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Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Roberta Nunes
N972t
Nunes, Roberta
ISBN 978-85-515-0557-1
ISBN Digital 978-85-515-0553-3
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, este livro didático reúne informações e conteúdos sobre
toxicologia. A toxicologia é uma área de grande importância da área da saúde, pois é
responsável pelo estudo das interações de diversas substâncias com o nosso organismo,
sob condições específicas de exposição. Entretanto, quais seriam essas substâncias?
Essas substâncias vão desde medicamentos, agrotóxicos, alimentos, cosméticos,
produtos químicos e drogas lícitas e ilícitas.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................57
UNIDADE 2 — TOXICOLOGIA APLICADA À CLÍNICA............................................................59
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 121
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................185
UNIDADE 1 -
INTRODUÇÃO À
TOXICOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITOS BÁSICOS EM TOXICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, a partir de agora, iniciaremos os nossos estudos. A toxicologia é
a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações das substâncias
químicas com o organismo, com as finalidades de prevenir, diagnosticar e tratar da
intoxicação. A toxicologia abrange uma vasta área de conhecimentos, na qual atuam
profissionais de diversas formações. Ela pode ser dividida, de acordo com os diferentes
campos de trabalho, em toxicologia analítica, ou química; toxicologia clínica, ou médica;
e toxicologia experimental.
3
CASO 1 – Caso Backer, janeiro de 2020:
4
• Xenobióticos: substâncias químicas que são estranhas ao organismo e sem valor
nutritivo.
• Agente tóxico: xenobiótico capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando
uma função ou o levando à morte, sob certas condições de exposição.
• Intoxicação: a manifestação do agente tóxico e corresponde ao conjunto de sinais
e de sintomas que revelam desequilíbrio produzido pela interação do agente tóxico
com o organismo.
• Veneno: mistura de substâncias de origem biológica (animal ou vegetal), capaz de
causar alterações nocivas a órgãos ou a sistemas de organismos vivos quando há
interações com eles.
• Toxicidade: propriedade intrínseca e potencial de um agente químico capaz de
produzir efeito nocivo ao organismo. A toxicidade depende, principalmente, das
seguintes condições de exposição:
2 HISTÓRICO DA TOXICOLOGIA
A história da toxicologia acompanha a própria história da civilização, pois, desde
a época mais remota, o homem possuía conhecimento dos efeitos tóxicos de venenos
de animais e de uma variedade de plantas tóxicas.
5
Um dos documentos mais antigos, o Papiro de Ebers (1500 a.C.), de origem
egípcia, registra uma lista de cerca de 800 ingredientes ativos, incluindo metais do tipo
chumbo e cobre, venenos de animais e diversos vegetais tóxicos. Na antiguidade, o
veneno foi muito utilizado com fins políticos. Provavelmente, o caso mais conhecido
do uso de veneno em execuções do Estado foi o de Sócrates, condenado à morte
pela ingestão de extrato de cicuta (Conium maculatum), que contém a presença da
substância cicutoxina, um agente colinérgico que produz sintomas de náusea, vômito
e dor abdominal, tipicamente, nos primeiros 15-60 minutos de ingestão. Em poucas
horas, causa tremores, convulsões, arritmia, hipertensão e insuficiência respiratória. A
dose letal (LD50) é de 2.8 mg/kg (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
NOTA
Conceito de antídoto: é um agente capaz de antagonizar (reverter)
os efeitos tóxicos de substâncias. Exemplo 1: Naloxona (antagonista
de opioides) é o antídoto para intoxicação por morfina. Exemplo 2:
Flumazenil (antagonista dos efeitos hipnóticos, sedativos e da inibição
psicomotora) é o antídoto para intoxicação por barbitúricos. Exemplo 3:
N-acetilcisteína é o antídoto para intoxicação por paracetamol.
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“Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja um
veneno. A dose correta diferencia o veneno do remédio”.
Paracelsus (1493-1541)
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INTERESSANTE
A MÉDICA QUE SALVOU UMA GERAÇÃO DE BEBÊS DA TRAGÉDIA
DA TALIDOMIDA NOS EUA
3 INTOXICAÇÃO
Intoxicação é um processo patológico causado por substâncias endógenas
ou exógenas, caracterizado pelo desequilíbrio fisiológico, consequente das alterações
bioquímicas no organismo. O processo de intoxicação é evidenciado por sinais e
sintomas, ou mediante dados laboratoriais, e pode ser desdobrado em quatro fases:
exposição, toxicocinética, toxicodinâmica e clínica (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
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FIGURA 2 – FASES DA INTOXICAÇÃO
4 TOXICOCINÉTICA
A toxicocinética é o estudo do comportamento de um agente nos diferentes
compartimentos do organismo, dependentes dos processos de absorção, distribuição
e eliminação.
Boa parte desses agentes que circulam no sangue deve se distribuir para
tecidos locais, um processo que pode ser impedido por determinadas estruturas, como
pela barreira hematoencefálica. Na maioria das vezes, essas substâncias ultrapassam
o compartimento intravascular nas vênulas pós-capilares, nas quais existem lacunas
maiores entre as células endoteliais, o que permite a passagem delas (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
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4.1 ABSORÇÃO
A absorção é a passagem de substâncias do local de contato para a circulação
sanguínea. As principais vias de exposição aos agentes tóxicos, no organismo, são a
dérmica, a oral e a respiratória. Outras vias, como a intramuscular, a intravenosa e a
subcutânea, constituem meios normais de introdução de agentes medicamentosos
que, dependendo da dose, das condições fisiológicas ou da doença do paciente,
podem produzir efeitos adversos acentuados, com lesões graves em diversos órgãos. É
importante ressaltar que, pela via intravenosa, não existe absorção, já que as substâncias
alcançam, diretamente, a circulação sistêmica, sendo, essa via de administração,
relevante para alguns fármacos e drogas de abuso, como o cloridrato de cocaína.
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A via dérmica é a porta de entrada mais frequente das intoxicações por
agrotóxicos, pois a contaminação ocorre nas mãos, braços, pescoço, face e couro
cabeludo, pela absorção de respingos, névoa de pulverização e uso de roupas
contaminadas. Os fatores ligados à absorção via dérmica são tempo de exposição,
hidro ou lipossolubilidade, tamanho da molécula, temperatura do corpo e do ambiente,
volatilidade, dentre outros (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
A absorção pela via respiratória é uma via importante de entrada de partículas sólidas
ou líquidas suspensas no ar atmosférico, além de gases e substâncias voláteis, que podem
passar pelas fossas nasais, faringe, laringe, brônquios, traqueia e alvéolos pulmonares,
alcançando a circulação sistêmica (DINIS-OLIVEIRA; CARVALHO; BASTOS, 2018).
A retenção parcial, ou total, dos agentes, nas vias superiores, está ligada ao
diâmetro da partícula, hidrossolubilidade, condensação e temperatura. Geralmente,
as partículas com diâmetro maior do que 30 µm ficarão retidas nas regiões menos
profundas do trato respiratório. Também, quanto maior a solubilidade em água, maior
será a tendência de ser retido no local.
4.3 BIOTRANSFORMAÇÃO
Biotransformação é toda alteração que ocorre na estrutura química da
substância no organismo. A biotransformação pode ocorrer em qualquer órgão ou
tecido orgânico, como no intestino, rins, pulmões, pele, testículos, placenta etc. No
entanto, a grande maioria das substâncias, sejam elas endógenas ou exógenas, é
biotransformada no fígado. A biotransformação de xenobióticos é catalisada por
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enzimas inespecíficas, as quais metabolizam substâncias endógenas que, também,
devem sofrer biotransformação para a renovação. As reações de biotransformação são
divididas em reações de Fase I e II.
4.4 EXCREÇÃO
Excreção é o processo pelo qual uma substância é eliminada do organismo.
Os agentes tóxicos são excretados por diferentes vias, e, na maioria das vezes, sob
forma de produtos mais hidrossolúveis, após a biotransformação. As vias de excreção
mais representativas são a urinária, a fecal e a pulmonar. A urina excreta substâncias
hidrossolúveis, enquanto as fezes carregam substâncias não absorvidas no trato
digestivo e os produtos excretados pela bile. A via pulmonar é a responsável pela
excreção de gases e de vapores.
ATENÇÃO
É muito importante que você compreenda o caminho que os
xenobióticos percorrem no nosso organismo, especialmente, o
processo de excreção, visto que, em alguns casos de intoxicação,
são administradas substâncias para aumentar a excreção daquela
substância tóxica. Veremos mais detalhes adiante!
5 TOXICODINÂMICA
A toxicodinâmica estuda os mecanismos da ação tóxica exercida por
substâncias químicas sobre o sistema biológico, sob os pontos de vista bioquímico
e molecular. Pelo elevado número de agentes químicos com potencial tóxico, os
mecanismos de ação são os mais diversos. Obviamente, o efeito toxico depende,
primordialmente, de o agente alcançar e permanecer no sítio de ação. Dessa forma, os
fatores que facilitam a absorção, a distribuição para o sítio-alvo, a biotransformação,
caso o agente tóxico seja produto dessas reações, ou que impeçam a eliminação
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dele, facilitam o alcance do agente químico no sítio de ação. Nesse local, a molécula
ativa interage com o sítio molecular por meio de diferentes reações, as quais são
determinadas pelas características físico-químicas e estruturais do agente químico e
do sítio molecular (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
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Na medicina, os antibióticos são úteis pela toxicidade seletiva que possuem
sobre os micro-organismos causadores de doenças. As penicilinas e as cefalosporinas
agem, seletivamente, sobre as paredes celulares presentes nas bactérias, mas ausentes
nas células animais.
INTERESSANTE
Para fixarmos esse conteúdo de seletividade de ação, é só pensarmos
no chocolate. O chocolate, para seres humanos, não traz nenhum efeito
tóxico. No entanto, para animais, o chocolate é um grande vilão. O
composto teobromina, presente no chocolate, é um potente diurético,
vasodilatador, cardiotóxico e neurotóxico para animais.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
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AUTOATIVIDADE
1 Por milhares de anos, os venenos e o estudo deles (toxicologia) teceram uma rica
malha de experiências humanas. Sócrates foi morto envenenado com cicuta;
Cleópatra usou uma serpente africana para se suicidar; a intoxicação com chumbo
pode ter contribuído para o declínio do império romano; Marilyn Monroe, Elvis Presley
e o ator Health Ledger morreram com doses excessivas de medicamentos sujeitos
à prescrição obrigatória. A respeito dos conceitos básicos de toxicologia, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) São raras as substâncias consideradas tóxicas, visto que boa parte delas
necessita de prescrição médica.
b) ( ) As toxinas podem ser inaladas, aspiradas, ingeridas por via oral, injetadas ou
absorvidas pela pele.
c) ( ) A DL50 é uma das principais técnicas utilizadas para avaliar a toxicidade de uma
substância em seres humanos.
d) ( ) Os toxicantes podem se acumular em maior ou menor concentração, dependendo
do local. Fígado, coração e pulmão são órgãos considerados como depósito de
xenobióticos.
a) ( ) Persistente.
b) ( ) Aguda sistêmica.
c) ( ) Crônica local.
d) ( ) Crônica sistêmica.
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( ) Na via dérmica, não há absorção, já que as substâncias alcançam, diretamente, a
circulação sistêmica.
( ) A saída do xenobióticos do organismo ocorre por inúmeras vias, sendo a eliminação
urinária a mais importante. Indivíduos com disfunção renal têm uma maior facilidade
de excretar os xenobióticos, diminuindo os riscos de intoxicação.
a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos como avaliar o grau de uma intoxicação.
A toxicidade de uma substância, para um organismo vivo, pode ser considerada como a
capacidade de lhe causar dano grave ou morte. Princípio fundamental para que o dano
aconteça é que haja interação do agente químico com o organismo.
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2 AVALIAÇÃO DE RISCO
Na toxicologia, conceitua-se, como perigo, a capacidade de uma substância de
causar um efeito adverso, e, como risco, a probabilidade de um evento nocivo ocorrer,
devido à exposição a um agente químico e/ou biológico.
Em tais casos, a dose total, que seria muito tóxica se recebida toda de uma vez,
passa a ser pouco, ou não tóxica, se administrada em determinado período de tempo.
Por exemplo, 30 mg de estricnina ingerida de uma só vez pode ser fatal para um adulto,
enquanto 3 mg ingeridas a cada dia, por dez dias, podem não ser fatais (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
NOTA
Estricnina: é um alcaloide cristalino muito tóxico. Foi muito usado
como pesticida, principalmente, para matar ratos, porém, devido à alta
toxicidade dele, não só em ratos, mas em vários animais e em seres
humanos, o uso é proibido em muitos países.
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Também, pode-se dizer que, nem sempre, a substância com forte toxicidade
será a de maior risco. Tudo dependerá das condições de contato com a substância. Por
exemplo, podemos ter agentes de alta toxicidade e baixo risco, ou, ainda, agentes de
baixa toxicidade e alto risco.
• Efeito aditivo: quando o efeito final é igual à soma dos efeitos de cada um dos
agentes envolvidos.
• Efeito sinérgico: quando o efeito final é maior do que a soma dos efeitos de cada
agente separado.
• Potencialização: quando o efeito de um agente é aumentado se combinado com
outro agente.
• Antagonismo: quando o efeito de um agente é diminuído, inativado ou eliminado se
combinado com outro agente.
• Reação idiossincrática: é uma reação anormal a certos agentes tóxicos. Nesses
casos, o indivíduo pode apresentar uma reação adversa a doses, extremamente,
baixas (doses consideradas não tóxicas), ou apresentar tolerância surpreendente a
doses consideradas altas, ou, até mesmo, letais.
• Reação alérgica: é uma reação adversa que ocorre após uma prévia sensibilização
do organismo ao agente tóxico. Na primeira exposição, o organismo, após incorporar
a substância, produz anticorpos. Estes, após atingir uma determinada concentração
no organismo, ficam disponíveis para provocar reações alérgicas no indivíduo, sempre
que houver uma nova exposição àquele agente tóxico.
ATENÇÃO
Diferença entre in vitro e ex vivo: in vitro é traduzido, do latim, como “em
vidro”. Esse método de teste envolve experimentos em matéria biológica
(células ou tecidos) fora de um organismo vivo. Em contraste, ex vivo significa
“fora de um corpo vivo”. Nesse tipo de experimento, os tecidos vivos não
são criados artificialmente, mas retirados, diretamente, de um organismo
vivo. O experimento é, então, conduzido, imediatamente, para um ambiente
de laboratório, com alteração mínima das condições naturais do organismo.
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Nas experimentações realizadas com animais (toxicidades aguda, subaguda,
crônica, carcinogenicidade, toxicidade para a reprodução e para o desenvolvimento
intrauterinos, neurotoxicidade etc.), a abordagem tradicional determina o limiar de
toxicidade (threshold) pelo estabelecimento do nível de dose, a partir do qual não são
observados efeitos adversos (NOAEL, do inglês No Observable Adverse Effect Level),
e da menor dose, a partir da qual são observados efeitos adversos (LOAEL, do inglês
Lowest Observed Adverse Effect Level).
3 MUTAGÊNESE E CARCINOGÊNESE
Como vimos anteriormente, o risco está relacionado à probabilidade de um
evento nocivo ocorrer. Um fator de risco para o câncer, quando presente, aumenta a
probabilidade de ocorrência da doença numa dada população, e, quando removido,
torna esse efeito menos provável.
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A toxicologia experimental, principalmente, realiza os testes toxicológicos
preditivos, que permitem a avaliação do potencial carcinogênico de substâncias a que o
homem, ainda, não foi exposto, isto é, novos produtos, como medicamentos, pesticidas,
aditivos alimentares, cosméticos, e assim por diante. Essa investigação prévia de
segurança, durante o desenvolvimento de inovações na área químico-farmacêutica,
destina-se a evitar que os produtos criados pelo homem venham a constituir novos
fatores de risco para o câncer.
3.1 MUTAGÊNESE
Mutação é uma alteração súbita do material genético que é transmitida à
descendência. Dependendo da linhagem celular em que ocorra, germinativa ou
somática, a mutação passará, respectivamente, às novas gerações, ou células-filhas.
MUTAÇÃO CARACTERÍSTICA
Afetam um único par de bases. Esse grupo inclui as
Mutação pontual
substituições, perdas e adições de bases.
Ocorrem devido a exposição a agentes denominados
Mutação induzida mutagênicos, como agentes químicos (ácido nitroso,
etiletanossulfonato) e físicos (radiações ionizantes e UV).
Há modificação da proteína codificada pelo gene
Mutação com troca de sentido mutante, pois a substituição de um par de bases altera
(missense) o sentido de um códon, levando a substituição de um
aminoácido.
A mutação gera o aparecimento de um códon sinalizador
de finalização de transcrição e aborta o RNA mensageiro
Mutação sem sentido (nonsense)
precocemente, resultando no aparecimento de
fragmentos não funcionais do polipeptídio.
A mutação pode alterar o códon para um sinônimo, de
Mutação silenciosa
modo que o mesmo aminoácido será codificado.
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3.2 CARCINOGÊNESE
O processo de carcinogênese envolve interações complexas entre vários
fatores, exógenos (ambientais) e endógenos (genéticos, hormonais etc.). As alterações
que ocorrem em uma célula, durante o processo de transformação maligna, são de
natureza genética (mutação) ou epigenética (alteração no padrão de expressão gênica
decorrente de outros fatores que não mutação). Considerando a carcinogênese como
um processo de múltiplas etapas, envolvendo várias alterações tipo mutação, esses
erros teriam efeito cumulativo durante a vida do indivíduo, até a expressão do fenótipo
final (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
Algumas substâncias agem de tal modo que é, praticamente, certo que a pessoa
exposta a uma determinada dose venha a desenvolver câncer. É o caso do composto
2-naftilamina, usado na indústria química.
4 TOXICOLOGIA DA REPRODUÇÃO
Os agentes tóxicos, além de causar danos para o indivíduo que fez o uso, podem
trazer danos ao feto em pacientes gestantes. Pode-se agrupar os agentes químicos,
quanto aos efeitos adversos deles, sobre o ciclo reprodutivo, em duas principais
categorias (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014):
27
pública. Pela primeira vez, foi possível associar, de maneira inequívoca, a malformação
do homem com um fator exógeno determinante, pois as malformações produzidas pela
talidomida eram severas e puderam ser reconhecidas imediatamente. A talidomida é,
hoje, uma das drogas mais estudadas no campo da Teratologia, sendo, as alterações
dos membros, característica da exposição embrionária a essa substância (ANDRADE
FILHO; CAMPOLINA; DIAS, 2013).
NOTA
Teratologia: termo que define o ramo da medicina responsável por
estudar as causas, mecanismos e padrões das anomalias congênitas.
Apesar do avanço das pesquisas nas últimas décadas, apenas 30 a 35% das causas
das malformações humanas podem ser esclarecidas, em face da grande dificuldade de
se recuperar a história progressiva do paciente e do fato de a grande maioria dos casos
de malformações estar relacionado a vários fatores intercorrentes. Segundo Strauss e
Barbieri (2017), atualmente, as anomalias congênitas são classificadas como:
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organismo materno, a placenta sofre modificações, como diminuição da espessura e
aumento da área de vilosidades, funcionando não somente como pulmão, rins e fígado
do concepto, mas, também, armazenando e metabolizando substâncias importantes
para o desenvolvimento dele (STRAUSS; BARBIERI, 2017).
NOTA
Nidação: processo de implantação do óvulo fecundado na parede do
endométrio, caracterizando o início do primeiro trimestre de gravidez.
30
5.1 SÍNDROMES TOXICOLÓGICAS
O conhecimento das síndromes toxicológicas é essencial para o reconhecimento
do agente intoxicante. De acordo com Oga, Camargo e Batistuzzo (2014), a síndrome
toxicológica é uma constelação de sinais e de sintomas que sugerem uma classe
específica de envenenamento.
5.2 DESCONTAMINAÇÃO
Com o paciente estabilizado, pode ocorrer uma avaliação para a descontaminação.
Isso pode incluir a lavagem dos olhos com solução salina ou água, no caso de exposições
oculares; lavagem da pele, em caso de exposições cutâneas; e descontaminação
gastrintestinal, com lavagem gástrica, administração de carvão ativado ou irrigação
intestinal total (utilizando solução balanceada de eletrólitos em polietilenoglicol), no
caso de ingestões. Várias substâncias não adsorvem ao carvão ativado (ex.: chumbo e
outros metais pesados, ferro, potássio e álcoois), limitando o uso dele, exceto se existem
substâncias coingeridas (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
5.3.1 Hemodiálise
A eliminação de alguns medicamentos/toxinas pode ser acelerada pela
hemodiálise, se forem contempladas certas propriedades: baixa ligação a proteínas
plasmáticas, pouco volume de distribuição, baixa massa molecular e hidrossolubilidade da
substância. Alguns exemplos de medicações, ou substâncias que podem ser removidas
com hemodiálise, incluem metanol, etilenoglicol, salicilatos, teofilina, fenobarbital e lítio.
31
5.3.2 Alcalinização urinária
A alcalinização da urina acelera a eliminação de salicilatos e do fenobarbital. O
aumento do pH da urina, com bicarbonato de sódio intravenoso, ioniza a substância,
evitando a reabsorção dela e a aprisionando na urina, para ser eliminada pelos rins. O
objetivo é um pH urinário de 7,5 a 8; já o pH sérico não deve exceder 7,55.
NOTA
Adsorver e absorver: a grande diferença entre os dois processos é
que, na absorção, a substância absorvida é embebida pela substância
absorvente. O maior exemplo é uma esponja, que absorve a água. Já na
adsorção, a substância fica, apenas, retida na superfície adsorvente, sem
ser incorporada ao volume da outra.
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A disponibilidade dessas substâncias é estratégica, do ponto de vista da saúde
pública. Devem estar disponíveis seja para uso imediato, no primeiro atendimento, em
ambulâncias ou nas unidades de emergência, seja em poucas horas, para uso hospitalar
ou em serviços de referência (SÃO PAULO, 2017).
Toxina Antídoto
Paracetamol n-acetilcisteína
Anticolinérgicos Fisostigmina*
Anticoagulantes, inibidores orais de fator
Andexanetalfa
Xa (apixaban, edoxaban, rivaroxaban)
Benzodiazepínicos Flumazenil*
Picada de viúva-negra Soro antilatrodectus
Botulismo Antitoxina botulínica
Betabloqueadores Glucagon
Cálcio
Bloqueadores de canais de cálcio Insulina VI
Dextrose VI
Atropina
Carbamatos
Cloreto de pralidoxima
Cianeto Hidroxocobalamina
Fomepizol
Etilenoglicol
Etanol
Metais pesados Fármacos quelantes
Radiação ionizante Iodeto de potássio
Ferro Deferoxamina
Fomepizol
Metanol
Etanol
Agentes formadores de metemoglobina
(p. ex., corantes de anilina, alguns
Azul de metileno
anestésicos locais, nitratos, nitritos,
fenacetina, sulfonamidas)
Opioides Naloxona
Organofosforados Atropina
Tálio Azul de Prússia
Antidepressivos tricíclicos Bicarbonato de sódio
Vitamina K
Plasma fresco congelado
Varfarina
Concentrado de complexo protrombínico
(CCP)
*O uso é controverso
FONTE: <https://msdmnls.co/3paPpUI>. Acesso em: 30 nov. 2021.
33
FIGURA 4 – FLUXOGRAMA DO ATENDIMENTO INICIAL
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os agentes tóxicos, além de causar danos para o indivíduo que fez o uso, podem trazer
danos ao feto, caso o usuário seja gestante. Esses danos incluem malformações,
anormalidade anatômica, alterações no desenvolvimento etc.
35
AUTOATIVIDADE
1 O paciente intoxicado precisa de atendimentos especializados, tanto para minimiza os
sinais e sintomas, quanto para acelerar o processo de eliminação do agente toxicante.
Além de manter os sinais vitais estáveis, aplicar medidas de descontaminação, pode
ser necessário a utilização de antídotos específicos. De acordo com o que foi visto
neste tópico, consideramos antídoto:
36
( ) Considera-se carcinogênese substâncias que alteram a capacidade ou a habilidade
reprodutiva de indivíduos do sexo masculino e feminino.
( ) Considera-se carcinogênese as interações complexas entre fatores exógenos
(ambientais) quanto endógenos (genéticos, hormonais etc.).
( ) Considera-se carcinogênese as modificações na proteína codificada pelo gene
mutante, pois a substituição de um par de bases altera o sentido de um códon,
levando a substituição de um aminoácido.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 As intoxicações agudas representam de 150 a 400 casos por cem mil anualmente
nas emergências, e se apresentam dentro de um amplo espectro de etiologias: desde
tentativas de suicídio, abuso de drogas, exposição ocupacional, até as ingestões e
exposições acidentais. A decisão de descontaminar o paciente deve ser ponderada
baseando-se no risco-benefício da técnica disponível e/ou escolhida, tempo e
quantidade de ingestão do tóxico, bem como seus efeitos esperados. Neste sentido,
quais são as principais medidas gerais de descontaminação que podem ser aplicadas
em um caso de intoxicação?
5 Tudo na vida envolve riscos, das atividades mais banais de nossa rotina às mais
complexas; viver é correr riscos. Embora nenhum risco possa ser avaliado sem
o conhecimento prévio dos perigos subjacentes, o fato é que os riscos, e não os
perigos, é que são avaliados para todas as coisas. Ao se avaliar se um pesticida pode
ou não ser/permanecer registrado, e caso sim, em que condições, tal avaliação só
será completa se for levado em consideração o risco que apresenta, o qual dependerá
não somente de sua toxicidade (perigo), mas também da exposição de agricultores,
populações próximas as áreas agrícolas e população geral que consome alimentos
tratados com esses produtos. Neste sentido, diferencie risco de perigo e de pelo
menos um exemplo.
37
38
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
TOXICOLOGIA DE COSMÉTICOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a toxicologia dos produtos cosméticos.
Com o objetivo de facilitar a leitura desta unidade, a expressão “produtos cosméticos,
de higiene pessoal e perfumes” será substituída pela expressão “produtos cosméticos”,
abrangendo, assim, toda a classe designada anteriormente.
ATENÇÃO
Existem evidências de que o alumínio presente nos antitranspirantes
pode atravessar a barreira hematoencefálica e causar degeneração
neurofibrilar, como a que acontece na doença de Alzheimer.
39
As reações adversas dos cosméticos se dividem em reações irritativas imediatas
ou cumulativas, reações alérgicas ou sensibilizantes, dermatites por fotossensibilização,
reações físicas por oclusão folicular, reações sistêmicas por inalação ou contanto oral e
reações por absorção percutânea ou ação carcinogênica (CHORILLI et al., 2007).
40
animais no Brasil, além da criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal (CONCEA), cuja atribuição é formular, além de zelar pelo cumprimento de normas
relativas à utilização humanitária de animais com finalidades de ensino e pesquisa
científica.
Em 2014, entra em vigor, no Estado de São Paulo, a Lei nº 15.316, que proíbe
a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e teste de produtos
cosméticos, e desde a sua aprovação, métodos alternativos ao uso de animais vêm
sendo utilizados para avaliação da eficácia e toxicidade dos cosméticos. Atualmente,
existem 17 métodos alternativos aprovados, entre eles, procedimentos para avaliar
irritação e corrosão da pele, irritação e corrosão ocular, fototoxicidade, absorção
cutânea, sensibilização cutânea, toxicidade aguda e genotoxicidade (MÉTODOS, 2017).
41
Esse episódio foi decisivo para o intenso aumento do uso de animais para o
desenvolvimento de novos medicamentos. Estes deveriam ser avaliados inicialmente
em animais de pequeno porte, passando a animais de maior porte até se aproximarem
daqueles mais geneticamente parecidos com os homens, como os primatas não
humanos. No entanto,
42
Embora todos os ensaios, anteriormente, descritos, sejam, frequentemente, utilizados,
descreveremos, com mais detalhes, os ensaios de irritação ocular HET-CAM e BCOP.
2.1.1 HET-CAM
Este ensaio veio com intuito de substituir o teste de Draize. O teste de Draize
é um teste toxicológico que foi amplamente utilizado nas indústrias de cosméticos e
farmacêutica ao longo dos anos, no intuito de avaliar o potencial irritante de substâncias,
as quais eram diretamente aplicadas nos olhos de coelhos (MCKENZIE et al., 2015).
NOTA
Membrana cório-alantóide: encontrada nos ovos de galinha. É um órgão
extraembrionário que se desenvolve pela fusão do corão com a membrana
alantoide vascularizada por voltado quarto dia do desenvolvimento da
galinha. Sua principal função são as trocas de gases e nutrientes.
43
Esquema do procedimento do teste HET-CAM, no qual (a) indica o recebimento
dos ovos, sua verificação e armazenamento em incubadora; (b) exames dos ovos no
quarto dia para verificar a existência e posição do embrião; (c) abertura das cascas dos
ovos molhamento; (d) adição do líquido da substância teste; (e) adição da substância
sólida do teste; (f) fechamento da abertura com fita transparente; (g) avaliação dentro
do anel para dano vascular.
2.1.2 BCOP
O ensaio BCOP (permeabilidade da córnea bovina) utiliza córneas isoladas dos
olhos bovinos recém abatidos, os quais são descartados pelo abatedouro. As substâncias
avaliadas são aplicadas na superfície do epitélio da córnea, e os danos causados por
elas são avaliados pelas alterações de opacidade e permeabilidade da córnea. Ambas as
medidas são utilizadas para calcular o score de irritação, que é usado para atribuir uma
classificação quanto ao grau de irritação ocular in vitro do produto químico testado para
a previsão do seu potencial de irritação ocular in vivo.
44
Além disso, a avaliação histopatológica das córneas, utilizadas no ensaio de
BCOP, pode ser uma ferramenta útil na identificação de danos nas camadas da córnea
que não apresentam valores significativos de opacidade e/ou permeabilidade, avaliando-
se o grau e a profundidade dos danos, permitindo, com isso, discriminar entre irritantes
leves e moderados (SÁ, 2017).
Além de modelos in vitro, alguns modelos in sílico podem ser utilizados para
avaliação toxicológica dos ingredientes.
45
No caso dos ingredientes cosméticos, esses modelos alternativos podem auxiliar
na pré-seleção de matérias-primas pela identificação de substâncias com diferentes
níveis de segurança e consequentemente diminuírem custos, já que podem identificar
ativos com alto grau de toxicidade e eliminá-los do desenvolvimento do produto (OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
NOTA
Órgãos certificadores: são responsáveis por recomendar o certificado
de qualidade, dando direito a empresa auditada e aprovada para usar o
logotipo do órgão certificador.
46
QUADRO 4 – SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO DE COSMÉTICOS COMERCIALIZADOS NO BRASIL
CRUELTY-FREE – certificação de
cosméticos, produtos de higiene
pessoal, produtos de limpeza que não
são testados em animais.
FONTE: A autora
47
LEITURA
COMPLEMENTAR
ACIDENTES QUÍMICOS E NUCLEARES E A PERCEPÇÃO DE RISCO
Camilla G. Colasso
1 INTRODUÇÃO
Muitas vezes, há incertezas dos efeitos que determinado acidente pode provocar
nos indivíduos e no meio ambiente, o que acarreta vários comportamentos na população
afetada, como medo, insegurança e pânico. Outro ponto também importante é a cobertura
que a mídia dá a determinado acidente (FREITAS et al., 1995). Esses sentimentos junto
com a repercussão da informação podem afetar a percepção do risco. Um exemplo são
os acidentes que envolvem a radiação. A repercussão da mídia é ampla e isso acaba
interferindo na percepção da população afetada e na população em geral.
48
2 ACIDENTE NA BAÍA DE MINAMATA, JAPÃO
O mercúrio lançado na Baía era o metálico, forma que não provoca danos no
ambiente, pois não é absorvido. Porém, com o decorrer do tempo, o mercúrio se liga ao
carbono e transforma-se em um composto orgânico conhecido como metilmercúrio,
forma que é absorvida. O mercúrio começa então a fazer parte da cadeia alimentar; os
peixes se alimentam de plâncton com alto teor de mercúrio acumulado, se tornando
contaminados.
Neste processo, a comunidade local foi contaminada, por viver da pesca para
sobreviver, tanto se alimentando dos peixes da região, como vendendo para conseguir
o sustento. Com o passar dos anos, a população de peixes da região diminuiu e pessoas
e outros animais adoeceram e morreram.
O grande problema dessa situação é que a empresa, para não ter problemas
e muito menos multas, decidiu negociar com as comunidades, dando quantias em
dinheiro para minimizar o grave problema e não o solucionar. Durante vários anos, a
empresa adotou este comportamento e as comunidades mantinham sigilo sobre o
que acontecia. As pessoas escondiam indivíduos doentes e não comentavam sobre o
comportamento estranho e as comuns mortes dos animais.
49
A contaminação por mercúrio causa consequências físicas graves e também é
transmitida geneticamente. A “doença de Minamata” afeta o cérebro, causa dormência
nos membros, fraqueza muscular, deficiências visuais, dificuldade na fala, paralisia,
deformidades e morte. O metilmercúrio é tóxico para os fetos, sendo assim um grande
número de crianças da região nasceram com deformidades.
3 CASO TALIDOMIDA
Até então, os estudos para avaliar os medicamentos não eram tão exigentes,
assim os testes realizados para a talidomida não identificaram seu potencial teratogênico.
Atualmente sabe-se que, a talidomida é uma mistura racêmica e apresenta dois isômeros
(apresenta a mesma fórmula química, mas há diferença na posição dos átomos na
estrutura espacial da molécula), sendo que a forma R produz os efeitos desejáveis e
50
a forma S causa os efeitos teratogênicos. A forma R in vitro e in vivo é convertida na
forma S e então os efeitos não seriam diferentes mesmo que a mistura racêmica fosse
separada (BORGES; FRÖEHLICH, 2003; OLIVEIRA et al., 1999).
Foi observado que os pássaros da região atingidos pela nuvem tóxica começaram
a cair do céu. Algumas horas após o acidente, diversas crianças da região começaram a
apresentar sinais de intoxicação, como enjoos, diarreia, queimaduras, lesões cáusticas
e inflamações nas partes não cobertas do corpo.
5 USINA DE CHERNOBYL
A usina era composta por quatro reatores e produziam cerca de 10% da energia
elétrica utilizada pela Ucrânia na época do acidente. A construção da instalação começou
na década de 1970, com o reator nº 1 comissionado em 1977, seguido pelo nº 2 (1978), nº
3 (1981), e nº 4 (1983). Dois reatores adicionais (nº 5 e nº 6) estavam em construção na
época do acidente.
51
A 1h24 do dia 26 de abril ocorreu duas explosões em sequência, espalhando no
ar centenas de pedaços de material incandescente. Peças foram lançadas até o telhado
e iniciaram-se vários incêndios.
52
Os especialistas estimam que 8.000 ucranianos já morreram em decorrência
do acidente. Há previsões de que até 17.000 pessoas poderão morrer devido ao
desenvolvimento de câncer nos próximos 70 anos (GROSS, 1987; JACOB et al., 2001;
LAZJUK et al., 2003).
6 PERCEPÇÃO DE RISCO
Após a leitura dos acidentes descritos anteriormente, cada leitor terá uma
percepção de risco. A grande maioria irá classificá-los de acordo com aspectos intuitivos
e emocionais, com a aceitação do risco, entre outros.
7 CONCLUSÃO
FONTE: COLASSO, C. G. Acidentes químicos e nucleares e a percepção de risco. Revista Intertox de Toxi-
cologia, Risco Ambiental e Sociedade, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 125-143, 2011.
53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Para um produto cosmético ser comercializado, ele necessita passar por testes de
eficácia e segurança. Um cosmético seguro e eficaz pode ser definido como sendo
aquele que cumpre o objetivo proposto com baixa probabilidade de ocorrência de
danos ao usuário.
• Em 2014, entrou em vigor, no Estado de São Paulo, a Lei nº 15.316, que proíbe a
utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e teste de produtos
cosméticos.
54
AUTOATIVIDADE
1 Como destacado neste tópico, é proibida a utilização de animais para desenvolvimento,
experimentos e teste de produtos cosméticos. Diante disso, novas metodologias estão
sendo utilizadas para determinar a eficácia e segurança de produtos cosméticos,
dentre eles os ensaios in vitro. Consideram-se ensaios in vitro:
55
( ) Reações irritativas imediatas ou cumulativas e reações alérgicas ou sensibilizantes.
( ) Dermatites por fotossensibilização e reações físicas por oclusão folicular.
( ) Reações sistêmicas por inalação ou contato oral; reações por absorção percutânea
ou ação carcinogênica.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
56
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, P. M. M. Intoxicações agudas: guia prático para o tratamento.
Fortaleza: Soneto Editora, 2017.
ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. Toxicologia na prática clínica. Belo
Horizonte: Editora Folium, 2013.
INCA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Diretrizes para a
vigilância do câncer relacionado ao trabalho. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
INCA, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3GqRW3p. Acesso em: 30 ago. 2021.
57
MCKENZIE, B; KAY, G.; MATTHEWS, K. H.; KNOTT, R. M. The hen’s egg chorioallantoic
membrane (HET-CAM) test to predict the ophthalmic irritation potential of
a cysteamine-containing gel: quantification using photoshop1 and imageJ.
International Journal of Pharmaceutics, [s. l.], n. 490, p. 1-8, 2015.
ROGERO, S. O.; LUGÃO, A. B.; IKEDA, T. I.; CRUZ, A. S. Teste in vitro de citotoxicidade:
estudo comparativo entre duas metodologias. Materials Research, [s. l.], v. 6, n. 3, p.
317-320, 2003.
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 15.316, de 23 de janeiro de 2014. (Projeto de lei nº 777/13,
do Deputado Feliciano Filho - PEN). Proíbe a utilização de animais para desenvolvimento,
experimento e teste de produtos cosméticos e de higiene pessoal, perfumes e seus
componentes e dá outras providências. São Paulo: Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3runRvU. Acesso em: 24 ago. 2021.
58
UNIDADE 2 —
TOXICOLOGIA APLICADA
À CLÍNICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
59
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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60
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
TOXICOLOGIA SOCIAL – DROGAS
DEPRESSORAS E ESTIMULADORAS
DO SNC
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, daremos início à toxicologia social, que é a área da
toxicologia que estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso não médico, ou não
terapêutico, de fármacos, ou drogas, causando danos, não somente, ao indivíduo, mas,
também, à sociedade.
O uso não médico se refere ao uso de um fármaco prescrito – seja obtido por
prescrição ou por outra forma –, de maneira e em tempos diferentes dos informados na
prescrição médica, ou, ainda, para uma pessoa cujo fármaco não havia sido prescrito. É
um termo genérico que engloba compostos lícitos e ilícitos e qualquer tipo de exposição,
seja um uso ocasional, frequente, nocivo ou compulsivo (ALVES, 2005).
61
2 DEPENDÊNCIA E TOLERÂNCIA
Antes de descrever as várias drogas de abuso e os possíveis mecanismos de
ação, é importante definirmos alguns termos.
2.1 DEPENDÊNCIA
A dependência é uma doença crônica, passível de recaída, até mesmo, anos
após a abstinência, a qual tem sido caracterizada por:
62
Nem todos os usuários de drogas de abuso se tornam dependentes. Há uma
grande diferença entre o usuário e o dependente. Indivíduos escolhem começar a usar
drogas pelos mais diferentes motivos, e, no início, essa é uma decisão voluntária.
FASE 2 – Escalação/dependência
63
NOTA
Dinorfina: é um tipo de substância química chamada de peptídeo opioide,
produzida, naturalmente, pelo corpo humano, e que afeta a função cerebral
e o sistema nervoso. As dinorfinas são muito potentes mesmo em pequenas
quantidades, e estudos científicos sugerem que o efeito analgésico de uma
dinorfina é, pelo menos, seis vezes maior do que o da morfina.
FASE 3 – Abstinência/recaída
64
2.2 TOLERÂNCIA
Muitas drogas, quando consumidas repetidamente, dão origem ao fenômeno
da tolerância, ou seja, ocorre diminuição do efeito, a despeito da dose a ser mantida,
ou se torna necessário um aumento da dose para se alcançar o mesmo grau de efeito
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014). Existem vários tipos de tolerância:
NOTA
“Binge”: uso intenso, repetido em intervalos muito curtos de tempo.
65
devido a mecanismo similares, as possíveis alterações adaptativas que surgem do
uso de uma delas, também, conferirão tolerância a uma outra. Desse modo, aqueles
que desenvolvem tolerância para o etanol o fazem, também, para os barbitúricos
e benzodiazepínicos (depressores do SNC). O LSD possui tolerância cruzada com a
psilocibina e a mescalina, estando, esse mesmo fenômeno, presente entre a morfina
e os opiáceos sintéticos (meperidina) e semissintéticos (heroína).
66
DICA
Busque assistir à série Aeroportos – Área Restrita. Uma série focada em
acompanhar o trabalho da Polícia Federal, que busca, em malas e bagagens,
drogas e outras mercadorias ilegais.
3.1 COCAÍNA
A cocaína (COC) é um dos alcaloides presentes nas folhas provenientes de duas
espécies do gênero Erythroxylum, popularmente, conhecido como coca. A Erythroxylum
novogranatense pode apresentar teores entre 0,17 e 0,76% de COC, quando cultivada,
principalmente, em regiões de clima seco, na Colômbia e na Venezuela. A variedade
trujillo, cultivada, principalmente, na costa desértica do norte do Peru e no Vale do
Marañón, está apta a demonstrar teores de 0,64%.
67
Embora postulada como “perigosa” pelo próprio Freud, após a morte de um
amigo, a COC passou a fazer parte de vários produtos, medicamentos e bebidas, como
a Coca-Cola®. O aumento do uso levou, em 1891, aos primeiros relatos de intoxicações
relacionadas à cocaína, incluindo 13 mortes, o que, eventualmente, contribuiu para
a proibição pelo Harrison Act, em 1914, que a catalogou com as mesmas restrições e
penalidades imputadas à morfina (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
68
Na forma de base livre, a cocaína apresenta baixo ponto de fusão (96 a 98
°C contra os 197 °C do cloridrato); volatiliza-se, aproximadamente, a 90 °C, e, quando
aquecida, permite que os próprios valores sejam inalados no ato de fumar. A forma mais
comum pela qual se comercializa a base livre é o chamado crack, ou merla, no Brasil, e
bazuco, em alguns países andinos (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
NOTA
A denominação crack, tão difundida no Brasil, surgiu nos Estados Unidos,
e é uma expressão que remete ao som de crepitação, decorrente do
aquecimento da droga, devido à presença do cloreto de sódio, impureza
surgida no processo de conversão da cocaína.
69
FONTE: A autora
70
A pasta de coca é fumada em cigarros ou em combinação com tabaco ou
maconha (grimmie). Esse produto, dado o preço, relativamente, baixo, é muito utilizado
pelas populações jovens dos países andinos e vem se tonando popular em outras
localidades. No entanto, essa forma de uso é um grave problema de saúde pública,
devido à quantidade de impurezas presentes na primeira fase de obtenção da pasta,
como querosene, gasolina e metais pesados (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
O consumo de crack representa um alto custo para o usuário. Isso pode induzi-
lo às práticas delituosas e degradantes, com graves implicações sociais e legais, como
prostituição, tráfico e furto. Além dos altos riscos de violência e de morte entre os usuários,
há o risco de contágio por infecções, sexualmente, transmissíveis, principalmente, o HIV
(CASARETT; DOULL, 2012).
3.1.2 Toxicocinética
A velocidade de absorção e a concentração plasmática máxima de cocaína
dependem das vias de introdução (intranasal, oral, intravenosa e respiratória), sendo, as
mais referidas, a intranasal e a respiratória, por meio do ato de fumar.
71
QUADRO 2 – FARMACOCINÉTICA DA COCAÍNA
3.1.3 Toxicodinâmica
Após a utilização da COC em doses recreacionais, há elevação temporária das
concentrações de norepinefrina (NE) e dopamina (DA), com subsequente redução a
valores abaixo dos normais. Essas concentrações são relacionáveis, respectivamente, a
estados de euforia e depressão, experimentados pelos usuários de cocaína (HERNANDEZ;
RODRIGUES; TORRES, 2017).
72
FIGURA 4 – MECANISMO DE AÇÃO DA COCAÍNA
3.2 ANFETAMINAS
Dá-se o nome de “estimulantes” aos grupos de substâncias compostas de
estimulantes sintéticos, incluindo a anfetamina e a metanfetamina, e ao grupo das
anfetaminas anel-substituídas, como o “êxtase” (metilenodioximetanfetamina – MDMA)
e os análogos dele (CASARETT; DOULL, 2012).
73
Os japoneses utilizavam a anfetamina, não apenas, nas tropas deles, mas,
também, em trabalhadores civis, para aumentar a produtividade. Foi necessário um
grande esforço para combater o uso disseminado dessa substância, por meio de um
intenso controle de produção, programas de educação e severas penalidades (DINIS-
OLIVEIRA; CARVALHO; BASTOS, 2018).
DICA
Dica de série: Take your Pills. Trata-se de um documentário que relata a vida
de estudantes, atletas e programadores que fazem a utilização da anfetamina
para melhorar o desempenho em atividades.
74
Formulações de anfetamínicos obtidos de forma ilícita são, em geral, úmidas e
com odor desagradável, características da presença de resíduos dos solventes. Como
são substâncias de produção ilícita, sem controle de qualidade, é comum haver variação
na concentração do fármaco, além da presença de subprodutos e intermediários
resultantes do emprego de matérias-primas impuras, reações incompletas ou
insuficiente purificação do produto final (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
3.2.2 Toxicodinâmica
A anfetamina e os análogos dela atuam como aminas simpatomiméticas nos
receptores α e β adrenérgicos, e com potências variáveis, de acordo com as diferentes
estruturas. Muitos autores creditam as ações dos anfetamínicos à similaridade
estrutural com a dopamina e norepinefrina. Poderiam, assim, funcionar como falsos
neurotransmissores (RUPPENTHAL, 2013).
75
4 DROGAS DEPRESSORAS DO SNC
Nesta classe de drogas, incluímos os barbitúricos, os benzodiazepínicos, os
opioides e o álcool. Os opioides são medicamentos utilizados na prática clínica, mas, por
alguns indivíduos, são utilizados de forma ilícita, para obter efeitos de euforia e de bem-
estar, o que, também, acontece com o álcool, substância utilizada, com frequência, por
vários indivíduos, mas que possui a capacidade de deprimir o SNC.
Legenda: Cl: Cloreto; Zolpidem: Análogo dos benzodiazepínicos; Flumazenil: Antagonista de benzodiazepínicos.
FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3rrmUF1>. Acesso em: 15 out. 2021.
76
4.1 BARBITÚRICOS
O ácido barbitúrico (2,4,6-trioxo-hexaidropirimidina) é formado pela
condensação do ácido malônico com a ureia. O primeiro barbitúrico introduzido foi o
ácido dietilbarbitúrico (barbital), em 1903. Poucos anos depois, surgiu o fenobarbital
(Gardenal®), com atividade anticonvulsivante, utilizado até os dias atuais (OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
4.1.1 Toxicocinética
Boa parte dos derivados de barbitúricos possui absorção rápida e completa
(principalmente, pelo intestino delgado), com início da ação variando de 10 a 60 minutos,
dependendo da via de administração. As características físico-químicas do composto,
o tipo da formulação e a presença de alimentos no estômago, também, influenciam a
velocidade da absorção. No caso do fenobarbital, a absorção oral é completa. Quando
utilizado como sedativo-hipnótico, ou para o tratamento da epilepsia, a administração é
via oral, ao passo que a via intravenosa é utilizada para a indução ou a manutenção da
anestesia, como no caso do tiopental (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
77
O processo de biotransformação da maioria dos barbitúricos ocorre,
principalmente, no fígado (cerca de 90 a 99%). Contudo, existem outros locais de
biotransformação, como: rim, cérebro, coração, intestino, músculo e baço. A reação
mais importante, nesse processo, é a oxidação da cadeia lateral, a qual reduz a
atividade farmacológica, sendo, esta, a via mais importante da biotransformação de
barbitúricos (RUPPENTHAL, 2013). A excreção é realizada, principalmente, pela urina,
através da filtração glomerular, sendo, parte do fármaco excretado, reabsorvida no
túbulo contornado proximal. Os barbitúricos com coeficiente óleo/água baixo, como o
fenobarbital, são excretados e inalterados pelo rim, ou, parcialmente, biotransformados,
como barbital (25 a 40%), metarbital (60 a 90%) e aprobarbital (7 a 18%). Outra
característica importante da eliminação dos barbitúricos, em casos de intoxicação, é o
pH urinário.
4.1.2 Toxicidade
Os barbitúricos são depressores do SNC e, primariamente, exercem efeitos
sedativos e anestésicos por potencializar a ação do GABA no receptor GABAérgico, o
que proporciona as inibições pré e pós-sináptica. Esses efeitos depressores incluem
desde ligeira sedação e hipnose até o coma profundo (RUPPENTHAL, 2013).
Apesar de o coma ser o principal sinal de intoxicação aguda por barbitúricos, não é
característico, sendo necessário o diagnóstico laboratorial. A intoxicação por barbitúricos
pode ocorrer de três maneiras: tentativas de suicídio (a grande maioria); automatismo
(perda de controle sobre a quantidade ingerida após os primeiros comprimidos); e, por
78
último, intoxicação acidental, principalmente, em crianças. Como não há antídoto para
os barbitúricos, existem diversos esquemas e condutas terapêuticas para o tratamento
das intoxicações (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014):
INTERESSANTE
O caso mais conhecido envolvendo barbitúricos foi o da Marilyn Monroe.
A cantora morreu aos 36 anos de uma overdose de barbitúricos na sua
casa, em Los Angeles, no dia 5 de agosto de 1962. A análise laboratorial
indicou a presença de 45 mg/L de pentobarbital, sendo que o valor
considerado tóxico é de 10 mg/L.
4.2 BENZODIAZEPÍNICOS
Os benzodiazepínicos estão entre os fármacos mais prescritos e utilizados
em todo o mundo. São utilizados como ansiolíticos, anticonvulsivantes, relaxantes
musculares e hipnóticos. No Brasil, mais de três dezenas desses fármacos constam na
lista B1 e estão sujeitas à notificação de receituário B, conforme Portaria nº 344/1998,
atualizada pelas RDCs nº 178/2002, 18/2003, 44/2007 e 40/2009, todas do Ministério
da Saúde (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
4.2.1 Toxicocinética
Após a administração oral, os benzodiazepínicos são, geralmente, bem
absorvidos pelo trato gastrintestinal. A absorção pode ser influenciada por alimentos,
terapia associada e formulação. Fármacos que alteram o pH gástrico podem influenciar
a absorção por via oral. Além da oral, outras vias podem ser utilizadas: intramuscular,
intravenosa e via retal (utilizada para obtenção de um efeito rápido quando a intravenosa
é impraticável ou indesejável) (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
79
Após a administração, os benzodiazepínicos são bem distribuídos pelos tecidos
orgânicos e possuem suficiente lipossolubilidade para atingir o cérebro. A maioria deles
é, altamente, ligada a proteínas plasmáticas (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
4.2.2 Toxicodinâmica
Os benzodiazepínicos exercem ação, potencializando a atividade do GABA.
Ocorre o aumento da frequência de abertura do canal de cloreto, o que proporciona
a hiperpolarização da membrana, inibindo a excitação celular (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
A falta de ação direta dos benzodiazepínicos, sobre o fluxo de cloreto, explica por
que esses fármacos são mais seguros do que os barbitúricos, que ativam, diretamente,
o canal de cloreto e causam depressão respiratória.
80
4.3 ÁLCOOL
O álcool é uma das substâncias psicoativas mais consumidas pela sociedade,
sendo, o uso, estimulado em algumas situações, como em festas e comemorações.
As bebidas alcóolicas são consumidas pelo homem desde o início da história, com os
primeiros relatos datados de cerca de 6.000 anos atrás, no antigo Egito e na Babilônia.
Desde o início do consumo por todas as diferentes sociedades, os efeitos do álcool,
sobre o indivíduo, e a capacidade dele de alterar o comportamento, já eram conhecidos.
Mesmo aceito socialmente, o consumo sofreu restrições, as quais tentam controlar ou
prevenir o uso indevido: limitar em ocasiões festivas; impor restrições a à produção ou
à comercialização; colocar um limite mínimo para o consumo etc. Ainda assim, esse
uso continua o mais elevado entre todas as substâncias psicoativas, incluindo as
consequências, como acidentes de trânsito ou de trabalho, hepatopatias e quadros de
dependência.
4.3.1 Toxicocinética
O etanol (CH3H2OH) é uma substância de baixo peso molecular, hidrossolúvel,
sendo, rapidamente, absorvido no estômago (20%) e no intestino delgado (80%). A
concentração plasmática máxima é atingida entre 30 e 90 minutos após a ingestão.
O álcool, também, pode ser absorvido pela aspiração do vapor dele (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
81
FIGURA 7 – METABOLISMO DO ÁLCOOL
A maior parte do etanol é excretada pelos rins e pulmões, sendo, uma pequena
fração, encontrada em secreções, como suor e saliva.
ATENÇÃO
Após a ingestão de uma quantidade de álcool equivalente à ingerida por
um homem, as mulheres apresentam maiores concentrações de etanol
no sangue, pelo fato de ser encontrado pouco volume de distribuição
(VD), além da diminuição da álcool desidrogenase (AD) gástrica, o que gera
a diminuição do metabolismo, havendo, consequentemente, o aumento da
biodisponibilidade do etanol.
4.3.2 Toxicodinâmica
O álcool aumenta a inibição sináptica mediada pelo GABA e pelo fluxo de cloreto.
Doses elevadas de álcool aumentam a permeabilidade ao cloro, mesmo na ausência de
GABA. Essas ações são semelhantes às de barbitúricos e anestésicos, consequentemente,
os efeitos, também, são similares (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
82
4.3.3 Tratamento para intoxicações agudas
Dependendo do grau de intoxicação, algumas medidas devem ser adotadas. Os
sinais vitais devem ser monitorados nos casos em que há grande ingestão de etanol,
pois há risco de depressão do centro respiratório. O uso de glicose, via intravenosa, pode
ser utilizada em alcoolistas graves (CASARETT; DOULL, 2012).
83
INTERESSANTE
Crise de opioides nos EUA: os EUA passam por uma grande crise
relacionada ao consumo exacerbado de opioides. Desde 1999, essa
dependência tem levado muitos consumidores dos medicamentos a
doses cada vez maiores, e a adquirir substâncias ilícitas, como a heroína,
ou o fentanil, um opiáceo sintético, extremamente, potente, com alto
risco de overdose fatal. Quase 500 mil pessoas morreram por overdose
de drogas nos Estados Unidos desde então.
4.4.2 Toxicodinâmica
O cérebro contém opioides endógenos, encefalinas e endorfinas, peptídeos
que atuam como neurotransmissores em células neuronais específicas, portadoras de
receptores opioides. Portanto, os opioides produzem efeitos por meio das interações
com os receptores de opioides endógenos. As quatro principais classes de receptores
opioides são: µ, қ, δ e б, distribuídos em várias estruturas do SNC (RUPPENTHAL, 2013).
84
O mecanismo de ação se baseia na ligação dos opioides a esses
receptores, causando inibição das vias ascendentes da dor, alterando a
percepção e a resposta à dor. Ainda, produz depressão generalizada do SNC. Os
opioides atuam promovendo a abertura dos canais de potássio e a inibição
da abertura de canais de cálcio, controlados por voltagem, causando, assim,
hiperpolarização e redução da excitabilidade neuronal (RUPPENTHAL, 2013).
ATENÇÃO
Em casos de intoxicações por opioides, é indicada a utilização de Naloxona.
A Naloxona é um antagonista que reverte os efeitos desencadeados pelo
uso abusivo de opioides.
85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A dependência é uma doença crônica, sujeita à recaída, até mesmo, anos após a
abstinência da substância.
86
AUTOATIVIDADE
1 A cocaína (COC) é um dos alcaloides presentes nas folhas provenientes de duas
espécies do gênero Erythroxylum, popularmente conhecido como coca. Atua
como poderoso agente simpatomimético com efeitos estimulantes no SNC, sendo
considerada o mais potente estimulante central de ocorrência natural, razão pelo
qual é utilizada como fármaco de abuso. Com relação às características toxicológicas
da cocaína, assinale a opção CORRETA:
87
( ) A cocaína é administrada para fins recreativos somente por via intranasal e
causa sensações de euforia, agitação e até mesmo alucinações, dependendo da
concentração do seu principal constituinte, o ∆9-THC.
( ) As anfetaminas são drogas conhecidas como “rebite” de caminhoneiros, speed,
ecstasy etc. Apesar do seu potencial em causar dependência, alguns componentes
dessa classe são utilizados como fármacos anorexígenos, como femproporex.
( ) Os benzodiazepínicos, agonista dos receptores GABAérgico, são amplamente
utilizados no tratamento da ansiedade, insônia e convulsões. São considerados
mais seguros que os barbitúricos em relação aos seus efeitos tóxicos, entretanto,
suas interações com álcool e antidepressivos são aspectos importantes em
intoxicações.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TOXICOLOGIA SOCIAL – DROGAS
PERTURBADORAS DO SNC E
FACILITADORAS DE CRIMES
1 INTRODUÇÃO
Entender os riscos e as consequências das drogas, para as saúdes mental e
física, é um dos aspectos mais importantes para conter os efeitos negativos desse
problema. Além dos danos ao organismo do usuário, o uso de substâncias ilícitas gera
impactos sociais e econômicos em larga escala.
Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), que
conduz levantamentos abrangentes que envolvem o consumo de drogas em todo o
mundo, 3,8% da população mundial consumiu maconha em 2014 (dado mais recente
desse tema em escala global). De acordo com a entidade, essa percentagem é 27% mais
alta do que o observado em 1998, mas é vista como estável, em razão do crescimento
populacional observado nas últimas décadas. Contrariando o senso comum, os países
do mundo que legalizaram o uso recreativo da substância, Uruguai e Canadá, não
ocupam o topo desse ranking. Nele, estão Islândia, onde a droga é proibida, e os EUA,
onde vários Estados legalizaram o consumo para fins medicinais e recreativos.
2 DROGAS PERTURBADORAS
Os perturbadores da atividade do SNC se referem ao grupo de substâncias
que modifica, qualitativamente, a atividade do cérebro, ou seja, perturba, distorce o
funcionamento dele, fazendo com que o indivíduo passe a perceber as coisas deformadas,
parecidas com imagens de sonhos. Esse grupo de substâncias é, também, chamado de
alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamórficos
ou alucinantes.
89
ESTUDOS FUTUROS
Neste tópico, abordaremos os principais representantes desse grupo,
assim, estudaremos a cannabis e os alucinógenos.
2.1 CANNABIS
Originária da Ásia Central, a Cannabis sativa é considerada uma das mais
antigas plantas cultivadas pelo homem.
90
QUADRO 3 – PRINCIPAIS PREPARAÇÕES OBTIDAS DA CANNABIS
2.1.1 Toxicocinética
As preparações de Cannabis são, geralmente, consumidas pelas vias pulmonar
e oral. A absorção pulmonar de Δ9-THC é muito rápida, devido à grande quantidade de
vasos sanguíneos irrigando esse órgão. Por esse motivo, o Δ9-THC já é detectável no
plasma segundos após a primeira tragada de um cigarro de Cannabis, atingindo o nível
91
máximo, dentro de três a dez minutos, após o início do ato de fumar. Pelo consumo oral,
a absorção do Δ9-THC é lenta e irregular, geralmente, alcançando uma concentração
plasmática máxima após uma a duas horas.
NOTA
O sistema endocanabinoide é composto por receptores canabinoides (CB1
e CB2). O CB1 é encontrado, principalmente, nos terminais pré-sinápticos,
enquanto o CB2 é expresso, principalmente, nas células imunes periféricas.
Esse sistema é ativado por canabinoides sintetizados pelo nosso próprio
organismo, conhecidos como canabinoides endógenos.
92
• perda da memória recente;
• déficits cognitivos: dificuldade de atenção, de concentração, e de tomada de decisões;
• perda da discriminação de tempo e de espaço: o tempo passa mais lentamente e
as distâncias calculadas são muito maiores do que, realmente, são;
• coordenação motora diminuída: perda do equilíbrio e da estabilidade postural.
INTERESSANTE
Cannabis como uso medicinal: a história da maconha medicinal é feita
de várias adversidades. No entanto, esse cenário vem se alterando
com o passar do tempo. A temática que abarca o consumo medicinal
da Cannabis sativa surgiu após a veiculação, através da mídia, de uma
entrevista com uma criança, Anny Fischer, portadora de uma síndrome
rara, que causava grandes episódios de convulsões ao dia, e, após o
uso do Canabidiol, um medicamento à base de maconha, houve uma
diminuição considerável das crises convulsivas. A partir daí, vários
estudos foram publicados demonstrando a eficácia dos canabinoides
no tratamento de dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla, ansiedade,
dentre outras doenças (GROSSO, 2020).
2.2 ALUCINÓGENOS
Alucinógenos, também, conhecidos como “drogas psicodélicas”, são
substâncias químicas que, em doses não tóxicas, produzem mudanças na percepção,
no pensamento e no estado de ânimo.
93
NOTA
Alucinação é um conjunto de percepções elaboradas pela mente e
projetadas sobre os sentidos, como se a sensação tivesse sido provocada
por um agente, de fato, existente, uma sensação subjetiva que não
corresponde a estímulos externos.
• Bad trip (viagem ruim): é uma terminologia utilizada por usuários para designar um
efeito adverso do uso da droga, como sentimento de perda do controle, distorções
de imagem do corpo, alucinações bizarras e aterrorizantes, medo da insanidade ou
da morte, desespero, tendência suicida. Alguns sintomas físicos, também, podem ser
incluídos, como suor, palpitação, náuseas e parestesia.
• Flashbacks: são transtornos de percepção pós-alucinógena. Tratam-se de recorrências
fragmentadas de efeitos alucinógenos, por exemplo, distorções visuais, intensificação de
uma cor percebida, aparente movimento de um objeto fixo, confusão de um objeto com
outro, sintomas físicos, e perda do limite do ego, ou emoção intensa, que ocorre quando o
indivíduo ingeriu alucinógeno no passado. São episódios de curta duração (segundos ou
horas), e podem repetir, exatamente, os sintomas de uma alucinação anterior.
DURAÇÃO DO VIAS DE
ALUCINÓGENO NOME POPULAR
EFEITO (horas) ADMINISTRAÇÃO
Ácido, passaporte,
LSD 8-12 Oral
audiovisual
Mesc, botões de
Mescalina (peiote) 8-12 Oral
cacto
Oral, injetável,
Psilocina e psilocibina Cogumelos Variável
respiratória e mucosa
Dimetil e dietil Oral, injetável,
DMT, DET Variável
triptamina respiratória e mucosa
Oral, injetável,
Dimetilserotonina Bufotenina Variável
respiratória e mucosa
Ibogaína (Tabernanthe
Iboga datura Variável Oral
iboga)
Mandrágora Saia branca Desconhecida Oral
FONTE: Adaptado de Oga, Camargo e Batistuzzo (2014)
94
2.2.2 LSD – DIETILAMIDA DO ÁCIDO LISÉRGICO
É o mais conhecido e estudado alucinógeno sintético. Derivado de alcaloides do
ergot, principalmente, da ergotamina, os quais ocorrem, naturalmente, como produtos
do metabolismo do fungo Claviceps purpúrea.
O LSD foi sintetizado, pela primeira vez, em 1938, pelo químico suíço Albert
Hoffmann. As propriedades farmacológicas do LSD foram descobertas cinco anos
depois, quando, acidentalmente, Hoffman ingeriu uma pequena quantidade do produto
de síntese.
Quando o LSD foi introduzido no mercado ilícito, na década de 1960, era comum
a aplicação dele em diferentes materiais absorventes, como cubas de açúcar, balas
de goma, papel-filtro e pós, farmacologicamente, inertes, os quais se introduziam em
cápsulas vazias de gelatina.
95
aguçada dos estímulos sensoriais, senso distorcido do tempo, sensação de bem-estar,
euforia, despersonalização, desrealização e perda da imagem corporal. No entanto,
efeitos indesejados, também, são observados, como: medo, reações de pânico, imagens
assustadoras, pavor intenso e psicose. Os usuários costumam relatar que a sensação
típica é sinestesia: “ouvir cores” e “ver sons” (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
FONTE: A autora
96
Além dessas, uma das plantas mais conhecidas e, comumente, utilizadas pela
população, em rituais religiosos, é o cipó Banisteriopsis caapi (Malpighiaceae), nativo
da Amazônia e dos Andes, também, conhecido, popularmente, como ayahuasca, yajé
ou oasca. Possui, na composição, alcaloides β-carbolinas inibidores da monoamina-
oxidase (MAO), sendo que os de maior concentração são: harmina, harmalina, e tetraidro-
harmalina. A concentração desses alcaloides varia de 0,05 a 1,95% (DOS SANTOS, 2007).
Essa planta é utilizada em rituais indígenas, nos quais é produzida uma bebida
alucinógena que, quando ingerida, segundo os usuários, libera a alma do confinamento
corporal. No Brasil, seitas religiosas, como União do Vegetal (UDV), Barquinha e Santo
Daime, fazem utilização de um chá dessa planta associado a outra planta, a Psycotria
viridis, fundamentadas em tradições indígenas.
97
Os cogumelos alucinógenos estão presentes em diversas formas no cotidiano.
Continuam sendo utilizados, de maneira religiosa, para algumas pessoas, enquanto,
para outras, como um meio de escapar da realidade em busca de algo superior, e,
até mesmo, místico. Veja os fungos alucinógenos mais conhecidos (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014):
DICA
O artista Bryan Lewis Saunders criou um site para divulgar as obras dele,
realizadas sob efeito de algumas drogas, dentre elas: cocaína, maconha, opioides,
alucinógenos e outras. Disponível em: http://bryanlewissaunders.org/drugs/.
98
3.1 PRINCIPAIS DROGAS UTILIZADAS
Existem mais de 100 Drogas Facilitadoras de Crimes (DFCs) listadas nos guias da
Sociedade de Toxicologistas Forenses (SOFT) e do Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crimes (UNODC). Na comunidade científica, as substâncias mais conhecidas,
devido à utilização como DFCs, são o etanol, os benzodiazepínicos, o ácido gama-
hidroxibutirato (GHB) e a cetamina, podendo ser usadas separadas ou em associação
(GIRARD; SENN, 2008).
99
vítimas (VASCONCELOS et al., 2005). Outras drogas usadas como DFCs são cocaína,
barbiturícos, opiáceos, triazolam, “Mickey Finn” (mistura entre hidrato de cloral com
bebida alcoólica) e outros benzodiazepínicos. Todas essas drogas podem ser usadas
como facilitadoras de crimes, as quais possuem perfis diferentes, dependendo da
localidade em que são cometidos (TAKITANE et al., 2017).
100
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O LSD é o principal alucinógeno, além dele, plantas e cogumelos, também, têm esse
potencial.
101
AUTOATIVIDADE
1 A maconha (Cannabis sativa) é um a espécie de planta amplamente utilizada em todo
o mundo, tanto para uso medicinal como para uso recreativo. Essa droga ilícita é
considerada a droga mais utilizada em todo planeta. Sobre a cannabis, assinale a
alternativa CORRETA:
102
( ) Cannabis, cocaína, barbituricos e opiáceos podem ser utilizados como drogas
facilitadoras de crimes e raramente são misturados com álcool.
( ) As principais drogas facilitadoras de crime são: GHB, cetamina, benzodiazepínicos,
opioides, entre outros.
( ) Uma das facilidades de inserir essas drogas em bebidas de terceiros é que boa
parte delas são incolores e sem odores.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – V – V.
4 Originária da Ásia Central, a Cannabis sativa é considerada uma das mais antigas
plantas cultivadas pelo homem. Dependendo da via de administração, as
concentrações plasmáticas de Cannabis podem variar. Diante disso, cite as principais
vias de administração utilizadas e como acontece a absorção em cada via.
103
104
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste último tópico, abordaremos as intoxicações causadas por
medicamentos. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2002) cita que há uso racional
de medicamentos quando pacientes recebem medicamentos apropriados para as
condições clínicas deles, e em doses adequadas às necessidades individuais, por um
período adequado e com o menor custo para si e para a comunidade. No entanto, a
realidade apresentada é bem diferente. Pelo menos 35% dos medicamentos adquiridos,
no Brasil, são comprados por automedicação. Os medicamentos são responsáveis por
27% das intoxicações no Brasil, e 16% dos casos de morte por intoxicações são causados
por medicamentos. Além disso, 50% de todos os medicamentos são prescritos,
dispensados ou usados inadequadamente, e os hospitais gastam de 15 a 20% dos
orçamentos para resolver as complicações causadas pelo mau uso destes (WHO, 2002).
2 ANTI-INFLAMATÓRIOS
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são utilizados devido às atividades
anti-inflamatória, analgésica e antipirética. Esses fármacos estão entre os mais utilizados
no mundo, com mais de 35 tipos disponíveis para uso clínico. Apesar de amplamente
utilizados, quando a dose terapêutica é extrapolada, pode haver o desenvolvimento
de intoxicação. Os efeitos tóxicos mais comuns ocorrem, principalmente, no trato
gastrointestinal (TGI), no sistema hematológico, cardiovascular e renal. Esses efeitos
decorrem, geralmente, da inibição de prostaglandinas (PG) que estão envolvidas,
também, no mecanismo farmacológico dos AINEs (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
105
Os efeitos adversos provenientes do uso dos AINEs não seletivos devem-
se principalmente pela inibição da COX-1, com consequente redução da síntese de
prostaglandinas endógenas responsáveis pela integridade da mucosa gástrica e pelo
fluxo sanguíneo renal e de tromboxano A2 (TXA2), produzido pelas plaquetas com
significativa importância fisiológica.
106
Doses de 80 mg/dia de AAS são suficientes para inativar o tromboxano A2, um
poderoso vasoconstritor e agregante plaquetário, aumentando o tempo de sangramento.
Efeitos renais, respiratórios, hepatotoxicidade, prolongamento do tempo de gravidez e
alterações metabólicas também são observados (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
NOTA
A vitamina K é utilizada como tratamento nos casos de intoxicação
por AAS, pois estimula a síntese de proteínas (fatores de coagulação),
controlando sangramento e favorecendo a cicatrização.
2.2 PARACETAMOL
O paracetamol é recomendado como primeira linha de tratamento para dor. A
principal via de administração é a oral, onde a absorção acontece rapidamente e quase
completamente no trato digestivo.
107
O pico de concentração plasmática ocorre entre 15 minutos e duas horas,
dependendo da formulação, e a meia-vida plasmática é de cerca de duas a três horas,
após doses terapêuticas. Distribui-se por quase todos os líquidos corporais, atingindo
uma biodisponibilidade de cerca de 80% nas doses de 5 a 20 mg/kg.
108
FIGURA 10 – METABOLISMO DO PARACETAMOL
FONTE: A autora
3 ANTICONVULSIVANTES/ANTIEPILÉPTICOS
Anticonvulsivantes ou antiepilépticos são aqueles capazes de prevenir e/ou
interromper crises convulsivas de diferentes tipos, permitindo o funcionamento do SNC
dos indivíduos epilépticos e protegendo-os dos efeitos deletérios das crises convulsivas
(ANDRADE FILHO; CAMPOLINA; DIAS, 2013).
NOTA
A epilepsia é uma doença cerebral crônica de diversas etiologias caracterizada
por episódios paroxísticos recorrentes, estimulação descontrolada dos
neurônios cerebrais e duração limitada. O termo epilepsia, portanto, não se
refere ao ataque, mas ao subjacente mau funcionamento do cérebro.
109
3.1 CARBAMAZEPINA
Medicamento considerado de primeira linha para o tratamento da epilepsia.
É também utilizado nas síndromes dolorosas crônicas e distúrbios psiquiátricos. O
mecanismo da carbamazepina consiste na inativação de canais de sódio, inibindo
a descarga neuronal repetitiva no SNC. Como a carbamazepina é estruturalmente
semelhante aos antidepressivos tricíclicos, possui efeitos anticolinérgicos que podem
reduzir a motilidade intestinal e retardar sua absorção e, na intoxicação, pode provocar
convulsões e distúrbios do ritmo cardíaco. Em relação às doses tóxicas:
• Doses > 10 mg/kg já podem resultar em nível sérico acima do terapêutico (4-12 mg/L);
• Menores doses já relatadas em ingestões fatais: 3,2 g (adultos); 1,6 g (crianças);
• Níveis séricos de carbamazepina acima de 40 mcg/mL estão geralmente associados
a intoxicações mais graves.
4 ANTIDEPRESSIVOS
Os antidepressivos são um grupo de medicamentos utilizados no tratamento
da depressão e outros transtornos psiquiátricos. São classificados em dois grandes
grupos: antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (ISRS) e antidepressivos
tricíclicos e tetracíclicos (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
110
A intoxicação por antidepressivos ISRS, agrava quando ingerido em conjunto
com outras drogas que aumentam o nível de serotonina, como por exemplo: outros
antidepressivos (inibidores da monoaminoxidase, tricíclicos, duais e atípicos),
anfetaminas, sibutramina, ecstasy, cocaína, crack, LSD e opioides. Os principais sinais
e sintomas observados nestes casos são: alterações do estado mental: agitação,
ansiedade, confusão mental, hipomania; instabilidade autonômica: taquicardia,
hipertensão, sudorese, hipertermia, midríase; hiperatividade neuromuscular:
hiperreflexia, mioclonias, rigidez e tremores (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
Doses acima das doses terapêuticas já podem ser tóxicas; doses acima de 10-
20 mg/kg representam risco de vida. Em intoxicações leves são observados sonolência,
sedação, taquicardia, alucinações e midríase, já em intoxicações graves são observados
convulsões, coma, aumento do intervalo QRS no eletrocardiograma (ECG), arritmias
ventriculares, insuficiência respiratória, e hipotensão. Podem ocorrer arritmias graves
levando à parada cardíaca e óbito, mesmo em pacientes jovens (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014). A farmacocinética, medidas de suporte e descontaminação são as
semelhantes ao antidepressivos ISRS.
111
5 SAIS DE FERRO
Os sais de ferro são utilizados no tratamento da anemia ferropriva e como
complemento nutricional no período pré-natal. Existe risco elevado de intoxicações
graves na infância, devido a sua grande disponibilidade e pouco conhecimento da
sua toxicidade. Os sais de ferro geralmente estão disponíveis em drágeas e soluções,
com diversas quantidades do princípio ativo. O ferro é absorvido no duodeno e se
liga a proteínas plasmáticas e transferrina. Quando o nível sérico está muito elevado,
ultrapassa a capacidade de transporte permanecendo como ferro livre.
• 1ª fase – 30 min a seis horas: lesão de mucosa GI, náuseas, vômitos, febre, distensão
abdominal, hematêmese, melena, alterações cardiovasculares (taquicardia, palidez,
hipotensão), hiperglicemia, leucocitose, letargia e coma;
• 2ª fase – seis a 24 horas: falsa melhora dos sintomas, atribuída à distribuição do
ferro, provocando o acometimento sistêmico;
• 3ª fase – 24 a 48 horas: piora progressiva do quadro com choque, convulsões,
coma, acidose metabólica, alterações da coagulação, falência hepática e renal, pode
evoluir para óbito;
• 4ª fase – de duas a oito semanas: quando superada a fase anterior, podem ocorrer
sinais de cicatrização das lesões GI com estenose e alterações hepáticas.
112
LEITURA
COMPLEMENTAR
RELATO DE CASO E REVISÃO DA LITERATURA DA “SÍNDROME DA
AUTOCERVEJARIA”: PROVAVELMENTE UMA CONDIÇÃO MÉDICA
SUBDIAGNOSTICADA
Fahad Malik
Prasanna Wickremesinghe
Jessie Saverimuttu
INTRODUÇÃO
História de caso
113
Certa manhã, ele foi preso por direção embriagada. Ele recusou a análise do
bafômetro e foi hospitalizado. Seu nível inicial de álcool no sangue era de 200 mg/
dL. O pessoal do hospital e a polícia se recusaram a acreditar nele quando ele negou
repetidamente a ingestão de álcool. Ele se recuperou totalmente e teve alta.
Depois de ouvir sobre um caso semelhante tratado com sucesso por um médico
em Ohio, sua tia comprou um bafômetro para registrar seus níveis de álcool no hálito e o
persuadiu a visitar Ohio para o tratamento, onde testes laboratoriais básicos (hemograma
completo, painel metabólico abrangente, painel de imunologia e urinálise) estavam
normais. Uma análise abrangente das fezes foi negativa para Giardia e Cryptosporidium.
Os níveis de lactoferrina, calprotectina e lisozima do paciente e estudos de má absorção
fecal também estavam normais. Saccharomyces cerevisiae (levedura de cerveja) e S.
boulardii foram detectados em suas fezes além da flora bacteriana normal de fezes. Em
testes de sensibilidade antifúngica, essas cepas de Saccharomyces foram consideradas
sensíveis a azóis e nistatina. Para confirmar o diagnóstico de ABS, o paciente recebeu
uma refeição com carboidratos, e seus níveis de álcool no sangue foram monitorados
sob observação. Após 8 horas, seu nível de álcool no sangue foi elevado para 57 mg/
dL. Ele foi então tratado para o fungo Saccharomyces encontrado em suas fezes com
fluconazol oral 150 mg por dia durante 14 dias. Na ausência de melhora, no dia 10, ele
foi alterado para nistatina 500.000 UI três vezes ao dia por mais 10 dias. Seus sintomas
melhoraram e ele recebeu alta com uma dieta estritamente livre de carboidratos,
juntamente com suplementos especiais dados por seu médico de Ohio, mas nenhuma
terapia antifúngica adicional foi prescrita.
114
O teste de sensibilidade antifúngica foi feito para esses fungos, e ambos eram
sensíveis aos azólicos. Sua imunoglobulina A secretora estava elevada para 607 mg/
dL. A infecção por Helicobacter pylori não foi detectada em sua biópsia antral gástrica.
O paciente concordou em ser tratado em colaboração com seu médico local porque
morava longe de nosso hospital.
Dada sua exposição anterior ao fluconazol, decidimos usar itraconazol oral 150
mg por dia como terapia antifúngica inicial para S. cerevisiae e espécies de Candida.
Após dez dias, como seus sintomas não melhoraram, então essa dose foi aumentada
para 200 mg por dia, e o paciente ficou totalmente assintomático. Sem que nós
soubéssemos, ele comeu pizza e bebeu refrigerante durante o tratamento, resultando
em uma grave recaída do ABS. Decidimos então tratá-lo com micafungina intravenosa
150 mg por dia durante 6 semanas.
DISCUSSÃO
115
Para confirmar um diagnóstico de ABS, sugerimos um teste de desafio de
carboidratos padronizado, em vez de uma refeição com carboidratos não específicos,
como este paciente recebeu em Ohio. Atualmente, não há critérios de diagnóstico
estabelecidos para confirmar um diagnóstico de ABS ou tratar esta condição. Nós,
portanto, propomos o seguinte protocolo para isso. É importante certificar-se de que os
pacientes com suspeita de ABS e níveis elevados de álcool no sangue ou no hálito não
estejam bebendo sub-repticiamente.
116
Após completar 6 semanas de tratamento antifúngico, o sujeito foi instruído a
continuar monitorando seus níveis de álcool no hálito duas vezes ao dia e a informar
os médicos sobre quaisquer resultados positivos. Seria ideal para pacientes com ABS
serem reavaliados usando outro teste de desafio de carboidratos antes de aumentar sua
ingestão oral de carboidratos. Nosso paciente não tem mais níveis elevados de álcool no
sangue nem observou qualquer aumento nos valores do bafômetro quando desafiado
novamente com 200 g de carboidratos. Suas secreções gastrointestinais repetidas não
mostraram fungos. O papel do uso de probióticos em ABS ainda não foi estudado. Um
relato de caso anterior mostrou o uso benéfico de probióticos para a recolonização do
trato digestivo. Também estamos cientes de uma publicação recente que mostra que os
probióticos administrados após a colite por Clostridium difficile após o uso de antibióticos
podem atrasar a recuperação do microbioma intestinal. Pensamos que seria razoável
começar o tratamento de nosso paciente com uma dieta sem carboidratos e terapia
antifúngica, bem como um probiótico, para inibir competitivamente o crescimento de
fungos em seu intestino. Escolhemos uma única cepa de L. acidophilus com 3 bilhões
de colônias formando unidades por cápsula para esta finalidade. Aproximadamente seis
semanas depois, este probiótico de cepa de L. acidophilus única foi descontinuado. Um
probiótico multistrain puramente bacteriano foi substituído, pois pensamos que isso
seria mais benéfico na manutenção de um microbioma saudável e diverso.
FONTE: MALIK, F.; WICKREMESINGHE, P.; SAVERIMUTTU, J. Case report and literature review of auto-
brewery syndrome: probably an underdiagnosed medical condition. BMJ Open Gatroenterology, [s. l.],
v. 6, n. 1, p. 1-5, 2019.
117
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O principal efeito adverso que surge após intoxicação por paracetamol é a necrose
hepática.
• Existe risco elevado de intoxicações graves por sais de ferro na infância, devido a sua
grande disponibilidade e pouco conhecimento da sua toxicidade.
118
AUTOATIVIDADE
1 Os suplementos de ferro (Fe) são amplamente disponíveis para as pessoas em geral.
No caso de crianças pequenas e mulheres jovens, a intoxicação por Fe é bastante
comum, sobretudo em crianças pequenas – são, aproximadamente, 16 mil casos
por ano em crianças com menos de seis anos de idade nos EUA, sendo a maioria
com exposição acidental. Sobre intoxicações por sais de ferro, assinale a alternativa
CORRETA:
119
medicamentos é questão de saúde pública, pois basta uma dosagem errada ou sem
prescrição (automedicação) para se ter sérios problemas. Sobre intoxicação por
medicamentos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
120
REFERÊNCIAS
ALVES, S. Toxicologia forense e saúde pública: desenvolvimento e avaliação de um
sistema de informações como ferramenta para a vigilância de agravos decorrentes da
utilização de substâncias químicas. 2005. 132 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública)
– Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, 2005.
ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. Toxicologia na prática clínica. Belo
Horizonte: Editora Folium, 2013.
121
DOS SANTOS, R. Ayahuasca: Neuroquímica e farmacologia. Revista Eletrônica Saúde
Mental Álcool e Drogas, Ribeirão Preto, v. 3, n. 1, p. 1-12, 2007.
GIRARD, L. A.; SENN, Y. C. The role of the new “Date Rape Drugs” in attributions about
date rape. J. Interpers Violence, [s. l.], v. 23, n. 1, p. 3-20, 2008.
HALLER, C., THAI, D.; JACOB, P.; DYER, J. E. GHB urine concentrations after single-
dose administration in humans. J Anal Toxicol, [s. l.], v. 30, n. 6, p. 360-364, 2006.
HERNANDEZ, E.; RODRIGUES, R.; TORRES, T.; Manual de toxicologia clínica. São
Paulo: Secretaria Municipal de Saúde, 2017.
HINDMARCH, I.; ELSOHLY, M.; GAMBLES, J.; SALAMONE, S. Forensic urinalysis of drug
use in cases of alleged sexual assault. J Clin Forensic Med, [s. l.], v. 8, n. 4, p. 197-
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JAMIESON, M.A.; Rohypnol, Gamma Hydroxybutyrate, and drug rape. J Soc Obstet
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SANT’ANA, T. Por que o golpe é “Boa noite Cinderela”, não “Bela Adormecida”?
Super Interessante, São Paulo, 4 jul. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3HFQQCE.
Acesso em 15 out. 2021.
122
SOFT. Society of Forensic Toxicologists. Fact sheet: drug-facilitated sexual assaults.
Mesa, AZ: SOFT, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3usF9vf. Acesso em 15 out. 2021.
TAKITANE, J.; PIMENTA, D.; FUKUSHIMA, F.; DA FONTE, V.; LEYTON, V. Aspectos
médico-legais das substâncias utilizadas como facilitadoras de crime. Saúde, Ética e
Justiça, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 66-71, 2017.
UNODC. United Nations Office on Drugs and Crime. Guidelines for the forensic
analysis of drugs facilitating sexual assault and other criminal acts. New York;
United Nations, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3LegY9M. Acesso em: 15 out. 2021.
123
124
UNIDADE 3 —
TOXICOLOGIA ANALÍTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
125
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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126
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
TOXICOLOGIA AMBIENTAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, chegamos na última unidade deste livro. Neste primeiro tópico,
abordaremos a toxicologia ambiental.
Essas substâncias podem ser classificadas, de acordo com o tipo de praga a ser
controlado ou com a estrutura química dele:
FONTE: A autora
127
FIGURA 2 – CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A FINALIDADE
FONTE: A autora
DICA
A lista dos praguicidas usados no Brasil, por monografias, princípio
ativo e nomes comerciais, está no site da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA). Acesse https://bit.ly/3veVeor.
128
2 INIBIDORES DE COLINESTERASE: CARBAMATOS E
ORGANOFOSFORADOS
2.1 CARBAMATOS
129
NOTA
O Aldicarb, conhecido, popularmente, como “chumbinho”, é o principal
carbamato envolvido em intoxicações em animais e humanos. O uso se
dá, principalmente, devido à alta toxicidade dele. Observe a Tabela 1 e a
respectiva DL50 do Aldicarb.
2.2 ORGANOFOSFORADOS
O gás Sarin (OF ligado ao flúor) e o Tabun (OF ligado ao cianeto) são considerados
armas químicas, e foram, amplamente, utilizados em tempos de guerras.
INTERESSANTE
O ataque no metrô de Tóquio: em 20 de março de 1995, o
grupo conhecido como “Verdade Suprema”, liderado por Shoko
Asahara, liberou gás Sarin, em forma líquida, em cinco vagões de três
composições de metrô na cidade de Tóquio. O ataque deixou mais de
13 mortos e 6,3 mil feridos.
Os OFs são bem absorvidos por todas as vias, principalmente, pela pele, pelas
mucosas, pelos pulmões e via gastrintestinal, sendo que a presença de lesões cutâneas,
ou ambientes com altas temperaturas, acabam aumentando a absorção deles. A maioria
é lipofílico, levando a um grande volume de distribuição e com a possibilidade de acúmulo
em tecidos de depósito, como no tecido adiposo. A mobilização dessas substâncias, em
estoque, pode causar recorrência de intoxicação (ALONZO; CORREA, 2014).
130
Com relação ao metabolismo, ocorre, de forma proeminente, no fígado,
assim, após a biotransformação, são gerados subprodutos mais tóxicos do que
os compostos que deram origem a eles, como a parationa e a malationa, que se
transformam em paraoxon e malaoxon, respectivamente. A eliminação é realizada,
totalmente, pela via renal.
131
A atropina age como um bloqueador dos receptores muscarínicos, evitando a
ação da acetilcolina acumulada nas sinapses. No entanto, não estabelece a reativação da
enzima inibida e não influi na eliminação dos agentes anticolinesterásicos. A dose inicial
indicada é 1 a 4 mg de sulfato de atropina IV (em crianças, 0,05 a 0,1 mg/kg de peso) e
repetir a cada dois a 15 minutos até a atropinização plena do paciente, dependendo da
gravidade do caso (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
3 ORGANOCLORADOS
IMPORTANTE
Em 1940, Paul Mueller Geisy descobriu o DDT (diclorodifenilcloroetano),
primeiro inseticida orgânico sintético que, além de render, a Paul Mueller,
o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 1948, deu início à era dos
pesticidas organoclorados.
132
Os organoclorados são absorvidos por todas as vias e são altamente lipofílicos,
o que permite sua distribuição para todo o organismo. O metabolismo possui algumas
diferenças, dependendo do agente em questão. DDT, DDE, dieldrin, heptaclor, mirex
possuem metabolismo lento, o que favorece sua bioacumulação. Enquanto, endossulfan,
endrin, lindano possuem metabolismo rápido, sendo pouco persistentes nos tecidos
(HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
4 INSETICIDAS PIRETROIDES
ATENÇÃO
O grupo de inseticidas piretroides é muito utilizado em aparelhos
elétricos, em repelentes para insetos, medicamentos para pediculose e
produtos para higiene de animais domésticos.
133
Em relação as suas propriedades farmacocinéticas, são absorvidos por via oral
e inalatória; sendo observados efeitos sistêmicos após exposições maciças. Por serem
lipofílicos, são distribuídos para todos os tecidos do organismo. Após a distribuição, são
rapidamente metabolizados a produtos menos tóxicos que as substâncias originais pelo
sistema enzimático CYP450, portanto, não se acumulam no organismo. Os compostos
originais e seus metabólitos são eliminados na urina em 12 a 24 horas (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
5 HERBICIDA PARAQUAT
Herbicida dipiridílico não seletivo, usado para controle de ervas daninhas e como
desfolhante pré-colheita. Considerado um dos pesticidas mais tóxicos disponíveis, o
qual a ingestão de 10 a 20 ml de produto a 20% (200 mg/ml) pode causar a morte
(HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
Nas exposições agudas, possui efeito corrosivo quando em contato com a pele e
mucosas, pode causar lesões teciduais em pulmão, fígado e rins. O mecanismo de lesão
tecidual não está completamente elucidado, a hipótese mais aceita é que, devido à alta
afinidade do Paraquat com os processos de oxirredução, ocorre aumento na formação
de radicais livres dentro dos tecidos alvo, sobrecarregando ou esgotando mecanismos
fisiológicos de inativação desses radicais (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).
134
• Dose < 20 mg/kg: corresponde a menos de 7,5 ml do produto concentrado a 20%.
Os sintomas são predominantemente gastrintestinais e a recuperação do paciente é
possível;
• Dose de 20 a 40 mg/kg: corresponde a 7,5 a 15 ml do produto concentrado a 20%.
Evolução letal na maioria dos casos devido à fibrose pulmonar, porém retardada em
duas a três semanas;
• Dose > 40 mg/kg: corresponde a mais que 15 ml do produto concentrado a 20%.
Evolução letal esperada em todos os casos, devido à falência de múltiplos órgãos
rapidamente progressiva, ocorrendo óbito entre um e sete dias;
• Dose letal estimada do produto é de 10 a 20 ml para adultos e 4 a 5 ml para crianças.
135
FIGURA 3 – TESTE DE DITIONITO DE SÓDIO PARA PESQUISA DE PARAQUAT NA URINA
FONTE: A autora
136
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os praguicidas podem ser classificados de acordo com sua estrutura química em:
fosforados, clorados, carbamatos, piretroides e tiocarbamatos.
• De acordo com sua finalidade, podem ser classificados em: fungicidas, herbicidas,
inseticidas e pesticidas.
137
AUTOATIVIDADE
1 Os agrotóxicos conhecidos também como agroquímicos ou defensivos são produtos
químicos utilizados, em especial, no setor de produção agrícola, para proteger
plantas e grãos de pragas e doenças que possam comprometer o desenvolvimento
de plantações inteiras. Essas substâncias são rigorosamente reguladas no Brasil e,
para liberação do registro, percorrem um longo caminho antes de chegar às lavouras.
De acordo com o que foi visto no Tópico 1, assinale a alternativa CORRETA:
138
( ) O mecanismo de ação do Paraquat consiste no aumento na formação de radicais
livres, dentro dos tecidos alvo, sobrecarregando ou esgotando mecanismos
fisiológicos de inativação desses radicais.
( ) O mecanismo dos organoclorados consiste em interferir com o fluxo normal de
sódio e potássio na membrana axonal, causando hiperexcitação do SNC, resultando
em perturbações dos processos mentais e convulsões.
( ) O mecanismo de ação dos piretroides incluem atuação direta nos axônios
prolongando à despolarização do canal de sódio, levando a uma hiperexcitação do
sistema nervoso.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – V.
d) ( ) F – F – V.
4 Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas,
fungos, carrapatos sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por
esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, tanto no ambiente rural
quanto urbano. A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças,
dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de
produto absorvido pelo organismo. Além dos agrotóxicos estarem relacionados ao
desenvolvimento de doenças, também estão envolvidos em casos de intoxicação. Com
base nesta informação, explique os mecanismos de toxicidade dos organofosforados
e carbamatos.
5 R. N., sexo feminino, 15 anos, parda, deu entrada no hospital trazida pela mãe. A
família relata a suspeita de intoxicação por “chumbinho”, devido à presença de uma
embalagem suspeita no lixeiro do banheiro. A mãe relata que a filha não possui doenças
clínicas, alergia ou uso de drogas e álcool. Utiliza anticoncepção oral somente. Nega
qualquer episódio anterior semelhante. Dentre as classes de agrotóxicos, a qual delas
o chumbinho pertence? Quais prováveis sintomas a paciente apresentou?
139
140
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
TOXICOLOGIA DE ALIMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2 abordaremos a toxicologia de alimentos. A toxicologia
alimentar estuda a toxicidade de substâncias veiculadas pelos alimentos, determinando
a presença, concentração e a origem do químico no alimento, fatores que influenciam
o seu aparecimento e reversibilidade, bem como os efeitos nocivos na saúde do
consumidor (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
O agente tóxico presente poderá ser uma toxina produzida por microorganismos,
um poluente de origem ambiental, agrícola, veterinário ou industrial, um contaminante
do processamento alimentar ou da migração (contaminação cruzada) de materiais em
contato com o alimento (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
141
mais de duas mil espécies vegetais são cianogênicas. Se a concentração de cianeto
nestes vegetais for superior a 20 mg por 100 g do produto, o risco de intoxicação é
alto. Exemplo: linamarina presente na mandioca brava.
• Glicosilatos: quando hidrolisados e submetidos à ação de enzimas liberam o
agrupamento tiocianato (SCN-). Esta substância interfere no metabolismo de
absorção de iodo. Como consequência em humanos há o favorecimento do
desenvolvimento do bócio.
NOTA
Bócio é uma alteração da tireoide caracterizada pelo aumento dessa glândula, formando
uma espécie de nódulo ou caroço na região do pescoço, que se torna mais arredondado e
mais largo do que o normal.
FIGURA – BÓCIO
• Promotores de crescimento
143
• Quimoterapêuticas
3 MICOTOXINAS
144
As micotoxinas têm impactos significativos na economia em muitas culturas,
especialmente trigo, milho, amendoim, café e castanha-do-Brasil. Os produtos
oferecidos para exportação às vezes são rejeitados pelos países importadores por causa
da presença de micotoxinas e acabam sendo consumidos pela população brasileira.
Essa é a razão principal pela qual as autoridades brasileiras e de outros países concluíram
que é necessário implementar programas para reduzir a contaminação por micotoxinas.
A aplicação de práticas agrícolas modernas e a presença de um processamento de
alimentos regulado pela legislação podem reduzir a exposição às micotoxinas (OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
3.1 AFLATOXINAS
145
As aflatoxinas são primariamente hepatotóxicas. A aflatoxicose aguda resulta
em morte; a aflatoxicose crônica resulta em câncer, supressão imunológica e outras
condições patológicas com desenvolvimento vagaroso. A aflatoxicose humana é relata
como um problema sério com ocorrência ocasional (MIDIO; MARTINS, 2000).
146
do citocromo endógeno P-450, formando um metabólito extremamente reativo
indicado como AFB1 8,9 epóxido, originado da epoxidação da dupla ligação do éter
vinílico, presente na estrutura bifuranoide da molécula de AFB1 (OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2014).
NOTA
A aflatoxina M1 é o metabólito principal da aflatoxina B1 em seres
humanos e animais, que podem estar presentes no leite de animais
alimentados com a ração contaminada com aflatoxina B1.
3.2 OCRATOXINAS
As ocratoxinas formam um grupo de sete metabólitos tóxicos produzidos por
fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium. Apesar de várias ocratoxinas serem
conhecidas, somente a ocratoxinas A (OTA) possui importância toxicológica (OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
147
FIGURA 6 – ESTRUTURA QUÍMICA DA OCRATOXINA A
3.3 ZEARALENONA
Outros grãos de cereais, como trigo, cevada e aveia, além de outros alimentos
como mandioca, feijão e soja, também podem estar contaminados pelo fungo. A
exposição à ZEA ocorre diariamente pela ingestão de cereais e subprodutos de cereais
contaminados (SILVA, 2008).
148
FIGURA 7 – ESTRUTURA QUÍMICA DA ZEARALENONA
3.4 TRICOTECENOS
149
A ocorrência como contaminante é conhecida mundialmente no trigo, arroz,
milho, aveia, cevada e centeio. Essas micotoxinas podem afetar tanto homens quanto
animais. Em relação aos efeitos tóxicos, os tricotecenos inibem a síntese de proteínas,
DNA, RNA e levam a efeitos imunossupressores e hemorrágicos. O efeito tóxico dos
tricotecenos se dá principalmente no anel epóxido, pois sua destruição resulta em
perda total da atividade tóxica (MIDIO; MARTINS, 2000).
3.5 FUMONISINAS
150
3.6 PATULINA
151
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A intoxicação causada por alimentos pode ser desencadeada por uma toxina produzida
por microorganismos, um poluente de origem ambiental, agrícola, veterinário ou
industrial, um contaminante do processamento alimentar ou da migração de materiais
em contato com o alimento.
• Algumas substâncias tóxicas presentes nos alimentos podem também ser originadas
a partir do emprego excessivo de aditivos.
152
AUTOATIVIDADE
1 A toxicologia de alimentos pode ser ocasionada por toxinas produzidas por
microorganismos, um poluente de origem ambiental, agrícola, veterinário ou
industrial, um contaminante do processamento alimentar ou da migração de
materiais em contato com o alimento. No contexto de contaminantes provenientes
do processamento alimentar, quais seriam as substâncias mais encontradas, assinale
a alternativa CORRETA:
153
( ) As aflatoxinas são derivadas de difuranocumarina e diferem entre si por pequenas
variações na sua estrutura química.
( ) A aflatoxicose humana é relata como um problema sério com ocorrência ocasional.
( ) A aflatoxina M1, é o metabólito principal da aflatoxina B1 em seres humanos e
animais, que podem estar presentes no leite de animais alimentados com a ração
contaminada com aflatoxina B1.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – V.
154
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
TOXICOLOGIA OCUPACIONAL
1 INTRODUÇÃO
155
2 AGENTES METEMOGLOBINIZANTES
INTERESSANTE
O caso mais famoso de metemoglobinemia envolvendo etiologia genética, vem de seis
gerações da família Fugate, que viveu em isolamento nas colinas de Kentucky de 1800 a
1960. A família começou com um órfão da França chamado Martin Fugate que se casou com
uma mulher de Apalache. Ambos, sem saber, tinham o gene recessivo para os descendentes.
Quatro de seus sete filhos tinham pele azul. A partir daí, os membros da família se casaram e
os genes foram passados de geração em geração, tornando a família azul localmente famosa.
156
O eritrócito dispõe de sistemas redutores capazes de restaurar eficientemente a
função da hemoglobina, mantando os níveis de MHb ao redor de 1%. A forma predominante
de redução endógena é realizada pelo sistema bienzimático citocromo-b5/citocromo-b5
redutase (cit-b5/cit-b5-redutase). Pequenas quantidades podem ser reduzidas também
pelo ácido ascórbico e pela glutationa (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
157
2.2 PRINCIPAIS AGENTES METEMOGLOBINIZANTES
158
3 SOLVENTES ORGÂNICOS
ESTUDOS FUTUROS
A seguir, você encontrará as principais substâncias relacionadas a
intoxicações no ambiente de trabalho. Não esqueça de acessar a trilha
interativa para aprofundar seus estudos!
3.1 BENZENO
159
na Portaria Interministerial nº 3, do Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho, publicada
em abril de 1982. Apesar disso, o hidrocarboneto ainda pode representar risco ocupacional
a milhares de indivíduos. As principais fontes de exposição ocupacional ao benzeno são:
O benzeno pode ser absorvido pelas vias cutânea, pulmonar e oral. Em casos
de exposições agudas, o benzeno inalado em altas concentrações poderá provocar
depressão do SNC com aparecimento de sonolência, tontura, dor de cabeça, tremores,
delírios, ataxia, convulsões, perda da consciência, parada respiratória e morte.
3.2 TOLUENO
160
3.3 METANOL
O metanol pode ser absorvido pelas vias oral, respiratória e cutânea. A maioria
dos casos de intoxicação metanólica ocorre após a exposição aguda, geralmente
decorrente da ingestão acidental ou fraudulenta do solvente. Os sintomas iniciais
decorrentes da moderada depressão do SNC são: cefaleia, náuseas, vômitos e leve
embriaguez semelhante à provocada pelo etanol. Nas intoxicações graves, esses
sintomas se intensificam e aparecem ainda fraqueza, confusão mental, convulsões e
coma provocado por edema cerebral.
DICA
Acadêmico, para aprimorar seus estudos, não deixe de ler o artigo de
Frederico Gustavo Telles, Vanessa Veloso Eleutério Nogueira, Luana
Inostrosa Maynart, Rafael Leite de Oliveira, Thatiane Célia dos Santos
Mendonça e Pablo Dias Oliveira, “Neuropatia óptica tóxica por inalação
de metanol”, o qual descreve um relato de caso de um paciente que
desenvolveu neurite óptica tóxica após exposição ao metanol e ácido
acético por via inalatória em seu ambiente de trabalho.
3.4 ETILENOGLICOL
161
Essa substância pode ser utilizada na fabricação de plásticos, filmes para
embalagens, resinas poliéster insaturadas, capacitadores eletrolíticos, agentes secantes
e na composição de formulações de óleos para usinagem. É o principal constituinte
de anticongelantes e fluídos hidráulicos. É empregado ainda como solvente para
nitrocelulose, acetato de celulose, cosméticos, tintas e laquês. Ainda, podem ocorrer
exposição não ocupacional ao etilenoglicol, em casos de ingestão acidental decorrente
da utilização do glicol como adulterante de bebidas alcóolicas.
INTERESSANTE
Etilenoglicol e monoetilenoglicol são sinônimos. Foi esta a substância
encontrada nas cervejas Belorizontinas da cervejaria mineira Backer
em 2020, ocasionando dezenas de mortes devido sua ação no
sistema renal e neurológico. Perícias indicam que a cervejaria utilizava
o etilenoglicol em processos de resfriamento e erros na produção
permitiram a contaminação da cerveja.
4 GASES TÓXICOS
4.1 CIANETO
162
sua forma ionizada (CN-) e são utilizados em múltiplas atividades ligadas à indústria,
como metalurgia, fotografia, galvanoplastia, mineração, fumigação e fabricação de
plásticos (ANDRADE FILHO; CAMPOLINA; DIAS, 2001).
INTERESSANTE
O cianeto era uma das substâncias presentes na espuma usada no teto
da Boate Kiss, local onde aconteceu a tragédia envolvendo vários jovens
em janeiro de 2013. O incêndio provocou a morte de 241 pessoas, sendo
que boa parte delas morreu asfixiada devido a inalação desse gás tóxico.
O Cianeto também foi muito utilizado como arma química, principalmente
durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.
163
O diagnóstico é baseado na história de exposição e na presença de sinais e
sintomas rapidamente progressivos. Sempre suspeitar em pacientes vítimas de incêndio
com acidose e coma, em trabalhadores de laboratórios ou indústrias que entram em
coma súbito e em indivíduos suicidas em coma e acidose sem outras causas. Os níveis
de cianeto podem ser medidos para confirmar o diagnóstico e exames complementares
também podem ser solicitados (hemograma, eletrólitos, lactato, glicose, função hepática
e renal, ECG) (GRAFF, 2013).
164
A toxicidade depende tanto da concentração de CO inalado quanto da duração
da exposição. As manifestações em relação à inalação sofrem influência de fatores
como idade do paciente, taxa metabólica, atividade física, função pulmonar e a
presença de doença pulmonar ou cardiovascular (ANDRADE FILHO; CAMPOLINA; DIAS,
2001). O CO é rapidamente absorvido através dos pulmões e atinge nível sanguíneo
em um tempo variável, relacionado com a concentração de CO no ambiente e à taxa
de ventilação alveolar. Depois de ter sido absorvido, o CO é transportado no sangue,
principalmente ligado à hemoglobina. Desta forma, o CO está praticamente concentrado
no compartimento intravascular, mas, eventualmente, até 15% do CO pode estar no
tecido, ligado à mioglobina. A eliminação do CO pode ocorrer por via renal e pulmonar
(LING et al., 2001).
INTERESSANTE
Acadêmico, lembre-se de que na primeira unidade citamos vários
exemplos de como a toxicologia está presente no nosso dia a dia, a
toxicologia ocupacional não deixa de ser diferente. Intoxicações
envolvendo monóxido de carbono não são raras. Lembra do caso dos
brasileiros que morreram no Chile devido um vazamento de gás de
cozinha? Para relembrar e entender mais sobre este caso, acesse a
reportagem: https://bit.ly/35rgoVx.
165
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Solventes orgânicos são amplamente utilizados e por isso são substâncias importantes
a serem avaliadas na toxicologia ocupacional.
• Cianeto e monóxido de carbono são os principais gases tóxicos, sendo que as causas
potenciais de intoxicação é a inalação dessas substâncias.
166
AUTOATIVIDADE
1 A toxicologia ocupacional é eminentemente preventiva, sendo fundamental a correta
avaliação do risco a que o trabalhador está exposto. Para isso, o primeiro passo é
a informação qualitativa: quais substâncias estão sendo utilizadas ou geradas no
processo? Esse dado, todavia, precisa ser complementado com o detalhamento
das características físico-químicas das substâncias às quais há exposição. Sobre
toxicologia ocupacional, assinale a alternativa CORRETA:
167
3 A preocupação com a saúde pública tem vindo a suscitar um interesse cada vez
maior sobre os compostos químicos que nos rodeiam e aos quais nos encontramos
expostos diariamente, principalmente quando se trata de solventes orgânicos. O
estudo da exposição a este tipo de solventes torna-se verdadeiramente interessante
dada a sua relação com o desenvolvimento de certos tipos de toxicidade, tais como a
genotoxicidade, hematotoxicidade, neurotoxicidade, o desenvolvimento de algumas
patologias oncológicas e efeitos respiratórios indesejáveis. Sobre solventes orgânicos,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – F – V.
168
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
METODOLOGIAS ANALÍTICAS E
APLICAÇÕES NA TOXICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
169
Em se tratando de matrizes biológicas, o sangue representa o primeiro
compartimento de distribuição para a maioria dos fármacos, tendo alto valor
interpretativo em indivíduos vivos. A urina representa a matriz de eliminação,
sendo esperadas maiores concentrações em relação ao sangue, especialmente dos
metabólitos; por outro lado, o valor interpretativo é limitado por variáveis associadas
à cinética de eliminação e aos fatores patológicos, como alterações na função renal e
hepática (CARVALHO; ROCHA, 2020).
NOTA
Análises post mortem: são análises realizadas em amostras coletadas
quando o indivíduo já se encontra morto.
3 MÉTODOS DE TRIAGEM
170
A cromatografia em camada delgada (CCD) é aplicável à ampla variedade
de matrizes (drogas de apreensão, alimentos, matrizes biológicas etc.) (CARVALHO;
ROCHA, 2020).
171
levamisol (cinza esverdeado), metildopa (marrom a verde),
noradrenalina (verde), solanina (violeta a azul), desipramina
(azul), clorpromazina e fenelzina (violeta), codeína e
colchicina (marrom), petazosina e perazina (violeta),
Mandelin
papaverina, terbutalina, maprotilina (cinza esverdeado),
harmina, xilasina, amitriptilina, nortriptilina (verde),
estricnina e tetraciclina (vermelho à laranja), tubocurarina
(marrom).
maprotilina (vermelho), anfetaminas e amitriptilina
(laranja a marrom), DOM (amarela), norcodeína e solanina
(amarela a violeta), oxicodona, salbutamol e vancomicina
Marquis
(amarela), harmalina (marrom-esverdeado), codeína,
6-monoacetilmorfina, morfina (violeta), ácido lisérgico,
lisergamina, naloxona (marrom).
anfetaminas (amarela a rosa) e gentamicina (violeta após
Ninidrina
aquecimento por 4 min.
FONTE: Carvalho e Rocha (2020, p. 10-11)
172
A fase estacionária é uma camada fina formada por um sólido granulado (em
geral constituída de sílica-gel, mas pode ser também de alumina, poliamida etc.)
depositada sobre uma placa de vidro, alumínio ou outro suporte inerte.
173
FIGURA 11 – CÁLCULO PARA FATOR DE RETENÇÃO
FONTE: A autora
3.3 IMUNOENSAIOS
ATENÇÃO
Os imunoensaios têm uma ampla utilização, inclusive além da toxicologia.
São utilizados para o diagnóstico de hepatites, HIV, sangue oculto em
fezes, COVID-19, dentre outras patologias.
4 MÉTODOS CONFIRMATÓRIOS
174
detector sensível o suficiente para identificar os analitos no extrato obtido na preparação
da amostra. Vários detectores e tipos de colunas, computadores e softwares podem ser
adaptados aos sistemas cromatográficos instrumentais. Os resultados da detecção são
apresentados em forma de representação gráfica denominada cromatograma.
175
única análise, se for utilizada a combinação da cromatografia gasosa ou líquida com
o sistema de detecção por espectrometria de massas (masspectrometry – MS). Desta
forma, a informação fornecida pelo tempo de retenção na coluna cromatográfica é
complementada pelo espectro de massas (PENTEADO; MAGALHÃES; MASINI, 2008).
176
LEITURA
COMPLEMENTAR
ENVENENAMENTO ACIDENTAL POR INSETICIDA ORGANOFOSFORADO: UM
CASO FATAL DE CRIANÇA COM RISCOS PARA A EQUIPE DO DEPARTAMENTO DE
EMERGÊNCIA
C. L. Lau
K. L. Chung
C. W. Kam
História de caso
177
Discussão
178
QUADRO 1 – EFEITOS CLÍNICOS DO ORGANOFOSFORADO
Estimulação do receptor
Estimulação muscarínica Estimulação nicotínica central
Fraqueza muscular;
Defecação Ansiedade
Fasciculações
Aumento da atividade da
Micção Inquietação
medula adrenal
Miose Taquicardia Ataxia
Câimbra do músculo
Bradicardia Letargia
esquelético
Broncoespasmos/broncorreia Hipertensão Confusão
Êmese Coma
Lacrimação Apreensão
Salivação Depressão respiratória
O diagnóstico é feito por (a) história de exposição; (b) sinais (síndrome toxicológica)
e sintomas de estimulação muscarínica e nicotínica excessiva; (c) níveis reduzidos de
colinesterase no plasma e nos glóbulos vermelhos; e (d) resposta à terapia com atropina
e pralidoxima. O diagnóstico diferencial inclui infecções do sistema nervoso central
(meningite, encefalite), distúrbio metabólico (hipoglicemia, uremia), trauma, condições
neurológicas agudas (epilepsia, hemorragia subaracnoide) e outros envenenamentos
(opiáceos, fenotiazina, nicotina, cogumelo contendo muscarina, veneno de escorpião).
179
manifestações neuropsiquiátricas incluem a síndrome intermediária, neuropatia
retardada, memória prejudicada, concentração reduzida, distúrbio linguístico, confusão,
irritabilidade, ansiedade, depressão, letargia, psicoses e efeitos extrapiramidais.
180
Envenenamento secundário de profissionais de saúde
O EPI adequado para exposição a OP deve incluir luvas de neoprene ou nitrila sem
forro, óculos de proteção, botas resistentes a produtos químicos e avental impermeável.
Uma máscara facial com filtro de vapor orgânico/partículas de alta eficiência deve
ser usada até que a descontaminação seja concluída. O requisito é equipamento de
proteção individual nível C.
Conclusão
181
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
182
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com a teoria da cromatografia de camada delgada, o fator de retenção (Rf)
da amostra pode ser calculado pela razão da distância percorrida pela amostra sobre
a distância percorrida, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Pelo padrão.
b) ( ) Pela fase móvel.
c) ( ) Pela placa.
d) ( ) Pela fase estacionária.
2 O uso de teste de cor talvez seja a forma de análise mais comum e utilizada para se
determinar a presença de certa substância em uma amostra, se tratando unicamente
de uma técnica qualitativa. Devido ao baixo custo de reagentes, fácil reprodução, a
qual, por uma reação química simples, revela resultados que podem ser interpretadas
a olho nu, as técnicas colorimétricas ainda hoje são utilizadas largamente em rotina
de laboratórios de química analítica. Sobre os testes colorimétricos, analise as
sentenças a seguir:
183
( ) Os principais tipos de cromatografia adotados nos métodos confirmatórios são a
cromatografia em camada delgada (CCD) e a cromatografia líquida de alta eficiência
(HPLC).
( ) São considerados testes confirmatórios: os testes colorimétricos, a cromatografia
em camada delgada (CCD) e os imunoensaios.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) F – F – V.
5 A maioria dos métodos confirmatórios tem base na cromatografia, isto quer dizer que a
identificação do analito é precedida por sua separação. Sobre a técnica cromatografia
em camada delgada, quais os fundamentos básicos?
184
REFERÊNCIAS
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J. A. O. Fundamentos de toxicologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2014. p. 621-642.
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Horizonte: Folium, 2001.
185
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Proterapêutica: programa de atualização em terapêutica. Porto Alegre: Artmed, 2013.
v. 3, p. 9-153.
HERNANDEZ, E.; RODRIGUES, R.; TORRES, T. Manual de toxicologia clínica. São Paulo:
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, 2017.
LING, L. J.; CLARK, R. F.; ERICKSON, T. B.; TRESTRAIL III, J. H. Toxicology secrets.
Philadelphia: Hanley & Belfus, 2001.
MIDIO, A. F., MARTINS. D. I. Toxicologia de alimentos. São Paulo: Livraria Varela. 2000.
186