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Trabalho AHCV – PACO

Apresentação – Ana Lu
O paciente é um cão, macho castrado, com 11 anos de idade, de raça indefinida. É indoor,
coabita com 2 gatos e foi-lhe recomendada ração hipoalergénica há algum tempo, quando era
acompanhado por outro centro de atendimento veterinário, no Porto, por suspeita de alergia
alimentar, embora nunca tenha sido testado. Tem 37,5 kg, a desparasitação interna e externa
em dia, tal como as vacinas.

Histórico clínico – Ana Lu: isto pode estar tudo no ppt mas diz só as coisas mais relevantes
para o caso (foi por a vermelho):

Em 2020 realizou-se uma citologia numa consulta oncológica aos 8 nódulos subcutâneos que
se encontraram no animal, sendo que todos eles foram identificados como lipomas.

Regressou em 2021 com queixas de vómito e fez tratamento para colite, iniciando ração
gastrointestinal, mas mantendo a hipoalergénica.

Em março de 2022 o paciente regressou devido a queixa de diarreia e emese, onde foi
diagnosticada gastroenterite. Em abril realizou uma ecografia abdominal e detetou-se
hepatomegália. No dia 10 de maio voltou para consulta de reavaliação e foram recomendadas
fortiflora e a manutenção da dieta hipoalergénica.

Em outubro o animal voltou ao hospital para consulta com queixas de poliúria, prurido ao nível
das orelhas, seborreia seca e novos nódulos cutâneos. Nesta consulta descobriu-se que a dieta
hipoalergénica não estava a ser cumprida. Foi administrado um líquido de limpeza auricular e
recomendada a ida a uma consulta de dermatologia, assim como o seguimento à risca da dieta
recomendada. Também em outubro foi realizada uma urianálise tipo II e uma ecografia
abdominal onde se identificou sedimento na bexiga, possivelmente compatível com uma
infeção urinária.

Neste trabalho vamos falar sobre a consulta de dermatologia do dia 24/10/2022, em que
acompanhámos este animal e a queixa apresentada era prurido auricular.

PARTE FRIAS – LISTA DE PROBLEMAS E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAS. Ver se se


consegue incluir alguma parte teórica do que vem a seguir em vermelho ou nesta
parte ou na parte da helena:

A otite externa é uma inflamação do tecido que reveste o canal auditivo externo e é
classificada como uma doença multifatorial, associada a causas primárias, causas secundárias e
ainda fatores predisponentes e perpetuantes (Bajwa, 2019).
Causas primárias são as que induzem otite num ouvido saudável, podem ser (Hensel & Hensel,
2021):

 Dermatites alérgicas
 Corpos estranhos – como rolhões de pêlo ou praganas
 Ectoparasitas – como o Otodectes cynotis
 Endocrinopatias – hiperadrenocorticismo, hipotiroidismo, doença de Cushing
 Doença hiperplásica
 Neoplasia do canal auricular
 Alterações da queratinização
 Doenças autoimunes – como o lúpus eritematoso e o pênfigo foliáceo
 Doenças imunomediadas – como vasculites ou eritemas multiformes

As causas secundárias são, normalmente, infeções que causam doença num ouvido já anormal.
As infeções mais comuns são por Malassezia pachydermatis, Staphylococcus intermedius e
Pseudomonas spp. (Hensel & Hensel, 2021).

Fatores predisponentes, ou seja, fatores que aumentam o risco do paciente desenvolver otite
externa, podem ser (Hensel & Hensel, 2021) :

 Conformação anatómica – orelha pendular, estenose, excesso de pêlo na orelha


 Humidade excessiva – se forem animais que passam muito tempo dentro de água, por
exemplo, ou se houver aumento da secreção de cerúmen
 Excesso de limpeza – leva a um aumento da humidade e, possivelmente, a trauma

Os fatores perpetuantes são fatores que não iniciam a inflamação mas que contribuem para
uma exacerbação do processo inflamatório, podendo perpetuar a doença auricular externa
mesmo quando a causa primária já foi identificada e tratada. Alguns fatores são (Hensel &
Hensel, 2021):

 Otite média infeciosa


 Estenose do canal auricular
 Mineralização da cartilagem do canal auricular

Exames complementares de diagnostico – Helena


Realizou-se uma citologia auricular, que é um exame essencial para a identificação de doenças
bacterianas, fúngicas e neoplásicas. A técnica de colheita que realizámos em consulta foi o
swab da região auricular, em que se introduz uma zaragatoa estéril o mais profundo possível
nos condutos auditivos verticais e se obtém uma amostra (GUILLOTT, 1993). Com o material
obtido realiza-se um esfregaço em lâmina de vidro e, posteriormente, realiza-se a observação
microscópica.
Resumidamente, a citologia auricular é a avaliação microscópica de uma amostra de cerúmen
ou exsudado auricular que permite identificar o tipo de microrganismo (fungo ou bactéria)
envolvido na infeção.

Neste animal identificou-se a presença de Malassezia em ambos os canais auriculares.

Tratamento – Ana Lu
Numa otite por Malassezia, ou por qualquer outro microrganismo, é necessário descobrir qual
é a causa primária da otite para que o tratamento seja eficaz e para que não haja uma
reincidência quando se terminar a medicação. Uma falha no tratamento pode fazer com que a
otite evolua para uma forma crónica, o que pode trazer complicações graves, como perda de
audição.

O tratamento da otite tem 2 objetivos:

1. Dirigido a resultados a curto prazo, tem como meta eliminar a infeção e inflamação
2. Tem como meta tratar eventuais doenças subjacentes para que, a longo prazo, a otite
não recorra ou não se torne crónica

A limpeza dos ouvidos antes da aplicação do tratamento é muito importante pois, a presença
de detritos impede o contacto da nova medicação

Neste cão administrou-se uma injeção de corticoides (metilpred (1mg/kg)), de modo a aliviar o
prurido, e iniciou-se o tratamento com Conofite durante 14 dias, uma solução tópica indicada
para o tratamento de otites externas causadas por fungos, leveduras, ácaros e bactérias.
Prescreveu-se também uma solução de limpeza auricular, que tinha de ser aplicada sempre
antes do tratamento com o Conofite. Recomendaram-se ainda banhos semanais com DOuxo
Pyop durante 3 semanas.

Depois destas 3 semanas aconselha-se uma consulta de reavaliação.

Discussão:

A maioria das otites é polimicrobiana, ou seja, é causada por várias espécies microbianas. A
associação mais comum é entre a levedura Malassezia pachydermatis e a bactéria
Staphylococcus intermedius (Marques, 2010).

É importante ter a noção que animais clinicamente normais têm no canal auricular tanto esta
levedura como outros microrganismos associados a otites. Existem, no entanto, em pequenas
quantidades, sendo considerados microrganismos comensais. Caso se instalem certas
condições, como o aumento da temperatura ou da humidade da orelha (Magalhães, Moraes,
Dresch, & Kataoka, 2017) , os organismos podem crescer e infetar o canal, levando a uma
otite.
Os sinais clínicos mais característicos de otites externas são dor, prurido, eritema, corrimento
auricular e descamação epitelial. A otite por Malassezia só se distingue de uma otite
bacteriana por meio de uma citologia auricular, embora se possam tirar algumas conclusões
com base no aspeto e cheiro do exsudado auricular. Tipicamente, numa infeção bacteriana o
cerúmen fica de uma cor amarela-acastanhada clara enquanto que numa infeção por
Malassezia o cerúmen é mais gorduroso, de uma cor de mel ou castanho escuro (Marques,
2010).

Vários estudos demonstram a relevância que este agente microbiano tem nas doenças
otológicas em carnívoros domésticos e provam o facto de ser um agente comensal, como estes
estudos que vos apresento aqui – não vou dizer na apresentação.

- Num estudo por (Leite, 2010), realizaram-se citologias auriculares a 231 animais, em
que 189 eram saudáveis e 42 apresentavam sinais clínicos indicativos de otite externa.
Aproximadamente 42,86% de todos os animais apresentaram Malassezia, o que confirma o
facto desta levedura ser um agente comensal. Foram diagnosticadas 42 otites externas e
83,33% foram provadas como serem induzidas por Malassezia spp., o que demonstra a
relevância que este agente microbiano tem nas doenças otológicas em carnívoros domésticos.

- No estudo por (Marques, 2010), 43,75% dos animais apresentaram Malassezia e,


destes, 69,39% tinham sobrecrescimento fúngico auricular, sendo que 30,61% tinham um
número de Malassezia que sugeria comensalidade.

- Num estudo por (Magalhães, Moraes, Dresch, & Kataoka, 2017) realizou-se citologia
auricular em 23 cães com sintomatologia indicativa de otite externa em que 60,9% dos animais
apresentaram resultado positivo para Malassezia spp. e 30,4% apresentaram infeção mista por
Malassezia spp. e bactérias, demonstrando mais uma vez a relevância desta levedura. Este
estudo também avaliou a percentagem de animais com otite que apresentavam orelha
pendular, que foi cerca de 82,7%.

Os ouvidos constituem ambientes frágeis onde pequenas mudanças no microclima podem


alterar o equilíbrio delicado das secreções e da microflora, resultando em infeções
oportunistas.

No que toca à Malassezia, as doenças inflamatórias pruríticas, como as doenças de


hipersensibilidade (atopia, dermatite alérgica, alergia alimentar, alergia de contacto), doenças
parasitárias e bacterianas, causam alterações neste microclima cutâneo ao haver disrupção da
função barreira (no caso de animais que se coçam), aumento da humidade (em animais que se
lambem) ou aumento da produção de sebo (Marques, 2010).

Animais com doenças metabólicas que tenham como consequência hiperqueratose podem
também ter maior predisposição para desenvolver otite e animais com imunossupressão
iatrogénica, como gatos com FIV e FeLV, também (Marques, 2010).

O sobrecrescimento fúngico parece ainda ocorrer em animais com endocrinopatias, como por
exemplo o hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo e diabetes mellitus, visto que estas (em
especial o hiperadrenocorticismo) causam alterações diretas nas características do sebo e da
função da barreira cutânea (Bonagura & Twedt, 2010).
Como tal, na recolha da história clínica, o veterinário também deve estar atento a outros sinais
clínicos que possam sugerir a existência de uma doença subjacente, como a poliúria, polidipsia
e polifagia, que são sinais comuns de algumas endocrinopatias.

Em relação ao animal do nosso caso achamos então importante descobrir qual é a causa
primária da otite, para se realizar um tratamento eficaz.

Como já foi dito, o animal do nosso caso clínico já tinha vindo a uma consulta anteriormente
por queixas de prurido, onde houve também referência a poliúria e polidipsia por parte da
tutora. Devido à idade do animal e aos exames relacionados no ano anterior, que mostraram
alterações no valor da T4, realizaram-se testes de diagnóstico de hipotiroidismo, no entanto,
estes deram negativo.

Agora que o animal voltou ao hospital com uma otite externa por Malassezia e a poliúria e
polidipsia permanecem, é importante procurar outras causas primárias possíveis.

Considerando apenas a otite, a poliúria e a polidipsia, o diabetes Mellitus poderia ser um


diagnóstico diferencial. No entanto, estes animais apresentam muito tipicamente polifagia
com perda de peso, o que não se observou neste caso.

Outro diagnóstico diferencial é o hiperadrenocorticismo. Esta é uma das endocrinopatias mais


comuns em cães idosos, provoca poliúria e polidipsia e é uma das endocrinopatias mais
comumente relacionadas com alterações seborreicas, que podem causar otites,
consequentemente (Leitão, 2011).

Nesta doença há diminuição dos níveis de TSH e TRH, devido à hipercortisolémia e, além disso,
o cortisol interfere com a ligação da T4 às proteínas transportadoras, levando também há
diminuição dos níveis da mesma – síndrome do Eutiroideu Doente. (PÔR AQUELE SITE NA
REFERÊNCIA)

Há ainda várias alterações que ocorrem devido ao hiperadrenocorticismo que poderiam


provocar infeções do trato urinário como por exemplo o efeito imunossupressor do cortisol ou
a diminuição da densidade urinária (pois a urina fica menos bactericida).

O hiperadrenocorticismo seria então o diagnóstico diferencial mais provável neste caso visto
que explicaria não só a otite mas também a poliúria, polidipsia, dermatite, níveis baixos da T4
sem hipotiroidismo e a infeção do trato urinário.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6294027/

https://todaysveterinarypractice.com/dermatology/treating-otitis-externa-in-dogs/

https://www.dtm-e-dor-orofacial-profa-karen-chaves.com/fatores-contribuintes/

(Bajwa, 2019) (Hensel & Hensel, 2021) (Marques, 2010) (Leite, 2010) (Magalhães, Moraes,
Dresch, & Kataoka, 2017)
OLIVEIRA, M.M. Determinação de Malassezia pachydermatis auricular em cães sadios e
otopatas. 27f. (Monografia) - Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Curitiba, 2012.

PAULA, F.A. Avaliação da eficiência do Auritop® nas otites em cães por Malassezia spp. 25f.
(Monografia) - Centro de Estudos Superiores de Maceió, São Paulo, 2013.

Bibliografia

MACHADO, M. L. S.; APPELT, C. E.; FERREIRO, L.; GUILLOT, J. Otites e dermatites por Malassezia
spp em cães e gatos. Clínica Veterinária, São Paulo, v. 44, p. 27-34, 2003.

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