Você está na página 1de 8

INFORMATIVO TÉCNICO VETNIL ANO 2019 • Nº 03

ESPECIALIDADESEM FOCO

COMUNS CONSEQUÊNCIAS
E SEQUELAS DA
INFECÇÃO
HERPÉTICA
EM GATOS
Alexandre G. T. Daniel, MV, Msc., DipABVP (Feline)
Gattos – Clínica Especializada em Medicina Felina
ESPECIALIDADES EM FOCO COMUNS CONSEQUÊNCIAS E SEQUELAS DA INFECÇÃO HERPÉTICA EM GATOS

ÍNDICE
Introdução 04
Herpesvírus felino 04
Tratamento 05
Referências Consultadas 06
ESPECIALIDADES EM FOCO COMUNS CONSEQUÊNCIAS E SEQUELAS DA INFECÇÃO HERPÉTICA EM GATOS

de córnea são manifestações oculares descritas com relativa


Introdução prevalência.

As doenças infecciosas do trato respiratório anterior são


comuns em gatos, principalmente naqueles que vivem em gatil
ou são provenientes de colônias/criatórios. São consideradas
as principais causas de doenças em gatis, sendo o herpesvírus
e o calicivírus, os principais agentes virais envolvidos (cerca de
80% dos casos).

Herpesvírus felino
O herpesvírus felino tipo 1 (FHV-1) é um DNA vírus (fita dupla)
envelopado, pertencente à sub-família Alphaherpesvirinae, e
causa uma infecção aguda com tropismo por tecido termolábil
(com temperaturas próximas a 37°C), principalmente o Figura 1. Aspecto clínico de filhote com infecção herpética.
epitélio nasal, traqueal e córnea. Durante a infecção aguda, o Blefaroespasmo, secreção nasal e ocular purulentas. Foto: arquivo
vírus atinge os neurônios do gânglio trigeminal, podendo ficar pessoal do autor.
em latência neste sítio. O mecanismo de latência não envolve
replicação viral no gânglio.

Aproximadamente 90 a 95% dos animais que sofreram


infecção herpética tornam-se carreadores do vírus por toda
a vida, exercendo um papel fundamental na perpetuação da
infecção por meio do mecanismo de reativação viral. Quase
50% dos portadores sofrerão reativação viral, voltando a
eliminar o vírus (com ou sem manifestações clínicas), sendo
que essa reativação pode ser induzida por estresse, prenhez/
lactação, mudança de hábitos/rotina, introdução de um novo
gato ou uso de corticóides.

Após a infecção primária, o vírus é eliminado por secreções Figura 2. Quemose, hiperemia conjuntival e secreção ocular bilateral
nasais, orofaríngeas e oculares por um período de uma a duas em gato com infecção herpética. Foto: arquivo pessoal do autor.
semanas. Pelo fato de ser um vírus envelopado, este não
sobrevive por muito tempo no ambiente, sendo necessário
o contato direto com um animal infectado ou via aerossol,
para a perpetuação do ciclo viral (fato que explica a grande
prevalência em ambientes superpopulosos). A contaminação
por meio de fômites é menos comum.

A maioria dos animais primo-infectados é jovem, com o vírus


rapidamente se replicando em células epiteliais das conchas
nasais, traqueia e conjuntiva, e posterior migração para
o gânglio trigeminal. A infecção aguda gera lise epitelial,
com necrose local e exsudação, propiciando a ocorrência de
infecção bacteriana secundária. As principais manifestações
clínicas são: febre, anorexia, prostração, espirros, secreção
nasal (figura 1) (no início mucoide e posteriormente evoluindo
para purulenta), quemose (figura 2), blefaroespasmo, secreção Figura 3. Úlcera de córnea em paciente com infecção herpética.
ocular, tosse e, menos comumente, dermatites e abortos. Foto: arquivo pessoal do autor.
Úlceras de córnea (figura 3), ceratite estromal e sequestro

4
A infecção aguda, pelo tropismo do vírus e característica lítica, da exposição a alérgenos ambientais constituem-se nas
pode gerar uma série de sequelas em seus principais sítios de primeiras medidas de manejo. O uso de antibióticos (tópicos ou
acometimento – epitélio nasal, córnea e conjuntivas. sistêmicos) não é indicado primariamente e deve-se seguir o
consenso para escolha racional da terapêutica antimicrobiana
já publicado.
As principais teorias acerca da rinite crônica secundária à
infecção herpética são relacionadas aos danos que o vírus
causa no epitélio nasal que reveste os ossos etmoturbinados.
A destruição epitelial causada pelo vírus torna a ossatura
dos turbinados mais predisposta a infecções bacterianas
secundárias (oportunistas), em virtude das graves alterações
anatômicas associadas (perda de células secretoras de muco,
redução de IgA, perda de epitélio ciliado com caraterística
retentora, etc). Agentes bacterianos associados, como o
Mycoplasma spp., também devem ser pesquisados nesses
casos, com o uso da PCR.

Outro ponto pouco avaliado nos pacientes que já tiveram um


quadro herpético é o comprometimento na produção do filme
lacrimal. O herpesvírus gera destruição das células caliciformes
conjuntivais, com efeitos sobre a qualidade do filme lacrimal
que podem durar semanas a meses. Essas alterações podem
resultar em olho seco, com ceratite e desconforto associados.

Tratamento
É fundamental que sigamos consensos para a melhor
abordagem terapêutica a esses pacientes. Os antibióticos são
indicados nos casos de doença aguda em que exista secreção
purulenta sem melhora após 5 – 7 dias de observação e/ou
em casos com manifestações como febre, inapetência e desvio
à esquerda. Os antibióticos de eleição são: a doxiciclina e a
amoxicilina com ácido clavulânico.

O uso de antivirais também é indicado nas crises agudas, sendo


o famciclovir o antiviral mais recomendado na atualidade. As
doses com efeito sistêmico são de 40 – 50mg/kg BID (indicado
para manifestações respiratórias e/ou dermatológicas), e a
dose com excreção lacrimal efetiva (em casos de conjuntivite,
ceratite e úlcera de córnea) é de 90mg/kg BID.
Nos pacientes com úlceras de córnea ou ceratite herpética,
o famciclovir é um fármaco bastante indicado devido a
A terapêutica sintomática, com correção da desidratação e sua excreção lacrimal. Além disso, a utilização de colírios
suporte enteral se faz necessária em alguns casos. específicos para a lubrificação ocular é recomendada, pois
pacientes com quadros oftalmológicos podem passar longos
períodos (semanas a meses) com alteração no filme lacrimal, o
O uso de L-lisina não é mais recomendado na atualidade, por que justifica o uso prolongado dos lubrificantes oculares nestes
falta de evidências científicas em sua aplicabilidade. casos. Devido a elevada viscosidade, colírios compostos pela
associação de Hialuronato de Sódio e Carboximetilcelulose são
capazes de manter a hidratação ocular e auxiliar a minimizar
Nos casos de rinite crônica, a fluidificação nasal (com o uso os sintomas, oferecendo maior conforto ao paciente.
de solução salina), além da umidificação ambiental e redução

5
ESPECIALIDADES EM FOCO COMUNS CONSEQUÊNCIAS E SEQUELAS DA INFECÇÃO HERPÉTICA EM GATOS

Referências consultadas

Bol, S., Bunnik, E.M. Lysine supplementation is not effective for


the prevention or treatment of feline herpesvirus 1 infection in
cats: a systematic review. BMC Vet. Res., 11:284, 2015.

Gaskell R.M., Dawson S., Radford A., Thiry, E. Feline herpesvirus.


Vet Res, v.38(2), p.337-354, 2007

Gaskell R.M., Dawson S., Radford A. Feline respiratory disease.


In: Infectious Diseases of the Dog and Cat. 3rd ed. Editor: Greene,
C. Saunders Elsevier. St Louis, Missouri, p.145-154, 2006.

Lappin, M.R., et al. Antimicrobial use Guidelines for Treatment


of Respiratory Tract Disease in Dogs and Cats: Antimicrobial
Guidelines Working Group of the International Society for
Companion Animal Infectious Diseases. Journal of Vet Int Med,
v. 31(2), 2017.

Maggs D.J. Update on pathogenesis, diagnosis, and treatment


of Feline Herpesvirus Type 1. Clin Tech Small Anim Pract, v.20,
p.94-101, 2005.

Radford A.F. et al. Feline calicivirus infection – ABCD guidelines


on prevention and managment. J. Fel. Med. Surg., v.11, p.556 –
564, 2009.

Thiry, E. et al. Feline herpesvirus infection – ABCD guidelines on


prevention and managment. J. Fel. Med. Surg., v.11, p.547 – 555,
2009.

Thomasy, S.M., et al. Oral administration of famciclovir for


treatment of spontaneous ocular, respiratory and dermatologic
disease attributed to feline herpesvirus type 1: 59 cases (2006 –
2013). JAVMA, v. 249(5), p.526 – 538, 2016.

Thomasy, S.M., Maggs, D.J. A review of antiviral drugs and other


coumpounds with activity against feline herpesvirus type 1. Vet.
Ophtalmol., v.19(S1), 2016.

6
Junho/2019
Um novo momento,
um novo pensar,
uma nova marca.

Sabemos que o relacionamento da humanidade com os animais vem de longe.

Eles foram companheiros que sempre estiveram conosco,


lado a lado, ao longo da história.

Por todo esse tempo, o cuidado sempre esteve no centro dessa relação,

na base do que podemos oferecer, a partir de tudo o que conhecemos como


humanidade: a medicina, a ciência e a cultura.
Por isso acreditamos tanto no valor das parcerias - tutores, tratadores,

cuidadores, veterinários - que no dia a dia se estabelecem para fazer o


cuidado chegar aos animais.
Queremos entregar o melhor da medicina, da pesquisa e da ciência para nossos

parceiros que se dedicam incansavelmente a cuidar dos animais.


Porque quem cuida procura o melhor.

Parceira de quem cuida.

Você também pode gostar