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Instituto Qualittas de Pós-Graduação Veterinária

Especialização Lato-sensu em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais

PRINCIPAIS DERMATOSES AUTOIMUNES EM PEQUENOS


ANIMAIS – REVISÃO DE LITERATURA

SOFIA JARDIM SILVA

Belo Horizonte
2009
Instituto Qualittas de Pós-Graduação Veterinária
Especialização Lato-sensu em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais

PRINCIPAIS DERMATOSES AUTOIMUNES EM PEQUENOS


ANIMAIS – REVISÃO DE LITERATURA

SOFIA JARDIM SILVA

Trabalho apresentado como requisito para


a obtenção do título de especialista no
curso de especialiação Latu sensu em
Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos
Animais do Instituto Qualittas de Pós
Graduação em Medicina Veterinária.

Belo Horizonte
2009
SUMÁRIO

RESUMO – ABSTRACT...............................................................................................................2

LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................................3

LISTA DE GRÁFICOS..................................................................................................................4

LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................................5

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................6

2. DESENVOLVIMENTO..............................................................................................................7

2.1. Complexo Pênfigo...................................................................................................7

2.1.1. Pênfigo Foliáceo........................................................................................8

2.1.2. Pênfigo Eritematoso.................................................................................14

2.1.3. Pênfigo Vulgar.........................................................................................16

2.2. Lúpus Eritematoso................................................................................................18

2.2.1. Lúpus Eritematoso Discóide....................................................................18

2.3. Penfigóide Bolhoso...............................................................................................22

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................24

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................25
RESUMO

As dermatoses autoimunes, de ocorrência rara em pequenos animais, são caracterizadas pela


produção de anticorpos contra componentes normais da pele. Desse grupo de enfermidades,
as de maior importância em cães e gatos são as do complexo pênfigo, o lúpus eritematoso
discóide e o penfigóide bolhoso. A maioria delas apresentam semelhanças quanto à
apresentação clínica e o diagnóstico definitivo entre elas é feito através da análise
histopatológica. A terapia dessas doenças baseia-se na imunossupressão e é feita,
principalmente, com corticoesteróides.

Palavras-chave: dermatoses autoimunes, pênfigo, lúpus, cão, gato

ABSTRACT

The autoimmune dermatosis, wich are very rare in small animals, are caracterized by the
production of anti-bodies against normal componnents of the skin. Among these diseases,
those of more importance in dogs and cats are the pemphigus complex, discoid lupus
erythematosus and bullous pemphigoid. Most of them are very similar when it comes to their
clinical manifestation and the definitive diagnosis between then is done with the
histopathological analisys. These pathologies’ therapy is based on immunessupression and it is
done, mainly, with corticosteroids.

Key words: autoimmune dermatosis, pemphigus, lupus, dog, cat


LISTA DE FIGURAS

FIGURA PÁGINA
Figura 1: Demonstração da diferença dos tipos de vesículas observadas no pênfigo 8
foliáceo e no pênfigo vulgar
Figura 2: Pústulas, pápulas e crostas em um Labrador de 6 anos com PF. 10
Figura 3: Pústula intracorneal e áreas de degeneração hidrópica com formação de 11
vesículas em pele de uma cabra com PF
Figura 4: Pústula intracorneal com neutrófilos, eosinófilos e células acantolíticas – 11
Pele de cabra com PF
Figura 5: Epiderme de cão com PF: coloração para desmogleína demonstrando 12
depósitos do corante na periferia de queratinócitos individuais no extrato espinhoso
da epiderme.
Figura 6: Coloração imunoquímica para desmogleína em epiderme de cão com PF. 12
Coloração escura do citplasma dos queratinócitos com células acantolíticas em
pústula epidérmica.
Figura 7: Imunoflorescência direta demonstrado a deposição de IgG na superfície 13
celular dos queratinócitos em toda a epiderme, exceto na membrana basal, de cão
Figura 8: Cow-chow com pênfigo eritematoso, apresentando lesões crostosas e 15
ulceradas extensas no focinho e região peri-ocular
Figura 9: Colaretes epidérmicos e lesões crostosas em virilha de cão com PF 17
Figura 10: Micrografias com imunofluorescência demonstrando a agregação lateral 17
da desmogleína III induzida por imunoglobulinas no PV
Figura 11: Esquema do mecanismo etiopatogênico do LED 19
Figura 12: Erosões no plano nasal em um cão com LED 19
Figura 13: Despigmentação do plano nasal em um cão com LED 20
Figura 14: Lesões ulcerativas, com perda da arquitetura de “calçamento” do focinho 20
de um cão com LED
Figura 15: Lesões ulcerativas de PB em coxim plantar de cão 22
Figura 16: Separação dermoepitelial em mucosa oral de gato com PB 23
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO PÁGINA
Gráfico 1: Ocorrência de Pênfigo Foliáceo em cães de acordo com a raça no 3
HOVET- USP de 2000 a 2005
Gráfico 2: Porcentagem de lesões observadas em cães com Pênfigo Foliáceo 5
atendidos no HOVET-USP de 2000 a 2005
LISTA DE ABREVIATURAS

ABREVIATURA SIGNIFICADO
PF Pênfigo foliáceo
PE Pênfigo eritematoso
PV Pênfigo vulgar
IgG Imunoglobulina G
IgA Imunoglobulina A
HE Hematoxilina-eosina
Esc Escala
LED Lúpus eritematoso discóide
LES Lúpus eritematoso sistêmico
PB Pênfigo Bolhoso

I. INTRODUÇÃO
As dermatopatias autoimunes são um conjunto de doenças caracterizadas por uma reação de
hipersensibilidade do tipo II e III contra componentes teciduais endógenos (LARSSON, 2006;
MUELLER, 2005; COSTA-VAL, 2006). Nelas são observadas respostas do tipo celular ou
humoral (MUELLER, 2005).

Com a falha do sistema imunológico na distinção entre antígenos endógenos e exógenos, há a


formação de anticorpos. Então após a ligação desses anticorpos aos antígenos, que
normalmente são extratos protéicos cutâneos, há a formação de complexos antígenos-
anticorpos, que podem se depositar na membrana basal, como no lúpus eritematoso
(LARSSON, 2005).

Há diversas teorias que tentam explicar o desenvolvimento das dermatoses autoimunes, como
exposição a antígenos ocultos, modificação antigênica, disfunção dos supressores de células
T, resposta imunológica cruzada e doenças do sistema linforeticular (OSBORN, 2006).

De acordo com sua patogenia, essas dermatopatias podem ser classificadas em alterações
primárias autoimunes e alterações secundárias ou imunomediadas (COSTA-VAL, 2006). Nas
dermatoses primárias autoimunes há produção de anticorpos e/ou ativação de linfócitos contra
constituintes normais da pele. Já nas dermatoses imunomediadas o que ocorre é uma resposta
imunológica exacerbada a um dano no tecido cutâneo (COSTA-VAL, 2006).

As dermatopatias autoimunes são de ocorrência rara em pequenos animais têm, de forma


geral, apresentação clínica variada (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). Dentre elas, as de
maior incidência em cães e gatos são as doenças do complexo pênfigo, o lúpus eritematoso
discóide e o penfigóide bolhoso (LARSSON 2005; MUELLER, 2005).
2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Complexo Pênfigo

O Complexo Pênfigo é um conjunto de alterações cutâneas autoimunes que resultam em,


principalmente, acantólise e na presença de vesículas e, posteriormente, úlceras e erosões
(Macedo et al, 2008). Nos animais domésticos as principais formas clínicas compreendem o
Pênfigo Foliáceo (PF), Pênfigo Eritematoso (PE) e Pênfigo Vulgar (PV) (LARSSON, 2005;
SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1995).

A fisiopatologia do complexo pênfigo está relacionada à formação de auto-anticorpos (IgG e,


em alguns casos, IgA ou IgM) direcionados contra as proteínas desmossômicas de membrana
celular que mantém a adesão entre os queratinócitos epiteliais: desmogleínas do grupo
caderina de moléculas de adesão (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).

O antígeno alvo varia de acordo com o tipo de pênfigo (LARSSON, 2005). No Pênfigo Foliáceo,
o principal antígeno envolvido é a desmogleína I, glicoproteína de 160 Kd do grupo das
caderinas (BALDA ET AL., 2005). No Pênfigo Vulgar, o ataque é direcionado à desmogleína III,
de 130 Kd (LARSSON, 2005). No Pênfigo Eritematoso há formação de anticorpos contra a
membrana basal, além das desmogleínas (COSTA-VAL, 2006). Estudos em seres humanos
mostraram que diferentes apresentações clínicas de um mesmo tipo de pênfigo também
apresentam diferenciação quanto às proteínas afetadas (WASCHKE, 2008).

O mecanismo envolvido no complexo pênfigo consiste na ligação dos anticorpos aos antígenos
específicos, com consequente internalização e fusão com lisossomos intracelulares, o que
resulta na formação de uma enzima proteolítica (uroquinase), que é um fator ativador do
plasminogênio (BALDA ET AL, 2005; COSTA-VAL, 2006). Essa enzima converte
plasminogênio em plasmina, que, por sua vez, hidrolisa as moléculas de adesão intracelular,
gerando perda de adesão entre os queratinócitos, processo chamado de acantólise, e,
consequentemente, formação de lacunas epidérmicas (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2005;
COSTA-VAL, 2006). Os queratinócitos assumem formas mais arredondadas, chamadas de
acantócitos (COSTA-VAL, 2006).

O processo de acantólise, comum a todos os tipos de pênfigo, permite a ocorrência de


vesículas intra-epidermiais (COSTA-VAL, 2006). No PF, como a acantólise ocorre nas
camadas mais superficiais da epiderme, localização da desmogleína I, há formação de lesões
vesículo-bolhosas frágeis que são facilmente rompidas, levando à formação de lesões
crostosas (BALDA ET AL., 2005). Já no PV, a acantólise ocorre em camadas mais profundas
da derme, localização da desmogleína III, o que leva à formação de vesículas mais resistentes
à ruptura, conforme demonstrado na Figura 1 (WASCHKE, 2008).
Fonte: WASCHKE, 2008
Fig. 1: Demonstração da diferença dos tipos de vesículas observadas no pênfigo foliáceo e no pênfigo vulgar. No PF, a
localização das desmogleínas alvo é mais superficial, gerando a ocorrência de vesículas mais frágeis e susceptíveis a
ruptura.

É pouco conhecido o mecanismo pelo qual há a produção dos anticorpos. Algumas das
hipóteses incluem a ocorrência de uma alteração da regulação imunológica ou um estímulo
antigênico anômalo (LARSSON, 2005). Além disso, é importante ressaltar que há raças que
são geneticamente predispostas a apresentar a doença, como Chow-chow, Labrador Retriever
e Akita, e que outros fatores, como agentes infecciosos, agentes ambientais e dermatopatias
crônicas, também devem ser considerados (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2005).

2.1.1. Pênfigo Foliáceo (PF)


Forma mais comum de pênfigo e de dermatopatia auto-imune na clínica de pequenos animais,
o PF também é chamado de Doença de Cazenave (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2005;
COSTA-VAL, 2006). Não há predisposição comprovada de sexo ou idade, entretanto, algumas
raças, como Akita, Chow-chow, Daschshund e Pastor de Shetland são apontadas como mais
predispostas (COSTA-VAL, 2006). Um estudo epidemiológico em São Paulo demonstrou maior
ocorrência da doença em cães sem raça definida, Cocker Spaniel, Dachshund, Poodle e Akita,
como indicado no Gráfico 1 (BALDA ET AL., 2005).
GRÁFICO 1: Ocorrência de pênfigo foliáceo de acordo com a raça no SRD
HOVET-USP de 2000 a 2005 Cocker Spaniel
Dachshund
Poodle
Akita
Lhasa Apso
Pinscher
Boxer
Pitt Bull
Setter irlandês
Schnauzer
Dogue Alemão
Fonte: BALDA ET AL. (2005)
Dogo Argentino
Fox Terrier

2.1.1.1. Apresentação clínica


O PF é caracterizado pelo aparecimento repentino de uma dermatite pustular (BALDA ET AL.,
2005; LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). As pústulas são lesões efêmeras, de difícil
visualização, irregulares e com diâmetro de 1 a 10 mm (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).
Normalmente são observados colaretes epidérmicos, alopecia, eritema, erosões e crostas,
conforme demonstrado pelo Gráfico 2 (BALDA ET AL., 2005; LARSSON, 2006). O sinal de
Nikolsky pode estar presente. As lesões são inicialmente constatadas na face e pinas, com
envolvimento posterior da região inguinal, patas e coxins plantares, nos quais pode haver
hiperqueratose com vilosidades (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). O envolvimento de
mucosas ou junções muco-cutâneas é muito raro, mas pode haver despigmentação nasal,
causando fotodermatite (BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL, 2006). Em felinos, as lesões
estão principalmente localizadas na cabeça, especialmente nas regiões periocular,
periauricular, plano nasal e pinas. Em seguida são mais comumente afetadas as patas, ventre,
abdome e cauda. As lesões nas patas normalmente envolvem a base das unhas, na qual há
formação de exsudato purulento e crostas amareladas (ANGUS, 2005).

A generalização das lesões pode ocorrer em até um ano, mas, na maioria dos casos, ocorre
em até 6 meses (LARSSON, 2005). Anorexia, febre e depressão são comuns em animais
intensamente afetados (COSTA-VAL, 2005). Dor e prurido ocorrem em graus variados
(LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).
Fig 2: Pústulas,
pápulas e crostas
em um Labrador de
6 anos com PF.

Fonte: MUELLER (2006)

Gráfico2: Porcentagem de lesões observadas em cães com


Pênfigo Foliáceo atendidos no HOVET-USP de 2000 a 2005
(Adaptado de Balda et al, 2005)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
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Cr

Fonte: BALDA ET AL. (2005)

2.1.1.2. Diagnóstico
O diagnóstico é baseado em dados de anamnese, histórico, exame físico e exames
laboratoriais de citologia, histopatologia, imunofluorescência (direta ou indireta) e
imunohistoquímica (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005; STEEVES ET AL, 2002; COSTA-
VAL, 2006).

A avaliação citológica do conteúdo das pústulas pela Técnica de Tzanck normalmente revela a
presença de neutrófilos íntegros e de acantócitos, isolados ou em grupo, além da ausência de
bactérias (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). Se houver infecção
bacteriana secundária, neutrófilos degenerados e bactérias podem estar presentes (COSTA-
VAL, 2006).
O exame histopatológico pode ser realizado com material retirado de lesão pustular recente,
preferencialmente recolhido por biópsia incisional (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). O
que se observa na lâmina é acantólise subcorneal ou intergranulosa, que resulta em
descolamento epidérmico e formação vesicular (BALDA ET AL, 2005; LARSSON, 2005;
COSTA-VAL, 2006).

Fig 3: Pústula
intracorneal e áreas de
degeneração hidrópica
com formação de
vesículas (Seta) em pele
de uma cabra com PF –
HE. Obj 10X

Fonte: MACEDO ET AL. (2008)

Fig 4: Pústula
intracorneal com
neutrófilos, eosinófilos e
células acantolíticas
(seta) – Pele de cabra
com PF – HE. Obj 40X

Fonte: MACEDO ET AL. (2008)


Fig. 5: Epiderme de cão
com PF: coloração para
desmogleína demonstrando
depósitos do corante na
periferia de queratinócitos
individuais no extrato
espinhoso da epiderme.
Esc: 10μm

Fonte: STEEVES ET AL. (2002)

Fig.6: Coloração
imunohistoquímica para
desmogleína em epiderme de
cão com PF. Coloração escura
do citplasma dos queratinócitos
com células acantolíticas em
pústula epidérmica. Esc: 10μm.

Fonte: STEEVES ET AL. 2002

No teste de imunofluorescência direta, observa-se deposição epidérmica intercelular de IgG


e/ou complemento. Em humanos, excepcionalmente observa-se também IgM (BALDA ET AL.,
2005; RIVITTI ET AL, 1990). Na imonufluorescência indireta, que pesquisa a presença de
anticorpos voltados à substância cementante, geralmente não são obtidos resultados positivos
em cães, mas há sugestões na literatura de que titulações sequenciais de anticorpos séricos
podem ser úteis na monitoração da atividade do PF canino (BALDA ET AL., 2005).

Fig 7: Imunoflorescência direta demonstrado


a deposição de IgG na superfície celular dos
queratinócitos em toda a epiderme, exceto na
membrana basal, de cão. X 40.

Fonte: YABUZOE ET AL. (2008).

A coloração de fragmentos lesionais e peri-lesionais por imunohistoquímica evidencia um


padrão alterado na expressão da desmogleína I e coloração de citoplasma de células
acantolíticas (STEEVES ET AL., 2002).

Os principais diagnósticos diferenciais são a foliculite bacteriana, dermatofitose, demodicose,


lúpus eritematoso, dermatite pustular subcorneal, leishmaniose, dermatoses seborreicas,
farmacodermias, pênfigo eritematoso e impetigo bolhoso (ANGUS, 2005; BALDA ET AL., 2005;
LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).

2.1.1.3. Tratamento
A cura completa da doença é dificilmente obtida pelos tratamentos disponíveis. Portanto, o
objetivo principal da terapia é minimizar os efeitos do PF (BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL,
2006).

O tratamento preconizado para cães e gatos com PF é baseado no uso de corticoesteróides,


especialmente a prednisona e prednisolona (LARSSON, 2005). Lesões discretas podem ser
tratadas com esteróides tópicos, que tem a capacidade de inibir a fagocitose leucocitária,
quimiotaxia e síntese dos fatores de ativação do plasminogênio (COSTA-VAL, 2006). A dose
de prednisona oral deve ser suficiente para causar uma imunossupressão (2,2 a 4 mg/kg),
durante dez a quatorze dias, tempo após o qual normalmente não são observadas mais lesões.
A partir desse momento, é iniciada a redução gradual da dose, até que se chegue à dose de
manutenção, que é de aproximadamente 0,5 a 1,1 mg/kg. A maioria dos animais têm remissão
completa do quadro em dez semanas (LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006). Em grande parte
dos casos, entretanto, a terapia isolada de corticoesteróide não é suficiente para a remissão da
doença. Portanto, pode ser feita uma associação de prednisona (1 a 2 mg/kg) e azatioprina
(0,5 a 1 mg/kg/2x dia), que é uma droga citoestática. Dessa forma, há potencialização dos
efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores dos glicocorticóides, além de redução da dose
(BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL, 2006). Em gatos o tratamento pode ser feito com
clorambucil (0,1 a 0,2 mg/kg/48h), que é a droga mais usada (COSTA-VAL, 2006). Outra
alternativa para felinos é a terapia com corticoesteróides como a prednisolona (4 a 6
mg/kg/dia), triamcinolona (0,4 a 0,8 mg/kg/dia), metilprednisolona (3 a 5 mg/kg/dia) ou
dexametasona (0,4 a 0,6 mg/kg/dia) (ANGUS, 2005). A azatioprina é contra-indicada para
gatos, pois pode causar leucopenia e trombocitopenia fatais e irreversíveis (COSTA-VAL,
2006). Infecções bacterianas secundárias são comuns e devem ser tratadas com
antibioticoterapia (BALDA ET AL., 2005).

2.1.1.4. Prognóstico
O prognóstico do PF varia de reservado a bom. Quando o diagnóstico é feito de forma precoce
é possível controlar a doença (ANGUS, 2005; BALDA ET AL., 2005; COSTA-VAL, 2006). Os
efeitos colaterais da terapia devem ser observados com cautela, já que podem levar os
pacientes ao óbito (COSTA-VAL, 2006). Portanto, é altamente recomendada uma monitoração
periódica e cuidadosa, a fim de se evitar efeitos colaterais graves como depressão medular,
trombocitopenia e nefrotoxicidade (COSTA-VAL, 2006).

2.1.2. Pênfigo Eritematoso (PE)


Considerada uma variante rara do Pênfigo Foliáceo, o Pênfigo Eritematoso, também conhecido
como Síndrome de Senear-Usher, é a segunda forma mais comum de pênfigo (GONSALVES-
HUBERS, 2005; COSTA-VAL, 2006). Há autores que consideram o PE como uma entidade
intermediária entre o PF e o lúpus eritematoso discóide, devido às suas características
imunopatológicas e histológicas (GONSALVES-HUBERS, 2005; COSTA-VAL, 2006). As raças
mais predispostas a apresentar o PE dão Pastores Alemães, Collies e Pastores de Shetland
(GONSALVES-HUBERS, 2005).

2.1.2.1. Apresentação clínica


O que se observa clinicamente é uma dermatite pustular eritematosa de aparecimento súbito,
similar ao PF. As lesões principais, restritas à face e pavilhão auditivo externo, são
caracterizadas por formação de crostas, descamação, alopecia, erosão e colaretes
epidérmicos (LARSSON, 2005; OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). Acometimento nasal é
comum, com despigmentação e fotodermatite (GONSALVES-HUBERS, 2005; COSTA-VAL,
2006). As lesões são exacerbadas se houver exposição à luz solar (OSBORN, 2006).
Fig 8 : Cow-chow com pênfigo eritematoso,
apresentando lesões crostosas e ulceradas
extensas no focinho e região peri-ocular

Fonte: GONSALVES-HUBERS (2005)

2.1.2.2. Diagnóstico
Após anamnese e exame clínico meticulosos, o teste de escolha para o diagnóstico definitivo
de PE é análise histopatológica de lesões coletadas por biópsia (MUELLER, 2005; OSBORN,
2006). As principais características histopatológicas do PE são acantólise subcorneal ou
intragranular com infiltrado linfocitário liquenóide de células mononucleares, células
plasmáticas, eosinófilos e/ou neutrófilos. Também são observados queratinócitos acantócicos
(GONSALVES-HUBERS, 2005; LARSSON, 2005; COSTA-VAL, 2006).

No exame de imunoflorescência direta são observados anticorpos ligados ao espaço


intracelular da epiderme e na membrana basal de uma amostra histopatológica (MUELLER,
2005; OSBORN, 2006).

Os principais diagnósticos diferenciais de PE são lúpus eritematoso sistêmico ou discóide,


micose fungóide, eritema multiforme, vitiligo, pênfigo foliáceo, dermatofitose e dermatite
bacteriana (COSTA-VAL, 2006).

2.1.2.3. Tratamento
O tratamento inicial do PE pode ser baseado em terapia tópica com corticoesteróides e evitar a
exposição solar (LARSSON, 2006; COSTA-VAL, 2006). Aproximadamente um quarto dos
animais responde bem à terapia combinada de tetraciclina oral e niacinamida. A tetraciclina
age inibindo a quimiotaxia, a ativação do complemento, a síntese de prostaglandinas e as
lípases e colagenases. Já a niacinamida inibe a degranulação dos mastócitos (COSTA-VAL,
2006). A dose utilizada é de 500mg de cada droga administradas por via oral, três vezes por
dia, em cães com mais de dez quilos. Animais com menos de dez quilos devem receber 250mg
de cada medicamento, na mesma frequência (COSTA-VAL, 2006). Animais não responsivos a
esse protocolo podem ser tratados com corticoesteróides sistêmicos, combinados ou isolados,
semelhantemente ao tratamento do PF (MUELLER, 2005; LARSSON, 2006; COSTA-VAL,
2006). O tratamento para gatos é semelhante ao protocolo para o PF (COSTA-VAL, 2006).

2.1.2.4. Prognóstico
Os efeitos colaterais do tratamento são semelhantes aos do PF. O prognóstico do PE também
é de bom a reservado, mas normalmente o controle é de mais fácil obtenção por se tratar de
uma doença de localização mais restrita (GONSALVES-HUBERS, 2005; LARSSON, 2006;
COSTA-VAL, 2006).

2.1.3. Pênfigo Vulgar (PV)


O Pênfigo Vulgar é a forma mais grave e mais incomum do complexo Pênfigo. Acomete cães e
gatos e, sem tratamento, pode ser fatal (MACEDO ET AL., 2008; OSBORN, 2006). Não há
predileção de sexo e é observada principalmente em animais de meia-idade (OSBORN, 2006).
Há autores que a consideram mais comum em animais de raça pura como Poodles,
Schnauzers, Cockers e Pastores Alemães (LARSSON, 2006).

Nessa variedade de pênfigo, o componente celular alvo dos autoanticorpos é principalmente a


desmogleína III (BREATHNACH, 2008). Esse constituinte se localiza nas camadas mais
profundas da epiderme, normalmente logo acima da membrana basal, o que resulta na
formação de vesículas mais profundas e, consequentemente, mais resistentes (WASCHKE,
2008).

2.1.3.1. Apresentação clínica


O PV é caracterizado por lesões vesiculares ou bolhosas suprabasilares em junções
mucocutâneas e cavidade oral, mas podem atingir quaisquer outros locais do corpo, como
axilas e virilha (BREATHNACH, 2008; MACEDO ET AL., 2008; OSBORN, 2006). Essas
formações tem duração relativamente longa e, quando se rompem, resultam na ocorrência de
úlceras (BREATHNACH, 2008; LARSSON, 2006). O acometimento oral, que pode vir
acompanhado de glossites, estomatites ou gengivite, é a alteração de maior ocorrência na
apresentação inicial dos pacientes (BREATHNACH, 2008; LARSSON, 2005; OSBORN, 2006).
Infecções bacterianas secundárias, com a formação de pústulas, eritema e colaretes
epidérmicos, são comuns e podem levar ao acometimento sistêmico (BREATHNACH, 2008;
OSBORN, 2006). Dor, comum nesses casos, e prurido ocorrem em graus variáveis
(BREATHNACH, 2008; FUKUSHIMA, 1982). O sinal de Nikolsky pode estar presente
(FUKUSHIMA, 1982).
Geralmente os animais estão severamente acometidos e a progressão da doença ocorre com
debilitação grave devido à disfagia, prostração, hipertermia e dor intensa. Essa debilitação
comumente leva ao óbito (LARSSON, 2005).

Fig 9: Colaretes epidérmicos e


lesões crostosas em virilha de cão
com PF

Fonte: LOPEZ (2002)

2.1.3.2. Diagnóstico
Dados de anamnese e exame clínico dão o direcionamento inicial do diagnóstico, mas ele só
pode ser considerado definitivo após avaliação histopatológica (BREATHNACH, 2008). O que
se observa na histopatologia de lesões coletadas por biópsia é acantólise nas camadas
profundas da epiderme (extrato espinhoso) e vesículas suprabasilares (BREATHNACH, 2008;
MACEDO ET AL, 2008; OSBORN, 2006).

Na micrografia com imunoflorescência observa-se agregação de imunoglobulinas na


desmogleína III de superfície celular (SATO, AOYAMA E KITAJIMA, 2000).

Fonte: SATO, AOYAMA E KITAJIMA (2000)


Fig 10: Micrografias com imunofluorescência demonstrando a agregação lateral da desmogleína III induzida por
imunoglobulinas no PV.

2.1.3.3. Tratamento
O protocolo de tratamento é semelhante àquele utilizado no pênfigo foliáceo. Entretanto, o
controle é de mais difícil obtenção e, normalmente, é necessária uma terapia com várias
drogas (OSBORN, 2006). A maioria dos animais é tratado com uma combinação de esteróides
com agentes imunossupressores, como azatioprina, ciclofosfamida ou metrotexato. O objetivo
do tratamento é o controle dos sintomas sendo que são necessários a manutenção e o
monitoramento durante toda a vida do paciente (FUKUSHIMA, 1982).

2.1.3.4. Prognóstico
O prognóstico do PV é reservado devido à grande incidência de infecções secundárias, às
altas doses de medicação necessárias para o controle da doença e à dificuldade em manter o
animal em remissão (OSBORN, 2006).

2.2. Lúpus Eritematoso


São duas as formas de lúpus descritas: Lúpus Eritematoso Discóide (LED) e Lúpus
Eritematoso Sistêmico (LES). O LED é uma apresentação benigna do LES, que se trata de
uma alteração autoimune multissistêmica do tipo III (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). Em
ambos os casos, são produzidos auto-anticorpos contra diversos componentes celulares
(BERBERT; MANTESE, 2005).

2.2.1. Lúpus Eritematoso Discóide (LED)


Segunda desordem autoimune mais comum em cães, o LED também é observado em
humanos e gatos (MUELLER, 2005; COSTA-VAL, 2006). Diferentemente do que ocorrem em
humanos, normalmente não ocorrem sinais clínicos sistêmicos (COSTA-VAL, 2006).

2.2.1.1.Mecanismo patológico
Os anticorpos são, nos dois tipos de lúpus, produzidos contra constituintes celulares
sistêmicos. Entretanto, no LED, há deposição dos complexos antígenos-anticorpos na pele,
causando as lesões cutâneas observadas clinicamente (COSTA-VAL, 2006).

A patogênese do LED não foi bem elucidada, mas o que se observa é que grande parte dos
animais tem piora dos sinais clínicos após exposição à luz solar (MUELLER, 2005). Há indícios
de algum tipo de influência genética e as principais raças acometidas são Collies, Pastores de
Shetland, Pointers Alemães de pelo curto e Huskies Siberianos (BREATHNACH, 2008;
MUELLER, 2005; MUELLER, 2007).

O suposto mecanismo etiopatogênico responsável pelo desencadeamento dos quadros de LED


é demonstrado na Figura 11. Nessa hipótese, considera-se que a radiação ultravioleta induz a
expressão de autoantígenos, citoplasmáticos e nucleares, na superfície da membrana celular
dos queratinócitos. Então, há produção de autoanticorpos que se ligam aos antígenos
superficiais dos queratinócitos na membrana basal (LARSSON; OTSUKA, 2000).
Fonte: LARSSON; OTSUKA (2000)
Fig 11: Esquema do mecanismo etiopatogênico do LED (Larsson e Otsuka. 2000).

2.2.1.2. Apresentação clínica


Normalmente as lesões estão restritas à face, entretanto, há descrição de acometimento de
genitália e membros (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). As lesões iniciais são
despigmentação, eritema e descamação, principalmente do focinho (Angus, 2005; MUELLER,
2005; OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). O plano nasal perde sua “arquitetura de
calçamento” característica, ficando mais liso, com alteração de cor, que passa de preta para
cinza-azulada (MUELLER, 2005; OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).

Fig. 12: Erosões no plano nasal


em um cão com LED

Fonte: www.naturalcanine.com
Fig. 13: Despigmentação do
plano nasal em um cão com LED

Fonte: www.naturalcanine.com

Em alguns casos há despigmentação da região peri-ocular, lábios, pina, terceira pálpebra e


cavidade oral (MUELLER, 2005; COSTA-VAL, 2006). Posteriormente há ulceração, erosão e
formação de crostas (GERONYMO ET AL., 2005; MUELLER, 2005).

As alterações são observadas primeiramente na junção entre o plano nasal e a pele com pêlos,
ou ao longo das regiões ventral ou medial das dobras alares. Com a progressão da doença há
acometimento nasal mais extenso e do focinho. Pode haver dor e/ou prurido, em graus
variáveis (COSTA-VAL, 2006).

Há agravamento das lesões em épocas do ano e locais com maior incidência de luz solar.
Normalmente não há sinais de acometimento sistêmico (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).

Fig. 14: Lesões


ulcerativas, com perda
da arquitetura de
“calçamento” do
focinho de um cão com
LED

Fonte: my-pet-medicine.com
2.2.1.3. Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na anamnese, achados de exame clínico e avaliação histopatológica
(LARSSON; OTSUKA, 2000). O diagnóstico definitivo deve ser feito após a observação de um
fragmento de lesão coletado por biópsia (LARSSON; OTSUKA, 2000; MUELLER, 2005;
COSTA-VAL, 2006).

A histopatologia revela depósitos de imunoglobulinas na membrana basal (“linha de lúpus”)


(MUELLER, 2005). Além disso, há características de uma dermatite hidrópica ou liquenóide (ou
ambas), degeneração hidrópica focal de células epidérmicas basais, incontinência de
pigmentação, queratinócitos apoptóticos, severo acúmulo de células mononucleares e
plasmócitos ao redor de vasos dérmicos, mucinose dérmica e inflamação na junção
dermoepidermal (LARSSON; OTSUKA, 2000; OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).

Na imunofluorescência direta evidenciam-se depósitos de imunoglobulinas e/ou complemento


ao longo da membrana basal, de aspecto linear a granuloso, regular ou irregular (LARSSON;
OTSUKA, 2000).

Os principais diagnósticos diferenciais do LED são dermatite solar nasal, LES, pênfigo foliáceo,
pênfigo eritematoso, farmacodermias, síndrome uveodermatológicas, vitiligo, micose fungóide,
dermatite de contato, carcinoma espinocelular, dermatomiosite familiar canina, demodicose,
dermatofitose, piodermites e ceratose naso-digital (LARSSON E OTSUKA, 2000; COSTA-VAL,
2006).

2.2.1.4. Tratamento
A não exposição à luz solar é de grande importância, associada à administração tópica de
corticoesteróides e uso de protetores solares (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006). O uso
local de corticóides deve ser feito até a remissão dos sintomas (LARSSON; OTSUKA, 2000;
COSTA-VAL, 2006). Também é amplamente utilizada a terapia complementar com vitamina E
(200 a 400 UI/animal/2x dia/VO) (LARSSON; OTSUKA, 2000; COSTA-VAL, 2006).

Nos casos refratários à terapia tópica, pode-se fazer o uso de corticóides sistêmicos, também
associados à administração de vitamina E, até a remissão dos sintomas. Em seguida, é feita a
manutenção da remissão com corticóides tópicos (GERONYMO ET AL., 2005; COSTA-VAL,
2006).

A associação de tetraciclina e niamicida, semelhantemente ao protocolo para o PE, é utilizada


com eficácia de 14% a 65% (MUELLER; OTSUKA, 2000; OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).
2.2.1.5. Prognóstico
O prognóstico do LED é normalmente bom, mas é importante lembrar que a terapia deve ser
mantida por toda a vida do paciente e que os efeitos colaterais do tratamento não devem ser
piores que os sintomas da doença (OSBORN, 2006; COSTA-VAL, 2006).

2.3. Penfigóide Bolhoso (PB)


O penfigóide bolhoso (PB) é um conjunto de dermatoses autoimunes vesiculares que afetam
seres humanos e animais (OLIVRY ET AL,, 1999; SOUSA ET AL,, 2005). A etipatogenia do PB
envolve a produção de auto-anticorpos que atacam proteínas hemi-desmossômicas da junção
dermo-epidérmica, causando a formação de vesículas sub-epidermais (BREATHNACH, 2008;
OLIVRY ET AL,, 1999; SOUSA ET AL,, 2005).

2.3.1. Apresentação clínica


Clinicamente são observadas lesões vesiculo-bolhosas, ulcerativas, normalmente localizadas
na boca, junções muco-cutâneas, axilas, virilha e coxins plantares. Há grande semelhança com
as lesões do complexo pênfigo, mas no PB a ulceração é, geralmente, mais severa
(BREATHNACH, 2008). Alguns autores indicam que algumas raças, como os Collies, são mais
pré-dispostas a desenvolver essa enfermidade (BREATHNACH, 2008). Em felinos as lesões
ocorrem normalmente na comissura labial, mucosa oral e os aspectos côncavos e sem pêlos
das pinas (OLIVRY ET AL., 1999).

Fig. 15: Lesões ulcerativas de PB


em coxim plantar de cão

Fonte: DUNSTAN (2008)

2.3.2. Diagnóstico
Após anamnese e avaliação clínica, os principais exames para o diagnóstico do PB são a
histopatologia de lesões sub-epidermais, testes imunológicos e teste de imunofluorescência
(BREATHNACH, 2008).
Histopatologicamente, o que se observa é separação entre a derme e a epiderme sem citólise
de queratinócitos basais (OLIVRY ET AL., 1999). Há ainda a presença de bolhas sub-
epidérmicas com infiltrado inflamatório rico em eosinófilos granulócitos, neutrófilos, linfócitos e
células dendríticas e histiocíticas (OLIVRY ET AL, 1999; SOUSA ET AL, 2005).

Fig 16: Separação


dermoepitelial em
mucosa oral de gato
com PB. HE. Esc:
150μm.

Fonte: OLIVRY ET AL. (1999)

Os estudos imunológicos são descritos em humanos, nos quais é possível detectar antígenos
séricos circulantes, antimembrana basal e antidesmossomos, em 70% dos casos (SOUSA ET
AL., 2005).

Na imunoflorescência direta é evidenciado a distribuição linear de IgG e complemento na


junção dermoepidermal (OLIVRY ET AL., 1999). Os estudos de imunoblotting indicam o tipo
de antígeno imunodesmossômico envolvido (OLIVRY ET AL., 1999; SOUSA ET AL., 2005).

2.3.3. Tratamento
O tratamento de eleição é a terapia tópica a base de corticoesteróides. Durante a fase aguda
da doença podem ser utilizados corticóides orais, até a resolução das lesões bolhosas (SOUSA
ET AL., 2005).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As alterações cutâneas de etiopatogenia autoimune são, de uma forma geral, incomuns em


pequenos animais. Desse grupo de patologias, as de maior ocorrência são as do complexo
pênfigo, o lúpus eritematoso discóide e o penfigóide bolhoso.

O complexo pênfigo compreende três principais formas clínicas: pênfigo foliáceo, pênfigo
eritematoso e pênfigo vulgar. O pênfigo foliáceo é a dermatose autoimune mais comum em
cães e gatos. O pênfigo eritematoso é uma enfermidade considerada como intermediária entre
o pênfigo foliáceo e o lúpus eritematoso, por conter características de ambas as doenças. O
pênfigo vulgar é a forma mais grave e mais rara do complexo pênfigo.

O lúpus eritematoso discóide é a segunda alteração cutânea autoimune mais comum em


pequenos animais. Trata-se de uma doença cuja etipatogenia, apesar de pouco elucidada, está
intimamente relacionada à exposição à luz solar.

O penfigóide bolhoso compreende um conjunto de alterações vesiculares e ulcerativas que


acomete cães e gatos.

Para todas as dermatoses autoimunes o diagnóstico definitivo é feito pela avaliação


histopatológica das lesões coletadas por biópsia. Como a apresentação clínica pode ter
semelhanças entre as doenças, as diferenças microscópicas permitem que se chegue ao
diagnóstico conclusivo.

O tratamento é baseado principalmente na utilização de drogas que causam imunossupressão,


como corticoesteróides. Na maioria dos casos é necessária a manutenção durante toda a vida
do animal.

O prognóstico varia de bom a reservado, de acordo com a doença. Um dos maiores problemas
é que todas essas patologias são de manutenção contínua e, de uma forma geral, as drogas
utilizadas no tratamento causam diversos efeitos colaterais, muitas vezes fatais, a longo prazo.
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