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SÃO PAULO
2021
THAYNÁ SILVA DE OLIVEIRA
São Paulo
2021
CIP - Catalogação na Publicação
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
Prof.
Orientador
______________________________________________________________
Prof.
Avaliador
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Èsù por me dar caminhos abertos, vigiar a entrada, cuidar dos meus
passos, e acima de tudo estar presente em cada movimento, ser responsável por
minha comunicação. A Oxalá por me permitir viver nesse plano, e com isso, poder
concluir mais um ciclo em minha vida.
Agradeço a minha mãe Oxum e meu pai Obaluaê por guiarem meus passos,
me mostrarem qual direção seguir, me protegendo e auxiliando. Ao meu padrinho Sr.
José Pelintra, por me amparar, cuidar e zelar. Pai Chico, Mãe Severina, Pai João e
todos os orixás e mensageiros por serem meu esteio nos momentos de dificuldades
e me ajudarem a atravessar por vezes caminhos tortuosos. Sem a ajuda de todos
eles, seria impossível chegar até aqui.
Agradeço a toda minha Ancestralidade, pois sem cada um deles, sem seus
suores e sangue derramados, garantiram vida e minha liberdade.
Mo Júbà ô!
Quando a gira girou, ninguém suportou
Só você ficou, não me abandonou
Quando o vento parou e a água baixou
Eu tive a certeza do seu amor [...].
The scope of this monograph is to structure the inefficiency of the Brazilian penal
system in relation to protection against African-based religions, despite all rights and
guarantees provided by legislation, African-based religions continue to suffer
intolerance and religious racism. Having little state, social and legal recognition, at first,
we tried to bring the concept and evolution of religious freedom in Brazil. How religious
intolerance is structured and developed, finally alludes to legal provisions for protection
against religions of African origin, with the objective of making a critical analysis in the
face of the Brazilian judiciary and how it proceeds in the midst of the attacks suffered.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
2 ORGANIZAÇÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA NO DIREITO BRASILEIRO .. 9
2.1 Definição da liberdade religiosa ................................................................... 12
2.1.1 Liberdade religiosa como direito fundamental............................................ 13
2.2 Princípio da laicidade e a liberdade religiosa .............................................. 15
3 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA VERSUS RACISMO RELIGIOSO ................... 17
3.1 Racismo religioso: Intolerância religiosa tocante as religiões de matriz
africana ........................................................................................................... 17
3.1.1 Proteção internacional da liberdade religiosa ............................................. 20
4 PROTEÇÃO PENAL ÀS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA ..................... 23
4.1 Assistência religiosa prisional ante religiões de matriz africana .............. 27
5 INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA ........................................................................................ 31
5.1 Eficácia invertida do sistema penal brasileiro ............................................ 32
5.2 Dificuldade dentro das delegacias de polícia .............................................. 34
5.2.1 Necessidade do “Racismo Religioso” como um problema público.......... 36
5.3 Estudo do caso: Mildredes Dias Ferreira e Edneide Santos de Jesus ...... 38
6 CONCLUSÃO .................................................................................................. 41
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 44
8
1 INTRODUÇÃO
1 BERALDO, Lilian. Comissão da Alerj reúne denúncias de racismo religioso. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-11/comissao-da-alerj-reune-
denuncias-de-racismo-religioso. Acesso em: 28 ago. 2021.
9
Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados deputados.
Exceptuam-se: [...]
III - Os que não professarem a Religião do Estado.2
6 ORO, Ari Pedro. Considerações sobre a liberdade religiosa no Brasil. Disponível em:
http://polux.cmq.edu.mx/liblaicas/images/articulos/10/01/01/100101024.pdf. Acesso em: 1 set.
2021.
7 BRASIL. Constituição Federal (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de
janeiro de 1967. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. Acesso em: 1 set. 2021.
8 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 1 set. 2021.
12
E na mesma constituição artigo 5°, VIII diz que não será privado de direitos por
motivos de crença religiosa [...] salvo se invocar eximir de obrigação legal a todos
imposta e recusar a cumprir prestação alternativa, fixada por lei. Contudo, as religiões
de matriz africana não deixaram de serem descriminalizadas e tampouco perseguidas,
inclusive pelas autoridades policiais e sendo acusadas de charlatanismo entre outras
coisas.
A Liberdade Religiosa foi uma estruturação histórica, segundo Murilo de
carvalho importa sublinhar que se o tema liberdade religiosa põe, de alguma forma,
problema, é porque a própria laicidade ou secularização do Estado não fora
concretizada, sendo, ao contrário, algo em constante construção.9
Um dos direitos mais importantes, porque parte dele por exemplo o respeito à
vida e integridade física e moral, igualdade de direitos. O direito à vida além de ser
9 ORO, Ari Pedro. Considerações sobre a liberdade religiosa no Brasil. Disponível em:
http://polux.cmq.edu.mx/liblaicas/images/articulos/10/01/01/100101024.pdf. Acesso em: 2 set 2021.
10 MICHAELIS, Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos. Disponível
em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=NyqME. Acesso em: 2 set. 2021.
11 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 set. 2021.
13
uma cláusula pétrea é um dos direitos basilares estabelecidos por meio a carta
constitucional. O Estado deve atuar sempre em duas máximas: direito de continuar
vivo e de ter uma vida digna, assim sendo, traz o aspecto positivo e o negativo. O
primeiro tem relação a proteção e a qualidade de vida, já o negativo sopesa a vida de
qualquer indivíduo, no qual não pode ser tirada previsto no inciso XLVII do artigo 5°.
Mas como podemos notar ao longo da história esse direito fundamental não
vem sendo respeitado, frente e interligado a isso temos o direito à vida que em
diversos momentos de intolerância religiosa marcaram de maneira calamitosa a nossa
sociedade.12
Esses direitos são estudados por suas dimensões, ou seja, são divididos e um
complementa o outro de acordo com a necessidade de cada época: Liberdade;
Igualdade e Fraternidade.
Direitos humanos de primeira geração: Liberalismo - econômico, social, político
e jurídico. Tem o marco histórico com a declaração do direito do homem e do cidadão.
Essa geração tem como meio os direitos individuais, ligados aos direitos civis e
políticos. Ressalta sobre o Estado mínimo, ou seja, o Estado interferir minimamente
em relação ao particular.
12 SILVA, Sara Edwirgens Barros. SANTOS, André Rodrigues. Intolerância religiosa versus direito
fundamentais. Revista científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Disponível em:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/intolerancia-religiosa. Acesso em: 25 ago. 2021.
14
Ou seja, tal direito com preceito fundamental carece de ter uma visão ampla,
em outros termos: compreendendo que atua tanto como direito negativo ou, positivo
aduzindo como exemplo a garantia do indivíduo expressar sua crença ou não crença.
No que toca à laicidade estatal no texto do artigo 19, inciso I, veda a União,
Estados, Municípios e Distrito Federal estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
embarcara-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações
de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público. O caput desse artigo já reafirma o princípio da laicidade estatal de que não
temos uma religião oficial. Mas podendo o Estado promover alianças ou relações com
14 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito à liberdade religiosa no Brasil à luz das decisões
do Poder Judiciário pátrio: Análise e reflexão, p. 01. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/7/A055EAF897F3DA_DireitoaliberdadereligiosanoBr.p
df. Acesso em: 24 ago. 2021.
15 BRASIL. Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d119-a.htm. Acesso em: 24 ago. 2021.
16
16 SOUZA, Mailson Fernandes Cabral de. Laicidade e liberdade religiosa no Brasil: situando a
discussão entre religião e política. P. 81. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/P.1983-
2478.2017v12n21p77/12062. Acesso em: 25 ago. 2021.
17 ZORZENON, Carla Albuquerque. Esvaecimento do estado laico: o estado laico e sua
implicação na atualidade. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/esvaecimento-do-estado-laico-o-estado-laico-e-sua-implicacao-na-atualidade/.
Acesso em: 25 ago. 2021.
17
É sabido que ao longo da história as religiões de matriz africana é uma das que
mais sofrem intolerância e racismo religioso. Ao longo do tempo por grande influência
da igreja católica, pentecostal, neopentecostal e a imprensa. Num trecho do livro de
Vagner Gonçalves da Silva20 aborda que antes a intolerância era apenas episódios
cometidos sem a devido impacto, entretanto, esses atos saíram da esfera cotidiana
menos visíveis e foram ganhar notoriedade pública. Em 2011, o Governo Federal criou
o Disque 100 que tem a função de receber e encaminhar as diligencias de violações
dos Direitos Humanos. Anunciada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH) o balanço referente as denúncias de discriminação religiosa
mostram 506 casos registrados pelo Disque 100 no ano de 2018. Os mais atingidos
são umbanda (72), candomblé (47), testemunha de jeová (31), matrizes africanas (28)
e alguns segmentos evangélicos (23)21. O Brasil registra cerca de uma denúncia por
intolerância religiosa a cada 15 horas.
Vagner da Silva22 relata várias situações de violência neopentecostal contra as
religiões afro-brasileiras, retiradas tanto da imprensa quanto da literatura acadêmica,
e são classificadas em 5 tipos diferentes de ataques:
Dos 840 terreiros pesquisados, cerca de 430 ou 51% já passaram por alguma
forma de agressão, números esses, estudados no Rio de Janeiro. Ou seja,
430 casas sofreram “discriminação religiosa”, salienta-se que os locais de
agressões – públicos (57%), rua (67%) – tipos de agressões – verbal (39%),
vizinhos (27%) e os tipos de alvo – a pessoa (60%) e a casa (29%).
26 JUNIOR, Julio José Araújo. ZOLLINGER, Marcia Brandão. A resolução n° 230/2021 do CNMP e
a defesa dos povos tradicionais. Disponível em:
https://www.anpr.org.br/imprensa/artigos/25339-a-resolucao-n-230-2021-do-cnmp-e-a-defesa-dos-
povos-tradicionais.. Acesso em: 15 set. 2021.
27 MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Artigo 18°: Toda pessoa
tem direito a liberdade de religião, consciência e pensamento. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/novembro/artigo-18deg-toda-pessoa-tem-
direito-a-liberdade-de-religiao-consciencia-e-pensamento. Acesso em: 19 set. 2021.
28 UNICEF. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 19 set. 2021.
21
Art. 10.º - Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública
estabelecida pela lei.29
Artigo 3.º
A discriminação entre seres humanos por motivo de religião ou convicção
constitui um atentado à dignidade humana e uma negação dos princípios da
Carta das Nações Unidas, e deverá ser condenada enquanto violação dos
direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e enunciados em detalhe nos Pactos
Internacionais sobre Direitos Humanos, e enquanto obstáculo às relações
amistosas e pacíficas entre nações.34
32 BRASIL. Decreto n° 592, de 6 de junho de 1992. Atos internacionais, Pacto Internacional sobre
direitos civis e políticos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/d0592.htm. Acesso em: 19 set. 2021.
33 BRASIL. III Relatório ao pacto internacional sobre direitos civis e políticos. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/atuacao-internacional/relatorios-internacionais-
1/IIIRelatriodoEstadobrasileiroaoPactodeDireitosCivisePolticos.pdf. Acesso em: 19 set. 2021
34 MINISTÉRIO PÚBLICO PORTUGAL. Declaração sobre a eliminação de todas as formas de
intolerância e discriminação baseadas na religião ou convicção. Proclamada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas na sua resolução 36/35, de 25 de novembro de 1981. Disponível em:
https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/declaracao_sobre_a_eliminacao_de_todas_as_f
ormas_de_intolerancia_e_discriminacao_baseadas_na_religiao_ou_conviccao.pdf . Acesso em:
19 set. 2021.
23
O Estatuto da Igualdade Racial foi destinado para criar ações nas quais
pudessem sanar ou diminuir as desigualdades no País, assim, garantindo a essa
parcela da população a efetivação da igualdade de oportunidades, a garantia de
direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e outras
formas de intolerância étnico-raciais. Essa lei ampara não somente a população não
branca, mas também ribeirinhos, ciganos, extrativistas somando em conjunto cerca
de 2,4 milhões de pessoas em todo o País e aproximadamente 638,9 famílias
brasileiras. A SEPPIR – Secretaria Nacional de Políticas de Promoção a Igualdade
Racial vem trabalhando de modo efetivo nas diversas formas de intolerância e
discriminação étnico-racial. Criada no de 2003 a SEPPIR completa 11 anos, celebrada
no Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial – 21 de março – o
Instituto instituiu o sistema SINAPIR – Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
Racial41, como uma forma de articulação federativa voltada para a elaboração do
conjunto de políticas e serviços voltados para suplantar as desigualdades étnico-
raciais.
Apesar disso, a criação de institutos públicos voltados para a proteção da
população negra e de seus valores culturais não são suficientes para coibir a prática
de atos de intolerância religiosa.
Na metade do ano passado, uma mãe42 perdeu a guarda de sua filha
adolescente pelo fato de ter sido denunciada por sua avó materna, por maus tratos e
abusos sexuais no terreiro, quando na verdade estava no meio de uma prática
ritualística de iniciação ao candomblé. Em depoimento colhido, a jovem43 nega que
teria sofrido tais atos, e disse que estava de acordo com tudo o que tinha sido feito
até o presente momento. Foram feitos exames de corpo de delito e não tinha sinais
de lesões corporais. Após 17 dias, o referido juiz alegou que no tocante nada
levantado configura maus tratos. Porém, foi tão somente um de muitos outros casos,
critica essa, em face de dispositivos coercitivos que deveriam proteger e inibir a
realização de intolerância religiosa, que na prática não proporcionam nenhuma
medida ou mudança.
Ademais, temos ressalvado no Código Penal artigo 208, da lei 2848/1940 traz
o respectivo conteúdo de que escarnecer alguém publicamente pelo simples fato de
sua crença religiosa; impedir ou perturbar cerimonia ou prática religiosa; vilipendiar
publicamente ato ou objeto de culto religioso – pena: detenção de um mês a ano, ou
multa44. Crime de menor potencial ofensivo, quer dizer, ainda que esteja a majorante
1/3 a pena máxima45 não será superior a dois anos.
Destarte que a pena é de detenção quer dizer, não admite início cumprir regime
fechado pois é aplicada para condenações de natureza mais leve. Com tal
característica de ser cabível suspensão condicional ao processo no caput e do
parágrafo primeiro segundo consta o art. 89 da lei 9.099/9546, possivelmente podendo
ser substituída por pena pecuniária de multa.
44 BRASIL. Artigo 208 do Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612290/artigo-208-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-
dezembro-de-1940. Acesso em: 11 out. 2021.
45 BRASIL. Artigo 61 da Lei n° 9.099, de 20 de maio de 1993. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11306180/artigo-61-da-lei-n-9099-de-20-de-maio-de-1993.
Acesso em: 11 out. 2021.
46 BRASIL. Artigo 89 da Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11304243/artigo-89-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-
1995. Acesso em: 22 out. 2021.
47 BRASIL. Artigo 208 do Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612290/artigo-208-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-
dezembro-de-1940/artigos. Acesso em: 22 out. 2021.
48 JORNAL DA USP. Falta de conhecimento sobre outras culturas agrava intolerância religiosa
no Brasil. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/falta-de-conhecimento-sobre-outras-
culturas-agrava-intolerancia-religiosa-no-brasil/. Acesso em: 26 out. 2021
27
bàbá Dida de Yemoja51 relata de que esse grupo sofre com mais essa barreira
restritiva, que quando autorizam a entrada, são constrangidos pelos agentes por conta
de suas vestimentas ou objetos sagrados.
Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos
presos e aos internados, permitindo-se lhes a participação nos serviços
organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de
instrução religiosa.
§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade
religiosa.
como ação voluntária individual, nunca em grupos. Já em relação aos cultos afro há
uma ausência, tanto pelo fato do preconceito religioso, além da hegemonia
pentecostal e neopentecostal.
Isso pode ser tanto pelo fato do racismo e preconceito histórico e estrutural
enraizado na nossa sociedade desde os primórdios, até quanto pelas características
ritualísticas, por causa de vestimentas especificas, a utilização de instrumentos de
percussão e pela dificuldade de se caracterizar como uma instituição religiosa formal,
que atende os requisitos exigidos para o credenciamento consoante aos presídios.
Rita Segato54 complementa dizendo que a invisibilidade das escolhas afro-brasileiras
dentro dos presídios seria por causa as características, quer dizer, atingem pessoas
para o conhecimento mitológico juntamente com seu vocábulo, fazendo com o que
algumas dessas pessoas se conformem com o seu rumo. De contraponto, as religiões
que em sua visão é intitulada como de superioridade moral, entram em presídios e
monopolizam os discursos chegando à finalidade de uma redenção.
Flávia Pinto líder de um terreiro: Casa do Perdão, fala sobre as dificuldades
encontrada por ela para adentrar nesse âmbito55, no aspecto financeiro, pois essas
religiões não tem um órgão gestor e com isso, falta recursos para financiar as visitas
aos presídios, mas também a respeito de um trabalho que vem fazendo desde 2003
dentro dos presídios. Contudo, não foi tão simples sua entrada, tendo em vista que o
DESIPE colocou empecilhos, só a autorizando quando o caso foi para a mídia, e em
contrapartida a proibiu de utilizar atabaques e adjá, aduzindo de que tais objetos
poderiam ser nocivos. Criou projeto voltado para o egresso em relação aos apenados.
Falando sobre os direitos humanos, movimento negro entre outros.
Na resolução N° 8/201156 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) no art. 7° explana os deveres das organizações que prestam
assistência religiosa.
Art. 7° São deveres das organizações que prestam assistência religiosa, bem
como de seus representantes:
I - Agir de forma cooperativa com as demais denominações religiosas;
II - Informar-se e cumprir os procedimentos normativos editados pelo
estabelecimento prisional;
III - Comunicar a administração do estabelecimento prisional sobre eventual
impossibilidade de realização de atividade religiosa prevista;
IV - Comunicar a administração do estabelecimento prisional sobre propostas
de ampliação dos trabalhos de assistência humanitária, como oficinas de
trabalho, escolarização e atividades culturais, bem como atuar de maneira
cooperativa com os programas já existentes.
31
Muito embora a Carta Magna esteja descrita e assegurada por meio a cláusula
pétrea, sabemos e há indícios de que a intolerância religiosa é um mal assolado
principalmente no Brasil, o fato de demonizar religiões ou práticas não hegemônicas,
sendo aplicadas atos que ferem a dignidade da pessoa humana e a liberdade. Em sua
obra, Nilo Batista57 difere sistema penal e direito penal segundo ele, direito penal é um
conjunto de normas jurídicas, responsáveis pela previsão, aplicação e a execução
destas sanções.
Sistema penal diz respeito a uma concepção mais abrangente. Zaffaroni58
compreende como “controle social punitivo institucionalizado”, assim dizendo, alude a
procedimentos utilizados com frequência mesmo que sejam ilegais. Permitindo que
inclua no conceito de sistema penal casos de ilegalidade imposta como uma forma de
prática rotineira.
Esse sistema englobaria então, os presidiários, agentes policiais, judiciais.
Tendo como objetivo a proteção e garantia da ordem judicial justa, mas esses
conceitos são na teoria, porque na pratica o sistema penal traz outros aspectos.
Tendo em vista, que citar o sistema penal e tratar sobre suas teorias seria algo
muito delicado, pois pode deixar a impressão de que ele tem por escopo objetificações
teóricas, não alcançando a prática. O que é algo equivocado.
Fruímos o direito de expressão e com ele o fato de criticarmos religiões,
dogmas entre outras coisas, apesar disso, a prática agressiva, hostil, ataques em face
de grupo, individuo ou local em razão de sua crença, religião, é crime estando
tipificado no Código Penal e em outros documentos solene.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
57 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. P.24. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
58 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. P.25. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
32
No Código Civil, art. 927 aduz que haverá a obrigação de reparar danos,
independente de culpa, aquele que causar dano a outrem, por ato ilícito.60
62 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
63 NICÁCIO, Camila Silva. Intolerância Religiosa no Estado de Minas Gerais: Considerações a
partir de uma pesquisa com boletins de ocorrência. Disponível em:
https://cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/download/246/219. Acesso em:
1 nov. 2021.
34
sexual motivada por questões religiosas dentro das residências das vítimas,
ou seja, dentro do espaço privado. As questões de cunho privado
transformam-se em processos judiciais. Normalmente, os conflitos que se
transformam em ações judiciais são aqueles envolvendo educação ou
trabalho.72
Mary Antônia monteiro, mãe pequena do terreiro aduz que tais ataques
contribuíram para a piora no quadro médico de sua mãe. No dia de seu falecimento,
Mildredes se encontrava aflita, em decorrência de uma vigília e som alto que estava
tendo em frente à sua casa, sendo possível escutar xingamentos num contexto
vexatório e de forma agressiva, direcionados ao terreiro. Uma filha de santo do
terreiro, Josilene Paulo Nascimento, se fez presente desde o primeiro momento até a
delegacia, no qual tiveram que mostrar provas dentre elas filmagens.
Na Apelação n° 0502347-89.2015.8.05.003975 o juiz de direito da 2ª Vara da
Comarca da Capital de Camaçari/BA na primeira condenação julgou procedente e
acusou a ré Edneide Santos de Jesus configurado no crime do art. 20 da lei 7716/89
(Lei Caó); estabelecendo 1 ano de reclusão, tendo a modalidade do regime aberto e
pagamento no valor de 10 dias-multa, obtivendo a substituição das penas privativas
de liberdade, às penas restritivas de direito, estando definido o comparecimento
mensal e a prestação de serviços à comunidade. Houve resposta à acusação
alegando prescrição da pretensão punitiva, pedindo-se sua absolvição. Em segunda
instância foi reafirmado o mesmo crime. Na conclusão do acórdão foi dado o seguinte
texto declaratório.
Seis anos após o falecimento de Mildredes dias, a Bahia teve sua primeira
condenação por racismo religioso, na modalidade de preconceito religioso do artigo
citado acima.
Esse tipo de vitória a gente sempre tem que celebrar, porque por mais que
os crimes de racismo sejam imprescritíveis, as condenações demoram muito
de chegar. Então a gente tem que comemorar mesmo, para que cada vez
mais a gente possa estar efetivamente dando cabo desse tipo de problema,
e garantindo efetividade para que essas discriminações possam acabar de
vez nesse país e no estado da Bahia.78
78 G1, BAHIA. Seis anos após a morte da Ialorixá vítima de intolerância religiosa, Bahia tem 1ª
condenação por racismo religioso. Disponível em:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/06/09/seis-anos-apos-morte-de-ialorixa-vitima-de-
intolerancia-bahia-tem-1a-condenacao-por-racismo-religioso.ghtml. Acesso em: 13 nov. 2021.
41
6 CONCLUSÃO
respeite seu espaço, seu corpo e, sua liberdade de expressão, crença. Temos que
reconhecer que há essa disparidade e levar esse debate adiante, não ficar somente
destro de uma redoma, tornar público. É preciso interligar as mais variadas vertentes
dentro da religião e com isso elaborar uma rede de apoio em consonância com outros
grupos. Ocupar espaços como dentro da política, cultura, juridicamente. Pensa-se na
forma da idealização e produção de uma estratégia e sistema para que não haja
exclusão, ou um grupo se beneficiar mais do que os demais, é necessário que haja
diálogo, ações unificadoras com abrangência sem discriminação.
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REFERÊNCIAS
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11. ed. Rio de
Janeiro; Revan, p. 24, 2007. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA
%2C%20Nilo.%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito
%20penal%20brasileiro.pdf.Acesso em: 1 nov. 2021.
CONJUR. TJ-BA aplica lei de racismo para condenar evangélica por ataques ao
candomblé. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-jun-06/tj-ba-aplica-lei-
racismo-condenar-evangelica-ataques. Acesso em: 13 nov. 2021.
G1, BAHIA. Seis anos após a morte da Ialorixá vítima de intolerância religiosa,
Bahia tem 1ª condenação por racismo religioso. Disponível em:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/06/09/seis-anos-apos-morte-de-ialorixa-
vitima-de-intolerancia-bahia-tem-1a-condenacao-por-racismo-religioso.ghtml. Acesso
em: 11 nov. 2021.