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Belo Horizonte
2009
Instituto Qualittas de Pós-Graduação Veterinária
Especialização Lato-sensu em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais
Belo Horizonte
2009
SUMÁRIO
RESUMO – ABSTRACT...............................................................................................................2
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................................3
LISTA DE GRÁFICOS..................................................................................................................4
LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................................5
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................6
2. DESENVOLVIMENTO..............................................................................................................7
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................24
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................25
RESUMO
ABSTRACT
The autoimmune dermatosis, wich are very rare in small animals, are caracterized by the
production of anti-bodies against normal componnents of the skin. Among these diseases,
those of more importance in dogs and cats are the pemphigus complex, discoid lupus
erythematosus and bullous pemphigoid. Most of them are very similar when it comes to their
clinical manifestation and the definitive diagnosis between then is done with the
histopathological analisys. These pathologies’ therapy is based on immunessupression and it is
done, mainly, with corticosteroids.
FIGURA PÁGINA
Figura 1: Demonstração da diferença dos tipos de vesículas observadas no pênfigo 8
foliáceo e no pênfigo vulgar
Figura 2: Pústulas, pápulas e crostas em um Labrador de 6 anos com PF. 10
Figura 3: Pústula intracorneal e áreas de degeneração hidrópica com formação de 11
vesículas em pele de uma cabra com PF
Figura 4: Pústula intracorneal com neutrófilos, eosinófilos e células acantolíticas – 11
Pele de cabra com PF
Figura 5: Epiderme de cão com PF: coloração para desmogleína demonstrando 12
depósitos do corante na periferia de queratinócitos individuais no extrato espinhoso
da epiderme.
Figura 6: Coloração imunoquímica para desmogleína em epiderme de cão com PF. 12
Coloração escura do citplasma dos queratinócitos com células acantolíticas em
pústula epidérmica.
Figura 7: Imunoflorescência direta demonstrado a deposição de IgG na superfície 13
celular dos queratinócitos em toda a epiderme, exceto na membrana basal, de cão
Figura 8: Cow-chow com pênfigo eritematoso, apresentando lesões crostosas e 15
ulceradas extensas no focinho e região peri-ocular
Figura 9: Colaretes epidérmicos e lesões crostosas em virilha de cão com PF 17
Figura 10: Micrografias com imunofluorescência demonstrando a agregação lateral 17
da desmogleína III induzida por imunoglobulinas no PV
Figura 11: Esquema do mecanismo etiopatogênico do LED 19
Figura 12: Erosões no plano nasal em um cão com LED 19
Figura 13: Despigmentação do plano nasal em um cão com LED 20
Figura 14: Lesões ulcerativas, com perda da arquitetura de “calçamento” do focinho 20
de um cão com LED
Figura 15: Lesões ulcerativas de PB em coxim plantar de cão 22
Figura 16: Separação dermoepitelial em mucosa oral de gato com PB 23
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO PÁGINA
Gráfico 1: Ocorrência de Pênfigo Foliáceo em cães de acordo com a raça no 3
HOVET- USP de 2000 a 2005
Gráfico 2: Porcentagem de lesões observadas em cães com Pênfigo Foliáceo 5
atendidos no HOVET-USP de 2000 a 2005
LISTA DE ABREVIATURAS
ABREVIATURA SIGNIFICADO
PF Pênfigo foliáceo
PE Pênfigo eritematoso
PV Pênfigo vulgar
IgG Imunoglobulina G
IgA Imunoglobulina A
HE Hematoxilina-eosina
Esc Escala
LED Lúpus eritematoso discóide
LES Lúpus eritematoso sistêmico
PB Pênfigo Bolhoso
I. INTRODUÇÃO
As dermatopatias autoimunes são um conjunto de doenças caracterizadas por uma reação de
hipersensibilidade do tipo II e III contra componentes teciduais endógenos (LARSSON, 2006;
MUELLER, 2005; COSTA-VAL, 2006). Nelas são observadas respostas do tipo celular ou
humoral (MUELLER, 2005).
Há diversas teorias que tentam explicar o desenvolvimento das dermatoses autoimunes, como
exposição a antígenos ocultos, modificação antigênica, disfunção dos supressores de células
T, resposta imunológica cruzada e doenças do sistema linforeticular (OSBORN, 2006).
De acordo com sua patogenia, essas dermatopatias podem ser classificadas em alterações
primárias autoimunes e alterações secundárias ou imunomediadas (COSTA-VAL, 2006). Nas
dermatoses primárias autoimunes há produção de anticorpos e/ou ativação de linfócitos contra
constituintes normais da pele. Já nas dermatoses imunomediadas o que ocorre é uma resposta
imunológica exacerbada a um dano no tecido cutâneo (COSTA-VAL, 2006).
O antígeno alvo varia de acordo com o tipo de pênfigo (LARSSON, 2005). No Pênfigo Foliáceo,
o principal antígeno envolvido é a desmogleína I, glicoproteína de 160 Kd do grupo das
caderinas (BALDA ET AL., 2005). No Pênfigo Vulgar, o ataque é direcionado à desmogleína III,
de 130 Kd (LARSSON, 2005). No Pênfigo Eritematoso há formação de anticorpos contra a
membrana basal, além das desmogleínas (COSTA-VAL, 2006). Estudos em seres humanos
mostraram que diferentes apresentações clínicas de um mesmo tipo de pênfigo também
apresentam diferenciação quanto às proteínas afetadas (WASCHKE, 2008).
O mecanismo envolvido no complexo pênfigo consiste na ligação dos anticorpos aos antígenos
específicos, com consequente internalização e fusão com lisossomos intracelulares, o que
resulta na formação de uma enzima proteolítica (uroquinase), que é um fator ativador do
plasminogênio (BALDA ET AL, 2005; COSTA-VAL, 2006). Essa enzima converte
plasminogênio em plasmina, que, por sua vez, hidrolisa as moléculas de adesão intracelular,
gerando perda de adesão entre os queratinócitos, processo chamado de acantólise, e,
consequentemente, formação de lacunas epidérmicas (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2005;
COSTA-VAL, 2006). Os queratinócitos assumem formas mais arredondadas, chamadas de
acantócitos (COSTA-VAL, 2006).
É pouco conhecido o mecanismo pelo qual há a produção dos anticorpos. Algumas das
hipóteses incluem a ocorrência de uma alteração da regulação imunológica ou um estímulo
antigênico anômalo (LARSSON, 2005). Além disso, é importante ressaltar que há raças que
são geneticamente predispostas a apresentar a doença, como Chow-chow, Labrador Retriever
e Akita, e que outros fatores, como agentes infecciosos, agentes ambientais e dermatopatias
crônicas, também devem ser considerados (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2005).
A generalização das lesões pode ocorrer em até um ano, mas, na maioria dos casos, ocorre
em até 6 meses (LARSSON, 2005). Anorexia, febre e depressão são comuns em animais
intensamente afetados (COSTA-VAL, 2005). Dor e prurido ocorrem em graus variados
(LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).
Fig 2: Pústulas,
pápulas e crostas
em um Labrador de
6 anos com PF.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
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2.1.1.2. Diagnóstico
O diagnóstico é baseado em dados de anamnese, histórico, exame físico e exames
laboratoriais de citologia, histopatologia, imunofluorescência (direta ou indireta) e
imunohistoquímica (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005; STEEVES ET AL, 2002; COSTA-
VAL, 2006).
A avaliação citológica do conteúdo das pústulas pela Técnica de Tzanck normalmente revela a
presença de neutrófilos íntegros e de acantócitos, isolados ou em grupo, além da ausência de
bactérias (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). Se houver infecção
bacteriana secundária, neutrófilos degenerados e bactérias podem estar presentes (COSTA-
VAL, 2006).
O exame histopatológico pode ser realizado com material retirado de lesão pustular recente,
preferencialmente recolhido por biópsia incisional (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). O
que se observa na lâmina é acantólise subcorneal ou intergranulosa, que resulta em
descolamento epidérmico e formação vesicular (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005;
COSTA-VAL, 2006).
Fig 3: Pústula
intracorneal e áreas de
degeneração hidrópica
com formação de
vesículas (Seta) em pele
de uma cabra com PF –
HE. Obj 10X
Fig 4: Pústula
intracorneal com
neutrófilos, eosinófilos e
células acantolíticas
(seta) – Pele de cabra
com PF – HE. Obj 40X
Fig.6: Coloração
imunohistoquímica para
desmogleína em epiderme de
cão com PF. Coloração escura
do citplasma dos queratinócitos
com células acantolíticas em
pústula epidérmica. Esc: 10μm.
2.1.1.3. Tratamento
A cura completa da doença é dificilmente obtida pelos tratamentos disponíveis. Portanto, o
objetivo principal da terapia é minimizar os efeitos do PF (BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL,
2006).
2.1.1.4. Prognóstico
O prognóstico do PF varia de reservado a bom. Quando o diagnóstico é feito de forma precoce
é possível controlar a doença (ANGUS, 2005; BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL, 2006). Os
efeitos colaterais da terapia devem ser observados com cautela, já que podem levar os
pacientes ao óbito (COSTA-VAL, 2006). Portanto, é altamente recomendada uma monitoração
periódica e cuidadosa, a fim de se evitar efeitos colaterais graves como depressão medular,
trombocitopenia e nefrotoxicidade (COSTA-VAL, 2006).
2.1.2.2. Diagnóstico
Após anamnese e exame clínico meticulosos, o teste de escolha para o diagnóstico definitivo
de PE é análise histopatológica de lesões coletadas por biópsia (MUELLER, 2005; OSBORN,
2006). As principais características histopatológicas do PE são acantólise subcorneal ou
intragranular com infiltrado linfocitário liquenóide de células mononucleares, células
plasmáticas, eosinófilos e/ou neutrófilos. Também são observados queratinócitos acantócicos
(GONSALVES-HUBERS, 2005; LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).
2.1.2.3. Tratamento
O tratamento inicial do PE pode ser baseado em terapia tópica com corticoesteróides e evitar a
exposição solar (LARSSON, 2006; COSTA-VAL, 2006). Aproximadamente um quarto dos
animais responde bem à terapia combinada de tetraciclina oral e niacinamida. A tetraciclina
age inibindo a quimiotaxia, a ativação do complemento, a síntese de prostaglandinas e as
lípases e colagenases. Já a niacinamida inibe a degranulação dos mastócitos (COSTA-VAL,
2006). A dose utilizada é de 500mg de cada droga administradas por via oral, três vezes por
dia, em cães com mais de dez quilos. Animais com menos de dez quilos devem receber 250mg
de cada medicamento, na mesma frequência (COSTA-VAL, 2006). Animais não responsivos a
esse protocolo podem ser tratados com corticoesteróides sistêmicos, combinados ou isolados,
semelhantemente ao tratamento do PF (MUELLER, 2005; LARSSON, 2006; COSTA-VAL,
2006). O tratamento para gatos é semelhante ao protocolo para o PF (COSTA-VAL, 2006).
2.1.2.4. Prognóstico
Os efeitos colaterais do tratamento são semelhantes aos do PF. O prognóstico do PE também
é de bom a reservado, mas normalmente o controle é de mais fácil obtenção por se tratar de
uma doença de localização mais restrita (GONSALVES-HUBERS, 2005; LARSSON, 2006;
COSTA-VAL, 2006).
2.1.3.2. Diagnóstico
Dados de anamnese e exame clínico dão o direcionamento inicial do diagnóstico, mas ele só
pode ser considerado definitivo após avaliação histopatológica (BREATHNACH, 2008). O que
se observa na histopatologia de lesões coletadas por biópsia é acantólise nas camadas
profundas da epiderme (extrato espinhoso) e vesículas suprabasilares (BREATHNACH, 2008;
MACEDO ET AL, 2008; OSBORN, 2006).
2.1.3.3. Tratamento
O protocolo de tratamento é semelhante àquele utilizado no pênfigo foliáceo. Entretanto, o
controle é de mais difícil obtenção e, normalmente, é necessária uma terapia com várias
drogas (OSBORN, 2006). A maioria dos animais é tratado com uma combinação de esteróides
com agentes imunossupressores, como azatioprina, ciclofosfamida ou metrotexato. O objetivo
do tratamento é o controle dos sintomas sendo que são necessários a manutenção e o
monitoramento durante toda a vida do paciente (FUKUSHIMA, 1982).
2.1.3.4. Prognóstico
O prognóstico do PV é reservado devido à grande incidência de infecções secundárias, às
altas doses de medicação necessárias para o controle da doença e à dificuldade em manter o
animal em remissão (OSBORN, 2006).
2.2.1.1.Mecanismo patológico
Os anticorpos são, nos dois tipos de lúpus, produzidos contra constituintes celulares
sistêmicos. Entretanto, no LED, há deposição dos complexos antígenos-anticorpos na pele,
causando as lesões cutâneas observadas clinicamente (COSTA-VAL, 2006).
A patogênese do LED não foi bem elucidada, mas o que se observa é que grande parte dos
animais tem piora dos sinais clínicos após exposição à luz solar (MUELLER, 2005). Há indícios
de algum tipo de influência genética e as principais raças acometidas são Collies, Pastores de
Shetland, Pointers Alemães de pelo curto e Huskies Siberianos (BREATHNACH, 2008;
MUELLER, 2005; MUELLER, 2007).
Fonte: www.naturalcanine.com
Fig. 13: Despigmentação do
plano nasal em um cão com LED
Fonte: www.naturalcanine.com
As alterações são observadas primeiramente na junção entre o plano nasal e a pele com pêlos,
ou ao longo das regiões ventral ou medial das dobras alares. Com a progressão da doença há
acometimento nasal mais extenso e do focinho. Pode haver dor e/ou prurido, em graus
variáveis (COSTA-VAL, 2006).
Há agravamento das lesões em épocas do ano e locais com maior incidência de luz solar.
Normalmente não há sinais de acometimento sistêmico (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).
Fonte: my-pet-medicine.com
2.2.1.3. Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na anamnese, achados de exame clínico e avaliação histopatológica
(LARSSON; OTSUKA, 2000). O diagnóstico definitivo deve ser feito após a observação de um
fragmento de lesão coletado por biópsia (LARSSON; OTSUKA, 2000; MUELLER, 2005;
COSTA-VAL, 2006).
Os principais diagnósticos diferenciais do LED são dermatite solar nasal, LES, pênfigo foliáceo,
pênfigo eritematoso, farmacodermias, síndrome uveodermatológicas, vitiligo, micose fungóide,
dermatite de contato, carcinoma espinocelular, dermatomiosite familiar canina, demodicose,
dermatofitose, piodermites e ceratose naso-digital (LARSSON E OTSUKA, 2000; COSTA-VAL,
2006).
2.2.1.4. Tratamento
A não exposição à luz solar é de grande importância, associada à administração tópica de
corticoesteróides e uso de protetores solares (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). O uso
local de corticóides deve ser feito até a remissão dos sintomas (LARSSON; OTSUKA, 2000;
COSTA-VAL, 2006). Também é amplamente utilizada a terapia complementar com vitamina E
(200 a 400 UI/animal/2x dia/VO) (LARSSON; OTSUKA, 2000; COSTA-VAL, 2006).
Nos casos refratários à terapia tópica, pode-se fazer o uso de corticóides sistêmicos, também
associados à administração de vitamina E, até a remissão dos sintomas. Em seguida, é feita a
manutenção da remissão com corticóides tópicos (GERONYMO ET AL., 2005; COSTA-VAL,
2006).
2.3.2. Diagnóstico
Após anamnese e avaliação clínica, os principais exames para o diagnóstico do PB são a
histopatologia de lesões sub-epidermais, testes imunológicos e teste de imunofluorescência
(BREATHNACH, 2008).
Histopatologicamente, o que se observa é separação entre a derme e a epiderme sem citólise
de queratinócitos basais (OLIVRY ET AL., 1999). Há ainda a presença de bolhas sub-
epidérmicas com infiltrado inflamatório rico em eosinófilos granulócitos, neutrófilos, linfócitos e
células dendríticas e histiocíticas (OLIVRY ET AL, 1999; SOUSA ET AL, 2005).
Os estudos imunológicos são descritos em humanos, nos quais é possível detectar antígenos
séricos circulantes, antimembrana basal e antidesmossomos, em 70% dos casos (SOUSA ET
AL., 2005).
2.3.3. Tratamento
O tratamento de eleição é a terapia tópica a base de corticoesteróides. Durante a fase aguda
da doença podem ser utilizados corticóides orais, até a resolução das lesões bolhosas (SOUSA
ET AL., 2005).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O complexo pênfigo compreende três principais formas clínicas: pênfigo foliáceo, pênfigo
eritematoso e pênfigo vulgar. O pênfigo foliáceo é a dermatose autoimune mais comum em
cães e gatos. O pênfigo eritematoso é uma enfermidade considerada como intermediária entre
o pênfigo foliáceo e o lúpus eritematoso, por conter características de ambas as doenças. O
pênfigo vulgar é a forma mais grave e mais rara do complexo pênfigo.
O prognóstico varia de bom a reservado, de acordo com a doença. Um dos maiores problemas
é que todas essas patologias são de manutenção contínua e, de uma forma geral, as drogas
utilizadas no tratamento causam diversos efeitos colaterais, muitas vezes fatais, a longo prazo.
4. REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS