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Semiologia da cabeça e pescoço

SEMIOLOGIA MÉDICA II

INTRODUÇÃO
➢ Todo exame requer uma sequência de técnicas, começando com inspeção e palpação. Na
cabeça, há ainda a análise de tamanho, forma, simetria, posição, movimentos e como está o
couro cabeludo. Observar se há alguma lesão na pele, como está o cabelo do paciente, sua
sobrancelha e cílios.
➢ MAS, ANTES DE TUDO, RELEMBRANDO A ANATOMIA:
- O crânio é composto por 22 ossos, 14 exclusivamente na face. Essa estrutura óssea atua como
sustentação e proteção para as partes moles mais macias no seu interior. O esqueleto facial é
composto por
mandíbula, maxilar e
ossos nasal, paliativo,
lacrimal e vômer. Os
principais ossos do
esqueleto craniano
incluem frontal,
temporal, parietal e
occipital. O principal
músculo da boca é
musculo orbicular dos
lábios, o qual sua ação é fechar os lábios. Os músculos da mastigação são o masseter,
pterigoides medial e lateral e o temporal. Esses músculos se inserem na mandíbula e efetuam a
mastigação. O nervo trigêmeo (NC V) traz fibras sensitivas da face, cavidade oral e dentes, e
carrega fibras motoras eferentes para os músculos da mastigação.

O EXAME DA CABEÇA
➢ Aqui realizaremos: Inspeção e palpação (mostra retrações, abaloamentos, alterações em
linfonodos. Importante, principalmente, em crianças pequenas – puericultura); analisar tamanho
(em crianças, checar perímetro cefálico), forma e simetria; posição e movimentos; couro
cabeludo

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➢ INSPEÇÃO E PALPAÇÃO: A palpação confirma as informações obtidas pela palpação. A cabeça
deve ser discretamente flexionada e aninhada nas mãos do examinador. Todas as áreas do
crânio devem ser palpadas para a pesquisa de pontos dolorosos, massas, abaloamentos e
saliências. As polpas dos dedos do examinador devem rolar na pele subjacente sobre o crânio
em movimentos circulares, para avaliar seu contorno.
➢ FORMA: Aqui se torna possível identificar assimetria facial congênita. Pode haver, ainda, paralisia
facial central (lesão encefálica – cerebral) e periférica (nos nervos periféricos).

ASSIMETRIA FACIAL CONGÊNITA


quando a formação óssea do rosto
ocorre de maneira irregular.

PARALISIA FACIAL
CENTRAL: quadrante inferior, no
quadrante superior é
normoresponsivo.
PERIFÉRICA: hemifacial (parece ser
mais grave, mas é menos perigosa).
Aqui se encaixa a Paralisa de Bell –
causas idiopáticas

➢ SIMETRIA: Os casos típicos de achados na simetria são acrocefalia (ou turricefalia – fechamento
prematuro das suturas coronal e lambdoide), escafocefalia (fechamento prematuro da sutura
sagital), torcicolo congênito (tamanho da musculatura de um lado se desenvolveu e a do outro
lado é atrofiada; pode melhorar com fisioterapia).

ESCAFOCEFALIA TORCICOLO CONGÊNITO


ACROCEFALIA

➢ CÍLIOS E SOBRANCELHAS: Realizaremos a inspeção, verificaremos a quantidade de pelos


(madarose – hanseníase, hipotiroidismo, lúpus, auto infligida) e a sua distribuição pela face

MADAROSE: perda ou queda de cílios,


resultando na diminuição do número de
cílios na pálpebra. Quando a madarose
é total tem o mesmo significado de
alopecia ciliar. Quando parcial, o termo
madarose é mais utilizado.

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➢ COURO CABELUDO: Devemos identificar ausência de
cabelos ou presença de lesões, manchas e
secreções. Os problemas mais comuns são alopecia
e tinea captus.
- Alopecia: É a perda total de cabelo em uma região
do couro cabeludo. A região que perdeu cabelo fica
totalmente lisa, totalmente calva, formando buracos
de calvície entre as regiões com cabelo. Está
relacionada a doenças autoimunes.
- Tinea capitis: É uma infecção fúngica que afeta o couro cabeludo.
Têm-se regiões com ausência de cabelo, hiperemiadas, ruborizadas
e dolorosas. Apresenta características mais típicas de infecções e as
regiões de perda de cabelo são menores, mas em maior quantidade.

➢ SEIOS DA FACE: Os seios da face são cavidades cheias de ar situadas


no interior dos ossos da face. São revestidos por mucosa
e os que são palpados no exame físico são o seio frontal
e o maxilar. Para isso, devemos fazer a palpação,
procurar dores locais ou sensibilidade. Podem estar
preenchidos por secreção que ocasionam dor em peso
do tipo localizada, além da febre. Deve-se desconfiar de
sinusite se o paciente apresentar dor há mais de 14 dias.
Palpar primeiro a região medial à sobrancelha para
verificar o seio frontal e em seguida, na maxila, para
verificar o seio maxilar.
- Técnica de transiluminação (transluscência): encostar a
lanterna na órbita (se houver transpasse da luz à mucosa bucal, não há obstrução do seio
maxilar)
- IVAS: Infecção de vias aéreas superiores – complicação de uma gripe ⟶ a secreção represada
nos seios da face fica purulenta
➢ NARIZ: No exame do nariz, devemos realizar a palpação externa para verificar saliências e dores
localizadas. Realizar também o teste de obstrução (pedir para o paciente fechar uma narina e
respirar com a narina que ficou aberta). A inspeção da cavidade nasal é feita pela observação
interna das narinas com luz.
- Cornetos aumentados (típicos de rinite)

- Desvio de septo

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- Sangue pelo nariz: Conhecido como epistaxe, pode ser
causado por hipertensão, trauma, rinite alérgica intensa, etc.
Pode vir a ter vômito com sangue devido à deglutição. É
caracterizado pelo rompimento da artéria esfenopalatina
- Pólipos nasais: Ocasionados por inflamações intensas – são
tumores benignos indolores que se fixam ao revestimento do
nariz ou seios nasais (presente em rinite muito intensa – causa a
hipertrofia dos cornetos)

➢ BOCA E OROFARINGE: Devemos realizar a inspeção da cavidade oral, cor


das mucosas, anatomia dos dentes (32), presença de inflamações, inspeção
da língua e da região sublingual, assim como da orofaringe (tonsilas
inchadas, com pus ou com petéquias; úvula desviada). É preciso prestar
atenção na gengiva, palato mole e duro e o canal parotídeo (lembrar que
ele desemboca no 2º molar superior). Para a verificação de lesão em palato,
deve-se pedir para o paciente falar “A”. Caso apenas um lado se elevar, é
provável que esse paciente esteja com o “sinal da cortina”.
- Desvio de úvula: Pode indicar lesão de nervos.

- Candidíase: Comum em pacientes imunodeprimidos, associada à disfagia. É causada por um


fungo que faz parte da própria microbiota do organismo. Sinais e sintomas – Coceira no palato,
mau hálito, lesões brancas que saem com espátula com aspecto de leite coalhado.

- Tumor de língua: Lesões duras aumentam a probabilidade de ser maligna. É mais comum de
ser encontrado na base da língua.
- Aftas: São ulcerações da mucosa. Geralmente o paciente possui um tipo de traumatismo.

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- Doença de Behçet (também chamada de doença da rota da seda): É uma doença rara,
autoimune que causa uma vasculite sistêmica. O paciente apresenta úlceras nas mucosas da
boca, narinas e órgãos genitais.

O EXAME DOS OLHOS


➢ PÁLPEBRAS: Aqui devemos avaliar a largura das fissuras palpebrais, presença de edema, sua
coloração, se as duas estão fechando normalmente (correlacionar com paralisia de par
craniano).
- Ptose palpebral: Uma das pálpebras não se abre e fica caída sobre o olho. Pode ser causada
por miastenia gravis, paralisia de nervos, síndrome de Cluster (cefaleia em salvas), tumor de
Pancoast (compressão do gânglio simpático estrelado – síndrome de Claude Horner), do plexo
braquial, 1º e 2º nervos torácicos – tumor de ápice de pulmão).

- Retração palpebral: Quando a pessoa não consegue fechar o olho. É possível observar a parte
superior do olho do paciente, que não fica coberta pela pálpebra. É diferente de exoftalmia,
presente na doença de Graves, por exemplo, onde há um tecido que empurra o olho e não um
problema na pálpebra.

- Hordéolo/viúva/terçol: Cisto encapsulado. Há dema na região ocular por obstrução do óstio


das glândulas lacrimais.

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➢ CONJUNTIVA E ESCLERA: Aqui, será preciso avaliar a coloração (normal/pálida/avermelhada), se
o padrão vascular é perceptível, presença ou ausência de icterícia, conjuntivite e glaucoma
agudo.
- Icterícia ou síndrome de Gilbert: Pode ocorrer por dengue, febre amarela,
leptospirose, hantavírus, malária, pancreatite (obstrução dos ductos), anemia
hemolítica, cirrose hepática, etc.) Deixa as escleras amareladas e nem todo
paciente com hepatite apresenta icterícia.
- Conjuntivite: Pode ser alérgica, viral (pode durar até 1 mês – é mais
contagiosa) ou bacteriana (apresenta pus).
- Glaucoma agudo: Confundido com conjuntivite, mas não arde e, sim, sente
dores fortes – corre o risco de perder a visão, caso emergencial.
➢ ÍRIS: Avaliar sua coloração, se possui arcos ou anéis e se apresenta manchas
ou sangue. Dentre as alterações, temos:

- Melanoma de íris indica, geralmente, estágio de metástase. Tratamento apenas cirúrgico.

- Hifema é um sangramento entre o cristalino e a conjuntiva, se refletindo na íris proveniente de


traumas.

- Arco senil é a despigmentação da íris devido à idade, um arco esbranquiçado ao redor da íris.

- Neurofibromatose: também chamada de nódulos de Lisch. São elevações no olho, podendo


aparecer manchas castanhas na pele. Leva a uma degeneração dos nervos.

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- Catarata: A pupila fica mais acinzentada (problema no cristalino – vai ficando mais leitoso
devido sua não capacidade de se adaptar mais)

- Sinal do Guaxinim: Fraturas de base de crânio: a presença de sangramento pelo nariz


(rinorragia) ou pelo ouvido (otorragia) indica a possibilidade desta lesão. A equimose periorbitária
(olhos de guaxinim) surge algumas horas após o trauma. A equimose de mastoide é
um sinal tardio (mais de 24 horas após a lesão).

➢ PUPILAS: Nesse exame, devemos realizar a inspeção e exame neurológico (reflexo foto motor).
Analisar se estão do mesmo tamanho (isocóricas ou anisocóricas), se são simétricas e se
respondem aos reflexos foto reagentes.
- Anisocoria: Alteração na simetria
- Miose e midríase: Contração e relaxamento da pupila.

O EXAME DO PESCOÇO
➢ ANATOMIA: O pescoço é dividido pelo músculo esternocleidomastoideo em trígono anterior e
posterior. As duas cabeças desse músculo se unem e se inserem na parte lateral do processo
mastoide – é inervado pelo nervo acessório (XI). Trígono anterior: delimitado pela clavícula, pelo
m. esternocleidomastoideo e pela linha mediana. Abriga a glândula tireoide, a laringe, a faringe,

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os linfonodos e a glândula submandibular. Trígono posterior: limitado pelo trapézio e pela
clavícula.

➢ Palpação dos linfonodos: Verificados pelo método de palpação. A palpação deve começar
posteriormente, seguindo a ordem: occipital, auricular posterior, cervical posterior, tonsilar,
submandibular, submentoniana, auricular anterior, cervical anterior e supraclavicular. Deve-se
verificar o tamanho (deve ter até 2 cm), formato (regular ou irregular), a consistência
(fibroelástica ou endurecida), dor, mobilidade (móvel ou fixo) e sintomas associados (alteração
da pele ao redor e presença de secreções). Verificar ainda se existem outros nódulos presentes.
- Quanto maior, mais redondo, mais duro, fixa mais chance de ser neoplasia, ou seja, as cadeias
de linfonodos podem apresentar sinais de malignidade quando estão endurecidos, são fixos,
possuem múltiplos nódulos, apresentam crescimento progressivo. Podem ser originados in situ
(linfoma) ou adjacente à lesão neoplásica.
https://www.youtube.com/watch?v=WSi42C9Nzv8

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- Se o paciente tiver dor à palpação, deve-se pensar em uma provável infecção aguda
associada. As massas que estão presentes há poucos dias indicam comumente infecção,
enquanto que linfonodomegalia há alguns meses indicam neoplasia. LNM presentes de meses a
anos sem mudança de tamanho ou consistência podem indicar a presença de um tumor
benigno.
- A localização do linfonodo aumentado é importante: Na linha mediana, a tendência é que
sejam benignos ou congênitos, como cisto dermoide ou cisto tireoglosso, enquanto que as
massas laterais são geralmente neoplásicas. Massas na parte superolateral podem indicar
metástase da cabeça e pescoço. Massas na lateral baixa do pescoço podem indicar metástase
de câncer de mama (linfonodo sentinela) e gástrico (linfonodo supraclavicular esquerdo). Um
pescoço enrijecido acompanhado de dor e desconforto, leve febre, náusea, vomito, dor de
cabeça e sonolência leva à suspeita de meningite.
➢ TRAQUEIA: Deve-se realizar inspeção e palpação. Avaliar desvios (está em linha média?) e
alinhamento dos arcos. O desvio da traqueia pode ser ocasionado por trauma, lesões
neoplásicas, pneumotórax, processos expansivos torácicos. A traqueia desvia para o mesmo
lado em situação de atelectasia e para o lado contrário da lesão em casos de pneumotórax e
derrame pleural.

➢ TIREOIDE: Um dos exames mais importantes do pescoço. Deve-se fazer a inspeção (observar
algum aumento na área), palpação (um glóbulo está maior que o outro? Há algum cisto ou
nódulo ali?) e ausculta (algumas doenças proporcionam a origem de shunts na região).
- Homens possuem tireoide mais palpável do que mulheres. Para palpar a tireoide deve-se
inspecionar a região do pescoço procurando a cartilagem cricoide. Abaixo dela vai estar o istmo
da tireoide. Para ter certeza, peça para o paciente engolir, sentindo em seus dedos o movimento
da tireoide. A superfície anterior de um lobo lateral tem o tamanho aproximado da falange distal
do polegar e possui consistência de borracha.

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- Sinal de Battle: Os sinais clínicos do trauma de osso temporal incluem: fratura ao longo do teto
do canal auditivo externo, ruptura de membrana timpânica com otorreia e otorragia,
hemotímpano, fístula liquórica, perda auditiva, paralisia facial, sinal de Battle (hematoma na
ponta da mastoide).

➢ Ausculta de carótidas: Posicionar o estetoscópio medialmente ao músculo


esternocleidomastoideo e avaliar a presença ou ausência de sopros. O normal a ser auscultado
é o fluxo laminar. Aterosclerose pode dar alteração = sopro carotídeo.

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