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SOBRE O FUNDAMENTO DO PRAZER COM OBJECTOS TRÁGICOS

§ 1 As artes (tal como se dá com a natureza) têm a finalidade de dar-nos


prazer (deleitar) e fazer-nos felizes/contentes e isso não é um demérito. *MAS:
deleitar não é divertir.
§ 2 Perseguir o bem moral como o mais alto fim da arte causou danos na
prática e na teoria. Costumamos pensar que deleitar é inferior a um fim moral.
No entanto, “uma coesiva teoria do deleite e uma completa filosofia da arte”
mostraria que o deleite livre provocado pelas artes baseia-se inteiramente em
condições morais (ela age na concordância com o sentimento ético). Se o fim
torna-se veicular uma lição de moralidade, a arte perde sua liberdade e o
deleite por meio da qual ela é universalmente eficiente. A arte precisa cumprir
seu EFEITO ESTÉTICO para ter influência sobre a eticidade e, para cumpri-lo,
ela tem de ser livre.
§ 3 O gozo com o belo, com o comovente e com o sublime fortalece nossos
sentimentos morais. O deleite que a arte proporciona se torna um meio para a
eticidade.
§ 4 Diversamente do que se passa com o prazer sensível (em que a sensação
corresponde a uma causa física), no livre prazer, as forças do espírito, da razão
e da imaginação estão ativas e a sensação é gerada por uma representação.
Só é arte quando o efeito surgido consiste no deleite livre.
§ 5 A conformidade a fins é a fonte universal de todo prazer (mesmo do prazer
sensível)
§ 6 Fontes do prazer livre: o bom, o verdadeiro, o perfeito, o belo, o comovente
e o sublime
§ 7 As diferentes fontes do prazer livre não autorizam uma divisão rígida entre
as artes. Mas a depender do fim principal perseguido, as artes podem ser
divididas em ARTES BELAS, se satisfazem primordialmente o
ENTENDIMENTO e a IMAGINAÇÃO, e ARTES COMOVENTES, se satisfazem,
além da imaginação, também a RAZÃO. Embora seja impossível separar o
comovente do belo, o belo pode não ser comovente.
§ 8 O comovente e o sublime produzem prazer através do desprazer (e,
portanto, fazem-nos sentir uma conformidade a fins (moral) que pressupõe uma
inconformidade a fins (físico)
§ 9 O sentimento do sublime consiste na impotência e limitação para abarcar
um objeto (conflito com a faculdade sensível) e, ao mesmo tempo, no
sentimento de nossa supremacia que não se assusta com limites (o prazer é
originado à medida que percebemos que temos uma outra faculdade em nós
que supera a faculdade da imaginação).
§ 10 Comoção designa a sensação mista de prazer e sofrimento com o
sofrimento. Quando se trata de nós mesmos, a dor deve ser moderada para
que haja espaço para o prazer sentido por um espectador compassivo.
§ 11 Com o sentimento do sublime, a comoção é constituída de duas partes, a
dor (que pressupõe uma contrariedade a fins na natureza – pois o ser humano
não é destinado a sofrer) e o deleite (pois há uma conformidade a fins para a
nossa natureza racional e para a sociedade humana).
§ 12 O sofrimento do virtuoso nos comove mais dolorosamente que o
sofrimento do vicioso.
§ 14 Nenhuma conformidade a fins nos diz respeito de modo tão próximo
quanto a conformidade a fins moral e nada vai além do prazer que sentimos
com ela. Ela é para nós a mais próxima pois não é determinada por nada de
fora, mas por um princípio interno de nossa razão.
§ 15 A conformidade a fins moral é mais vivamente reconhecida quando
predomina sobre as outras. O poder da lei ética comprova-se quando ela é
mostrada em conflito com as demais forças naturais (tudo o que não é moral,
portanto, sensações, impulsos, afetos, paixões, a necessidade física e o
destino) e, ao lado dela, todas perdem o seu poder sobre o coração humano.
Por isso, a mais alta consciência de nossa natureza moral só pode ser obtida
em estado violento, em lutam e que o mais alto deleite moral sempre será
acompanhado da dor.
§ 16 A tragédia é o gênero poético que nos proporciona o prazer moral em grau
privilegiado. Seu domínio abarca os casos em que se sacrifica alguma
conformidade a fins natural em nome de uma moral ou uma conformidade a
fins moral em nome de uma outra mais alta.
§ 18 O caso dos personagens Hüon e Amanda (Oberon, peça de Wieland)
§ 19 Referência à peça de Shakespeare.: a vida é apenas importante como
meio para a eticidade
§ 20 A vida de um criminoso não é menos tragicamente deleitosa do que o
sofrimento do virtuoso
§ 21 Explicação do caso acima mencionado.: o arrependimento e a
autocondenação no desespero são sublimes porque são ocasionadas pelo
sentimento de justiça contra o interesse do amor próprio. Nesse ca

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