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UNIVERSIDADE PAULISTA

THAYNÁ SILVA DE OLIVEIRA

RACISMO RELIGIOSO E O SISTEMA PENAL BRASILEIRO:


A INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA

SÃO PAULO
2021
THAYNÁ SILVA DE OLIVEIRA

RACISMO RELIGIOSO E O SISTEMA PENAL BRASILEIRO:


A INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA

Monografia apresentada como requisito


parcial para conclusão do curso de
bacharelado em Direito na Faculdade
Universidade Paulista - UNIP.
Orientador: Prof. Dr. José Francisco Rolim

São Paulo
2021
CIP - Catalogação na Publicação

Oliveira, Thayná Silva de


Racismo Religioso e o sistema penal brasileiro: A ineficácia penal para
a proteção em face as religiões de matriz africana / Thayná Silva de
Oliveira. - 2021.
0050 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto


de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, São Paulo, 2021.
Área de Concentração: Direito Penal.
Orientador: Prof. Dr. José Francisco Rolim.

1. Racismo religioso. 2. ineficácia do sistema penal brasileiro. I. Rolim,


José Francisco (orientador). II.Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista


com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
THAYNÁ SILVA DE OLIVEIRA

RACISMO RELIGIOSO E O SISTEMA PENAL BRASILEIRO:


A INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA

Monografia apresentada como requisito


parcial para conclusão do curso de
bacharelado em Direito na Faculdade
Universidade Paulista - UNIP.

São Paulo, ______de_______________2021.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________
Prof.
Orientador

______________________________________________________________
Prof.
Avaliador
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Èsù por me dar caminhos abertos, vigiar a entrada, cuidar dos meus
passos, e acima de tudo estar presente em cada movimento, ser responsável por
minha comunicação. A Oxalá por me permitir viver nesse plano, e com isso, poder
concluir mais um ciclo em minha vida.

Agradeço a minha mãe Oxum e meu pai Obaluaê por guiarem meus passos,
me mostrarem qual direção seguir, me protegendo e auxiliando. Ao meu padrinho Sr.
José Pelintra, por me amparar, cuidar e zelar. Pai Chico, Mãe Severina, Pai João e
todos os orixás e mensageiros por serem meu esteio nos momentos de dificuldades
e me ajudarem a atravessar por vezes caminhos tortuosos. Sem a ajuda de todos
eles, seria impossível chegar até aqui.

Agradeço a todos meus amigos e familiares por sempre estarem presentes em


minha vida, em todos os momentos de alegrias e tristezas. Em especial, para meus
avós - Gesilsa e Heraldo: mesmo não estando fisicamente presentes em mais um ciclo
da minha vida que se fecha sei que sempre estarão comigo, zelando, vigiando e
torcendo para tudo dê certo. Agradeço também meus pais, não soltarem minhas mãos
principalmente nos momentos de escuridão, adversidades, para juntos encontrarmos
uma solução e procurar resolver todos os problemas. Fazerem o possível e por vezes
o impossível para eu conseguir ou chegar em determinados lugares, dentre todos: a
Universidade.

Agradeço a todos meus mestres e professores desde sempre caminharem


nessa longa e árdua estrada que é a vida. Mais difícil ainda quando é ensino público
nesse País. Mas eles foram fundamentais nessa trajetória. Me ajudarem em diversos
momentos de dificuldades, mas também vibrarem em cada conquista. Em cada aula,
lição e conteúdo sabido. E não soltarem minha mão.

Agradeço a toda minha Ancestralidade, pois sem cada um deles, sem seus
suores e sangue derramados, garantiram vida e minha liberdade.

Agradeço ao meu orientador por procurar me escutar, ser paciente em cada


erro e persistente até vir finalmente o acerto.

Mo Júbà ô!
Quando a gira girou, ninguém suportou
Só você ficou, não me abandonou
Quando o vento parou e a água baixou
Eu tive a certeza do seu amor [...].

(Cláudio André Guimarães/Serginho Meriti)


RESUMO

A presente monografia tem por escopo a estruturação a respeito da ineficiência do


sistema penal brasileiro em relação a proteção em face das religiões de matriz
africana, a despeito de todos direitos e garantias assegurados pela legislação, as
religiões de matriz africana continuam sofrendo intolerância e racismo religioso. Tendo
pouco reconhecimento estatal, social e jurídico, a princípio procurou-se trazer conceito
e evolução da liberdade religiosa no Brasil. Como se estrutura e desenvolve a
intolerância religiosa, por fim alude dispositivos legais para proteção frente as religiões
de matriz africana, tendo como objetivo fazer uma análise crítica em face ao poder
judiciário brasileiro e como procede em meio aos ataques sofridos.

Palavras-chave: Direito penal. Liberdade religiosa. Intolerância religiosa. Racismo


religioso. Religiões de matriz africana.
ABSTRACT

The scope of this monograph is to structure the inefficiency of the Brazilian penal
system in relation to protection against African-based religions, despite all rights and
guarantees provided by legislation, African-based religions continue to suffer
intolerance and religious racism. Having little state, social and legal recognition, at first,
we tried to bring the concept and evolution of religious freedom in Brazil. How religious
intolerance is structured and developed, finally alludes to legal provisions for protection
against religions of African origin, with the objective of making a critical analysis in the
face of the Brazilian judiciary and how it proceeds in the midst of the attacks suffered.

Key-words: Criminal law. Religious freedom. Religious intolerance. Religious racism.


African matriz religions.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
2 ORGANIZAÇÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA NO DIREITO BRASILEIRO .. 9
2.1 Definição da liberdade religiosa ................................................................... 12
2.1.1 Liberdade religiosa como direito fundamental............................................ 13
2.2 Princípio da laicidade e a liberdade religiosa .............................................. 15
3 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA VERSUS RACISMO RELIGIOSO ................... 17
3.1 Racismo religioso: Intolerância religiosa tocante as religiões de matriz
africana ........................................................................................................... 17
3.1.1 Proteção internacional da liberdade religiosa ............................................. 20
4 PROTEÇÃO PENAL ÀS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA ..................... 23
4.1 Assistência religiosa prisional ante religiões de matriz africana .............. 27
5 INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE
MATRIZ AFRICANA ........................................................................................ 31
5.1 Eficácia invertida do sistema penal brasileiro ............................................ 32
5.2 Dificuldade dentro das delegacias de polícia .............................................. 34
5.2.1 Necessidade do “Racismo Religioso” como um problema público.......... 36
5.3 Estudo do caso: Mildredes Dias Ferreira e Edneide Santos de Jesus ...... 38
6 CONCLUSÃO .................................................................................................. 41
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 44
8

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia de conclusão de curso tem por escopo o estudo em face


da intitulada intolerância religiosa ainda presente no nosso país, no qual se apresenta
de diversas formas, assim como, conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças
ou a pessoas de determinadas religiões. Trata-se de um tipo penal de ódio no qual
fere a liberdade, dignidade humana e por vezes o direito à vida, que deve ser
veementemente combatido em um Estado Democrático de Direito. O estudo dá
enfoque em relação acerca da ineficácia do Sistema Penal aos casos de intolerância
religiosa, centralizando a análise nas religiões de matriz africana, racismo e o pouco
reconhecimento estatal, social e jurídico que sofrem.
Criticar religiões ou dogmas é direito de liberdade de expressão assegurado
pela nossa Carta Constitucional, contudo, o desrespeito por intermédio de agressivos
atos, ofensas e discriminação ante a essas pessoas, em detrimento a crença que
praticam são condutas tipificadas criminalmente em nosso ordenamento jurídico. No
site da Agência Brasil ao final da matéria, o Babalorixá Adailton Moreira
- "Intolerância religiosa é uma forma muito suave de se falar sobre esse
racismo", afirmou. "É uma coisificação de nossas tradições. Não fere somente a
religiosidade em si, fere todo o povo negro, porque é um resquício do racismo e do
sequestro dos povos africanos tirados de sua terra".1

1 BERALDO, Lilian. Comissão da Alerj reúne denúncias de racismo religioso. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-11/comissao-da-alerj-reune-
denuncias-de-racismo-religioso. Acesso em: 28 ago. 2021.
9

2 ORGANIZAÇÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA NO DIREITO BRASILEIRO

Constituição imperial promulgada em 25 de março de 1824, outorgada por Dom


Pedro I, no artigo 5° dizia que a Igreja Apostólica Romana continuará a ser a religião
do Império. E tendo como uns dos requisitos para se tornar deputado como menciona
o inciso III do artigo 95 da referida Constituição.

Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados deputados.
Exceptuam-se: [...]
III - Os que não professarem a Religião do Estado.2

Entretanto com o regime do padroado o Poder Executivo tinha por obrigação


proteger a religião do Estado, mas se tratando de assuntos econômicos ou
administrativos detinham prerrogativa constitucional para nomear bispos e fiscalizar
igrejas. Assim como, sancionar ou não bulas pontifícias. No decorrer desse período
houve cerca de dois conflitos entre Igreja e Estado, no qual atribuíram uma certa
separação desses poderes, que ficaram conhecidos como “cisma de Feijó” – que
acabou em 1836 ter o propósito de separar a Igreja brasileira da Igreja Romana. E o
segundo, o qual foi a proibição de católicos em conformidade aos maçons.
Ainda assim, essa constituição trouxe uma evolução, como no artigo 179, V,
onde dizia que:

A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que


tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida
pela Constituição do Império, pela maneira seguinte.
V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que
respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica.

No ano de 1891, promulgada a segunda constituição e primeira no estado


republicano. Efetuou-se a separação entre Estado e Igreja, extinguindo o regime do
padroado e mencionando de em seu texto a ‘liberdade religiosa’ para todos os cultos.

A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes na paz a


inviolabilidade dos direitos concernentes a liberdade, a segurança individual
e a propriedade, nos termos seguintes:

2 BRASIL. Constituição Federal (1824). Constituição política do império do Brazil, de 25 de


março de 1824. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm
Acesso em: 31 ago. 2021.
10

§ 3º Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e


livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens,
observadas as disposições do direito comum.3

Garantindo pelo menos no âmbito jurídico o tratamento isonômico, Estado


passando a garantir a liberdade dos indivíduos escolherem e professarem sua fé ou
não fé. Todavia a Igreja católica continuou com alguns privilégios, de maneira que o
clero pôde evitar o confisco de bens, congregações obtiveram permissão para
continuar com o seu funcionamento, entre outros. Permaneceu influente acerca da
sociedade e suas instituições.
Com o rompimento jurídico oficial do Estado com a Igreja Católica, está previsto
no artigo 72, parágrafo 7° da referida Constituição.

A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a


inviolabilidade dos direitos concernentes a liberdade, a segurança individual
e a propriedade, nos termos seguintes:
§ 7º Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações
de dependência ou aliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A
representação diplomática do Brasil junto á Santa Sé não implica violação
deste princípio.

A constituição de 1934, governo de Getúlio Vargas se tratando da liberdade de


crença e consciência não sofreu nenhuma alteração, prossegue o que consistia nas
constituições passadas.4
Em 1946 foi promulgada a quinta Constituição Federal. No artigo 31, inciso II e
III traz a seguinte redação:

A União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado [...]


II - Estabelecer ou subvencionar cultos religiosos, ou embarcara-lhes o
exercício;
III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto ou igreja, sem
prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo. 5

Adotando o princípio da separação do Estado e Igreja, e o da colaboração de


Estado e Igreja em face do bem comum. E no parágrafo 7° do artigo 141 faz uma

3 BRASIL. Constituição Federal (1891). Constituição da República dos Estados Unidos, de 24 de


fevereiro de 1891. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em: 1 set. 2021.
4 BRASIL. Constituição Federal (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil, de 16 de julho de 1934. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em: 1 set. 2021.
5 BRASIL. Constituição Federal (1946). Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil, de 18 de setembro de 1946. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em: 1 set. 2021.
11

alusão a inviolabilidade de direitos e liberdade como, consciência, crença e culto e


assegurando o livre exercício de culto, salvo se violarem a ordem pública e os bons
costumes. Ou seja, o Estado não passou de imediato a atuar de forma isonômica aos
diferentes grupos religiosos. Os terreiros permaneceram sendo alvo de perseguições,
tendo aspecto de que praticavam o exercício ilegal da medicina e o curandeirismo.
Assim como, espiritas no qual não puderam professar sua crença, que assim
permaneceu até a década de 50. Nessa década a Igreja começou a notar um certo
concurso dentro do âmbito religioso, resultante a isso disseminou uma ofensiva,
chamando-as de ‘falsas religiões’ tendo como foco a umbanda, espiritismo e
pentecostalismo.6
Com a chegada da ditadura militar, a Constituição de 1967 no artigo 150,
parágrafo 8º institui limitações ao direito à liberdade de crença, mediante situação
política que passou a vigorar no Brasil. Não existia liberdade de crença, imprensa,
palavra. A igreja católica passou a ser identificada como instituto-chave em defesa
dos direitos humanos.7
Posteriormente, assegurando a liberdade religiosa, e se manteve mediante as
anteriores constituições a respeito da separação entre Estado e Igreja a Constituição
Federal de 1988, promulgada em 5 de outubro desse mesmo ano. No qual logo no
início destaca o seguinte texto:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional


Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 19 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embarcara-lhes
o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público.8

6 ORO, Ari Pedro. Considerações sobre a liberdade religiosa no Brasil. Disponível em:
http://polux.cmq.edu.mx/liblaicas/images/articulos/10/01/01/100101024.pdf. Acesso em: 1 set.
2021.
7 BRASIL. Constituição Federal (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de
janeiro de 1967. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. Acesso em: 1 set. 2021.
8 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 1 set. 2021.
12

E na mesma constituição artigo 5°, VIII diz que não será privado de direitos por
motivos de crença religiosa [...] salvo se invocar eximir de obrigação legal a todos
imposta e recusar a cumprir prestação alternativa, fixada por lei. Contudo, as religiões
de matriz africana não deixaram de serem descriminalizadas e tampouco perseguidas,
inclusive pelas autoridades policiais e sendo acusadas de charlatanismo entre outras
coisas.
A Liberdade Religiosa foi uma estruturação histórica, segundo Murilo de
carvalho importa sublinhar que se o tema liberdade religiosa põe, de alguma forma,
problema, é porque a própria laicidade ou secularização do Estado não fora
concretizada, sendo, ao contrário, algo em constante construção.9

2.1 Definição da liberdade religiosa

Assente ao dicionário Michaelis Liberdade concerne ao nível de total e legítima


autonomia que representa o ideal maior de um cidadão, de um povo ou de um
país: Este grupo, que lutou sempre por justiça e liberdade no seu país, finalmente teve
seus esforços recompensados
Poder de agir livremente, dentro de uma sociedade organizada, de acordo com
os limites impostos pela lei: Nem todos os povos têm liberdade religiosa.
A expressão ‘Liberdade’ submete aos mais variados subgêneros como por
exemplo à locomoção; à crença; à expressão; à consciência, dentre várias10. No artigo
1°, inciso III da Constituição Federal diz que constitui um Estado Democrático de
Direito, a dignidade da pessoa humana:

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos [...].
III - a dignidade da pessoa humana.11

Um dos direitos mais importantes, porque parte dele por exemplo o respeito à
vida e integridade física e moral, igualdade de direitos. O direito à vida além de ser

9 ORO, Ari Pedro. Considerações sobre a liberdade religiosa no Brasil. Disponível em:
http://polux.cmq.edu.mx/liblaicas/images/articulos/10/01/01/100101024.pdf. Acesso em: 2 set 2021.
10 MICHAELIS, Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos. Disponível
em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=NyqME. Acesso em: 2 set. 2021.
11 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 set. 2021.
13

uma cláusula pétrea é um dos direitos basilares estabelecidos por meio a carta
constitucional. O Estado deve atuar sempre em duas máximas: direito de continuar
vivo e de ter uma vida digna, assim sendo, traz o aspecto positivo e o negativo. O
primeiro tem relação a proteção e a qualidade de vida, já o negativo sopesa a vida de
qualquer indivíduo, no qual não pode ser tirada previsto no inciso XLVII do artigo 5°.

2.1.1 Liberdade religiosa como direito fundamental

Temos assegurados e ressalvados pela Constituição Federal de 1988, alguns


direitos, dentre eles o de liberdade de crença. Que vem assegurado pelo artigo 5°,
CF:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes [...]
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias [...]
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei.

Mas como podemos notar ao longo da história esse direito fundamental não
vem sendo respeitado, frente e interligado a isso temos o direito à vida que em
diversos momentos de intolerância religiosa marcaram de maneira calamitosa a nossa
sociedade.12
Esses direitos são estudados por suas dimensões, ou seja, são divididos e um
complementa o outro de acordo com a necessidade de cada época: Liberdade;
Igualdade e Fraternidade.
Direitos humanos de primeira geração: Liberalismo - econômico, social, político
e jurídico. Tem o marco histórico com a declaração do direito do homem e do cidadão.
Essa geração tem como meio os direitos individuais, ligados aos direitos civis e
políticos. Ressalta sobre o Estado mínimo, ou seja, o Estado interferir minimamente
em relação ao particular.

12 SILVA, Sara Edwirgens Barros. SANTOS, André Rodrigues. Intolerância religiosa versus direito
fundamentais. Revista científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Disponível em:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/intolerancia-religiosa. Acesso em: 25 ago. 2021.
14

Segunda geração: Igualdade. O Estado passou a interferir em algumas


relações jurídicas, principalmente para a proteção dos mais vulneráveis. Surgindo a
ideia de Estado Social – Estado interfere nos particulares a proteção da parte mais
fraca, ditando regras em face dos mais fracos. Assim sendo, teremos o fortalecimento
dos direitos sociais, econômicos e culturais.
Terceira geração: Fraternidade. Regressado ante os direitos difusos e
coletivos. Proteção de uma comunidade, região e de toda sociedade.
Um pouco acima, quando menciono a respeito à liberdade, subdivide entre as
áreas do direito assim como, à locomoção, expressão, entre outros.
Liberdade Religiosa, entendido como direitos de primeira geração, destinado
como um dos direitos fundamentais, sendo assim o Estado não pode intervir e impor
que sigamos uma só crença ou ao menos de que tenhamos uma religião pré-
estabelecida. Ingo Wolfgang Salet numa nota diz:

Importa frisar que como se dá de modo geral no domínio dos direitos de


liberdade, também a liberdade religiosa assume a condição de uma liberdade
simultaneamente negativa e positiva, visto que assegura a faculdade de não
professar alguma crença ou praticar algum culto ou ritual (liberdade negativa,
de não exercício) quanto assegura que o Estado e terceiros (particulares) não
impeçam – salvo nos limites da própria ordem constitucional – o exercício das
diversas manifestações da liberdade religiosa (liberdade positiva).” E
acrescenta dizendo “a liberdade religiosa deve ser compreendida como um
direito fundamental em sentido amplo, que se decodifica, em sua dimensão
subjetiva e objetiva […].13

Ou seja, tal direito com preceito fundamental carece de ter uma visão ampla,
em outros termos: compreendendo que atua tanto como direito negativo ou, positivo
aduzindo como exemplo a garantia do indivíduo expressar sua crença ou não crença.
No que toca à laicidade estatal no texto do artigo 19, inciso I, veda a União,
Estados, Municípios e Distrito Federal estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
embarcara-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações
de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público. O caput desse artigo já reafirma o princípio da laicidade estatal de que não
temos uma religião oficial. Mas podendo o Estado promover alianças ou relações com

13 SARLET, Ingo Wolfgang. Notas acerca da liberdade religiosa na Constituição Federal de


1988, p. 10. Disponível em: http://oaji.net/articles/2016/3528-1469497017.pdf. Acesso em: 24 ago.
2021.
15

cultos religiosos ou igrejas, desde que possuam interesse público e beneficie a


coletividade estatal.
José Joaquim Gomes Canotilho traz a luz o direito pela liberdade religiosa como
direito fundamental:

A quebra da unidade religiosa da cristandade deu origem à aparição de


minorias religiosas que defendiam o direito de cada um à verdadeira fé. Esta
defesa de liberdade religiosa postulava, pelo menos, a ideia de tolerância
religiosa e a proibição do Estado em impor ao foro íntimo do crente uma
religião oficial. Por este facto, alguns autores, como G. JELLINEK, vão
mesmo ao ponto de ver uma luta pela liberdade de religião a verdadeira
origem dos direitos fundamentais. Parece, porém, que se tratava mais da
ideia de tolerância religiosa para credos diferentes do que propriamente da
concepção da liberdade de religião e crença, como direito inalienável do
homem, tal como veio a ser proclamado nos modernos documentos
constitucionais.14

2.2 Princípio da laicidade e a liberdade religiosa

Antes da proclamação da República não havia que se falar em Liberdade


Religiosa, somente no ano de 1890 por intermédio do Decreto n° 119-A15 outorgado
no governo do Marechal Deodoro da Fonseca, esse decreto proibiu a intervenção da
autoridade federal e dos Estados federados em matéria religiosa, afamando a plena
liberdade de cultos e estabelecendo outras providências. Em seu texto no artigo
primeiro, veda de se tratar de modo diferenciado indivíduos por intermédio de sua
crença religiosa, tal como opiniões filosóficas ou religiosas. Abrangendo igrejas,
associações e institutos além de outros agremiados.

É proibido à autoridade federal, assim como a dos Estados federados, expedir


leis, regulamentos, ou atos administrativos, estabelecendo alguma religião,
ou vedando-a, e criar diferenças entre os habitantes do país, ou nos serviços
sustentados à custa do orçamento, por motivo de crenças, ou opiniões
filosóficas ou religiosas.

O termo laico aduz etimologicamente do grego LAOS ou LAÏKÓS, no qual tem


o significado de povo ou gente do povo.

14 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito à liberdade religiosa no Brasil à luz das decisões
do Poder Judiciário pátrio: Análise e reflexão, p. 01. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/7/A055EAF897F3DA_DireitoaliberdadereligiosanoBr.p
df. Acesso em: 24 ago. 2021.
15 BRASIL. Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d119-a.htm. Acesso em: 24 ago. 2021.
16

A laicidade é expressão político-institucional do processo de secularização


(das instituições estatais, de ser ordenamento, de suas políticas, etc. Que
acaba moldando-se formalmente mediante normas princípios e valores
jurídicos.16

Francisco Tomazoli da Fonseca salienta:

A dignidade da pessoa humana, uma vez que respeitada a convicção interior,


fé de cada um, é pertinente somente ao homem, o direito de intimidade, como
fator pessoal e próprio do homem, o direito de liberdade como exposto, o
direito de solidariedade, haja vista que esta induz o respeito e apoio ao outro,
ao princípio da igualdade pois o Estado laico, não confessional é tolerante,
via de consequência, é inclusivo, acolhe a todos sob o pálio da liberdade de
crer ou não crer em que quiser e assim permanecer em paz com o público e
o privado, como verdadeiros cidadãos republicanos, independente da fé
religiosa de cada um.17

E Weingartner acrescenta, dizendo que há liberdade se tratando de ter ou não


uma crença, o fato de mudar ou abandonar, entendendo assim que o indivíduo tem o
poder pessoal e a consciência de viver do modo de seus saberes e concepções. O
estado laico não deve tomar posição religiosa ou garantir a todos de que sua fé seja
regra. Canotilho (2007, p. 613) “Impõe que o estado se mantenha neutro em relação
as diferentes concepções religiosas presentes na sociedade, sendo-lhe vedado tomar
partido em questão de fé, bem como buscar o favorecimento ou o embaraço de
qualquer crença”. A laicidade deve ser resguardada como uma garantia de liberdade
religiosa, bem como, direito fundamental.

16 SOUZA, Mailson Fernandes Cabral de. Laicidade e liberdade religiosa no Brasil: situando a
discussão entre religião e política. P. 81. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/P.1983-
2478.2017v12n21p77/12062. Acesso em: 25 ago. 2021.
17 ZORZENON, Carla Albuquerque. Esvaecimento do estado laico: o estado laico e sua
implicação na atualidade. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/esvaecimento-do-estado-laico-o-estado-laico-e-sua-implicacao-na-atualidade/.
Acesso em: 25 ago. 2021.
17

3 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA VERSUS RACISMO RELIGIOSO

Antes de discorrer a respeito da intolerância religiosa18, todavia, alude segundo


o dicionário Michaelis. Diz “intransigência contra pessoas que tem opiniões, atitudes,
ideologia, crenças religiosas etc. diferentes da maioria”.
Sidnei Nogueira aduz em seu livro – intolerância religiosa19, que tal expressão
tem sido utilizada para descrever um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a
crenças, rituais e práticas religiosas consideradas não hegemônicas. Praticas essas
que, somadas a falta de habilidade ou à vontade em reconhecer e respeitar diferentes
crenças de terceiros (NOGUEIRA, 2020, p. 39).
Racismo religioso, como o próprio nome diz “racismo” fato ou ato hostil em
relação a certas categorias de indivíduos; preconceito exagerado contra pessoas
pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente considerada inferior. Logo, uma
atitude hostil em face de um grupo ou templos, mas não para por aí, é uma espécie
de crime de ódio que deve ser combatida com todo rigor, pois muitas das vezes, os
racistas religiosos não somente agridem com discursos de ódio, mas com condutas e
ações de afetiva violência em face desses grupos e templos, mais especificadamente
de matriz africana.

3.1 Racismo religioso: Intolerância religiosa tocante as religiões de matriz


africana

É sabido que ao longo da história as religiões de matriz africana é uma das que
mais sofrem intolerância e racismo religioso. Ao longo do tempo por grande influência
da igreja católica, pentecostal, neopentecostal e a imprensa. Num trecho do livro de
Vagner Gonçalves da Silva20 aborda que antes a intolerância era apenas episódios

18 MICHAELIS, Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos. Disponível


em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/intoler%C3%A2ncia/. Acesso em: 25 ago. 2021.
19 NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. (Feminismo Plurais/ coordenação de Djamila Ribeiro).
São Paulo: Sueli Carneiro, p. 39, 2020. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=FyThDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT13&dq=intoler%C3%A2ncia+religiosa+analise+sidnei
+nogueira&ots=oGcggE8B36&sig=PVPz5Uhsgvwc_rq08rVl_GN_RPo#v=onepage&q&f=false.
Acesso em: 10 set. 2021.
20 SILVA, Vagner Gonçalves. Intolerância religiosa: Impactos do neopentecostalismo no campo
religioso afro-brasileiro. Disponível em:
https://www.google.com.br/books/edition/Intoler%C3%A2ncia_religiosa/uKew3ynPFS8C?hl=pt-
BR&gbpv=0. Acesso em: 10 set. 2021.
18

cometidos sem a devido impacto, entretanto, esses atos saíram da esfera cotidiana
menos visíveis e foram ganhar notoriedade pública. Em 2011, o Governo Federal criou
o Disque 100 que tem a função de receber e encaminhar as diligencias de violações
dos Direitos Humanos. Anunciada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH) o balanço referente as denúncias de discriminação religiosa
mostram 506 casos registrados pelo Disque 100 no ano de 2018. Os mais atingidos
são umbanda (72), candomblé (47), testemunha de jeová (31), matrizes africanas (28)
e alguns segmentos evangélicos (23)21. O Brasil registra cerca de uma denúncia por
intolerância religiosa a cada 15 horas.
Vagner da Silva22 relata várias situações de violência neopentecostal contra as
religiões afro-brasileiras, retiradas tanto da imprensa quanto da literatura acadêmica,
e são classificadas em 5 tipos diferentes de ataques:

Ataques feitos no âmbito dos cultos das igrejas neopentecostais e em seus


meios de divulgação e proselitismo; 2) agressões físicas in loco contra
terreiros e seus membros; 3) ataques às cerimônias religiosas afro-brasileiras
realizadas em locais públicos ou aos símbolos dessas religiões existentes em
tais espaços; 4) ataques a outros símbolos da herança africana no Brasil que
tenham alguma relação com as religiões afro-brasileiras; 5) ataques
decorrentes das alianças entre igrejas e políticos evangélicos.

Foi promulgada a lei federal n° 11.635/2007 que marca o dia nacional do


combate contra a intolerância religiosa, de 27 de dezembro de 2007. Lei essa que é
em homenagem a fundadora do terreiro Ilê Asé Abassá - Yalorixá Gildásia dos Santos
e Santos, no qual teve seu terreiro invadido por um grupo de outra religião, e foi
acusada de charlatanismo. Em seguida teve uma matéria publica em um jornal com
sua foto e com a seguinte manchete “Macumbeiros e Charlatões lesam o bolso e a
vida dos clientes”. Assim sendo, ela e seu marido perseguidos, logo depois do
episódio Mãe Gilda sofreu um infarto e veio a óbito.23

21 MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Balanço anual: Disque


100 registra mais de 500 casos de discriminação religiosa. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/junho/balanco-anual-disque-100-registra-
mais-de-500-casos-de-discriminacao-religiosa. Acesso em: 15 set. 2021.
22 SILVA, Vagner Gonçalves. Intolerância religiosa: Impactos do neopentecostalismo no campo
religioso afro-brasileiro. Disponível em:
file:///C:/Users/Tain%C3%A1/Desktop/A%20discrimina%C3%A7%C3%A3o%20contra%20as%20r
eligi%C3%B5es%20afro-brasileiras_%20ontem%20e%20hoje.pdf. Acesso em: 15 set. 2021
23 ACHIUME, Tendayi E. Relatoria racismo ONU: Ofício n° 386/2020-P. Câmara dos deputados
comissão de direitos humanos e minorias. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/onu-matriz-africana. Acesso em: 15
set. 2021.
19

O livro presença do axé: mapeando terreiros no Rio de Janeiro, organizado


pelas pesquisadoras Denise Pini Rosalem da Fonseca e Sonia Maria Giacomini,
elucida o problema enfrentado pelas comunidades tradicionais de terreiro.

Dos 840 terreiros pesquisados, cerca de 430 ou 51% já passaram por alguma
forma de agressão, números esses, estudados no Rio de Janeiro. Ou seja,
430 casas sofreram “discriminação religiosa”, salienta-se que os locais de
agressões – públicos (57%), rua (67%) – tipos de agressões – verbal (39%),
vizinhos (27%) e os tipos de alvo – a pessoa (60%) e a casa (29%).

Mostra que as pessoas da religião evangélica ocupam o topo da pesquisa entre


agressor e discriminadores, exibindo que não somente os ataques aos seguidores das
religiões afro-brasileiras são restringidos aos templos, e sim, cotidianamente. E
expressiva parcela da intolerância religiosa que sofrem acontecem em religiões
próximas a templos de igrejas neopentecostais.24
Com base na Resolução N° 230, de 8 de junho de 2021, do Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP), faz a seguinte alusão se referindo para a defesa dos
direitos dos povos e comunidades tradicionais.

Considerando, nesse sentido, que já possuem assento no Conselho Nacional


dos Povos e Comunidades Tradicionais diversos grupos, tais como povos
indígenas, comunidades quilombolas, povos e comunidades de
terreiro/povos e comunidades de matriz africana, povos ciganos, pescadores
artesanais, extrativistas, extrativistas costeiros e marinhos, caiçaras,
faxinalenses, benzedeiros, ilhéus, raizeiros, geraizeiros, caatingueiros,
vazanteiros, veredeiros, apanhadores de flores sempre vivas, pantaneiros,
morroquianos, povo pomerano, catadores de mangaba, quebradeiras de
coco babaçu, retireiros do Araguaia, comunidades de fundos e fechos de
pasto, ribeirinhos, cipozeiros, andirobeiros e caboclos (art. 4º, § 2º, do
Decreto nº 8.750/2016).25

Isto é, esse ato serve para orientação mediante os Ministérios Públicos,


contudo, instrumento de luta em favor das comunidades. Ao designar princípios e
diretrizes no desempenho, sinalizando sua devida importância.

A Resolução CNMP nº 230/2021 absorve essa perspectiva ao destacar, como


considerando, a importância do diálogo intercultural, o qual pressupõe “o
respeito e o reconhecimento jurídico de cosmovisões, práticas e identidades,
sem essencialismos ou predefinição, por terceiros ou pelo Estado, do projeto
de vida a ser seguido por indivíduos ou grupos”. Em outras palavras, a

24 NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. (Feminismo Plurais/ coordenação de Djamila Ribeiro).


São Paulo: Sueli Carneiro, p. 69, 2020.
25 BRASIL. Resolução n° 230, de 8 de junho de 2021. Conselho Nacional do Ministério Público.
Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/2021/Resoluo-n-230-2021.pdf.
Acesso em: 15 set. 2021.
20

resolução já indica que a atuação do Ministério Público deve afastar-se de


pré-compreensões que imponham um modo de vida sobre outros e estar
sempre atenta e pronta ao diálogo.26

3.1.1 Proteção internacional da liberdade religiosa

Ao modo com o que fomos pesquisando chegamos ao ponto de que a criação


de instituições supranacionais no qual foram firmados compromissos internacionais
que tinha a finalidade de promover a proteção e promoção de direitos humanos
fundamentais em diferentes Estados, assim sendo, foi criado uma rede global para a
defesa da liberdade religiosa. Segundo a Carta das Nações Unidas de 1945, a palavra
religião foi trazida para a discussão e citada em documento próprio da ONU.
Adotada pela Assembleia geral da União a DUDH, resolução 217 III de 10 de
dezembro de 1948, evidência o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade e justiça no mundo.
O artigo 18° da Declaração Universal dos Direitos Humanos aborda o seguinte:

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de


religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção,
assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em
comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo
culto e pelos ritos.27

Aduz sobre liberdade religiosa, de pensamento, expressão, liberdade individual


e coletiva, apesar de não ser impositiva. Que além de manifestar a sua religião ou
convicção, tanto sozinho ou em coletividade por meio do ensino, prática, entre outras.
Há outros artigos nessa declaração que aborda essa temática, assim como, o artigo
segundo (2°)28 que trata sobre a capacidade e que todo indivíduo tem a capacidade
de exercer tais liberdades sem qualquer distinção, como raça, sexo e religião como
uma das espécies.

26 JUNIOR, Julio José Araújo. ZOLLINGER, Marcia Brandão. A resolução n° 230/2021 do CNMP e
a defesa dos povos tradicionais. Disponível em:
https://www.anpr.org.br/imprensa/artigos/25339-a-resolucao-n-230-2021-do-cnmp-e-a-defesa-dos-
povos-tradicionais.. Acesso em: 15 set. 2021.
27 MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Artigo 18°: Toda pessoa
tem direito a liberdade de religião, consciência e pensamento. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/novembro/artigo-18deg-toda-pessoa-tem-
direito-a-liberdade-de-religiao-consciencia-e-pensamento. Acesso em: 19 set. 2021.
28 UNICEF. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 19 set. 2021.
21

A Declaração de direitos do Homem e do Cidadão de 1789, visava os direitos


naturais imprescritíveis, como a propriedade, liberdade, segurança. O período de 1789
até 1799 foi com uma certa variação de textos constitucionais, tendo sido elaborado
durante a Revolução francesa no qual o artigo 10° dizia que ninguém poderia ser
molestado ou contundido por suas opiniões, dentre elas religiosa.

Art. 10.º - Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública
estabelecida pela lei.29

A seguinte declaração pretendia separar o Estado da Igreja, seja separação


absoluta vendo a liberdade religiosa como algo estritamente individual e com
igualdade das religiões, ou, separação relativa que visa a liberdade religiosa, porem
reconhece que há um certo privilegio mediante religiões em face de outras. Nesse
novo ambiente jurídico-constitucional o ambiente de autonomia entre esfera política e
religiosa não obteve desconhecimento da realidade cultural religiosa e social e nem
afastou manifestações religiosas do espaço privado.
Tais declarações mostram maneiras distintas. Com base na Declaração
Universal dos Direitos Humanos trata a religião com uma visão da coletividade e
afirmativa, enquanto a declaração francesa, Dos Direitos do Homem e do Cidadão30
apresenta como um direito individual, sem reconhecimento estatal.
Ao decorrer do século XX foram criados institutos voltados para defender as
liberdades em todo o mundo sendo uma das vertentes a religiosa, como o pacto
internacional dos direitos civis e políticos de 1966 e, declaração sobre a eliminação
de todas as formas de intolerância e discriminação baseadas na religião ou
convicções. O pacto assumindo o compromisso de respeitar e garantir a todos os
indivíduos que se achem no seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição
direitos reconhecidos, sem discriminação por motivo de raça, cor, religião 31 entre
outros. Assim sendo o artigo 18 do respectivo pacto refere-se sobre:

29 AMBASSADE DE FRANCE AU BRÉSIL. A declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.


Disponível em: https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao.
Acesso em: 19 set. 2021.
30 PERLINGEIRO, Ricardo (org.). Liberdade Religiosa e Direitos Humanos. Disponível em:
https://emarf.trf2.jus.br/documentos/livroliberdadereligiosa2019.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.
31 MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/atuacao-internacional/relatorios-internacionais-1/pacto-internacional-sobre-direitos-civis-e-
politicos. Acesso em: 19 set. 2021.
22

Toda pessoa terá direito a liberdade de pensamento, de consciência e de


religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou
uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença,
individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do
culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino.
Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir
sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha.
A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas
às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a
segurança, a ordem, a saúde ou a moral pública ou os direitos e as liberdades
das demais pessoas.32

Menciona que atualmente esse preconceito está voltado as religiões de


matriz africana de forma velada, aos evangélicos e outros adeptos que são alvos
mediantes suas posturas perante a sociedade33.
A Declaração de 1981 faz menção a liberdade de religião ou convicção
no tocante deverão contribuírem para promoverem a paz mundial, justiça social
e amizade entre os povos eliminando ideologias ou práticas do colonialismo e
discriminação racial. Ao decorrer dela podemos notar que cita bastante sobre o
direito à liberdade de religião ou convicção, seja ela em grupo ou
individualmente, e, menciona que todos os Estados deverão tomar atitudes
combativas referindo-se aos atos de intolerância e discriminação na modalidade
religiosa adotando medidas adequadas para combatê-los.

Artigo 3.º
A discriminação entre seres humanos por motivo de religião ou convicção
constitui um atentado à dignidade humana e uma negação dos princípios da
Carta das Nações Unidas, e deverá ser condenada enquanto violação dos
direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e enunciados em detalhe nos Pactos
Internacionais sobre Direitos Humanos, e enquanto obstáculo às relações
amistosas e pacíficas entre nações.34

32 BRASIL. Decreto n° 592, de 6 de junho de 1992. Atos internacionais, Pacto Internacional sobre
direitos civis e políticos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/d0592.htm. Acesso em: 19 set. 2021.
33 BRASIL. III Relatório ao pacto internacional sobre direitos civis e políticos. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/atuacao-internacional/relatorios-internacionais-
1/IIIRelatriodoEstadobrasileiroaoPactodeDireitosCivisePolticos.pdf. Acesso em: 19 set. 2021
34 MINISTÉRIO PÚBLICO PORTUGAL. Declaração sobre a eliminação de todas as formas de
intolerância e discriminação baseadas na religião ou convicção. Proclamada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas na sua resolução 36/35, de 25 de novembro de 1981. Disponível em:
https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/declaracao_sobre_a_eliminacao_de_todas_as_f
ormas_de_intolerancia_e_discriminacao_baseadas_na_religiao_ou_conviccao.pdf . Acesso em:
19 set. 2021.
23

4 PROTEÇÃO PENAL ÀS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA

Em 5 de janeiro de 1989, 1 ano após a nossa Constituição Federal foi decretada


a Lei Caó assinada pelo Presidente José Sarney. O nome dessa lei foi em
homenagem a um ex-deputado – Carlos Alberto Caó, dentre suas funções ele foi
militante do movimento negro35, no ano de 1982 elegeu-se deputado federal e como
constituinte regulamentou um trecho da CF no qual tornou racismo crime inafiançável
e imprescritível.

Art. 5°- XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,


sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.36

Essa lei explana acerca do racismo nas suas amplas camadas e


manifestações, assim sendo, abrange também a esfera religiosa. Lei n° 7716/8937 no
seu artigo 1° trata a respeito dos crimes resultantes da discriminação ou preconceito,
seja ele por raça, cor, religião, entre outros. E mais para baixo no artigo 20 declara
também que, os verbos: praticar; induzir ou incitar a discriminação ou preconceito por
conta da raça, cor, religião, etnia, procedência nacional, entre outros, incorrerá em
reclusão de 1 a 3 anos e multa38, uns anos mais para frente com a lei 9.459/1997
altera os arts. 1° e 20 da lei anterior. Toda via, as vítimas de discriminação
encontraram-se respaldo nessa lei.

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de


discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou
gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio
dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

35 ANADEP. DF: 30 anos da lei que criminalizou o racismo. Disponível em:


https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=39654. Acesso em: 26 set. 2021.
36 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 set. 2021.
37 BRASIL. Lei n° 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm. Acesso em: 26 set. 2021.
38 BRASIL. Lei n° 9.459, de 13 de maio de 1997. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9459.htm#art1. Acesso em: 26 set. 2021.
24

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.


§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o
Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob
pena de desobediência:
I - O recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do
material respectivo;
II - A cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em
julgado da decisão, a destruição do material apreendido.

Encontramos proteção no artigo 140°, §3°, do Código Penal alegando que


quem cometer o crime de injúria segundos os elementos de cor, raça, etnia, religião
ou outrem terá pena de reclusão de 3 anos e multa. Sendo injúria o ato de ofender
alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro.39
Por conseguinte, disposta na lei 12288/2010 o Estatuto da Igualdade Racial,
dispõe no capítulo III a respeito do direito à liberdade de consciência, crença entre
outros. Nos artigos 23 e 24 tratam-se sobre a inviolabilidade do direito de crença e
nos assegura o livre exercício dos cultos religiosos, apesar disso, dentro dos seus 65
artigos abrange uma extensa proteção em face à saúde, educação, cultura, esporte e
lazer40 etc.

Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei,
a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício
dos cultos religiosos de matriz africana compreende:
I - A prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade
e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados
para tais fins;
II - A celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das
respectivas religiões;
III - A fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições
beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;
IV - A produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais
religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva
religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica;
V - A produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à
difusão das religiões de matriz africana;
VI - A coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de
natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das
respectivas religiões;
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das
respectivas religiões;
VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em
face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de
comunicação e em quaisquer outros locais.

39 BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 26 set. 2021.
40 BRASIL. Lei n° 12.288, de julho de 2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 11 out 2021.
25

O Estatuto da Igualdade Racial foi destinado para criar ações nas quais
pudessem sanar ou diminuir as desigualdades no País, assim, garantindo a essa
parcela da população a efetivação da igualdade de oportunidades, a garantia de
direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e outras
formas de intolerância étnico-raciais. Essa lei ampara não somente a população não
branca, mas também ribeirinhos, ciganos, extrativistas somando em conjunto cerca
de 2,4 milhões de pessoas em todo o País e aproximadamente 638,9 famílias
brasileiras. A SEPPIR – Secretaria Nacional de Políticas de Promoção a Igualdade
Racial vem trabalhando de modo efetivo nas diversas formas de intolerância e
discriminação étnico-racial. Criada no de 2003 a SEPPIR completa 11 anos, celebrada
no Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial – 21 de março – o
Instituto instituiu o sistema SINAPIR – Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
Racial41, como uma forma de articulação federativa voltada para a elaboração do
conjunto de políticas e serviços voltados para suplantar as desigualdades étnico-
raciais.
Apesar disso, a criação de institutos públicos voltados para a proteção da
população negra e de seus valores culturais não são suficientes para coibir a prática
de atos de intolerância religiosa.
Na metade do ano passado, uma mãe42 perdeu a guarda de sua filha
adolescente pelo fato de ter sido denunciada por sua avó materna, por maus tratos e
abusos sexuais no terreiro, quando na verdade estava no meio de uma prática
ritualística de iniciação ao candomblé. Em depoimento colhido, a jovem43 nega que
teria sofrido tais atos, e disse que estava de acordo com tudo o que tinha sido feito
até o presente momento. Foram feitos exames de corpo de delito e não tinha sinais
de lesões corporais. Após 17 dias, o referido juiz alegou que no tocante nada

41 MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Guia de orientação para a criação e implementação


de Órgãos, Conselhos e Planos de Promoção da Igualdade Racial. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-
conteudo/consultorias/seppir/Guia_de_criacao_de_orgaso__cosnelhos_e_planos_de_promocao_d
a_igualdade_racial.pdf. Acesso em: 11 out. 2021.
42 MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Guia de orientação para a criação e implementação
de Órgãos, Conselhos e Planos de Promoção da Igualdade Racial. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-
conteudo/consultorias/seppir/Guia_de_criacao_de_orgaso__cosnelhos_e_planos_de_promocao_d
a_igualdade_racial.pdf. Acesso em: 11 out. 2021.
43 JUSBRASIL. Processo n° 1000053-03.2020.8.26.0603. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/processos/297036370/processo-n-1000053-0320208260603-do-tjsp.
Acesso em: 11 out. 2021.
26

levantado configura maus tratos. Porém, foi tão somente um de muitos outros casos,
critica essa, em face de dispositivos coercitivos que deveriam proteger e inibir a
realização de intolerância religiosa, que na prática não proporcionam nenhuma
medida ou mudança.
Ademais, temos ressalvado no Código Penal artigo 208, da lei 2848/1940 traz
o respectivo conteúdo de que escarnecer alguém publicamente pelo simples fato de
sua crença religiosa; impedir ou perturbar cerimonia ou prática religiosa; vilipendiar
publicamente ato ou objeto de culto religioso – pena: detenção de um mês a ano, ou
multa44. Crime de menor potencial ofensivo, quer dizer, ainda que esteja a majorante
1/3 a pena máxima45 não será superior a dois anos.
Destarte que a pena é de detenção quer dizer, não admite início cumprir regime
fechado pois é aplicada para condenações de natureza mais leve. Com tal
característica de ser cabível suspensão condicional ao processo no caput e do
parágrafo primeiro segundo consta o art. 89 da lei 9.099/9546, possivelmente podendo
ser substituída por pena pecuniária de multa.

Art. 20847 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou


função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso;
vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um
terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

Sidnei Nogueira autor citado acima, em uma de suas entrevistas48 elucida no


tocante as dificuldades de tipificar o racismo religioso e assim identificar crimes de
perseguição religiosa. Quer dizer, a falta de amparo legal soma-se com a escassez
de conhecimento, em que poderiam estereótipos e imagens negativas frente as

44 BRASIL. Artigo 208 do Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612290/artigo-208-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-
dezembro-de-1940. Acesso em: 11 out. 2021.
45 BRASIL. Artigo 61 da Lei n° 9.099, de 20 de maio de 1993. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11306180/artigo-61-da-lei-n-9099-de-20-de-maio-de-1993.
Acesso em: 11 out. 2021.
46 BRASIL. Artigo 89 da Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11304243/artigo-89-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-
1995. Acesso em: 22 out. 2021.
47 BRASIL. Artigo 208 do Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612290/artigo-208-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-
dezembro-de-1940/artigos. Acesso em: 22 out. 2021.
48 JORNAL DA USP. Falta de conhecimento sobre outras culturas agrava intolerância religiosa
no Brasil. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/falta-de-conhecimento-sobre-outras-
culturas-agrava-intolerancia-religiosa-no-brasil/. Acesso em: 26 out. 2021
27

religiões. Chegando ao final, tem a conclusão de que a falta de conhecimento sobre


outros grupos religiosos é uma das causas.

4.1 Assistência religiosa prisional ante religiões de matriz africana

O direito de liberdade e assistência de crença é uma garantia constitucional,


como está descrito na nossa Carta Magna art. 5°, sendo inviolável a liberdade de
crença. Sendo reconhecida os impactos da religião na ressocialização ao detento.
Como relata o escritor Edmundo Oliveira.49

[…] se o sujeito vai para a prisão e lá se depara com um aparelho destruidor


de sua personalidade, como poderá de lá sair sem rusgas na alma?” Como
desfazer essas tendências em condições de vencer? Como poderá fluir a
sensação de que será útil na sociedade no amanhã?” Para responder tais
perguntas é importante investir nas três áreas: Educação, Trabalho e
Religião.

A religiosidade traz benefícios psíquicos e sociais para os presos e contribuírem


para tranquilidade e a reabilitação aos detentos. Sendo ela uma das maneiras
fundamentais para o ser humano, trazendo suporte, discernimento, direcionamento
entre a vida e a sociedade.
Com base na Lei de Execução Penal Federal (LEP) – n° 7210/84 no art. 2450
assegura que, a assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos
presos e aos internados, permitindo-lhes a participação nos serviços organizados no
estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. E no
parágrafo primeiro diz que terão um espaço próprio para a realização desses cultos e
no parágrafo segundo que nenhum dos presos ou internados serão obrigados a
participarem dessas atividades específicas. Assim como o art. 40 referente aos
direitos dos presos no meio de tantas proteções no inciso VII menciona de que são a
assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Contudo não é
isso que vem acontecendo na prática, mediante religiões afro brasileira, segundo o

49 FREITAS, Marleide Marlene de. Religião nos presídios: Contribuição na transformação da


conduta do detento. Revista Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Disponível em:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/religiao-nos-presidios#A-RELIGIAO-
COMO-PROCESSO-DE-RESSOCIALIZACAO. Acesso em: 27 out. 2021.
50 BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 27 out. 2021.
28

bàbá Dida de Yemoja51 relata de que esse grupo sofre com mais essa barreira
restritiva, que quando autorizam a entrada, são constrangidos pelos agentes por conta
de suas vestimentas ou objetos sagrados.

Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos
presos e aos internados, permitindo-se lhes a participação nos serviços
organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de
instrução religiosa.
§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade
religiosa.

Tendo disposto lei federal n° 9982/200052 é assegurado a assistência religiosa


prisional o acesso de todas as confissões, tanto aos hospitais de rede pública ou
privada, bem como aos estabelecimentos prisionais civis ou militares de internação
coletiva.

Art. 1o Aos religiosos de todas as confissões assegura-se o acesso aos


hospitais da rede pública ou privada, bem como aos estabelecimentos
prisionais civis ou militares, para dar atendimento religioso aos internados,
desde que em comum acordo com estes, ou com seus familiares no caso de
doentes que já não mais estejam no gozo de suas faculdades mentais.
Art. 2o Os religiosos chamados a prestar assistência nas entidades definidas
no art. 1o deverão, em suas atividades, acatar as determinações legais e
normas internas de cada instituição hospitalar ou penal, a fim de não pôr em
risco as condições do paciente ou a segurança do ambiente hospitalar ou
prisional.

Segundo estudos53, no início eram dadas preferências para pessoas da religião


católica, e, atualmente dá um enfoque também aos evangélicos, dentro das suas
vertentes, se dividindo nesses dois grandes grupos. As pessoas de religiões de matriz
africana e kardecista, notam uma grande dificuldade, aduzindo um certo estigma em
relação aos detentos praticantes dessas religiões aos fundamentalistas cristãos. No
que diz respeito aos espíritas, não há dentro dos presídios pois eles não têm a prática
de capelania nas atividades religiosas, assim sendo, quando conseguem adentrar é

51 COSTA, Kariane. Consulta pública vai discutir presença de religiosos em presídios.


Coordenadora da Pastoral Carcerária vê com preocupação iniciativa. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/direitos-humanos/audio/2021-06/consulta-
publica-vai-discutir-presenca-de-religiosos-em-presidios. Acesso em: 27 out. 2021.
52 BRASIL. Lei n° 9.982, de 14 de julho de 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9982.htm. Acesso em: 28 out. 2021.
53 GARUTTI, Sérgio. OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. A Assistência Religiosa prisional pelo
estado do conhecimento. Revista de Estudos da Religião (REVER), v. 18, n. 3, p. 187-215,
2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6838854. Acesso em: 28
out. 2021.
29

como ação voluntária individual, nunca em grupos. Já em relação aos cultos afro há
uma ausência, tanto pelo fato do preconceito religioso, além da hegemonia
pentecostal e neopentecostal.
Isso pode ser tanto pelo fato do racismo e preconceito histórico e estrutural
enraizado na nossa sociedade desde os primórdios, até quanto pelas características
ritualísticas, por causa de vestimentas especificas, a utilização de instrumentos de
percussão e pela dificuldade de se caracterizar como uma instituição religiosa formal,
que atende os requisitos exigidos para o credenciamento consoante aos presídios.
Rita Segato54 complementa dizendo que a invisibilidade das escolhas afro-brasileiras
dentro dos presídios seria por causa as características, quer dizer, atingem pessoas
para o conhecimento mitológico juntamente com seu vocábulo, fazendo com o que
algumas dessas pessoas se conformem com o seu rumo. De contraponto, as religiões
que em sua visão é intitulada como de superioridade moral, entram em presídios e
monopolizam os discursos chegando à finalidade de uma redenção.
Flávia Pinto líder de um terreiro: Casa do Perdão, fala sobre as dificuldades
encontrada por ela para adentrar nesse âmbito55, no aspecto financeiro, pois essas
religiões não tem um órgão gestor e com isso, falta recursos para financiar as visitas
aos presídios, mas também a respeito de um trabalho que vem fazendo desde 2003
dentro dos presídios. Contudo, não foi tão simples sua entrada, tendo em vista que o
DESIPE colocou empecilhos, só a autorizando quando o caso foi para a mídia, e em
contrapartida a proibiu de utilizar atabaques e adjá, aduzindo de que tais objetos
poderiam ser nocivos. Criou projeto voltado para o egresso em relação aos apenados.
Falando sobre os direitos humanos, movimento negro entre outros.
Na resolução N° 8/201156 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) no art. 7° explana os deveres das organizações que prestam
assistência religiosa.

54 ISER. Religiões e Prisões. Disponível em: https://www.iser.org.br/wp-


content/uploads/2020/07/Comunicacoes_ISER_n61.pdf. Acesso em: 28 out. 2021.
55 MARQUES, Juliana Elisa de Jesus. GONÇALVES, José Artur Teixeira. A Estigmatização das
religiões afro-brasileiras: dentro e fora dos presídios. ETIC-Encontro de Iniciação Científica, v. 9,
n. 9, 2013. Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/view/3565. Acesso em: 29 out.
2021.
56 DEPEN. Conselho Nacional de política Criminal e Penitenciária. Resolução n° 8, de 9 de
novembro de 2011. Disponível em:
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/resolucoes/2011/resolucaono8de09denovembrode
2011.pdf. Acesso em: 30 out 2021.
30

Art. 7° São deveres das organizações que prestam assistência religiosa, bem
como de seus representantes:
I - Agir de forma cooperativa com as demais denominações religiosas;
II - Informar-se e cumprir os procedimentos normativos editados pelo
estabelecimento prisional;
III - Comunicar a administração do estabelecimento prisional sobre eventual
impossibilidade de realização de atividade religiosa prevista;
IV - Comunicar a administração do estabelecimento prisional sobre propostas
de ampliação dos trabalhos de assistência humanitária, como oficinas de
trabalho, escolarização e atividades culturais, bem como atuar de maneira
cooperativa com os programas já existentes.
31

5 INEFICÁCIA PENAL PARA A PROTEÇÃO EM FACE AS RELIGIÕES DE MATRIZ


AFRICANA

Muito embora a Carta Magna esteja descrita e assegurada por meio a cláusula
pétrea, sabemos e há indícios de que a intolerância religiosa é um mal assolado
principalmente no Brasil, o fato de demonizar religiões ou práticas não hegemônicas,
sendo aplicadas atos que ferem a dignidade da pessoa humana e a liberdade. Em sua
obra, Nilo Batista57 difere sistema penal e direito penal segundo ele, direito penal é um
conjunto de normas jurídicas, responsáveis pela previsão, aplicação e a execução
destas sanções.
Sistema penal diz respeito a uma concepção mais abrangente. Zaffaroni58
compreende como “controle social punitivo institucionalizado”, assim dizendo, alude a
procedimentos utilizados com frequência mesmo que sejam ilegais. Permitindo que
inclua no conceito de sistema penal casos de ilegalidade imposta como uma forma de
prática rotineira.
Esse sistema englobaria então, os presidiários, agentes policiais, judiciais.
Tendo como objetivo a proteção e garantia da ordem judicial justa, mas esses
conceitos são na teoria, porque na pratica o sistema penal traz outros aspectos.
Tendo em vista, que citar o sistema penal e tratar sobre suas teorias seria algo
muito delicado, pois pode deixar a impressão de que ele tem por escopo objetificações
teóricas, não alcançando a prática. O que é algo equivocado.
Fruímos o direito de expressão e com ele o fato de criticarmos religiões,
dogmas entre outras coisas, apesar disso, a prática agressiva, hostil, ataques em face
de grupo, individuo ou local em razão de sua crença, religião, é crime estando
tipificado no Código Penal e em outros documentos solene.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

57 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. P.24. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
58 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. P.25. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
32

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à


propriedade, nos termos seguintes:
IX 59- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença.

No Código Civil, art. 927 aduz que haverá a obrigação de reparar danos,
independente de culpa, aquele que causar dano a outrem, por ato ilícito.60

5.1 Eficácia invertida do sistema penal brasileiro

Alessandro Baratta reflete a respeito dos problemas dentro do sistema penal,


assim sendo, o senso de justiça e igualdade são falhos, inexistindo criação de uma
outra alternativa, e em contrapeso trazendo mesmo que involuntariamente a
desigualdade, violações em diversas formas, mas a principal sendo de direitos.

O sistema punitivo produz mais problemas do que pretende resolver. No lugar


de compor conflitos, reprime-os e, amiúde, esses adquirem um caráter mais
grave do que o seu próprio contexto originário; ou também por efeito da
intervenção penal podem surgir conflitos novos no mesmo ou em outros
contextos. por sua estrutura organizativa e pelo modo em que funciona, é
absolutamente inadequado para desenvolver as funções socialmente úteis
declaradas em seu discurso oficial, funções que são centrais à ideologia da
defesa social e às teorias utilitárias da pena. O sistema punitivo, por sua
estrutura organizativa e pelo modo em que funciona, é absolutamente
inadequado para desenvolver as funções socialmente úteis declaradas em
seu discurso oficial, funções que são centrais à ideologia da defesa social e
às teorias utilitárias da pena.61

Em outro trecho do texto publicado na revista “doutrina penal” menciona a


questão da economia política da pena, que se manifesta em uma violência do sistema
social, uma violência estrutural vinda dos detentores de poder.

Em uma economia política da pena, o sistema punitivo se apresenta, pois,


como violência inútil, senão como violência útil, do ponto de vista da
autorreprodução do sistema social existente e, portanto, do interesse dos
detentores do poder, para a manutenção das relações de produção e de
distribuição desigual dos recursos. Em consequência, o sistema punitivo

59 BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 5 de


outubro de 1988. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730738/inciso-ix-do-
artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988. Acesso em: 1 nov. 2021.
60 BRASIL. Código Civil. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 1 nov. 2021.
61 BARATTA, Alessandro. FILHO, Francisco Bissoli. Princípios do Direito Penal Mínimo. Para uma
teoria dos direitos humanos como objeto e limite da lei penal. Disponível em:
http://danielafeli.dominiotemporario.com/doc/alessandro%20baratta%20principios%20de%20direit
o%20penal%20minimo.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021.
33

aparece, em uma análise científica, como um suporte importante da violência


estrutural e, se concebemos essa em sua acepção mais ampla, da instituição
social: repressão das necessidades reais da maior parte dos indivíduos, que,
levando em consideração o desenvolvido alcançado pelas forças produtivas
da sociedade, poderiam, contudo, ser satisfeitas se as relações sociais de
propriedade e de poder fossem distintas e mais justa.

A forma que o sistema penal é apresentado, é de forma igualitária. De modo


que, atinge igualmente todas as pessoas em função de suas condutas. Pelo contrário,
a regra é a seletividade. Alcançando grupos sociais62 específicos, a despeito de sua
conduta.
Havendo contradição, utilizadas para reafirmar o caráter igualitário. O Sistema
penal também é denotado como justo, tendo em vista a prevenção do delito e assim
restringindo a intervenção [...] quando na realidade o caráter é repressivo “só a pena
necessária é justa” - evidenciando, portanto, a incapacidade de atuação preventiva e
a regulação da intensidade dos limites da ação.
Apresenta outra característica, o sistema também é estigmatizante
proporcionando uma degradação, transformando os indivíduos por suas objeções em
figuras sociais a serem repelidas.
Tais características são vistas como centrais e mais importantes para o sistema
penal como o brasileiro. Sendo de suma importância a aplicação do direito, porque
movimentar instrumentos jurídicos depende de estudos concretos e não somente
abstenções normativas desconectadas da realidade.
Se tratando sob as religiões de matriz africana há a pretensão de direitos
antirracistas, liberdade de culto, proteção dos locais de culto, e, em outro polo há uma
estrutura que atua numa oposta finalidade. Quer dizer, todo esse sistema se põe de
forma para atestar direitos, mas falha nessa responsabilização. Contudo, essa
estrutura funciona ante os mecanismos repressivos, assentindo a violação de direitos.

Por fim, as teorias sobre o racismo devem conduzir a Criminologia Crítica


para uma teoria complexa sobre as relações de poder, superando-se as
concepções economicistas da teoria social.63

62 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro;
Revan,2007. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3076218/mod_resource/content/1/BATISTA%2C%20Nilo.
%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%ADtica%20ao%20direito%20penal%20brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
63 NICÁCIO, Camila Silva. Intolerância Religiosa no Estado de Minas Gerais: Considerações a
partir de uma pesquisa com boletins de ocorrência. Disponível em:
https://cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/download/246/219. Acesso em:
1 nov. 2021.
34

5.2 Dificuldade dentro das delegacias de polícia

Em conformidade com dados oficiais e não oficias nota-se que o índice de


casos de intolerância religiosa é crescente. Nesse princípio é importante frisar por
meio de dados para a oficialização e execução das demandas voltadas para a
intolerância religiosa e a discriminação empregado em registros policiais. Tendo em
vista, a passagem social, jurídico e judiciário do fato.

O do inquérito e o dos procedimentos judiciais. São eles que efetuam as


operações essenciais de reconstituição, interpretação e codificação jurídica
dos fatos. Cada uma dessas operações se efetua ao se antecipar às
operações ulteriores, a fim de se assegurar a validade do produto.64

No começo do processo de formalização no plano das instituições do Estado,


as instituições de segurança pública. Tudo começa nesse ponto de partida, tendo
como de alta importância para os desdobramentos jurídicos e judiciário, mas também
no âmbito político e administrativo. Então, depende do desempenho para a resolução
desse problema público e social, obtendo uma intervenção estatal.
O primeiro passo é o ato de formalizar, quer dizer, o registro de ocorrências
sendo de suma relevância e visibilidade nesse quesito, dando um caminho para o
caso de domínio penal, nomeando como um fato jurídico e criminoso. Dando
continuidade, o outro ponto está ligado aos fatos propriamente ditos, em contar a
história com todos os detalhes, intitulado como histórico de ocorrência. Estabelecendo
um caminho entre a investigação e a qualidade das informações coletadas, e não
somente isso, mas pensar quais rumos seguir.
Segundo Camila Nicácio, analisou a respeito da natureza dos fatos jurídicos
dando enfoque a esses objetivos:

Natureza principal e até três naturezas secundárias do fato; data e hora do


fato; tipo de local onde aconteceu o fato; alvo, meio utilizado e causa ou

64 NICÁCIO, Camila Silva. A formalização da intolerância religiosa em registros policias: retrato


de um problema em (des)contrução. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Camila-Nicacio-
2/publication/347984320_A_formalizacao_da_intolerancia_religiosa_em_registros_policiais_retrato
_de_um_problema_em_desconstrucao_1_The_formalization_of_religious_intolerance_in_police_r
ecords_the_picture_of_a_problem_in_decon/links/5feb5954299bf1408859b9fb/A-formalizacao-da-
intolerancia-religiosa-em-registros-policiais-retrato-de-um-problema-em-desconstrucao-1-The-
formalization-of-religious-intolerance-in-police-records-the-picture-of-a-problem-in-decon.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2021.
35

motivação presumida; e histórico da ocorrência. Todas as ocorrências foram


analisadas com o objetivo de verificar: a) a existência (ou não) de um crime
ou conflito motivado por intolerância religiosa; b) a(s) natureza(s) do crime ou
conflito motivado por intolerância religiosa (com possibilidade de mais de uma
natureza por ocorrência); c) a existência (ou não) de outra modalidade de
intolerância como motivadora da ação dos envolvidos; d) a religião do
envolvido que foi vítima da ação motivada por intolerância religiosa e,
finalmente, e) a relação entre a vítima e o autor da ação motivada por
intolerância religiosa.65

Deixando em alerta o tratamento institucional da intolerância religiosa.


Caminhando dentre o seu estudo, notou que cerca de que as 168 ocorrências
encontradas, 60,1% foram notificadas como típicas e 20,8% atípicas. E 19% das
demais ocorrências não puderam certificarem sobre a tipicidade, pois se diziam haver
inconsciência dos fatos. Inconsciência essa, que o problema pode estar em sua forma:
registro de ocorrência.
Paralela a dificuldade em penas mais rigorosas, há a inaptidão em face das
delegacias para o registro de casos. Alguns por reputarem ser outro tipo penal, ou
sendo registrados como brigas de vizinho, ameaça, entre outros. Sendo que o agente
policial tem consciência de que o destino penal depende determinantemente de seu
trabalho. Como mencionado nesse outro trecho.

Nota-se, nesse conjunto, falta flagrante de informações essenciais para uma


investigação posterior, se se leva em conta o fato de que inquéritos carecem
de um mínimo de informações para se determinar uma linha de investigação,
e que “quanto mais detalhada for a circunstância do crime em um primeiro
momento, melhor será desenvolvido o trabalho policial no processo de
elucidação.

Satisfatoriamente, ainda que lentamente estamos avançando às proteções das


religiões de matriz africana, sendo um tema um pouco mais debatido atualmente,
tentando acharmos meios ou soluções para agirmos. No de 2016 o governador
Rodrigo Rollemberg66 sancionou uma lei que criou uma delegacia especializada a

65 NICÁCIO, Camila Silva. A formalização da intolerância religiosa em registros policias: retrato


de um problema em (des)contrução. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Camila-Nicacio-
2/publication/347984320_A_formalizacao_da_intolerancia_religiosa_em_registros_policiais_retrato
_de_um_problema_em_desconstrucao_1_The_formalization_of_religious_intolerance_in_police_r
ecords_the_picture_of_a_problem_in_decon/links/5feb5954299bf1408859b9fb/A-formalizacao-da-
intolerancia-religiosa-em-registros-policiais-retrato-de-um-problema-em-desconstrucao-1-The-
formalization-of-religious-intolerance-in-police-records-the-picture-of-a-problem-in-decon.pdf.
Acesso em: 2 nov. 2021.
66 GLOBO. DF cria a 1° delegacia para investigar crimes de intolerância religiosa. Disponível
em: http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/01/df-cria-1-delegacia-para-investigar-crimes-
de-intolerancia-religiosa.html. Acesso em: 2 nov. 2021.
36

crimes motivados por diversidade e intolerância sexual, étnico-raciais e religiosas –


“Delegacia da diversidade”. A delegacia teria sido proposta após cerca de 4 terreiros terem
sido incendiados no DF.
Após os atos de intolerância religiosa contra mãe Carmem de Oxum em 2017 foi um
grande divisor de águas, foi quando o Ministério Público Federal (MPF)67 em 2018 notificou
um agravamento dos conflitos, usando o termo “intolerância religiosa”. O MPF publicou uma
nota técnica classificando esses crimes como, crime de ódio e racismo religioso, assim como,
atos terroristas e genocídio.
Crimes esses praticados por adeptos de igrejas neopentecostais ou pela milícia e
tráfico de drogas, ataques esses vindo como uma forma de domínio de território que criaria
uma espécie de cortina de fumaça para tal dominação.
O Narcopentecostalismo68 está ganhando ascensão em alguns Estados como, Rio
de Janeiro, Pará, São Paulo etc. correlacionando a prisão do Bonde de Jesus, Miranda
elucida como uma forma de penetração de evangélicos neopentecostais no sistema
carcerário, sendo um problema não somente de dominação de território, mas também de
segurança pública, podendo motivar novas estratégias para impossibilitar ataques voltados
para a crença e a cultura afro religiosa.
Mas mesmo após a criação do DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e
Intolerância Religiosa, as vítimas dessas violências não se sentem seguras o suficiente para
fazerem boletim de ocorrência e denunciar69. Assim sendo, os índices de casos continuam
crescentes, de modo que já se fala em uma nova legislação para incluir como terrorismo e
ataque às instituições religiosas.

5.2.1 Necessidade do “Racismo Religioso” como um problema público

A intolerância religiosa, ou nessa estrutura chamada de “racismo religioso” é


um dos problemas mais delicados posto em nossa sociedade, o fanatismo está

67 GLOBO. Intolerância religiosa ou genocídio do povo preto?. Disponível em:


https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/intolerancia-religiosa-ou-genocidio-do-
povo-preto.html. Acesso em: 2 nov. 2021.
68 NICÁCIO, Camila Silva. Intolerância Religiosa no Estado de Minas Gerais: Considerações a
partir de uma pesquisa com boletins de ocorrência. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rdgv/a/RpWyFKJKwHKc5ZLF4bbwPxM/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 2
nov. 2021.
69 GLOBO. Intolerância religiosa ou genocídio do povo preto?. Disponível em:
https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/intolerancia-religiosa-ou-genocidio-do-
povo-preto.html. Acesso em: 2 nov. 2021.
37

introduzido em milhões de pessoas. Como se uma única crença ou religião fosse a


regra, salvação e nenhuma outra crença ou a sua ausência fosse motivo de colocar
uns contra os outros em nome de alguém superior.
O problema é estrutural. E entender que ele existe, escutar as pessoas lesadas
e debatê-lo de forma coesa e coerente é o primeiro passo. Em 2019 o Ministério
Público Federal por meio da Procuradoria Federal do Cidadão70 tornou público um
estudo – Estado Laico e combate à intolerância religiosa. Manifestando os ataques
que as religiões afro vem sofrendo, expõe também a sistemática de perseguição que
sofrem, como por exemplo no Estado do Rio de Janeiro. Dentre os relatos expostos
no documento exemplificam: crianças apedrejadas; proibição da utilização de
vestimentas brancas por criminosos e expulsão de zeladores de santo por esses
autores.
Nesse relatório aduzem a quase completa inercia do sistema judiciário para
enfrentar esses problemas. A ausência de mecanismos de identificação de feitos e
por vezes inadequados registros nos bancos de dados. Nessa luta antirracista o papel
do direito enquanto órgão civilizador é trazer a luz, mecanismos para ajudar nessa
batalha, para a pratica judiciária.
A inércia desses órgãos para combater o problema do racismo religioso em
nossa sociedade não necessariamente está correlacionada a ausência de medidas
normativas, é o fato de uma percepção distorcida, assim sendo analisada por uma
epistemologia racista.71
O racismo está diretamente ligado às bases racistas predeterminada na
sociedade brasileira, no qual se estruturou, enriqueceu às custas desses povos. Em
trecho da pesquisa realizada – Estado Laico, Intolerância e Diversidade Religiosa no
Brasil: Pesquisas, Reflexões e debates.

O próprio judiciário comete a violência institucional em relação a essas


religiões, pois o Poder Judiciário não considera e não identifica essas
religiões como expressão de religiosidade, o que, portanto, não se configura
como merecedoras de proteção pelo Estado. Assim, nota-se uma dupla
intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana. Em relação aos
silêncios, observa-se que existe uma ausência de casos relativos à violência

70 CRUZ, Adriana. Intolerância, perseguição religiosa e a cegueira do direito. Disponível em:


https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/intolerancia-perseguicao-religiosa-e-a-cegueira-do-
direito-15072020. Acesso em: 4 nov. 2021.
71 CRUZ, Adriana. Intolerância, perseguição religiosa e a cegueira do direito. Disponível
em:https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/intolerancia-perseguicao-religiosa-e-a-cegueira-
do-direito-15072020. Acesso em: 4 nov. 2021.
38

sexual motivada por questões religiosas dentro das residências das vítimas,
ou seja, dentro do espaço privado. As questões de cunho privado
transformam-se em processos judiciais. Normalmente, os conflitos que se
transformam em ações judiciais são aqueles envolvendo educação ou
trabalho.72

No mais, ressalta-se que o racismo ou a intolerância religiosa ainda é vista


como uma questão de menor importância, por vezes não recebendo tanta atenção do
judiciário. São esses silêncios encontrados na jurisprudência.

5.3 Estudo do caso: Mildredes Dias Ferreira e Edneide Santos de Jesus

Em 2015 a Yalorixá Mildredes dias, ou mais conhecida: mãe dede, faleceu em


decorrência de um infarto aos seus 90 anos, no qual de acordo sua família o racismo
religioso foi uma agravante. Porque no ano de 2014 começou a sofrer ataques a ela
e seu terreiro Oyá Denã em Camaçari/Salvador. Edneide Santos a autora do crime
gritava insultos e jogava sal grosso na porta de seu terreiro73, ela fazia parte da Igreja
Casa de Oração Ministério Cristão. Foi lavrado um boletim de ocorrência e no ano de
2015 o Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou Edneide pelo crime de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,


etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.74

Mary Antônia monteiro, mãe pequena do terreiro aduz que tais ataques
contribuíram para a piora no quadro médico de sua mãe. No dia de seu falecimento,
Mildredes se encontrava aflita, em decorrência de uma vigília e som alto que estava
tendo em frente à sua casa, sendo possível escutar xingamentos num contexto
vexatório e de forma agressiva, direcionados ao terreiro. Uma filha de santo do

72 MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS SECRETARIA NACIONAL DA CIDANANIA. Estado


Laico Intolerância e diversidade religiosa no Brasil: pesquisas, reflexões e debates.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/liberdade-de-religiao-ou-
crenca/publicacoes-1/LIVROESTADOLAICO2018.pdf. Acesso em: 4 nov. 2021.
73 G1, BAHIA. Seis anos após a morte da Ialorixá vítima de intolerância religiosa, Bahia tem 1ª
condenação por racismo religioso. Disponível em:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/06/09/seis-anos-apos-morte-de-ialorixa-vitima-de-
intolerancia-bahia-tem-1a-condenacao-por-racismo-religioso.ghtml. Acesso em: 11 nov. 2021.
74 BRASIL. Lei n° 9.459, de 13 de maio de 1997. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9459.htm. Acesso em: 11 nov. 2021.
39

terreiro, Josilene Paulo Nascimento, se fez presente desde o primeiro momento até a
delegacia, no qual tiveram que mostrar provas dentre elas filmagens.
Na Apelação n° 0502347-89.2015.8.05.003975 o juiz de direito da 2ª Vara da
Comarca da Capital de Camaçari/BA na primeira condenação julgou procedente e
acusou a ré Edneide Santos de Jesus configurado no crime do art. 20 da lei 7716/89
(Lei Caó); estabelecendo 1 ano de reclusão, tendo a modalidade do regime aberto e
pagamento no valor de 10 dias-multa, obtivendo a substituição das penas privativas
de liberdade, às penas restritivas de direito, estando definido o comparecimento
mensal e a prestação de serviços à comunidade. Houve resposta à acusação
alegando prescrição da pretensão punitiva, pedindo-se sua absolvição. Em segunda
instância foi reafirmado o mesmo crime. Na conclusão do acórdão foi dado o seguinte
texto declaratório.

Diante de tais considerações, impõe-se a confirmação do édito condenatório,


em sua integralidade, tanto mais porque as reprimendas corporal e pecuniária
foram fixadas no mínimo legal, sendo substituída a sanção privativa de
liberdade por penas restritivas de direito, quais sejam, comparecimento
mensal em Juízo, e prestação de serviço à comunidade, não havendo que se
falar em sucumbência, no particular.76

No processo o relator Desembargador Nilson Soares Castelo Branco


consoante a outros desembargadores alegara que, o Poder Judiciário deve reprimir
tal conduta.
A conduta da denunciada representa injustificável menosprezo e preconceito
dirigido, intencionadamente, contra toda a coletividade praticante do
candomblé, havendo suficiente comprovação de que as expressões
utilizadas pela apelante, tais como “sai satanás” (sic), 'queima satanás' (sic),
implicam na exortação de indiscutível carga negativa quanto à referida
religião de matriz africana.77

Seis anos após o falecimento de Mildredes dias, a Bahia teve sua primeira
condenação por racismo religioso, na modalidade de preconceito religioso do artigo
citado acima.

75 JUSBRASIL. APL 0502347-89.2015.8.05.0039. Disponível em: https://tj-


ba.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1175542269/apelacao-apl-5023478920158050039/inteiro-teor-
1175542280. Acesso em: 11 nov. 2021.
76 JUSBRASIL.APL-0502347-89.2015.8.05.0039. Disponível em: https://tj-
ba.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1175542269/apelacao-apl-5023478920158050039/inteiro-teor-
1175542280. Acesso em: 13 nov. 2021.
77 CONJUR. TJ-BA aplica lei de racismo para condenar evangélica por ataques ao candomblé.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-jun-06/tj-ba-aplica-lei-racismo-condenar-
evangelica-ataques. Acesso em: 13 nov. 2021.
40

Essa vitória é algo muito significante, mas nas entrelinhas há questionamentos.


Como o por que demorou tanto tempo para uma condenação? E o que fazer, o que
mudar em sua estrutura para sanar essa insuficiência. O Promotor de Justiça, Edvaldo
Vivas Gomes relata que apesar de tardia, deve ser comemorada.

Esse tipo de vitória a gente sempre tem que celebrar, porque por mais que
os crimes de racismo sejam imprescritíveis, as condenações demoram muito
de chegar. Então a gente tem que comemorar mesmo, para que cada vez
mais a gente possa estar efetivamente dando cabo desse tipo de problema,
e garantindo efetividade para que essas discriminações possam acabar de
vez nesse país e no estado da Bahia.78

E em outro trecho o Desembargador Lidivaldo Britto diz que é um caso muito


emblemático, sendo o primeiro caso condenado por racismo religioso, mas também
pelo fato de uma condenação de primeira instância tendo uma confirmação na
segunda instância do Tribunal de justiça.

78 G1, BAHIA. Seis anos após a morte da Ialorixá vítima de intolerância religiosa, Bahia tem 1ª
condenação por racismo religioso. Disponível em:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/06/09/seis-anos-apos-morte-de-ialorixa-vitima-de-
intolerancia-bahia-tem-1a-condenacao-por-racismo-religioso.ghtml. Acesso em: 13 nov. 2021.
41

6 CONCLUSÃO

Contudo, expõe-se como recurso tanto para prática de intolerância, racismo


religioso como desrespeito às religiões de matriz africana é o Estado e sua notória
aplicação, voltado também para a sociedade e a prática intolerante ofendendo a nossa
Carta Magna, direitos e garantias constitucionais. Entretanto, como referido acima é
importante que avancemos no tema, aludindo questões, analisando e assim
procurando tomar medidas cabíveis, viáveis e que de fato irão mostrar resultados.
Avaliar políticas utilizadas para solução desses crimes, de modo que, sejam revistos
todos os dispositivos jurídicos de proteção às religiões.
Dentro do trabalho foi analisado sobre a intolerância religiosa visto sob a ótica
do racismo religioso desrespeitando nossos princípios basilares, alguns deles
cláusulas pétreas como o direito à vida, dignidade da pessoa humana e todos os
valores e garantias individuais ao homem e estabelecido no art. 60 da Constituição
Federal79. E que mesmo consubstanciado em nosso ordenamento, continua sendo
desconsiderado em relação aos cultos afro-brasileiros.
Ficou ressaltado que a discriminação sofrida no Brasil traz resquícios do
período colonial, de escravizados roubados de suas terras. Abdias Nascimento suscita
que a concretização da escravização física se sujeitava continuamente da
escravização religiosa. Quando os terreiros de cultos afro-brasileiros mantinham os
povos pretos conectados às suas origens.

Ao nível da relação do catolicismo com as religiões africanas, há o fenômeno


do sincretismo o qual só na aparência se assemelha àquele referido
anteriormente. Neste exemplo de sincretismo, a Igreja Católica era a religião
oficial que ditava as normas de cima para baixo. Tanto não havia igualdade
ou paridade religiosa, condição prévia do verdadeiro sincretismo, que os
escravos se viam submetidos, ainda nos portos de embarque africanos, ao
batismo compulsório. A escravidão espiritual constituía parte intrínseca da
escravização física. Tanto assim que era uma prática normal do catolicismo
se associar com o tráfico e o sistema escravista, que seu proselitismo tinha o
amparo dos traficantes, do Estado e da força suasória da polícia.80

79 BRASIL. Parágrafo 4°, artigo 60 da Constituição Federal de 1988. Disponível em:


https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10632328/paragrafo-4-artigo-60-da-constituicao-federal-de-
1988. Acesso em: 13 nov. 2021.
80 NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Documentos de uma militância pan-africanista. P.
121. São Paulo: Editora Perspectiva; Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.
42

Quer dizer, por consequência do racismo, do sincretismo religioso, foram


conscientes causadores pela estruturação em face às religiões de matriz africana. Por
vezes sendo vistas como uma espécie de “seita” ou folclorização e não vistas como
uma prática religiosa propriamente dita.
Pesquisou a respeito da evolução e organização da liberdade religiosa dentro
das constituições brasileiras, trazendo a ideia sobre liberdade e a perspectiva como
direito fundamental regido pela Carta Magna. Em que, é notório de que houve um
avanço até o presente momento, porém, esse princípio é violado deixado de modo
explícito e calamitoso a nossa sociedade. E o Estado que não vem cumprindo seu
papel frente as condutas adequadas a seguir excedendo os limites.
Comentou-se sobre a diferença de racismo e intolerância religiosa, é um
conjunto de práticas ofensivas a pessoas, crenças. Já o racismo se refere a um crime
de ódio destinado a principalmente religiões não hegemônicas. É o ato de agressões
físicas, ataques a cerimonias e rituais entre outras formas de agressão.
Examinou-se os dispositivos que protegem as manifestações religiosas
nacional e internacionalmente, ressaltando a luta contra a intolerância religiosa e o
respeito ao cumprimento da liberdade religiosa no Brasil. Assim como as religiões de
matriz africana.
Explanou e criticou a respeito do sistema penal para resolver e atribuir sanções
penais, deixando evidente de que o problema está na estrutura, nas bases as sanções
visivelmente amenas ante as discriminações. A escassez de políticas públicas,
combate à violência, ações preventivas, que muitas das vezes dando brechas para
condutas delitivas. Ressaltando a ausência de debates voltados para respectivos
temas elucidando a omissão do Estado, e trazendo a problemática dentro das
delegacias de polícia, desde o ato da formalização de ser lavrado um boletim de
ocorrência prejudicando até o momento da investigação.
Por meio da apelação n° 0502347-89.2015.8.05.0039, em Camaçari/BA que
após 6 anos teve uma vitória jurídica, condenando pela primeira vez o racismo
religioso, mas dando enfoque que não é tão simples assim, apesar de grande vitória
estamos caminhando a passos pequenos. Devemos ressaltar a importância de o
racismo ser visto como um problema público, e não somente individual ou que
pertence às minorias da sociedade.
A religiões de matriz africana sempre foram um objeto de espaço de resistência
da população negra no Brasil, tornando-se visível a dificuldade para que a sociedade
43

respeite seu espaço, seu corpo e, sua liberdade de expressão, crença. Temos que
reconhecer que há essa disparidade e levar esse debate adiante, não ficar somente
destro de uma redoma, tornar público. É preciso interligar as mais variadas vertentes
dentro da religião e com isso elaborar uma rede de apoio em consonância com outros
grupos. Ocupar espaços como dentro da política, cultura, juridicamente. Pensa-se na
forma da idealização e produção de uma estratégia e sistema para que não haja
exclusão, ou um grupo se beneficiar mais do que os demais, é necessário que haja
diálogo, ações unificadoras com abrangência sem discriminação.
44

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