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Otite Externa
A otite externa (OE) é considerada uma das causas mais frequentes de consultas na clínica de
pequenos animais, sendo mais comum em cães do que em gatos. A OE afeta todo o conduto
auditivo externo, que se estende desde o pavilhão auricular até a membrana timpânica, podendo
ter apresentação aguda (sinais clínicos < 7 dias), subaguda (sinais clínicos de 7-30 dias) e crônica
(sinais clínicos >30dias).1,4,5,6
Etiologia e Patogênese
A otite não costuma ser considerada apenas uma alteração local, mas sim uma manifestação de
uma doença de base com etiologia multifatorial. Normalmente inicia-se com inflamação aguda
do canal auditivo, seguida por hiperplasia do epitélio e das glândulas ceruminosas, resultando
em produção excessiva e acúmulo de cerúmen. Estas modificações anatômicas e inflamatórias
alteram o ambiente comprometendo a migração epitelial normal, o mecanismo de autolimpeza
e a defesa natural do canal auditivo, favorecendo a proliferação de fungos e bactérias. Em otites
crônicas (OC) desenvolve-se extensa hiperplasia que pode reduzir o diâmetro do canal auditivo
levando desde uma estenose até a uma obstrução, além da possibilidade de calcificação da
cartilagem por mudanças do tecido fibroso adjacente e, em alguns casos, a calcificação da
derme, agravando a estenose do canal auditivo.1,3
Quadro 1- Causas primárias e secundárias e fatores predisponentes e perpetuantes das Otites externas.1,3,5,7
predisponentes
São responsáveis pela cronicidade e podem ser graves em casos crônicos. Alterações
epiteliais (falha ou alteração da migração transepitelial), canal auditivo (estenose,
edema, alterações proliferativas), ruptura timpânica, hiperplasias, fibrose ou
calcificação pericartilaginosa, doença do ouvido médio.
Causam doença numa orelha normal por alterar o microambiente, permitindo o seu
Causas primárias
desenvolvimento.
Características: Etiologia :
Presença aumentada de cerúmen, Excesso de produção de cerúmen. Predisposição
inflamação, diferentes graus genética em cães das raças: Labrador, Cocker
de eritema, prurido e edema. americano, Cocker inglês, Golden Retriever,
Proliferação de Malassezia Sharpei e, em gatos, a raça Persa. Pode ocorrer
pachydermatis. em associação a quadros seborreicos.
Eczematosa
Características: Etiologia :
Eczema (pavilhão auricular), Principal causa deste tipo de OE são as
eritema c/excesso de cerúmen alergias (dermatite trofoalérgica, dermatite
e, na otoscopia, pápulas atópica, DAPE). Pode ser secundária a otite
esbranquiçadas semelhantes
ceruminosa.
a caviar/ sagu. Proliferação
de M. pachydermatis.
Bacteriana
Características: Etiologia :
Presença de pus. Pode ocorrer Origem bacteriana na maioria dos casos,
desenvolvimento de pólipos exceto em quadros abruptos de maceração,
inflamatórios de origem alérgica por umidade, farmacodermia e celulite juvenil.
(quadros crônicos) que dificultam a
migração epitelial e podem levar a Cocos (Staphylococcus pseudointermedius,
obstrução do conduto. Streptococcus sp) costumam ser encontrados
Pior prognóstico em quadros mais em quadros agudos, enquanto bacilos
associados a M. pachydermatis (Pseudomonas aureginosa, Proteus sp,
(risco de otite média). Escherichia coli) mais em quadros crônicos.
Hiperplásica
Características: Etiologia :
Presença de edema e estenose Cronificação dos demais tipos, com uma notável
da luz do conduto auditivo. correlação com alergopatias ototegumentares.
Geralmente apresenta eritema, Em Cocker Spaniel americano pode haver
podendo apresentar dor a associação a processos de disqueratinização.
manipulação e otoscopia difícil. Pode ser idiopático e refratário a terapia.
Estenosante
Características: Etiologia :
Estenose completa do meato
acústico, com ou sem calcificação É considerada o quadro terminal de todas as
da cartilagem. outras otopatias, independente da etiologia.
Em quadros de oclusão não cessa
a produção de secreção, o que
pode levar ao acúmulo e a fístula
para-aural. Animais com otalgia
crônica.
A otoacaríase, causada pelo ácaro Otodectes cynotis, pode infestar o conduto auditivo de
cães e gatos causando irritação do epitélio do ouvido, gerando reações alérgicas em animais
suscetíveis. Esta otopatia é mais comum em gatos, cães jovens e/ ou animais de abrigos sendo
muito pruriginosa e contagiosa.1,5,6,8 A infestação costuma ser bilateral apresentando normalmente
cerúmen acastanhado, mau odor, prurido, agitação de cabeça, lesão por autotraumatismo e
presença de reflexo otopodal. O ciclo completo pode variar de 16 até 28 dias (Figura 1). Entre as
opções de tratamento mais atuais tem-se o uso de lactonas macrociclícas tópicas com efeito
sistêmico, como a moxidectina de uso tópico que, de acordo com as Diretrizes para o controle de
ectoparasitos de cães e gatos nos trópicos (2022), deve ser repetida após 30 dias.8
5-11 Dias
Fêmea
Ninfa Adulta
s
a 3-
Di 4D
3-8 ias
Os ácaros se alimentam
de substratos epidérmicos
do canal auditivo e das
secreções produzidas pela
inflamação. Ovos
Larva
Figura 1- Ciclo de vida do ácaro Otodectes cynotis. Fonte: Traduzido adaptado de CARITHERS & MIRÓ (2012)
Tratamento
O tratamento visa, em todos os casos, o alívio da dor e da inflamação, cura de
infecções secundárias e a identificação e resolução/controle de causas primárias.
Em todos os tipos de otopatias a limpeza do canal auditivo é recomendada antes
da terapia e, em animais com predisposição genética à produção excessiva de
cerúmen, ela deverá ser contínua. A limpeza remove biofilmes e pequenos corpos
estranhos, secreções e cerúmen, contudo em alguns casos, será necessária a
lavagem otológica para facilitar o exame do canal auditivo. As soluções de limpeza
costumam ter ação ceruminolítica e surfactante, podem ter ação adstringente e
ação antimicrobiana.1,4 E, agentes ceruminolíticos mais suaves devem ser preferidos
para os alergopatas (2-3 X/ mês).4,6
Limp & Hidrat é uma solução indicada para cães e gatos que promove a remoção
do excesso de cerúmen e oleosidade sem causar irritações, enquanto suaviza
e hidrata a pele. Por sua composição natural, Limp & Hidrat é especialmente
recomendado para animais sensíveis, pois sua fórmula não contém corantes e
possui o pH próximo do fisiológico. Para as demais otites seguem as principais
condutas e indicações terapêuticas na Tabela 2.
Otite Tratamento
Cocos: S. pseudointermedius,
Aminoglicosídeos (p.ex.
Streptococcus sp.,
Gentamicina), Florfenicol.
Enterococcus sp.
Fluoroquinolonas (p.ex.
Ciprofloxacina). Os.: Bacilos
podem desenvolver resistência a
aminoglicosídeos. Pseudomonas
Bacilos: P. aureginosa,
sp. costuma ser resistente
Proteus sp, E. coli e
a maioria dos antibióticos
Corynebacterium sp.
e não responde à terapia
com Florfenicol (não usar
empiricamente para tratar
bacilos).
Fungos: M. pachydermatis e
Cetoconazol, miconazol, etc.
Candida albicans
Lactonas macrocíclicas
Ácaro: Otodectes cynotis
(p.ex. Moxidectina).
A falha do tratamento e a não identificação dos fatores primários favorecem a recorrência das
otites, levando ao aparecimento de mecanismos de resistência bacteriana, principalmente
por Staphylococcus spp. e Pseudomonas spp., que são as mais comuns em otite crônica de
cães.3,7 Ademais, a formação de biofilmes é um mecanismo de proteção produzido por muitos
microrganismos inclusive pelo S. pseudintermedius, cuja capacidade de formar biofilmes foi
descrita recentemente. Este mecanismo confere maior resistência das bactérias aos antibióticos
pois, os agentes antimicrobianos não conseguem penetrar no biofilme.3
Referências:
1 BENSIGNOR,E., GAUTHIER,O., CARLOTTI, D.N. Diseases of the Ear. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C.; COTÊ, E. Textbook of veterinary internal medicine: diseases
of the dog and the cat. 8th edition. St. Louis, Missouri: Elsevier, 2 volumes, 2017.
2 CARITHERS, D.; MIRÓ, G. Parásitos. Atlas de información al propietario (Spanish Edition) Tapa dura – 1 Enero 2012. Edición en Español de Editorial Servet.
3 CORDERO, A.M. Manual práctico sobre las otitis externas en perros. 1° edição. España: SERVET, 104 p., 2021.
4 COYNER, K.S. Diagnosis and treatment of acute and chronic otitis. In: COYNER, K.S. Clinical atlas of canine and feline dermatology. Hoboken, NJ : Wiley-Black-
well, 2020.
5 LUCAS, R.; CALABRIA, K.C.; PALUMBO, M.I.P. Otites. In: LARSSON C.E.; LUCAS, R. Tratado de medica externa: dermatologia veterinária. São Caetano do Sul, SP:
Interbook, p.779-820, 2016.
6 MORAILLON, R., LEGEAY, Y., BOUSSARIE, D., SÉNÉCA, O. JOSSIER, R. ROYER, D. Manual Elsevier de Veterinária: diagnóstico e tratamento de cães, gatos e animais
exóticos. 7° edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
7 WOODWARD, M. Otitis Externa in Animals- Professional version. In: MSD Veterinary Manual. Reviewed/Revised Oct 2020| Modified Oct 2022. Disponível em:
https://www.msdvetmanual.com/ear-disorders/otitis-externa/otitis-externa-in-animals
8 TroCCAP: Diretrizes para o controle de ectoparasitos de cães e gatos nos trópicos. 10edição, Agosto 2022.
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