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Tarot e o Autoconhecimento por: João Rafael Torres

Arcanos e as mensagens do inconsciente


O tarot é um dos oráculos mais populares no mundo ocidental contemporâneo.
Apesar de ser usado como instrumento de sortilégio ou de previsão do futuro, ele é
uma poderosa ferramenta o autoconhecimento.

O Tarot funciona muitas vezes como um mapa do local no qual você se encontra.
Dessa forma, oferece mais informações para a compreensão dos conflitos, propicia
decisões mais conscientes e antecipa os cenários que virão logo à diante.

Nessa abordagem, as previsões ficam em segundo plano, dando a prioridade para os


esclarecimentos. A consulta se transforma em um exercício de ampliação da
consciência, com base em símbolos, mitos e dinâmicas psíquicas. A partir dos
elementos presentes em cada carta, você reflete sobre os padrões emocionais,
expectativas e negligências. Aprende a medir os danos causados pelo medo e pela
ansiedade. Entende sobre a verdadeira função dos outros em sua vida, e vice-versa.

Ao compreender como cada um desses aspectos contribui para a manutenção dos


problemas, você se aproxima da solução dos mesmos. Conhecer seus adversários
(internos ou externos) é a melhor estratégia para alcançar a vitória.

Ao levar à revisão de valores e posturas, o tarot desmascara a nossa tentativa de


controle exaustivo ou de vitimização. Convida para a ação transformadora, clarifica
os objetivos, e do que precisa ser feito para que sejam alcançados. Ao nutrir a
responsabilidade sobre suas escolhas, com decisões mais maduras, você se aproxima
do futuro que tanto deseja!

Jung e o Tarot
Por que o Tarot consegue retratar a situação que vivemos?

Como ele consegue indicar os caminhos mais propensos para


uma decisão sábia?

A explicação é simples e está longe de qualquer mágica.


As respostas apontadas pelas cartas vêm de um mecanismo
igualmente fascinante: a sua própria mente.
Uma forma de entender o funcionamento da psique é aquela criada pelo psiquiatra
suíço Carl Gustav Jung, que revolucionou a psicanálise ao desenvolver a Psicologia
Analítica.

Jung acreditava que todas as experiências que vivemos ficam registrados em nossa
psique. A maior parte delas vai se acomodar em alguma parte do inconsciente pesso-
al, sob a forma de aglomerados de imagens e afetos – o que ele chamou de comple-
xos. Eles se traduzem numa linguagem alegórica e influenciam diretamente nossos
comportamentos, emoções e escolhas.

No entanto, a psique não se limita a isso. Podemos acessar um conteúdo bem maior
e mais rico: o inconsciente coletivo, o resultado de todas as experiências da humani-
dade. É como se todos respirassem essa mesma atmosfera de conhecimento, agrega-
do na forma de instintos e arquétipos. O conteúdo que vem daí se traduz em símbo-
los e influencia diretamente nosso inconsciente pessoal.

As cartas do tarot representam, a partir de imagens e conceitos, alguns desses sím-


bolos. Durante uma consulta, algumas cartas são retiradas, ao acaso, para ilustrar
uma pergunta que é feita. Apesar de a consciência não ter o conhecimento sobre o
conteúdo que elas apresentam, são escolhidas aquelas imagens que melhor tradu-
zem a questão.

Isso se dá pela conexão entre o inconsciente coletivo e o inconsciente pessoal:


gera-se aí uma coincidência significativa, capaz de propiciar uma nova compreensão
para a situação. Jung chamou esse fenômeno de sincronicidade. Ela seria uma tradu-
ção da nossa sabedoria inata, o princípio regulador da psique denominado Self.

O fascínio pelos oráculos é fruto da consciência do homem de que terá um futuro – o


que pode ser uma dádiva ou um castigo a depender do momento e de quem observa.
A prática oracular é ancestral e tem origem incerta. Acredita-se que surgiu a partir
da observação de fenômenos naturais e da correlação destes mesmos acontecimen-
tos com fatos da vida cotidiana. Com o tempo, passou a ser interpretada como tenta-
tiva de preleção do futuro e, posteriormente, como instrumento de orientação para
decisões.
Dessa forma, é seguro dizer que esses sortilégios tiveram uma participação ativa no
papel de formação das civilizações e que estão presentes em todas as culturas. Junto
com elas, os sistemas oraculares sofrem adaptações e atualizações – basta observar
os inúmeros oráculos eletrônicos que temos na atualidade, e a eficácia atestada por
indivíduos que a eles recorrem.

O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica, estudou atenta-
mente a participação da crença mística no funcionamento da psique. Naturalmente,
encontrou nos oráculos um campo fértil de pesquisa, dedicando-se principalmente à
astrologia e ao I Ching. Jung concordava que os instrumentos promoviam um diálogo
franco com forças invisíveis. Mas, em vez de espíritos e gênios, ouvia nos oráculos a
voz do inconsciente. Ao receber essa interpretação, os sortilégios ganham outra
roupagem: se transformam em veículos interessantes ao processo de autoconheci-
mento.

O Tarot é certamente um dos oráculos mais populares do mundo ocidental contem-


porâneo. Composto por 78 cartas, constitui um forte conjunto de símbolos, que vêm
sendo usados por anos a fio como instrumento de preleção do futuro e autoconheci-
mento. A incerteza da origem das imagens reforça o quê mágico e ainda provoca uma
série de especulações. Uns associam o baralho ao conhecimento hermético advindo
do antigo Egito, enquanto outros dão aos indianos o crédito de elaboração do siste-
ma. Há ainda aqueles que garantem a origem cigana nos tarôs – embarcados na aura
de mistério e misticismo que acompanha este povo. No entanto, pesquisas apontam
para sua criação em meados da Renascença – bem depois do que acredita a maioria –
com uma função recreativa, simplesmente.

No entanto, os personagens, virtudes e situações descritas nas cartas sinalizam


pontos importantes da trajetória humana. Jung enxergou no Tarot uma rica expres-
são do inconsciente coletivo – conceito que criou para designar uma espécie de
conteúdo residual de todas as experiências da humanidade, atualizada por repetição
com o passar dos anos. Lá estão representados, por exemplo,
o amor materno, o impulso para a guerra e o fascínio pelo
divino. Assim como os demais oráculos, o Tarot seria um
sistema de representação dessas e muitas outras potencialidades
humanas, chamadas arquétipos. A partir das figuras estampadas
nas cartas, o indivíduo seria chamado a refletir sobre as virtudes
e dissabores da própria existência. E, a partir dessa reflexão,
levar a decisões mais favoráveis ao próprio desenvolvimento.
Mas qual seria a mágica que levaria a escolha da carta certa para ilustrar o momento
em que estamos vivendo? Para Jung, tudo se processa como resultado do movimento
psíquico, uma forma peculiar de diálogo. Para entendê-la, é preciso saber que a
expressão do inconsciente se dá a partir de símbolos. E esta também é a linguagem
que compõe cada lâmina do Tarot. Quando escolhe, ao acaso, um certo número de
cartas de um monte, o consulente concede ao inconsciente um veículo para que se
expresse. Este usará, a partir da simbologia das cartas, um canal de comunicação com
a consciência.

Ao tarólogo cabe o papel de decodificação e organização das informações, a partir


dos símbolos que surgem, de forma acessível à compreensão do consulente. Obvia-
mente, essa atividade exige atenção para que as informações sejam transmitidas
com o menor grau de interferência, de preconceitos e de opiniões próprias.
Sincronicidade

A “mágica” das coincidências significativas, que se manifesta nos oráculos, foi concei-
tuada por Jung como sincronicidade. Ela é uma dos métodos usados pelo inconscien-
te para trazer à tona uma percepção – não só a partir das artes adivinhatórias, mas
também daquelas outras “coincidências” que nos tocam de forma tão profunda, a
ponto de despertar a uma nova observação do momento já conhecido. Essa foi uma
das mais controversas teorias junguianas, pois era considerada mística demais para
ser considerada ciência. No entanto, desde Einstein, a Física Quântica aponta para a
comprovação das hipóteses a partir do estudo da energia como condutora de infor-
mação.

Muitas vezes, os eventos sincronísticos nos conduzem aos insights que tanto espera-
mos: é como se, em um breve momento, a ignorância se descortinasse e pudéssemos
vislumbrar a realidade. E, assim, nos sentíssemos seguros para superar as dificulda-
des impostas pelo momento.

A percepção do espaço e do tempo são atributos da consciência. Ou seja, no incons-


ciente eles se perdem, não têm a mesma importância que damos na vida lúcida.
Como manifestação do inconsciente, a sincronicidade é capaz de ensinar sobre a
sensação de relatividade do tempo, inclusive durante uma consulta oracular. Assim
surgem, com a mesma facilidade, evocações do passado e lampejos de futuro. Da
mesma forma, distâncias físico-espaciais se encurtam.
O que ordena a prioridade do que é apresentado durante um jogo é a carga afetiva
dos acontecimentos, e não os fatos em si. Por esse motivo, muitas vezes o consulente
chega com questionamentos pré-formulados e, ao iniciar a consulta, uma nova pro-
blemática se apresenta e domina o assunto. Antes de debruçar sobre o que quer
saber, ele deve se debruçar sobre o que precisa saber.

O Tarot e o reflexo da alma


Percebemos que a partir dos símbolos e mitos presentes em cada arcano, os nossos
consulentes serão chamados a refletir sobre os padrões emocionais, expectativas e
negligências vividas no momento – e também sobre a participação de cada um
desses aspectos na manutenção do problema, em vez da solução do mesmo. Ou seja,
o tarot convida à autoanálise e, consequentemente, à revisão de valores e de postu-
ras adotadas. Enxergar o oráculo como uma chave para o desenvolvimento pessoal é,
antes de tudo, confiar que podemos ser guiados com sabedoria por esse invisível.

O oráculo tem a capacidade de desmascarar a nossa tentativa de controle, mas


também nos desperta a agir. Dá a clareza necessária para o entendimento da postura
adotada diante dos nossos objetivos, e do que precisa ser feito para que possamos
alcançá-los. Aprendemos a medir nossos medos e ansiedades. Entendemos sobre a
verdadeira função dos outros em nossa vida, e vice-versa. Tornamo-nos mais
responsáveis pelo futuro que tanto desejamos.

FIM !

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