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François Fénelon

François Fénelon (1651 – 1715) foi um arcebispo católico, teólogo, poeta e escritor
francês, que se tornou notório pela obra As aventuras de Telêmaco, publicada no ano de
1699. Nascido em família nobre, Fénelon foi logo direcionado para a carreira eclesiástica,
em que ocupou diversas posições no decorrer de sua vida. Seus escritos tinham, na
maioria das vezes, um motivo pedagógico, fosse no tocante à educação moral de crianças
para a vida, fosse na conduta dos adultos, ou educação religiosa de pessoas de todas as
idades. A harmonia e eloquência de seus escritos, aplicadas a uma argumentação
racional, porém suave e simplificada, fizeram de suas obras verdadeiras referências para
educadores da idade moderna. 
https://bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/6846

Em 18 de março de 1699, Fénelon foi condenado como quietista por


Roma. As aventuras do jovem Telémaco são publicadas um mês depois. A
sujeição pública de Fénelon à sentença de Roma e o seu exílio da corte de
Luís XIV conquistaram-lhe a admiração da Europa dos Quietistas,
Entusiastas e Inconformistas de todos os tipos.
Para Fénelon, a corte e o cerimonial de Luís XIV eram falsos e
pretendiam cobrir o medo que a Europa experimentava face às novas
realidades, como revela em carta anónima ao rei, redigida a 6 de
dezembro de 1693: Durante trinta anos, os vossos ministros destruíram
todos os velhos princípios do estado a fim de elevar a vossa autoridade a
um pináculo. Elevaram-vos tão alto quanto como o céu sobre as ruínas de
todos os vossos súbditos. Na realidade, são vossos ministros que
governam, criaturas duras, arrogantes, intolerantes e cruéis que, na
política nacional e estrangeira só conhecem uma via - ameaçar, aniquilar
e destruir tudo que se lhes opõe.
As aventuras do jovem Telémaco foram, durante um século, o
manual da Europa inconformada com o absolutismo. Transmitiam o
horror do rei Luís XIV ao mundo das Luzes. No livro décimo, Fénelon
exprimiu o máximo desprezo por esse monstro, essa besta que sugou o
sangue do seu povo, e que não possuía mais poder do que um ídolo vazio.
O livro era ilustrado com gravuras que retratam o destino no Inferno,
reservado ao atormentado e perverso Rei. A influência deste e outros
escritos de Fénelon sobre o curso da história foi grande. Através dele, as
energias espirituais latentes dos quietistas e dos seguidores da devotio
moderna fluiu para o Iluminismo e daqui para a Revolução.
O espírito livre, pregado por Fénelon, sugeria a Roma todos os
perigos dos movimentos espirituais do passado. Removia o poder de
salvação da velha Igreja e da velha monarquia e transferia-o para a
consciência individual. A alma piedosa não se sentia subjugada por reis
consagrados nem bispos imperiais; sentia-se livre.
A corte de Luís XIV percebeu a ameaça. Madame de Maintenon,
amante oficial do rei, percebeu que Fénelon, a quem muito admirara no
início, era um adversário extremamente perigoso da corte. De que
adiantava Luís XIV e o seu círculo construir reinos de salvação em
Versalhes e demais palácios, se este bispo, com voz suave e maneiras
gentis, construía reinos de puro amor no coração das pessoas? Por quanto
tempo as almas despertas e libertas se absteriam de rasgar as cortinas e
abater as colunas do reino mundano de Versailles?
A ameaça pairava sobre a própria corte. Luís XIV e Madame de
Maintenon permitiram a Fénelon redigir a Regra para as Filhas de São
Luís, a instituição de caridade feminina que fundaram em Saint Cyr.
Tornaram-no diretor espiritual de quem era forçado a levar uma vida
dupla no mundo e dentro de si mesmo. E Fénelon vinha agora mostrar
como poderiam ter uma vida devota sem recurso a sacerdotes. Minava
não só as organizações da própria monarquia, como também a justificação
do monaquismo. Monachatus non est pietas: a piedade monástica não se
adequava aos tempos modernos. O que Erasmo e Lutero começaram,
Fénelon completou pregando que a vida cristã no mundo era muito mais
exigente e de muito maior serviço, do que a vida nos mosteiros que
abundavam em riqueza, vaidade, desejo, fama, falsa segurança e
mundanismo.
Fénelon denunciou a ficção e a fraude que se estabelecera no
cristianismo freirático: on ne veut rien posséder, mais on veut tout avoir. O
clero monástico estava nas antípodas da pobreza, castidade e obediência.
Quantas centenas de famílias poderiam viver decentemente em mosteiros
ou comunidades se cumprissem os votos de pobreza? A importância de
Fénelon foi tornar-se o mediador para um público mais amplo destas
ideias que não eram novas.

François Fénelon, pseudónimo de François de Salignac de La Mothe-


Fénelon (6 de agosto de 1651 – 7 de janeiro de 1715)

Referências
https://bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/6846

Oeuvres choisies de Fénelon


Citações

Todas as guerras são civis, porque é sempre o homem contra o homem, que espalha o
seu próprio sangue“

„A pátria de um porco encontra-se por toda a parte onde há bolotas.“

„Todos procuram a paz da alma, mas não onde ela reside.“

„Muitas vezes os nossos erros nos beneficiam mais do que nossos acertos. As façanhas
enchem o coração de presunção perigosa; os erros obrigam a recolher-se em si mesmo e
devolvem-nos aquela prudência de que os sucessos nos privam.“

„Se quereis formar juízo acerca de alguém, observai quem são os seus amigos.“

„Se em troca do meu amor à leitura me dessem todos os tronos da terra, recusaria sem
vacilar.“

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