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PATOLOGIAS AUDITIVAS

INTRODUÇÃO

O ouvido é um órgão complexo e sensível que desempenha um papel fundamental


na audição e equilíbrio. Existem várias doenças que podem afetar o ouvido, desde
infecções até condições mais graves. Assim, é importante proteger o ouvido de possíveis
agressões, como exposição prolongada a ruídos intensos, inserção inadequada de objetos
no canal auditivo, uso excessivo de fones de ouvido em volume alto, entre outros.

DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

1.Patologias da orelha externa:


1.1.Dermatites:
São placas eruptivas escamosas que aumentam em profundidade e extensão após
repetidas escoriações com prurido crônico, pele seca e espessamento da pele na fase
crônica. A presença de edema, vesículas e exsudatos, reduz a luz do meato acústico
externo (MAE), favorecendo assim a hipoacusia condutiva. Podem evoluir para uma forma
de otite externa crônica recidivante.

1.2.Patologias do cerúmen:
A Formação do Tampão leva a uma perda auditiva de condução de até 35dB.

1.3.Traumas e ferimentos:
A perda auditiva condutiva ocorre por edema e ou lacerações do MAE, podendo
haver estenose do mesmo, quando a porção cartilaginosa é comprometida.

1.4.Queimaduras na orelha externa:


Podem levar a estenose do MAE e lesão da membrana timpânica como
complicações.

1.5.Oto-Hematoma:
São de etiologia traumática, mas podem ser encontrados em pacientes portadores
de discrasias sanguíneas. Localiza-se sempre na porção superior da face externa do
pavilhão. Quando não tratado, a evolução do otohematoma é lenta, porém é possível a
destruição da cartilagem com deformidades e prejuízo estético.
1.6.Pericondrite:
Infecção de evolução lenta, localizada na cartilagem da orelha externa proveniente
de outras infecções, lacerações, contusões ou cirurgias. Favorece a oclusão do MAE e
perda auditiva condutiva.

1.7.Tuberculose e Leishmaniose:
Lesões granulomatosas que podem comprometer o MAE e orelha média, sendo esta
mais comum na tuberculose, levando a perda auditiva condutiva por oclusão do MAE ou
comprometimento da membrana timpânica e lesão da cadeia ossicular.

1.8.Otites Externas:
São inflamações cutâneas do conduto auditivo externo que podem ser: fúngicas,
localizadas, difusas, crônicas, granulosas e malignas.

1.8.1.Otomicose: Inflamação crônica ou aguda causada por fungos. A


redução auditiva depende do grau de comprometimento da luz do MAE e da
associação com descamação epitelial e cerume.
1.8.2.Otite Externa Localizada: Inflamação cutânea do conduto auditivo
externo causada por estafilococos. Os principais sintomas são otalgia intensa aguda
e hipoacusia devido obstrução do conduto.
1.8.3.Otite Externa Difusa Aguda: Trata-se de dermoepidermite do canal
auditivo externo. Os sintomas encontrados são, prurido, dor, hipoacusia (que
depende da intensidade do edema inflamatório, da quantidade de secreção
purulenta e cerúmen, levando a surdez de condução).
1.8.4.Otite Externa Crônica: Doença inflamatória não tratada
adequadamente. Prurido intenso e hipoacusia são os sintomas mais frequentes.
Hipoacusia devido a restos epiteliais no conduto auditivo externo, secreções
acumuladas, edema e perfurações timpânicas, levando a perdas de condução.
1.8.5.Otite Externa Granulosa: é uma inflamação aguda do terço interno do
conduto auditivo externo incluindo a membrana timpânica, revestida por secreção
purulenta.
1.8.6.Otite Externa Maligna: é uma infecção invasiva e necrotizante do
conduto auditivo externo que acomete basicamente idosos, diabéticos e
imunodeprimidos. São sintomas comuns otalgia, otorréia e hipoacusia que pode
variar de condutiva a mista na dependência da toxicidade e evolução do processo
invasivo. É necessário o tratamento local associado ao uso de antibióticos
sistêmicos e, em alguns casos, o debridamento cirúrgico.
1.9.Queratose Obliterante:
É uma forma de oclusão do conduto auditivo externo, de origem idiopática, caracterizada
por rolha compacta constituída por restos epiteliais queratinizados, firmemente aderida às
paredes do canal auditivo externo. Os sintomas são otalgia e hipoacusia condutiva.

1.10.Colesteatoma do conduto auditivo externo:


Gera sintomas de otalgia crônica monótona, unilateral com ocasional otorréia de
odor fétido, geralmente a audição é normal, o que depende da obstrução do MAE pelo
colesteatoma. A membrana timpânica não está comprometida e há erosão óssea do MAE.
O tratamento depende de sua remoção cirúrgica, bem como de qualquer osso necrótico
local.

1.11.Estenoses adquiridas:
Levam a perda auditiva condutiva de grau variado. Podem ser causadas a partir de:
-Traumas: Formação queloidiana que se desenvolve a partir de cicatriz na
entrada do conduto.
-Inflamatórias- Como consequência de espessamento cutâneo em
dermatites, devido a otites crônicas ou periocondrites de pavilhão.
-Térmicas- Procedem de complicações de queimaduras.
-Pós-operatórias- Devido à remoção de pele e cartilagem insuficiente para a
meatoplastia.

2. Patologias da orelha média:

2.1. Otites médias:


2.1.1. Otite média aguda:
A otite média aguda é uma infecção bacteriana ou viral do ouvido médio. A otite
média aguda frequentemente ocorre em pessoas com um resfriado ou alergias e o ouvido
infectado é doloroso. Os médicos examinam o tímpano para estabelecer o diagnóstico.
Determinadas vacinas rotineiras da infância podem reduzir o risco de otite média aguda. Às
vezes, a infecção é tratada com antibióticos.
A otite média aguda (OMA) resulta de uma infecção provocada por vírus ou
bactérias, geralmente decorrente de uma complicação do resfriado comum ou de alergias.
Embora a otite média aguda possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum entre os três
meses e três anos de idade. A otite média aguda frequentemente ocorre durante esta faixa
etária, uma vez que as estruturas no ouvido médio, como a trompa de Eustáquio, são
imaturas e não funcionam adequadamente. Os sintomas e tratamento são similares em
adultos e crianças maiores.
Raramente, as otites médias bacterianas espalham-se para estruturas próximas tais
como o osso mastóide atrás do ouvido (mastoidite) ou o ouvido interno. Espalhar para o
cérebro é extremamente raro, mas algumas pessoas desenvolvem meningite ou um
acúmulo de pus (abscesso) no cérebro ou ao redor dele.

2.1.2.Otite média secretora:


A otite média secretora consiste num acúmulo de líquido no ouvido médio. A otite
média secretora ocorre quando a otite média aguda não foi completamente resolvida, ou
alergias causam bloqueio da trompa de Eustáquio. As pessoas podem ter sensação de
entupimento e alguma perda auditiva temporária no ouvido afetado.Médicos examinam o
ouvido e usam a timpanometria para diagnosticar este problema. Os médicos podem
precisar fazer uma abertura no tímpano para deixar o fluido drenar.
A otite média secretória (serosa) pode se desenvolver a partir de uma otite média
aguda que não ficou totalmente curada, ou derivar de uma obstrução trompa de Eustáquio.
Tumores são causas raras de bloqueio. A otite média secretora pode ocorrer em qualquer
idade, mas é particularmente comum entre crianças (consulte otite média secretora em
crianças) e pode persistir por semanas a meses.

2.1.3. Otite média supurativa crônica:


A otite média supurativa crônica é uma perfuração do tímpano (membrana
timpânica) de longa data e de drenagem persistente. A otite média aguda e o bloqueio da
trompa de Eustáquio estão entre as causas de otite média supurativa crônica. Pode ocorrer
uma crise após um resfriado, uma infecção no ouvido ou após entrar água no ouvido médio.
As pessoas geralmente apresentam perda de audição e drenagem persistente do ouvido.
Os médicos limpam o canal auricular e aplicam gotas otológicas. Antibióticos e cirurgia
podem ser utilizados para casos graves. A otite média supurativa crônica é geralmente
causada por uma otite média aguda, bloqueio da trompa de Eustáquio (que conecta o
ouvido médio e a parte posterior do nariz), uma lesão no ouvido ou lesões explosivas.
A otite média supurativa crônica pode piorar depois de uma infecção do nariz e
garganta, como no resfriado comum, ou depois de ter entrado água no ouvido médio
através de um orifício (perfuração) no tímpano, durante o banho ou ao nadar. Geralmente,
esses agravamentos resultam em secreção indolor de pus, que pode ter forte mau cheiro,
saindo do ouvido. Os agravamentos persistentes podem dar origem à formação de
protuberâncias, denominadas pólipos, que se estendem a partir do ouvido médio,
atravessam a perfuração e chegam ao canal auricular. Uma infecção persistente pode
destruir partes dos ossículos – os pequenos ossos no ouvido médio que conectam o
tímpano ao ouvido interno e conduzem sons do ouvido externo para o ouvido interno –
causando perda de audição condutiva (perda auditiva que ocorre quando o som é
bloqueado de alcançar as estruturas sensoriais no ouvido interno).

2.2.Otosclerose:
A otosclerose é uma doença hereditária, degenerativa do osso que forma o ouvido
interno, levando à fixação de um ossículo do ouvido médio chamado estribo e dificultando a
transmissão do som. O estribo é originalmente móvel e o seu movimento transmite o som
para o ouvido interno. Quando ele se fixa, há perda de audição. A doença se manifesta em
duas fases: a primeira é chamada de Otospongiose (o osso está imaturo, não está fixado) e
a segunda é a Otosclerose propriamente dita (o osso está maduro e já se fixou). A doença
pode também afetar isoladamente a cóclea (porção do ouvido interno que contém
terminações nervosas responsáveis pela audição). Nesse caso, é chamada de Otosclerose
Coclear. A causa é um distúrbio no metabolismo do flúor/cálcio. Ocorre em pessoas da
mesma família, com prevalência para o sexo feminino após a puberdade. O sintoma
principal da otosclerose é perda de audição uni ou bilateral progressiva, zumbidos e
raramente tonturas.

2.3.Perfuração de membrana timpânica:


A perfuração traumática da membrana timpânica pode causar dor, otorragia, perda
auditiva, zumbido e vertigem. O diagnóstico baseia-se na otoscopia. O tratamento quase
sempre é desnecessário. Os antibióticos podem ser necessários caso haja infecção. O
tratamento cirúrgico pode ser necessário nos casos de perfurações que persistam por 2
meses, desarticulação da cadeia ossicular ou lesões que afetam a orelha interna.
Causas traumáticas de perfuração da membrana timpânica incluem:
- Inserção de objetos dentro do meato acústico proposital (p. ex., cotonetes) ou
acidentalmente;
- Concussão ocasionada por explosão ou tapa de mão aberta na orelha;
- Traumatismo craniano (com ou sem fratura basilar);
- Fratura do osso temporal longitudinal;
- Pressão súbita negativa (p. ex., sucção forte aplicada ao meato acústico);
- Barotrauma (p. ex., durante viagens de avião ou mergulho);
- Perfuração iatrogênica por instrumentação durante a irrigação ou a remoção de
corpo estranho ou cerume;
- Ferimentos penetrantes da membrana timpânica podem resultar em desarticulação
da cadeia ossicular, fratura da platina do estribo, deslocamento de fragmentos dos
ossículos, sangramento, fístula perilinfática na janela oval ou redonda, ou lesão do
nervo facial.

3.Patologias do ouvido interno:

3.1.Fratura do osso temporal:


O osso temporal (o osso do crânio que contém parte do canal auditivo, o ouvido
médio e o ouvido interno) pode sofrer uma fratura decorrente de uma pancada no crânio.
Uma fratura do osso temporal pode causar paralisia facial, perda da audição, manchas
roxas atrás do ouvido e sangramento do ouvido. Os médicos realizam uma tomografia
computadorizada (TC) para diagnosticar fraturas do osso temporal. É necessário
tratamento, que por vezes inclui cirurgia, se a fratura causar problemas. As fraturas do osso
temporal podem causar várias lesões nas estruturas do ouvido médio e interno. As lesões
incluem ruptura do tímpano e danos dos ossículos (a cadeia de pequenos ossos que liga o
tímpano ao ouvido interno), da cóclea (o órgão da audição), do aparelho vestibular (o órgão
de equilíbrio no ouvido interno) ou do nervo que controla os músculos da face (nervo facial).

3.2.Doença de Ménière:
A doença de Ménière é um distúrbio caracterizado por ataques recorrentes de
vertigem incapacitante (uma sensação falsa de movimento ou giro), perda de audição
flutuante (nas baixas frequências) e barulho no ouvido (acufeno). Os sintomas incluem
súbitos ataques não provocados de vertigem incapacitante severa, náusea e vômito,
geralmente seguidos de sensações de pressão no ouvido e perda da audição. Os médicos
costumam proceder à realização de testes de audição e, por vezes, de ressonância. Uma
dieta pobre em sal e um diurético podem diminuir a gravidade e a frequência das crises.
Medicamentos como meclizina ou lorazepam podem ajudar a aliviar os sintomas de
vertigem, mas não previnem as crises.
Acredita-se que a doença de Ménière seja causada por uma quantidade de líquido
em excesso que esteja normalmente presente no ouvido interno. O líquido no ouvido é
mantido em uma estrutura em forma de bolsa chamada de saco endolinfático. Esse líquido
é secretado e reabsorvido de forma contínua, mantendo-se em uma quantidade constante.
Tanto um aumento da produção de líquido do ouvido interno, quanto uma diminuição de sua
reabsorção, resultam em excesso de líquido. Não se sabe porque isso acontece. Essa
doença normalmente ocorre em pessoas entre os 20 e 50 anos de idade.
3.3. Schwannoma vestibular:
Um schwannoma vestibular, também chamado neuroma acústico, é um tumor
derivado das células de Schwann do VIII nervo craniano. Os sintomas incluem perda
auditiva unilateral. O diagnóstico baseia-se na audiometria e é confirmado pela RM. Quando
necessário, o tratamento consiste em remoção cirúrgica e/ou radioterapia estereotáxica. Na
vertigem posicional paroxística benigna, ocorrem episódios curtos de vertigem (< 60 s) com
certas posições da cabeça. Náuseas e nistagmo se desenvolvem. O diagnóstico é clínico. O
tratamento envolve manobras de reposicionamento. Fármacos e cirurgia são raramente, ou
nunca, indicados. Os fármacos podem causar perda de audição, desequilíbrio e/ou
zumbido. Fármacos comuns incluem aminoglicosídeos, fármacos quimioterápicos contendo
platina e altas doses de salicilatos. Os sintomas podem ser transitórios ou permanentes.
Usar a menor dose possível de aminoglicosídeos e medir os níveis dos fármacos durante o
tratamento pode prevenir a perda auditiva causada pelo uso de fármacos ototóxicos. Se
possível, os fármacos são interrompidos, mas não há tratamento específico.

3.4.Herpes-zóster ocular:
Herpes-zóster ótico é uma manifestação incomum do vírus herpes zoster que afeta
os gânglios do VIII par craniano e o gânglio geniculado do VII par craniano (facial).

3.5.Labirintite purulenta:
Labirintite purulenta (supurativa) é a infecção bacteriana da orelha interna, muitas
vezes causando surdez e perda da função vestibular. A labirintite purulenta costuma ocorrer
quando as bactérias se disseminam para a orelha interna, durante o curso de otite média
aguda grave, meningite purulenta, trauma que causa fratura por labirintite com infecção
subsequente ou uma colesteatoma alargada.

3.6. Neuronite vestibular:


A neuronite vestibular causa um quadro vertiginoso agudo, provavelmente decorrente da
inflamação da divisão vestibular do VIII par craniano; alguma disfunção vestibular pode
persistir após o episódio. Às vezes, usa-se neuronite vestibular como sinônimo de labirintite
viral. Mas neuronite vestibular só se manifesta com vertigem, enquanto labirintite viral
também é acompanhada por zumbido, perda auditiva ou ambos. Embora a etiologia não
seja clara, suspeita-se de causa viral. A neuronite vestibular costuma ser unilateral.
CONCLUSÃO

É importante ressaltar que o tratamento das patologias detalhadas na revisão de


literatura deve ser individualizado e determinado pelo médico otorrinolaringologista, levando
em consideração o diagnóstico, a gravidade da doença, a idade do paciente e outros fatores
relevantes. É fundamental seguir as orientações médicas e não se automedicar, para que
se possa evitar ao máximo riscos para o paciente.

REFERÊNCIAS

● Material do curso de pós graduação em Audiologia com ênfase em reabilitação


auditiva- 2023.
● Bento FR, Miniti A, Marone, SAM. Tratado de Otologia – São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo: Fundação otorrinolaringologia: FAPESP,1998.
● Costa SS, Cruz OLM, Oliveira JAA, et al. Otorrinolaringologia: princípios e prática –
2. Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2006.
● IBS - Doenças do ouvido. Disponível em:
<http://institutobrasileirodosono.com.br/index.php/otorrinolaringologia/84-doencas-do
-ouvido.>. Acesso em: 26 jul. 2023.
● Manuais MSD edição para profissionais. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional>.

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