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DISCIPLINA: OTORRINOLARINGOLOGIA

PATOLOGIAS DO OUVIDO MÉDIO

12- OTITE SEROSA OU SEROMUCOSA OU OM C/ EFUSÃO


“doença vedeta em ORL”
DEFINIÇÃO: Otite crónica não infecciosa devido a obstrução tubária
ETIOLOGIA: desconhecida
FACTOR mais importante: disfunção tubária devida a:
- Hipertrofia de vegetações adenóides (HVA) é mais frequente nas crianças
- Adenoidite crónica normo ou hipertrófica, também frequente nas crianças
- Tumores da nasofaringe “ tumor do Cavum” (até prova em contrário todo adulto com
um exame audiométrico ou impedanciometrico que apareça com otite serosa é tumor da
nasofaringe)
- Barotraumatismo + sinusite/rinite
- Alergia (+ frequente em crianças)
- Fenda paladar (em cças e tb adultos)
INCIDÊNCIA:
Sexo: igual em ambos os sexos, com ligeiro predomínio no masculino
Idade: dos 2-8 anos
CARACTERISTICAS CLÍNICAS:
- Hipoacúsia de transmissão (principal e as x o único sintoma). Na cça vê-se que ela é
distraída, pede sempre para repetir o que lhe dizem, diminuição da aprendizagem
escolar.
- Otalgia inconstante
- Otoscopia:
* Tímpanos deprimidos e sem brilho
* Cabo do martelo torna-se horizontalizado
* Curta apófise saliente
- Exploração do ouvido com:
* Audiometria: hipoacúsia de grau moderado
* Impedanciometria: Timpanograma desviados nas pressões negativas ou tímpano de
grau 0 (zero) plano

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TRATAMENTO:
Médico:
 Antiinflamatório
 Antihistamínico
 Descongestionante nasal se não haver contra-indicações
Cirúrgico:
 Adenoidectomia (raspar o cavum
 Adenoidectomia + miringotomia
 Colocação de tubos transtimpánicos (para equilibrar a pressão: retira-se líquido
com a particularidade de ser viscoso + não é “glue” parece cola + não é).
Sheppard e paparela são tubos transtimpánicos.
COMPLICAÇÕES DA OTITE SEROSA
a) Na criança pode dar OMA recidivantes
b) Microperfuração→ otorreia
c) OMC
d) Otite fibroadesiva (o líquido que ocupa a caixa do tímpano ocupará o espaço de
ar e haverá uma retracção por diminuição de pressão)
e) Colesteatoma: Com a diminuição da pressão da caixa timpânica e aumento de
pressão externa há uma retracção da caixa e a camada externa fica deprimida.
2,8% de otite serosa entre os 2-7 anos em Angola
10-12% de otite serosa entre os 2-7 na Coite d´ivoire
3% de otite serosa entre os 2-7 em Dakar

13- OTITE MÉDIA AGUDA (OMA)


DEFINIÇÃO: Inflamação exudativa aguda da mucosa da caixa do tímpano (CT),
trompa de Eustáquio (TE), e das cavidades aéreas adjacentes da mastóide. +
frequente em cças.
- É a doença mais frequente, depois da rinofaringite
- Doença acidental que aparece num ouvido sem antecedentes patológicos
FACTORES PREDISPONENTES CERTOS:
 Idade: incidência máxima antes dos 2 anos
 Sexo: o masculino é predominante. Não se sabe a razão.
 Imaturidade do sistema imunitário nas crianças prematuras, adultos (HIV)

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 Abundância do tecido linfoide na orofaringe: ele bloqueia o orifício da TE; isto
na cça
 Fraco lúmen (luminosidade) da TE: não drena quantidade suficiente do líquido
da CT e não leva boa quantidade de ar dentro desta caixa, favorecendo assim a
virulência de microorganismos saprófitos que se tornarão patogénicos
 Postura da cça durante a amamentação: decúbito dorsal→ estagnação de leite na
rinofaringe
 Ventilação inadequada da CT
 Difícil drenagem da CT
FACTORES PREDISPONENTES POSSÍVEIS
 Baixo nível social
 Factores sociais ou genéticos
 Influência do clima (frequência de uma estação fria)
 Deficiência imunitária e férrica
ETIOLOGIA
- Estreptococos 50% (adultos)
- Pneumococos 30% (cças)
- Estafilococos 10%
- H. Influenza 10%
CARACTERISTICAS CLÍNICAS
Existem 2 fases a pré e a pós perfuração
OMA antes da perfuração:
 Otalgia pulsátil irradiando à cabeça
 Hipoacúsia de transmissão ou condução (sinal funcional)
 Dor na região mastóide à palpação (mastoidismo é uma complicação de OMA)
 Otoscopia: tímpano hiperemiado e abaulado
 As x sobretudo nas crianças encontramos febre (tº ↑), pulso rápido, anorexia,
recusa ao seio
 OMA depois da perfuração:
 Otorreia (ruptura do tímpano)
 Alívio da dor imediato: 1º st. Assim se denomina OMA supurada

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DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico de OMA é otoscópico (ver hiperémia e abaulamento do tímpano). A
OMA é uma doença de urgência.
COMPLICAÇÕES:
 Mastoidite aguda
 Labirintite
 Meningite
 Paralisia facial
TRATAMENTO
- Antibióticos: começar com Penicilina. Actualmente há um consenso internacional:
Augmentin; sulfametoxazol também pode ser usado
- Analgésicos se haver muita dor. Muitas x são locais quando a dor for muito intensa
(ex: otocalma, otopax + estas gotas pvocam 1 coloração esbranquiçada no tímpano,
por x deixam depósitos no tímpano, e ao fazer otoscopia nos já medicados torna-se
difícil diagnosticar a OMA.
- Não aconselhável os antiinflamatórios porque os antibióticos geralmente resolvem
- Descongestionante nasal: só para doentes com rinorreia
- Miringocentese só se dor intensa que não cede com analgésicos
- Reavaliar o doente 48h depois
14- MASTOIDITE AGUDA
DEFINIÇÃO: inflamação da apófise mastoidea
ETIOLOGIA: é uma complicação de OMA
CARACTERISTICAS CLÍNICAS
 Otalgia variável na sua intensidade (irradia/ região mastoidea)
 Hipoacúsia variável ou inexistente
 Otomastoidite: {* desaparecimento do sulco retroauricular (haverá um
abaulamento que lavará a: * empurramento do pavilhão auricular; * Otorreia
Resumo da tríada: Otorreia + otalgia à pressão da mastóide + tumefacção
retroauricular com empurramento do pavilhão = Otomastoidite
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
 Furúnculo do CAE
 Parotidite
 Linfadenite

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COMPLICAÇÕES: paralisia do nervo facial
TRATAMENTO
1º Cirurgia:
- Mastoidectomia ou
- Incisão e drenagem
Depois:
- Antibiótico
- Antinflamatório

15. OTITE MÉDIA CRÓNICA PURULENTA SIMPLES (OMCPS)


DEFINIÇÃO: inflamação crónica da mucosa do ouvido médio, predominantemente
da caixa timpânica
ETIOLOGIA: OMA mal curada; otite serosa
CARACTERISTICAS CLÍNICAS
 Otorreia crónica mucopurulenta inodora
 Ausência de otalgia
 Otorreia abundante
 Perfuração mesotimpánica da pars tensa + não marginal
 Surdez de transmissão que varia com a localização e o tamanho da perfuração
Zona anterior: o rinnie não passa os 60 dB
Zona postero-superior: grande perda de audição, o martelo fica quase isolado do
tímpano e não tem estrutura para tocar e transmitir o som.
SEQUELAS
- Perfuração timpânica simples
- Perfuração timpânica associada a uma lesão ossicular
- Sequelas fibroadesivas
- Timpanoesclerose: cobre a própria perfuração e provocam uma quase imobilidade
do tímpano, muitas vezes encontramos dentro da CT
TRATAMENTO
- Normalmente é cirúrgico, mais feito após o tratamento médico. O ouvido deve
estar seco por vezes após 4 meses de tratamento médico
- Miringoplastia
Faz-se uma timpanoplastia com ou sem ossiculoplastia.

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Timpanoplastia tipo I: Martelo
Timpanoplastia tipo II: Martelo e bigorna
Timpanoplastia tipo III: Martelo, bigorna e estribo
Efeito colimelar: a massa do colesteatoma faz um contacto com os assículos→pouca
perda auditiva

16- COLESTEATOMA OU OMC COLESTEATOMATOSA


DEFINIÇÃO:
1) Lesão caracterizada pela presença do epitélio queratinizado no OM ou
2) É a presença de pele num lugar errado
CARACTERISTICAS CLÍNICAS:
 Otorreia purulenta fétida e mínima (escassa) é o motivo de consulta, porque
embora escassa é muito fétida. (diagn diferencial c/ OMCPS)
 Interessa todas as idades; existe o colesteatoma congénito
 Surdez progressiva: ↑ com a duração
 Não há otalgia nem febre, se houver é porque há uma agudização ou
sobreinfecção
 Não há cefaleia, se haver é porque provavelmente há complicações. È menos
frequente em Angola
FACTORES PREDISPONENTES:
- Má ventilação e má drenagem do OM
- Migração ectópica do epitélio de malphigi
EXAME DO OUVIDO: chave do diagnóstico
 Otoscopia: perfuração epitimpánica e marginal (membrana de Sharpnell), há um
pólipo sentinela por vezes
 Presença de pólipo no CAE
 Procura de complicações ex: Sinal de fístula: o doente sentado, fazer a obstrução
do ouvido (tapar o tragus), quando largar o doente refere vertigens; significa que
já há uma invasão no OI
 Audiometria: Hipoacúsia de transmissão
 Radiografia: Convencional e tomodensiometria (dá-nos a extensão da lesão)
 TAC

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COMPLICAÇÕES:
- Fístula labiríntica: mais frequente
- Paralisia facial (VII)
- Meningoencefalite
TRATAMENTO:
Deve ser urgente
- Cirúrgico
- Esvaziamento petromastoideo (EPM)
PROGNÓSTICO:
Quanto a função: mau (haverá perda auditiva)
Quanto a vida: bom
REGRAS BÁSICAS:
 Otorreia abundante não fétida coloca-la no grupo de OMCPS
 Otorreia escassa, muito fétida, pode ser colesteatoma
 Otorreia mais hipoacúsia, fazer otoscopia (é a chave do exame, pode-se ver
matriz de colesteatoma)
 Colesteatoma é a patologia extremamente grave para o doente, a solução é
unicamente cirúrgica.

17- OTITE MÉDIA TUBERCULOSA (OMT)


CONSIDERAÇOES GERAIS:
 Afecção rara noutros países
 Alguns casos já diagnosticados no serviço de ORL/HJM
 Importância da tuberculose no nosso País
 Evolução não bem controlada
 Situação socioeconómica difícil
 Porta de entrada é a nasofaringe e raramente hematogénia
ETIOLOGIA:
- Bacilo de Kock, infecção secundária a uma tuberculose pulmonar
ANATOMOPATOLOGIA:
- Formações de tubérculos e caseificação ao nível da mucosa do OM
- Perfurações múltiplas do tímpano que mais tarde podem se juntar (confluência)

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CARACTERISTICAS CLÍNICAS:
- Otorreia não fétida
- Perfurações múltiplas do tímpano no início
- Hipoacúsia mista
DIAGNÓSTICO: Suspeitar de OMT se:
 Surdez mista (com grande componente de transmissão)
 Ausência de otalgia
 Otorreia
 Tuberculose pulmonar activa
 Descoberta de bacilo de kock no exsudado auricular
TRATAMENTO
Médico: tuberculostáticos
Cirúrgico: Libertação do nervo VII, no caso de paralisia facial

18- COMPLICAÇÕES DE OTITES CRÓNICAS


1- COMPLICAÇÕES ENDOTEMPORAIS
a) Paralisia facial
* No decurso de uma otomastoidite aguda
TRATAMENTO
- Antibiótico + corticoide + paracentese (se tiver líquido na cx timpânica: pode ser
por agulha ou lâmina de bisturi)
- Mastoidectomia em SOS

* No decurso de um colesteatoma
- Sinal de alerta: Espasmo palpebral e parésia facial
TRATAMENTO
- Esvaziamento petromastoideo ou mastoidectomia radical de urgência

b) Labirintite otítica
SINAIS DE ALERTA:
- Vertigens
- Náuseas com vómitos
- Acufenos

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- Hipoacúsia de percepção profunda
- Ausência de otalgia
- Ausência de febre
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Doença de méniere
TRATAMENTO:
- Cirurgia (mastoidectomia) simples ou radical (no colesteatoma)
- Antibioterapia mais antiinflamatórios

2- COMPLICAÇÕES ENDOCRANEANAS
* Abcesso extra-dural: deve-se drenar
* Meningite otogénica: o tratamento por vezes é cirúrgico
* Tromboflebite sinuso-jugular (é o mais grave)
* Abcesso encefálico otogénico

19- BAROTRAUMATISMO
SINÓNIMOS: Aerotite; barotrauma otítica
DEFINIÇÃO: Reacção inflamatória não infecciosa da mucosa timpânica, devida a baixa
de pressão superficial do tímpano em relação a pressão atmosférica circundante; i.e.
quando a pressão intratimpánica torna-se negativa.
ETIOLOGIA:
- Perda rápida de altitude (voo, mergulho)
- Edema da mucosa da TE, este edema levará a transudação com acumulação de líquido
na Caixa timpânica
- Excesso de tecido linfoide (hipertrofia das veget. aden.), mais frequente em crianças
ANATOMOPATOLOGIA
 Retracção da membrana timpânica e baixa relação da pressão da caixa timpânica
no OM
 Congestão vascular da mucosa do OM que implica edema e transudação do
líquido dos vasos: Vê-se por otoscopia ou macroscopicamente
 Possibilidade de relaxamento ou de ruptura do tímpano e da membrana da janela
redonda.

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CARACTERISTICAS CLÍNICAS
 Otalgia aguda que desaparece em poucas horas ou permanece por longo período
 Hipoacúsia reversível nalguns casos e irreversíveis em casos raros (otite interna
barotraumática)
 Autofonia
 Sensação de plenitude
 Acufenos
 Vertigens por vezes
DIAGNÓSTICO
 Anamnese (95%): história de banho ou avião
 Otoscopia: Hiperémia da MT logo depois do barotraumatismo; mais tarde a MT
pode ter diferentes cores ex: cinzenta
 ATS: surdez condução (na maioria); de percepção se atingir o ouvido interno ou
mista
 IPD: desvio do timpanograma nas pressões negativas, se haver líquido na CT
TRATAMENTO
 Gotas nasais descongestionantes:
 Cateterismo da TE se não há líquido (pode haver pressão negativa por colapso
da TE)
 Miringotomia no caso de haver líquido
PROFILAXIA
 Evitar viajar de avião, praia, piscina no caso de inflamações rinofaríngeas, nasais
e dos seios perinasais
 Evitar o sono durante a descida (no avião)
 Aplicar vasoconstritores antes da descida do avião ex: 3 gotas em cada narina
antes da descida
 Auto-insuflação por método de valsalva ou mascar pastilha

20- OTOESCLEROSE (anglo-saxónica)


SINÓNIMO: Otoespongiose (francesa)
DEFINIÇÃO: É uma doença da cápsula ótica (labirinto ósseo) na qual o novo tecido
esponjoso provoca a anquilose da platina. A transmissão do OI para o OM será
bloqueada ou impossibilitada.
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ETIOLOGIA:
- Desconhecida
- Doença hereditária
INCIDÊNCIA:
 Igual em ambos os sexos, ligeira tendência para o feminino pela influência
hormonal
 Raça: a branca predomina. Em Angola encontrou-se casos nos mucuacanhas
(Cunene) e boxímanes. Rara na raça negra
 Idade: 20-30 anos. Raro antes doa 10 e depois dos 40 anos. Podemos encontrar
otoesclerose juvenil (raro)
CARACTERISTICAS CLÍNICAS:
 Surdez bilateral e progressiva. Esta hipoacúsia é o sintoma dominante que o leva
ao médico
 Paracúsia de Willis: o doente ouve melhor em ambiente ruidoso (discotecas,
barulho de motor etc.), porque as pessoas tendem a falar muito alto nestes locais
 Acufenos: frequentes e podem ser intensas
 Vertigens: raras.
 Otoscopia: tímpanos sem alteração
AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO:
 Acumetria: nunca operar sem antes fazer este exame
- Rinnie: negativo
- Weber: lateralizado no ouvido onde o rinnie é mais negativo
 Audiometria: Surdez de transmissão
 Impedanciometria:
- Timpanograma normal (salvo uma redução da compliance)
- Reflexos estapédicos ausente
- Prova de Bing negativa
TRATAMENTO:
 È estritamente cirúrgico
- Estapedectomia com colocação de prótese de teflon. Resultado é excelente

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