que a UVA vai abraçar esse papel institucional


de “[...] formar profissionais mais qualificados para a renovação e
melhoria dos quadros regionais.” (P. 79).
Nesse sentido, a tabela 2 apresenta a situação de trabalho
atual dos egressos da UVA em que 30,78% informou trabalhar ex-
clusivamente na área do curso em que se graduou; 14,72% além
de trabalhar, cursava uma pós-graduação na mesma área em que se
graduou; 14,38% dos egressos trabalhava em uma área diferente do
curso ao qual se graduou e 10,42% desses formados não estava tra-
balhando; 8,33% destes não trabalhava, mas cursava uma pós-gra-
duação na sua área de formação; 9,95% trabalhava na área de curso
em que se formou e também em área diferente de formação. Outros
percentuais além de trabalhar na área do curso de formação e em
área diferente, cursavam uma pós-graduação na área ou em área
diferente da sua, ou, ainda, estavam cursando outra graduação.

Tabela 2 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pela situação de trabalho atual

Situação de trabalho atual Nº de egressos %


Trabalha exclusivamente na área do curso em
458 30,78
que se graduou
Trabalha e estuda (pós-graduação) na área do
219 14,72
curso em que se graduou
Trabalha em uma área diferente do curso em
214 14,38
que se graduou
Não está trabalhando 155 10,42
Trabalha na área do curso em que se graduou
e também em outra área diferente da de sua 148 9,95
formação
//97

Não está trabalhando e estuda (pós-graduação)


124 8,33
na área do curso em que se graduou
Trabalha na área do curso em que se graduou,
em outra(s) área(s) e estuda (pós-graduação) 102 6,85
também na área do curso em que se graduou
Trabalha na área do curso em que se graduou,
em outra(s) área(s) e estuda (pós-graduação) 35 2,35
em uma área diferente da de sua formação,
Cursando outra graduação 33 2,22
Total 1.488 100
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Em relação ao tempo de inserção dos egressos no mundo


do trabalho, a tabela 3 constatou que 59,01% ao concluir o curso de
graduação, já estavam inseridos profissionalmente; 22,58% conse-
guiram se inserir depois de 1 ano de formado; 7,59% dos graduados
tiveram o tempo de 1 a 2 anos para se inserirem em uma atividade
profissional e 10,82% conseguiram fazer isso já passados 2 anos de
sua formatura. Se agregarmos os dois primeiros percentuais, pode-
mos verificar que mais de 80% dos egressos se inseriram em ativi-
dades profissionais até um ano de formado. Isso reforça o papel da
UVA em qualificar pessoal ao nível superior possibilitando o desen-
volvimento de quadros profissionais que passam a atuar em Sobral e
outros municípios do Noroeste cearense.
//98

Tabela 3 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pelo tempo de inserção nas atividades profissionais

Nº de
Inserção nas atividades profissionais %
egressos
Ao sair da Universidade já se encontrava desenvol- 878 59,01
vendo a atividade profissional
Até um ano 336 22,58
Acima de 1 até 2 anos 113 7,59
Acima de 2 anos 161 10,82
Total 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Um dado destacado na tabela 4 com relação ao motivo de


escolha do curso de graduação pelos egressos foi a vocação apontada
por 40,19% dos participantes da pesquisa como principal motivo.
Para além do aspecto místico de dom natural, a escolha do curso por
vocação também aponta a tendência de escolha por reconhecimento
de aptidões e inclinação pela área escolhida. Acreditamos que isso
também tem a ver com as informações prévias que essas pessoas ti-
veram para optar pela área de formação e assim formar um consenso
entre suas aspirações pessoais e o curso pretendido.
Para 28,90% dos respondentes, a perspectiva de emprega-
bilidade foi decisiva em sua escolha. Seguindo nessa mesma linha,
7,86% escolheram o curso visando o ingresso no serviço público e
5,31% informaram que sua escolha ocorreu em razão das melhores
perspectivas de ganhos materiais. O status de ter um diploma de ní-
vel superior foi importante para 8,87% que escolherem o curso, bem
como o prestígio social e a imposição de familiares apareceram em
//99

percentuais menores que influenciaram na escolha pelo curso. Para


2,02% dos participantes da pesquisa, o número da concorrência do
vestibular prevaleceu para a escolha do curso, o que supõe segmentos
de jovens e adultos que por motivos diversos não tiveram formação
na educação básica para aspirar cursos de maior prestígio social e,
consequentemente, mais concorridos na UVA. Outros egressos de-
ram respostas diversas tais como: valor do curso, pré-requisito para
promoção na empresa, única opção de curso no horário pretendido,
admiração pela profissão do professor, acesso à biblioteca, escolha
aleatória, desejo de mudar a sociedade, ingresso no seminário, cursar
ensino superior e atuar nos movimentos sociais, exemplo do empe-
nho dos profissionais da área. Esses e outros aspectos influenciaram
a escolha do curso e pode ajudar a Universidade a melhorar sua co-
municação sobre os cursos ofertados e suas áreas de atuação.

Tabela 4 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pelo motivo de escolha do curso de graduação

Motivo de escolha do curso Nº de egressos %


Vocação 598 40,19
Perspectiva de empregabilidade 430 28,90
A obtenção de diploma de nível superior 132 8,87
Ingressar no serviço público 117 7,86
Melhores perspectivas de ganhos materiais 79 5,31
O número de concorrentes ser menor no vestibular 30 2,02
Imposição de membros da família 21 1,41
Prestígio Social 13 0,87
Outros* 68 4,57
Total 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).
* Agregou outras respostas isoladas dos egressos.
//100

A tabela 5 retoma o tempo de inserção profissional dos


egressos pela motivação de escolha. Assim, constatamos que inde-
pendente da motivação que o fez cursar, manteve-se um percentual
acima de 80% de inserção profissional do egresso a partir da con-
clusão do curso até o primeiro ano de formado. Um número menor
de pessoas só conseguiu se inserir profissionalmente após 2 anos de
formado, representando 10,82% dos respondentes, o pode ser justi-
ficado pelas motivações diversas para ingressar no curso e nos leva a
refletir sobre as informações ofertadas sobre os cursos de graduação
da UVA, campos de atuação e engajamento na dinâmica socioeco-
nômica e político-cultural dos territórios alcançados.

Tabela 5 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pelo motivo de escolha do curso e tempo de inserção nas atividades profissionais

Ao sair da Uni-
versidade
Acima Acima
Motivo de escolha já se encontrava
Até de 1 até 2 de 2 Total %
do curso desenvolvendo
1 ano anos anos
atividade profis-
sional
Vocação 381 130 30 57 598 40,19
Perspectiva de
257 90 42 41 430 28,90
empregabilidade
A obtenção de
diploma de nível 74 32 12 14 132 8,87
superior
Ingressar no
60 28 12 17 117 7,86
serviço público
Melhores perspec-
tivas de ganhos 43 23 6 7 79 5,31
materiais
//101

O número de
concorrentes ser
15 3 5 7 30 2,02
menor no vesti-
bular
Imposição de
membros da 10 7 1 3 21 1,41
família
Prestígio Social 6 4 1 2 13 0,87
Outros afins 32 19 4 13 68 4,57
Total 878 336 113 161 1.488 100,00

Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Na tabela 6, quando questionados sobre a maior dificulda-


de enfrentada para atuar na área de formação, 26,15% apontaram
a falta de valorização profissional como principal obstáculo à sua
atuação. Para 17,67%, a falta de vaga no mercado de trabalho foi
uma situação crítica. Em percentuais semelhantes, a falta de prática
(13,44%) e a baixa remuneração (13,10%) foram os principais en-
traves, enquanto que para 13,98% dos egressos não houve nenhuma
dificuldade para atuarem profissionalmente. O mercado competiti-
vo, a necessidade de ter uma melhor qualificação e a carga horária
elevada de trabalho compuseram percentuais menores, mas aponta-
dos como dificuldades enfrentadas pelos egressos.
As dificuldades apresentadas podem gerar algumas reflexões
no contexto da divisão territorial do trabalho, das relações de pre-
carização, inclusive, entre as profissões liberais e do serviço público
nas suas diversas esferas. A percepção da desvalorização profissional
pode abranger os demais pontos levantados pelos egressos, sentida
pela ausência da vaga/posto de trabalho, a carga-horária excedente,
//102

o acirramento do mercado de trabalho que leva a percepção de des-


qualificação ou de que deveria que praticado mais e por conseguinte,
tende a abreviar o retorno desses profissionais para formação lato e
strictu sensu nos cursos de pós-graduação. Têm, por fim, a percepção
da relação de descompensação entre o trabalho realizado e a remune-
ração alcançada. Nesse sentido, o estreitamento das relações da UVA
com representações de conselhos de classe, sindicatos e associações
profissionais podem gerar ações de reconhecimento ético, político e
social dos campos profissionais formados.

Tabela 6 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pelas dificuldades de atuação na área de formação

Dificuldade de atuação na área de formação Nº de egressos %

Falta de valorização profissional 389 26,15


Falta de vaga no mercado 263 17,67
Nenhuma 208 13,98
Falta de prática 200 13,44
Baixa remuneração 195 13,10
Mercado competitivo 120 8,06
Necessidade de melhor qualificação 80 5,38
Carga-horária de trabalho elevada 33 2,22
Total 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Na tabela 7, associamos as dificuldades de atuação na área


de formação e a atuação profissional no município de origem. Ve-
rificamos que quase metade dos egressos (48,92%) não atua profis-
//103

sionalmente em seu município de origem contraposto àqueles que


trabalham no município de origem (51,08%). A constatação de que
uma grande parcela dos profissionais formados não atua no muni-
cípio de origem pode ocorrer por diversos fatores. Um deles sugere
a ocorrência de uma mobilidade significativa da força de trabalho
entre os municípios dos territórios de atuação da UVA, sendo pro-
fissionais que passam a atuar em outros municípios próximos ou
distantes.
Podemos observar ainda na referida tabela que a desvalo-
rização profissional e a baixa remuneração são apontadas mais entre
aqueles egressos que atuam profissionalmente em seus municípios de
origem, sugerindo condições de trabalho que podem levar também
à mobilidade desses profissionais para outra área ou mesmo outro
município que traga valorização profissional e melhor remuneração.

Tabela 7 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pela dificuldade de atuação na área de formação e atuação profissional no muni-
cípio de origem

Atuação profissional no
Dificuldade de atuação Nº de
município de origem* %
na área de formação egressos
Não Sim
Falta de valorização 177 212 389 26,14
profissional
Falta de vaga no mercado 166 97 263 17,67
Nenhuma 76 132 208 13,98
Falta de prática 110 90 200 13,44
Baixa remuneração 79 116 195 13,10
Mercado competitivo 61 59 120 8,06
//104

Necessidade de melhor 41 39 80 5,38


qualificação
Carga-horária de traba- 18 15 33 2,22
lho elevada
Total 728 760 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

* Considerou como município de origem, o local onde morava no momento em


que cursava a graduação.

Ao tratar do processo de proletarização social, Alves (2009)


atenta que o mundo do trabalho atual é conformado por “[...] um
imenso contingente de trabalhadores proletários que vivem nas aglo-
merações urbanas, distante, no espaço-tempo histórico de seus pais
ou avós, muitos deles trabalhadores rurais, ligados à terra, posseiros
ou proprietários dos meios de produção vital.” (P. 71). Descrita de
forma qualitativa, esta foi a trajetória vivida por muitos egressos que
tinham vínculos familiares e de trabalho no campo e ao concluírem
o ensino superior aspirara outro modo de vida na cidade média de
Sobral em empregos públicos e em empresas.
Antunes (2018) chama atenção para a expansão do novo
proletariado do setor de serviços no século XXI, com a inserção das
pessoas no “contexto digital”. A medida em que são privados do
mundo produtivo urbano e não mais afeitos à produção do campo,
passam a compor o contingente de trabalhadores e trabalhadoras
que inserem, principalmente, no setor dos serviços em “[...] novas
modalidades de trabalho informal, intermitente, precarizado, ‘fle-
xível’, depauperando ainda mais os níveis de remuneração daqueles
que se mantêm trabalhando.” (P. 25).
//105

A tabela 8 vai apresentar as atividades profissionais apon-


tadas pelos egressos no momento de aplicação da pesquisa. Assim,
se destacam duas atividades principais em que 27,28% estavam
empregados em empresas privadas e 23,59% eram profissionais
concursados. Vale ressaltar, ainda, que 16,67% afirmaram não es-
tar trabalhando no momento de aplicação da pesquisa, enquanto
13,38% estavam ocupados em atividades profissionais com outros
tipos de vínculos como contratos temporários por tempo determi-
nado, bolsas de pesquisa, residências, dentre outros. Além destes,
7,93% atuavam como profissionais autônomos; 5,44% trabalhavam
em Organizações da Sociedade Civil - associações, fundações, etc.;
3,02% constituíram empresas (Pessoa Jurídica) e 2,49% eram Mi-
croempreendedores Individuais – MEI. Quanto à atuação profissio-
nal dos egressos, podemos constatar um patamar de ocupação acima
de 80%, apontando o impacto da UVA na formação de pessoas em
condições de inserção profissional.

Tabela 8 – Frequência simples e percentual dos egressos participantes da pesquisa


pela atividade profissional atual
Nº de
Atividade profissional atual %
egressos
Empregado (empresa privada) 406 27,28
Concursado 351 23,59
Não trabalho 248 16,67
Profissional Autônomo 118 7,93
Trabalha em Organizações da Sociedade Civil
81 5,44
(associações, fundações, etc.)
Empresário (pessoa jurídica) 45 3,02
Microempreendedor Individual - MEI 37 2,49
//106

Aposentado(a) 3 0,20
Outros 199 13,38
Total 1.488 100,00
Fonte: Pesquisa Direta (2019).

Com relação à renda salarial, exposta no gráfico 4, a maior


concentração percentual (27,69%) dos egressos estava naqueles com
rendimentos acima R$ 1.431,00 até R$ 2.862,00 reais. 19,62% re-
cebiam acima de R$ 954,00 até R$ 1.431,00 reais enquanto outros
19,69% tinham renda acima de R$ 2.862,00 até R$ 4.293,00 re-
ais. Se agregarmos aqueles com renda salarial acima de R$ 5.724,00
obtemos um percentual de 8,47%, ainda menor que o percentual
daqueles que declararam não ter renda salarial (9,68%). Sem consi-
derar estes últimos, quase 55% dos egressos tinha renda de até R$
2.862,00 no momento de aplicação da pesquisa.

Gráfico 4 – Frequência percentual dos egressos participantes da pesquisa pela


renda salarial

Fonte: Pesquisa Direta (2019).


//107

É expressiva a escolha da UVA por ser uma universidade


pública, de ensino gratuito e uma referência para os jovens e adultos
dos municípios que compõem os territórios de atuação da UVA do
Litoral, Sertão e Serra da Ibiapaba. Isso aponta para o papel da Uni-
versidade no desenvolvimento socioterritorial e empoderamento dos
sujeitos sociais, manifestado por meio da trajetória dos egressos en-
trevistados que expressaram a participação da UVA no seu processo
de formação e atuação profissional.

3. Sobre a formação universitária e a atuação profissional – o quê


os egressos falaram?
A abordagem qualitativa da pesquisa permitiu captar al-
gumas trajetórias de pessoas formadas pela UVA e a importância
que a formação universitária teve para a atuação profissional desses
egressos. Nesse sentido, as entrevistas realizadas permitiram apre-
ender os contextos de inserção laboral e em que medida os egressos
conseguiram retornar para os municípios de origem e atuar na sua
área de formação.
Segundo Cunha e Las Casas (2019) a trajetória entre a for-
mação inicial e o mundo do trabalho reúne vários aspectos como as-
pirações individuais, a oferta de formação disponível e as dinâmicas
socioculturais e econômicas que direcionam para profissões que po-
dem levar ao sucesso ou fracasso dos egressos. Nesse sentido, é preci-
so reconhecer a dinâmica contemporânea de inserções profissionais
que figura desde o emprego público com perspectiva de estabilidade
ao mercado de trabalho que solicita “novas profissões” dentre outras
//108

formas de engajamento profissional como “[…] as formas diversas


de co-working, de contratos temporários diversos, de organização do
trabalho, diferenciadas no chamado terceiro setor, entre outras tan-
tas que assumem o emprego, alterando as formas contratuais tradi-
cionais do emprego formal.” (CUNHA; LAS CASAS, 2019, p. 32).
As atuações profissionais desempenhadas, seja no campo,
seja na cidade, foram concretizadas nesses territórios e desse modo,
a partir das entrevistas realizadas com os egressos que atuavam nos
setores públicos, privado e terceiro setor, foi possível tecer algumas
reflexões sobre os múltiplos olhares e pontos de vista traçados acerca
da contribuição da UVA na sua formação universitária e trajetória
profissional.
Quando indagados sobre qual foi a importância da forma-
ção universitária para sua atuação profissional, os egressos entrevis-
tados ressaltaram a relevância da formação adquirida ao longo do
curso universitário para o bom desempenho e reconhecimento pro-
fissional.

A UVA tem uma importância fundamental em minha


formação profissional. Conclui o meu curso de Letras
em 2009, concomitantemente a isso, passei no concurso
da SEDUC para professora. [...] Graças aos conteúdos
curriculares e extracurriculares orientados por essa insti-
tuição de ensino, viabilizou-se a minha prática pedagó-
gica, a qual sempre procuro reciclar e remodelar. (Servi-
dora pública residente em Ibiapina/CE).

A UVA, ela foi importante na minha formação universi-


tária. Com relação ao profissional, primeiro por causa
das questões técnicas. Porque lá eu pude adentrar nos
conteúdos, nas pesquisas e no envolvimento que eu
//109

obtive através dos trabalhos de extensão. Eu pude ini-


ciar me aprofundando, e aí todo aquele conhecimento
adquirido naquela época, hoje está servindo. Como eu
me envolvi na prática estudantil, na prática de estágio,
então hoje quando a gente se depara com muitas reali-
dades, não é tanto novidade assim, porque a gente já viu
enquanto estudante. Então nessa questão foi importan-
te, na pesquisa, na extensão e nas práticas que a gente
teve no momento em que éramos estudantes. (Profis-
sional atuante no 3º setor, residente em Alcântaras/CE).

A formação acadêmica naturalmente proporcionou mi-


nha inserção no mundo do trabalho, somente após ela
surgiram diversas possibilidades de atuação em setores
distintos, porém sem desviar da formação. Essa atuação
se deu na academia, bem como em órgãos públicos e
privados. Necessariamente, a formação acadêmica me
preparou para saber lidar com as relações complexas
na atuação profissional, sobretudo, compreender que o
tempo presente exige cada vez mais do geógrafo e só a
Universidade é capaz de formar os melhores profissio-
nais. (Egressa residente em Sobral/CE).

A Universidade contribuiu com a formação de quadros do-


centes que são fundamentais para a estruturação e funcionamento
adequado das redes municipais de ensino que, por sua vez, puderam
ofertar o ensino fundamental e médio regular a crianças e jovens.
Dessa maneira, a instituição promoveu a formação de professores
que contribuem para o desenvolvimento das novas gerações em cada
município, o que seria difícil de ser realizado sem a presença da UVA
nessa porção noroeste do território cearense. Chama atenção o relato
dos demais profissionais que atuam no setor privado e 3º setor a
respeito das experiências práticas de estágio, da iniciação científica
e extensão que foram parte da sua formação e os tornaram mais
//110

preparados para situações profissionais sem, contudo, desatentar às


demandas da sociedade.
O depoimento da egressa registra o empoderamento pesso-
al e profissional promovido pela universidade naqueles que por ela
passa: “Sou professora (...) e tenho orgulho de dizer que é graças à
UVA que eu me tornei hoje a profissional que eu sou e devo todas
as minhas conquistas ao ensino que eu tive dentro desta universida-
de, foi de grande importância para minha vida. (Egressa do curso
de Licenciatura em Química, residente em Hidrolândia, Ce). Outra
egressa reafirma a importância da UVA enquanto universidade pú-
blica em sua formação universitária.

A minha formação universitária foi tudo na minha vida,


primeiro porque sem ela eu possivelmente não teria
conquistado o que eu tenho hoje em termo de sensi-
bilidade, de conhecimento, eu precisei sair daqui para
morar fora em Sobral durante quatro anos e meio quan-
do eu conquistei minha formação acadêmica. Daí pra
cá minhas conquistas se devem mais a essa questão da
formação universitária e da universidade em si, que uma
universidade pública me ajudou muito, porque se não
fosse pública eu não teria condições também de finan-
ciar um curso, então em suma é tudo na minha vida,
minha formação universitária. (Egressa residente em
Poranga/CE).

Merece ressaltar o reconhecimento dos egressos pelos co-


nhecimentos adquiridos na universidade e a possibilidade de retor-
nar para seus municípios de origem com bagagem intelectual, pro-
//111

fissional e cultural e poderem contribuir para o desenvolvimento do


lugar.

Na contabilidade um mundo se abriu pra mim, certo.


Mas eu sempre busquei a contabilidade, levar a contabi-
lidade sempre pro campo mais social, né. Não que seja
o curso, mas algumas pessoas que entram na contabili-
dade é não são todas, mas a tendência é que as pessoas
vejam bem a questão financeira, certo?! Eu também não
sou contra certo. A gente precisa sim da questão finan-
ceira, mas eu defendo a tese de que tudo que você se
capacita tem que levar pro meio social, né, e trazer pra
beneficiar a sua cidade. É claro que quando eu montei
o meu escritório aqui, o meu intuito de ser um conta-
dor seria assessorar as empresas com muita eficiência pra
que assim a economia local do nosso município possa
prosperar, né, querendo ou não, né, isso traz vantagens
para o município, para as demais regiões. Mas também
meu escritório faz um acompanhamento e assessoria
com diversas associações dentro do município, né. As-
sociações que tenham um processo de luta, que tenha
um processo de defesa e nosso escritório faz um acom-
panhamento dessas associações. (Egresso residente em
Coreaú/CE).

No que se refere a inserção profissional nos municípios de


origem, um egresso avalia da seguinte maneira: “A inserção profis-
sional na minha cidade foi rápida, no momento que eu me formei,
já comecei a trabalhar, trabalhando no município, até hoje continuo
trabalhando, como assessora municipal […]” (Egressa do curso de
Direito – Residente no município de Cruz/CE). Outros apontam as
dificuldades encontradas pela concorrência: “Para a inserção no mer-
cado de trabalho da licenciatura, para lecionar, foi mais difícil por
conta da concorrência. (Egresso do curso de História – Residente no
//112

município e Ipu/CE). A falta de postos de trabalho em cidades me-


nores também gerou dificuldades: “Foi um tanto complicada, pois
como nossa cidade é uma das menores cidades do Ceará tem muito
pouco postos de trabalhos.” (Egressa do curso de Pedagogia – Resi-
dente no município de Pacujá/CE).

4. Considerações finais
Longe de estarmos satisfeitos com a condição estrutural da
UVA, uma Universidade Estadual encravada a 50 anos no interior
do estado e que ainda enfrenta diversas carências que envidam desa-
fios que se sucendem a cada dia na promoção de um ensino superior
de qualidade e engajado como o desenvolvimento da sociedade no
Noroeste cearense.
Contudo, é preciso ressaltar os esforços produzidos por pro-
fessores, servidores, gestores na construção diária dessa Universidade
e cuja inserção socioterritorial manifesta nas trajetórias construídas
pelos egressos e cuja maior satisfação foi encontrá-los atuantes e con-
fiantes do papel que realizam no exercício de suas profissões, cargos
e funções nos diversos municípios que compõem os territórios de
atuação da UVA.
Evidentemente que esse papel de protagonismo da UVA
poderia se dá em outros níveis de atuação e promoção do desenvol-
vimento socioterritorial dos municípios enlaçados, mas no que se
refere à atuação profissional dos egressos, essa inserção no mundo do
trabalho tem ocorrido, assim, pelo ingresso em concursos públicos
e postos de trabalho ocupados em empresas privadas. Isso também
pode variar em relação ao contexto econômico e especificidades de
//113

cada território analisado na pesquisa haja vista a de profissionais au-


tônomos, empresários, microempreendedores, chamando atenção
para o percentual de formados que não trabalhavam ou estavam
inseridos em outras ocupações temporárias tanto no setor público
quanto privado, dentre várias outras formas de contratualização e
articulação/mobilização das profissões no contexto atual.
Ao se observar um patamar de ocupação dos egressos acima
de 80%, isso aponta a capacidade de inserção profissional das pesso-
as formadas pela UVA e por conseguinte, a geração de condições de
melhoria da situação socioeconômica das pessoas e desenvolvimento
socioterritorial dos municípios de origem dos egressos.
Portanto, novos desafios de profissionalização e inserção
dos egressos no campo de atuação suscita uma ampliação das ações
da UVA, não somente com a abertura de novos cursos de graduação
ou campi, mas no desenvolvimento da pesquisa sobre esses territó-
rios/municípios e que promovam desenvolvimento extensivo a cada
município reafirmando essa relação com seu território de atuação.
Para que a UVA seja cada vez mais responsável pela formação de
quadros profissionais responsáveis, pela geração de uma ampla gama
de conhecimentos e difusão pelos diversos municípios, alcançando
lugares longínquos do Noroeste cearense.

Referências bibliográficas
ALVES, Giovanni. A condição de proletariedade: a precariedade
do trabalho no capitalismo global. Londrina: Praxis; Bauru: Canal
6, 2009.
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletaria-
do de serviços na era digital. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2018.
//114

CUNHA, Daisy.; LAS CASAS, Estevam B de. A profissionalização


entre a educação e o trabalho. In: LAS CASAS, Estevam Barbo-
sa de.; CUNHA, Daisy.; QUEIROZ, Tatiana Queiroz. (Orgs.).
UFMG: Pesquisa egressos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019.
FREIRE, Heronilson Pinto. O uso do território de Sobral, Ceará
pelas instituições de ensino superior. 112 f. 2011. Dissertação
(Mestrado Acadêmico em Geografia) – Centro de Ciências e Tec-
nologia, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza/CE, 2011.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1967.
FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de cri-
se. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. (coleção Estudos Brasileiros;
v. 80)
HAESBAERT, Rogério. Do corpo-território ao território-corpo (da
terra): contribuições decoloniais. GEOgraphia, Niterói/RJ, v. 22,
n. 48, p. 75-90, 2020.
SCHWARTZMAN, Simon. Os desafios da educação no Brasil. In:
BROCK, Colin; SCHWARTZMAN, Simon. Os desafios da edu-
cação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
//115

A ATUAÇÃO DOS EGRESSOS NOS


MUNICÍPIOS DE INSERÇÃO
SOCIOTERRITORIAL DA UVA

José Osmar Fonteles30


Virgínia Célia Cavalcante de Holanda31
Luiz Antônio Araújo Gonçalves32

1. Introdução
O presente capítulo busca revelar a atuação dos egressos da
UVA em vários setores da sociedade, seja no serviço público, seja no
setor privado ou, ainda, no terceiro setor, abrangendo as atividades
profissionais nas Organizações Não-Governamentais, Sindicatos e
Associações. A abordagem da pesquisa, nesse sentido, foi qualitativa
e visou captar a trajetória das pessoas formadas pela UVA no período
de 2008 a 2018. Dessa maneira, preparou-se um formulário estru-
turado de entrevista com cinco perguntas direcionadas aos gestores
municipais e outro formulário contendo também cinco perguntas,
direcionado para os egressos que trabalham no setor público, setor
privado e terceiro setor.
Destacamos que há uma riqueza nos depoimentos dos en-
trevistados que este artigo e o livro como um todo não dará conta.

30  Professor Adjunto do Curso de Ciências Sociais (Bach. e Licenc) da UVA


31  Professora Associada dos Cursos de Geografia (Bach. e Licenc) da UVA
32  Professor Adjunto dos Cursos de Geografia (Bach. e Licenc) da UVA
//116

Tivemos que fazer escolhas nas falas, assumindo os riscos e levan-


do em conta a complexidade de informações, desejos, expectativas,
frustrações, enfim, uma série de sentimentos que poderão subsidiar
outros estudos.
As entrevistas foram breves, cerca de 30 minutos, sempre
começando com a solicitação de permissão do entrevistado para gra-
vá-las. O termo de consentimento foi apresentado e aceito por cada
participante, escrito ou gravado, de forma simplificada. É impor-
tante ressaltar que a pesquisa, principalmente a que envolve seres
humanos, requer o consentimento formal do pesquisado através do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, documento
que regulariza a anuência do participante ou seu representante legal
na pesquisa evitando constrangimento, dúvidas e recusa do pesqui-
sado, tendo como suporte as Resoluções da Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa vinculada ao CNPq.
As perguntas eram lidas cabendo ao entrevistado responder
ao que se demandava ou acrescentar algum comentário. Posterior-
mente, as entrevistas foram transcritas e depuradas para escrita desse
capítulo com trechos representativos da importância da UVA para o
município do entrevistado no que se refere a formação de recursos
humanos, composição de quadros qualificados no município além
da contribuição da IES para o desenvolvimento territorial.
Segue abaixo, o roteiro da entrevista aplicada aos represen-
tantes das prefeituras, composto pelas seguintes questões:
1. Qual a importância da UVA para a sua cidade?
2. Qual a contribuição da UVA para a formação de recursos
humanos no seu município?
//117

3. Qual é o apoio dado pela gestão municipal para o envio de


universitários para a UVA, em Sobral?
4. Qual é a relação da UVA com o seu município?
5. A partir das demandas do seu município, como a UVA po-
deria contribuir com novos cursos para o desenvolvimento
territorial?

Em seguida, temos o roteiro da entrevista apresentada aos


egressos que atuam nos municípios de inserção socioterritorial da UVA

1. Qual foi a importância da formação universitária para a sua


atuação profissional?
2. Qual a contribuição da UVA para a melhoria do seu mu-
nicípio?
3. Como foi a sua inserção profissional na cidade?
4. Como avalia a atuação da UVA frente às outras Instituições
de Educação Superior?
5. Como a UVA poderia atuar no processo de desenvolvi-
mento socioterritorial e empoderamento das pessoas?

Através das equipes de bolsistas foi possível alcançarmos


municípios integrantes dos seis territórios definidos pela pesquisa
que juntos totalizam 55 Municípios33, formando os territórios de

33  Os municípios foram reunidos em territórios de acordo com o quantitativo maior ou


menor de egressos e o leitor pode verificar os 55 municipios que compõem os seis territórios
da pesquisa no primeiro artigo que trata da metodologia e recorte espacial.
//118

Sobral, Ibiapaba, Acaraú, Camocim, Santa Quitéria e Itapipoca con-


tando com uma população estimada em 1.738.561 habitantes (IPE-
CE, 2018). Dessa maneira, foram realizadas entrevistas nos muni-
cípios de Alcântara, Ararendá, Bela Cruz, Cariré, Catunda, Coreaú,
Cruz, Frecheirinha, Hidrolândia, Ibiapina, Ipu, Irauçuba, Itarema,
Massapê, Meruoca, Mucambo, Pacujá, Poranga, São Benedito, So-
bral, Tamboril, Tianguá e Uruoca.
Os entrevistados foram: Prefeito, Procurador, Chefes de
Gabinete, Secretários, Assessores, Técnicos de Secretarias e demais
representantes autorizados a responder pelas gestões municipais. O
outro roteiro de entrevista foi respondido por servidores públicos,
profissionais liberais e do terceiro setor, todos egressos dos diversos
cursos da UVA e atuantes nos municípios supracitados. Vale ressal-
tar que nem todos os municípios pesquisados tiveram representação
dos segmentos mencionados, com exceção dos servidores públicos,
conforme a tabela abaixo.
Tabela 1 – Respondentes por segmento de atuação34

EGRESSOS MULHERES HOMENS TOTAL

Gestores ou representantes da gestão 2 17 19


Servidores públicos 13 10 23
Profissionais liberais 10 8 18
Profissionais do Terceiro setor 5 8 13
Total 29 41 73
Fonte: Pesquisa Direta (2018).

34  A intenção da pequisa era cobrir os 55 municípios de maneira que foram distribuídos
entre os bolsistas cedidos pela PRAE. Ao final do tempo de aplicação das entrevistas, obti-
vemos o retorno conforme descrição da tabela.
//119

Conforme vimos na tabela, foram realizadas 73 entrevistas


com agentes de diferentes segmentos em que obtivemos maior êxito
no setor público verificando-se uma maior presença masculina dos
respondentes, sobretudo, na gestão pública. Embora o menor nú-
mero de entrevistados tenha ocorrido no terceiro setor, detectou-se
a atuação de pessoas formadas pela UVA junto a ONG’s, Sindicatos
e Associações nos respectivos municípios recortados pela pesquisa.
Vejamos a seguir a análise das entrevistas.

2. A visão das gestões municipais


Observou-se que a quase totalidade dos entrevistados é do
sexo masculino, indicando sua predominância na gestão pública, até
mesmo a frente nas secretarias de educação, área que, em geral, é
ocupada por mulheres. Este fato merece uma reflexão em um mo-
mento em que o discurso pela paridade de sexo, etnia, inclusão, ecoa
por diversos segmentos sociais, inclusive na academia. O patriarcado
ainda tem o seu lugar legitimado pela sociedade. O discurso precisa
avançar para a prática que reconheça a existência desta realidade. É
preciso nos posicionarmos sobre ela, identificarmos sinais de luta e
de resistência, existentes em âmbito local, regional e global. Só as-
sim poderemos alargar os caminhos que nos levem a construir outro
modelo de sociedade.
Com relação à importância da UVA para os municípios
visitados, destaca-se, na fala dos entrevistados, a necessidade de ex-
pansão e interiorização da “formação profissional local, em diversas
áreas, suprindo a carência de mão de obra”. A UVA formou a maio-
//120

ria dos profissionais da educação, sobretudo os “professores leigos”


dos quais muitos já possuem pós-graduação ao nível de especializa-
ção, realizada em sua maioria na própria Instituição. Acredita-se que
essa qualificação tenha tido impacto na melhoria do ensino local,
situação que merece outra análise. Ela possibilita a troca de saberes e
o conhecimento dos lugares contribuindo para a melhoria do nível
de desenvolvimento municipal.
A UVA é referência para os municípios inseridos em seu
território de atuação, estimulando a procura dos jovens que buscam
acesso ao ensino superior público. A Instituição é vista pelos repre-
sentantes das gestões como cumpridora da função de inserção social,
elevando o nível crítico dos cidadãos, da sociedade, sendo pioneira
na extensão do conhecimento, com destaque na área de educação.
Percebe-se a valorização da UVA e o seu elevado grau de
aceitação e reconhecimento, sendo um desafio ainda maior para a
atuação desta IES com qualidade e compromisso socioambiental.
No campo da formação de professores,
[...] ela tem formado a maioria dos profissionais de
ensino superior aqui da cidade, desde professores,
enfermeiros, advogados e entre outros cursos. Se
você observar, acho que uns 80% das pessoas que
tem curso superior aqui na cidade eles fizeram isso
na UVA, então é uma instituição que para nossa ci-
dade, para nossa região, é de extrema importância.
(Representante da Gestão Municípal de Hidrolân-
dia).

Tem um grau de importância máxima, uma vez


que a formação da UVA é de qualidade. Tem cursos
que são bem reconhecidos e bem aceitos em toda e
qualquer instituição de renome, em todo e qualquer
//121

órgão. É muito relevante a importância da UVA,


não só para cá, para a Bela Cruz, mas para todos
os municípios da região (Representante da Gestão
Municipal de Bela Cruz).

Com relação à contribuição para a formação de recursos


humanos no município, a maioria dos entrevistados reiterou o que
já havia comentado no item, importância da UVA para a cidade.
No entanto, destaca-se a contribuição da Instituição sobretudo com
cursos locais quando atuava com Campi avançados ou mesmo em
parceria com Institutos a exemplo do Instituto de Estudos e Pesquisa
do Vale do Acaraú - IVA. A formação de recursos humanos locais
foi extremamente relevante com um grande número de profissionais
atuantes, chegando a 80% dos trabalhadores em educação, egressos
da Instituição. Também colaborou com a formação em outras áreas
profissionais.
A UVA possibilitou uma formação diferenciada em que os
estudantes aprendem a lidar com a população, com sensibilidade e
envolvimento com o que fazem. É notável a credibilidade dada à
UVA e o reconhecimento da sua contribuição com educação públi-
ca de qualidade, fortalecendo o nível de empregabilidade e inserção
social conforme destacado nos depoimentos abaixo:

Os profissionais que lá concluíram, a gente vê que


trabalham de uma forma diferenciada com o povo,
um pessoal mais atencioso, pessoal que tem uma
capacitação realmente diferente com o lidar do dia-
-a-dia. A UVA não prepara a pessoa apenas na par-
te técnica, ela prepara para lidar com a população.
(Gestor do Município de Ibiapina).
//122

A equipe que nós procuramos manter dentro da


gestão municipal é uma equipe instruída, principal-
mente pela Universidade pública, como represen-
tante no caso a UVA. Então, a cada vez que a gente
vê um crescimento na educação superior, pensamos
logo na UVA como Universidade pública, princi-
palmente agora com a inclusão através das cotas. A
gestão pública tenta abarcar, tenta incentivar essa
educação (Representante da gestão municipal de
Coreaú).

No que se refere ao apoio da gestão pública aos estudantes,


verifica-se como ação central, a oferta de transporte para os uni-
versitários se deslocarem até a cidade de Sobral, sejam da sede, se-
jam dos distritos. Esta mobilidade cotidiana é realizada em muitos
municípios, diariamente, nos turnos matutino e noturno. É feito
também nos finais de semana transportando estudantes que moram
em Sobral, na Residência Universitária e em outros espaços alugados
divididos com vários alunos do mesmo município. Há municípios
que não oferecem transporte diariamente, apenas nos finais de se-
mana. Algumas prefeituras apoiam os universitários com bolsas de
trabalho, compreendendo ser uma forma de já os inserir no mercado
de trabalho local, além de ser uma contribuição importante na renda
familiar. Outras mantém relações mais diretas com os estudantes,
fornecendo-lhes carteira de identificação para melhor gerenciar o
uso do transporte universitário.

Parceria em programas de estágios e de bolsas remu-


neradas para estudantes dos diversos cursos (Repre-
sentante da gestão municipal de Sobral).
//123

Temos ônibus todos os dias para levar os universitá-


rios. Fora isso a gente sempre ta mandando excursões
de alunos, que vão conhecer a própria universidade,
os museus de Sobral. A Prefeitura acredita muito no
potencial desses jovens e a parceria municipal no
momento é essa que a gente oferta diariamente (Re-
presentante da gestão municipal de Cruz).

No que diz respeito ao relacionamento da UVA com os


municípios, percebe-se uma relação não formalizada, haja vista não
existirem convênios vigentes entre os municípios e a Instituição, ex-
ceto em alguns casos, como em estágios realizados, sobretudo, nos
cursos de licenciatura. Alguns municípios reivindicam uma maior
inserção da UVA através da extensão e pesquisa, podendo socializar
experiências nas diversas áreas do conhecimento e subsidiar políticas
públicas, a partir das pesquisas desenvolvidas. Muitos se referem a
convênios anteriores quando a UVA mantinha Campi avançados.
Estes foram descontinuados em períodos distintos ao longo dos úl-
timos 20 anos. Em 2018, teve início as tratativas para a implantação
do Campus da UVA no município de São Benedito, no território da
Ibiapaba.
A fala dos entrevistados revela a confiança dos gestores na
Instituição e a necessidade de uma relação mais estreita entre a UVA
e a municipalidade. No entanto, a contribuição poderia ir além do
ensino, contemplando também a extensão, a pesquisa e a assesso-
ria em programas e projetos de desenvolvimento local e regional de
acordo com os depoimentos:
Ela tem uma relação direta na formação, não é?!
//124

Eu acho que ela poderia ter uma relação maior ain-


da, uma relação cultural, de pesquisas, saindo um
pouco da sala de aula e de trabalhar com pesquisas
mais intensas dentro do município. Apesar disso
ela tem uma relação muito direta. Os alunos hoje
que fazem curso nas áreas de licenciatura e saúde,
atuam diretamente no cotidiano do município.
(Representante da gestão municipal de Alcânta-
ras).

Tem uma relação intrínseca com o município de Ipu


na formação dos jovens. Precisamos ter um diálogo
maior, no sentido de uma maior aproximação dos
poderes constituídos e nas academias com as direto-
rias de extensão e pesquisa. Porque é importante que
essas pesquisas, esse conhecimento ora produzido
por vocês (universitários), saiam do papel e voltem
para a comunidade; voltem para os entes públicos
para que possa delimitar políticas públicas a partir
das informações que foram coletadas por vocês, e
dos documentários que são produzidos a nível
acadêmico, que nós possamos ter a ciência e uma
inter-relação após a produção desses documentos,
para que a gente possa então efetivar políticas públi-
cas [...] (Representante da gestão municipal de Ipu).

Muito boa e institucionalizada através de convênios,


em particular de cessões. É uma tendência positiva
que quadros profissionais da universidade estejam a
contribuir em cargos de gestão pública (Represen-
tante da gestão municipal de Sobral).

Sobre a contribuição da UVA com novos cursos, a ênfa-


se recai na questão do desenvolvimento urbano-regional nas áreas,
ambiental, agricultura e pecuária, sobretudo, nos municípios com-
ponentes e no entorno de Unidades de Conservação. São sugeridos
cursos de Biologia, Geografia, mas também Sociologia, Psicologia,
//125

Enfermagem, Medicina, Direito, Marketing, Recursos Humanos,


Fisioterapia, Finanças, Odontologia, Turismo, Gestão e Empreen-
dedorismo, Agronegócio, Comunicação Social, Tecnologia da Infor-
mação e cursos técnicos. Há um interesse pela Pós-graduação Stricto
Sensu, principalmente mestrado. Existe também uma demanda pela
realização de atividades de extensão no campo da Educação de Jo-
vens e Adultos (EJA) e em outros programas e projetos que possam
dotar o Município de uma melhor qualificação técnica e sociocul-
tural. Apresenta-se, ainda, manifestações pela descentralização dos
cursos, com Campi regionais, para os jovens e adultos que não con-
seguem se deslocar diariamente até Sobral.
É interessante perceber como os gestores municipais ex-
pressam, nesta pesquisa, o seu desejo de fortalecer o desenvolvimen-
to local e regional, com cursos que respondam às demandas comuni-
tárias, voltadas para o tipo de atividade que pode ser potencializada,
notadamente nas áreas de agricultura, possibilitando conhecimentos
técnicos que possam alavancar outras experiências de produção e
serviços, como o turismo, mas também diversas áreas que são neces-
sárias ao desenvolvimento regional.
A UVA tem um desafio enorme, frente a este diálogo es-
tabelecido com os gestores, colocando-se em atitude de escuta para
identificar outras áreas de interesse dos municípios, cabendo, agora,
uma relação mais estreita entre academia e sociedade, nos seus mais
diversos segmentos, para potencializar o desenvolvimento socioam-
biental.

Um centro, uma expansão que colocasse por exem-


plo, num desses municípios que são mais distantes,
//126

num polo regional, por exemplo, fizesse um polo da


UVA em Acaraú, mas que não oferecesse esses cur-
sos como eles sempre oferecem; curso de enferma-
gem, direito, eu acho que poderia ter um polo que
funcionasse nessas cidades sedes que eu acho que
melhoraria a demanda da região e descentralizaria
(Representante da gestão municipal de Bela Cruz).

Vamos citar principalmente aqui, a questão da agri-


cultura. Existe atividades que são desenvolvidas na
serra da Ibiapaba que precisou de pessoas de outras
cidades e até de outros países viessem aqui para nos-
sa região. Então cursos referentes a agricultura que
é a atividade predominante da nossa região, cursos
referentes a pecuária, temos muitos criadores de ga-
dos em geral. Cursos hoje que eu acredito que seja
a maior saída para a questão econômica da serra é
o turismo principalmente o turismo religioso, das
belezas naturais que tem aqui na nossa serra. Curso
de gestão de empreendedorismo, administração. O
tão sonhado curso de medicina que a gente queria
algum dia ter a oportunidade de estar mais perto da
nossa região. Então o grande gargalo dessa questão
da parceria da UVA é o investimento, aqui a região
da Ibiapaba enquanto município seria a criação de
novos cursos referentes às atividades que hoje são
predominantes na serra da Ibiapaba e também colo-
car a UVA mais próximo do nosso povo (Represen-
tante da gestão municipal de Ibiapina).

Hoje eu vejo que a UVA tem um leque de bons cur-


sos, que já foi pensando nas nossas necessidades da
região norte, mas ainda vejo uma falha na área da
vivência no campo. A gente mora no interior e per-
cebe uma migração da zona rural para as capitais,
para os grandes centros. Na verdade, há um aban-
dono do campo e eu acredito que uma política de
qualificação profissional para você aprender a viver
e a conviver a produzir no campo seria a saída pra
gente permanecer, deixar, cativar o jovem, mobilizá-
//127

-lo, encantá-lo para que ele continue a atividade dos


pais, dos avós, uma atividade importante, até pra
manutenção da vida, né? A produção de alimentos.
(Representante da gestão municipal de Uruoca).

Os gestores municipais apresentaram informações de gran-


de relevância para compreendermos a relação entre a Universidade
e a sociedade. Vejamos a seguir o olhar dos egressos que atuam no
setor público dos municípios.

3. O olhar de egressos que atuam como servidores públicos


Na busca de compreendermos o olhar desses egressos so-
bre a relevância da UVA e também para ajudar na validação das
informações já catalogadas na pesquisa quantitativa realizada – via
sistema acadêmico da instituição. As entrevistas feitas em 23 muni-
cípios emissores de estudantes da UVA, tornam-se representativas
da abrangência territorial da Universidade. Por ser a instituição pio-
neira na oferta do ensino superior público no Noroeste cearense,
naturalmente predomina na formação dos profissionais atuantes no
serviço público, com destaque para aqueles que estão inseridos na
área da educação.
Quando indagados sobre a importância da formação uni-
versitária para sua atuação, foram unânimes em afirmar que a Uni-
versidade abriu portas no campo profissional. Há falas que explici-
tam que o acesso ao ensino superior também abriu horizontes para
conhecimentos que não seriam revelados em outros espaços e, con-
sequentemente, se viram reconhecidos no seu lugar de origem por
//128

esse patamar de conhecimento alcançado. As narrativas apresentam,


ainda, o destaque da pesquisa para a formação.

Enfim, pessoas que antes, talvez nem soubessem do


meu trabalho começaram a me procurar, querer co-
nhecer mais um pouco do meu trabalho. Enfim...
Foi tão importante a minha entrada na faculdade,
que a partir do terceiro período, que eu estava come-
çando o terceiro período, surgiu uma oportunidade
de trabalho aqui em Alcântaras. E a partir de en-
tão, essas oportunidades a cada ano foram surgindo
novas e novas oportunidades. (Servidora pública no
Município de Alcântaras).

O período que eu passei na UVA foi de grande


aprendizado, tanto enquanto universitária, como
enquanto bolsista, fui bolsista de iniciação à docên-
cia por alguns meses, isso antes de passar no con-
curso do Estado e tudo isso foi uma contribuição
importantíssima na minha formação profissional.
(Servidora pública no Município de de Ararendá).

Acho que eu nasci com 24 anos, que foi a partir daí


que tive as minhas visões de mundo, desde respon-
sabilidade de morar em república e a minha própria
formação. Eu não tinha nenhum conhecimento,
apenas o conhecimento que você traz da Educação
Física [Ensino Médio], que você traz do empírico.
Foi na Universidade que eu aprendi o que é ser um
professor de Educação Física. (Servidor público no
Município de Cruz).

É dentro da Universidade, que temos um maior


contato com o conhecimento científico que nos se-
para do senso comum. (Servidora pública no Muni-
cípio de Uruoca).
//129

A contribuição da UVA para a melhoria do município onde


vivem esses egressos, foi uma questão posta. Os entrevistados reco-
nhecem a relevância da Instituição, com destaque para a colaboração
na melhoria dos índices educacionais por meio da qualificação dos
professores. Muitos dos servidores creditam à UVA o sucesso deles,
na aprovação em concursos públicos e a oportunidade de atuarem
nos seus municípios de origem, sem concorrerem no mercado de
trabalho em outras regiões. Tais afirmações são reveladas tanto nas
falas de licenciados quanto nas dos bacharéis;

[...] eu pude trazer todas as tecnologias e ensina-


mentos e aplicar nos produtores da zona rural atra-
vés da assistência técnica rural. (Servidor público no
Município de Bela Cruz).

Os cursos da UVA são os mais voltados para a atua-


ção no nosso contexto local, as graduações da UVA
estão diretamente voltadas para coisas que são ne-
cessárias no nosso município. Posso dizer que ela
tem uma contribuição enorme para a melhoria do
município, no sentido de que forma profissionais,
[...] um ramo de trabalho diretamente voltado para
o que vão fazer na região. (Servidor público no Mu-
nicípio de Cariré).

Contribui demais para que o município cresça, por-


que olhando os profissionais que são formados pela
UVA a gente ver que a maioria tem uma competên-
cia muito grande na área da licenciatura como nas
outras áreas. Eles realmente exercem seu trabalho
com qualidade. (Licenciado em História, (Servidor
público no Município de Hidrolândia).
//130

Entendo a Universidade Estadual Vale do Acaraú


como um dos equipamentos mais importantes no
desenvolvimento socioeconômico e socioterritorial,
tanto para o município de Sobral, quanto para toda
a sua Região Metropolitana. A UVA teve, quando
do seu surgimento, e continua tendo cada dia mais
importância, por se tratar de uma universidade pú-
blica no interior do Ceará, no semiárido nordestino,
a importância da descentralização do ensino supe-
rior a partir da cidade de Sobral, e consequentemen-
te a influência e abrangência para os municípios da
Região Norte do Estado. Além da contribuição com
oferta do ensino de graduação e pós-graduação e,
consequentemente, as pesquisas, os estudos e os pro-
fissionais qualificados que poderão colaborar com o
desenvolvimento de Sobral e dos municípios vizi-
nhos. (Servidor público no Município de Sobral).

Quando pensamos sobre como ocorreram os desafios para


inserção no mercado de trabalho por alunos formados pela UVA,
constatamos que os entrevistados, em sua maioria, atuam na área
de formação (pelo menos até o ano de 2018, quando realizadas as
entrevistas, não relataram muitas dificuldades de inserção no merca-
do). No cenário atual, o horizonte provavelmente é diferente devido
à situação emblemática que passam quase todos os estados e municí-
pios no que se consiste à redução de concursos públicos.
É perceptível o orgulho por estarem trabalhando e no pró-
prio município onde nasceram e cresceram, saindo apenas no movi-
mento diário do tempo que estudaram em Sobral. Para parte deles os
estágios realizados no município ajudaram nessa inserção.


A minha inserção de trabalho no município, foi
//131

através do concurso estadual em 2009. (Servidora


pública no Município de Ibiapina).

Minha situação foi meio atípica. Consegui passar


no concurso público daqui antes mesmo de entrar
no curso de Pedagogia. Comecei a trabalhar como
concursada mesmo sem ter uma graduação e fiquei
assim por algum tempo. Aí foi na UVA que eu vi
essa chance de melhorar minha profissão e tam-
bém de melhorar minha situação salarial. (Servi-
dora pública no Município de Pacujá).

Inicialmente a gente sempre tem as dificuldades,


né? Eu me formei no ano de 2006 logo no meio do
ano eu consegui ingressar na Escola Estadual que
hoje eu sou efetiva, mas eu ingressei com contrato
temporário. Fiquei com o contrato temporário até
2009 quando veio o concurso pra efetivar. Me tor-
nei efetiva da Rede Estadual em 2007 e também
da Rede Municipal. (Servidora pública no Muni-
cípio de Poranga).

Como eu já atuava no setor, foi mais tranquilo,


eu fui só crescendo de acordo com o que eu fui
aprendendo, dentro do setor público. (Servidora
pública no Município de Tianguá).

Os egressos avaliaram a atuação da UVA, frente às outras


instituições de educação superior, tendo 2006 como marco tempo-
ral, ano de chegada do Campus da UFC em Sobral. A partir des-
se momento houve a abertura de inúmeras Instituições de Ensino
Superior, privadas, tais como: Institutos, Faculdades e um Centro
Universitário; com oferta de graduações na modalidade Educação á
Distância (EaD), semi-presencial ou presencial, com uma variedade
de novos cursos e também com cursos já ofertados pela UVA. As
//132

novas instituições não se restringiram apenas a oferta na cidade mé-


dia de Sobral, não obstante, instalaram pólos de EaD em pequenas
cidades do Noroeste cearense.
Nesse sentido entender a partir das narrativas daqueles
que se formaram na UVA, de que forma avaliam os significados da
Instituição, em meio a emergência desse momento onde há uma
massificação do Ensino Superior é importante repensar o papel da
Universidade. As falas expressam, para muitos, o reconhecimento
ao pioneirismo quase como um salvo-conduto para não cair na irre-
levância. Para outros a qualidade da formação assentada no ensino,
pesquisa e extensão já coloca a UVA num cenário positivo. Para os
jovens carentes das cidades pequenas, o fator, proximidade aliado a
oferta do acesso ao ensino superior público são geradores de oportu-
nidade de mobilidade social.
Na visão dos entrevistados, a UVA ajuda a reforçar a dinâ-
mica de Sobral enquanto cidade média. Nesse sentido se apresenta
como importante equipamento para a cidade desempenhar um pa-
pel regional amparado em serviços mais especializados que se agluti-
nam no urbano com a oferta crescente de bens e serviços voltados a
essa população universitária que se desloca diariamente para Sobral
ou nela reside.

A UVA por ser uma instituição de nível superior


pública e renomada, tem sempre se destacado frente
as demais Universidades. Pois tem uma importância
enorme e fundamental para a vida de muitos estu-
dantes advindos de cidades pequenas do interior,
visto que, é uma instituição bastante acessível para
aqueles que almejam ingressar na universidade, le-
//133

vando em consideração todas as classes sociais, cul-


turais, políticas ou religiosas. É uma universidade de
referência para muitos uruoquenses, que é onde resi-
do, uma vez que esta é uma das instituições públicas
mais próximas de nossa cidade. A UVA é conside-
rada por muitos uma instituição importante, afinal,
já deu e dá prosseguimento à formação de muitos
jovens. Onde muitos veem nela, uma possibilidade
de mobilidade social, principalmente para aqueles
jovens advindos de classes menos favorecidas que
necessitam da educação pública. (Servidora pública
no Município de Uruoca).

Vejo a UVA como pioneira, ela abriu frentes no pe-


ríodo em que Sobral ainda não se configurava como
a cidade polo ou centro aglutinador da zona norte
como se encontra hoje. Então a UVA tem essa ca-
racterística histórica de ser a primeira, ou seja, foi a
partir dela, com a ampliação dos seus cursos e Cam-
pi, que Sobral se tornou uma “cidade universitária”.
Contribuiu para o fortalecimento do potencial que
Sobral hoje tem como característica. Quando com-
parada com as outras instituições, vejo a importân-
cia dela como Universidade Pública para uma popu-
lação de uma região pobre do Nordeste brasileiro.
Então a UVA traz esse sentido de emancipação dessa
população, tornando o ensino mais acessível e qua-
lificando profissionalmente os estudantes e melho-
rando a qualidade de vida de muitas famílias. (Ser-
vidor público no Município de Sobral).

As contribuições da UVA para o desenvolvimento socio-


territorial e empoderamento das pessoas, foi também alvo das en-
trevistas, pensando que o acesso ao ensino superior não pode apenas
ser um meio de mobilidade social, mas que pode contribuir com a
emancipação social no sentido coletivo. Não podemos mais conce-
//134

ber que as Instituições de Ensino sejam apenas espaços de sucesso in-


dividual, mas que tenham compreensão da necessidade da melhoria
dos espaços de onde essas pessoas vieram e retornarão ou em muitos
casos nunca saíram.
Nesse sentido é acalentador saber que os egressos anseiam
pela expansão da UVA em seus municípios. Ela pode contribuir à
medida que planeje criar novos Campi, que aumente a parceria com
as Prefeituras Municipais. Importante também constatar a valoriza-
ção que os egressos dão ao conhecimento científico como possibili-
dade de transformação dos lugares.

[...] através de políticas de acesso à população que


não pode se deslocar do seu município, colocando
Campus, criando cursos de acordo com a deman-
da do arranjo produtivo daquele município. Os
jovens precisam se apoderarem de oportunidades
para desenvolver o seu projeto de vida, os seus so-
nhos e essas oportunidades são dadas pelas auto-
ridades competentes e pelas instituições de ensino.
A educação ainda é o caminho certo para tirar o mal
que assola a nossa juventude. Estudar sempre vale
a pena! (Servidora pública no Município de São
Benedito).

[...] nesse sentido a universidade pode continuar


nesse papel de desenvolver esse processo de forma-
ção e qualificação profissional da população e fazer
também parcerias com os municípios no sentido de
atuar na qualificação dos gestores, porque muitas
vezes a maioria dos nossos gestores sejam prefeitos,
sejam secretários, eles não tem a qualificação neces-
sária para poder estar gerindo um município. Isso
ai poderia facilitar bastante no desenvolvimento dos
municípios e, obviamente, fazer com que as pessoas
//135

pudessem estar cada vez mais buscando melhorias


para a sua região e para o município. Então acho
que essas parcerias poderiam buscar formação mais
objetiva no próprio município que não seja só So-
bral, isso iria com certeza auxiliar nesse processo
de desenvolvimento tanto socioterritorial como de
empoderamento das pessoas. Mais ou menos isso.
(Servidor público no Município de Meruoca).

[...] uma contribuição que vai além do conhecimen-


to científico, ultrapassando as barreiras dos muros
da universidade e estando mais próxima da comuni-
dade, facilitando a interação entre a Universidade e
sociedade dando maior contribuição para a melho-
ria do território em que estar inserida, melhorando
assim a vida das pessoas. (Servidor público no Mu-
nicípio de Massapê).

A UVA teve um papel fundamental na formação de pessoal


que almejam atuar no serviço público nos municípios. Para além da
opinião daqueles que trabalham no setor público, seria importante
saber o que pensam também os profissionais egressos da UVA que
hoje trabalham no setor privado ou no terceiro setor (ONG’s, sindi-
catos, associações, etc.). Vejamos a seguir.

4. A atuação dos egressos como profissionais liberais e do tercei-


ro setor
Embora parte dos egressos da UVA tenha no concurso pú-
blico um caminho natural devido à necessidade de quadros qualifi-
cados exigidos pelas Prefeituras Municipais bem como o atrativo da
estabilidade do emprego público, o desenvolvimento das atividades
econômicas, principalmente, as atividades terciárias (comércio e ser-
//136

viços) nos municípios têm requisitado cada vez mais a atuação de


profissionais liberais arregimentados em várias áreas. Conforme o
relato dos entrevistados, muitas vezes, a inserção profissional ocorreu
antes mesmo do término do curso de graduação.
Nesse sentido, podemos constatar a expressão de profissio-
nais formados pela UVA que desempenhavam a atividade profis-
sional em estabelecimentos próprios ou prestando serviços no setor
privado. Muitos são docentes em escolas privadas, em cursos de idio-
mas e cursinhos preparatórios para exames de admissão como vesti-
bular e ENEM ou mesmo lecionam no ensino superior. A pesquisa
também identificou profissionais formados pela UVA que atuam em
organizações sindicais, associativas e não-governamentais, conforme
abordaremos mais a frente no texto.
Quando perguntados sobre a importância da formação
universitária na atuação profissional, registra-se a contribuição da
UVA para a melhoria do seu município. Muitos conseguiram se in-
serir profissionalmente em sua cidade ou em outros municípios vi-
zinhos, ou, ainda, vieram morar em Sobral por conta das melhores
oportunidades de trabalho.
Os egressos também avaliam a atuação da UVA no desen-
volvimento socioterritorial, empoderamento das pessoas e diante
da chegada de outras Instituições de Ensino Superior (IES). Nes-
se sentido, os entrevistados apontam que a formação ofertada pela
UVA foi fundamental para a formação social, cultural, científica e
profissional. Para alguns, se deslocar para Sobral e vivenciar a Uni-
versidade teve o sentido em sua formação pelo convívio e experiên-
//137

cias vividas no cotidiano universitário que os ajudaram a trilhar seu


caminho profissional

A formação universitária foi essencial para o cami-


nho que eu queria seguir, que era na área da edu-
cação, no caso, professora e a gente sabe que hoje
existem muitas possibilidades para fazer um curso
superior, mas eu optei por fazer na universidade
na UVA porque eu achei que seria melhor a convi-
vência, o dia a dia seria uma experiência pra que eu
pudesse chegar no meu objetivo para que era futu-
ramente ingressar como professor da rede estadual,
ou até na universidade porque também dou aula em
cursos, então eu acho que foi muito importante, o
convívio dentro da universidade.
[…]
Profissionalmente eu comecei trabalhar como pro-
fessora no 4º Período, eu fiz o concurso do estado
temporário, passei e ingressei no mercado de traba-
lho. Paralelo a isso eu fui contratada por uma escola
particular, porque de início o professor sai da uni-
versidade o primeiro caminho é o das escolas parti-
culares, aí fui contratada e fiz um paralelo entre as
duas escolas. Dois anos depois eu saí da universida-
de, em 2013 me formei, ai teve o concurso do esta-
do e eu passei no concurso do estado e decidi atuar
no conciliando com a escola particular que eu gosto
de ter esses dois lados da moeda, o ensino público
e o ensino privado. Na minha área de educação, o
mercado de trabalho é bem aberto. (Residente no
Município de Ararendá).

A descoberta de um “novo mundo”, de novos conhecimen-


tos acessados na Universidade também contribuíram para a iden-
tificação com a área de formação e reafirmação do papel do profis-
sional mais sensível às demandas sociais. Os relatos apontam que
//138

essa identificação ocorreu, em geral, com a iniciação profissional em


ocupações temporárias, estágios curriculares ou em bolsas e auxílios
ofertadas pela Universidade. Embora isso não configure uma oferta
plena de experiências profissionais em vários cursos, nos leva a ob-
servar que o acesso ao ensino superior permite uma maior possibili-
dade de inserção profissional para jovens e adultos formados, mesmo
partindo de estágios curriculares em empresas ou órgãos públicos,
as experiências acumuladas no ensino superior na UVA abriu cami-
nhos para oportunidades ocupacionais e até na área da gestão junto
prefeituras municipais.

Ao longo da faculdade e diante das experiências vi-


vidas que a Universidade proporcionava através do
Estágio e da Prática Jurídica eu me identifiquei mui-
to com o trabalho no ramo da Advocacia, então ao
me formar eu procurei atuar nesse ramo ao qual me
identifico até hoje e construí meu escritório, e tra-
balho nessa mesma área. (Residente no Município
de São Benedito).

Desde o primeiro ano de faculdade tive muitas


oportunidades de inserção no mercado de traba-
lho, inicialmente como bolsista do próprio curso,
logo após participando de projetos independentes.
Como licenciada após seleção municipal atuei na
educação de Jovens e Adultos como professora e co-
ordenadora, atuei como professora no ensino funda-
mental e médio do Governo do Estado, bem como
professora e coordenadora de pós-graduação do Ins-
tituto de Estudos e Pesquisas do Vale do Acaraú-IVA
e Instituto Dom José de Educação e Cultura-IDJ.
Como bacharel, coordenei o setor de Urbanismo e
Meio Ambiente da SEUMA-Sobral e Unidade de
Gerenciamento de Projetos-UGP II, entre outros.
(Residente no Município de Sobral).
//139

Minha inserção profissional na fase inicial foi no


campo pedagógico, passando a lecionar em todas
as escolas públicas onde estudei no vizinho municí-
pio de Massapê, depois como extensionista atuando
como zootecnista prestando serviço de assistência
técnica e extensão rural nas comunidades rurais
do município. Por fim no campo da gestão pública
quando ocupei o cargo de Secretário de Agricultura
e Pecuária do município de Massapê. (Residente no
Município de Sobral).

A UVA exerce um papel importante para a região Noroeste


do estado, pois ao ofertar cursos gratuitos e de qualidade, promove a
democratização e acesso ao ensino superior a muitos jovens de baixa
renda. Conforme o relato de uma egressa sobre a contribuição da
Universidade:

[...] muitos dos nossos alunos, só conseguem aden-


trar no ensino superior pela universidade ser públi-
ca, por que nós temos muitos alunos que tem uma
renda muito baixa. E aí eles não conseguem pagar
para fazer determinados cursos, então podemos di-
zer que a contribuição da UVA é bem ampla, em que
sentido? Muitos dos nossos alunos são de baixa renda
e eles acabam adentrando em algum programa que a
Universidade vem a oferecer, tipo bolsas, incentivos
então esses alunos passam a ter uma oportunidade
melhor, bem maior de permanecer na Universidade.
(Residente no Município de Cariré).

[…] tem inúmeros jovens que são filhos de agricul-


tores chegando na tão sonhada universidade, po-
dendo então realizar seus sonhos, podendo então ter
uma profissão e ter uma garantia de uma vida me-
lhor e isso pro município de Coreaú foi e continua
sendo muito importante. (Residente no Município
de Coreaú).
//140

As dificuldades inerentes ao início da atuação profissional


que foram mencionadas pelos entrevistados envolveram conjunturas
locais/globais do campo profissional, a desconfiança no trabalho re-
alizado diante da pouca experiência.
Foi lenta, pois passava por um momento de crise
que afetava não só o município mas o país inteiro,
e a construção civil foi o setor mais atingido. (Re-
sidente no Município de Coreaú).

A minha profissão hoje é advogado, mas as pesso-


as preferem ir em busca de advogados em Sobral;
advogados mais renomados do que acreditar nas
pessoas aqui do nosso município. É isso que eu
tenho observado, uma grande dificuldade em ad-
quirir a confiança das pessoas. Não sei se é porquê
as pessoas viram a gente crescendo. Mas eu estou
sentindo essa dificuldade. Mas assim, a minha in-
serção aos poucos, é... está sendo, apesar de difícil,
está sendo boa. A cada trabalho feito, eu vejo a sa-
tisfação das pessoas. Elas gostam do meu trabalho.
(Residente no Município de Alcântaras).

No início tudo é bem difícil, as escolas querem dar


oportunidade ao ver meu currículo, mas exigiam
uma experiência. Iniciei tudo muito cedo, aos 18
anos mais precisamente, os alunos e pais estranha-
ram minha jovialidade, mas aos poucos tudo foi
se colocando em seu devido lugar. (Residente no
Município de Massapê).

Toda inserção no começo é difícil, mas por ter for-


mado na UVA, pelo nome dela, por ser estadual,
por ter uma qualidade boa, ajudou muito pra me
sobressair diante dos outros profissionais. (Resi-
dente no Município de Tianguá).
//141

A inserção no mercado de trabalho da licenciatura,


para lecionar, foi mais difícil por conta da concor-
rência. (Residente no Município de Ipu).

Foi um tanto complicada pois como nossa cidade


é uma das menores cidades do Ceará tem muito
pouco postos de trabalhos (Residente no Municí-
pio de Pacujá).

O pioneirismo da UVA na criação e manutenção de cursos


regulares possibilitou que muitos estudantes não precisassem migrar
para outros centros urbanos mais distantes a exemplo de Fortaleza,
capital do estado.

[...] eu ingressei na UVA, era a única Faculdade de


Direito que tínhamos na região, não existiam ainda
outras, mesmo que particulares, e no momento, eu
também não tinha condições de sair, para ir para
outra cidade mais distante, [...] se não fosse a UVA,
certamente não teria me formado naquela época,
e não estaria hoje trabalhando como advogada no
meu Município. (Residente no Município de Cruz).

As greves foram apontadas de modo ambivalente, pois a


medida em que retardou a conclusão do curso, também foi impor-
tante para que a UVA conseguisse melhorias com investimento em
infraestrutura (laboratórios, salas de aula, gabinetes) e concurso para
professores efetivos. As políticas de assistência estudantil, recentes
como o Restaurante e Residência Universitária também foram apon-
tadas como suportes significativo para o tempo de permanência e
engajamento dos estudantes nas diversas atividades de ensino, pes-
quisa e extensão na Universidade. Isso pareceu ser um diferencial em
//142

relação a outras modalidades de cursos de graduação. A qualificação


do corpo docente também foi apontada como um fator positivo e
um diferencial da UVA para o êxito no campo profissional.

[...] as greves acabam repercutido de uma forma ne-


gativa, a gente quando está dentro da universidade
vê que isso é algo necessário, mas quem está fora e vê
de uma forma superficial não entende e existe uma
falha de comunicação e veem pelo lado negativo das
greves e acabam preferindo o caminho mais fácil.
‘Ah vamos fazer essa universidade aqui, esse curso
a distância, é mais rápido’ Só que em questão de
qualidade serão bem inferiores. (Residente do Mu-
nicípio de Ararendá).

A vocação da UVA na formação de professores marcada


pela oferta de cursos de licenciatura permitiu atender às demandas
dos municípios e, ainda, a estabelecimentos de ensino particulares
em várias cidades dos territórios de atuação da UVA. Embora a pes-
quisa não tenha tido o objetivo específico de abranger os egressos
dos cursos descentralizados, alguns entrevistados foram alunos de
Institutos que promoveram cursos pagos nos municípios do Noro-
este cearense com a chancela da UVA. Contudo, dentre os profissio-
nais formados pela Instituição, destacamos a atuação de programas
importantes na formação de professores e professoras, financiados
pelo governo federal como o Programa de Formação Docente em
Nível Superior - MAGISTER nos anos 2000, e mais recentemente
o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica -
//143

PARFOR e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária


– PRONERA.
Essa inserção socioterritorial poderia ser maior com a am-
pliação do número de vagas, a abertura de novos cursos e Campi,
formando profissionais que possam atuar no desenvolvimento terri-
torial de seus municípios. Porém, ainda é grande a tarefa da UVA na
formação de profissionais qualificados nos municípios, embora esta
realidade tenha melhorado conforme os relatos.

A formação universitária foi um divisor de águas na


minha vida profissional, uma vez que possibilitou-
-me adquirir maturidade intelectual e uma reflexão
crítica sobre meu ofício. Na vida profissional, é pre-
ciso preparo e antes de tudo, aprender a ler o mundo
para interpretar suas conexões e com competência
detectar as necessidades do mundo do presente, e
isso não é tão simples quanto o senso comum pode
sugerir. (Residente no Município de Sobral).

[…] temos um campo de atuação muito bom que


envolve Alcântaras, que envolve Moraújo e Coreaú,
que envolve Frecheirinha, Sobral a gente também
consegui um campo de atuação. Então, assim é uma
profissão muito boa, muito importante, principal-
mente pra desenvolver a economia local do municí-
pio. (Residente no Município de Coreaú).

A inserção profissional na minha cidade foi rápida,


no momento que eu me formei, já comecei a traba-
lhar, trabalhando no município, até hoje continuo
trabalhando. (Residente no Município de Cruz).

A conquista do curso superior completo, foi de


suma importância para conseguir um emprego no
qual consegui. (Residente no Município de Hi-
drolândia).
//144

Nesse sentido, programas de bolsas de auxílio foram de


grande importância: bolsas de iniciação à pesquisa, ensino, extensão
e administrativas. Deveriam ser ações inseridas em políticas públicas
que tem garantido de modo efetivo a permanência dos alunos na
Universidade e sua melhor formação profissional, de maneira que
é simbólico o reconhecimento do papel da universidade e a quem
serve:

“[…] eu acredito que a universidade para crescer


tem que ter cara de povo, né, você tem que ter o po-
vão. E eu acredito que a UVA hoje tem. Não é mais
uma UVA de um grupo seleto de pessoas. A UVA de
todo mundo. Eu acredito e sou muito esperançoso
que a UVA continue nesse processo de crescimento.
(Residente no Município de Coreaú).

5. Considerações finais
A UVA é diversa por ser formada de pessoas, rostos, cores,
desejos, sentimentos, afetos, falas, visões... e pode contribuir para
reafirmar a pluralidade e produção de lugares inclusivos nos terri-
tórios onde atua. Tudo isso é parte do que se entende por acesso e
democratização do ensino superior para grande parcela de jovens
com perfil de vulnerabilidade e baixa renda, conforme o relato dos
profissionais egressos.
Em geral, os egressos relataram que a sua iniciação pro-
fissional ocorreu quando ainda cursavam a graduação, assumindo
bolsas, realizando estágios ou ocupando cargos temporários. Outros
ocupavam postos de trabalho no setor do comércio e serviços em
//145

seus respectivos municípios. Cabe à Universidade extrapolar sua re-


lação com as escolas de ensino fundamental e médio no sentido de
criar uma sinergia que mantenha vínculos mais ativos com os terri-
tórios urbano e rural.
O contato com os entrevistados nesta pesquisa nos aponta
o tamanho da responsabilidade e do desafio que temos enquanto
professores, estudantes, gestores e demais servidores frente ao com-
promisso com uma Universidade pública, de qualidade, referenciada
por egressos e por outros segmentos envolvidos, direta ou indireta-
mente na sociedade. Responsabilidade de ser espaço de referência
na formação de profissionais que atendam ao desenvolvimento do
campo profissional qualificado nos territórios de atuação da UVA.
Todavia, os limites que nos são impostos pela conjuntu-
ra política, econômica e sociocultural, dificultando uma ação mais
efetiva em condições infraestruturais subtraem oportunidade e con-
dições objetivas de termos uma formação condizente com a necessi-
dade social. Esta responsabilidade e este desafio precisam ser assimi-
lados não só por quem participa diretamente da UVA, mas também
pelo poder público estadual, secretarias de governos, fundações de
fomento à pesquisa, prefeituras municipais, entidades e agentes en-
volvidos, direta e indiretamente por esta Instituição que deve ter a
cara do povo.
//146

A UVA, QUAL O SEU FUTURO?


Nilson Almino de Freitas35

1. Introdução
O presente artigo discute, a partir de fontes orais, audiovi-
suais e documentais, questões relacionadas aos desejos de egressos,
gestores municipais e representantes da administração da Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Relacionadas a como essa IES
poderia colaborar mais, no futuro, com o desenvolvimento regional
e local. A UVA faz parte do Sistema Estadual de Educação e, sua
sede, está situada na cidade de Sobral, no estado brasileiro do Ceará.
As fontes trabalhadas foram produzidas pela equipe que faz parte
do projeto “A inserção socioterritorial da UVA e seu contexto de atu-
ação”36.
Com os perfis definidos para a pesquisa mais ampla, pen-
samos que poderiam nos mostrar narrativas diversificadas que apon-
tem para especificidades que se relacionam com as dinâmicas sociais,
econômicas, culturais e políticas de cada município, ressaltando

35  Professor da área de Antropologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA/


Sobral-CE; Coordenador do Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas – LABO-
ME; Coordenador do Programa de extensão Visualidades; Professor do Mestrado Acadê-
mico em Geografia da UVA – MAG; Pesquisador Associado do Pós-doutorado em Estudos
Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
36  A metodologia da referida pesquisa está sendo apresentada de forma detalhada na
parte inicial desta publicação. As entrevistas deste trabalho mais amplo servem de fontes
primárias para este artigo.
//147

também diferenças internas e contradições locais. Das entrevistas,


queremos destacar no presente artigo, uma das questões aplicadas
na lista de perguntas, relacionada aos desejos de como deve ser o
futuro da IES, especialmente no que se refere a opinião sobre como
a UVA pode colaborar mais no investimento do desenvolvimento
socioterritorial e empoderamento das pessoas. Em algumas cidades,
como Sobral, Ipú e Coreaú, fizemos o registro audiovisual que serviu
como material para o filme “UVA, 50 anos: trajetórias” produzido
pelo Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas – LABO-
ME37, desta IES pesquisada. A sequência final deste filme também
nos serviu como fonte para reflexão sobre o tema deste artigo. De
fato, no final das contas, vamos discutir aqui o desejo de futuro de
nossos interlocutores sobre a IES. Cada um dos desejos selecionados
vai ser contextualizado a informações produzidas por documentos
internos da UVA, relacionado aos temas falados pelos interlocutores
selecionados.
Pensando o desejo de futuro, baseado nas reflexões de De-
leuze (1997), é importante destacar que entendemos ser o desejo
uma potência. É um esforço do interlocutor em agenciar um con-
junto de elementos selecionados das suas lembranças e experiências,
que servem para compor o objeto referente. Não se deseja uma uni-
versidade de forma específica e substantiva. Não é uma representação

37  O LABOME é um arquivo público de documentos especiais, particularmente áu-


dio, vídeo e fotografia, que visa estimular pesquisas com fontes nestes suportes. Faz parte
do Centro de Ciências Humanas da UVA. O filme pode ser encontrando no endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=iApb4Wmzt_U&list=PLrKSbcOn7CPuBqlaIijhU-
Cb_Ol4pBCUgc&index=28 .
//148

exata e fiel de uma possível IES, até porque se fala do futuro, ou seja,
de algo que não existe ainda. Portanto, as falas são ações políticas e
morais fundadas em elementos que chamam atenção sobre o lugar,
a posição, o interesse e a imagem que estão ao redor do ser desejado,
reforçando a potência do interlocutor em causar um efeito no pes-
quisador falando de um lugar que o ser desejado poderia ocupar na
sociedade. Se monta uma ideia que fala de projeção de algo ainda
não realizado, mas que, na narrativa ganha contornos de plausibili-
dade de execução. Os elementos agenciados na narrativa são objetos
que compõem outros conjuntos desejados relacionados a modelos
mais amplos de como uma IES deveria ser, sem deixar de lado sua
inserção em outros territórios maiores. Em alguns depoimentos, por
exemplo, de uma Universidade que atende a uma região específica
do estado, tenta-se mostrar um desejo de inserção fora do estado,
por exemplo, no Nordeste, no Brasil e no mundo.
Neste caso, a memória individual foi fundamental como
fonte de pesquisa. Memória que, ao falar do futuro, recorda e re-
conhece seu passado como fonte de informação para fundamentar
o seu desejo que, de fato, é uma agência narrativa relacionada ao
presente. O narrador seleciona trechos memoráveis de sua experi-
ência na instituição de forma parcial, agenciando estas lembranças
como poder de afetar o interlocutor, portanto, contextualizando no
presente da entrevista, para pensar o futuro como um continuum
temporal que territorializa seu argumento como força de verdade
sobre o que deseja para o futuro.
A memória aqui, está sendo tratada, aplicando uma refle-
xão de Deleuze (1997), não como significativo de representações de
//149

fatos, mas como fluxo significante, assim como também investimen-


to pragmático, que impõe uma forma de ver o futuro. A questão
principal seria saber como a agência narrativa do entrevistado fun-
ciona e qual a intensidade da ação ao falar de como seria o futuro,
ao conversar com o pesquisador. Seria uma leitura da intensidade da
afecção narrativa que passa a ser entendida como uma experimenta-
ção do acontecimento provável no futuro. A memória, nesta leitura,
é contextualizada na relação entre fluxos rizomáticos acionados pela
interlocução da pesquisa. A proposta é de explorar o desejo dando
espaço para incompletudes da compreensão, já que se fala de fu-
turo, ou o que supostamente ainda não existe. O desejo dá ênfase
ao que escapa, às linhas de fuga, às indeterminações, às múltiplas
possibilidades e encruzilhadas, possibilitando ao pesquisador esco-
lher fora das sombras de uma análise essencialista, factual, objetiva.
Assim como ajuda a pensar um tempo descolado de percepções de-
terministas. A cartografia proposta é a da plasticidade do mundo da
universidade pensada e desejada no futuro. É uma cartografia do que
ainda está por ser feito. Na verdade, são várias cartografias onde seus
contornos em fronteiras, em algumas situações entram em conflito
e causam confusão. É um devir que é ambivalente que apresenta
fugas e sinergias entre projetos individuais e coletivos ainda impreci-
sos, tensos e em transformação que agencia economias do desejo, da
moral, da política, relacionados ao mercado, a ciência, envolvendo o
ensino, a pesquisa e extensão.
O presente da entrevista e o desejo de futuro explicitam o
tipo de filiação do narrador com o seu passado narrado. Como diria
Candal (2012), não podemos confundir a evocação das lembranças
//150

manifestas com o contexto e seus conteúdos propriamente ditos em


sua totalidade. A memória evocada é a expressão parcial de tantos
outros passados possíveis. O passado selecionado pelo narrador é o
que, supostamente, sustenta uma proposta de futuro, mas anunciada
no presente.
Diante disso, não podemos crer que a fala, mesmo em
quantidade tão grande quanto estas registradas na pesquisa, possam
ser analisadas tirando uma espécie de “média” que seja expressão de
uma vontade coletiva, a não ser que desconsideremos suas diferenças
e a ação pragmática do narrador em querer causar um efeito no seu
interlocutor naquele momento da entrevista. A memória individual
precisa ser analisada enquanto invenção criativa do interlocutor que
seleciona lembranças que eles acham significativas para causar um
determinado efeito no seu entrevistador. Em função da riqueza de
narrativas produzidas pela pesquisa, seria impossível dar conta de
interpretar todas elas de forma individual. Neste caso, teremos aqui
que selecionar algumas que apontam para questões que chamaram
atenção do pesquisador que, assim como seus interlocutores, é sele-
tivo na análise de suas fontes. Mesmo assim, o critério da diversidade
de opções foi acionado, mesmo não funcionando de forma comple-
ta, na escolha dos depoimentos aqui considerados. Os nomes dos
entrevistados vão aparecer porque são opiniões pessoalizadas. São
eles que falam e assumem a sua narrativa quando se deixar filmar,
gravar e assinam termo de consentimento.
//151

A lembrança é sempre acompanhada de esquecimento, seja


ele proposital, seja ele por limites impostos pela forma de comunica-
ção sobre a análise das fontes, seja ele por não lembrar de forma não
proposital. Cada entrevistado aciona critérios e códigos diversos na
seleção do que esquecer e lembrar. Alguns selecionam aspectos rela-
cionados a preceitos ideológicos, sejam aqueles vinculados a valores
que ressaltam o sistema econômico vigente, sejam aqueles que o cri-
ticam. Outros lembram de suas experiências pessoais, restringindo
suas observações às atividades da sala de aula ou a relação, professor
e aluno. Já outros lembram das atividades de pesquisa e de exten-
são como experiências que podem ser mais valorizadas. Entretanto,
todos falam das virtudes da universidade, apontando uma agenda
positiva, e, no que se refere ao futuro, falam de possibilidades de
melhora. Estas virtudes, são comumente associadas a um potencial
que o diploma universitário fornece com relação a um possível su-
cesso na profissão em região que não abriga uma grande metrópole,
mas sim, a cidade média de Sobral e várias outras pequenas. Sucesso
este que também pode estar relacionado a um aparente “insucesso”,
quando alguns falam que, mesmo não ocupando vagas no mercado
de trabalho na sua área de formação, a experiência na universidade
ajuda de alguma forma na sua atividade atual. Algumas esperanças
de melhora são internas, vinculadas às atividades exercidas dentro da
universidade, outras chamam atenção de movimentos relacionados
a conjuntura política e econômica do país ou do estado do Ceará, já
outra remetem ao conceito de gestão da universidade.
Para podermos cumprir com o propósito deste artigo, le-
vamos em consideração estas questões metodológicas. O texto vai
//152

oscilar entre uma interpretação feita enquadrando os entrevistados


em grupos formados por discursos que convergem em muitos as-
pectos, mas também não vai desconsiderar variantes das narrativas
individuais, a não ser pelo fato de não ser possível de mostrar todas
elas. Ao optar por tratar os depoimentos a partir de seleções de eixos
comuns gerais, sabemos que vai ser parcial a análise. Por outro lado,
nos conforta saber que é uma característica do conhecimento cientí-
fico: a parcialidade. Nunca sabemos de tudo de forma completa na
ciência. Devemos reconhecer a humanidade do pesquisador, ou seja,
os limites subjetivos, as restrições objetivas, os afetos, os interesses de
pesquisa, assim como a impossibilidade de dar conta de todas as va-
riantes e diferenças individuais nos limites impostos por um capítulo
de livro. Enfim, vamos iniciar nossa viagem pelo desejo de futuro da
UVA, dialogando com inúmeros entrevistados da pesquisa, sabendo
que poderíamos ter explorado outros aspectos não selecionados aqui
e outros entrevistados, em função da riqueza das fontes. As descul-
pas e justificativas que tratam da impossibilidade de dar conta de
todos, são necessárias para os entrevistados que não aparecem aqui.
O consolo é que aparecem nos demais capítulos do livro. Mesmo
reconhecendo os limites, o rigor no sentido de diversificar escolhas,
fazer a crítica e autocrítica na experimentação de reflexões sobre estas
fontes, não foram descartadas e foram baseadas na linguagem cientí-
fica apropriada para análise.
A maior parte dos depoimentos criados pelos nossos in-
terlocutores direcionam seus argumentos a questões relacionadas ao
modelo pedagógico de docência, as condições de formação no que
se refere ao ensino, a pesquisa e a extensão. Estes depoimentos que
//153

se relacionam a condições estruturais, pedagógicas e didáticas, vão


ter um destaque maior no primeiro tópico. No tópico seguinte, de-
fine-se como foco duas formas contrárias de fazer a gestão da univer-
sidade. O destaque do primeiro a ser tratado neste artigo se justifica
pelo foco nas práticas cotidianas dos diferentes sujeitos sociais que
compõem a universidade na sua formação. O tópico seguinte vai tra-
tar de questões de maior abrangência, já que se relaciona a desejos de
futuro que regem princípios e conceitos mais amplos sobre a gestão
da instituição, que falam de movimentos que estão fora da universi-
dade, sendo aplicados a esta instituição. Neste caso, partimos então
do que é interno às atividades de ensino, de pesquisa e de extensão
da IES.

2. Desejos e afetos 1: processos pedagógicos, práticas


educacionais institucionais e rebatimentos em cidades vizinhas
Começamos com um aspecto que foi muito comum nos
depoimentos que tratam da relação, professor e aluno. Lívia Gui-
marães, graduada em Letras, atualmente professora da rede pública
de ensino em Alcântaras, por exemplo, faz algumas críticas ao tipo
de relação construída na sua trajetória com alguns professores. Ela
afirma que:
[…] algumas coisas devem ser repensadas, devem ser
revistas; que o aluno lá, ele deveria ter um pouquinho
mais de vez. As vezes o aluno fica meio assim, perdido.
O professor no mundo dele, o aluno no seu mundo.
Então eu acho que deveria existir um pouco mais de
compreensão, digamos assim, entre ambas as partes.
Não que a instituição seja ruim. Mas eu acho que
ainda está faltando um pouco disso (GUIMARÃES,
depoimento, 2018).
//154

A professora coloca esta maior proximidade como elemen-


to a mais a ser pensado, já que considera que a instituição foi muito
importante para sua formação. Entretanto, apesar disso, a hierarquia
e a distinção de lugar de fala e decisão de ações formativas, parece
ainda ser uma lacuna a ser compensada, segundo ela. O diálogo en-
tre professores e alunos parece ser o desejo de futuro da entrevistada,
talvez para compensar algumas experiências pessoais que viveu.
Sobre esta questão da falta de comunicação entre formação
e produção acadêmica entre sujeitos sociais que fazem a universidade
existir, Adriano Melo, Secretário de Desenvolvimento Econômico e
Tecnológico de Ipú, acrescenta outros elementos. Para ele:
Esse é um grande desafio. Deve existir uma via
de mão dupla. Uma comunicação direta entre os
entes públicos e as universidades para que, como
se tem os projetos de pesquisa, como tem os
levantamentos de dados, as elaborações e execuções
de projetos a nível acadêmico, que haja um diálogo
para os entes públicos para que a gente possa ter
o devido acompanhamento da finalização desses
projetos e desenvolver as políticas públicas a partir
das informações coletadas. Esse estudo não deve
ser apenas mais um instrumento de arquivo das
Instituições de Ensino Superior. Esse estudo não
pode ser mais uma produção nas prateleiras das
universidades. Precisa-se dessa devolutiva social
através da discussão com as comunidades e com o
poder público a devida provocação para se efetivar
políticas públicas para melhorar os índices que
são coletados através das entrevistas (MELO,
depoimento, 2018).
//155

O gestor municipal está chamando atenção da falta de re-


lação entre a produção do conhecimento acadêmico e as políticas
públicas. Podemos pensar este desejo de futuro muito relacionado a
proximidade, sempre muito pouco instável entre estes dois elemen-
tos. É comum ouvirmos no cotidiano da universidade sobre esta
dificuldade alegando que as temporalidades são diferentes e irrecon-
ciliáveis no que se refere a execução de projetos, planos e políticas
entre o poder público e a universidade. É comum se afirmar entre os
professores que, na gestão pública, tudo é “para ontem”, enquanto
na universidade o tempo é mais lento em função das exigências no
que se refere ao rigor científico. Neste caso, é comum acontecer a cir-
culação e a divulgação científica entre os pares de uma mesma área,
mas a saída destes saberes de dentro dos muros do mundo acadêmi-
co, é mais difícil em função de vários fatores. Um deles é a questão
da linguagem. Os trabalhos de pesquisa, geralmente, usam, para fins
de análise, a escrita mais rebuscada e erudita, além de uma postura
questionadora, com forte carga teórica, o que pode provocar uma
certa rejeição àqueles que não a dominam. O caráter aplicado do tra-
balho acadêmico acaba se restringido a determinadas pesquisas que
nascem com este propósito. A pesquisa básica, não necessariamente
serviria para alguma finalidade de aplicação em políticas públicas.
Esta questão vai ser melhor discutida mais a frente, mas adianta-se
que, estes e outros elementos, dentre eles, diferenças ideológicas en-
tre os gestores e alguns pesquisadores, talvez justifiquem uma relação
não muito próxima ou complementar entre as políticas públicas e a
produção acadêmica. São poucas as experiências na UVA que fazem
esta integração.
//156

Lívia Guimarães, professora de Alcântaras já citada aqui,


acrescenta outro elemento nas suas sugestões: a expansão da interio-
rização. Segundo ela:
Ela deveria se expandir mais, atingir outros locais.
Eu sei da existência de alguns projetos que é
realizado pela instituição em outros municípios. Eu
acho que Alcântara deveria ser um dos municípios
também contemplados. Como aquela questão do
PARFOR. Pelo menos eu não tenho conhecimento
de que o PARFOR atue aqui em Alcântaras. Eu
acho que seria um ponto a se pensar. Algo a se
trazer para Alcântaras. Muitas pessoas precisam de
uma segunda formatura. Enfim, ela poderia atuar
nessas questões de trazer essas possibilidades para
outras pessoas do nosso município (GUIMARÃES,
depoimento, 2018).

O desejo da entrevistada coincide com um movimento


identificado por Holanda e Freire (2018) que chamam atenção de
que a interiorização do ensino superior tem relação direta com o de-
senvolvimento econômico, político e social, atraindo e qualificando
a formação profissional. Os autores afirmam que, além disso, pro-
move dinâmicas que redefinem as redes intraurbanas, quando uma
IES é instalada em uma cidade. A universidade em cidades médias
e pequenas provocam novas configurações no espaço geográfico re-
estruturando movimentos e relações, complexificando a apropriação
do território do ponto de vista material e imaterial.
Holanda e Freire (2018) lembram a origem recente da uni-
versidade brasileira que remete a década de 1930. O que existia antes
eram faculdades isoladas. No momento contemporâneo ocorre uma
//157

expansão, apesar de seletiva, no território nacional. As regiões me-


tropolitanas das grandes metrópoles e as cidades médias, são o foco
principal desta expansão de vagas no ensino superior. A ideia é que
há um movimento concomitante entre o crescimento econômico e a
demanda por instituições educacionais.
No caso do Plano Nacional de Formação de Professores
da Educação Básica – PARFOR, citado pela entrevistada como im-
portante para a cidade dela, o campo de atuação do formando neste
tipo de curso superior é a licenciatura, com o propósito de qualificar
os docentes do ensino básico que já atuam na docência. São três
modalidades, segundo a CAPES, gestora deste projeto: licenciatura
para docentes da rede pública que não possuem formação superior;
segunda licenciatura para professores que se formaram em áreas di-
ferentes da que atuam em sala de aula; e formação pedagógica para
aqueles que são formados, mas sem habilitação em licenciatura. A
UVA aderiu a modalidade de primeira e segunda licenciatura em vá-
rios cursos em 2009, reduzindo as ofertas nos demais semestres. Em
2017 eram 807 alunos matriculados, segundo o relatório de gestão
de 2018.
Neste caso, sem retirar o mérito desta atividade citada pela
entrevistada, a oferta de ensino superior nas cidades pequenas, tam-
bém promovem impactos relevantes, entretanto, nesta modalidade
parece não suprimir a dependência do que é ofertado em cidades
maiores, de caráter presencial e permanente, mantendo-se a necessi-
dade de se deslocar da maior parte dos que fazem cursos superiores.
Além disso, onde existe universidade consolidada, existem cursos
sendo oferecidos e em maior quantidade de áreas, como é o caso de
//158

Sobral, o que reforça ainda mais a dependência das cidades pequenas


ao redor.
Esta modalidade e outras como aquelas ofertadas por insti-
tutos conveniados à UVA, são cursos que se restringem à licenciatura
e não tem o mesmo tipo de investimento no que se refere ao tripé
básico da universidade que é a relação entre ensino, pesquisa e exten-
são, já que a gestão pedagógica da formação se dá via um conjunto
de disciplinas que são ministradas de forma concentrada em finais
de semana e o professor não permanece na cidade, além do tempo
de sua aula. A presença institucional e de professores é fundamental
para consolidar uma universidade em qualquer cidade.
De qualquer forma, os pequenos municípios ou mesmo
os distritos e localidades, acabam sofrendo transformações espaciais
no seu território e paisagem, como, por exemplo, o surgimento de
serviços especializados para aqueles que entram neste fluxo de ir e vir
de uma cidade para outra para estudar no que se refere ao transporte,
locais com venda de acesso à internet ou reprodução com copia-
doras, além de oferta de serviços especializados como academias de
ginástica, escritório de contabilidade, clínicas para exames médicos
especializados, dentre outros. Além do impacto mais forte que acaba
tendo na formação de professores. É o caso mostrado por Nascimen-
to (2018), tratando do distrito de Jaibaras, distante 24 km de Sobral,
sede municipal que abriga cerca de 37 instituições de ensino supe-
rior, segundo sistema E-MEC em 201938. A cidade média de Sobral
acaba então sendo polo de atração das demais cidades vizinhas. Só

38  A informação pode ser conferida no endereço: http://emec.mec.gov.br/emec/nova.


//159

a UVA atende cerca de 59 municípios que mandam, todos os dias,


estudantes para as IES. Segundo o documento UVA em Números de
201639, 66,16% dos alunos são oriundos de outros municípios.
Além do PARFOR, a UVA possui outros programas que
visam a interiorização da formação de professores. O Programa Na-
cional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), realizado em
convênio com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrá-
ria (INCRA), é um programa de educação no campo, desenvolvidos
em áreas de reforma agrária. Segundo o relatório de gestão de 2018,
foram 82 alunos matriculados, nos cursos de segunda licenciatura
em Geografia e História, concluindo 61 pessoas.
Desde final da década de 1990 a UVA também possui con-
vênios com Institutos privados que ofertam cursos descentralizados
em cidades pequenas do Ceará, na capital e outros municípios de
vários estados do país. Na época se pensou em ter um sistema de
arrecadação que possa prevenir cortes no orçamento do governo,
vendendo estes cursos descentralizados, que passaram por vários no-
mes. A proposta inicial era formar o que se convencionou chamar
de “professores leigos”, ou seja, aqueles que não tinham curso supe-
rior, mas já atuavam no magistério. A gestão financeira variava entre
aqueles municípios em que a prefeitura pagava integralmente o valor
cobrado pela disciplina, aqueles que pagavam parcialmente e os que
o próprio professor pagava. A partir de 2016, os “parceiros” sofreram
impacto de refluxo na oferta de forma significativa. Segundo o rela-

39  O documento mais atual disponibilizado é de 2016 e pode ser encontrado no ende-
reço: http://www.uvanet.br/documentos/numeros_daf3747a934412c7f3140f53e14115fa.
pdf.
//160

tório de gestão de 2018, este movimento que freia a oferta de novos


cursos, veio em decorrência da tentativa de preservação da qualidade
do ensino superior. Mesmo assim, em 2017 a “UVA pública”, segun-
do o relatório de gestão publicado em 2018, com sede em Sobral,
tinha 9.002 alunos matriculados em 26 cursos de graduação.
Já a “UVA privada” dos cursos descentralizados via insti-
tutos, em 2015, segundo o documento “UVA em números”, atu-
ava nos estados do Maranhão, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio
Grande do Norte, totalizando 20.338 alunos matriculados. Como
já dito, nos anos anteriores o número era bem maior e a quantidade
de estados em que atuava também. A parceria é definida da seguinte
forma: cabe ao instituto ofertar os cursos, aprovados no Conselho
de Ensino, Pesquisa e Extensão da UVA e no Conselho Estadual de
Educação de cada ente federativo onde ocorre a oferta, selecionar
os professores e cuidar da gestão financeira. A UVA dá a chancela
do diploma e recebe uma parcela do que for arrecadado, o que va-
ria, dependendo do instituto. Dependendo também da instituição
conveniada, o local de realização varia entre edifícios emprestados
do poder público, como escolas do Ensino Básico, prédios alugados
ou próprios. Nestes casos, o formato de disciplinas concentradas ou
de finais de semana, além de ter um corpo docente temporário e
contratado por disciplina, às vezes com pouca exigência sobre sua
competência para ministrar a disciplina, prejudicam, além da qua-
lidade nas aulas, a execução de atividades de pesquisa e extensão. O
caráter público também da instituição foi se perdendo com o tempo,
chegando ao ponto de, em um de seus reitorados, a UVA propor do
seu estatuto no artigo 1o, que a universidade é uma “...entidade da
//161

administração indireta do Estado do Ceará, sem fins lucrativos, com


personalidade jurídica de direito privado...”. Esta caracterização, pu-
blicada em Diário Oficial do Estado em 7 de julho de 2005, está
sendo discutida em 2019 e, provavelmente vai ser mudada para per-
sonalidade jurídica de direito público, mas, na época, o argumento
da reitoria, era de que esta foi pensada para suplantar as dificuldades
burocráticas e administrativas de gestão dos recursos vindos dos ins-
titutos privados. Por outro lado, isso provocou, com o tempo, uma
desresponsabilização do Governo do Estado com o orçamento da
IES. Hoje o problema é como recompor seu orçamento, já que a
tendência é estes cursos descentralizados desaparecerem.
Outra fonte de renda que vai pelo mesmo caminho de ar-
recadação paralela de recursos, é a oferta de pós-graduação latu sensu
que atinge, segundo o documento UVA em Números, os estados
do Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Distrito Federal,
Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Maranhão, Piauí, Goiás, Bahia, com
9.397 alunos matriculados. Este caso, assim como no anterior, dos
cursos de graduação, provocam uma tensão entre a necessidade de
incremento dos recursos no orçamento do Governo do Estado e a
necessidade de contingenciamento impostas pelas Leis de Teto dos
Gastos que vamos mencionar mais a frente. Portanto, a interiori-
zação do ensino superior, está provocando impactos na formação
de professores, neste modelo, mas, talvez, não tanto quanto teria
com a implantação de campus fixos, com corpo docente efetivo e
outros cursos superiores, além das licenciaturas. Mesmo as licencia-
turas descentralizadas, o seu caráter provisório, concentrado, apesar
de colaborar com a formação dos professores, não daria as mesmas
//162

condições oferecidas pelo Curso da mesma natureza, ofertado pela


“parte pública” da universidade.
Voltando ao assunto da relação entre pesquisa, ensino e
extensão, ele também foi tema de algumas entrevistas registradas.
Segundo Francisco Douglas Alcântara Aguiar, advogado formado na
UVA e fundados da Entidade Cooperativista Sustentável – ECOS
em Alcântaras:
Eu acho que a UVA, ela precisa trabalhar mais
a questão da pesquisa, muito mais. E a questão
também da extensão. Eu acho que o ensino já está
bem aprofundado; já está andando corretamente.
Agora a questão da extensão, ela precisa aprofundar
mais, e a pesquisa principalmente. Com isso as
pessoas se envolverão mais com a universidade; as
pessoas se envolverão mais com as suas áreas que
escolheram estudar. E com isso vão se empoderar
mais daquilo que elas escolheram. Então eu acho
que tem que ter mais pesquisa e extensão, para que
isso possa acontecer para as pessoas se envolverem
mais esse tornarem pessoas melhores e, que possam
ajudar seus municípios e a própria UVA (AGUIAR,
depoimento, 2018).

Os indicadores disponibilizados pelo documento UVA em


Números, já citado aqui, mostra que a universidade possui cadas-
trado no CNPq em 2016, 33 grupos de pesquisa, envolvendo 167
professores, de um universo de 345, totalizando 48,41% dos docen-
tes envolvidos nesta atividade. Ao todo são 263 alunos, totalizando
2,66% dos discentes matriculados, envolvendo 27 técnicos. A IES
possuía cota de 129 bolsas de iniciação científica de diferentes fontes
de fomento em 2016. Os indicadores de 2016 refletem ainda um
//163

refluxo com relação aos anos anteriores. O ano em que os números


mostram maior índice de projetos cadastrados de pesquisa é 2013,
com 298 projetos. Em 2015 são 56 projetos. Isso representa um de-
créscimo de 81,21%. Logicamente que estes números precisam ser
contextualizados na crise política do país, iniciada em 2015, que, no
ano seguinte, culminou no impedimento e deposição da presidente
Dilma Rousseff (período entre 2011 e 2016). Esta crise afetou di-
retamente a universidade com corte de recursos, o que se manteve
nos anos seguintes até 2019. Mesmo assim, segundo o documento
UVA em Números, a universidade possui em 2016, 83 laboratórios e
núcleos de pesquisa, uma fazenda experimental e a imprensa univer-
sitária, onde se situa as Edições UVA, um sistema de biblioteca com
23.780 títulos, como suportes para produção e divulgação científi-
ca. Em 2018, segundo relatório de gestão relacionado aos dados de
2017, são 45 grupos, mostrando um crescimento, mesmo em um
contexto de crise criada com a Lei de Teto dos Gastos, emenda cons-
titucional 94, aprovada em 13 de dezembro de 2016 que restringe
a ampliação do orçamento à variação da inflação do ano durante 20
anos. Esta lei é usada para justificar o contingenciamento em vários
setores, anunciado em 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro, o
que também amplia a crise.
Mesmo a UVA fazendo parte do Sistema Estadual de Edu-
cação, o que implica que seu orçamento vem, na maior parte, de
recursos do Governo do Estado do Ceará, vale lembrar que a gestão
estadual criou uma variante da Lei de Teto dos Gastos, em 21 de de-
zembro de 2016, que estabelece limite de gastos conforme a receita
corrente líquida. O que diferencia é o tempo. A lei estadual vale por
//164

10 anos e retira do teto dos gastos a educação e saúde. O problema é


que a universidade está vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Educação Superior, sendo diretamente afeta pela lei. Outra variável
a ser considerada é que a Fundação da Amparo a Pesquisa - FAP do
Governo do Estado, a FUNCAP, recebe repasse de recursos federais
para muitos de seus editais, assim como a captação de recursos dos
pesquisadores são, também, resultado de fomento federal, que sofre
refluxo com o contingenciamento.
Mesmo assim, em 2017, existem 172 projetos cadastrados,
registrando um aumento de 66,44% em relação ao ano anterior. Só
que devemos considerar que a maior parte destes projetos se referem
às concessões de bolsa de iniciação científica. A ampliação do qua-
dro docente de efetivos em 2016, que foi pauta das greves em anos
anteriores, atendida parcialmente pelo Governo do Estado, pode ter
contribuído para esta ampliação. Somando a estes que estão cadas-
trados, a UVA tem 20 projetos com financiamento de agências de
fomento nacionais e estaduais em andamento, segundo o relatório
de gestão publicado em 2018, relativo aos dados de 2017. Em 2019,
segundo o Mapa de Investimentos do CNPq40, a UVA teve 8 pro-
jetos, que somam a este quantitativo citado, aprovados no Edital
Universal do CNPq, número menor que a UFC (253), UECE (39),
UNILAB (22), UNIFOR (universidade privada com 21 projetos),
UFCA (11), IFCE (11) e URCA (11). Em 2017, foram 125 bolsas
de IC, de diferentes modalidades, somadas a 32 bolsas dos proje-

40  Estas informações podem ser visualizadas no endereço: http://cnpq.br/web/guest/ma-


pa-de-investimentos-novo .
//165

tos de Bolsa de Produtividade e Interiorização – BPI, da FUNCAP.


Houve leve decréscimo em relação ao ano anterior, compensada pe-
las bolsas dos projetos BPI.
No que se refere a extensão, podemos ver movimento se-
melhante de refluxo entre 2013 e 2018, tendo um acréscimo em
2019, não chegando a igualar os números de 2013. No ano de 2013
se registra, segundo Silva (2019), 205 atividades cadastradas. Já em
2017, o relatório de gestão publicado em 2018, são 123 atividades
cadastradas, incluindo projetos, vídeos, oficinas, eventos, programas,
minicursos, prestação de serviços, seminários, mostras, encontros e
palestras. A estimativa total de público atingido é de 52.724. Em
2019, segundo Relatório de Desempenho da Gestão em 2018 pro-
duzido pela Pró-reitoria de Extensão da UVA, há um aumento do
número de atividades e pessoas atendidas. São 172 atividades cadas-
tradas, somando 66.759 pessoas atendidas. O Programa de Bolsas de
Extensão – PBEX, vinculado ao Programa de Bolsas de Permanência
na Universidade – PBPU, cedeu 66 vagas para discentes de baixa
renda, sendo 30 bolsas remuneradas e 36 voluntárias.
Estes indicadores estão longe de atingir a grande maioria de
estudantes e professores da IES, assim como a extensão não alcançou
resultados tão amplos quanto se espera, o que talvez tenha afeta-
do diretamente no desejo de futuro do entrevistado, que menciona
sobre este tema com destaque. O fato de alguns cursos abrigarem
docentes que não moram em Sobral e se deslocam todas as sema-
nas para cidade, exclusivamente para ministrar aulas, talvez também
contribua para o índice ainda baixo de investimento de esforços dos
professores para criação de laboratórios, atividades de pesquisa e ex-
//166

tensão. Claro que o interesse por estas atividades não são uma obri-
gação de todos. Aceita-se nas IES aqueles que entendem sua vocação
deve ser direcionada somente para o ensino ou a gestão, por exem-
plo. Entretanto, são variáveis que precisam ser melhor discutidas,
como mostra o entrevistado, já que a relação entre ensino, pesquisa
e extensão é a base de qualquer formação de nível superior. A UVA
ainda parece tentar se desvencilhar de uma vocação atribuída a ela de
ser voltada para o ensino somente. O que não é nenhum demérito
se atribuir uma vocação desta natureza, mas é preciso a conciliação
com a pesquisa e a extensão para uma boa formação no ensino tam-
bém. Segundo o relatório de gestão publicado em 2018, foram 434
graduados na modalidade bacharelado, 452 na licenciatura e 41 na
modalidade superior de tecnologia, mostrando que a afirmação que
a universidade teria vocação para o ensino é mais complexa, já que a
soma do índice de bacharéis e técnicos supera o de licenciados. Mais
uma vez se reforça que, mesmo a licenciatura, carece de atividades de
formação que possam ir além da sala de aula.
Acrescentando a estes argumentos da fase ainda inicial de
investimento em pesquisa e extensão, registra-se aqui a quantidade
baixa ainda de pós-graduação stricto senso na UVA. Em 2017, são
dois mestrados acadêmicos, um na Geografia, que inicia suas ativi-
dades em 2012 e outro na Zootecnia, iniciando suas atividades em
2006, assim como três profissionalizantes, todos em rede nacional
ampla, envolvendo várias IES de estados diferentes: o de Saúde da
Família, iniciado em 2012, Profissionalizante em Sociologia (Prof-
socio), iniciado em 2017 e Profissionalizante em Ensino de Física,
iniciado em 2016. Em 2019, a UVA recebe também o resultado da
//167

aprovação de um terceiro mestrado acadêmico, sendo este na área


de Filosofia. Não existe ainda um curso de Doutorado próprio da
instituição. Isso reforça ainda mais os baixos índices relacionados
à pesquisa na UVA e o desejo de um futuro melhor, tanto para a
pesquisa, quanto para extensão. O que existe são cinco Doutorados
Interinstitucionais – DINTER, programa da CAPES que promove a
formação do quadro docente entre universidades parceiras. São pro-
gramas provisórios. No caso da UVA, são na área de Filosofia, chan-
celada pela Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e
Linguística, chancelada pela Universidade Federal da Paraíba, envol-
vendo também a formação de professores da Faculdade de Filosofia
Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE de Limoeiro do Norte,
o de Educação, chancelado pela Universidade Federal de Pelotas –
UFPel o de Computação, com a Universidade Federal do Ceará e o
de Direito, a ser iniciado ainda em 2019, com a Faculdade de Di-
reito de Vitória. São programas importantes e promovem atividades
que, no futuro, poderão render bons frutos e, possivelmente, novos
programas permanentes.
Voltando para o ensino, para completar a discussão sobre a
formação na UVA, temos o depoimento que fala do desejo de Ana
Célia de Abreu Tomé, graduada em Química, ex-presidente da As-
sociação de Universitários de Hidrolândia – AUH, atualmente pro-
fessora na cidade. Segundo ela:

O que acho que deveria, ainda, se ampliar em


termos de educação da UVA é na parte dos estágios
e dos projetos de ensino que existe na UVA. Por
exemplo, eu fui aluna do PIBID e na minha época
a gente tinha que ir para Sobral para desenvolver
//168

os projetos lá em Sobral, então eu vejo que isso é


uma mudança que poderia ser feita hoje em dia.
Era trazer esses projetos para os nossos municípios
vizinhos. (TOMÉ, depoimento, 2018).

A professora de refere ao Programa Institucional de Bolsas


de Iniciação a Docência, financiado pela CAPES. Através deste pro-
grama, o aluno é inserido no campo da iniciação a docência em esco-
las públicas do Ensino Básico, sendo orientado por um coordenador
de área da IES e um supervisor que é professor do Ensino Básico.
O programa é voltado para a licenciatura. O relatório de gestão da
UVA de 2018, relativo ao ano de 2017, aponta que foram 353 bolsas
distribuídas para os alunos, 42 para professores da Educação Básica
e 19 para professores coordenadores de área, nos cursos de Ciências
Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Física, História, In-
terdisciplinar – Curso de Biologia/Curso de Química, Letras – Lín-
gua Portuguesa /Língua Inglesa, Matemática, Pedagogia e Química.
Foram 17 escolas envolvidas nos municípios de Massapê, Sobral,
Forquilha e Groaíras. A concentração maior, realmente, é em Sobral,
com 13 escolas. Em 2018, segundo o relatório da coordenação insti-
tucional, enviado para a Pró-Reitoria de Planejamento da UVA, são
200 bolsas para os alunos, 24 para os professores da Educação Básica
e 8 para professores coordenadores de área e uma para coordenador
institucional. Os cursos atendidos, com 25 bolsas para cada um, são:
Ciências Biológicas, Ciências Matemática, Ciências Sociais, Filoso-
fia, Geografia, Letras – Língua Portuguesa, Letras - Língua Inglesa
e Pedagogia. São 11 escolas envolvidas, sendo 9 em Sobral. As ou-
tras duas estão em Forquilha e Massapê. Houve uma diminuição
//169

da quantidade de bolsas, escolas e cursos envolvidos. Esta mesma


demanda pela interiorização dos projetos e programas foi falada por
Júnior Lima Pontes, formado em Engenharia Civil e morador de
Massapê, ampliando seu desejo para além dos projetos especiais vol-
tados para a formação de professores. Segundo ele:

A universidade poderia elaborar mais projetos


de ensino, pesquisa e extensão nos municípios
circunvizinhos de maneira a proporcionar um
maior engajamento da população a universidade.
(PONTES, depoimento, 2018).

Além do PIBID, na UVA existe o programa de Residência


Pedagógica da CAPES e o Programa de Educação Tutorial – PET. O
programa de Residência Pedagógica visa inserir os alunos da licencia-
tura que estão na segunda metade de seus cursos, na prática pedagó-
gica via imersão na escola de Educação Básica. Para a UVA, segundo
o resultado divulgado pela CAPES em 29 de maio de 201841, foram
concedidas 264 bolsas, sendo 240 discentes, 30 preceptores, 10 do-
centes orientadores e um coordenador institucional, envolvendo os
cursos de Pedagogia, Letras, Educação Física, Matemática, Física,
Química, Geografia, História, Filosofia e Biologia, atuando em 24
escolas do Ensino Básico.
Em relação ao PET, segundo relatório de gestão relaciona-
do a 2017, existem três programas, dois relacionados ao Ministério

41  O documento pode ser visto no endereço: http://www.capes.gov.br/images/


stories/download/editais/resultados/29052018-RESULTADO-FINAL-Edital-6-2018-Re-
sidencia.pdf .
//170

da Educação, nos cursos de História e Pedagogia, e um vinculado


ao Ministério da Saúde. O PET visa inserir o aluno em grupos co-
ordenados por um professor-tutor em atividades extracurriculares
que complementem a formação acadêmica no seu curso. Foram 15
bolsas para o curso de História e 19 para o curso de Pedagogia. Já
o PET de Educação para o Trabalho da área de Saúde financiado
pelo Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), em parcerias com as Se-
cretarias Municipais e/ou Estaduais de Saúde, integram profissionais
do Curso de Enfermagem da UVA, de Medicina da UFC e Escola
de Saúde de Sobral. São 12 monitores, 10 preceptores, 6 tutores e
uma coordenadora geral. Do Curso de Enfermagem da UVA, são 6
professores envolvidos. Entretanto, mesmo avaliando como impor-
tante a manutenção destes programas, o desejo do entrevistado é
que possam atender a outros municípios, além de Sobral, o que está
sendo efetivado parcialmente.
Em outro depoimento, José Airton da Silva, presidente do
Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Ibiapina Ceará –
SINDSEMIB, acrescenta outros desejos. Segundo ele:
A grande possibilidade em que fomos formados
o que poderia ser feito para acompanhar esses
estudantes que passara pela UVA há 15, 10 anos
atrás. Para acompanhar isso deveria ter dentro da
instituição um departamento que pudesse fazer isso,
elaborar diagnostico para ter um norte do trabalho
que a própria instituição ofertou e prestou, para
saber onde estão estes profissionais que hoje atuam.
Acompanhando o desenvolvimento social um elo
de sintonia com os profissionais aos quais formou.
Quantos profissionais que passaram pela UVA estão
//171

na educação? Na saúde? Ação Social? E outras áreas?


A UVA é uma instituição tão grande e ao mesmo
tempo ela não sabe o grande potencial e benfeitoria
que ela oferta para nossa região, ela não acompanha
de forma gradual. Deveria ter esse departamento
para que a UVA se empoderasse mais orgulhando-se
dos grandes profissionais que formou e hoje servem
bem a nossa região.

Este livro, no qual este texto é capítulo integrante, tem este


propósito, dentre outros, de verificar e fazer este acompanhamento.
Talvez, o desejo lembrado pelo sindicalista é tornar esta proposta
permanente na UVA, o que seria bastante interessante e que poderia
ser pensado pela IES.
Arrematando este tópico, temos o depoimento de Marcelo
Vieira da Silva, enfermeiro formado na UVA e gerente do Posto de
Saúde da Família do bairro Novo Recanto. Segundo ele:

Assim, a UVA do futuro ela de fato, eu defendo com


unhas e dentes eu já falei isso para algumas pessoas.
Eu defendo a UVA onde eu estiver. Eu não permito
que falem mal da Universidade na minha presença,
porque foi o local que me acolheu, foi o local que
me proporcionou a formação que eu tenho hoje
para exercer minha profissão sabe. Defendo muito,
muito a UVA. Agora, logicamente que a gente tem
que entender, compreender, que, investimentos são
necessários por parte sempre dos governos, enfim, a
gente tem que tá estimulando e vislumbrando essa
questão sempre da melhoria tanto da qualificação
dos professores isso é muito importante, a realização,
o desenvolvimento, o estímulo a eventos científicos
também isso é muito importante, fortalecer a
questão da estrutura física dos campus. Graças a
Deus hoje eu tenho a alegria de ver o CCS numa
//172

estrutura invejável contemplando tudo que os alunos


e docentes precisam para desenvolver o seu trabalho,
e é o que a gente espera realmente isso né, que seja
uma instituição onde os docentes sejam valorizados
cada vez mais, que os alunos tenham oportunidade
também né, porque realmente a Universidade é um
dos patrimônios mais importantes que nós temos no
município de Sobral hoje. Então eu vejo isso, que
seja cada vez mais valorizada, que possa, cada vez
mais, estar contribuindo hoje e sempre pra Região
Norte do Estado (SILVA, depoimento, LABOME,
2018).

O entrevistado entra em temas ainda não muito pacíficos


na relação entre IES e Estado – a questão do financiamento de cus-
teio, infraestrutura, eventos e atividades de formação. O próximo
tópico vai tratar desta questão de forma mais detalhada.

3. Desejos e afetos 2: o público e o privado na visão de futuro


da UVA
No filme UVA, 50 anos: trajetórias, produzidos pelo LA-
BOME, somente a sequência final trata do tema sobre a visão de
futuro da universidade, como já dito. Duas entrevistadas foram
destacadas no documentário, nesta sequência, ambas ex-alunas da
UVA. Aparece também a fala do Reitor da universidade, arrematan-
do a sequência. Uma das entrevistadas é Antônia Suilany Teixeira,
formada em administração que, no ano de 2019, ocupa o cargo de
gerente regional do SEBRAE em Sobral. A outra é Ana Karla Pon-
tes de Souza, formada em Ciências Sociais, que já foi presidente do
Diretório Central dos Estudantes da UVA e, no ano de 2019, está
//173

fazendo mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal do


Rio Grande do Norte. A escolha destas duas interlocutoras, marca
uma diferença radical com relação ao desejo de futuro apontado por
elas, no que se refere a princípios e conceitos mais amplos do que é a
universidade. No que se refere ao investimento no desenvolvimento
socioterritorial e empoderamento das pessoas Suilany considera que:
Eu acho que todos os negócios precisam se
reposicionar e se reverem. A gente está num
momento em que os modelos atuais eles já não
garantem sustentabilidade e consolidação nos
próximos mercados. Então seja nas universidades
estaduais, públicas ou as privadas, elas precisam
rever e principalmente entender esse novo perfil
de aluno para, a partir dai começar a se adaptar a
esse modelo. Então assim, eu vejo a UVA como a
maior, a liderança entre as universidades que pode
promover esse desenvolvimento né, esse novo olhar
para o universitário, esse novo olhar inclusive pra
educação. Será que esse modelo atual que está se
praticando consegue se manter pros próximos anos?
Ele precisa ser redesenhado? Essa é uma reflexão que
a gente precisa fazer agora e de maneira urgente.
Não dá mais muito pra esperar. (TEIXEIRA,
depoimento, LABOME, 2018).

Chama a atenção, no depoimento da interlocutora, a com-


paração da gestão da universidade com um negócio, no sentido do
empreendimento empresarial, que teria a finalidade de vender pro-
dutos, bens ou serviços. Mais a frente ela complementa:
//174

Como a UVA é uma universidade pública e ela


precisa realmente alinhar alguns critérios da gestão
publica, é mais difícil pra ela fazer esse processo de
mudança porque não é tao flexível. Ele tem muitas
etapas, muitos processos rígidos, mas tem que ser
feito. De alguma forma tem que procura soluções
para que se faça, trazer soluções através de institutos,
ou outros tipos de formas jurídicas que possibilitem
essa flexibilidade, é muito, é necessário ser pensado
nisso para que a coisa não se torne um elefante
branco, vamos dizer assim, não ser uma estrutura
muito rígida que não avançou junto com as
exigências do mercado, com inovações necessárias.
Mas a UVA é hoje, sim, a maior referência de
universidade aqui pra região norte e a gente tem que
ajudar, colaborar, para que ela continue sendo desse
formato, principalmente em relação a liderança, ao
modelo de gestão, ao perfil de gestão, que ela possa
trazer isso, que ela possa liderar esse processo de
forma mais educacional, e principalmente de forma
compartilhada, porque a responsabilidade pelas
decisões ou pelas mudanças não é só do gestor, é
toda uma equipe técnica, uma equipe educacional,
dos professores que possam fazer isso. (TEIXEIRA,
depoimento, LABOME, 2018).

Valores como flexibilidade, velocidade, inovação, compe-


tição, dentre outros propalados por determinadas formas de ver a
gestão administrativa, parecem ser importantes para a interlocutora
quando se pensa no futuro da universidade. A lógica mercantil, para
ela, parece aplicável na gestão da formação universitária. O viés pa-
rece ser o de adaptação a lógica do mercado que, a partir da regra da
oferta e da procura, conduz o direcionamento da IES.
Já Ana Karla foca em outras questões relacionadas ao desejo
de futuro, especialmente ressaltando a história de luta contra um
//175

movimento que ela acredita ser de interesse do estado de precarizar a


universidade. Segundo ela:

Eu acho que são dois pesos, assim... são dois


caminhos, mas que sempre vão estar, como é que eu
posso dizer… é uma luta, né, é uma luta. De um lado
a política do estado e aqueles que não se importam
com a universidade pública, de precarização e do
outro a comunidade acadêmica tentando manter
a estrutura na universidade e fazer com que a
universidade avance, né. Eu acho que, diante disso,
é um futuro arriscado, mas é um futuro possível,
porque também tem esta questão das universidades
particulares terem ganhado muita força aqui em
Sobral e na Região Norte […] então é uma disputa,
né, por isso é tão importante a defesa da educação
pública. (SOUZA, depoimento, LABOME, 2018).

A interlocutora ressalta o caráter público e a importância


deste caráter para a existência da universidade, colocando a gestão
típica de empresa privada como negativa. Neste caso, a disputa por
espaço no mercado, colocada por Suilany Teixeira passa a ser subs-
tituída por outra disputa na visão da Ana Karla: aquela relacionada
a luta contra uma fragilização do caráter público da IES, que cami-
nha para uma regressão da situação desta instituição. A luta vem de
movimento interno a universidade, que tenta se manter. Como a
interlocutora afirma, é preciso superar algumas precariedades. Ela
fala que:
Então se a gente não tem estrutura pra manter um
tripé de ensino, pesquisa e extensão, é... a gente vai
tá sendo obrigado a ofertar uma educação que não
tem tanta qualidade quanto deveria, quanto é o
//176

nosso compromisso enquanto universidade pública.


Então eu acho que, que vem a estrutura física, é...
a questão do pessoal, do contato e o incentivo.
Esses tipos dessas questões acabam por criar uma
motivação maior e uma formação de qualidade
como é a necessária. (SOUZA, depoimento,
LABOME, 2018).

As duas interlocutoras citadas, argumentam sobre o que


pensam do futuro da universidade em sentidos que parecem opos-
tos. Um conflito entre um modelo de gestão pública e uma lógica
empresarial adaptada a IES está posto como movimentos contrários
de seus argumentos. Para uma, a aproximação com o modelo de
gestão de uma administração mais ágil, adaptada a “novos tempos”,
a um “novo perfil de aluno”, possa ser importante, enquanto, para
a outra, o modelo público deve ser reforçado e deve ganhar melhor
estrutura para fortalecer o tripé entre ensino, pesquisa e extensão.
Talvez, pensando esta oposição, possamos tentar entender
melhor o que significa de fato o que significa o caráter “público” e
“privado”. Para Arent (1997) o privado se refere a esfera da necessi-
dade, o público à liberdade. A ação humana, para a autora, não deve
se restringir ao campo da sobrevivência biológica ou a produção téc-
nica e material. A autora chama atenção que existe uma confusão na
contemporaneidade no que se refere a uma tendência que mistura o
que seria da esfera privada como se fosse pública, provocando uma
tentativa de uniformidade na atividade humana como certa e verda-
deira, consequentemente um conformismo nas relações, tornando a
política pública uma atividade de administração das necessidades. O
livre pensar da esfera pública que promove o debate plural de opini-
//177

ões e do confronto político, aparece hoje como negativo, tentando


institucionalizar a ação política como uma burocratização geral da
vontade privada. Como diria Habermas (2003), os princípios repu-
blicanos de gestão das vontades coletivas de um povo como soberana
no interior de uma comunidade política conduzida por relações de
dependência mútua que exige solidariedade e cooperação, parecem
ser bombardeados por uma concepção que valoriza a autonomia pri-
vada, afastada e independente da gestão pública no sentido repu-
blicano definido pelo autor. Neste caso, a autoridade política teria
uma função de vigilância da autonomia privada. O público passa
a ser algo negativo e coercitivo diante deste modelo de “liberdade”
assentada na moral privada.
Se aplicarmos esta reflexão ao conceito de universidade,
pensando o esforço de unidade do todo das formações acadêmicas e
profissionais, podemos pensar em uma concepção que pense o seu
caráter público como liberdade de pensar, que pode ou não estar
vinculado a necessidades privadas e imediatistas. Durham (2005)
chama atenção que, no Brasil, a educação superior privada vem
crescendo vertiginosamente, a partir da década de 1960 quando é
implementada no setor uma determinada concepção de instituição
que entende a oferta deste serviço como negócio. Em 2001, o ensi-
no superior privado já detém 69% das matrículas, contra 31% do
setor público. Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica de
2019, o setor privado do ensino superior chega hoje a ter 75,32%
das matrículas. O setor público teria 24,68%. Durham (2005) cha-
ma atenção que, de fato, o setor privado, no início dos anos 2000
se caracteriza por não ter muito interesse em investimento no que
//178

se relaciona a pesquisa e extensão. O site da Academia Brasileira de


Ciências informa que 95% das publicações de pesquisa produzida
no Brasil é feita em IES públicas42.
Retomando a discussão sobre a formação voltada para os
interesses do mercado, no campo da produção do conhecimento,
por exemplo, especificamente no que se refere a pesquisa, temos um
conflito adicional e derivado desta proposição, que seria uma reper-
cussão objetiva desta tensão entre público (liberdade) e privado (ne-
cessidade) que está posto contemporaneamente, que é a tensão entre
correntes que pensam a IES como lugar da produção de pesquisa
básica, livre de imediatismos de mercado, e aquelas que a entendem
como produtora de pesquisa aplicada, voltada para satisfazer deman-
das e pressões da sociedade de mercado.
Jacques Arendt (1996) coloca que este tipo de oposição en-
tre pesquisa básica e aplicada, é falsa, apesar de entender que existe
uma arquitetura institucional universitária que pressupõe esta pola-
rização. A pesquisa básica seria aquela que produz conhecimentos
novos, sem estar acompanhada de uma previsão de utilização prática
ou econômica. Geralmente envolve saberes mais ou menos universa-
lizáveis que são divulgados sem pensar na geração de valor econômi-
co. O que acontece é que a arquitetura do fomento a pesquisa está
muito mais preocupada em valorizar o curriculum vitae, que serve
de parâmetro para julgamento do nível do pesquisador, favorecendo
mais suas qualidades de gestor de recursos do que a qualidade da

42  A afirmação pode ser vista no endereço: http://www.abc.org.br/2019/04/15/universi-


dades-publicas-respondem-por-mais-de-95-da-producao-cientifica-do-brasil/ .
//179

descoberta. Além disso, por parte de setores da sociedade, existe uma


pressão para valorizar a “utilidade” da pesquisa para a sociedade, co-
locando como negativas, aquelas iniciativas que, na aparência, não
teriam “utilidade”.
Por outro lado, também complica a formação dos estudan-
tes para a pesquisa, pois, o desejo fomentado socialmente é pela in-
serção profissional, que está posta no campo das necessidades priva-
das. A tendência é o estudante não perceber seu envolvimento com a
instituição como um cidadão que faria parte de um espírito público,
ou como responsável, ou agente da gestão da IES. Entende-se a uni-
versidade como uma empresa que presta serviços direcionados ao
atendimento da necessidade de profissionalização para entrar em um
mercado de trabalho. A universidade passa a ser uma entidade bu-
rocrática visando a inserção no mundo das profissões, nesta perspec-
tiva. Isso quer dizer que todo o investimento em produzir algo que
não tem uma finalidade imediata para atender necessidades práticas,
parece ser um esforço em vão.
De outra forma, uma política de assistência estudantil mais
agressiva ajudaria muito a imersão do estudante no meio universi-
tário, já que facilita a fixação de suas atenções em modelos de for-
mação que promovem o compartilhar de decisões, desejos e afecções
no fazer pesquisa, no ensino, na extensão e, inclusive, na gestão. Na
realidade da UVA, apesar de a assistência estudantil ter significativo
avanço nestes últimos anos, não conseguiu ainda transformar Sobral
em uma cidade universitária, mesmo considerando que, além desta
IES, a cidade abriga mais 38. É uma cidade com muitos universitá-
rios, mas a maioria ainda se desloca todos os dias de seus municípios,
//180

especialmente para participar das atividades de ensino.


Mesmo assim, os esforços em superar estes problemas po-
dem ser considerados na implantação de programas e equipamen-
tos de assistência estudantil. Logicamente que houve conflitos de
interesses divergentes que podem ser vistos nas pautas das últimas
greves, como a de 2013, por exemplo, de professores, com partici-
pação dos estudantes, que reivindicavam investimentos neste tipo de
política de assistência. Entende-se aqui que as soluções tomadas até
então, têm relação direta com a pressão exercida pela comunidade
universitária que se mobilizou em vários momentos para brigar por
isso.
A UVA hoje possui o Restaurante Universitário, implanta-
do em julho de 2017 e oferta até 2 mil refeições por dia, divididas
entre 220 café da manhã, 890 almoços e 890 jantares, segundo o
Relatório de gestão de 2017, publicado em 2018. O documento
também informa que em 2017, 4.429 alunos e 214 (entre docen-
tes, funcionários e visitantes) foram usuários do RU. A Residência
Universitária implantada em junho de 2018, tem a capacidade de
200 residentes. O Programa de Concessão de Recursos para Par-
ticipação em Eventos Acadêmico Científico-Cultural, iniciado em
2015, em 2016, atendeu 127 estudantes, segundo o Relatório de
Gestão de 2017. A UVA também possui o Programa de Bolsas de
Permanência Universitária – PBPU, criado em 2005, que tem como
financiadora a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – FUNCAP, órgão setorial da Secretaria
de Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará, vinculado ao Governo
do Estado. O recurso é advindo do Fundo Estadual de Combate à
//181

Pobreza – FECOP. As bolsas foram cedidas a 468 alunos em 2017,


onde estão incluídas as seguintes modalidades: Bolsa de Estágio Ad-
ministrativo, Programa de Iniciação Científica e Programa de Ex-
tensão. Existe também o Programa de Encaminhamento a Estágios
Remunerados, iniciado em 2000 que encaminhou para estágio, 436
alunos em 2017.
Apesar disso, em 2016, o documento UVA em Números
mostra que cerca de 66,16% dos alunos são oriundos de outros mu-
nicípios, como já dito aqui, e se deslocam todos os dias para Sobral.
Mostra também que 58,18% dos estudantes exercem atividades re-
muneradas. Neste caso, o envolvimento com a universidade passa a
ser reduzido, não favorecendo uma imersão em atividades que pos-
sam ir além da sala de aula.
Voltando aos depoimentos citados de Suilany e Ana Karla,
que expressam posições antagônicas do que é a universidade, a im-
pressão que elas passam, refletem exatamente este movimento tenso
e contraditório. Por um lado, alguns brigando pela produção livre,
onde todos os envolvidos possam dialogar, discutir e mostrar suas
paixões, desejos e competências, em um espírito republicano e de-
mocrático de respeito a vontades coletivas criadas pela autogestão da
produção do conhecimento, sem vínculo direto com o mundo das
necessidades imediatas e individuais ou do mercado, e aqueles que
intentam em propor uma gestão burocrática e fria, visando respon-
der, exclusivamente, pressões dos agentes econômicos, favorecendo a
perda da autonomia na produção do conhecimento que poderia ser
produzido por uma autogestão sem pressões, ou com menos pressão,
por parte destes agentes. No final das contas, a própria dicotomia en-
//182

tre produção do conhecimento básico e aplicado, é artificial, já que,


mesmo sendo desvinculado de uma aplicação direta, o conhecimen-
to produzido pela pesquisa básica afeta de alguma forma o mundo
ao seu redor e pode, também, influenciar experimentos aplicados.
A economia criada para gestão da produção de saberes e
competências, tem implicações diretas na avaliação das competên-
cias docentes, priorizando a mercantilização do saber a partir de uma
quantificação da produção. Afeta também o ensino e a extensão que
passar a ser pressionados para cumprir metas de acumulação pro-
gressiva de atividades que são medidas, mais pela sua quantidade, do
que pela qualidade. O próprio esforço da UVA de ofertar os cursos
descentralizados em convênio com institutos, modelo já menciona-
do e mensurado aqui, é justificado institucionalmente como meio de
arrecadação alternativa de recursos, fazendo com que a gestão tente
dar um caráter privado para a IES, previsto em seu estatuto, para
atender necessidades imediatas e para facilitar a aplicação financeira,
o que parece estar sendo, cada vez mais, revertido e repensado. Este
movimento não é exclusivo da UVA, mas ganhou muita visibilidade
há alguns anos em função de sua abrangência. A extensão é ainda
a “prima pobre” da UVA, mas alguns programas e projetos já estão
sendo gestados visando a prestação de serviços, caráter muito mar-
cado na iniciativa privada, dentre as outras modalidades que não
têm este fim. O contraponto é aquele que não têm este propósito,
mas esbarram na falta de recursos. A entrevista do reitor da UVA em
2019, Fabianno Cavalcante de Carvalho, sinaliza este movimento
tenso entre o público e o privado quando diz:
//183

Então a gestão por resultados, vai ser o futuro.


Então as Universidades vão entrar né, nesse modelo
também. Então existe toda essa possibilidade. Então
nós queremos a UVA do futuro, aquela UVA que
deixe benefícios pra sociedade, que traga né muitos
conhecimentos, que fixem pessoas novas, que abram
novas empresas, que criem mercado de trabalho aqui
na cidade (CARVALHO, depoimento, LABOME,
2018).

A gestão por resultados é um modelo criado para iniciativa


privada e foca em resultados, não em processos como em outros
modelos. Toda a equipe, não só o gestor, visa atingir a metas es-
tabelecidas, acompanhando com indicadores de eficiência para os
resultados. Por outro lado, a postura da universidade neste depoi-
mento deveria ser ativa na criação de conhecimentos e criar espaços
no mercado de trabalho. Esse modelo já está estipulado no Plano
de Desenvolvimento Institucional 2018-2022. Esta visão de postu-
ra ativa e criativa da universidade, mesmo que seja ainda restrita a
uma gestão empresarial, parece ganhar uma variante, como aparece
na fala de alguns gestores municipais, como é o caso de Antônio
Adriano Martins Melo, Secretário de Desenvolvimento Econômico
e Tecnológico de Ipú. Segundo ele:
A importância da Instituição de Ensino Superior
para o desenvolvimento local é de grande relevância.
A Universidade Estadual Vale do Acaraú presta
relevantes serviços, como já citei anteriormente,
mas nós precisamos de estudos de viabilidade
das Instituições de Ensino Superior, no caso a
Universidade Vale do Acaraú, para que ela venha
ofertar cursos voltados para a economia local.
Cursos que tenham a vocação da produção, a
//184

vocação comercial, para que a gente possa formar


novas demandas, abrir novos postos de trabalho,
ter profissionais capacitados e eles possam entrar
com efetivo grau de empregabilidade a partir das
necessidades dos municípios (MELO, depoimento,
LABOME, 2018).

Variáveis como desenvolvimento local, prestação de servi-


ços, economia local, são acionados para vincular as atividades da
IES às demandas econômicas e criação de novos postos de trabalho.
Nesta concepção, a universidade passaria a ter uma postura passiva,
sendo conduzida por estas demandas externas a ela. Deixaria de ser
espaço de produção livre, de debate aberto e franco, para ser uma
prestadora de serviços por demanda, especialmente aquelas propos-
tas pelos agentes econômicos, inclusive o Estado. Esta discussão está
muito longe de ser resolvida e, no cotidiano da UVA encontra-se
posto um conflito.

4. Considerações finais
A liberdade no pensar é uma bandeira de luta antiga e re-
monta a insurgência do movimento chamado de “iluminismo” que
surge ainda na idade média na Europa. A concepção de liberdade,
fraternidade e igualdade, que a história lembra como lema retomado
na Revolução Francesa de 1790, parece ter atravessado várias outras
experiências e instituições pelo mundo, inclusive nas primeiras uni-
versidades. Entretanto, como diz Cecília Meireles no livro “Roman-
ceiro da Inconfidência” escrito em 1953: “Liberdade é uma palavra
que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e nin-
//185

guém que não entenda”. Enfim, este e os outros dois termos citados,
fraternidade e igualdade, são ressignificados na discussão aqui pro-
posta de diferentes formas, e associados a um modelo de gestão dos
desejos, valores e práticas que visam justificar determinadas formas
de entender e fazer a universidade.
O movimento contraditório entre público e privado, faz
com que as relações plurais na universidade não sejam pacíficas. A
conjuntura política a partir de 2016 no país, aponta para uma ten-
dência, radicalizada nas eleições de 2019, para entender a produção
científica livre, sem vínculo direto com o mundo das necessidades
práticas, muito mais como “balburdia” ou “especulação”, do que
como ciência. O investimento nas instituições de ensino superior
pública, quase únicas a produzir ainda o conhecimento livre, assim
também como o aplicado, está cada vez mais escasso. Talvez os de-
sejos apontados aqui, hoje, estejam muito mais acompanhados de
elementos de angústia do que em alguns anos atrás.
Na UVA, sua história parece apontar para um vir a ser que
está sendo afetado por múltiplas agências contraditórias que fazem
com que a aparência de IES em processo de amadurecimento, possa
ser atrapalhado pela disputa constante por uma atribuição de vo-
cação essencialista de que seria uma instituição de ensino, desesti-
mulando esforços contrários para transformá-la em outro sentido.
A pesquisa que o grupo desenvolveu este ano de 2018 mostra que
a universidade é uma potência rizomática que se espalha para vá-
rias direções afetando muita gente. Entretanto, alcançar um grau de
Universidade de Excelência acadêmica onde a pesquisa e a extensão
tenha força equivalente ao ensino, ainda está em situação embrioná-
//186

ria. A ideia de que a universidade tem uma vocação, de fato, é uma


armadilha, pois pode apontar para um discurso de que é inviável
investir em outro sentido.
Entende-se aqui que nos desejos apresentados pelos ex-alu-
nos, todos eles não negam que a UVA é fundamental para suas vidas
e para a de muitos outros que passaram, passam e passarão por esta
universidade. Entretanto, apontam para necessidade de mudanças,
sempre para melhor. Sentem falta da implantação de uma vonta-
de republicana e democrática que institui uma comunidade política
que possa decidir livremente seus rumos, inclusive no processo de
formação em sala de aula. Sente falta de uma maior repercussão das
atividades de pesquisa e extensão na gestão pública ou nas outras
dinâmicas espaciais promovidas por outros agentes sociais que não
o estado, fora de Sobral. Entretanto, também aponta para outros
rumos, mas disciplinados por interesses privados, no campo das ne-
cessidades de mercado e de atuação profissional.
O que desejamos para o futuro afinal? Saviani (1996) vai
dizer, pensando nas experiências e reflexões de Florestan Fernandes,
que, do ponto de vista do professor, o ponto culminante do proces-
so de educação é a criação em cada indivíduo de uma humanidade
que é histórica e coletivamente produzida pelo conjunto dos seres
humanos. É um processo de transformação interna nos sujeitos que
incorporam elementos que são movimentos que constroem disposi-
ções próprias da estrutura do sujeito para pensar e agir no mundo.
Na graduação, o estudante passaria por uma espécie de iniciação ao
campo da ciência e da técnica. No campo da pesquisa, a iniciação
científica seria orientada pelos interesses do professor, já que o aluno
//187

nunca passou por este tipo de experiência, sendo iniciado, acom-


panhando o docente. A formação no campo da ciência e da técnica
precisa da iniciação científica prática, além da formação teórica da
sala de aula. A liberdade criativa vai permitir, em alguns contextos,
diálogos entre interesses de alunos e professores nesta construção,
caso o aluno mostre algum tipo de amadurecimento para isso. Sem
a pesquisa, o ensino fica capenga. Mesmo no âmbito do Ensino Mé-
dio, isso já é importante, como mostra as Orientações Curriculares
para o Ensino Médio de 2006, o que está sendo renovado nos do-
cumentos mais recentes da Reforma do Ensino Médio no ano de
201943. Na universidade é mais urgente esta relação entre pesquisa
e ensino. No âmbito do mestrado, o aluno poderia ter mais autono-
mia para realizar um projeto de pesquisa seu, ainda com a ajuda de
um professor, mas com maior poder de decisão sobre a realização,
ganhando mais segurança e autonomia no doutorado. O problema,
pelo visto um falso problema, que alguns colocam, é sobre a aplica-
ção destes saberes e conhecimentos produzidos, sendo sustentados
por uma visão utilitarista, gerando conflitos sobre o conceito de edu-
cação, de ciência e de pesquisa que se quer fazer livre.
Relacionados ao ensino e a pesquisa, não podemos com-
preender a produção do conhecimento científico, isolando seus
saberes da sociedade que está fora dos muros da universidade. A
relação entre saber científico e comunidade é uma forma de resti-
tuição para aqueles que ajudam neste processo, mas também é uma

43  Para maiores informações sobre o tema: http://novoensinomedio.mec.gov.br/?fbcli-


d=IwAR2F8SCzf26Mp60Zgoh1slLYXtL6uwoOy4hLOKdl7RSKGwu05HiDNkF8k-
dw#!/pagina-inicial .
//188

forma de diluição de fronteiras. Alguns depoimentos citados aqui


chamam atenção desta distância e pedem maior aproximação. Em
função desta demanda, que não é somente interna a UVA, o Plano
Nacional de Educação, Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que
vale até 2024, define que os cursos de graduação devem assegurar,
no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares
em programas e projetos de extensão universitária. A resolução nº 7
do Conselho Nacional de Educação, de 18 de dezembro de 2018,
regulamenta esta meta. Entretanto, ambos os documentos chamam
atenção que esta restituição deve priorizar áreas de grande pertinên-
cia social. O problema é que o termo “pertinência social” pode ser
interpretado de várias formas. Pode-se entendê-lo como relacionado
ao setor produtivo, o estado, ou pode-se entendê-lo como voltado
para comunidades pobres, dentre outras variantes. Portanto, o con-
flito entre esforços voltados para o incremento do mercado e outras
iniciativas desvinculadas da lógica econômica, acaba não sendo re-
solvido.
A resolução do CNE citada, aponta três tipos de extensão:
assistencialista, transformadora e de serviços, consolidados na UVA
em cinco modalidades: programas (vários projetos integrados com
caráter mais permanente), projetos, cursos e oficinas, prestação de
serviços e eventos. Estas concepções permitem uma estrutura que
também gera conflitos internos entre aqueles que pensam aplicações
econômicas na restituição social das ações de extensão, através de
prestação de serviços, mesmo que voluntários, incluindo aí as práti-
cas assistencialistas que visam fazer a mediação de conflitos, sempre
favorecendo uma política de extinção destes conflitos, sem modificar
//189

radicalmente a configuração do sistema econômico, e aqueles que


pensam ações que visam o empoderamento dos grupos, especial-
mente aqueles que se situam em camadas mais pobres e desfavore-
cidas da população, visando uma mobilização social em busca da
luta pela emancipação da opressão, da exploração e da espoliação de
riquezas em benefício de poucos.
Este conflito está posto na UVA, desconstruindo e não au-
torizando o fortalecimento da ideia de uma vocação própria da IES
estadual. As entrevistas mostram isso. Neste contexto é que se reto-
ma a importância de pensar a gestão da UVA de uma forma mais
republicana e democrática, onde as decisões possam ser resultado de
um processo mais amplo de diálogo politizado entre as partes envol-
vidas para se tomar decisões que não são somente administrativas,
são resultantes de disputas de concepções. Outro aspecto que as en-
trevistas nos fazem pensar é que a universidade não se restringe a ser
entendida como patrimônio exclusivo de uma cidade. É patrimônio
de todos e deve se expandir para além da cidade sede e de sua região
de abrangência. Deve se espalhar para o mundo. O problema é, por-
tanto, saber qual a universidade do nosso desejo que possa realmente
ser livre para pensar os seus rumos. O desafio está posto!

Referências bibliográficas
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//191

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numeros_daf3747a934412c7f3140f53e14115fa.pdf>. Acesso em: 3
jun. 2019.
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, Relatório
de gestão 2017. Disponível em: <http://www.uvanet.br/proad_
relatorios/relatorios/rdg_2017.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2019.
Entrevistas:
MELO, Antônio Adriano Martins, depoimento, Laboratório das
Memórias e das Práticas Cotidianas - LABOME, 2018.
CARVALHO, Fabianno Cavalcante de depoimento, Laboratório
das Memórias e das Práticas Cotidianas -LABOME, 2018.
SOUZA, Ana Karla Pontes de depoimento, Laboratório das
Memórias e das Práticas Cotidianas - LABOME, 2018.
TEIXEIRA, Antônia Suilany, depoimento, Laboratório das
Memórias e das Práticas Cotidianas - LABOME, 2018.
//192

SILVA, José Airton da, depoimento, 2018.


PONTES, Júnior Lima, depoimento, 2018.
TOMÉ, Ana Célia de Abreu, depoimento, 2018.
AGUIAR, Francisco Douglas Alcântara, depoimento, 2018.
GUIMARÃES, Lívia Sousa, depoimento, 2018.
//193

DOCUMENTÁRIO - UVA, 50 ANOS:


TRAJETÓRIAS - 28’ - SOBRAL/CE –
2018.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iApb4Wmz-


t_U&list=PLrKSbcOn7CPuBqlaIijhUCb_Ol4pBCUgc&index=35

O filme trata de lembranças de


egressos da Universidade Estadual
Vale do Acaraú de diversos cursos,
falando sobre suas experiências, a
influência sobre sua prática profis-
sional no presente, e visão de futu-
ro. O filme também mostra depoi-
mentos de gestores municipais e da
IES falando sobre o impacto da UVA na Região Norte do Ceará.
//194

Ficha técnica:
Direção: Antônia Letícia Adriano Silva
Direção de Produção: Nilson Almino de Freitas
Equipe de produção:
Ana Izabele Carneiro
Antônio Jarbas Barros de Moraes
Cleane dos Santos Medeiros
Elias Guilherme Soares
Francisca Ingrid Aguiar Parente
Jocilene Ramos Bastos
Luiz Eduardo Fernandes César
Maria Dedita Ferreira Lima
Francisca Sena da Silva
Francisco Renan Dias Marques
Otávio Rodrigo Silva do Nascimento
Samuel Mariano de Vasconcelos
Vicente de Paulo Sousa
Wellingta Maria Vasconcelos Frota
Edição e montagem:
Antônia Letícia Adriano Silva
Nilson Almino de Freitas

Produção:
Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas - LABOME
//195

Apoio:
Memorial do Ensino Superior de Sobral - MESS
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura – PROEX/UVA
Instituto de Apoio ao Desenvolvimento da UVA – IADE
//196

DOS AUTORES

Adriana Campani
Possui graduação em Pedagogia e Mestrado em Educação pela Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado pela Universi-
dade Federal do Ceará, com Estágio de Doutoramento na Univer-
sidade de Lisboa-UL (2008), sob orientação do Prof. Dr. Antônio
Nóvoa. Tem Pós-doutorado em Desenvolvimento Curricular pela
Universidade do Minho em Portugal. É professora efetiva classe as-
sociada do curso de pedagogia da Universidade Estadual Vale do
Acaraú (UVA). Exerceu o cargo de Pró-Reitora Adjunta de Ensino
de Graduação; procuradora Institucional (P.I.) e membro da Co-
missão Própria de Avaliação - CPA na mesma Universidade. É co-
ordenadora de área do Curso de Pedagogia Intercultural Cuiambá
Magistério Indígena Tremembé/Programa PARFOR. Coordena na
UVA o Observatório Internacional de Inclusão, Interculturalidade
e Inovação Pedagógica no Ensino Superior - OIIIIPe por meio do
Acordo de Cooperação entre a UFRJ/UVA, com mais 18 universi-
dades, sendo 5 internacionais. É líder do Grupo de Estudos e Pes-
quisa sobre Pedagogia Universitária - GEPPU/UVA, certificado pelo
CNPq. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Currí-
culo, Formação de Professores e Pedagogia Universitária.

Antonia Helaine Veras Rodrigues


Doutoranda em Geografia no Programa de Pós Graduação em Ge-
ografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Ge-
//197

ografia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Graduada


em Geografia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
Desenvolve estudos relacionados a Geografia Urbana, atuando prin-
cipalmente nos seguintes temas: urbanização, especulação imobiliá-
ria, cidades médias, cidades pequenas, produção do espaço urbano,
segregação socioespacial, supermercado, espaço urbano, descentrali-
zação, comércio tradicional, expansão urbana. Desenvolve estudos
também na área de Ensino de Geografia, formação de professores,
metodologia do ensino de Geografia, estágio supervisionado e edu-
cação geográfica.

Benedita Marta Gomes Costa


Possui graduação em Ciências - Matemática (1995), mestrado em
Gestão Educacional (2002) e doutorado em Biotecnologia. Atual-
mente é Professora (Administração Geral com ênfase em Metodos
Quantitativos) e Gestão Ambiental da Universidade Estadual Vale
do Acaraú (UVA). Tem experiência na área de Métodos Quantitati-
vos, atuando principalmente nos seguintes temas: Empreendedoris-
mo, Gestão Ambiental, Sistema Regional de Inovação e bionegócios.

Fábio Souza e Silva da Cunha


Possui graduação em Geologia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (1993), mestrado em Engenharia de Minas Meta-
lúrgica e dos Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (1996) e doutorado em Geodinâmica pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (2007). Atualmente é Professor Adjunto
- Nível I do curso de Geografia (Bach. e Licenc.) da Universidade
//198

Estadual Vale do Acaraú (UVA). Tem experiência na área de Geo-


ciências, com ênfase em Sensoriamento Remoto, atuando princi-
palmente nos seguintes temas: geologia estrutural, sensoriamento
remoto, geologia regional, lineamentos e cartografia.

José Osmar Fonteles


Professor Adjunto M do Curso de Ciências Sociais da Universidade
Estadual Vale do Acaraú - UVA. Possui graduação em Estudos So-
ciais pela UVA (1983) e especialização em Gestão Universitária pela
FGV-SP e Metodologia do Ensino Superior pela UFC. Tem mes-
trado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB
(1998). Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Pe-
lotas – UFPel. Produção acadêmica voltada para gestão e turismo,
destacando-se: Jericoacoara: turismo e sociedade (ed. UVA), Plane-
jamento Participativo PARNA (IBAMA), Turismo e impactos socio-
ambientais (Aleph) e Território e Territorialidades: democratizando
saberes e boas práticas em políticas públicas (Org.), Ed. UVA). Foi
articulador Regional (NE) da Rede TRAF - Turismo Rural na Agri-
cultura Familiar. Foi coordenador do turismo em Sobral - CE, chefe
do Parque Nacional de Jericoacoara e secretário de turismo e meio
ambiente da Prefeitura Municipal de Jijoca de Jericoacoara. Coor-
denou o Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (NE-
DET). Foi Diretor do Centro de Ciências Humanas e Pró-Reitor de
Extensão e Cultura da UVA. Tem experiência em socioambientalis-
mo e turismo, com ênfase em Sociologia e Meio Ambiente, atuando
//199

principalmente nos seguintes temas: populações tradicionais, turis-


mo, educação e gestão ambiental, gestão participativa, planejamento
estratégico, turismo rural, agricultura familiar e narrativas populares.

Lourival Gerardo da Silva Júnior


Graduado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual
Vale do Acaraú (UVA) onde é Professor assistente do mesmo Curso
e Pesquisador desde 2006. Foi coordenador-adjunto do mesmo cur-
so em 2007 e coordenador em 2008. ​Fez Especialização em Admi-
nistração e Segurança de Sistemas Computacionais pela Faculdade
Integrada do Ceará – FIC (2005-2007). Fez Mestrado em Ciên-
cia da Computação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)
com foco em Gerenciamento de Redes (2011-2013). Fez MBA em
Gerenciamento de Projetos de TI na Faculdade Farias Brito (FFB)
entre 2014 e 2016. É doutorando em Ciência da Computação na
Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi S​ upervisor do Núcleo de
Tecnologia da Informação (NTI) ​da Secretaria Estadual da Saúde do
Ceará (SESA) em 2014 e 2015 onde implantou/colaborou com os
Sistemas de Informação SIGES, SIG, SVO Móvel e SOS AVC. Atu-
almente, é membro do Grupo de Gestores de TI do Estado do Ceará
(GGTIC). Na UVA, é membro do Conselho Universitário da UVA
(CONSUNI), coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica e
Social da UVA (NITS). Ministra as disciplinas de Redes de Com-
putadores, Sistemas Distribuídos, Gerenciamento de Projetos e Go-
vernança e Gestão de TI. Áreas de atuação: Saúde digital, Aplicações
para Internet da Coisas, Gerenciamento de projetos e Gestão de TI.
//200

Luiz Antônio Araújo Gonçalves


É bacharel licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do
Ceará - UECE (2006/2009), possui mestrado em Geografia (2009)
e doutorado em Geografia (2016) pelo Programa de Pós-Gradua-
ção em Geografia - PROPGeo/UECE. Foi Pró-Reitor de Extensão
e Cultura da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA (2020-
2021) e atualmente é Professor Adjunto dos Cursos de Geografia
(Bach. e Licenc.) e do Mestrado Acadêmico em Geografia da UVA.
Realiza Estágio Pós-Doutoral na linha de Pesquisa - Natureza, cam-
po e cidade no semiárido junto ao Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde desen-
volve a Pesquisa: “As novas centralidades e dinâmicas territoriais da
rede urbana no Noroeste do Ceará.”. É membro da Rede Brasilei-
ra de Estudos sobre Comércio e Consumo (ReBECCa) e Membro
da Rede Brasil-Portugal de Investigações Costeiras (REDE BRAS-
POR). É Vice-Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Planeja-
mento Urbano e Regional (GEPPUR), certificado pelo CNPq. Tem
experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana,
do comércio e serviços, geografia do turismo e geografia do trabalho,
atuando principalmente nos seguintes temas: circuitos da economia
urbana, territórios urbanos, comércio e serviços, cultura e consumo,
mercados e feiras, mobilidades e redes.

Nilson Almino de Freitas


Bolsista de produtividade do CNPQ (PQ2). Graduado em Ciências
Sociais (Bacharelado) pela UFC (1994), mestrado em Sociologia pela
UFC (1999), doutorado em Sociologia pela UFC (2005) e Pós-Dou-
//201

torado em Estudos Culturais no Programa Avançado em Cultura


Contemporânea da UFRJ (2011). Atualmente é professor Associa-
do da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Pesquisador Associado
do Pós-doutorado em Estudos Culturais do Programa Avançado em
Cultura Contemporânea da UFRJ, professor do quadro permanente
do Programa de Pós-graduação em Geografia da UECE, faz par-
te do quadro permanente do Mestrado Profissionalizante em Rede
de Ensino de Sociologia na UVA e foi professor do quadro perma-
nente do Mestrado Acadêmico em Geografia entre 2014 e 2019 na
UVA. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em An-
tropologia Urbana e antropologia visual. Tem experiência também
com temas relacionados a Geografia Humana, especialmente com
geografia não representacional. Atua principalmente nos seguintes
temas: cotidiano, cidade, cultura, memória, patrimônio cultural e
espaço urbano. Coordena o Laboratório das Memórias e das Práti-
cas Cotidianas - Labome, arquivo de documentos orais e imagens
da UVA, coordena programa de extensão Visualidades que consiste
em formações no campo das artes visuais, conferências, minicursos,
mostra de documentários, exposições fotográficas e de artes plásti-
cas, vinculados à pesquisa e é líder do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Cidades da Região Norte do Estado do Ceará - GEPECCE. Já
foi Bolsista de Produtividade em Pesquisa e Estímulo a Interioriza-
ção da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico - BPI/FUNCAP. Foi membro do Comitê de Antro-
pologia Visual da Associação Brasileira de Antropologia CAV/ABA
(gestão 2017 e 2018).
//202

Rejane Maria Gomes da Silva


Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal
do Ceará, graduação em Curso Especial de Formação Pedagógica
- Licenciatura e Mestrado em Gestão Educacional pela Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú. Doutorado Ciências da Educação
pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é professora
adjunta do curso de pedagogia da Universidade Estadual Vale do
Acaraú. Diretora Adjunta do Centro de Filosofia, Letras e Educação
- CENFLE-UVA. Membro do Observatório Internacional de Inclu-
são, Interculturalidade e Inovação Pedagógica - OIIIIPe por meio do
Acordo de Cooperação entre a UFRJ/UVA, com mais 18 universi-
dade, sendo 5 internacionais e do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre
Pedagogia Universitária - GEPPU/UVA. Tem experiência na área de
Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão Es-
colar, Formação de Professores, Pedagogia Universitária e Extensão
Universitária.

Virgínia Célia Cavalcante de Holanda


Graduada e Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do
Ceará (UECE), Doutora em Geografia Humana pela Universida-
de de São Paulo (USP). Realizou estágio Pós-Doutoral na linha de
Pesquisa: Dinâmica Urbana e Regional junto ao Programa de Pós-
-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), onde desenvolveu Pesquisa sobre: O papel da
Interiorização do Ensino Superior no espaço Urbano e Regional das
cidades médias do Nordeste Brasileiro.” É Professora Associada da
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), onde ingressou por
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meio de concurso publico em 1995, sendo coordenadora do Mestra-


do Acadêmico da mesma Instituição no período de (2012 a 2016),
fazendo atualmente parte do quadro de orientadores permanentes.
É líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Planejamento Urbano e
Regional (GEPPUR), certificado pelo CNPq. Foi Bolsista Produti-
vidade em Pesquisa (2008-2018) da Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Desenvolve
pesquisa nos seguintes temas: Cidades Médias, Circuitos Espaciais
da Economia Urbana e a Geografia da Expansão do Ensino Supe-
rior no Nordeste Brasileiro. Foi Professora Permanente do Programa
de Pós-Graduação em Geografia da UECE no período de (2007 a
2018). Bolsista Produtividade em Pesquisa da Fundação Cearense de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP),
para o período de novembro de 2020 a novembro de 2022.
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