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1.

INTRODUÇÃO

A otite é uma das doenças mais comuns em crianças, afetando a maioria delas
pelo menos alguma vez na vida. Mas, para além de provocar dor e outros sintomas de
desconforto, a otite pode colocar a audição em risco. As perdas auditivas de grau "leve",
nem sempre são fáceis de detectar em crianças, principalmente as menores. Entretanto
a perda condutiva, mesmo que leve, pode provocar abafamento do som, essa alteração
pode provocar não só a dificuldade de ouvir em crianças, mas também a dificuldade de
perceber os detalhes que uma informação sonora pode acarretar.

Pereira e Ramos (1998) conceituam as otites médias como uma das doenças
mais diagnosticadas pelos pediatras, na infância. Ela acomete, principalmente, lactentes
e crianças e cursa com menor frequência em crianças maiores e adolescentes. Pode
acometer, em pequena escala, pessoas adultas.

Maranhão et al. (2013, p.476) afirmam que a “ otite média (OM) deve ser
encarada como uma afecção dinâmica, com um espectro clínico que pode se estender
desde uma condição benigna autolimitada até uma doença prolongada e por vezes
complicada.

O Universo da Otite Média abrange múltiplas patologias, quer agudas quer


crónicas. É importante que um médico, independentemente da sua especialização, seja
capaz de identificar sinais de cronicidade desta doença, assim como eventuais
complicações já presentes na altura do diagnóstico. Imprescindível é ainda a capacidade
de decisão que um médico deve ter, perante a situação urgente de reconhecer quando
deve o doente ser reencaminhado para o serviço de Otorrinolaringologia ou quando
deve ser tratado imediatamente no local.

Sih e Bricks (2008) relatam que um grande problema encontrado na avaliação de


crianças com queixas relativas a dor de ouvido é fazer o diagnóstico diferencial entre
otite média aguda (OMA) e otite média com efusão (OME), que apresenta menor taxa
de complicações. Portanto, é de fundamental importância conhecer os sinais e sintomas
da OMA e OME para se fazer o diagnóstico.

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1.1. Finalidade do trabalho
O presente trabalho tem como finalidade de fazer uma abordagem sobre a otite
média em crianças, realçando suas manifestações clínicas, tratamento farmacológico e
assistência de enfermagem.
1.2. Problemática
Geralmente tem se encontrado diversos problemas em crianças concernente a
otite média, de acordo com estes dados, publicados em 2012, estimou-se que a taxa de
incidência da OM era de 709 milhões de casos por ano, 51% destes ocorrendo em
crianças menores de 5 anos de idade. A taxa de incidência da OMCPS era de 4,76% (31
milhões de casos), com 22,6% destes a ocorrer nos menores de 5 anos. Quanto à
prevalência de défice auditivo, este situa-se nos 30,82 casos por cada 10000 crianças.
Cerca de 21 mil pessoas morrem anualmente devido a complicações desta patologia.
Em virtude deste problema ergueu-se a seguinte questão:
 Quais são os factores da incidência da otite média em criança?
1.3. Justificativa
O desenvolvimento do presente trabalho jusifica-se no facto de descrever ou
perceber a otite média em criança sendo ela uma infecção que afecta o ouvido médio. A
ideia é aprimorar o conhecimento no que concerne a otite média em criança e
compreender o factores da incidência em criança, ou seja, a sua manifestação clínica,
etiologia, tratamento farmacológico e a assistência de enfermagem.
1.4. Objectivos
 Objectivo geral
- Fazer uma abordagem holística da otite média em criança.
 Objectivo específico
- Entender os diferentes tipos de otite média;
- Conceitualizar Anatomia da audição.
- Identificar o factor da incidência da otite média em criança;
- Realçar sua ocorrência clinica, tratamento farmacológico e a assistência de
enfermagem;

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CAPÍTULO – I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.Otite média
O termo otite traduz uma inflamação / infecção no ouvido. A mais comum em
crianças é a otite média, que afeta o tímpano, os ossículos da audição (martelo, bigorna
e estribo) e a tuba auditiva (um canal que comunica a orelha média com a nasofaringe).

Segundo, ainda, Pereira e Ramos (1998), a otite média é resultado de múltiplos


fatores de risco tais como: infecção viral ou bacteriana, alergia, fatores ambientares e
sociais (creche, fumantes passivos, estação do ano, chupetas), infecções (hipertrofia das
adenoides e adenoidites), refluxo gastresofágico, deficiência imunológica, fatores
anatômicos (disfunção da tuba auditiva, fenda submucosa e fenda palatina).

Vários fatores estão associados ao aumento da frequência de otite em crianças,


mas estudos têm demonstrado que a entrada precoce delas em creches e escolas é um
dos principais motivos para o aumento da incidência da otite infantil. A doença pode
aparecer de diferentes formas:

 Otite média aguda - Otite em crianças mais comum. Trata-se de uma infecção
aguda no ouvido médio com início rápido dos sinais e dos sintomas.
 Otite média secretora - Essa otite infantil é uma inflamação da orelha média
em que há uma coleção líquida em seu espaço e a membrana do tímpano está
intacta.
 Otite média recorrente - Caracterizada quando o paciente apresenta vários
episódios da doença em poucos meses.

A otite média pode gerar um líquido conhecido como efusão da orelha média.
Essa secreção pode ser fina e líquida (serosa), espessa e viscosa (mucoide) ou purulenta.
O tratamento pode ser clínico, com medicamentos como antibiótico, anti-inflamatórios
e analgésicos. Em casos persistentes, a cirurgia pode ser indicada: uma pequena incisão
no tímpano é feita para aspirar as secreções (PEREIRA; RAMOS, 1998).

A otite média pode ser um episódio único e agudo, durando cerca de duas
semanas, ou pode ser recorrente, com três episódios durante um intervalo de seis meses
ou quatro episódios em doze meses.

É possível classificá-la também quanto ao nível de inflamação. Chama-se de


otite média congestiva quando há apenas vermelhidão e inflamação do tímpano. Já
a otite média supurativa acontece quando o tímpano é perfurado e há a eliminação de

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secreções serosas ou purulentas pelo ouvido. Para melhor entendimento da OM, torna-
se necessário explicar um pouco da anatomia e filosofia da audição.

2.1.1 Anatomia e Filosofia da Audição


A audição é uma sensação fundamental a vida, pois é a base da comunicação
humana. Azevedo, citado por Schochat (1996), relata que a integridade anátomo-
fisiológica do sistema auditivo tanto em sua porção periférica como central, constitui
um pré-requisito para a aquisição e desenvolvimento normal de linguagem.
Durante o primeiro ano de vida ocorre o processo de maturação do Sistema
Auditivo Central. Concomitantes com a maturação da função auditiva estão o
desenvolvimento da fala e as habilidades da linguagem (Santos, 1996). O órgão
responsável pela audição é o ouvido, o qual encontra-se localizado na intimidade do
osso temporal e divide-se em orelha externa, orelha média e orelha interna.
Santos e Russo (1991) referem que o ouvido tem como funções principais o
equilíbrio e a audição. Tanto um papel quanto o outro desempenhados por este órgão,
são de vital importância para o homem, pois o primeiro possibilita a sua locomoção e o
segundo para que possa desenvolver sua linguagem e realizar adequadamente o
processo da comunicação oral.
2.1.1.1 Orelha Externa
A orelha externa, segundo Costa, Cruz e Oliveira (1994), é formada pelo
pavilhão e pelo conduto auditivo externo. O pavilhão é formado por cartilagens cobertas
por pele e sua finalidade é coletar as ondas sonoras e dirigi-las para o meato auditivo
externo. As principais funções desse meato auditivo externo são: proteção e ressonância
sonora. A proteção é exercida pela cera produzida por glândulas ceruminosas da pele do
meato.
Santos e Russo (1991) referem que o conduto auditivo externo tem como função
principal conduzir o som até a membrana timpânica. Serve também para estabelecer
comunicação entre o ouvido médio e o meio externo.
O meato auditivo externo tem 2.5 cm de comprimento e termina na membrana
timpânica.
A membrana timpânica encontra-se na porção final do conduto auditivo externo,
separandoo do ouvido médio.
É uma estrutura delgada, côncava, semitransparente, tem a forma de um cone
cujo ápice está voltado para dentro do ouvido médio. Mede aproximadamente 1,5 cm de

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diâmetro e está dividida em duas partes: uma tensa, que ocupa a maior área e é
constituída por quatro camadas de tecido e a parte flácida ou membrana de Scharapnell,
que ocupa a porção mais superior da membrana e é constituída por duas camadas de
tecidos. Está firmemente fixada a parede do conduto auditivo externo por um anel de
tecido fibroso denominado anel timpânico.
Segundo Hungria (1988), a membrana do tímpano é comparável à placa rígida
de um microfone que funciona por pressão, pois recebe vibrações acústicas de um só
lado, transmitindo-as à cadeia ossicular. Além de sua função vibratória, a membrana do
tímpano desempenha também o papel de anteparo protetor da janela redonda, de modo
que as ondas sonoras atingem a membrana desta janela com a pressão acústica reduzida
ao mínimo e em oposição de fase em relação as ondas sonoras que chegam à janela
oval.
2.1.1.2. Orelha Média
Santos e Russo (1991) descrevem que a cavidade timpânica ou orelha média é
um espaço dentro da porção petrosa do osso temporal preenchido por ar, com o formato
irregular e medindo, no seu diâmetro vertical, 15mm, e na horizontal, 6mm, apresenta
seis paredes que são praticamente paralelas entre si, dando a esta cavidade um formato
de cubo alongado.
Costa, Cruz e Oliveira (1994) relatam que na orelha há três elementos
importantes para a transmissão sonora: a trompa de Eustáquio, os músculos timpânicos
e o sistema timpânico ossicular. A trompa de Eustáquio, segundo os mesmos autores, é
o canal que comunica a nasofaringe com a orelha média, permitindo a entrada de ar
nessa cavidade e igualando as pressões do lado externo e interno, deixando a membrana
timpânica livre para vibrar.
A maioria das infecções da orelha média derivam de infecções nasais que se
propagaram pela trompa de Eustáquio.
Os músculos timpânicos são: o músculo tensor do tímpano e o músculo do estribo.
Quando o ouvido recebe sons de grande intensidade, estes músculos se contraem,
aumentando a resistência a transmissão sonora de sons graves, havendo uma queda de
aproximadamente 30 db de intensidade devido à maior rigidez da cadeia ossicular,
protegendo assim o ouvido interno e as células do órgão de corti contra lesões.
O sistema tímpano-ossicular, de acordo com Costa, Cruz e Oliveira (1991), é
formado pela membrana timpânica, martelo, bigorna e estribo, de tal modo interligados
que transmitem as vibrações da membrana timpânica à janela oval. Este sistema

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tímpano-ossicular é um transformador de energia, cuja finalidade é igualar as
impedâncias do ouvido médio e interno para uma transmissão sonora efetiva, que ocorre
através de dois mecanismos: hidráulico e de alavanca. Os efeitos hidráulicos e de
alavanca, conjunta e aumentam a pressão sonora de 22 vezes, equivalente a um aumento
de 30 db, permitindo assim, que toda a energia sonora que chega à membrana timpânica
atinja a base do estribo, perilinfa e o órgão de Corti.
2.1.1.3. Orelha Interna
A orelha interna, de acordo com Hungria (1988), é o segmento do aparelho
auditivo em que a vibração sonora se transforma em estímulo nervoso específico ao
nível do órgão de Corti de onde é conduzido aos centros corticais da audição, em que se
consuma o fenômeno consciente da sensação sonora. Enquanto o ouvido externo, o
ouvido médio e os líquidos labirínticos constituem o aparelho transmissor das ondas
sonoras, o órgão de Corti é o aparelho receptor e analisador do som.
Santos e Russo (1991) relatam que o ouvido interno está contido na porção
petrosa do osso temporal; constitui-se por uma série de canais e passagens dentro do
osso que recebeu o nome de labirinto ósseo. O labirinto ósseo apresenta as seguintes
porções: vestíbulo, cóclea e três canais semicirculares: aqueduto coclear, aqueduto
vestibular e meato acústico interno. É preenchido por um líquido denominado perilinfa,
que apresenta maior concentração de sódio.
Dentro do labirinto ósseo encontramos uma série de ductos membranosos onde
estão alojadas as estruturas sensoriais de recepção dos estímulos auditivos e posturais e
está também preenchido por um líquido denominado endolinfa, que apresenta maior
concentração de potássio. O labirinto membranoso é constituído pelas seguintes
estruturas: ducto e saco endolinfático, sáculo, utrículo, ductos semicirculares e ducto
coclear.
A cóclea, segundo as mesmas autoras, se constitui de um cone achatado,
formado por 2 ou 3 voltas enroladas em torno de um eixo ósseo central denominado
modíolo. Dentro do modíolo encontra-se vasos que irrigam a cóclea, as fibras nervosas
do ramo coclear, as fibras nervosas do nervo vestíbulo-coclear e o gânglio espiral. Esse
osso imite projeções ósseas ao seu redor, que recebe o nome de lâmina espiral óssea.
É dividida pelo labirinto membranoso em três partes ou rampas: timpânica, média ou
coclear e vestibular.
As rampas timpânicas e vestibular são preenchidas por perilinfa e desempenham
um papel importante na transmissão mecânica da energia sonora para as estruturas

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sensoriais contidas na rampa média. Estabelecem contato no ápice da cóclea em uma
região denominada helicotrema, permitindo que as ondas produzidas pelo estribo na
perilinfa do vestíbulo possam ser transmitidas para a rampa vestibular e timpânica.
A rampa vestibular está em contato direto com o vestíbulo, enquanto que a
rampa timpânica está em contato com o ouvido médio através da membrana da janela
redonda.
O ducto coclear ou rampa média se encontra em contato direto com a parede
óssea da cóclea, cápsula ótica ou labirinto ósseo, ligando a lâmina espiral óssea ao
ligamento espiral. E, dessa forma delimitando o espaço da rampa timpânica, encontra-se
a membrana basilar. Superiormente a rampa média é delimitada pela membrana de
Reissner, que separa o ducto coclear da rampa vestibular.
Segundo Santos e Russo (1991), é sobre a membrana basilar que se encontra o
órgão sensorial da audição ou órgão de Corti, que é constituído pelas células ciliadas
sensoriais (internas e externa) e por células de sustentação.
Sobre as células ciliadas internas e externas encontra-se uma membrana gelatinosa que
recebe o nome de membrana tectória e tem um papel importante na estimulação dos
ciclos destas células toda vez que a onda sonora atinge o ducto coclear.
Costa, Cruz e Oliveira (1991) acrescentam que as células ciliadas externas
constituem o amplificador coclear, sendo importantes no mecanismo de amplificação do
estímulo para determinar o funcionamento das células ciliadas internas, que seriam as
unidades receptoras e codificadoras cocleares e teriam como papel importante na
seletividade frequêncial da cóclea.
Os mesmos autores descrevem o processo de transdução mecano-elétrica do
seguinte modo: o som determinaria a oscilação da membrana basilar alternadamente em
direção à rampa superior e inferior da cóclea, a membrana tectorial vai se colocar com
padrão diferente da membrana basilar, estes descolamentos destas membranas
determinarão o aparecimento de forças tangenciais sobre os ciclos das células ciliadas
externas provocando a inclinação deles, pois estão em contato com a membrana
tectorial. Essa inclinação dos cílios determina a abertura dos canais de potássio com
conseqüente entrada de potássio na célula e essa para despolarização determina o
aparecimento de fenômenos elétricos nas células ciliadas. Em seguida, há liberação dos
neurotransmissores e a formação de uma mensagem sonora codificada em impulsos
elétricos, que é transmitida ao sistema nervoso central pelo nervo acústico.

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Costa, Cruz e Oliveira (1991) relatam que as fibras aferentes primárias que vêm
do gânglio espiral do órgão de Corti chegam ao núcleo coclear ventral e dorsal, fazendo
sinapse nesses núcleos do bulbo. Do núcleo coclear ventral, fibras nervosas dirigem
dirigem-se
para o complexo olivar dos dois lados, 8 onde outra sinapse ocorre. O complexo olivar
de cada lado recebe fibras dos dois ouvidos. Nesse nível, portanto, já pode ocorrer
comparação das características sonoras que chegam aos dois ouvidos, para detecção da
direção do som. Do núcleo coclear dorsal partem fibras que se dirigem para o lado
oposto fazendo sinapse no núcleo do lemnisco lateral. Deste parte fibras que se projetam
para o colículo inferior, sendo algumas delas cruzadas. Do colículo inferior as fibras
passam ao corpo geniculado medial sem cruzar e daí ao córtex auditivo no lobo
temporal.
Na cadeia neoronal das vias auditivas, da cóclea ao colículo inferior, a
informação sensorial sofre um processamento crescente, pela sintoni
sintonia das unidades
nervosas, pela maior complexidade das respostas e pela maior participação de
informações do ouvido contralateral. As vias auditivas enviam projeções ao sistema
reticular ativador e ao cerebelo. (Costa, Cruz e Oliveira, 1991).
A trompa de Eustáquio
táquio (TE) é um canal que liga a nasofaringe ao ouvido médio.
Esta tem acima de tudo três funções: drenar secreções do ouvido médio, manter a
pressão no ouvido médio semelhante à pressão atmosférica e protegê-lo
protegê lo de secreções da
nasofaringe, bem como do trauma
tr acústico. Até aos 5 anos de idade, a trompa de
Eustáquio tem um comprimento maior que a altura, o que faz com que o orifício
nasofaríngeo seja mais alto, logo mais exposto a microrganismos. Outros fatores que
predispõem a infeções são a horizontalização
horizontalização da TE e o menor diâmetro do seu lúmen.
O facto de o istmo ser mais estreito e a porção cartilagínea mais consistente, como
podemos observar na ilustração 1,
1, também contribui para a maior vulnerabilidade para a
OM na idade pediátrica.
Figura 1- Diferenças
Diferenças entre a anatomia do ouvido na criança e no adulto.

Fonte: NIH/NIDCD , 2022

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2.1.3. Otite média aguda

A OMA é defnida como a presença de líquido (efusão) preenchendo a cavidade


da orelha média sob pressão, com início abrupto dos sinais e sintomas causados pela
inflamação dessa região (KLEIN JO, 2007).

Segundo o MOORE, HUTCHINGS e MEYER (2007) definem a otite média


aguda (OMA) como inflamação do ouvido médio e é uma das doenças mais comuns da
infância. É mais frequente nos primeiros cinco anos de vida, especialmente nos menores
de 18 meses. Estima-se que dentro do primeiro ano de vida, 40 a 50% dos episódios de
infecção respiratória aguda (IRA) são complicadas com a OMA.

A otite média aguda (OMA) é uma das infecções mais comuns na infância e o
principal motivo para uso de antibióticos em crianças, pois praticamente todas têm pelo
menos um episódio de OMA antes de completar 3 anos e, dessas, 20% apresentarão
múltiplos episódios (SIH; BRICKS, 2008, p. 759).

A OMA é uma das formas mais frequentes de infeção das vias aéreas superiores,
pode ser unilateral (afetar apenas o ouvido esquerdo ou o direito) ou afetar ambos os
ouvidos (otite bilateral). A otite infantil mais prevalente é a otite média aguda, a maior
incidência de otite média aguda ocorre no bebé entre os seis meses e um ano e meio de
idade, diminuindo progressivamente com a idade.
O primeiro episódio de otite média aguda surge frequentemente no primeiro ano
de idade, sendo que até aos 5 anos de idade mais de metade das crianças já teve pelo
menos um episódio infecioso. Após os 5 anos de idade as otites médias agudas são
menos frequentes, tornando-se pouco comuns na idade adulta.

Segundo Costa, Cruz e Oliveira (1994), o “Committee on Definitionand


Classification of Otitis Média”, procura uniformizar a classificação da otite média
aguda e é ela que será tomada como base: otite média aguda sem efusão e com efusão.

Na otite média aguda sem efusão ou não supurativa existe um processo


inflamatório da mucosa do ouvido médio, porém, sem formação de nenhuma coleção
líquida na caixa timpânica, seja serosa, mucoide ou purulenta. Pode advir de uma
obstrução tubária com ou sem participação de agente infeccioso viral ou bacteriano.

A sintomatologia pode limitar-se a uma sensação de plenitude auricular ou


otalgia mais ou menos intensa e em geral, é coincidente com infecções respiratórias,

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especialmente virais, como a gripe. A otoscopia mostrará maior ou menor hiperemia da
membrana timpânica com mobilidade normal ou revelando discreta espessamento.

Essa forma clínica pode curar espontaneamente ou evoluir para um quadro


de otite média aguda com efusão na forma serosa ou purulenta. Não deve existir um
tratamento padronizado para tal situação.

A otite média aguda com efusão, segundo os mesmos autores, pertence à


patologia desse grupo a presença de coleção líquida na caixa timpânica: serosa,
supurativa ou necrosante.

A otite média aguda serosa caracteriza-se pela presença de fluído na caixa


timpânica com aspecto seroso, transparente e com freqüência citrino. É tipicamente
iniciada por uma obstrução tubaria. A queixa principal é de plenitude auricular,
autofonia e freqüentemente hipoacusia. Esses sintomas costumam melhorar com a
mudança de posição da cabeça do paciente por mobilização do fluído para fora do miolo
da janela redonda, que na postura supina fica ocupada. A otoscopia pode mostrar
aspectos diferentes da membrana timpânica, ou seja, opaca, retraída e com mobilidade
diminuída à otoscopia pneumática. A impedânciometria mostra uma curva
timpanométrica plana com ou sem a presença de reflexos estapedianos. Em geral curam
espontaneamente quando a infecção respiratória desaparece, ou pode persistir exigindo
auxílio terapêutico. O tratamento desse tipo de condição é controvertido.

Os autores referem que a criança pode ser considerada um ouvinte normal ou


apresentar uma perda leve à moderada e que a perda condutiva, mesmo leve, pode
produzir uma sensação de abafamento do som o que não ocorre na perda auditiva
neurossensorial do mesmo grau. Esta alteração na qualidade da audição da criança faz
com que ela, além de sentir dificuldade para ouvir, tenha dificuldade para perceber a
riqueza de detalhes que uma informação pode trazer.

A otite média aguda supurativa, segundo Costa, Cruz e Oliveira (1994), se


caracteriza pela presença de pus na caixa timpânica por contaminação bacteriana, com
grandes alterações da mucosa do ouvido médio. Pode instalar-se rapidamente, em geral,
no decorrer de uma infecção respiratória ou ser parte de uma sequência das formas
anteriormente citadas. Na criança pode aparecer de forma surpreendente pouco
sintomática, já no adulto, a dor profunda no ouvido é o principal sintoma, seguido da
sensação de ouvidos tapados.

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2.1.3.1. Etiologia
Nos estudos bacteriológicos dos últimos 40 anos, as 3 bactérias mais
frequentemente isoladas do ouvido médio na OMA são o Streptococcus Pneumoniae, o
Haemophilus Influenzae e o Moraxella Catarrhalis. Particularmente, o S. pneumoniae é
o agente causador de OMA mais frequente no Mundo enquanto que o H. influenzae é o
que causa mais frequentemente OMAR. No caso das otites virais,encontramos a
presença de vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenza A ou B, principais
causadores das otites desse tipo.
Santos e Russo (1991) referem que a causa básica da otite média aguda é a
quebra deste mecanismo fisiológico, e isto se inicia com a disfunção da tuba auditiva,
causada por fatores diversos como: adenóides hipertrofiados, reações alérgicas,
obstrução nasal, infecções das vias aéreas superiores e outros.
Para Northern e Downs (1989), a disfunção da trompa de Eustáquio tem sido
considerada como fator significativo no desenvolvimento da otite média.

2.1.3.2. Manifestações clínicas


Conforme estudo realizado foi observado que a otalgia, autofonia e hipoacusia
são os sintomas mais comuns que podem aparecer isolados ou em conjunto, precedidos
ou concomitantes com infecções respiratórias da otite média aguda.
As manifestações clínicas específicas da otite média, segundo Northen e Downs (1989)
são:
 Otalgia;
 prurido ou dor em pontadas;
 otorréia;
 hipoacusia;
 perturbações do equilíbrio.
E citam como sintomas sistêmicos:
 Febre;
 Sono;
 Agitação;
 irritabilidade e algum desconforto.
Na criança, dependendo da idade, as queixas podem não ser tão específicas,
aparecendo em forma de febre, irritabilidade, choro intenso ou moderando, anorexia,
diarréia e vômitos.

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2.1.3.3. Tratamento Farmacológico
Segundo evidências de estudos pregressos, o tratamento da OMA consiste na utilização
de antimicrobianos, embora sua eficácia terapêutica seja controversa, já que 80% das crianças
não tratadas com antibióticos apresentam resolução clínica espontânea em 07 a 14 dias, se
compararmos com aproximadamente 95% das crianças que receberam tratamento com
antibiótico. Com relação às opções farmacológicas, a amoxacilina ainda é o antibiótico de
escolha para tratamento da OMA, podendo ser utilizados, também, como alternativas
terapêuticas, a amoxacilina associada ao clavulanato.
Amoxacicilina está indicado especialmente nas seguintes infecções: otite média
aguda por Haemophilus Influezae e Moraxella catarrhalis;
POSOLOGIA : Crianças menores de 12 anos 20 mg/Kg/dia a 40 mg/Kg/dia de
amoxicilina divididos a cada 8 horas. As menores dosagens podem ser utilizadas em
infecções mais leves.
• Preparar a suspensão oral de acordo com as orientações da bula.
• Tomar o produto com o estômago vazio (1 hora antes ou 2 horas depois das refeições).
• Se o paciente apresentar distúrbios gastrintestinais com o uso do produto, tomá-lo no
início das refeições.
Azitromicina di-hidratada é indicada no tratamento de infecções Otite média
(infecção do ouvido médio) aguda.
A dose máxima total de azitromicina recomendada para qualquer tratamento em
crianças é de 1500mg. O medicamento deve ser administrado somente em crianças
pesando mais de 45kg. Em geral, a dose total em crianças é de 30 mg/kg.
Uma alternativa para o tratamento de crianças com otite média aguda é dose única de 30
mg/kg.
Cotrimoxazol ratiopharm é um antibiótico, indicado no tratamento de infecções
provocadas por microrganismos sensíveis ao cotrimoxazol tratamento da da otite média.
A dose recomendada em crianças com idade igual ou superior a 2 meses é de 40 mg de
sulfametoxazol / 8 mg de trimetoprim por kg durante 24 horas, administrados em doses
divididas de 12 em 12 horas durante 10 dias.

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Tabela de dosagem

dd-( dose por dia ).

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2.1.3.4. Assistência de enfermagem
● Contra recomendar o uso de cotonetes (efetuar a limpeza externa com toalha ou
similar);
● Compressas mornas para conforto e alívio de sintomas;
● Investigar causas ambientais (fumaça, poeira, etc.);
● Crianças realizando atividades aquáticas podem estar propensas a dores de ouvido ou
infecções. Orientar os pais a medidas de prevenção como uso de protetores de ouvido
ou mesmo algodão embebido em óleo de soja para proteção auricular;
● Retorno imediato à unidade se aparecimento de sinais de gravidade/infecciosos, ou se
persistência do quadro por mais de 24 horas;
● Se cerume impactado sem outros sinais; utilizar óleo de oliva/óleo mineral, 5 gotas 2-
3x/dia por 3 dias e orientar retorno para reavaliação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objectivo principal de fazer uma abordagem sobre
a otite média em crianças, desta feita conclui-se que, a otite média é uma da doenças
infecciosas mais comuns nas crianças e é definida como uma inflamação da orelha
média que pode ser causada por diversos fatores: infecção (viral ou bacteriana),
disfunções da tuba auditiva, depressão do estado imunológico, alergias, problemas
ambientais e, em alguns casos, problemas sociais. A otite média, em suas diferentes
formas e manifestações, tem sido muito pesquisadas especialmente quando se refere a
populações infantis, consideradas como de maior risco para esta patologia.

Este trabalho poderá contribuir para a prevenção e atendimento de crianças em


idade pré-escolar e escolar com otite média, esclarecendo profissionais de diversas
áreas, assim como, para a conscientização dos pais e da sociedade como um todo sobre
como prevenir e minimizar as alterações do desenvolvimento comunicativo,
educacional e social destas crianças.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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