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Pênfigo Foliáceo Canino: Relato de Caso 1

I. Pênfigo Foliáceo Canino: Relato de Caso


Nathalia Pereira Barbosa1 (http://lattes.cnpq.br/6939068419336634), Mariane Borges da
Silva2* (http://lattes.cnpq.br/5482206020537563)
1Estudante de Graduaçãoem Medicina Veterinária na Universidade São Judas - USJ São Paulo - SP, Brasil.
2M.V. Dra. Professora Orientadora da Universidade São Judas - USJ, Departamento de Clínica de Pequenos Animais São
Paulo - SP, Brasil.
*Autor para correspondência, E-mail: nathalia.p.barbosa@hotmail.com

Resumo. As afecções dermatológicas imunomediadas são consideradas raras na rotina


clínica, contudo, podem ser divididas em autoimune (primária) e imunomediada
(secundária). O Complexo Pênfigo é um grupo de afecções autoimunes raras, que incluem
o Pênfigo Foliáceo, o Pênfigo Eritematoso, o Pênfigo Vulgar, Pênfigo Vegetante e o
Pênfigo Paraneoplásico, contudo, tem-se observado com mais frequência na clínica médica
de pequenos animais a presença de Pênfigo Foliáceo, com alterações que incluem lesões
dérmicas de pápulas e pústulas, erosões, crostas, colarinhos epidérmicos, alopecia
e despigmentação localizadas na ponte nasal, orelhas e região periocular, coxins,
leito ungueal ou até mesmo generalizado. O diagnóstico pode ser obtido através de
exame clínico e exame complementar histopatológico. O tratamento é realizado
através de imunossupressão e o prognóstico varia entre bom e reservado devido ao
tratamento prolongado que pode desencadear efeitos adversos. Com intuito de
trabalhar o raciocínio clínico em relação a esta doença pouco frequente na clínica
médica de pequenos animais, objetivou-se apresentar um relato de caso de Pênfigo
Foliáceo em um cão, macho, Lhasa-Apso, 10 anos de idade, atendido pela clínica
Mundo Rural, em Diadema, São Paulo.

Palavras chave: afecções dermatológicas, doenças imunomediadas, pênfigo foliáceo

Canine Pemphigus Foliaceous: Clinical Case


Abstract. Immune-mediated dermatological disorders are considered rare in clinical
routine, however, they can be divided into the autoimmune category (primary) and
immune-mediated (secondary). The Pemphigus Complex is a group of rare autoimmune
affections, which include Pemphigus Foliaceus, Pemphigus Erythematosus, Pemphigus
Vulgaris, Pemphigus Vegetative and Paraneoplastic Pemphigus, however the presence
Pemphigus Foliaceus has been observed more frequently in the medical clinic of small
animals, with changes that include dermal lesions of papules and pustules, erosions, crusts,
epidermal collars, alopecia and depigmentation located in the nasal bridge, ears and
periocular region, cushions, nail area or even generalized. Diagnosis can be obtained
through clinical examination and complementary histopathological examination.
Treatment is performed through immunosuppression and the prognosis varies between
good and reserved due to prolonged treatment that can trigger adverse effects. In order to
work the clinical reasoning in relation to this uncommon disease in the medical clinic of
small animals, the objective was to present a case report of Pemphigus Foliaceus in a male
dog, Lhasa-Apso, 10 years old, attended by the clinic Mundo Rural, in Diadema, São Paulo.
Keywords: dermatological disorders, immune-mediated disorders, pemphigus foliaceous

Introdução
O Pênfigo Foliáceo (PF) é uma afecção de etiologia autoimune que afeta cães e gatos, embora seja
mais comum nos cães (Shumaker, 2015). Esta é a mais comum dentre as variações das doenças do

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Complexo Pênfigo, sendo elas a Pênfigo Foliáceo, o Pênfigo Eritematoso, o Pênfigo Vulgar, Pênfigo
Vegetante e o Pênfigo Paraneoplásico (Tecsa, 2017).
É caracterizada por afetar a epiderme que é composta principalmente por queratinócitos, afetando as
moléculas de adesão que os mantém unidos (Shumaker, 2015). Os sinais clínicos incluem lesões
dérmicas de pápulas e pústulas, erosões, crostas, colarinhos epidérmicos, alopecia e despigmentação
localizadas na ponte nasal, orelhas e região periocular, coxins, leito ungueal ou até mesmo generalizado
(De Nardi et. al., 2018). Outros sinais são prurido, anorexia, depressão, perda de peso e hipertermia
(Zanholo, 2011), além de infecção bacteriana secundária, devido ao comprometimento da defesa
imunológica (Barbosa et al., 2012 apud. Larsson et al., 1998).
Para diagnóstico, deve-se analisar o histórico clinico através de anamnese, exame físico e exames
complementares, que incluem biopsia das lesões primárias para posterior avaliação histopatológica,
considerado o exame ideal para o diagnóstico preciso (Balda et al., 2008), exames citológicos também
são utilizados. Outros métodos complementares para diagnóstico são mencionados por autores, contudo,
são pouco utilizados por sua inviabilidade devido ao custo ou por serem pouco confiáveis, como o teste
de anticorpos antinucleares (ANA), imunofluorescência ou imunohistoquímica. O tratamento para
qualquer tipo de pênfigo é minimizá-lo através de imunossupressão com uso de glicocorticoides ou anti-
inflamatórios esteroidais.
Com intuito de trabalhar o raciocínio clínico em relação a esta doença pouco frequente na clínica
médica de pequenos animais, objetivou-se apresentar um relato de caso de Pênfigo Foliáceo em um cão,
macho, Lhasa-Apso, 10 anos de idade, atendido pela clínica Mundo Rural, em Diadema, São Paulo.

Relato de Caso
Foi atendido na Clínica Veterinária Mundo Rural no dia 29 de março de 2021, animal da espécie
canina, macho, raça Lhasa-Apso, pesando 9,5 quilos, com 10 anos de idade, apresentando queixa de
eritema e crostas ao redor da boca e por toda extensão da pele. Ao exame físico, animal apresentava-se
hidratado, com mucosas normocoradas, temperatura retal de 38,4ºC, auscultação cardiopulmonar dentro
dos parâmetros de normalidade e apresentava-se ativo. Pensando num possível quadro de piodermite, o
tratamento ambulatorial feito neste primeiro contato foi a associação do fármaco corticosteroide
triancinolona na dose de 0,1 mg/ Kg com o fármaco antibiótico à base de penicilina G procaína (20.000-
40.000 UI/ Kg), penicilina G benzatina (40.000 UI/ Kg) e sulfato de dihidroestreptomicina (5-12mg/
Kg), por via subcutânea, com solicitação de retorno após 72h para reavaliação.
No primeiro retorno realizado no dia 31 de março de 2021, animal apresentou melhora das lesões,
desta forma, receitou-se suplemento vitamínico composto por aminoácidos, vitaminas, probióticos e
prebióticos (Promun Dog), na dose de 2g por dia, por via oral, com intuito de melhorar a resposta imune
do paciente, assim sendo, o retorno foi solicitado após 72h para acompanhamento.
No segundo retorno realizado no dia 03 de abril de 2021, o paciente apresentou pústulas em região
cervical. Desta forma, pensando em tratar os sinais clínicos, receitou-se a administração de
marbofloxacina, na dose de 2,75 mg/ Kg, SID, por via oral, durante 15 dias. O terceiro retorno foi
realizado no dia 07 de abril de 2021 e o paciente mostrou-se responsivo ao tratamento do quadro clínico,
além de normodipsia e normofagia, contudo, a presença de pequenas pústulas ainda foram observadas
na região cervical, desta forma, solicitou-se a realização de banhos alternados a cada três dias com
xampu antifúngico e antibacteriano à base de clorexidine a 2% e miconazol a 2,5% e xampu hidratante
à base de germe de trigo, glicerina, queratina e lipossomas, para auxílio do tratamento clínico
dermatológico.
Após vinte dias do último retorno, no dia 27 de abril de 2021 o paciente retornou com visível piora
do quadro clínico, apresentando intensa descamação, prurido intenso e odor fétido nas regiões de face e
auricular (figura 1). Ao exame físico, o paciente apresentou parâmetros vitais dentro da normalidade.
Levando em consideração a piora após tratamento para os sinais clínicos dermatológicos, optou-se por
realização de biópsia das lesões para realização de diagnóstico, contudo, para fornecer suporte ao
presente quadro do paciente, realizou-se tratamento ambulatorial com associação de triancinolona na
dose de 0,1 mg/ Kg e cefovecina sódica (Convenia) na dose de 8mg/ Kg, por via subcutânea.

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Figura 1. Alopecia em região de cabeça bilateralmente, orelhas e face com a pele apresentando lesões crostosas e
eritema. Arquivo pessoal, 2021.

Em retorno realizado no dia 29 de abril de 2021, não verificou-se nenhuma mudança do quadro
lesional dérmico, contudo, o paciente apresentou quadro de otite externa bilateral, desta forma, receitou-
se a administração de fármaco otológico composto por aceponato de hidrocortisona, sulfato de
gentamicina e nitrato de miconazol, SID, por via tópica em ambos condutos auditivos, por 10 dias; além
disso, coletou-se amostra sanguínea para realização de hemograma e bioquímico de perfil renal e
hepático. Ao exame laboratorial de hemograma e bioquímico de perfil renal e hepático, estes
demostraram quadro de anemia regenerativa macrocítica e demonstrou anisocitose. Verificou-se
também presença de eritroblastos, leucopenia e presença de bastonetes, contudo, verificou-se também
eosinofilia justificada devido aos danos teciduais crônicos e também apresentou diminuição severa de
plaquetas (tabela 1).

Tabela 1. Resultados de hemograma e bioquímico de perfil renal e hepático, de um cão com suspeita
de Pênfigo Foliáceo, atendido na clínica Mundo Rural - SP.
Hemograma Resultado Valores de Referência
Eritrócitos 2,82 4,0 a 7,0
Hemoglobina 8,4 14,0 a 19,0
Hematócrito 24 38 a 56
V.c.m 85,11 63 a 78
H.c.m 29,8 21,0 a 26,0
C.h.c.m 35 31 a 35
RDW 18,60 10 a 18
Eritroblastos 91,00 1
Proteína Plasmática Total 6,90 6,0 a 8,0

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Leucograma Resultado Valores de Referência


Leucócitos 3,50 6,0 a 16,0
Mielócitos 0,00 0
Metamielócitos 0,00 0
Bastonetes 3,00 0a1
Segmentados 60,00 55 a 80
Eosinófilos 11,00 1a9
Basófilos 0,00 0a1
Linfócitos Típicos 22,00 13 a 40
Linfócitos Atípicos 0,00 0
Monócitos 4,00 1a6
Contagem Plaquetária 19 200 a 500

Bioquímicos Resultado Valores de Referência


Creatinina 0,43 0,5 a 1,6
A.L.T (T.G.P) 22,00 7,0 a 92,0

No retorno realizado no dia 01 de maio de 2021, analisou-se o resultado do exame histopatológico,


que confirmou a suspeita diagnóstica de pênfigo. O laudo descreveu:
“Na análise macroscópica, os dois fragmentos coletados por punch medindo 1,0 x 0,7 x 0,5 cm
apresentaram-se irregulares e pardacentos e ao corte, aspecto firme e sólido; entretanto, na análise
microscópica observou-se cortes histológicos de pele representados por epiderme e derme. A epiderme
exibiu fendas suprabasilares e a base das fendas apresentaram aspecto de “fileira de lápides”, ainda,
houveram focos de ulceração recobertos por fibrina e neutrófilos. A derme exibiu infiltrado
inflamatório perivascular de linfócitos, plasmócitos e neutrófilos e perifolicular ístmico de histiócitos,
neutrófilos, plasmócitos, linfócitos e eosinófilos com ausência de glândulas sebáceas, além disso, houve
atrofia folicular e um dos fragmentos exibiu fibrose dérmica superficial”.
Levando em consideração o fato de que houve presença de infiltrado inflamatório perifolicular e
ausência de glândulas sebáceas que pode estar relacionado a adenite sebácea concomitante e a outras
condições como a leishmaniose, realizou-se teste rápido que mostrou-se negativo a esta doença. Ao
exame físico do paciente, este demonstrou reação favorável diante do tratamento ambulatorial realizado
anteriormente (figura 2), desta forma, confirmado o diagnóstico, receitou-se o tratamento com
prednisolona na dose de 2 mg/ Kg, SID, por 15 dias; após os 15 dias, solicitou-se que seja diminuído
para dose de 1,5 mg/ Kg, SID, por 5 dias e posteriormente para dose de 1 mg/ Kg, SID, por 30 dias;
também receitou-se doxiciclina, SID, na dose de 10 mg/ Kg, por 30 dias; e suplemento alimentar à base
de prebiótico (Betaglucanas, MOS), aditivo probiótico, zinco aminoácido quelato, palatabilizante e
vitamina E, SID, na dose de 1g, por 10 dias.

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Figura 2. Aspecto dermatológico após 48h do tratamento ambulatorial. Reepitelização em andamento, com
presença de crosta e pele menos eritematosa bilateralmente. Arquivo pessoal, 2021.

No retorno realizado no dia 03 de maio de 2021 (3º dia de tratamento), verificou-se discreta melhora
dos aspectos dermatológicos (Figura 3), além disso, o tutor relatou normorexia após o início do
tratamento.

Figura 3. Aspecto dermatológico após o tratamento imunossupressor. Presença de crostas e pele ainda eritematosa
bilateralmente. Arquivo pessoal, 2021.
No dia 05 de maio de 2021 (5º dia de tratamento), realizou-se novo retorno do paciente, onde
verificou-se resposta ainda positiva ao tratamento (figura 4), que foi mantido como solicitado
anteriormente. Ainda, foi feita nova colheita de amostra sanguínea para reavaliação por hemograma e
bioquímico de perfil renal e hepático. Os exames laboratoriais de hemograma e bioquímico de perfil
renal e hepático demostraram melhora mínima, contudo, ainda preservado o quadro de anemia
regenerativa macrocítica, visto que embora houve aumento, ainda mostraram-se abaixo dos valores de
referência os eritrócitos, as hemoglobinas e o hematócrito. Verificou-se leucocitose, com presença de
bastonetes e segmentados, eosinopenia devido ao tratamento com corticosteroides, monocitose e
eosinofilia justificados pelos danos teciduais crônicos e diminuição de plaquetas, ainda que melhor em
relação ao primeiro exame. Verificou-se também aumento da creatinina e ALT (Alanina amino
transferase), compatível com os efeitos adversos do tratamento farmacológico.

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A B
Figura 4. (A) Aspecto dermatológico lado direito, ainda com presença de crostas, mas com melhora significativa.
(B) Aspecto dermatológico lado esquerdo, com aparente redução de crostas e aparência menos eritematosa.
Arquivo pessoal, 2021.

No dia 11 de maio (11º dia de tratamento), realizou-se novo retorno do paciente para
acompanhamento da evolução do quadro, que se mostrou favorável quanto à cicatrização das lesões
dermatológicas (figura 5). Assim sendo, realizou-se limpeza das crostas com auxílio de solução
clorexidine 2% e gaze. Nenhuma alteração foi realizada no tratamento, mantendo-o conforme instruído
anteriormente.

A B
Figura 5. (A) Aspecto dermatológico lado direito com aparente redução de crostas e eritema. (B) Aspecto
dermatológico lado esquerdo, com presença de crostas apenas nos bordos e crescimento de pelame iniciado.
Arquivo pessoal, 2021.

Em retorno realizado no dia 13 de maio de 2021 (13º dia de tratamento), foi feito o acompanhamento
das lesões, que demonstraram visível melhora cicatricial (figura 6), contudo, notou-se presença de otite
externa em ambos condutos, desta forma, além do tratamento instruído anteriormente solicitou-se o
retorno do tratamento para otite realizado anteriormente.

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A B
Figura 6. (A) Aparência dermatológica lado direito com poucas crostas. (B) Aparência dermatológica lado
esquerdo ainda com crostas em bordos e crescimento de pelame em andamento. Arquivo pessoal, 2021.

Novo retorno foi realizado no dia 21 de maio de 2021 (21º dia de tratamento) e no acompanhamento
o tratamento atribuído revelou-se favorável (figura 7), não só em relação às lesões cicatrizadas, mas
também em relação a otite externa, desta forma, solicitou-se que o tratamento fosse mantido. No
atendimento ambulatorial, paciente apresentou parâmetros dentro da normalidade e aspecto ativo. Com
intuito de minimizar as lesões hepáticas devido aos efeitos adversos do tratamento, foi acrescentado o
uso de suplemento nutricional composto por ácidos graxos essenciais EPA e DHA, 1 cápsula, SID, uso
contínuo.

Figura 7. Aspecto dermatológico lado esquerdo, com melhora progressiva em relação às lesões crostosas e
eritema. Arquivo Pessoal, 2021.

Sabendo-se que esta afecção autoimune tem caráter incurável, o tratamento de imunossupressão para
o paciente deverá ser contínuo, seguindo com dose de manutenção, através de diminuição da dosagem
gradativa, até atingir a dose mínima efetiva.
Discussão
Segundo Shumaker (2015), acredita-se que a fisiopatologia desta afecção ocorre devido a
glicoproteína do desmossomo desmocolina-1 ser o alvo principal dos autoanticorpos. Após a ligação

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dos autoanticorpos, ocorre fusão com lisossomos resultando na ativação do plasminogênio, que será
convertido em plasmina e esta é responsável pela decomposição das moléculas de adesão. Estes eventos
resultarão na desunião dos queratinócitos e consequentemente, na formação de lacunas nas camadas
mais superficiais da epiderme, caracterizando assim os sinais clínicos comuns (Barbosa, et al., 2012
apud. Olivry e Chan, 2001; Scott, et al., 2001; Havery e Mckeever, 2004; Rosenkrantz, 2004; Val, 2006;
Balda et al., 2008; Medleau e Hnilica, 2009). Segundo Zanholo (2011) e De Nardi, et. al. (2018) os
sinais clínicos incluem lesões dérmicas primárias como pápulas e pústulas, além das lesões secundárias
que consistem nas erosões, crostas, colarinhos epidérmicos, alopecia e despigmentação localizadas na
ponte nasal, orelhas e região periocular, coxins, leito ungueal ou até mesmo generalizado, prurido,
anorexia, depressão, perda de peso e hipertermia, compatíveis com alguns dos sinais clínicos
encontrados no caso relatado, já que o animal apresentou quadro inicial de pequenas crostas e eritema
ao redor da boca, que posteriormente evoluiu para intensa descamação, prurido intenso e odor fétido nas
regiões de face e auricular. Ainda, foi observado por Barbosa et al. (2012) apud. Larsson et al. (1998)
que é possível o desenvolvimento de infecção bacteriana secundária, devido comprometimento da
defesa imunológica, fator que também ocorreu no paciente relatado, visto o quadro de otite
desenvolvida.
Para obtenção do diagnóstico, é preciso analisar uma somatória de fatores, incluindo o histórico
clinico do animal através de anamnese, exame físico minucioso para avaliação das lesões tegumentares
e exames complementares, que segundo Balda, et al. (2008) inclui biopsia das lesões primárias para
posterior avaliação histopatológica, considerado o exame ideal para o diagnóstico preciso, podendo ser
observadas pústulas subcorneanas contendo neutrófilos e células acantoliticas com quantidade variável
de neutrófilos (Zanholo, 2011), conforme ocorrido no caso estudado. Levando em consideração o fato
de que na análise do exame descrito neste relato houve presença de infiltrado inflamatório perifolicular
e ausência de glândulas sebáceas que pode estar relacionado a adenite sebácea concomitante e a outras
condições como a leishmaniose, realizou-se teste rápido de leishmaniose para descarte de suspeita.
O intuito do tratamento para qualquer tipo de pênfigo é minimizá-lo, desta forma, a terapia instituída
baseia-se na imunossupressão através do uso de glicocorticoides ou anti-inflamatórios esteroidais, sendo
o corticoide de eleição para cães o fármaco à base de prednisona, na dose de indução de 1 a 3 mg/ Kg,
VO, BID ou SID; já na dose de manutenção usa-se 0,5 mg/ Kg a cada 48 – 72h (De Nardi, et. al., 2018).
No presente caso, o tratamento utilizado foi prednisolona na dose de 2 mg/ Kg, SID, por 15 dias e,
levando em consideração que a diminuição da dosagem de indução para a dosagem de manutenção deve
ser feita gradativamente, até que atinja a dose mínima efetiva (Zanholo, 2011), já que o tratamento é
instituído por toda a vida do animal, o tratamento em questão seguiu com redução de dosagem após 15
dias do início do tratamento, com dose de 1,5 mg/ Kg, SID, por 5 dias e posteriormente para dose de 1
mg/ Kg, SID, por 30 dias. Sabendo-se que o animal deve ser avaliado como um todo, inclusive no caso
de possíveis doenças oportunistas, faz-se necessário o uso de antibioticoterapia em casos de infecções
secundárias (Zanholo, 2011) e banhos regulares com xampus hipoalergênicos e antisseborreicos para
eliminação das crostas (Crivellenti e BORIN-Crivellenti, 2012), o tratamento no paciente relatado
seguiu com doxiciclina 80 mg, SID, na dose de 10 mg/ Kg, por 30 dias e realização de banhos alternados
a cada três dias com xampu antifúngico e antibacteriano à base de clorexidine a 2% e miconazol a 2,5%
e xampu hidratante à base de germe de trigo, glicerina, queratina e lipossomas, além do fármaco
otológico composto por aceponato de hidrocortisona, nitrato de miconazol e sulfato de gentamicina,
ministrado SID, por via tópica em ambos condutos auditivos, por 10 dias, para auxílio no quadro de
otite secundária. Ainda, segundo Crivellenti e Borin-Crivellenti (2012), avaliações periódicas são
necessárias pelo menos a cada 15 dias e posteriormente mensal e semestral para pacientes compensados,
conforme realizado neste caso, pois o uso de corticosteroides desencadeia diversos efeitos colaterais,
desta forma, os exames de hemograma, bioquímico de perfil renal e hepático e urinálise, são úteis para
acompanhamento do quadro do paciente e adaptação da terapia (Barbosa, et al., 2012).
Conclusão
A Embora estas afecções não possuam sinais clínicos próprios e característicos que indiquem ser
afecção cutânea autoimune, diferente de outras afecções, as alterações cutâneas são facilmente
perceptíveis pelos tutores, assim, torna-se mais fácil a ida do animal a clínicas veterinárias, o que
possibilitará a avaliação para posterior diagnóstico. Contudo, é importante a observação e descarte dos

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diagnósticos diferenciais, que incluem outras afecções do complexo pênfigo, demodiciose,


dermatofitose, foliculite bacteriana superficial, lúpus eritematoso discoide, síndrome
uveodermatológica, farmacodermia, eritema multiforme, pustulose eosinofílica estéril, dermatose
necrolítica superficial, dermatose responsiva ao zinco, linfoma epiteliotrópico e dermatomiosite.
O prognóstico do Pênfigo Foliáceo tende a ser bom quando diagnosticado de forma precoce, quando
instituído o correto tratamento, bem como o controle dos efeitos adversos ocasionados mediante ao
tratamento. Em relação ao paciente relatado, embora o prognóstico tenha se mostrado favorável visto a
estabilidade do quadro dermatológico, o mesmo apresentou exames laboratoriais preocupantes, que
foram acompanhados de forma constante durante os meses seguintes, contudo, no mês de agosto de
2021, o animal acabou indo à óbito, acredita-se que devido aos efeitos adversos.

Referências bibliográficas

Balda, A. C.; Ikeda, M. O; Larsson Junior, C. E.; Michelany, N. S.; Larsson, C. E. Pênfigo foliáceo
canino: estudo retrospectivo de 43 casos clínicos e terapia (2000-2005). Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 28, n. 8, p. 387-392, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-
736X2008000800007.
Barbosa, M. V. F.; Fukaori, F. L. P.; Dias, M. B. M. C.; Lima, E. R. Patofisiologia do Pênfigo Foliáceo
em cães: revisão de literatura. Medicina Veterinária (UFRPE), v. 6, nº. 3, p. 26-31, 2012. Disponível
em: http://ead.codai.ufrpe.br/index.php/medicinaveterinaria/article/viewFile/613/492.
Crivellenti, L. Z.; Borin-Crivellenti, S. Casos de Rotina: em medicina veterinária de pequenos animais.
São Paulo: Medvet, 2012. 525 p.
De Nardi, A. B.; Roza, M. R.; Oliveira, A. L. A.; Silva, R. L. M. Dia-a-dia Tópicos Selecionados em
Especialidades Veterinárias. Curitiba: Medvep, 2014. 548 p.
Shumaker, A. Dermatologia de Pequenos Animais: doença cutânea autoimune canina. Veterinary Focus,
v. 25, nº 2, p. 2-6, 2015.
TECSA - Tecnologia em Sanidade Animal (2017). Pênfigo em Cães e Gatos. Disponível em:
https://bit.ly/3vragVF.
Zanholo, A. B. Pênfigo Foliáceo em Cães. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina
Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Júlio de Mesquita
Filho, Botucatu, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3iNRVxR.

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Instruções aos Autores

Revista PUBVET (Publicações Veterinárias e Zootecnia)

I. MODELO DE APRESENTAÇÃO DE ARTIGO ORIGINAL

O título (Fonte Times New Roman, estilo negrito, tamanho 16, espaçamento entre linhas simples,
somente a primeira letra da sentença em maiúscula, o mais breve possível- máximo 15 palavras).

José Antônio da Silva1, Carlos Augusto da Fonseca2*, ...José Antônio da Silva1, Carlos Augusto
Fonseca2*
Nomes de autores (ex., José Antônio da Silva1): Todos com a primeira letra maiúscula e o número 1,
2, 3, sobrescrito.

Afiliações: Filiações dos autores devem estar logo abaixo dos nomes dos autores usando os números 1,
2, 3, sobrescrito e o símbolo * para o autor de correspondência. Instituição (Universidade Federal do
Paraná), incluindo departamento (Departamento de Zootecnia), cidade (Curitiba), estado (Paraná) e país
(Brasil). Todos com a primeira letra maiúscula e E-mail eletrônico. (Fonte Times New Roman, estilo
Itálico, tamanho 9).
1Professor da Universidade Federal do Paraná, Departamento de Zootecnia. Curitiba –PR Brasil. E-
mail: contato@pubvet.com.br
2Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Cidade, Estado e País) – E-mail:
contatopubvet@gmail.com
*Autor para correspondência

Resumo: A palavra resumo em negrito. Fonte New Times Roman, Tamanho 11, Parágrafo justificado
com recuo de 1 cm na direita e 1 cm na esquerda. O resumo consiste não mais que 2.500 caracteres
(caracteres com espaços) em um parágrafo único, com resultados em forma breve e compreensiva,
começando com objetivos e terminando com uma conclusão, sem referências citadas. Abreviaturas no
resumo devem ser definidas na primeira utilização.

Palavras chave: ordem alfabética, minúsculo, vírgula, sem ponto final

Título em inglês

Abstract: Resumo em inglês. A palavra abstract em negrito.

Key words: Tradução literária do português

Título em espanhol (Opcional)

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Resumen: Resumo em espanhol. A palavra resumen em negrito.

Palabras clave: Tradução literária do português

Introdução
A palavra introdução deve estar em negrito e sem recuo. A introdução não deve exceder 2.000 caracteres
(caracteres com espaço) e justifica brevemente a pesquisa, especifica a hipótese a ser testada e os
objetivos. Uma extensa discussão da literatura relevante deve ser incluída na discussão.

Material e métodos
É necessária uma descrição clara ou uma referência específica original para todos os procedimentos
biológico, analítico e estatístico. Todas as modificações de procedimentos devem ser explicadas. Dieta,
dados de atividades experimentais se apropriado, animais (raça, sexo, idade, peso corporal, e condição
corporal [exemplo, com ou sem restrição de alimentação a água]), técnicas cirúrgicas, medidas e
modelos estatísticos devem ser descritos clara e completamente. Informação do fabricante deve ser
fornecida na primeira menção da cada produto do proprietário utilizado na pesquisa (para detalhes, ver
Produto Comercial). Devem ser usados os métodos estatísticos apropriados, embora a biologia deva ser
usada. Os métodos estatísticos comumente utilizados na ciência animal não precisam ser descritos em
detalhes, mas as adequadas referências devem ser fornecidas. O modelo estatístico, classe, blocos e a
unidade experimental devem ser designados.

Resultados e discussão
Na PUBVET os autores têm a opção de combinar os resultados e discussão em uma única seção.

Resultados
Os resultados são representados na forma de tabela ou figuras quando possível. O texto deve explicar
ou elaborar sobre os dados tabulados, mas números não devem ser repetidos no texto. Dados suficientes,
todos com algum índice de variação incluso (incluindo nível significância, ou seja, P-valor), devem ser
apresentados para permitir aos leitores interpretar os resultados do experimento. Assim, o P-valor
(exemplo, P =0.042 ou P < 0.05) pode ser apresentado, permitindo desse modo que os leitores decidam
o que rejeitar. Outra probabilidade (alfa) os níveis podem ser discutidos se devidamente qualificado para
que o leitor não seja induzido ao erro (exemplo as tendências nos dados).

Discussão
A discussão deve interpretar os resultados claramente e concisa em termo de mecanismos biológicos e
significância e, também deve integrar os resultados da pesquisa com o corpo de literatura publicado
anteriormente para proporcionar ao leitor base para que possa aceitar ou rejeitar as hipóteses testadas.
A seção de discussão independente não deve referir-se nenhum número ou tabela nem deve incluir o P-
valor (a menos que cite o P-valor de outro trabalho). A discussão deve ser consistente com os dados da
pesquisa.

Tabelas e figuras
Tabelas e figuras devem ser incluídas no corpo do texto. Abreviaturas devem ser definidas (ou
redefinida) em cada tabela e figura. As tabelas devem ser criadas usando o recurso de tabelas no Word
MS. Consultar uma edição recente da PUBVET para exemplos de construção de tabela. Quando possível

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Barbosa & Silva 12

as tabelas devem ser organizadas para caberem em toda a página (exemplo, retrato layout) sem
ultrapassar as laterais da borda (exemplo, paisagem). Cada coluna deve ter um cabeçalho (exemplo, Dias
de maturação, método de embalagem, valor de P). As unidades devem ser separadas cabeçalhos por uma
vírgula ao invés de ser mostrado em parênteses (exemplo, ABTS, %). Limitar o campo de dados ao
mínimo necessário para a comparação significativa dentro da precisão dos métodos. No corpo das
referências da tabela para as notas de rodapé devem ser numerais. Cada nota deve começar em uma nova
linha. Para indicar diferenças significativas entre as médias dentro de uma linha ou coluna são usadas
letras maiúsculas sobrescritas (Exemplo de tabela, final do texto download).

Abreviaturas
Abreviaturas no texto devem ser definidas no primeiro uso. Os autores devem usar o padrão das
abreviaturas internacionais de elementos. Abreviaturas definidas pelo autor devem sempre ser usadas
exceto para começar uma frase. A abreviação definida pelo autor precisa ser redefinida no resumo o
primeiro uso no corpo do artigo, em cada tabela, e em cada figura.

Citações no texto
No corpo do manuscrito, os autores referem-se da seguinte forma: (Ferraz & Felício, 2010) ou Ferraz &
Felício (2010). Se a estrutura da frase exige que os nomes dos autores sejam incluídos entre parênteses,
o formato correto é (Ferraz & Felício, 2012a, b). Quando há mais de 2 autores no artigo o primeiro nome
do autor é entre parênteses pela abreviação et al. (Moreira et al., 2004). Os artigos listados na mesma
frase ou parênteses devem estar primeiro em ordem alfabética e ordem cronológica para 2 publicações
no mesmo ano. Livros (AOAC, 2005; Van Soest, 1994) e capítulos de livros (Van Soest, 2019) podem
ser citados. Todavia, trabalhos publicados em anais, CDs, congressos, revistas de vulgarização,
dissertações e teses devem ser evitados.

Referências bibliográficas

1. Artigos de revista
Ferraz, J. B. S. & Felício, P. E. (2010). Production systems – An example from Brazil. Meat Science,
84, 238-243. Doi https://doi.org/10.1016/j.meatsci.2009.06.006.
Moreira, F. B., Prado, I. N., Cecato, U., Wada, F. Y. & Mizubuti, I. Y. (2004). Forage evaluation,
chemical composition, and in vitro digestibility of continuously grazed star grass. Animal Feed Science
and Technology, 113,239-249. Doi https://doi.org/10.1016/j.anifeedsci.2003.08.009.

2. Livros
AOAC – Association Official Analytical Chemist. (2005). Official Methods of Analysis (18th ed.)
edn. AOAC, Gaitherburg, Maryland, USA.
Van Soest, P. J. (1994). Nutritional ecology of the ruminant. Cornell University Press, Ithaca, NY,
USA. https://doi.org/10.7591/9781501732355.

3. Capítulos de livros
Van Soest, P. J. (2019). Function of the Ruminant Forestomach. In: Van Soest, P. J. (ed.) Nutritional
Ecology of the Ruminant. 230-252. Cornell University Press, Ithaca, NY, USA. Doi:
https://doi.org/10.7591/9781501732355-016.

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Pênfigo Foliáceo Canino: Relato de Caso 13

II. RELATO DE CASO


Deve conter os seguintes elementos:
Título, Nome (s) de autor (es), filiação, resumo, palavras chave, introdução, relato do caso clínico,
discussão, conclusão e referências. Os elementos anteriores devem seguir as mesmas normas do artigo
original.

III. REVISÃO DE LITERATURA


Deve conter os seguintes elementos:
Título, Nome(s) de autor (es), filiação, resumo, palavras chave, introdução, subtítulos do tema,
considerações finais e referências. Os manuscritos devem seguir as mesmas normas do artigo original,
a exceção de Material e métodos, Resultados e discussão; no seu lugar, utilize títulos e subtítulos sobre
o tema.

ENVIO DE ARTIGO
O envio de artigos pode ser realizado pelo site http://www.pubvet.com.br/envios ou enviar diretamente
no e-mail contato@pubvet.com.br.
Para enviar o artigo pelo site você deve cadastrar o e-mail no pubvet.com.br/cadastro. Caso já possuía
cadastro basta entrar no pubvet.com.br/login, em seguida acessar em artigo e clicar em cadastrar novo,
preencher o formulário, anexar o arquivo em Word e salvar depois de preencher todos os dados. O autor
que realiza a submissão fica automaticamente cadastrado como autor para correspondência.

Instruções e arquivo para download disponíveis em: https://www.pubvet.com.br/sobre

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Carta de Orientação

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Autorização de Uso de Dados

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Barbosa & Silva 16

Autorização de Encaminhamento para a Banca

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