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SEMIOLOGIA

Letice Dalla Lana


Exame físico da cabeça
e do pescoço
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Associar aspectos da anatomia e da fisiologia da cabeça e do pescoço


com possíveis alterações.
„„ Identificar alterações no formato, tamanho, coloração e assimetria das
estruturas que compõem as regiões da cabeça e pescoço.
„„ Realizar o histórico de enfermagem, a partir da anamnese e exame
físico da cabeça e pescoço.

Introdução
A cabeça se compõe de uma série de compartimentos formados por
ossos e partes moles, proporcionando uma cobertura protetora para o
cérebro, órgãos dos sentidos, olhos, ouvidos, nariz e língua. Em geral, seu
formato é arredondado com proeminências nas áreas frontal e occipital
posteriormente, mas em crianças e recém-nascidos, as fontanelas não
permitem essa forma.
O pescoço, por sua vez, estende-se da cabeça aos ombros e tórax,
cujo limite superior é ao longo das margens inferiores da mandíbula e das
partes ósseas na face posterior do crânio. Sua mobilidade deve ser livre
e indolor. As técnicas propedêuticas utilizadas no crânio são inspeção e
palpação, já no pescoço, usa-se inspeção, palpação e ausculta.
Neste capítulo, você estudará como se procede ao exame físico da
cabeça e do pescoço.

Exame físico do pescoço


No pescoço, localizam-se as estruturas de vários sistemas, como linfático,
vascular, respiratório, digestório e musculoesquelético.
2 Exame físico da cabeça e do pescoço

Para a inspeção estática do pescoço, observa-se a forma, o volume, a posição


e o aspecto da pele; já na dinâmica, investiga-se a amplitude da movimentação,
que deve ser de 180º. Na ausência de torcicolo, dor ou de inviabilidade, deve-se
proceder à flexão da cabeça no sentido anterior, encostando o mento no tórax
e, em seguida, sua extensão inclinando para trás. Além disso, flexiona-se o
pescoço para os lados direito e esquerdo, encostando o ouvido no ombro, com
a rotação lateral sobre este.
Os vasos sanguíneos examinados no pescoço incluem as artérias carótidas e
as veias jugulares, que são inspecionadas e palpadas observando-se enchimento
capilar, pulso, turgência e posição. A turgência dessas veias externas deve ser
ausente quando o paciente estiver em decúbito dorsal para ser considerada
normal.
Já o exame dos linfonodos é realizado por meio de palpação e inspeção em
busca de gânglios infartados, avaliando seu tamanho, consistência, mobilidade,
sensibilidade e localização. Suas alterações geralmente ocorrem devido aos
processos inflamatórios ou às infecções.
A glândula tireoide, localizada na região anteromedial do pescoço, pesa
cerca de 25 gramas no adulto e se compõe de dois lobos conectados por uma
faixa de tecido denominada de istmo, sendo que o lobo direito atualmente é
maior que o esquerdo. Em geral, ela não fica visível ou palpável, exceto em
indivíduos muito magros.
A tireoide deve ser palpada para avalição do seu tamanho, forma, consis-
tência, sensibilidade, mobilidade e volume. A palpação é a única forma para a
defecção de algumas doenças relacionadas a ela e para o início da investigação
etiológica. O aumento do seu volume pode revelar nódulo ou bócio, indicando
a disfunção da glândula (BARROS, 2017). A importância de avaliar um
nódulo tireoidiano palpável está, principalmente, na necessidade de excluir a
possibilidade de câncer, que acomete de 5 a 15% dos casos.

Inspeção e palpação da cabeça


Anatomicamente, a cabeça é dividida em crânio e face, cuja avaliação inclui
as técnicas propedêuticas de inspeção e palpação. A inspeção e a palpação
do crânio podem ser realizadas de forma concomitante, nas quais se observa
seu tamanho, sua forma, a superfície e o couro cabeludo.
Em relação ao tamanho do crânio, adota-se a classificação apresentada
a seguir.
Exame físico da cabeça e do pescoço 3

„„ Normal (normocefálico): denota o tamanho de um crânio simétrico e


arredondado, proporcional ao tamanho do corpo.
„„ Macrocefalia: é o crânio anormalmente grande, por exemplo, hidro-
cefalia e acromegalia.
„„ Microcefálico: é o crânio pequeno em todos os diâmetros, relacionado
ao retardo mental.

Quanto à forma do crânio, há várias alterações derivadas do fechamento


precoce (cranioestenose) de uma ou mais suturas, como você pode ver a seguir.

„„ Turricefalia ou crânio em torre: a cabeça é alongada e pontuda.


„„ Escafocefalia: levantamento da parte mediana do crânio (casco de
navio invertido).
„„ Dolicocefalia: aumento do diâmetro anteroposterior, que se torna maior
que o transverso.
„„ Plagiocefalia: a deformidade em que o crânio fica saliente de um lado
e posteriormente de outro.
„„ Braquicefalia: o aumento do diâmetro transverso.

Já o couro cabeludo deve ser liso, sem escamações ou lesões. Sua palpação
e inspeção permite a avaliação de lesões de pele, depressões, bossas, saliên-
cias, tumorações e locais dolorosos, bem como da alopecia em homens pela
questão hormonal.
Desde o início do exame físico, consegue-se avaliar o tipo de face do
paciente. Veja no Quadro 1 algumas características anormais que podem estar
relacionadas a determinas doenças crônicas.

Quadro 1. Tipos de fácies

Tipos Características

Fácies mixedematosa Rosto edemaciado; nariz e lábios grossos; pele seca,


espessada e com acentuação de seus sulcos; expressão
de desânimo e apatia. Presente no hipotireoidismo.

Fácies parkinsoniana Olhar fixo, supercílios elevados e fronte enrugada


(expressão de espanto). A imobilidade da expressão
produz um rosto inexpressivo semelhante a uma
máscara.
(Continua)
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(Continuação)

Quadro 1. Tipos de fácies

Tipos Características

Fácies cushingoide Arredondamento do rosto, com mandíbulas


proeminentes e bochechas vermelhas, ocasionadas
por excesso de produção do hormônio
corticotropina ou pelo uso crônico de esteroides.

Fácies acromegálica Saliência nas arcadas dentárias supraorbitárias;


proeminência das maças do rosto e maior
desenvolvimento do maxilar inferior; aumento
de nariz, lábios e orelhas; olhos pequenos. Esse
tipo de fácies é observado na acromegalia,
ocasionada pela produção excessiva de hormônio
do crescimento depois da puberdade.

Fonte: Adaptado de Jarvis (2012).

Na face, localizam-se também os órgãos relacionados aos sentidos, assim,


no exame físico, deve-se avaliar olhos, ouvidos, nariz e garganta para detectar
possíveis distúrbios de visão, audição, olfato e paladar, que podem estar
associados a outros sistemas, como o respiratório e o neurológico.

Exame do nariz e dos seios paranasais


O nariz não é apenas o órgão sensorial do olfato, como também o primeiro
segmento do sistema respiratório que tem a função de filtrar, aquecer e umi-
dificar o ar inalado. Ao avaliá-lo, usualmente se examina os seios para nasais
— bolsas cheias de ar no crânio que se comunicam com a cavidade nasal,
cujas aberturas são estreitas e obstruem facilmente, podendo ocasionar uma
inflamação conhecida como sinusite (JARVIS, 2012; ANDRIS, 2007).
Os seios paranasais são frontais, maxilares e etmoidais esfenoidais, porém
apenas os dois primeiros estão acessíveis para exame. Na inspeção, observa-
-se a simetria; e na palpação, pontos dolorosos ou entumecidos. Para avaliar
o nariz, você deve utilizar essas duas técnicas propedêuticas, conforme as
instruções a seguir:
Exame físico da cabeça e do pescoço 5

„„ visualize o aspecto externo do nariz, sua posição e simetria, buscando


alterações cutâneas externas e deformidades no seu esqueleto que podem
ser a causa da obstrução nasal;
„„ saiba que, nas crianças, a cartilagem da ponta do nariz é mais flexível e
facilita sua visualização interna, permitindo a observação do vestíbulo
nasal, de extremidades anteriores dos cornetos inferiores e anterior
do septo;
„„ utilize um espéculo nasal nos adultos, pois geralmente é necessário neles;
„„ observe, na inspeção nasal, o estado dos cornetos inferiores (cor e
tamanho), as deformidades no septo nasal, as lesões anormais (pólipos),
a mucosa nasal, as secreções e os sangramentos.

Exame da boca, língua e garganta


A boca e a garganta são os primeiros segmentos do sistema digestivo e a via
aérea assessória para o sistema respiratório. Já a língua contribui para a de-
glutição, a fonação e os órgãos sensórios do paladar. Para avaliá-los, também
se utiliza a inspeção e palpação.
Para examinar a boca, é necessário o auxílio do abaixador de língua e da
lanterna, se o paciente usar uma prótese dentária, preferencialmente pede-se
para retirá-la. No exame, observe os lábios, procurando lesões, assimetrias e
alterações na coloração (icterícia, palidez); as mucosas em busca de lesões; o
frênulo na região inferior, cujo tamanho inferior ao normal provoca problemas
na fala; a língua, sua posição, simetria, cor, manchas, presença de crostas,
hidratação, higiene e tamanho; bem como os dentes, identificando áreas de
coloração anormal, cáries, tártaro, restaurações, ausência de dentes e tipo de
dentição (dentes decíduos ou permanentes). Já a palpação é realizada geralmente
após a inspeção, procedendo-se à palpação bidigital de bochechas, lábios e
língua em busca de alterações (BARROS, 2017).
Do mesmo modo, procede-se ao exame da garganta com auxílio de abaixa-
dor de língua e lanterna. Pede-se que o paciente emita um “ahhhhh” para expor
a região a ser examinada, inspecionando as tonsilas em relação à simetria, aos
sinais de infecção, ao tamanho, à presença de placas esbranquiçadas e dor.
Na língua, você deve observar posição, tamanho, cor, umidade e superfície
(rugosa, textura, movimentos e presença de lesões), atentando-se às alterações
mais frequentes.
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„„ Língua saburrosa: acúmulo de substância branco acinzentada na su-


perfície, ou língua suja, que aparece em pacientes febris, fumantes,
desidratados e pessoas sadias ao acordar.
„„ Língua seca: ausência de umidade constitui seu elemento principal.
„„ Língua lisa: atrofia de papilas, que não há a rugosidade própria da
língua normal.
„„ Língua framboesa: superfície vermelha, brilhante e granulosa.

Exame dos ouvidos


Os ouvidos são órgãos sensoriais da audição, responsáveis pela manutenção
do equilíbrio. No exame, você deve avaliar a orelha e o canal externo em
relação à forma, ao tamanho, às deformidades, lesões, cicatrizes, vermelhidão,
tumefações e à presença de secreções ou corpos estranhos. Para inspecionar
o canal ou meato externo, utilize um otoscópio.

As pulsações observadas na base do pescoço são dependentes do volume nas veias


jugulares internas e refletem nas modificações de pressão no interior do átrio direito.
Sua avaliação torna-se um indicador da função cardíaca das câmaras (atrial e ventricular)
direitas. Já as causas de ingurgitamento podem ocorrer por compressão da veia cava
superior ou insuficiência ventricular direita.

Exame dos olhos


Os olhos fazem parte do sistema sensorial, porém, pode-se proceder à avaliação
oftalmológica quando for examinar a cabeça.
A avaliação dos olhos serve para detectar as alterações estruturais, uma
vez que representa um indicador importante no exame de outros sistemas,
como neurológico, endócrino, metabólico e cardiovascular. Entre as técnicas
propedêuticas, seu exame físico contempla apenas a inspeção e palpação. Já
a anamnese é um momento fundamental para buscar informações sobre difi-
culdade visual, uso de próteses corretivas, lentes de contato ou óculos. Além
disso, deve-se investigar o uso de medicamentos que podem estar interferindo
na sintomatologia do paciente.
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Para compreender melhor os questionamentos realizados no exame, veja


os mais importantes entre eles:

„„ dificuldade visual;
„„ dor;
„„ fotofobia;
„„ lacrimejamento alterado;
„„ secreção ocular;
„„ alteração na movimentação ocular;
„„ déficit visual;
„„ visualização de pontos, luzes ou manchas visuais;
„„ traumas prévios;
„„ cefaleia;
„„ náuseas e vômitos.

Lembre-se que dor ocular, corpo estranho, perda da visão periférica e ponto cego,
iniciados de modo súbito, devem ser entendidos como urgência/emergência. Portanto,
o paciente precisa ser encaminhado imediatamente para avaliação oftalmológica
especializada.

O exame dos olhos pode ser dividido na avaliação da estrutura anatômica


e da acuidade visual. Portanto, cabe ao enfermeiro avaliar a acuidade visual
simples com o objetivo de encaminhamento a um profissional habilitado.
Um dos testes mais conhecidos e usados pela facilidade de aplicação é
a tabela de Snellen, que possibilita aferir visão para perto e para longe. Um
cartaz com letras e números de diversos tamanhos deve ser fixado na parede
em um local bem iluminado, que permita uma distância de aproximadamente
seis metros de onde o paciente está posicionado. Para sua realização, você
deve ocluir um dos olhos dele e solicitar a leitura do texto em voz alta, de-
pois, repita o procedimento com o outro olho. Em caso de óculos ou lentes
corretivas, aconselha-se fazê-lo sem e com seu uso. A acuidade normal é de
20/20 e, quanto maior for o denominador, pior será a visão (ANDRIS, 2007;
BARROS, 2017).
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Em relação às estruturas do olho, inicia-se a avaliação pelas pálpebras,


cuja palpação é feita com a ponta do dedo indicador e auxilia na detecção de
nódulos. A pressão com esse dedo contra o saco lacrimal permite avaliar a
saída de secreção ou a dor à palpação.
Na inspeção, você deve observar o piscar com vedamento ocular, cuja
ausência denomina-se lagoftalmia, que promove ressecamento da córnea
e maior risco de infecção. O ectrópio (eversão palpebral) pode causar
lacrimejamento excessivo, como mostra a Figura 1; já o entrópio (inversão
palpebral), irritação da córnea e infecção pelo contato constante dos cílios
na córnea. Você também precisa inspecionar a conjuntiva, uma cobertura
transparente do olho, que deve ser clara e pode ser rósea sobre as pálpebras
e brilhante.

Eversão de Eversão de Eversão de Eversão de


pálpebra senil pálpebra por cicatriz pálpebra por paralisia pálpebra mecânica

Figura 1. Eversão palpebral.


Fonte: Adaptada de Artemida-psy/Shutterstock.com.

No exame das estruturas internas, deve-se avaliar a córnea, a íris e a


pupila. Com a lanterna, o enfermeiro incide uma luz oblíqua sobre a córnea
em busca de anormalidades na superfície: a presença de opacidade e sulcos
irregulares na luz refletida é um achado anormal; a córnea normal deve ser
clara e uniforme; e a íris normal precisa ser plana em formato circular e com
coloração uniforme em ambos os olhos. Em adultos, o tamanho médio das
pupilas varia entre 3 a 5 mm, sendo descritas na avaliação quanto ao tamanho
e à forma (BAIKIE, 2006).

„„ Isocóricas: quando as pupilas de ambos os olhos apresentam a mesma


forma e tamanho.
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„„ Anisocóricas: quando a pupila de um olho apresenta um tamanho di-


ferente da outra, podendo revelar uma lesão neurológica.
„„ Miose: quando as pupilas estão contraídas.
„„ Midríase: quando as pupilas estão dilatadas.

Na Figura 2, você pode visualizar as alterações referentes ao formato da


pupila e, na Figura 3, a anatomia do olho.

Midríase Miose

Normal Normal

Unilateral Unilateral

Bilateral Bilateral

Figura 2. Alterações referentes ao formato da pupila.


Fonte: Adaptada de Mrs_Bazilio/Shutterstock.com.
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Músculo reto superior


Corpo vítro
Íris

Coroide Câmara
anterior
Nervo ótico
Córnea

Pupila

Lente
Mácula

Corpo ciliar
Fóvea
e músculo
Retina
Músculo reto inferior

Figura 3. Anatomia do olho.


Fonte: Adaptada de Rvector/Shutterstock.com.

Para saber mais sobre o exame clínico de cabeça e pescoço, assista ao vídeo no link
a seguir, do Grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME).

https://goo.gl/DY3XrV
Exame físico da cabeça e do pescoço 11

ANDRIS, D. A. et al. Semiologia: bases para a prática assistencial. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan; Lab, 2007. 424 p.
BAIKIE, P. D. Sinais e sintomas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 784 p. (Série Práxis).
BARROS, A. L. B. L. (Org.). Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enfermagem
no adulto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 472 p.
JARVIS, C. Exame físico e avaliação de saúde para enfermagem. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. 912 p.

Leituras recomendadas
CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. Parecer COREN-SP 026/2014.
Competência dos profissionais de Enfermagem para realização de testes de acuidade
visual e exames oftalmológicos. Câmara Técnica de Atenção à Saúde, São Paulo, 23 maio
2014. Disponível em: <https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2014/08/
parecer_coren_sp_2014_026.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2019.
PROPEDÊUTICA de Enfermagem 03 — Exame Cabeça e Pescoço. YouTube, [S.l.], 14
out 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JyhkxTfrv4c>. Acesso
em: 22 mar. 2019.
SILVA, E. R. R.; LUCENA, A. F. Diagnósticos de enfermagem com base em sinais e sintomas.
Porto Alegre: Artmed, 2011. 336 p.

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