Você está na página 1de 28

Capítulo

Otite Externa, Média e Interna


46
Alexander H. Werner

Panorama

■ Otite externa: inflamação do canal auditivo externo; acomete estruturas anatômicas do pavilhão auricular, os
canais horizontais e verticais e a parede externa da membrana timpânica
■ Otite média: inflamação da orelha média; acomete estruturas anatômicas da parede média da membrana
timpânica, a bulha (cavidade timpânica), ossículos auditivos e a tuba auditiva
■ Otite interna: inflamação da orelha interna; acomete estruturas anatômicas da cóclea, os canais semicirculares e
nervos associados (nervos cranianos VII e VIII)
■ Termos são descrições de sinais clínicos, não diagnósticos
■ Ototoxicidade: comprometimento ou dano da orelha interna e/ou do oitavo nervo craniano; neurotoxicidade
(especificamente durante o tratamento de otite externa ou média); dano do oitavo nervo craniano.

Etiologia e Jsiopatologia

■ Canal auditivo externo: a cartilagem auricular em forma de cone cria o pavilhão auricular e a parte proximal do
canal vertical; a cartilagem anular se sobrepõe com a cartilagem auricular e estende­se para a parede externa do
tímpano; glândulas sebáceas e glândulas apócrinas modificadas (glândulas de cerume) revestem o canal e
produzem uma secreção com quantidades variáveis de lipídios (níveis maiores em cães com otite externa)
■ Tímpano: dividido nas partes flácida e tensa; a parte flácida (que tem a denominação alternativa “membrana
dorsal”) é a pequena parte dorsal ao anel ósseo do meato acústico externo; pode ficar tumefata com inflamação
ou aumento da pressão na orelha média; o manúbrio do maléolo na superfície medial se curva rostralmente
■ Otite externa: a inflamação crônica causa alterações do ambiente normal do canal; com inflamação, as glândulas
aumentam de tamanho e produzem excesso de cera; a epiderme e a derme ficam mais espessas e tornam­se
fibróticas; as pregas dos canais, espessadas, reduzem efetivamente a largura do canal; no estágio final, há
calcificação da cartilagem auricular
■ Canal auditivo médio: superfície média da membrana timpânica, bolha (cavidade timpânica – normalmente cheia
de ar) e ossículos auditivos; cão – septo incompleto (crista da bolha) e promontório (contém a cóclea e se
comunica com a bolha através das janelas oval e redonda); gato – bolha dividida por um septo intacto (associado
a nervos simpáticos pós­ganglionares); três ossículos auditivos transferem o movimento do tímpano para a
orelha interna; bolha conectada à nasofaringe pela tuba auditiva
■ Otite média: em geral, uma extensão de otite externa através do tímpano rompido; pode ocorrer sem ruptura da
membrana; pode ocorrer devido a pólipos ou neoplasia no interior da orelha média ou da tuba auditiva
■ Orelha interna: estruturas anatômicas da cóclea, dos canais semicirculares e nervos associados (nervos
cranianos VII e VIII)
■ Otite interna: extensão de otite média ou disseminação hematogênica de infecção; extensão de neoplasia do
tecido circundante
■ As causas de otite externa costumam ser classificadas como predisponentes, primárias ou perpetuantes
As causas predisponentes modificam o ambiente do canal auditivo, facilitando a inflamação e estimulando a
■ infecção secundária
■ As causas primárias iniciam diretamente ou causam inflamação no interior do canal auditivo
■ As causas perpetuantes impedem a resolução da inflamação e/ou do canal auditivo.

Identi Jcação e histórico

Predileções raciais

■ Cães de orelhas pendulosas (“caídas”): Spaniel, Retriever e Hound (Figura 46.1)


■ Canais peludos: Terrier e Poodle
■ Canais estenóticos: Shar­Pei
■ Otite média primária secretora: Cavalier King Charles Spaniel.

Achados da anamnese

■ Dor (provocando desvio ao toque da cabeça ou recusa a abrir a boca)


■ Sacudir a cabeça
■ Coçar o pavilhão auricular
■ Mau cheiro

■ Figura 46.1 Pavilhão auricular penduloso (Basset Hound).

■ Déficits vasculares periféricos


■ Déficits do nervo facial e/ou síndrome de Horner.

Fatores de risco e causas predisponentes

■ Conformação anormal ou relacionada com a raça do canal externo (p. ex., estenose, canais peludos e pavilhão
auricular penduloso) restringe o fluxo de ar adequado no canal
■ Umidade excessiva (p. ex., natação, umidade do ambiente ou limpezas frequentes) pode ocasionar infecção;
proprietário muito zeloso cumpre excessivamente as recomendações para limpar as orelhas e/ou usa soluções
impróprias
■ Reação a medicamento tópico e irritação ou traumatismo em decorrência de técnicas de limpeza muito
agressivas
■ Doenças sistêmicas subjacentes que causam anormalidades no microambiente do canal auditivo e na resposta
imune
■ Otite média é uma sequela frequente de otite externa crônica
■ Pólipos nasofaríngeos e neoplasia do canal auditivo interno, médio ou externo
■ Anestesia inalatória pode alterar a pressão na orelha média.

Características clínicas

Otite externa

■ Surdez
■ Exsudatos purulentos e malcheirosos
■ Inflamação, dor, prurido e eritema do pavilhão auricular e dos canais externos
■ Oto­hematoma
■ Tumefação do canal ocasionando estenose
■ Fibrose e calcificação da cartilagem auricular; canais palpados firmes e espessados
■ Pavilhão auricular mantido abaixado e/ou desvio da cabeça na direção do lado acometido (se unilateral)
■ Otite externa crônica em cães resulta em ruptura da membrana timpânica (71%) e otite média (82%) (um
estudo)
■ Dermatite alérgica: causa mais comum de otite externa em cães
■ Pólipos e ectoparasitas: causa mais comum de otite externa recorrente em gatos.

Otite média

■ Membrana timpânica intacta: tecido abaulado com evidência de líquido e/ou gás caudalmente; a membrana pode
estar opaca; o líquido pode ser purulento ou hemorrágico
■ Tumefação da parte flácida: pode indicar aumento de apresentação na orelha média; vista comumente com otite
média secretora primária na raça Cavalier King Charles Spaniel
■ Ruptura da membrana timpânica: corrimento no canal ou bolhas cheias de líquido com restos
■ Surdez
■ Dor à palpação das bulhas ou abertura da boca
■ Faringite, tonsilite ou secreção através da tuba auditiva
■ Linfadenopatia se grave ou crônica.

Otite interna

■ Surdez
■ Achados neurológicos
■ Déficits vestibulares (nervo craniano VIII): nistagmo, desvio da cabeça (ipsilateral), ataxia, anorexia, vômito
e relutância para mover a cabeça
■ Déficits do nervo facial: paresia ou paralisia das pálpebras, dos lábios, da língua, das narinas; produção
reduzida de lágrimas; miose, ptose, protrusão da membrana nictitante e enoftalmia (síndrome de Horner).

Diagnóstico diferencial
Otite externa e média

■ Causas primárias
■ Parasitas: Otodectes cynotis, Demodex spp., Sarcoptes scabiei, Notoedres cati e Otobius megnini (Figuras
46.2 a 46.5)
■ Hipersensibilidade: atopia, hipersensibilidade alimentar, alergia por contato e reação medicamentosa local ou
sistêmica (Figuras 46.6 a 46.11)
■ Corpo estranho: material vegetal, acúmulo de pelos, medicação
■ Obstrução: neoplasia, pólipo, hiperplasia de glândula ceruminosa, acúmulo de pelos (Figuras 46.12 a 46.14)

■ Figura 46.2 Otite externa purulenta secundária a demodicose.

■ Figura 46.3 Otite externa secundária a demodicose.


■ Figura 46.4 Crosta no pavilhão auricular e otite externa secundária a escabiose.

■ Figura 46.5 Otite externa induzida por traumatismo em decorrência de parasitismo por Notoedres cati.
■ Figura 46.6 Traumatismo induzido por hipersensibilidade alimentar.

■ Figura 46.7 Hipersensibilidade alimentar e otite externa secundária a Malassezia.


■ Figura 46.8 Reação ao tapazol ocasionando urticária e descamação do pavilhão auricular.

■ Figura 46.9 Urticária secundária a atopia.


■ Figura 46.10 Crosta no pavilhão auricular em decorrência de eritema multiforme.

■ Figura 46.11 Atrofia do pavilhão auricular secundária à aplicação crônica de pomada de corticosteroide tópico.
■ Figura 46.12 Hiperplasia de glândula ceruminosa (Cocker Spaniel).

■ Figura 46.13 Obstrução do canal devido a hiperplasia e calcificação da cartilagem do pavilhão auricular (Cocker
Spaniel).
■ Figura 46.14 Adenocarcinoma de glândula ceruminosa.

■ Distúrbio da queratinização: maior produção de cerume, resultando em obstrução funcional do canal,


endocrinopatia (Figuras 46.15 e 46.16)
■ Doença autoimune: frequentemente acomete os pavilhões auriculares e, com menor frequência, o canal
auditivo externo (Figuras 46.17 e 46.18)
■ Causas perpetuantes
■ Infecção bacteriana: Staphylococcus pseudointermedius, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus
spp.,Proteus mirabilis, Streptococcus spp., Corynebacteria spp. e Escherichia coli (Figura 46.19)
■ Pseudomonas aeruginosa mais comumente cultivada na otite média

■ Figura 46.15 Distúrbio da queratinização produzindo crostas espessas aderentes no pavilhão auricular.
■ Figura 46.16 Placas coalescentes de adenite sebácea na cabeça e no pavilhão auricular (Viszla).

■ Figura 46.17 Crostas na margem do pavilhão auricular devido a pênfigo foliáceo.


■ Figura 46.18 Crostas na face e otite externa secundária a pênfigo foliáceo.

■ Figura 46.19 Otite externa com infecção secundária por Pseudomonas.


■ Figura 46.20 Cartilagem calcificada do canal auditivo externo (tecido excisado).

■ Infecção fúngica: Malassezia pachydermatis, Candida albicans e, raramente, outros fungos (Sporothrix
schenckii, Cryptococcus neoformans)
■ Alterações crônicas: estenose do canal devido a hiperplasia de glândula ceruminosa e formação de pólipo,
tumefação decorrente de inflamação, fibrose e calcificação (Figuras 46.20 e 46.21)
■ A alteração crônica aumenta a retenção de restos na orelha, devido ao aumento da produção de cerume e à
menor remoção da migração epidérmica e por obstrução física (Figuras 46.22 e 46.23)
■ Otite média (Figuras 46.24 a 46.26).

Otite interna

■ Extensão de infecção de otite interna ou média (Figuras 46.27 e 46.28)


■ Doença vestibular central: diferenciada por sinais do tronco cerebral, como estupor e letargia
■ Neoplasia e pólipos nasofaríngeos: diagnosticados por estudos de imagem
■ Endocrinopatia: polineuropatia e síndrome de Horner associada a hipotireoidismo
■ Toxicidade do metronidazol
■ Deficiência de tiamina (gatos)
■ Traumatismo
■ Doença vestibular idiopática (cães idosos e gatos de meia­idade): o diagnóstico é feito por exclusão de outras
causas.

Diagnóstico

■ Hemograma completo, perfil bioquímico, urinálise: geralmente normais; podem indicar uma doença subjacente
primária (p. ex., hipotireoidismo, disseminação hematogênica de infecção)
■ Testes alérgicos: tentativa de restringir ingrediente alimentar para hipersensibilidade alimentar; teste
intradérmico para atopia
■ Exame neurológico: pode indicar otite interna
■ Figura 46.21 Obstrução do canal auditivo externo por glândula cística ceruminosa.

■ Figura 46.22 Epitelioma sebáceo obstruindo o canal auditivo externo (Springer Spaniel).
■ Figura 46.23 Epitelioma sebáceo roto do paciente da Figura 46.22.

■ Figura 46.24 Líquido purulento na bolha visualizada através do tímpano.


■ Figura 46.25 Otite média com líquido hemorrágico visualizado atrás do tímpano.

■ Figura 46.26 Carcinoma escamocelular de cripta tonsilar obstruindo a tuba auditiva e produzindo a otite média
hemorrágica vista na Figura 46.25.
■ Figura 46.27 Desvio da cabeça e síndrome de Horner em decorrência de otite interna. O paciente resiste ao
posicionamento normal da cabeça.

■ Figura 46.28 Desvio da cabeça e síndrome de Horner em decorrência de otite interna.

■ Imagens
■ Radiografias da bolha: não têm alta sensibilidade para o diagnóstico de otite média; úteis para avaliar
alterações crônicas; as bolhas podem parecer opacas se cheias de exsudato; estenose do canal auditivo
externo; espessamento das bolhas e ossos petrosos temporais com mineralização; presença de lise óssea com
osteomielite ou doença neoplásica
■ TC ou RM: evidência detalhada de densidade de líquido ou tecido (p. ex., pólipos na bolha, em tecidos
adjacentes ou na tuba auditiva; a TC é mais útil para identificar alterações ósseas; a RM é mais útil para
avaliar a membrana timpânica e de tecidos moles, sendo válida ainda para diferenciar doença vestibular
central versus periférica
■ Otoscopia direta: visualização do canal externo, da membrana timpânica e da bolha (se tiver ocorrido ruptura do
tímpano)
■ Vídeo­otoscopia: oferece visão ampliada do canal e coleta mais bem controlada de amostras (Figuras 46.29 a
46.31)
■ Raspados de pele do pavilhão auricular: ectoparasitas
■ Dermato­histopatologia: doença autoimune, neoplasia, hiperplasia de glândula ceruminosa; realizar biopsia dos
pavilhões auriculares é difícil; deve­se evitar dano à cartilagem auricular
■ Avaliação microscópica de exsudatos: recurso diagnóstico isolado mais importante após o exame completo do
canal auditivo
■ Aspecto dos exsudatos: as infecções por leveduras comumente produzem um exsudato espesso amarelo­
acastanhado; as infecções bacterianas comumente produzem um exsudato fino castanho a negro; o aspecto
macroscópico dos exsudatos não permite o diagnóstico acurado do tipo de infecção; é necessário exame
microscópico (Figura 46.32)
■ Cultura de exsudatos para identificação e sensibilidade: útil nos casos de infecção persistente; mais indicada
quando são encontrados bastonetes bacterianos em amostras de exsudatos

■ Figura 46.29 Tímpano normal e cera, conforme se vê à otoscopia.


Figura 46.30 Tímpano normal – concha óssea da bolha, visualizada através do tímpano – manúbrio do maléolo

superior direito.

■ Figura 46.31 Parte flácida abaulada e vasculatura proeminente da parte tensa do tímpano, devido a inflamação.

■ Figura 46.32 Exsudatos de orelha com otite externa. Exsudatos bacterianos e de leveduras não podem ser
distinguidos pelo aspecto macroscópico.

■ As amostras obtidas do canal auditivo externo proximal e distal, bem como da orelha média, costumam ser
diferentes; podem ser necessários o exame citológico e a submissão das amostras de cada local para a avaliação
acurada de otite externa e média
■ Os exsudatos e a infecção no interior de cada canal diferem; devem ser examinadas amostras de cada canal;
pode ser necessário submeter amostras separadas a cultura e teste de sensibilidade se os resultados da citologia
demonstrarem populações distintas de organismos
■ As infecções no interior do canal podem mudar com o tratamento prolongado ou recorrente; nos casos crônicos,
é necessário repetir o exame dos exsudatos
■ Miringotomia: insere­se uma agulha espinal ou cateter estéril através da face ventral da parte densa caudal ao
manúbrio do maléolo para se obter amostra de líquido do interior da bolha para exame citológico, cultura e teste
de sensibilidade (Figuras 46.33 a 46.35)
Exame histopatológico de tecido obtido por pinça de biopsia do canal auditivo externo ou da orelha média

(Figuras 46.36 e 46.37)
■ BAER: detecta perda auditiva
■ Análise do LCE: detecta envolvimento do SNC.

Exame microscópico

■ Preparações: feitas de ambos os canais, pois o conteúdo de cada canal pode diferir; deve­se espalhar uma
camada fina das amostras em lâmina de vidro de microscopia e examinar tanto amostras não coradas quanto
outras coradas com o corante de Wright modificado
■ Fixar com calor pode ajudar a dissolver restos de cera
■ Ácaros: diagnóstico presuntivo
■ Tipo(s) de bactérias ou leveduras: ajudam a escolher o tratamento e a determinar se há necessidade de cultura
(Figuras 46.38 a 46.42)

■ Figura 46.33 Miringotomia. Manúbrio do maléolo esquerdo na extremidade do cateter; cateter perfurando o
aspecto ventral da parte tensa.

■ Figura 46.34 Pós­miringotomia. Notar o defeito no tímpano criado pelo cateter.


■ Figura 46.35 Tímpano pós­miringotomia.

■ Figura 46.36 Massa obstruindo o canal auditivo externo.


■ Figura 46.37 Biopsia da massa da Figura 46.36.

■ Anotar os achados (p. ex., tipo de organismos, células presentes) no prontuário do paciente; especificar o
número de organismos e os tipos celulares presentes em escala padronizada (p. ex., 0 a 4) para possibilitar o
monitoramento do tratamento
■ Leucócitos no exsudato indicam infecção ativa; o tratamento sistêmico pode ser indicado.

Tratamento

■ Dieta: sem restrições, a menos que haja suspeita de alergia alimentar


■ Orientação ao proprietário: ensinar, demonstrando, o método correto de limpeza e uso da medicação nas orelhas
(em especial, o volume de medicamento a instilar)
■ Considerações cirúrgicas
■ Indicadas quando o canal está gravemente estenosado ou obstruído, ou quando se diagnostica neoplasia ou
pólipo
■ A otite média grave que não responde pode requerer osteotomia da bolha
■ É necessária ressecção lateral ou ablação total da orelha quando os canais estão obstruídos ou há neoplasia
(Figura 46.43)
■ Otite externa crônica costuma acarretar ruptura do tímpano e otite média
■ Complicações após a irrigação do canal auditivo externo em gatos (sinais vestibulares) não são raras; os
proprietários devem ser alertados quanto aos possíveis efeitos residuais
■ O uso de corticosteroide nos casos de otite média ou interna é controvertido
■ Deve­se evitar irrigação rigorosa da orelha nos casos de otite média ou interna
■ A osteomielite do osso petroso temporal e da bolha pode requerer 6 a 8 semanas de antibióticos
■ A otite externa e a média sem controle, bem como as complicações do tratamento, podem acarretar surdez,
doença vestibular, celulite, paralisia do nervo facial, progressão para otite interna e, raramente,
meningoencefalite
■ Figura 46.38 Exsudato de orelha – organismos do gênero Malassezia.

■ Figura 46.39 Exsudato de orelha – bactérias em formas de cocos e bastonetes.


■ Figura 46.40 Exsudato de orelha – cocos bacterianos.

■ Figura 46.41 Exsudato de orelha – populações mistas de bactérias.


■ Figura 46.42 Exsudato de orelha – organismos do gênero Candida.

■ Figura 46.43 Pós­cirúrgico de ressecção lateral da orelha (tecido excisado na Figura 46.20).

■ Os sinais vestibulares em geral melhoram em 2 a 6 semanas


■ A integridade do tímpano deve ser avaliada antes da introdução de soluções e/ou medicações no canal auditivo
externo
■ Ingredientes para limpeza das orelhas
■ Tímpano não intacto: enxaguar com solução fisiológica e ácido acético a 2,5% (vinagre e água 1:1); as
soluções de ácido acético podem ser irritantes se não tamponadas
■ Tímpano intacto: ceruminolítico: dioctil sódico sulfossuccinato, esqualina, propilenoglicol; antissépticos:
ácido acético ou gliconato de clorexidina a 0,2%; o ácido trisaminometano etilenodiaminotetra­ acético (tris­
EDTA) tem propriedades antibacterianas e sinérgicas com certos antibióticos
■ Adstringentes: álcool isopropílico, ácido bórico, ácido salicílico
■ Agentes anti­infecciosos e parasiticidas: específicos para o(s) organismo(s) identificado(s)
■ Irrigação da orelha
■ Pode ser necessário tratamento anti­inflamatório antes da irrigação, para reduzir a tumefação
■ Pode ser necessário sedar nos casos dolorosos e para evitar maior traumatismo ao canal
■ De início, devem ser usadas soluções suaves
■ Usa­se uma seringa com bulbo ou cateter de borracha vermelha French cortado no tamanho apropriado para
irrigar a solução e remover restos (Figura 46.44)
■ Um cateter pode ser introduzido nas bolhas para possibilitar a irrigação da orelha média; recomenda­se a
intubação se for administrada sedação forte ou anestesia geral
■ Deve­se repetir a limpeza com frequência gradativamente menor durante o tratamento
■ O tratamento da otite média secretora primária demanda a irrigação completa da orelha média; pode ser
necessário repetir a irrigação.

Fármacos de escolha

■ Medicação tópica
■ Cuidado ao usar com tímpano não intacto
■ Pomadas e loções podem ser oclusivas e perpetuar a doença, a menos que usadas com critério
■ Antibiótico: com base na avaliação citológica, na cultura e no teste de sensibilidade, e/ou escolha empírica;
formulações comerciais comuns contêm gentamicina, neomicina, marbofloxacino, enrofloxacino ou
sulfadiazina de prata
■ Outros antibióticos para uso tópico: amicacina, ticarcilina e tobramicina
■ Antifúngicos: imidazólicos: clotrimazol, cetoconazol, miconazol, tiabendazol; também nistatina, terbinafina

■ Figura 46.44 Cateter de borracha vermelha com seringa para irrigação do canal auditivo.

■ Anti­inflamatórios: corticosteroides: dexametasona, fluocinolona, betametasona, triancinolona, hidrocortisona


e mometasona; também DMSO
■ Antiparasitários: ivermectina, amitraz e tiabendazol
■ Medicação sistêmica
■ O exame citológico dos exsudatos ajuda a determinar o tipo de medicação sistêmica necessário
■ A inflamação perpetua a doença, exigindo tratamento anti­inflamatório
■ Otite interna, média e externa crônica ou grave podem requerer medicação sistêmica durante pelo menos 4 a 6
semanas
■ A escolha do antibiótico deve basear­se na cultura e no teste de sensibilidade nos casos de infecção recorrente
■ Estafilococos: cefalexina (22 mg/kg/dia 2 vezes/dia), tri­hidrato­clavulanato de amoxicilina potássica (10 a
15 mg/kg 2 vezes/dia); clindamicina (11 mg/kg a cada 24 h a 2 vezes/dia para acometimento ósseo); e
cloranfenicol (55 mg/kg 3 vezes/dia: reservar, a menos que indicado por cultura e teste de sensibilidade)
■ Bastonetes: fluoroquinolonas: enrofloxacino (cães: 10 a 20 mg/kg/dia; gatos: máximo de 5 mg/kg/dia),
ciprofloxacino (10 a 25 mg/kg/2 vezes/dia), orbifloxacina (2,5 a 7,5 mg/kg a cada 24 h), marbofloxacino (5,5
mg/kg/dia); dosagens maiores são recomendadas para infecção por Pseudomonas
■ Outros antibióticos de escolha: amicacina (20 mg/kg a cada 24 h); betalactâmicos: ticarcilina (10 a 25 mg/kg
2 a 3 vezes/dia), imipeném (10 mg/kg 3 vezes/dia), ceftazidima (30 mg/kg 3 a 4 vezes/dia)
■ Antifúngicos: podem ser prescritos juntamente com o tratamento tópico; cetoconazol (5 mg/kg a cada 24 h a
2 vezes/dia), fluconazol (5 mg/kg a cada 24 h a 2 vezes/dia), itraconazol (5 mg/kg/dia); a utilidade de
medicações antifúngicas orais é discutível
■ Anti­inflamatórios: dosagens gradativas: prednisolona (0,5 a 1 mg/kg a cada 24 h), dexametasona (0,1 mg/kg
a cada 24 h), triancinolona (0,1 mg/kg a cada 24 h); triancinolona intralesional (0,1 mg/kg como dose total
colocada em múltiplos locais)
■ Parasiticida: ivermectina (300 μg/kg VO a cada 1 a 2 semanas durante 4 tratamentos), selamectina (conforme
a bula), moxidectina (conforme a bula).

Objetivos do tratamento de manutenção

■ Manter os canais auditivos limpos de restos com limpeza rotineira semanal ou em semanas alternadas
■ Reduzir a colonização bacteriana e por levedura do ambiente do canal auditivo com soluções de limpeza ou o
uso criterioso de medicações tópicas
■ Reduzir a inflamação e a produção de cera com corticosteroides tópicos e o tratamento das causas subjacentes
de doença do canal auditivo
■ Examinar os canais auditivos a intervalos rotineiros para detectar alterações antes do início de sintomas
clínicos.

Comentários

■ Não usar ivermectina em cães positivos para filária, ou nos da raça Collie, Shetland Sheepdog, Old English
Sheepdog, PastorAustraliano e seus cruzamentos; há alto risco de toxicidade da avermectina em raças pastoris;
evitar a ingestão de avermectinas tópicas nessas raças e seus cruzamentos (devido à possível mutação gênica
ABCB1 [MDR1])
■ Foi relatada ototoxicidade com um grande número de medicações tópicas e ingredientes; é recomendável evitá­
las (se possível) se o tímpano não estiver intacto (ou não puder ser acessado adequadamente); as medicações
ototóxicas comumente relatadas incluem antibióticos aminoglicosídios e macrolídeos, agentes antineoplásicos (à
base de platina) e diuréticos de alça.

Siglas

■ BAER = resposta auditiva evocada do tronco cerebral


■ DMSO = dimetilsulfóxido
■ LCE = líquido cerebroespinal
■ RM = ressonância magnética
■ SNC = sistema nervoso central
■ TC = tomografia computadorizada
■ VO = via oral.

Você também pode gostar