Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O diretor do Tesouro
Era o doutor gafanhoto
Andava sempre apressado
Num bom cavalo de choto
Que uma vez quebrou a perna
Dentro dum cano de esgoto
A saúva se ocupava
Na podação dos jardins
E tinha como ajudantes
Quatrocentos mucuins
Que já nesse velho tempo
Eram moleques ruins
A picota, coitadinha
Teve um chilique na rua
Naquela barafunda
Apareceu a perua
Que ficou foi depenada
E completamente nua
O jornal intitulado
Gazeta dos Animais
Combateu esse processo
Chamando a todos venais
Porém, comprado o seu dono
Fechou-se, não falou mais
O sobrinho do socó
Quando viu a coisa feia
Foi falar com seu padrinho
Que tinha bom pé-de-meia
E com peso de dinheiro
Pôs o juiz na cadeia
Tartaruga, pescadora
Era amiga da baleia
Tracajá guardava os ovos
Nos tabuleiros de areia
Mas a cobra só sabia
Falar mal da vida alheia
O tamanduá bandeira
Era muito adulador
Não saía de palácio
Mirando o governador
Até que enfim conseguiu
Ser juiz corregedor
O cavalo relinchando
Seu sofrimento descreve
E pede que o movimento
Seja mesmo para breve
Que em todo o reino se faça
Estalar medonha greve
Vendo a coisa pegar fogo
Cada qual melhor atiça
O burro sempre na frente
Bufando vem para liça
Tudo que é bicho aderiu
Menos a dona preguiça
Achavam já os grevistas
Que nada estava direito
Até pipira arvorada
Batia o bico no peito
Dizendo: “Pra me acalmar”
Só mesmo com muito jeito.
A raposa convidada
Para a luta pela aranha
Respondeu: Não acredito
Estou farta de patranha
Tenho meu ponto de vista
Vou ver primeiro quem ganha
Começado o movimento
A formiga deu notícia
O tatu foi logo preso
Para o quartel de polícia
Mas pensando na vitória
Até se riu com delícia
Tubarão, o comandante
Duma valente brigada
Com corpos de infantaria
Do capitão peixe-espada
Mandava o zinco comer
na costela da negrada
Já quase desanimando
E arrependido da idéia
Resolveu a bicharada
Se juntar numa assembléia
Que teve muita ovação
No grande dia da estréia
Ao filho do jacaré
Um grupo enorme aparece
E o governo da nação
De repente lhe oferece
Mas este diz: “Cada povo
Com o governo que merece!”
Os conselhos recebidos
Fez, então, que não ouviu
E rematando a conversa
Os grandes olhos abriu:
“Vocês vão chorar na cama
Que ficou dentro do rio”
O bode compareceu
Num banquete oficial
Mas quando quis regressar
Sofreu um golpe fatal
Foi comido pela onça
Sem choro, sem funeral