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CLOVIS TORQUATO JUNIOR

A AUTENTICIDADE DO NOME JESUS:


Jesus, Yeshua ou Yehôshua, qual o nome do Salvador?

Curitiba, maio de 2014


SUMÁRIO

PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – JESUS, YESHUA OU YEHÔSHUA?

CAPÍTULO II – OS ORIGINAIS DA BÍBLIA

CAPÍTULO III – UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A LEGITIMIDADE DO ORIGINAL GREGO


DO NOVO TESTAMENTO

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIOGRAFIA
Dedicatória
A meus pais,

Clovis e Élcia,
(in memoriam)

pelo lar amoroso e cristão em que nasci e cresci,


ali conheci Jesus, a salvação do Eterno Deus
e o poder do Seu Espírito.
Nada pode ser maior que este legado.
Não há como agradecer,
mas meu sincero MUITO OBRIGADO.
.
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

Depois de cinco anos de lançada a 1ª Edição, chega às mãos do leitor uma nova edição
ampliada.
O assunto continua atual, que é a questão da legitimidade do nome Jesus, cuja soletração é
um adaptação do grego usado no Novo Testamento Ἰησοῦς – Iesoûs, o qual passa pelo latim –
Iesus, e finalmente chega ao português – Jesus. A legitimidade da soletração portuguesa “Jesus”
nunca havia sido questionada, até que alguns grupos começaram a defender que a soletração deveria
seguir a fonética ora do hebraico, ora do aramaico. Para os primeiros, o nome “Jesus” deveria
soletrar-se na língua hebraica e, neste caso, seria “Yehôshua”; para os segundos, a soletração
deveria ser em língua aramaica, e assim sendo, soletrar-se-ia “Yeshua”. Ironicamente, falta o grupo
que reivindique a soletração do seu nome em grego – Iesoûs – a língua original do Novo
Testamento.
De um lado, uma segunda edição ampliada justifica-se, principalmente, porque houve um
acréscimo considerável das Referências Bibliográficas, além de explicações mais detalhadas das
questões envolvidas sob os aspectos linguístico e histórico do desenvolvimento da nação de Israel
sob o prisma das línguas usadas por este povo em cada momento da sua evolução histórica. Novas
bibliografias foram acrescidas, o que também enriquece o conteúdo. O material disponível nas
Referências Bibliográficas, que já era amplo, ficou ainda maior, municiando o pesquisador, que
muitas vezes não tem todo o acesso às bibliografias sugeridas, por várias razões, e que aqui pode ler
e estudar muito material que demoraria semanas para catalogar e reunir, ou se dependesse de
comprá-los, despender-se-ia muito dinheiro para adquiri-los, além de gastar, talvez, muito tempo de
viagem para consultá-los em biobliotecas. Aliás, um dos objetivos do livro é fornecer ao estudioso
material de pesquisa posterior, muito além dos argumentos discutidos no livro. Tenho certeza de
que os auxílios bibliográficos disponíveis nas Referências Bibliográficas podem ajudar o
pesquisador faminto de respostas a solucionar outras questões que não foram tratadas no presente
livro. O alcance das informações disponíveis vai muito além do assunto tratado. Também as
sugestões de leitura foram cuidadosamente feitas, para direcionar o estudioso no caminho direto das
questões, tendo sempre em vista a credibilidade do perito indicado para a pesquisa. A bibliografia
recomendada representa a mais elevada e confiável pesquisa que temos acesso no momento. É claro
que outros materiais poderiam ter sido usados e indicados, mas estes suprem com amplitude a
extensão e importância do tema, aceitando sempre a realidade de que é absolutamente infundada a
pretensão de julgar que os meus argumentos são finais ou que a bibliografia indicada o é, e
acrescido do fato de que em anos vindouros, com o avanço das pesquisas, naturalmente, teremos
novas fontes, aprofundamentos, novas descobertas, revisões de posturas e alinhamento de
interpretações das fontes disponíveis, e assim, um avanço maior na compreensão do assunto.
Do outro lado, a minha própria compreensão das questões envolvidas também amadureceu.
E, fruto dos estudos continuados, estou mais convencido de que quanto mais aprofundamos a
analise metodológica do assunto, mais chegaremos à conclusão exposta neste trabalho: DE QUE O
NOME “JESUS”, SOLETRADO ASSIM, DESTA FORMA EM PORTUGUÊS, É O NOME LEGÍTIMO
DO “FILHO DE DEUS”.
Meu muito obrigado de novo ao Pr. Aparecido Rodrigues e ao Irmão Noé P. Campos, pelas
sugestões e revisões ao trabalho.
Meu maior objetivo com o presente livro é auxiliar aqueles que militam comigo a obra do
Senhor Jesus, pregando o verdadeiro Evangelho desde a cidade em que moram até – como disse
Jesus – aos confins do mundo. É uma honra para mim, um soldado de Cristo Jesus (2Tm 2,3-4),
ombrear com você nesta batalha pela pregação do Evangelho. Talvez nunca nos conheçamos nesta
vida, mas estaremos juntos no céu, nas moradas que Jesus foi preparar para aqueles que O amam.

Curitiba, maio de 2014


INTRODUÇÃO

O título e o subtítulo dão a noção exata de que trata o presente material: da pronúncia
autêntica e correta do nome do Senhor e Salvador Jesus Cristo de Nazaré.
Escrever este material foi uma experiência súbita. Jamais imaginei argumentar a respeito da
pronúncia do nome de Jesus, e ainda mais em um tom apologético, como acontece aqui. A própria
história do surgimento do presente material foi também inesperada.
Recebi um e-mail do Apóstolo Jesher Cardoso perguntando se os argumentos levantados
pela seita chamada “Testemunhas de Yehôshua”, sobre a pronúncia do nome “JESUS”, faziam
sentido ou não. Após analisar o material, escrevi uma resposta curta ao Apóstolo, apenas para
informá-lo de que os argumentos da referida seita não se sustentavam diante da linguística, em
primeiro lugar, e principalmente diante do estudo dos originais da Bíblia, o hebraico para o Antigo
Testamento e o grego para o Novo Testamento, em segundo lugar. Naquela ocasião listei apenas
nove tópicos (neste livro temos 38 tópicos) para fundamentar minha posição.
O Apóstolo Jesher gostou daquele material e sugeriu enviá-lo a todos os pastores que
compõem a Rede Apostólica da Aliança, rede fundada e presidida por ele, além de colocá-lo no site
da Missão Evangélica Shekinah (também fundada e presidida por ele). Respondi ao Apóstolo que o
material enviado era uma resposta pessoal a ele e que para torná-lo público era preciso uma resposta
mais elaborada. O Apóstolo praticamente intimou-me a produzir a tal “resposta mais elaborada”.
Escrevi então um artigo para ser colocado na internet. Este livro é uma adaptação daquele artigo.
Estabeleci como alvo uma resposta que fosse clara, simples e ao mesmo tempo erudita; que
justificasse o assunto para peritos das línguas originais da Bíblia e que igualmente pudesse ser lida
com fluência por quem não conhece tais originais; que esclarecesse e respondesse o assunto para
quem conhece os argumentos da seita, e que também pudesse ser lida por quem jamais os conheceu;
que fosse um texto digerível para uma leitura rápida, descomplicada e compreensiva, mas que
trouxesse todas as informações técnicas para quem desejasse ou precisasse de um aprofundamento
do tema; que servisse para o leitor solitário em seu quarto e que também pudesse ser usada como
livro texto de uma escola bíblica dominical ou curso bíblico básico; enfim, um texto para a Igreja
Cristã em suas diferentes expressões. Foi pensando nestes desafios que decidi expor o assunto no
corpo do texto e colocar todas as discussões e informações técnicas nas Referências Bibliográficas.
Quem quiser aprofundar-se no estudo da questão tem material rico nas Referências Bibliográficas,
mas quem prescindir de lê-las não terá prejuízo algum, pois todo o conteúdo necessário à
compreensão do tema está exposto no texto.
Uso o termo “SOLETRAÇÃO” com o sentido de “pronúncia”, algumas vezes, e também de
“escrita” ou “grafia”, em outras. A razão de usar o termo “soletração” e não “pronúncia” ou
“escrita” é que com este termo consigo aglutinar a noção da “soletração propriamente dita” com o
resultado dela, que é a “pronúncia” ou a “escrita”. O leitor logo se familiarizará com este
procedimento.
No CAPÍTULO I, JESUS, YESHUA OU YEHÔSHUA, estudo especificamente os
argumentos da “soletração” (pronúncia) do nome “JESUS”. Esclareço logo que o nome “JESUS” é
o nome autêntico para se referir ao Salvador, em língua portuguesa. A argumentação está dividida
em 38 tópicos.
No CAPÍTULO II, OS ORIGINAIS DA BÍBLIA, mostro muito rapidamente exemplos do
hebraico e do grego bíblicos.
No CAPÍTULO III, UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A LEGITIMIDADE DO
ORIGINAL GREGO DO NOVO TESTAMENTO, faço uma pequena observação pessoal sobre o
risco que corremos hoje com tantas doutrinas falsas e estranhas à fé cristã.
Devo agradecer a dois amigos, irmãos preciosos, que trabalharam ainda quando o material
estava em formação e contribuíram decisivamente para a forma final. Meu muito obrigado ao Pr.
Aparecido Rodrigues pelas sugestões, muito apropriadas. Também meu muito obrigado ao Irmão
Noé P. Campos, o revisor editorial e gramatical. Sem eles, não teríamos o resultado conquistado
aqui. Que Deus os recompense, pois só Ele pode fazê-lo apropriadamente.
É claro que outras pessoas também deram as suas contribuições. A todos meu muito
obrigado.
Meu muito obrigado à minha esposa Eunice e a meus filhos, Neto e Mattheus. Vocês são o
laboratório no qual o amor de Jesus tem se manifestado em minha vida e também eu tenho
aprendido a amar como Ele me amou.
A você, muito obrigado por adquirir o livro e lê-lo. Que Deus também recompense e
edifique mais e mais sua vida, e que ela seja para o louvor da Sua glória.

Curitiba, 01 de dezembro de 2009


CAPÍTULO I
JESUS, YESHUA OU YEHÔSHUA?

O nome “JESUS” é a soletração mais comum, em português, para nos referirmos ao Senhor
e Salvador das nossas vidas, filho de José, o carpinteiro, e de Maria, sua mãe; o Nazareno, que
nasceu em Belém da Judéia, nos dias de Herodes, o Grande, e morreu sob Pôncio Pilatos. Este é o
Verbo que se fez carne, o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou, e vive pelos séculos dos séculos,
recebeu todo poder nos céus e na terra, e reina até que o último inimigo seja vencido, ao qual todo
joelho se dobrará e toda língua confessará que Ele é Senhor, para a glória de Deus Pai 1. Seu nome
foi dado em revelação a José, em sonho, conforme o anjo lhe falou e lhe deu também a
interpretação do significado do nome:

“20 Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo:
José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
21 Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos pecados
deles.” (Mt 1:20-21)

Vamos proceder a um estudo para conhecermos a soletração autêntica e válida do nome do


Nosso Salvador.
Até alguns anos atrás, não havia questionamentos quanto à soletração do nome “JESUS”,
mas recentemente alguns grupos passaram a questionar esta soletração 2. Estes afirmam que a forma
correta para se referir ao Salvador seria chamá-lo “YEHÔSHUA”, a mesma soletração do nome
Josué em hebraico. O centro de toda a questão é linguístico, e o questionamento diz respeito
especificamente à língua hebraica, ou, por outras palavras, aqueles que chamam Jesus de
“Yehôshua” crêem que seu nome só pode ser pronunciado segundo a soletração da língua hebraica.
O argumento deles é simples: o nome Jesus seria originalmente um nome hebraico e não poderia ser
traduzido ou adaptado em qualquer outra língua, sendo imperativo chamá-lo segundo a soletração
hebraica: “YEHÔSHUA”.

1
Veja os textos: Fp 3.20, 2Pe 1.11, 2.20, 3.2,18, Lc 4.22, Jo 1.45, 6.42, Mt 1.20, 13.55, Mc 6.3, Mt 2.23, 2.1, Mt
27.1ss, Jo 1.1,14, Mt 14.33, Mc 1.1, Lc 1.35, Rm 8.34, 14.9, 1Ts 4.14, Ap 4.9-10, Mt 28.18, 1Co 15.23-28, Fp 2.5-
11.
Este raciocínio que, a priori, parece lógico e correto, na verdade é um engano monumental,
primeiro, sob a ótica linguística e histórica do povo de Israel e, segundo, também a respeito da
forma como cada língua (vernácula) adapta as palavras e nomes importados de uma outra língua
(estrangeira) para a sua fonética própria3, além de ser um sofisma bem elaborado para desmerecer o
original grego do Novo Testamento. Ou seja, esta exigência de soletrar o nome “JESUS” segundo a
forma hebraica é um erro crasso, quando, a posteriori, estudamos os originais da Bíblia: o hebraico
para o Antigo Testamento e o grego para o Novo Testamento e também quando analizamos o
assunto sob o ponto de vista linguístico de como as línguas se comportam quanto à importação de
nomes e palavras estrangeiras que passam a ser usadas com frequencia pela língua vernacula de um
povo.
Para saber se é necessário chamar o nome “JESUS” segundo a soletração hebraica, ou se é
possível adaptar a sua pronúncia à língua portuguesa, temos que pesquisar dois aspectos: o
primeiro, conhecer a história linguística de Israel, quais idiomas os israelitas falavam em cada
período da sua história; e, segundo, analisar nos originais do Antigo e Novo Testamentos, como os
autores procederam quando estavam diante do desafio linguístico de soletrar (grafar) os nomes dos
personagens em cada fase do seu desenvolvimento histórico e linguístico 4. Quando analisamos estes
dois aspectos, descobrimos que a soletração do nome “JESUS” é perfeitamente legítima para nos
referirmos ao Senhor e Salvador das nossas vidas.
É este estudo que se segue nos tópicos abaixo. Do tópico 1º ao 8º há uma análise da história
linguística de Israel, ou seja, dos idiomas que Israel falou em cada período histórico da sua
formação e dos escritos que produziu nestes períodos. Do tópico 9º ao 23º estudamos o nome
“Yehôshua” no Antigo Testamento hebraico e na tradução grega deste, a Septuaginta ou LXX. Do
tópico 24º ao 36º estudamos o nome “Jesus” no Novo Testamento grego e no cristianismo nascente,
este, especificamente, com relação à língua portuguesa. Nos tópicos 37º e 38º apresentamos a
conclusão da questão. Se o leitor desejar, é possível fazer a leitura destes dois últimos tópicos, antes
mesmo de toda a argumentação precedente.
1º) O ANTIGO TESTAMENTO FOI ESCRITO EM HEBRAICO5 (exceto alguns
trechos de Esdras, Jeremias e Daniel que estão em aramaico), E O NOVO TESTAMENTO FOI
ESCRITO EM GREGO6.
2º) A nação de Israel começou com Abraão 7 (Gn 11.26-12.4, 17.20; Is 52.2). Não há,
historicamente, como precisar a língua falada por Abraão. Porém, era possivelmente uma língua
semita, próxima do aramaico, mas seguramente não o aramaico que conhecemos hoje 8. Durante a
sua peregrinação pela Palestina, tendo entrado em contato com os povos locais, é provável que
tenha conhecido e até falado as línguas nativas destes povos. Não há como determinar quais línguas
eram faladas na Palestina das peregrinações de Abraão, e isso principalmente por não haver um
sistema de escrita que preservasse os idiomas como eram falados9. Os estudiosos falam em dialetos
cananeus10. Neste ambiente linguístico estão inseridos também Isaque e Jacó. Estamos aqui por
volta de 2100 a 1500 a.C.11 Durante o exílio egípcio os judeus falaram a língua egípcia, o copto. Os
judeus passaram a falar hebraico depois do êxodo egípcio, quando da invasão da terra, comandada
por Josué12; o hebraico era a língua dos habitantes da Palestina 13, e agora estamos por volta de 1200
a.C. Portanto, os judeus só passaram a falar o hebraico depois da travessia do Jordão. Os judeus
falaram hebraico por um período histórico provável, entre 1200 a.C. até 597 a.C., quando
Nabucodonosor invadiu Jerusalém.
3º) Em 597 a.C. ocorreu a primeira grande invasão babilônica e o primeiro exílio das elites
judaicas. Durante o exílio babilônico (597 a.C. a 538 a.C.), e depois dele, os judeus passaram a falar
aramaico14. Esta é a explicação para o caso que lemos em Ne 8.1-12, em que o povo ouvia a leitura
em hebraico e era necessário traduzir para o aramaico, para que os judeus pudessem entender a lei.
Quando eles viram que não entendiam mais o hebraico, puseram-se a chorar. É claro que uma parte
da população, principalmente uma elite mais conservadora e ligada ao Templo de Jerusalém, na
Judéia, procurou manter viva a língua hebraica15, apesar de que no meio da população em geral
crescia mesmo o uso do aramaico.
4º) Desde o retorno dos exilados da Babilônia em 538 a.C., com o Édito de Ciro
(possivelmente a primeira caravana chegou a Jerusalém em 537 a.C.), até a destruição de Jerusalém
em 135 d.C., pelo Imperador Trajano, toda a Palestina 16 falava aramaico como língua vernácula. A
língua comercial era o grego e a língua política o latim. A Palestina, como de resto todas as
províncias romanas, tinha um ambiente linguístico bem complexo, em que o idioma vernacular
convivia com pelo menos estes outros dois17.
5º) A escrita do Antigo Testamento em hebraico tem uma longa história de formação, que
começa por volta de 1200 a.C., com Moisés, e perdura até cerca de 300 a.C., com os profetas pós-
exílicos18. O judaísmo posterior produziu uma versão para o aramaico das Escrituras judaicas,
chamada de Targum19. Havia vários targuns, produzidos em vários lugares diferentes da Diáspora
judaica. Antes disto, no século III a.C., os judeus de Alexandria começaram uma grande tradução
das Escrituras para o grego, conhecida hoje como Septuaginta20 ou LXX.
6º) Fora da Palestina os judeus deixaram de falar hebraico para falar a língua nativa da
região em que se encontravam, e neste ambiente plurilinguístico adotaram a versão da Septuaginta,
mais acessível na maioria das vezes. Outras vezes usaram os Targuns.
7º) Devido a esta complexa história linguística dos judeus, resumida aqui, acrescido ao fato
de que havia várias colônias judaicas espalhadas pelo mundo, e que na própria Palestina havia três
grupos de judeus, no norte os galileus, na região central os samaritanos e os sulistas da Judéia, não
podemos pensar em um bloco linguístico monolítico para os judeus. É interessante ressaltar que a
língua hebraica foi falada pelos judeus, como língua nacional, vernacular, apenas num curto espaço
de tempo entre 1200 a.C. a 597 a.C. Antes de 1200 a.C. os patriarcas falaram alguma língua
aramaica e/ou cananéia que não conhecemos e depois de 597 a.C. os judeus da Palestina falaram o
aramaico, até a destruição de Jerusalém.
8º) À época do Novo Testamento, os judeus utilizavam pelo menos três versões diferentes
das suas Sagradas Escrituras: o hebraico ou Tanak, que só era lido por especialistas, a maioria deles
saduceus, e praticamente restrito à Judéia, sendo que raramente se tem evidência do uso do texto
hebraico fora da Palestina, ainda mais porque a língua hebraica praticamente não mais era falada na
Palestina depois de 597 a.C., e muito menos fora dela; o targum, em aramaico, que era quase uma
paráfrase das Escrituras, largamente usado pelos judeus; e finalmente a Septuaginta, em grego,
também largamente usada pelos judeus mundo afora21.
9º) Sabemos que nomes próprios não podem ser traduzidos, ou melhor, não há tradução para
eles. Por causa disto, quando um nome próprio passa de uma língua para outra, a língua que recebe
o nome faz uma adaptação deste às regras fonéticas da nova língua em que o nome será usado. Esta
adaptação leva o nome de “adaptação fonética”22. Não é uma questão de tradução23 de nome, mas de
adaptação à fonética da língua que recebe o nome estrangeiro. Deixe-me dar um exemplo do nome
João, o qual em hebraico é Nnxwy – Yochanan24, em grego Ἰωάννης – Ioánnes25, em alemão
Johann ou até Johannes, em francês Jean, em espanhol Juan, em italiano Giovanni, em inglês
John, e assim por diante. Não são traduções do nome, mas adaptações às regras linguísticas de cada
uma destas línguas. Assim, às vezes, o nome é soletrado (ou pronunciado) de forma tão distinta que
uma língua pode não reconhecer a soletração (ou pronúncia) da outra, como parece ser o caso do
alemão e do italiano, neste exemplo.
10º) Este mesmo caso de soletração em várias línguas ocorre com o nome “JESUS”. Com a
complexa história linguística do povo judeu, os nomes próprios sofreram esta adaptação fonética a
cada novo idioma utilizado por eles. Como o nosso interesse aqui é sobre o nome de Jesus, vamos
nos concentrar nele. Podemos fazer dois caminhos: um progressivo, começando das raízes hebraicas
deste nome até chegarmos à sua forma em português; e outro regressivo, começando do português
até a forma mais antiga conhecida deste nome, que está em língua hebraica. Vamos tomar o
progressivo.
11º) A história da soletração do nome “Jesus”26 em português começa com o hebraico
eswhy – Yehôshua, que é adaptado como Josué; passa pelo aramaico ewsy – Yeshua, que é
adaptado como Jesua; passa pelo grego Ἰησοῦς – Iesoûs, o qual passa pelo latim Iesus, e
finalmente chega ao português – Jesus. O importante é notar que estas diferentes soletrações (ou
pronúncias) não são traduções do nome, mas adaptações fonéticas que cada língua fez para poder
pronunciar o nome dentro da respectiva fonologia. O nome Josué, Jesua ou Jesus é o mesmo nome
em hebraico, aramaico, grego, latim ou português, e tem o mesmo significado: “Javé é salvação”. A
questão é de adaptação fonética e de soletração (pronúncia), não de tradução.
12º) A primeira aparição do nome eswhy – Yehôshua – Josué27 ocorreu quando Moisés
assim apelidou Oséias, filho de Num, em Nm 13.16: “São estes os nomes dos homens que Moisés
enviou a espiar aquela terra; e a Oséias, filho de Num, Moisés chamou Josué”. Veja o hebraico,
lembrando que se lê da direita para a esquerda:

“...eswhy Nwn-Nb eswhl hsm arqyw ...”


“(Yehôshua - Josué) (filho de Num) (a Oséias) (Moisés) (e ele chamou)”
(Nm 13.16 Biblia Hebraica Stuttgartensia BHS)

Esta é a origem do nome hebraico eswhy – Yehôshua – Josué28, que significa “Javé é
salvação”. O sucessor de Moisés era chamado de Nwn-Nb eswh – Oshea ben-Num – Oséias
filho de Num, e Moisés mudou seu nome para eswhy – Yehôshua – Josué. Depois disto ele foi
chamado também de Nwn-Nb eswhy – Yehôshua ben-Num – Josué filho de Num, veja Nm 14.6:

“... hnpy-Nb blkw Nwn-Nb eswhyw”


“...(filho de Jefoné) (e Calebe) (filho de Num) (E Josué)”
(Nm 14:6 BHS)

13º) Depois do exílio babilônico, quando os judeus passaram a falar aramaico, houve uma
adaptação do nome hebraico eswhy – Yehôshua para o aramaico: a forma aramaica ewsy –
Yeshua – Jesua29. Esta adaptação foi absorvida pela língua hebraica, ou seja, mesmo em hebraico
soletrava-se (ou pronunciava-se) o nome como em aramaico. Isto é facilmente observado nos textos
escritos depois do exílio babilônico. Um exemplo pode ser dado olhando-se para o sumo sacerdote
da época de Zorobabel. O mesmo sumo sacerdote em Ag 1.1 e Zc 3.1 tem seu nome soletrado
(grafado) como eswhy – Yehôshua30 (que em português é adaptado como Josué), e em Ed 3.2, 5.2 e
Ne 7.7 tem o nome soletrado como ewsy – Yeshua31 (adaptado em português como Jesua). Veja os
textos:

“No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR, por
intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué (eswhy), filho
de Jozadaque, o sumo sacerdote, dizendo:” (Ag 1:1)
“rmal lwdgh Nhkh qduwhy-Nb eswhy-law …”
“(dizendo) (sumo) (o sacerdote) (filho de Jozadaque) (e a Yehôshua – Josué)”
(Ag 1:1 BHS)

“Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué (eswhy), o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e
Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.” (Zc 3:1)
“lwdgh Nhkh eswhy-ta ynaryw ”
“...(o sumo) (sacerdote) (a Yehôshua – Josué) (então ele me mostrou)”
(Zc 3:1 BHS)
“Levantou-se Jesua (ewsy), filho de Jozadaque, e seus irmãos, sacerdotes, e Zorobabel, filho de
Sealtiel, e seus irmãos e edificaram o altar do Deus de Israel, para sobre ele oferecerem holocaustos, como
está escrito na Lei de Moisés, homem de Deus.” (Ed 3:2)
“qduwy-Nb ewsy Mqyw ”
“...(filho de Jozadaque) (Yeshua – Jesua) (e levantou-se)”
(Ed 3:2 BHS)

“Então, se dispuseram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua (ewsy), filho de Jozadaque, e


começaram a edificar a Casa de Deus, a qual está em Jerusalém; e, com eles, os referidos profetas de Deus,
que os ajudavam.” (Ed 5:2)
“qduwy-rb ewsyw laytlas-rb lbbrz wmq Nydab”
“...(filho deJozadaque) (e Yeshua – Jesua) (filho de Sealtiel) (Zorobabel) (se dispuseram) (e então)”
(Ed 5:2 BHS)

“os quais vieram com Zorobabel, Jesua (ewsy), Neemias, Azarias, Raamias, Naamani, Mordecai,
Bilsã, Misperete, Bigvai, Neum e Baaná. Este é o número dos homens do povo de Israel:” (Ne 7:7)
“hymxn ewsy lbbrz-Me Myabh ”
“…(e Neemias) (e Yeshua – Jesua) (com Zorobabel) (os quais vieram)”
(Ne 7:7 BHS)

Isto é uma prova inconteste de que o judeu não viu diferença de significado na soletração
diferente do nome. A mesma pessoa teve seu nome soletrado (grafado) de duas formas distintas no
mesmo original hebraico. Uma vertente mais conservadora usou a forma mais antiga e grafou
Yehôshua; outra, mais aberta usou a forma aramaica e grafou Yeshua. Isto quer dizer que no
hebraico do pós-exílio babilônico as duas formas ocorrem.
14º) Finalmente, o próprio nome de Oséias, filho de Num, que antes do exílio babilônico só
era soletrado (grafado) como Yehôshua, depois do exílio babilônico teve uma vez sua soletração
(grafia) alterada para a forma moderna aramaica Yeshua, em Ne 8.17. É claro que a tradução
brasileira aqui ainda prefere adaptar seu nome pela soletração tradicional do português – Josué –
para evitar confusão, mas o original hebraico do texto mostra a soletração aramaica do seu nome
aqui:
“Toda a congregação dos que tinham voltado do cativeiro fez cabanas e nelas habitou; porque nunca
fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de Josué (ewsy – Yeshua), filho de Num, até àquele dia; e
houve mui grande alegria.” (Ne 8:17)
“larvy ynb Nk Nwn-Nb ewsy ymym…”
…(de Israel) (os filhos) (assim) (filho de Num) (Yeshua – Jesua ou Josué) (desde os dias de)”
(Ne 8:17 BHS)

Esta também é mais uma prova inconteste de que para o judeu não havia diferença alguma
entre as soletrações (grafias) mais antiga e mais moderna, entre a forma hebraica eswhy –
Yehôshua, e a forma aramaica ewsy – Yeshua. Outra prova adicional de que o judeu não viu
diferença entre as distintas soletrações do nome é que em 1Cr 7.27 (escrito também, como Neemias,
depois do exílio babilônico) o nome é soletrado como eswhy – Yehôshua no original hebraico:

“...wnb eswhy wnb Nwn... ”


“…(de quem é filho) (Yehôshua – Josué) (de quem é filho) (Num)...”
(1Cr 7:27 BHS)

“de quem foi filho Num, de quem foi filho Josué.” (1Cr 7:27)

“Elisama foi pai de Num, e Num foi pai de Josué.” (1Cr 7:27 NTLH)

Ou seja, o mesmo que ocorre com a soletração do nome do sumo-sacerdote da época de


Zorobabel, cuja soletração varia entre Yehôshua e Yeshua, o mesmo também ocorre com o auxiliar
de Moises, Oséias, nos textos sagrados escritos depois do exílio babilônico. Por causa das
soletrações diferentes, em português temos duas formas de adaptar este mesmo nome, Josué e
Jesua, mas não há mudança de significado no nome, quer seja em português ou no original
hebraico, uma vez que as soletrações diferentes ocorrem lá no original hebraico.
15º) Nos escritos pré-exílio babilônico do Pentateuco e Josué a 2 Reis 32 o nome eswhy –
Yehôshua – Josué ocorre 186 vezes33, a maioria delas referentes a Oséias, filho de Num, servidor
de Moisés. Nestes mesmos escritos jamais ocorre a soletração aramaica ewsy – Yeshua – Jesua.
16º) Nos escritos pós-exílio babilônico de 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias 34 o nome ewsy –
Yeshua – Jesua ocorre outras 30 vezes35, sendo que 29 delas se referem a personagens distintos do
auxiliar de Moisés, Oséias e uma única, em Ne. 8.17, ao auxiliar de Moisés. Todas estas
ocorrências, exceção feita a Ne. 8.17, são adaptadas em português como “Jesua”, mesmo porque
nelas a pessoa referida pelo nome ewsy – Yeshua – Jesua não é ao auxiliar de Moisés. A única
ocorrência em que o nome se refere a Oseias, filho de Num, auxiliar de Moisés, a adaptação segue a
soletração tradicional portuguesa de Josué. Num outro grupo de escritos também pós-exílicos, de
Ageu e Zacarias, e especificamente em 1Cr 7.27 a soletração eswhy – Yehôshua – Josué ocorre 12
vezes36, sendo que somente em 1Cr 7.27 a referência é a Oséias, filho de Num, servidor de Moisés.
Portanto, nestes escritos ocorrem as duas formas de soletração eswhy – Yehôshua e ewsy –
Yeshua, o que destarde tira quaisquer dúvidas de que os judeus adotaram as duas soletrações como
legítimas na lingua hebraica.
17º) No século III a.C., em Alexandria, quando foi feita a tradução do Antigo Testamento
hebraico para o grego, tanto a forma hebraica eswhy – Yehôshua – Josué, como a aramaica ewsy –
Yeshua – Jesua, ambas foram adaptadas para o grego como Ἰησοῦς – Iesoûs – Jesus.
Naturalmente a adaptação grega seguiu a forma aramaica, mesmo porque esta era a forma comum
como o nome se estabeleceu depois do exílio babilônico. Veja os mesmos textos acima, mas agora
com a versão da Septuaginta (exceto para o texto de 1Cr 2.27, cuja amostragem está no ponto 19
abaixo):

“São estes os nomes dos homens que Moisés enviou a espiar aquela terra; e a Oséias, filho de Num,
Moisés chamou Josué (Ἰησου̂ν – Iesoûs – Jesus ou Josué ou Jesua).” (Nm 13:16)
“…16 καὶ ἐπωνόμασεν Μωυση̂ς τὸν Αυση υἱὸν Ναυη Ἰησου̂ν”
“.... (e) (chamou ou deu nome) (Moisés) (o) (Oséias) (filho) (de Num) (Iesoûs – Jesus ou
Josué ou Jesua).”
(Nm 13.16 LXX)

“No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR, por
intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué (Ἰησου̂ν –
Jesus), filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, dizendo:” (Ag 1:1)
“...καὶ πρὸς Ἰησου̂ν τὸν του̂ Ιωσεδεκ τὸν ἱερέα τὸν μέγαν λέγων:”
“...(e) (para) (Iesoûs – Jesus ou Josué)”
(Ag 1.1 LXX)

“Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué (Ἰησου̂ν – Jesus), o qual estava diante do Anjo do
SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.” (Zc 3:1)
“Καὶ ἔδειξέν μοι Ἰησου̂ν τὸν ἱερέα τὸν μέγαν ”
“(e) (mostrou) (a mim) (Iesoûs – Jesus ou Josué) (o) (sacerdote) (o) (maior ou sumo)...”
(Zc 3.1 LXX)

“Levantou-se Jesua (Ἰησου̂ς Iesoûs – Jesus ou Jesua), filho de Jozadaque, e seus irmãos,
sacerdotes, e Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus irmãos e edificaram o altar do Deus de Israel, para sobre ele
oferecerem holocaustos, como está escrito na Lei de Moisés, homem de Deus.” (Ed 3:2)
“2 καὶ ἀνέστη Ἰησου̂ς ὁ του̂ Ιωσεδεκ
“(e) (se levantou) (Iesoûs – Jesus ou Jesua ou Josué) (aquele) (de – filho de) (Jozadaque)

καὶ οἱ ἀδελφοὶ αὐτου̂ ἱερει̂ς καὶ” (Ed 3.2 LXX)


(e) (os) (irmãos) (dele) (os sacerdotes) (e)…”

“Então, se dispuseram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua (Ἰησου̂ς), filho de Jozadaque, e


começaram a edificar a Casa de Deus, a qual está em Jerusalém; e, com eles, os referidos profetas de Deus,
que os ajudavam.” (Ed 5:2)
“τότε ἀνέστησαν Ζοροβαβελ ὁ του̂ Σαλαθιηλ καὶ
“ (então) (se dispuseram) (Zorobabel) (aquele) (de – o filho de) (Sealtiel) (e)

Ἰησου̂ς ὁ υἱὸς Ιωσεδεκ” (Ed 5.2 LXX).


(Iesoûs – Jesus ou Jesua ou Josué) (o) (filho) (Jozadaque)…”

18º) Seguindo este mesmo princípio, os tradutores da Septuaginta adaptaram foneticamente


Yeshua em Ne 8.17 como Iesoûs:

“Toda a congregação dos que tinham voltado do cativeiro fez cabanas e nelas habitou; porque nunca
fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de Josué (Yeshua – ewsy – Ἰησου̂), filho de Num, até
àquele dia; e houve mui grande alegria.” (Ne 8:17)
“... ἀπὸ ἡμερω̂ν Ἰησου̂ υἱου̂ Ναυη οὕτως οἱ
“...(desde) (os dias) (de Iesoûs – Jesus ou Jesua ou Josué) (filho) (de Num) (assim) (os)

υἱοὶ Ισραηλ...” (Ne 8.17 LXX).


(filhos) (de Israel)...”

19º) Como o nome Yeshua em aramaico (ou hebraico tardio), tornou-se Iesoûs em grego?
Muito simples quando se conhece as regras gramaticais gregas e a fonologia da língua. Veja:
Como se pode observar no quadro acima, a adaptação fonética do aramaico para o grego é
bastante lógica e simples. A única parte da adaptação que poderia causar confusão seria a mudança
do ayin (e) hebraico para o sigma (ς) grego. O final do nome hebraico, ou melhor, da sua forma
aramaica, termina com um ayin (e), cuja pronúncia é de um [a]. Em grego aparece um sigma (ς),
cuja pronúncia é de um [s]. A mudança é forçada por causa da gramática grega. Em grego os
substantivos têm declinações37 e em hebraico não. Em grego, os substantivos terminados com a
vogal alpha (α), cuja pronúncia é de um [a], são ou femininos ou neutros, jamais masculinos. Para
tornar o nome Yeshua declinável em gênero masculino foi necessário substituir o ayin (e) [a] por
um sigma (ς) [s].
20º) A declinação ficou assim:
 Nominativo Ἰησου̂ς
 Genitivo Ἰησου̂
 Dativo Ἰησοῦ
 Acusativo Ἰησου̂ν
É claro que sempre está no singular.
21º) A soletração grega Ἰησοῦς – Iesoûs é, portanto, uma adaptação do aramaico ewsy –
Yeshua. É necessário, agora, um parêntesis para explicar a soletração “Josué”. A origem da
soletração “Josué” é uma adaptação do grego Ιησουε – Iesoue. Esta forma grega Ιησουε – Iesoue
ocorre em dois únicos lugares na Septuaginta. Os tradutores da Septuaginta usaram a forma grega
Ιησουε – Iesoue para adaptar uma única vez o original hebraico eswhy – Yehôshua, em 1Cr 7.27,
e outra única vez para adaptar o aramaico ewsy – Yeshua, em Ed 2.6. As razões para estas duas
únicas adaptações são desconhecidas. Veja o original hebraico e a Versão da Septuaginta:
“wnb eswhy wnb Nwn ” (1Cr 7:27 BHS)
“...(de que é filho) (Josué) (de que é filho) (Num)”
(adaptada à ordem hebraica) “... (υἱὸς αὐτου̂) ( Ιησουε) (υἱὸς αὐτου̂) (Νουμ)”(1Cr 7:27 LXX)

(ordem natural do grego) “Νουμ υἱὸς αὐτου̂, Ιησουε υἱὸς αὐτου̂” (1Cr 7:27 LXX)
“(Num) (o filho) (dele), (Josué) (o filho) (dele)”

“...Mypla bawy ewsy ynbl bawm txp- ynb” (Ed 2:6 BHS)
“...(dois mil) (Josué-Joabe) (dos filhos de) (Paate-Moabe) (os filhos de)”
(adap. à ord. heb.) “...(δισχίλιοι) (Ιησουε-Ιωαβ) (τοι̂ς υἱοι̂ς) ( Φααθμωαβ) (υἱοὶ)” (Ed 2.6 LXX)

“...υἱοὶ Φααθμωαβ τοι̂ς υἱοι̂ς Ιησουε Ιωαβ δισχίλιοι...” (Ed 2.6 LXX)
“(Os filhos) (de Paate-Moabe), (aos filhos) (de Jesua-Joabe), (dois mil)...” (Ed 2.6 RA)

Estas duas únicas adaptações que os tradutores da Septuaginta efetuaram, uma do hebraico
eswhy – Yehôshua, e outra do aramaico ewsy – Yeshua para o grego Ιησουε – Iesoue, são as
responsáveis pela soletração Josué das versões em português onde ocorre o original eswhy –
Yehôshua. É claro que esta adaptação portuguesa sofreu a influencia da Vulgata Latina 38, como se
pode ver no ponto 32 abaixo.
22º) Por que então lemos (i) Josué, (ii) Jesua e (iii) Jesus, se são nomes iguais?! Porque (i)
quando os tradutores da Bíblia em português encontram a forma mais antiga eswhy – Yehôshua no
texto hebraico adaptam como JOSUÉ. Do mesmo modo (ii), quando encontram a forma mais
recente ewsy – Yeshua, adaptam como JESUA. Veja este caso em Ag 1.1 e Zc 3.1, em que os
tradutores adaptaram “Josué”, porque o original hebraico traz Yehôshua; e em Ed 3.2, 5.2 e Ne 7:7,
os mesmos tradutores adaptaram como “Jesua”, porque o original hebraico traz a forma aramaica
Yeshua. E por fim (iii), para a adaptação do nome JESUS, no Novo Testamento, os tradutores usam
como base o texto grego Ἰησοῦς – Iesoûs – Jesus, não o texto hebraico, e no Novo Testamento
Grego o nome do Salvador é consistentemente soletrado como Ἰησοῦς – IESOÛS – JESUS.
23º) Resumindo tudo que vimos até agora: i) Moisés chamou Oséias, filho de Num de
Yehôshua, que significa “Javé é salvação”; ii) durante o exílio babilônico os judeus deixaram de
falar hebraico e passaram a falar aramaico, e deste modo o nome Yehôshua passou a ser
pronunciado Yeshua, segundo a fonética aramaica; iii) esta forma aramaica Yeshua do nome
hebraico Yehôshua passou a ser tão comum que foi incorporada à língua hebraica, e depois do
exílio babilônico passou a ser a única forma do nome em uso corrente entre os judeus; iv) a
tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, adaptou tanto a forma hebraica mais antiga
Yehôshua como a aramaica mais recente Yeshua do mesmo modo: Iesoûs; v) a adaptação fonética
grega do nome suprimiu o ayin [a] final e acrescentou o sigma [s], para tornar o nome declinável e
masculino, segundo a fonética grega. Assim concluímos o estudo do nome Yehôshua, Yeshua e
Iesoûs no Antigo Testamento.
24º) Chegamos agora aos dias do Novo Testamento, com a Pessoa Bendita de Jesus. Como
era chamado o Nosso Salvador nos dias de sua vida? Como era pronunciado seu nome? Quando o
anjo falou a José em sonhos (em Mt 1.20-21) qual foi a soletração (pronúncia) do nome que o anjo
falou? Yehôshua? Yeshua? Ou Iesoûs? Temos que ser honestos em admitir que não temos esta
resposta. Mas, imaginando que José e seus contemporâneos não falavam nem hebraico nem grego, e
sim aramaico, podemos imaginar que, se o anjo quisesse ser compreendido por José, precisava falar
aramaico. Se assim foi, o anjo deve ter soletrado o nome como era pronunciado depois do exílio
babilônico: YESHUA. O próprio anjo logo deu também a interpretação do nome: “ ELE SALVARÁ O
SEU POVO DOS SEUS PECADOS”.

25º) O significado do nome dado pelo anjo (Mt 1.21) mostra que Jesus é Deus, pois no
Antigo Testamento o Salvador é hwhy – YHWH – YAHWEH – JAVÉ. Este significado também
ratifica que o nome que o anjo falou a José, independentemente da sua soletração em diversas
línguas diferentes, é o nome autêntico para designar o Salvador, pois tal nome significa que DEUS
SALVA O SEU POVO, independentemente da soletração usada em uma determinada língua .
26º) A língua falada por Jesus era o aramaico, a língua oficial da Palestina pós-exílio
babilônico. Temos algumas poucas evidências textuais desta língua no Novo Testamento,
justamente nalgumas palavras de Jesus classificadas de IPSISSIMA VOX39.
27º) Sendo assim, a soletração (pronúncia) do nome de Jesus nos seus dias foi, com toda
probabilidade, YESHUA. Era assim que ele era conhecido: Yeshua de Nazaré (At 10.38), Yeshua
ben Yoseph40, Jesus filho de José (Jo 6.42). Seu nome era soletrado como Yeshua, disto não há
dúvida.
28º) Se seu nome era soletrado Yeshua, por que no Novo Testamento lemos Ἰησου̂ς – Iesoûs
– Jesus41? De novo, é questão de adaptação fonética de um mesmo nome em idiomas diferentes. O
Novo Testamento foi escrito originalmente em grego42. Isto fez com que o nome Yeshua fosse
adaptado para o grego. Como desde a Septuaginta a adaptação grega do nome Yeshua já era Iesoûs,
os autores do Novo Testamento adotaram esta soletração para chamar o nome do Nosso Salvador.
Veja como foi soletrado em grego o nome do Nosso Salvador Jesus. Veja abaixo o texto de Mt 1.21
segundo o original grego do Novo Testamento:

“..τέξεται δὲ υἱόν, καὶ καλέσεις τὸ ὄνομα αὐτοῦ Ἰησοῦν· αὐτὸς γὰρ


“...(dará à luz) (um filho) (e) (chamarás) (o) (nome) (dele) (Iesoûs – Jesus); (ele) (pois)

Σώσει τὸν λαὸν αὐτοῦ ἀπὸ τῶν ἁμαρτιῶν αὐτῶν.” (Mt 1.21 NESTLE-ALAND 27ª Ed)
(salvará) (o) (povo) (dele) (de) (os) (pecados) (deles).”

“Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.”
(Mt 1:21)
Veja também outro texto:

“Então, disse Jesus ao centurião: Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E, naquela mesma hora, o
servo foi curado.” (Mt 8:13)
“καὶ εἶπεν ὁ Ἰησοῦς τῷ ἑκατοντάρχῃ Ὕπαγε, ὡς ἐπίστευσας γενηθήτω
“(e) (disse) (Iesoûs ou Jesus) (ao) (centurião): (vai)...”

σοι. καὶ ἰάθη ὁ παῖς [αὐτοῦ] ἐν τῇ ὥρᾳ ἐκείνῃ.”43 (Mt 8.13 NESTLE-ALAND 27ª Ed.).

43
Black, M., Martini, C. M., Metzger, B. M., & Wikgren, A. (1993, c1979). The Greek New Testament (electronic
ed. of the 4th ed.) (Mt 8:12-13). Federal Republic of Germany: United Bible Societies.
2
Há, na internet, um artigo que tem causado um distúrbio quanto à autenticidade do nome “Jesus”. O autor deste
artigo afirma que a forma correta de se pronunciar o nome “Jesus” seria pronunciá-lo da mesma forma que em
hebraico se pronuncia Josué: Yehôshua. Refiro-me ao artigo registrado no endereço eletrônico:
http://conteyb.spaces.live.com/blog/cns!899564EB452C4E01!153.entry?sa=772710275, consultado por mim às
23:53h dia 31/08/09. Este artigo é fruto de IGNORÂNCIA TRAVESTIDA DE ERUDIÇÃO.  O autor do
artigo está enganado, e queira Deus que não esteja a serviço do Diabo, como Pedro, quando bem
intencionado queria desviar Jesus da cruz (Mt 16.22). O que acontece no caso do nome “Jesus” é um caso
simples de soletração.  O nome de Jesus, Jesua ou de Josué eram nomes muito comuns nos dias bíblicos.
Veja a Referência Bibliográfica nº 61
3
Ou seja, as palavras e nomes importados de uma língua estrangeira para a língua vernácula sofrem adaptações
fonéticas para que a pronúncia natural da palavra na língua estrangeira seja naturalizada na língua vernácula que
importou a palavra estrangeira.
4
Cujo desafio é rigorosamente o mesmo das línguas modernas, quando uma língua importa vocábulos de outra
língua estrangeira e passa a usar com frequencia estes vocábulos importados.
5
“As línguas da Bíblia (AT) são o hebraico, o aramaico e o grego. O hebraico e o aramaico pertencem à família das
línguas semitas. Estas se dividem em quatro grupos: semítico do Sul, do Noroeste, do Norte e do Leste.
O semítico do Noroeste é o cananeu em suas diferentes formas: hebraico, moabita, edomita por uma parte, e
ugarítico, fenício e púnico, por outra.
O semítico do Norte é basicamente o aramaico, subdividido em dois grupos. O grupo ocidental incluindo o
aramaico da Bíblia, dos targumim e da Gemara do Talmude palestinense, assim como o samaritano e o nabateu.
Do grupo oriental fazem parte o aramaico do Talmude babilônico e o siríaco das traduções bíblicas e dos escritos
cristãos e mandeus.
O semítico do Leste compreende o acádico e as suas línguas derivadas, assírio e babilônico.
O semítico do Sul inclui o árabe e o etiópico.” BARRERA, J. T., A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã:
introdução á história da Bíblia, pág 68. Veja também: GALBIATTI, E. R. & ALETI, A. Atlas Histórico da Bíblia
e do Antigo Oriente, pág. 14.
6
“A Bíblia fala três línguas: o hebraico, o aramaico, e o grego. Em hebraico foi escrito quase todo o AT. Algumas
seções de livros, nas edições hebraicas da Bíblia, foram escritas em aramaico; precisamente: Esd 4,8-6, 18; 7,12-
26; Dn 2,4-7,28; duas palavras em Gn 31,47 e uma frase em Jr 10,11. Em grego foram escritos originalmente
Sabedoria e 2 Macabeus. Além disto, existem livros, ou partes de livros, cujos textos originais – provavelmente
em hebraico – se perderam ou só chegaram a nós em antigas versões gregas: 1 Macabeus, Judite, Tobias, algumas
secções de Daniel (Dn 3,24-90; 13-14) e os acréscimos gregos de Ester. (...) Todo o Novo Testamento foi escrito
em grego. MANNUCCI, V., Bíblia, Palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada Escritura., págs. 94-95. O
grifo é meu.
Veja esta discussão bem elaborada sobre a importância da língua grega e sua abrangência no mundo antigo:
“Os gregos falavam muitos dialetos. Alguns dialetos limitavam-se a determinadas regiões e apesar de usados
esporadicamente em inscrições locais não aparecem mais na literatura que chegou até nós. Os dialetos ou grupos
de dialetos importantes eram os seguintes: jônico, falado na região central da costa oeste da Ásia Menor; ático,
muito próximo do jônico, dialeto de Atenas e da Atica; eólico, falado na parte norte da costa oeste da Ásia Menor,
em Lesbos, e na Tessália e Beossia; dórico, falado nas regiões meridional e ocidental do Peloponeso, na seção
sudeste da Ásia Menor, em Creta, Rodes e Cós; os dialetos dóricos bastante afins falados em Elis, na Acaia e na
Grécia central e ocidental; e finalmente o dialeto arcadiano-cipriota do interior do Peloponeso e da iha de Chipre.
29º) Este mesmo processo de adaptação fez com que o nome de Josué, filho de Num, fosse
soletrado no Novo Testamento como Iesoûs (At 7.45 e Hb 4.8, nas duas vezes que seu nome é
mencionado). Isto ocorreu também em Lc 3.29, com um dos ancestrais de Jesus, na genealogia que
Lucas escreveu. Veja os três textos:

“Er, filho de Josué, Josué, filho de Eliézer, Eliézer, filho de ...;” (Lc 3:29)
“29 τοῦ Ἰησοῦ τοῦ Ἐλιέζερ τοῦ Ἰωρὶμ τοῦ Μαθθὰτ τοῦ
“ (de) (Iesoûs ou Josué filho de) (de Eliezer)...”

O macedônico não é dialeto grego, pertencendo a um ramo diferente da família das línguas gregas. Destes dialetos,
somente o jônico, o eólico, o dórico e o ático ocorrem na literatura grega.” KOESTER, HELMUT, Introdução ao
Novo Testamento, vol. 1, págs 112-113. Todas estas observações valem para a língua falada; já para a língua
escrita os desenvolvimentos históricos são bem diferentes: “O grego coiné, como língua comum da comunicação,
do comércio e da administração, desenvolveu-se de acordo com suas próprias leis e sua própria dinâmica. O
fenômeno foi complexo, envolvendo o vernáculo falado no dia-a-dia e também as línguas técnicas do direito, da
ciência, da economia e da administração; a línguagem da escola e da retórica, acompanhada de vários graus de
influência das convenções literárias clássicas. Muitos autores escreveram numa ‘coiné elevada’, uma língua
comum mais cultivada. Fontes subsistentes oferecem muitas informações sobre a língua comum dos períodos
helenístico e romano, ao passo que os materiais para a línguagem literária, especialmente para a coiné literária são
poucos, especialmente para o período helenístico.” Ibidem, pág. 114.
7
“Abraão. A principal fonte bíblica sobre Abraão é o Gênesis, ao qual se acrescentam as tradições dos povos que
se consideram descendentes do patriarca. Abraão nasceu em Ur, na Caldéia, por volta do ano 2000 a.C, no
interior de uma tribo idólatra. Depois que sua família mudou-se para o norte do país, ele recebeu a revelação
divina: "Deixa teu país, tua parentela e a casa de teu pai, para o país que te mostrarei. Eu farei de ti um grande
povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome: sê tu uma bênção" (Gn 12:1-2). O grifo é meu. ©Encyclopaedia
Britannica do Brasil Publicações Ltda.” Veja também: “Tudo começa com Abraão, peregrino de Deus. A sua
migração da Mesopotâmia para a terra de Canaã pode parecer, aos olhos do historiador, bastante normal. No
século XIX ou XVIII a.C., para clãs semi-nômades como aquele de Abraão, a existência às margens dos grandes
impérios mesopotâmicos tornava-se sempre mais problemática; e a busca de pastagens tranquilas podia levar o
patriarca de Ur a Harã, depois a Hebron em Canaã.” MANNUCCI, V., op. cit., págs. 75-76.
8
“As inscrições aramaicas mais antigas que se conhecem procedem do século IX aC. O aramaico converteu-se
mais tarde na língua oficial dos impérios assírios, neobabilônico e persa. (...) A história da língua aramaica
conheceu três períodos sucessivos: antigo, médio e recente.” BARRERA, J. T., op. cit., pág. 79. Portanto, Abraão
viveu cerca de 1000 anos antes da primeira inscrição em aramaico que se conhece hoje, e é muito improvável que
a língua de Abraão fosse a mesma das antigas inscrições. O aramaico era a língua dos arameus (o nome de uma
língua é batizado a partir do nome do povo que a usa, e ainda hoje é assim, por exemplo: português, dos
portugueses; alemão, dos alemães; aramaico, dos arameus; e assim por diante). “Os arameus são mensionados pela
primeira vez nos documentos do rei assírio Teglat-Falasar I (1112-1074 a.C.). Segundo diversos estudiosos, eles
deveriam ser identificados como os ahlamu que são mencionados em documentos anteriores ou então os arameus
deveriam ser uma parte dos ahlamu. Provavelmente, ahlamu é um denominativo, significando “nomades”. Eles
apareceram pela primeira vez como tribo nomade no deserto sírio, que inicialmente ataca os núcleos populacionais
lá estabelecidos e depois se estabelece diretamente no território. Com o enfraquecimento da Assíria nos séculos
XII-XI a.C., os arameus se estabeleceram na Síria setentrional e na Babilônia meridional, onde se mesclaram com
os caldeus. Na Síria, os arameus criaram um grupo de cidades-estados comercialmente fortes, que prosperaram até
a conquista assíria, nos séculos IX-VIII a.C., quando foam absorvidos pelo grande império assírio.” McKENZIE,
J. L., Dicionário Bíblico, pág. 66. Como mais uma vez se observa, as datas para Abraão e para as inscrições
antigas que falam de arameus são muito distantes, cerca de 1000 os separam. Não obstante este fato, há vários
textos da tradição de Israel que citam os arameus, o que não deve ser considerado um anacronismo impossível:
“As relações de Israel com os arameus são estreitas e antigas. Nas tradições das origens mistas de Israel, os
arameus encontram-se entre os seus antepassados. Na Tábua dos Povos, Aram aparece como filho de Sem (Gn
10.22). Segundo Am 9.7, os arameus descenderiam de Quir, não identificado com certeza. Nacor, irmão de
Abraão, vivia em Aram Naaraim (Gn 24.10). Em egípcio, o nome Naharina (Nahrina nas tabuinhas de Amarna)
indica o nome da Síria setentrional e o alto do Eufrates, em torno de Carquemis e Harã, áreas que se tornariam
territórios arameus a partir do século XII a.C. Ao nome Nahrina (Naharina), os hebreus acrescentaram o prefixo
Aram Naaraim (Nm 23.7; Dt 23.5). Em outras tradições esta região é chamada de Padã-Aram. Em certa passagem
Jacó é chamado de “arameu errante” (Dt 26.5) e também Labão é considerado arameu (Gn 25.20; 28.5; 31.20,24).
Λευὶ...”44 (Lc 3.29 NESTLE-ALAND 27ª Ed.)

“O qual também nossos pais, com Josué, tendo-o recebido, o levaram, quando tomaram posse das
nações ...” (At 7:45)
“45 ἣν καὶ εἰσήγαγον διαδεξάμενοι οἱ πατέρες ἡμῶν
“(o qual) (também) (introduziram) (tendo[-o] recebido) (os) (pais) (de nós – nossos)

μετὰ Ἰησοῦ ἐν τῇ κατασχέσει τῶν ἐθνῶν45


(com) (Iesoûs– Josué ou Jesus) (em) (a) (tomada de posse) (das) (nações)...”
(At 7.45 NESTLE-ALAND 27ª Ed.)

“Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria...” (Hb 4:8)
“8 εἰ γὰρ αὐτοὺς Ἰησοῦς κατέπαυσεν οὐκ ἂν περὶ

Cusã-Rasataim é considerado rei de Aram Naaraim. A presença de nômades arameus na região na qual os
prórpios arameus se estabeleceram mais tarde pode ser situada no período dos patriarcas.” Ibidem, pág. 68.
O grifo é meu.
Sendo desta forma, o aramaico é uma das línguas mais antigas prováveis em uso na região de origem dos
patriarcas. É claro que uma língua que é falada (e não escrita) por um período superior a 3000 anos de história tem
variações imensas e não é uniforme sob aspecto algum. Julgo que a língua falada por Abraão era algum tipo muito
arcaico de aramaico (língua dos arameus), a língua dos povos nomades dos séculos XX a XIX a.C., e é muito
provável até que cada tribo nômade tivesse a sua própria língua; e a língua de uma tribo começasse a prevalecer
nas relações comerciais frente às demais línguas, mas ainda num processo muito primitivo. Quase não é possível
falar em “uma língua aramaica”, mas o mais correto seria pensar em várias línguas (aramaicas) faladas por
arameus (peregrinos), num ambiente multilinguístico, típico dos movimentos migratórios antigos (para ver estes
movimentos sugiro: BRIGHT, J., História de Israel, págs. 32-132). Infelizmente é absoluta e cabalmente
impossível saber se a língua do clã de Abraão era de alguma forma semelhante ao aramaico das mais antigas
inscrições conhecidas. O mais correto é compreender que a língua falada por Abraão era a língua do seu clã, um
dialeto semítico arameu (aramaico) autóctone.
As línguas faladas nas extensões dos rios Tigre e Eufrates, desde o Golfo Pérsico até o Mar Mediterrâneo, na
Babilônia, na Síria e Palestina ou Canaã durante os anos de 3000 a 1000 a.C. não tem registro histórico alfabético,
o que tornou impossível a recuperação do conhecimento de como eram essas línguas. Falar em “aramaico”,
“cananeu”, “egípcio”, “línguas semíticas” é sempre uma referência linguística vaga quanto ao idioma vernacular
realmente falado pelos falantes de então. Veja abaixo, na Referência Bibliográfica 14, que McKENZIE defende a
possibilidade de que Abraão falava “aramaico”; o que evidentemente exige que entendamos que era uma língua
semita, do tipo arameu, mas não podemos nos iludir, pensando que era a mesma língua aramaica dos dias de Jesus
ou mesmo do exílio babilônico, embora já seja um grande avanço conhecermos o tronco linguístico ao qual
pertenceu Abraão.
Talvez um paralelo mais próximo seja o caso da Alemanha, a qual até 1871 era uma reunião de pequenos
reinos, e cada um deles com a “sua própria língua alemã”. Em razão disso, há hoje vários dialetos falados na
Alemanha, entre eles o alemânico, o bávaro, o berlinense, o hamburguês, o dialeto de Hessen, o Kölsch, o baixo
alemão, o Saxônio, o Suábio, o Alsaciano, entre outros; e, além disto, cada uma destes grupos maiores ainda tem,
dentro do seu ramo linguístico, outros dialetos inseridos. É um estudo complexo listar, nos subgrupos, todos os
dialetos alemães. Para se ter uma noção da questão sugiro consultar o site: http://www.dw.de/atlas-de-dialetos-
alem%C3%A3es/a-1597717, cuja abrangência pode esclarecer o assunto para quem não está inteirado de questões
semelhantes.
9
Os sistemas de escrita do mundo antigo não eram capazes, à época dos patriarcas, de representar fonética e
sintaticamente uma determinada língua – escrita alfabética – como se verifica nos sistemas hieroglífico e
cuneiforme existentes por volta de 3500 a 2000 a.C. A Mesopotâmia usava, em cerca de 3500 a.C., um sistema de
escrita cuneiforme (começou como logográfico); a Pérsia, em cerca de 3100 a 2700, usava um sistema proto-
elamita que ainda não foi decifrado; o Egito, em fins do terceiro milênio a.C., usava os hieróglifos, decifrados
apenas a partir de 1840. Os primeiros sistemas alfabéticos de escrita começaram a surgir depois de 1200 a.C. Veja
MILLER, S.M. & HUBER, R. V., A Bíblia e sua História, págs. 14-17; BARRERA, J. T., op. cit., págs. 94-130.
Veja nestes mesmos textos acerca do material de escrita na antiguidade. Geralmente, para este período, os
pesquisadores adotam o nome do povo para nomear a sua língua. Veja este processo em: LAWRENCE, P., Atlas
Histórico e Geográfico da Bíblia, págs. 20-21. Nestas páginas também LAWRENCE faz um histórico das línguas
faladas antes de 1200 a.C. até as em uso em 5 a.C.
10
Confira J. T. BARRERA, op. cit., pág. 69-83. “Dialetos cananeus” não passa, de novo, de uma designação
baseada no nome dos habitantes da terra, que eram os cananeus.
“ (se) (pois) (a eles) (Iesoûs – Josué ou Jesus) (tivesse dado descanso), (não) (acerca de)

ἄλλης ἐλάλει μετὰ ταῦτα ἡμέρας.46 (Hb 4.8 NESTLE-ALAND 27ª Ed.)
(outro) (falaria)...”

Como se pode comprovar pela evidência textual, o mesmo Josué do Antigo Testamento é
chamado de Ἰησοῦς – Iesoûs (Jesus ou Josué), no Novo Testamento. A tradução portuguesa usa o
nome de “Josué” para não gerar confusão na identificação do personagem veterotestamentário, o
filho de Num. Poderia ser que o leitor neófito, ou mesmo uma leve desatenção, ou a falta de

11
“O primeiro lar de Abraão foi a Mesopotâmia (o atual Iraque), uma antiga civilização que existiu há séculos. Não
podemos ser precisos ao datar a vida de Abraão, mas aceita-se que todo o período patriarcal (de Abraão até José)
tenha durado aproximadamente de 2100 a 1500 a.C. Podemos seguramente colocar os patriarcas na Idade do
Bronze Médio.” PAYNE, D. F., Pequena cronologia Bíblica, pág. 1.
12
“Gênesis termina com a família de ‘Israel’ no Egito, levada para lá por causa da fome na Palestina. O Egito
também era uma civilização antiga; por ser país vizinho da Palestina, constituía frequente refúgio em tempos de
dificuldade. José subiu ao poder no Egito (Gn 41.41), provavelmente durante o século 18 a.C. A Bíblia, porém,
não fornece o nome do faraó que deu a José autoridade política. Tampouco apresenta o nome do faraó do tempo
em que Moisés foi educado na corte. Assim, também, não é possível datar, com exatidão, a vida de Moisés,
remontando, talvez, ao século 13 a.C. Naquele século os reis egípcios dedicavam-se a um programa de construções
no nordeste do Egito, situação que parece refletir-se nos capítulos iniciais de Êxodo. A primeira menção (com
exceção da narrativa bíblica) dos israelitas na Palestina encontra-se em um documento egípcio dos fins do século
13, o Merneptah Stele, que sugere a existência de israelitas na Palestina, mas não como tendo tomado posse de
algum território definido. O documento egípcio sugere que os israelitas tenham deixado o Egito e alcançado a
Palestina durante o século 13. Permanecem, entretanto, como possibilidades, épocas mais antigas para Moisés e
Josué. Sem dúvida, existe um intervalo de alguns séculos entre José e Moisés. Neste período, a família de Jacó
transformou-se em uma nação e pode-se começar a considerar Israel como um dos povos do mundo antigo,
embora não possuísse um território próprio. O livro de Êxodo começa com um quadro vivido da opressão do povo
em virtual escravidão no Egito. Moisés foi o homem que mudou dramaticamente essa situação. Após um encontro
pessoal com o Deus de Abraão, ele desafiou as autoridades egípcias e conseguiu liderar seu povo para fora do
Egito. Israel, desde então, rememora o milagre da travessia do Mar Vermelho (Êxodo 14).
(...)
Logo após a morte de Moisés, chegou o tempo para os israelitas tomarem a Palestina. O livro de Josué registra
algumas batalhas necessárias antes de os israelitas conseguirem estabelecer-se na Palestina como sua própria terra;
seus inimigos eram os cananeus e outros grupos que já habitavam aquela região. (...) Durante o período de 1220-
1050 a.C descrito nos livros dos juízes, Israel, nação constituída por doze tribos independentes, cada uma vivendo
em sua própria área, sem nenhuma liderança ou organização central, confrontou-se com vários inimigos.” Ibidem,
pág. 2, Veja a Referência Bibliográfica nº 54

13
Estes são os povos que habitavam os limites da terra prometida: os amorreus, os heteus, os ferezeus, os cananeus,
os jebuseus, os heveus, os girgaseus, os arqueus, os sineus, os arvadeus, os zemareus, os hamateus, os amalequitas,
filisteus e por fim os judeus. A língua falada pelos judeus era chamada também de “judaico”: 2Rs 18.26,28, 2Cr
32.18, Ne 13.24; Is 36.11,13, ou cananeu (Is 19.18). “O hebraico, a língua do AT, pertence ao grupo de línguas
semíticas do norte-ocidental, que compreende o aramaico e o cananeu. Os dialetos cananeus conhecidos por restos
literários existentes são o ugarítico, o ematita, o fenício (com vários dialetos), o hebraico e o moabita. O cananeu
era falado por toda a Síria e Palestina durante os últimos dois milênios a.C. Na segunda metade do I milênio a.C.,
o hebraico cedeu lugar ao aramaico como língua falada comum na Palestina. O hebraico apresenta algumas
características comuns com outras línguas semíticas... (...) A escrita hebraica é consonantal. (...) O hebraico antigo
é encontrado em várias inscrições da Palestina, a maioria das quais são muito breves, escritas em óstracos,
contendo pouco mais que um único nome pessoal. As inscrições mais importantes são encontradas no calendário
de Gazer, nos óstracos da Samaria, na inscrição de Siloé, e nas cartas de Laquis. Estas inscrições mostram que a
escrita consonantal do período da monarquia hebraica difere apenas levemente, além da formação das letras, da
escrita do AT. A pronúncia do hebraico antigo também pode ser reconstituída até certo ponto, a partir da
transcrição dos nomes hebraicos de lugares e pessoas nos documentos da Assíria; a escrita cuneiforme indica a
vocalização das palavras. (...) Os estudiosos pensaram por muito tempo que o hebraico, como meio de
comunicação, havia desaparecido antes do período do NT. Essa opinião é agora posta em dúvida pelos textos de
conhecimento histórico da narrativa bíblica geral, impedisse de se compreender estes três textos por
falta de identificação do personagem correto.
30º) Nas atuais traduções do Novo Testamento para o hebraico, o nome “Jesus” é adaptado
como ewsy – Yeshua. Veja Mt 1.1 em hebraico moderno:

‫בן־דוד‬ ‫המשיח‬ ‫ישוע‬ ‫תולדת‬ ‫ספר‬


(ben David – filho de Davi) (ha-mashiah – o Messias) (de Yeshua – Jesus) (da genealogia) (livro)

Qumrã, que são escritos em hebraico. Seu hebraico não é o da antiga literatura do AT; mas ele não parece ser
tampouco uma línguagem escolástica artificial como o hebraico rabínico ou da literatura medieval. Em geral ele se
assemelha ao hebraico dos livros tardios do AT. A línguagem não é denominada hebraico no AT; ela é chamada
cananeu (Is 19.18) ou judaico (2Rs 18.26; Ne 13.24; Is 36.11). Na opinião de alguns estudiosos, o texto do AT
representa o dialeto de Jerusalém, que é representado pelo termo judaico em 2Rs 18.26; Is 36.11, e provavelmente
Ne 13.24. Diferenças dialetais entre os israelitas são sugeridas em Jz 12.6, o que indica que os efraimitas eram
incapazes de pronunciar o shin sibilante (“Shibbolet”; “Sibbolet”). O isolamento das cidades da Palestina moderna
permite diferenças dialetais numa área consideravelmente pequena. O neo-hebraico, que foi usado no Talmude,
era uma língua escolástica. O hebraico atual, a língua falada e escrita de Israel, é uma construção moderna que
difere bastante do hebraico bíblico.” McKENZIE, J. L., op. cit., págs. 350-351. De acordo com 2Rs 18.26 fica
claro que os oficiais de Israel também sabem aramaico, enquanto que o povo comum não, o que torna evidência de
que a língua aramaica era a língua diplomática do mundo antigo, mesmo no tempo em que em Israel falava-se
hebraico.

14
Veja que os exilados tiveram que aprender a cultura e a língua dos dominadores babilônicos (“lhes ensinasse a
cultura e a língua dos caldeus”), segundo Dn 1.3-5. Aprenderam a língua a língua aramaica e deixaram de falar
hebraico, no exílio babilônico. Veja também que em Ed 4.7 a carta foi escrita em aramaico, e que, em Ne 13.24, os
filhos das mulheres estrangeiras também não sabiam falar hebraico. Esta era a realidade linguística do Israel pós-
exílio babilônico. Veja ainda: “O aramaico é estreitamente aparentado com o hebraico, também ele classificado
como língua semítica norte-ocidental; mas não é, como às vezes se pensa, uma forma corrompida da língua
hebraica, que os hebreus teriam trazido de volta do exílio babilônico. A língua aramaica é uma língua original
como o hebraico, mais arcaica sob certos aspectos, mas claramente mais evoluída sob outros. Foi a língua das
tribos nômades que durante o segundo milênio antes de Cristo invadiram, em etapas sucessivas, a alta
Mesopotâmia e a Síria, e no primeiro milênio, sob o nome de caldeus, a Babilônia meridional. (...) A partir do
exílio – não apenas em Babilônia, mas também na pátria – os hebreus falam o aramaico ao lado da sua própria
língua materna hebraica; mas depois do exílio, o aramaico acabou por suplantar o hebraico que ficou sendo língua
da tradição, da literatura sagrada e da liturgia. O aramaico foi também a língua materna de Jesus, dos apóstolos e
da primeira Igreja de Jerusalém; é principalmente esse dialeto aramaico que está na base das palavras de Jesus e
que nos foram transmitidas pelos Evangelhos somente em língua grega.” MANNUCCI, V., op. cit., pág. 97. “A
partir da época do exílio babilônico (século VI aC), o aramaico, então língua internacional das chancelarias,
começou a superar o hebraico no uso corrente entre os judeus”. BARRERA, J. T., op. cit., pág. 79.
O aramaico, a língua dos arameus, deve ter tido uma longa história de evolução, considerando que povos
arameus (peregrinos) já estavam em movimento desde os tempos patriarcais (2150 até 1450 a.C.), como se
observa acima na Referência Bibliográfica 8, e a sua língua sobreviveu até a difusão do helenismo, ou mesmo após
ele. Veja a relação interessante traçada por McKENZIE indicando que a migração dos arameus acabou por
espalhar sua língua, o aramaico, por todo o mundo antigo por onde migraram, fazendo retroceder aos patriarcas o
uso do “aramaico”; cujo “aramaico” deve ser considerado aqui não uma língua nacional, mas tribal, o “aramaico”
de cada clã, no caso de Abraão, a língua do clã dele: “ARAMAICO. A língua dos arameus e talvez também dos
hebreus antes do seu estabelecimento em Canaã. Contudo, os arameus não adotaram a língua cananéia,
mantendo a sua própria língua. O aramaico é classificado como língua semítica norte-ocidental. A grande difusão
dos arameus e suas atividades comerciais levaram sua língua a toda a região da Palestina, da Síria e da
Mesopotâmia. Entretanto, foi quando os Estados arameus já não tinham nenhuma importância política que o
aramaico alcançou a sua maior difusão. O seu uso como língua diplomática internacional é comprovado por 2Rs
18.26, onde se vê que o aramaico era conhecido pelos oficiais assírios e hebreus, mas não pelo povo. O uso do
aramaico deve ter-se tornado comum por volta do período do Império Neobabilônico. Depois do século VI a.C.,
tornou-se a língua semítica mais usada comumente. A sua escrita alfabética, tomada emprestada dos cananeus,
fazia dela um meio de comunicação escrita muito mais simples do que a língua acádica. O aramaico era a língua
comum dos povos do Império Persa, bem como a língua oficial do governo imperial. O seu uso se manteve até a
difusão do helenismo. Mas, mesmo depois que o grego tornou-se a língua da cultura literária, da política e do
‫בן־אברה‬
(ben Abraham – filho de Abraão).47

31º) Quando o Evangelho alcançou o mundo antigo através das missões antigas 48, o Novo
Testamento já estava escrito em língua grega. No entanto, foi inevitável o encontro com a cultura
dos dominadores do mundo de então – a cultura e a língua latinas. Aqui mais uma vez foi feita uma
adaptação fonética do nome grego Ἰησου̂ς – Iesoûs para o latim, na sua versão mais famosa, a

comércio, o aramaico continuou sendo a língua do povo até ser substituída pelo árabe, depois das conquistas
maometanas do século VII d.C. e até mais tarde. Além de algumas inscrições, não possuímos uma literatura
anterior ao século V; daí em diante, os documentos são abundantes. Os papiros da colônia judaica de Elefantina,
no Egito do século V, estão escritos em aramaico. Do AT, estão em aramaico Ez 4.6-8; 7.12-26; Jr 10.11; Dn 2.4-
7.28; os documentos aramaicos do Ministério do Exterior persa citados em Ez são geralmente considerados
autênticos. Durante esses séculos, os hebreus, sobretudo aqueles que viviam fora da Palestina tiveram necessidade
de fazer traduções aramaicas do AT, chamadas Targum. O aramaico é também a língua do Talmude. O aramaico
era ainda a língua comum da Palestina no tempo de Jesus, com diversos dialetos (Mt 26.73). A inscrição da cruz
estava em aramaico (Jo 19.20, onde é chamado hebraico), na cruz. Jesus citou em aramaico o Sl 22.2. (...)
Entretanto, as fontes orais da tradição evangélica eram em grande parte aramaicas, senão inteiramente.”
McKENZIE, J. L., op. cit., pág. 68. O grifo é meu.
15
“A maioria dos estudiosos da história da língua nos períodos helenístico e romano acreditam que, antes e
paralelamente à emergência da literatura judaica em aramaico, houve versões locais de aramaico falado entre o
povo na Palestina e ao redor da Palestina. O consenso é que alguma(s) forma(s) palestina(s) de aramaico era a
língua falada pela maioria da população na Palestina, isto é, fora das cidades (helenísticas). Mesmo defensores do
hebraico mixnaico como língua falada mais importante na própria Judéia acreditam que o aramaico era a
segunda língua mais falada entre a população. Na Galiléia, o aramaico teria sido a língua falada tradicional da
população durante os tempos helenísticos, continuando como tal depois que os asmoneus submeteram a região ao
controle de Jerusalém. Com as sucessivas administrações ptolomaicas e selêucidas em Séforis (como indicam os
papiros de Zenon), o grego substituiu o aramaico como língua da administração, mas a língua falada tradicional
sem dúvida continuou na vida quotidiana da aldeia.” HORSLEY, R. A., Arqueologia, História e Sociedade na
Galileia: o contexto social de Jesus e dos rabis, pág. 146. O grifo é meu.
16
É claro que ao falar de “toda a Palestina” tem-se em mente as diferenças de cada região, e em cada região as
diferenças sociais, religiosas e políticas. As diferenças, por exemplo, em Jerusalém, podem ser gritantes entre as
elites e a população mais simples; entre ricos e pobres; entre os saduceus, fariseus, essênios, herodianos; elites
letradas e a imensa maioria de analfabetos, e assim por diante. Outro aspecto a ressaltar é que o processo nacional
de passar a falar uma língua ou deixar de falá-la é muito complexo, envolvendo muitos anos de relação com a
língua falada antes e com as demais línguas de estrato, processos conhecidos como substrato, adstrato e
superstrato; portanto, as datas indicadas acima são meramente referenciais de inícios de processos linguísticos e
não datas estanques de mudanças abruptas nas línguas faladas em cada época. Leitura obrigatória para quem
ter uma visão crítica do problema das línguas falada e escrita desde o exílio babilônico até a Palestina dos
primeiros três séculos da era cristã é HORSLEY, R. A., op. cit., págs. 139-155. Neste Capítulo 7 (que compõem
as páginas indicadas) o leitor encontra um inventário quase completo das fontes arqueológicas usadas na pesquisa
sobre as línguas falada e escrita na Palestina. É claro que outras bibliografias (entre outras que poderiam ser
citadas) como BARRERA, MANNUCCI, KOESTER, STAMBAUGH & BALCH também trazem rico inventário
das fontes arqueológicas acerca das línguas usadas na Palestina. Para uma noção das questões de estrato, veja o
artigo de GARCIA, A. S., O Português do Brasil: questões de substrato, superstrato e adstrato. SOLETRAS, Ano II,
nº 04. São Gonçalo, UERJ, jul./dez. 2002, pág 70-80

17
O latim nem sempre é considerado em um grau de importância dentro da Palestina: “Para a Palestina no período
romano, a questão mais amplamente considerada é o uso relativo do (algumas formas do) aramaico, do hebraico e
do grego.” HORSLEY, R. A., op.cit., pág. 146. Veja ainda: “Quatro línguas principais se usavam na Palestina no
século primeiro da era cristã: latim, grego, aramaico e hebraico. João menciona que Pilatos colocou uma inscrição
na cruz de Jesus “em hebreu, latim e grego” (Jo 19.20). Todavia, falava-se pouco latim na Palestina.”
STAMBAUGH, J. E. & BALCH, D. L., O Novo Testamento em seu Ambiente Social, pág. 78. Na verdade, a
língua que os governantes da Palestina adotaram foi o grego (segundo provam os trabalhos de BARRERA,
MANNUCCI, KOESTER, STAMBAUGH & BALCH), não o latim, este era o idioma da capital do Império,
Vulgata Latina. Esta adaptação foi bem suave, e o nome foi soletrado em latim como IESUS:
Ἰησου̂ς – Iesoûs – Iesus.
32º) Era natural que os tradutores latinos também adaptassem os originais hebraico e
aramaico para o latim, entretanto, as adaptações fonéticas latinas dos originais eswhy – Yehôshua
– Josué e ewsy – Yeshua – Jesua não são uniformes. A Vulgata Latina adapta de formas bem
diversificadas estes dois originais hebraicos. O original hebraico eswhy – Yehôshua – Josué foi
adaptado em latim como Iosue (indeclinável, 147 vezes – claramente inflenciada pela forma grega
“Ιησουε”), Iesus (declinável, 11 vezes), e nas demais vezes a Vulgata substitui o nome próprio
Roma. Para a importância do latim talvez fosse relevante ver que Herodes mandou escrever em aramaico, grego e
latim a condenação de Jesus, formando um dos mais famosos acrônimos do mundo, o famoso INRI. Em Lc 23.38
somos informados que a acusação estava escrito “em letras gregas, romanas e hebraicas”; e em Jo 19.19 é que
temos o famoso dito: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS”:
 em grego: “Ἰησοῦς ὁ Ναζωραῖος ὁ βασιλεὺς τῶν Ἰουδαίων”;
 em latim: “Iesus Nazarenus rex Iudaeorum”;
 em hebraico: “‫”ישוע הנצרי מלך היהודים׃‬.
 INRI é um acrônimo do título em latim:
 (I) Iesus
 (N) Nazarenus
 (R) rex
 (I) Iudaeorum.
18
“O alfabeto hebraico contém 22 caracteres correspondentes às letras consoantes. (...)
Num primeiro período, durante os anos 900-600 aC, a ortografia hebraica, como a fenícia, tendia a representar
graficamente somente as consoantes. Ao longo so século XI, os arameus desenvolveram um sistema rudimentar de
notação vocálica mediante as chamadas matres lectionis. Este sistema foi utilizado também pelos israelitas a
partir dos inícios do século XI aC.” O grifo é meu. BARRERA, J. T., op. cit., pág. 69-70.
“O hebraico é uma língua muito próxima do fenício. Ambas demonstram claras diferenças em relação ao
aramaico. (...)
O conceito de ‘hebraico bíblico’ não deixa de ser uma ficção, como o é também o de ‘texto bíblico’ ou,
inclusive, o de texto massorético. Os textos bíblicos refletem um milênio inteiro de desenvolvimento
linguístico, pelo que não podemos deixar de refletir hebraicos diferentes e de terem incorporados diferentes
dialetos. As diferenças dialetais entre o hebraico de Judá no Sul e o de Israel no Norte remontam a dialetos
cananeus do segundo milênio aC. (...)
A formação das coleções de livros bíblicos, assim como a transmissão, tradução e interpretação do texto dos
mesmos, deu-se ao longo dos séculos, o que corresponde ao uso do hebraico bíblico tardio e ao hebraico de
Qumrã. O hebraico clássico e o pós-bíblico coexistiram por algum tempo.” O grifo é meu. Ibidem, pág. 74-75.
“O alfabeto já existia na terra de Canaã quando os israelitas se tornaram uma nação. Isso lhes possibilitou uma
forma simples de fazer o registro de revelações divinas, tradições orais e acontecimentos históricos.
Os textos hebraicos mais antigos já encontrados datam do século 9 a.C., embora seja bastante provável que
gerações anteriores de escribas israelitas também escreviam usando o alfabeto”. LAWRENCE, P. op. cit., pág. 64.
O advento da escrita alfabética foi o fator preponderante e facilitador para o surgimento das Sagradas
Escrituras hebraicas. Se não fosse esta escrita, dificilmente teríamos o Antigo Testamento.
Veja abaixo a Referência Bibliográfica 34.
19
Confira em BARRERA, J. T., op. cit., págs 79-83.
20
SEPTUAGINTA: “Septuaginta (ou LXX): a primeira e mais importante versão grega do AT. Segundo a tradição,
foi preparada por 72 sábios judeus em Alexandria, no tempo do reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.). A
referência de Flávio Josejo de que o trabalho foi feito em 72 dias (Antiguidades Judaicas, XII, 2) talvez se aplique
apenas ao Pentateuco; Acredita-se que a tradução do restante do AT não foi completada senão meados do século II
a.C.”. PAROSCHI, WILSON. Crítica Textual do Novo Testamento, pág. 48.
21
Toda esta produção literária levada a afeito pelos judeus ao longo da sua historia, a partir de Moisés, não deve
obscurecer o fato incontestável de que apenas uma pequena porcentagem da população antiga era de alguma forma
alfabetizada e, portanto, capaz de ler ou escrever; e também, principalmente, de que mesmo havendo um texto
escrito, a principal forma de comunicação continuou, por milênios, a ser oral. Veja MILLER, S. M. & HUBER, R.
Yehôshua pelo substantivo “homem”. Já para o original ewsy – Yeshua – Jesua adapta como
Iosue (indeclinável, 16 vezes), Hiesus (declinável, 9 vezes), Iesua (1 vez), Iesue (3 vezes), Iosua
(1 vez).
33º) A nossa língua portuguesa é originária da antiga língua latina. Quando os romanos
conquistaram Cartago e passaram a dominar a Península Ibérica, ainda sob o regime republicano,
em 202 a.C., deixaram lá a língua latina 49. As missões da Igreja Romana em toda a Europa
encontraram a facilidade de um idioma universal na época, o latim. O contato mais amplo de toda a

V., op. cit., págs. 12-13. “Estudos recentes sobre literariedade antiga concluem que é muito pequeno o número de
pessoas que podem ser chamadas de alfabetizadas, havendo uma porcentagem um pouco maior (10-15%) capaz de
só escrever lentamente ou de não escrever e ler textos simples, curtos. Das estimadas 100.000 pessoas de Pompéia,
havia 2.000 ou 3.000 alfabetizadas.” HORSLEY, R. A., op. cit., pág. 140. Ele argumenta que os números de
Pompéia não podem ser generalizados para as partes interioranas do Império e que de modo algum refletem a
situação global da época, sendo quase uma exceção, mostrando um número muito elevado de alfabetizados,
proporção que não existia em outras partes do mundo antigo. Ibidem, pág. 190. Esta porcentagem de alfabetizados
aplica-se também aos judeus, inclusive à época do Novo Testamento, ou melhor, principalmente a ela, pois nos
dias do Antigo Testamento os que podiam ser considerados alfabetizados estavam quase que exclusivamente
restritos aos oficiais da religião judaica. Veja ainda: “Como a taxa de alfabetização nunca ultrapassou cerca de dez
por cento, durante a época em que os documentos do NT foram redigidos, é lógico que a maioria das pessoas,
quando desejava que alguma coisa fosse escrita, recorria a um escriba, um escritor profissional.”
WITHERINGTON, B, III., História e Histórias do Novo Testamento, pág. 18.
22
ADAPTAÇÃO FONÉTICA. Este é um processo muito comum quando o nome que está sendo importado da
língua estrangeira será largamente usado no novo ambiente linguístico. Por exemplo, isto acontece com todos os
nomes de nações e com a maioria das grandes cidades do mundo. É imperativo observar que o “nome
propriamente dito” é adaptado foneticamente e que substantivos e adjetivos podem ser traduzidos. Por exemplo, os
nativos norte-americanos chamam o país deles de “United States of America”, e nós traduzimos o substantivo e o
adjetivo “Estados Unidos”, e adaptamos o nome “América”, chamando de “Estados Unidos da América”; eles
chamam de “New York” à sua cidade e nós de novo traduzimos o adjetivo e adaptamos o nome, chamando de
“Nova Iorque”. Outro exemplo, o nativo inglês chama o seu país de “England” e nós adaptamos o nome “Eng”
para “Ingla” e traduzimos o substantivo “land”, chamando de “Inglaterra”. Poderíamos multiplicar quase
infinitamente os exemplos, mas não é necessário. Isto ocorre também com nomes de pessoas famosas, como o
alemão “Martin Luther” é chamado em português de “Martinho Lutero”; o romano “Carolus Magnus” é chamado
de “Carlos Magno” em português, de “Charlemagne” em francês e de “Karl der Grosse” em alemão. De novo, este
processo quanto a nomes próprios de pessoas famosas é bastante comum. Em nenhum caso isto é considerado
tradução, mesmo no caso dos topônimos (apesar de haver uma parte do nome traduzida), mas adaptação fonética,
ou seja, é simplesmente adaptação do nome às regras fonéticas da nova língua,
Este processo é muito comum na Bíblia, com referência a locais e nomes próprios. Absolutamente todos
os nomes bíblicos, seja de lugares seja de pessoas, estão adaptados para a língua na qual a Bíblia está
traduzida. A antiga versão em inglês King James Version verteu os nomes do hebraico e grego sem fazer tais
adaptações à língua inglesa, mas preferiu a transliteração. Sugiro consultar a versão citada para uma compreensão
real do assunto.
23
É necessário explicar, depois de explicado o que é uma “adaptação fonética”, o que é uma “tradução” e uma
“transliteração”.
TRADUÇÃO. O verbo “traduzir” é definido pelo Dicionário Michaelis como “v. 1. Tr. dir. Verter de uma
língua para outra. 2. Tr. dir. Interpretar...”; o Dicionário Novo Aurélio diz: “[do latim traducere, conduzir além,
transferir] V. t.d. 1. Transpor, trasladar de uma língua para outra (O rapaz traduz bem o inglês); (...) T. d. i. 4.
Trasladar de uma língua para outra, verter: Traduz em nossa língua autores ingleses; ´Há meses a sociedade
Amigos do Livro Americano traduziu para o espanhol dois romances totalmente inofensivos´.” Traduzir é,
portanto, transferir o conteúdo semântico de uma língua para outra. A tradução ocorre quando um conteúdo
linguístico é tranposto de uma língua para outra língua, como ocorre, por exemplo, em Gênesis 1.1, em que o
conteúdo linguístico do original hebraico é trasladado (ou traduzido, ou vertido) para o português (e pode ocorrer
várias traduções diferentes, veja as versões RA, NTLH, BJ, entre várias outras), como no exemplo abaixo
(lembrando que o hebraico se lê da direita para a esquerda, portanto, ao contrário do português, que se lê da
esquerda para a direita):
Europa com o cristianismo foi através da língua latina, e nesta língua soletrava-se o nome “Jesus”
como IESUS.
34º) Não nos interessa aqui a complexa história de formação da atual língua portuguesa e as
transformações fonéticas que cada palavra sofreu no decorrer dos anos. Interessante é apenas
observar que, em alguns casos, o fonema [i] do latim veio a transformar-se do fonema [ž] (letra “j”)
do atual português50. Então, do latim IESUS, passou a soletrar-se JESUS em português.

“Urah taw Mymsh ta Myhla arb tysarb” (Gn 1:1 BHS)

“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gn 1:1 RA)


“No começo Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1:1 NTLH)
“No princípio, Deus criou o céu e a terra.” (Gn 1.1 Bíblia de Jerusalém – BJ)

TRANSLITERAÇÃO. A transliteração é outro processo totalmente diferente, tanto da “adaptação fonética”,


como da “tradução”. “Transliterar” segundo o Dicionário Michaelis é “v. Tr. dir. Representar (os caracteres de um
vocábulo) por caracteres diferentes no correspondente vocábulo de outra língua”; o Dicionario Novo Aurélio diz:
“[de trans + lat. Littera, letra + ar] V. t. d. e i. Representar (os caracteres de um vocábulo) por caracteres diferentes
no correspondente vocábulo de outra língua”. Por outras palavras, é quando se substitui cada letra de um vocábulo
numa língua pelas letras correspondentes em outra língua, preservando a fonética e pronuncia na língua original,
mas com os caracteres da língua para a qual a palavra foi transliterada. O leitor de um idioma pode pronunciar a
fonética do outro idioma, lendo os caracteres conhecidos no seu idioma, porém só entenderá o que foi dito, se
conhecer o outro idioma. Por exemplo, a transliteração de Gênesis 1.1 é:

“Urah taw Mymsh ta Myhla arb tysarb” (Gn 1:1 BHS)


B’ereshit bara’ ‘elohim ‘et ha-shamaim we’et ha-‘erets (Transliteração)

Outro exemplo:

“roxa al yer hwhy dwdl rwmzm” (hebraico bíblico)


“Miz-mo-wer le-david yahweh ro-iy lo ‘eh-sar” (transliteração)

Somente com a transliteração o leitor de português é capaz de pronunciar o hebraico, mas se não conhecer o
idioma hebraico, não entenderá o que foi dito. Ocultei de propósito a referência bíblica, para mostrar a diferença
enorme entre traduzir e transliterar.
Um outro processo é a transliteração interlinear, ou seja, entre as linhas, seguindo a ordem dos vocábulos na
língua estrangeira. Neste caso específico do hebraico as palavras da transliteração são lidas da esquerda para a
direita. Veja o texto acima transliterado interlinearmente (lê-se da direita para a esquerda):

“roxa al yer hwhy dwdl rwmzm” (hebraico bíblico)


“ ‘eh-sar lo ro-iy yahweh le-david miz-mo-wer” (transliteração)

Neste caso acima, o leitor deve ler a transliteração segundo a ordem hebraica, da direita para a esquerda.
Se o leitor não conhece hebraico, ainda não sabe que texto está lendo. Agora apresentarei a tradução do
hebraico acima:

“roxa al yer hwhy dwdl rwmzm” (Sl 23.1 BHS)


“O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.” (Sl 23:1 RA)
“<Salmo de Davi.> O SENHOR é o meu pastor: nada me faltará.” (Sl 23:1 NTLH)
“Salmo. De Davi. Iahweh é meu pastor, nada me falta” (Sl 23.1 BJ)
“O senhor é o meu pastor, de nada terei falta” (Sl 23.1 NVI)

E ainda temos a tradução interlinear, que é quando a tradução segue palavra por palavra do original da língua
estrangeira, traduzindo literalmente cada palavra entre as linhas. Veja o texto acima (lê-se da direita para a
esquerda):

“roxa al yer hwhy dwdl rwmzm” (Sl 23.1 BHS)


35º) Como podemos perceber, é uma questão de adaptação do nome às regras fonéticas de
uma determinada língua. Por exemplo, em inglês escreve-se JESUS da mesma forma que em
português, mas soletra-se (pronuncia-se) de modo diferente. A mesma coisa acontece com o
espanhol e o castelhano: a mesma grafia do português, mas com soletração diferente.
36º) Pronunciar o nome de Jesus como YEHÔSHUA não é pronunciar o nome verdadeiro, é
apenas fazer isto na antiga língua hebraica. Pronunciá-lo como YESHUA, porque era o idioma de

”faltará nada e meu pastor (é) o Senhor” de Davi Salmo

Veja abaixo o texto com a transliteração e a tradução interlineares (lê-se da direita para a esquerda):

“roxa al yer hwhy dwdl rwmzm” (Sl 23.1 BHS)


‘eh-sar lo ro-iy yahweh le-david miz-mo-wer” (transliteração)
“me faltará nada (e) meu pastor (é) o Senhor” de Davi Salmo (tradução)

Aqui o leitor tem uma visão clara da tradução, da transliteração e da adaptação fonética, em que o nome
próprio de Davi é adaptado à fonética portuguesa e o restante do texto traduzido.
Ao encontrar a tríade “eswhy – Yehôshua – Josué”, ou “ewsy – Yeshua – Jesua”, ou ainda “Ἰησου̂ς – Iesoûs
– Jesus” o leitor tem o original (hebraico, aramaico ou grego), uma transliteração do nome e a adaptação fonética
usada nas traduções portuguesas. As adaptações fonéticas de ewsy – Yeshua e Ἰησου̂ς – Iesoûs não necessitam
observação, mas a de eswhy – Yehôshua sim. Se fôssemos ser rigorosos quanto à adaptação fonética de eswhy –
Yehôshua esta deveria ser “JEOSUA” ou mesmo “JOSUA”, como, por exemplo, ocorre com o inglês
“JOSHUA”, e nunca “JOSUÉ”. A explicação para a adaptação portuguesa de eswhy – Yehôshua para JOSUÉ,
está nos pontos 21 e 32 do 1º Capitulo. Para uma analise das dificuldades da transliteração dos nomes próprios
bíblicos de pessoas e lugares, veja: GALBIATI, E. R. & ALESI, A. op. cit., págs. 14-16.
Para uma visão histórica da adaptação do nome em língua portuguesa, vale a pena observar que João Ferreira
de Almeida terminou a tradução do Pentateuco em 1683. Ele traduziu o Antigo Testamento até Ezequiel 48.12, em
1691, ano da sua morte. A primeira edição completa da Bíblia em Português em um único volume foi feita em
1819 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Nesta tradução o nome eswhy – Yehôshua é adaptado em
português como Josua em todas as ocorrências do nome, excessão feita aos livros de Números e Deuteronômio,
cuja adaptação é Josue (assim, sem acento); e aliás, é bom ressaltar que o nome do Livro de Josué é “O LIVRO
DE JOSUA”. A adaptação de ewsy – Yeshua nesta edição foi de Jesua, como nas traduções atuais, ou melhor, as
traduções atuais seguem a opção da antiga versão de 1819.
Veja abaixo como foram feitas as transliterações e as adaptações fonéticas de eswhy – Yehôshua, ewsy –
Yeshua e Ἰησου̂ς – Iesoûs, e por fim do latim Iesus para o português Jesus:
a) Para entender a transliteração e adaptação do nome “eswhy – Yehôshua – Josué”:
Jesus, é apenas soletrá-lo em aramaico. Exigir que se pronuncie IESOÛS, porque é a forma do
original grego do Novo Testamento, é somente falar este nome em língua grega, e assim por diante.
37º) O interessante é que Deus quer que este nome seja pronunciado ou soletrado em todas
as línguas que há debaixo da terra, com a fonética de cada língua, pois somente assim se cumprirá a
visão de João em Patmos, em Ap 5.6-10.
38º) O nome “JESUS” é o nome perfeitamente legítimo para nos referirmos ao Senhor e
Salvador da nossa vida. Ao soletrarmos (pronunciarmos) o nome “JESUS”, estamos apenas

b) Para entender a transliteração e adaptação do nome “ewsy – Yeshua – Jesua”:

c) Para entender a transliteração e adaptação do nome “Ἰησου̂ς – Iesoûs – Jesus:

24
Confira o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0 (o número que antecede o original seja hebraico, aramaico, ou grego
é o “NÚMERO STRONG”):
 03110 Nnxwy Yowchanan i
uma forma de 03076, grego 2491 Ioannhv; n pr m
Joanã =" Javé honrou"
1) um sacerdote durante o sumo-sacerdócio de Joaquim que retornou com Zorobabel
2) um capitão judaíta depois da queda de Jerusalém
3) o filho mais velho do rei Josias
4) um príncipe pós-exílico da linhagem de Davi
5) pai de Azarias, sacerdote na época de Salomão
6) um benjamita, um dos soldados das tropas de elite de Davi
7) um gadita, um dos soldados das tropas de elite de Davi
8) um exilado que retornou.
25
Confira o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0:
 2491 Ioannhv Ioannes
de origem hebraica 03110 Nnxwy; ; n pr m
João =" Jeová é um doador gracioso"
adaptando o nome à fonética da nossa língua. Pronunciar o nome do Nosso Salvador como
Yehôshua ou Yeshua é pronunciá-lo com a fonética da língua hebraica (quer a mais antiga ou quer a
mais recente). Em algumas raras ocasiões especiais talvez seja permitido referir-se ao Nosso
Salvador usando uma das pronúncias hebraicas. Não se justifica, no entanto, usar a pronúncia
hebraica corriqueiramente. Percebemos que o próprio povo judeu e os autores do Antigo
Testamento hebraico alteraram a soletração (pronúncia) do antigo Yehôshua para o recente Yeshua,
e que fora da Palestina os judeus usaram a Septuaginta e com ela adotaram a soletração grega

1) João Batista era filho de Zacarias e Elisabete, e o precussor de Cristo. Por ordem de Herodes Antipas, foi
lançado na prisão e mais tarde decapitado.
2) João, o apóstolo, escritor do quarto evangelho, filho de Zebedeu e Salomé, irmão de Tiago. É aquele discípulo
(sem menção do nome) chamado no quarto evangelho de "o discípulo amado" de Jesus. De acordo com a opinião
tradicional, é o autor do Apocalipse.
3) João, cognominado Marcos, companheiro de Barnabé e Paulo #At 12.12.
4) João, um membro do Sinédrio #At 4.6.
26
Por causa dos originais do Antigo e Novo Testamentos, procurarei, ao citar um texto daqui pra frente, copiar
também o hebraico e o grego dos textos.
27
“JOSUÉ – 1. Josué ben Num, neto de Elisama, chefe de Efraim (1Cr 7.27, Nm 1.10), foi chamado por sua família
de ‘Oséias’, ‘salvação’ (Dt 32.44, Nm 13.8); esse nome ocorre na tribo de Efraim (vd 1Cr 27.20; cf. 2Rs 17.1, Os
1.1). Moisés adicionou o nome divino, chamando-o de yehôshua‘, normalmente transliterado em português por
Josué. O termo grego Iêsous reflete a contração aramaica, Yeshü‘.” (cf. Ne 3.19, etc).” DOUGLAS, J. D. Ed., O
Novo Dicionário da Bíblia, pag. 869.
Veja também: “JOSUÉ. O Senhor é a minha salvação. Também JESUA, O Senhor é a minha salvação. 1. O
heróico filho de Num, da tribo de Efraim, foi primitivamente chamado Oséias, ‘salvação’, ou ‘bem-estar’, e Jeosué
“Deus é a minha salvação”. Jesus, como equivalente grego de Josué, acha-se em At 7.45 e Hb 4.8.” BUCKLAND,
A. R. Ed., Dicionário Bíblico Universal, pág. 246.
28
Confira o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0:
 03091 ewvwhy Yehowshuwa‘ ou evwhy Yehowshu‘a
procedente de 03068 e 03467, grego 2424 Ihsouv e 919 barihsouv;
Josué =" Javé é salvação" n pr m
1) filho de Num, da tribo de Efraim, e sucessor de Moisés como o líder dos filhos de Israel; liderou a conquista de
Canaã
2) um habitante de Bete-Semes em cuja terra a arca de aliança foi parar depois que os filisteus a devolveram
3) filho de Jeozadaque e sumo sacerdote depois da restauração
4) governador de Jerusalém sob o rei Josias o qual colocou o seu nome em um portão da cidade de Jerusalém
Veja as duas raízes que formam o nome ewvwhy Josué: procedente de 03068 Javé e 03467 salvar
 03068 hwhy Yehovah
procedente de 01961; DITAT-484a; n pr de divindade
Javé =" Aquele que existe"
1) o nome próprio do único Deus verdadeiro
1a) nome impronunciável, a não ser com a vocalização de 0136
 03467 evy yasha‘
uma raiz primitiva, grego 5614 wsanna; DITAT-929; v
1) salvar, ser salvo, ser libertado
1a) (Nifal)
1a1) ser liberado, ser salvo, ser libertado
1a2) ser salvo (em batalha), ser vitorioso
1b) (Hifil)
1b1) salvar, libertar
1b2) livrar de problemas morais
1b3) dar vitória a.
29
“JESUA. Esta é uma forma posterior do nome Josué (o mesmo indivíduo é chamado de Jesus em Neemias e
Esdras, e de Josué em Ageu e Zacarias). Há dúvidas sobre quantos Jesuas são mencionados no Antigo Testamento,
(pronúncia) Iesoûs. O próprio povo judeu do Antigo Testamento adaptou os nomes à fonética dos
novos ambientes linguísticos em que se encontravam. Os judeus do Novo Testamento tiveram o
mesmo comportamento, chamando de Iesoûs o filho de Num (At 7.45 e Hb 4.8) e também Iesoûs ao
Nosso Salvador51, e a Igreja Cristã mais tardiamente ainda passou a usar o latim e adotou a
soletração Iesus. Deste modo, é perfeitamente legítimo adaptar o nome do Nosso Salvador à
fonética da nossa língua e chamá-lo “JESUS”.

mas os que apresentamos abaixo são os que talvez possam ser distinguidos.
1. O chefe de uma turma de sacerdotes (1Cr 24.11). 2. Um levita mencionado na reorganização efetuada por
Ezequias (2Cr 31.15). 3. O sumo sacerdote também chamado de Josué (Ed 2.2, etc). 4. Um homem de Paate-
Moabe, que retornou do exílio em companhia de Zorobabel (Ed 2.6). 5. Um cabeça de uma casa de sacerdotes
associados com os filhos de Jedaías (Ed 2.36). 6. Um levita, Jesus, filho de Azanias (Ne 10.9). 7. Um dos chefes
do levitas, filho de Cadmiel (Ne 12.24; o texto deste versículo talvez tenha sido corrompido). 8. Pai de Eser,
governador de Mispá (Ne 3.19). 9. Filho de Num (Ne 8.17).
É claro que o nome era comum no tempo do retorno dos exilados da Babilônia. Porém, pouco nos é dito sobre
os portadores desse nome, sendo possível que alguns desses na lista devam ser identificados com outros.”
DOUGLAS, J. D. Ed., op. cit., pág. 811.
Confira ainda o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0:
 03442 ewvy Yeshuwa‘
para 03091;
Jesua =" ele está salvo"
n pr m
1) filho de Num, da tribo de Efraim, e sucessor de Moisés como o líder dos filhos de Israel; liderou a conquista de
Canaã
2) filho de Jozadaque e sumo sacerdote depois da restauração
3) um sacerdote na época de Davi encarregado do 9o. turno
4) um levita no reinado de Ezequias
5) líder de uma casa levítica que retornou do cativeiro na Babilônia
6) pai de um construtor do muro de Jerusalém na época de Neemias
n pr loc
7) uma cidade ao sul de Judá reabitada pelo povo de Judá após o retorno do cativeiro

30
Veja que em Ageu e Zacarias (livros escritos depois do exílio babilônico) o nome do sumo-sacerdote é
unicamente soletrado como Yehôshua: Ag 1:1, 12, 14; 2.2, 4; Zc 3.1, 3, 6, 8, 9, 11.
31
Veja agora que em Esdras e Neemias (também escritos depois do exílio babilônico) o seu nome é unicamente
soletrado como Yeshua: Ed 3.2, 8, 9; 4.3; 5.2; 8.33; 10.18; Ne 7.7; 12.1, 26.
32
Dito assim, “escritos pré-exílio babilônico” a questão parece soar livre de questões e controvérsias, mas a
realidade é muito diferente, pois os problemas se multiplicam referentes à autoria, data, fontes, redação, intenção e
todos as questões introdutórias aos escritos. Para uma visão crítica sugiro a leitura de SELLIN-FOHRER,
Introdução ao Antigo Testamento, vol. 1, págs. 132-336.

33
Veja as referências: Ex 17.9, 10, 13, 14; 24.13; 32.17; 33.11; Nm 11.28; 13.16; 14.6, 30, 38; 26.65; 27.18, 22;
32.12, 28; Dt 1.38; 3.28; 31.3, 7, 14, 23; 34.9; Js 1.1, 10, 12, 16; 2.1, 23, 24; 3.1, 5, 6, 7, 9, 10; 4.1, 4, 5, 8, 9, 10,
14, 15, 17, 20; 5.2, 3, 4, 7, 9, 13, 14, 15; 6.2, 6, 8, 10, 12, 16, 22, 25, 26, 27; 7.2, 3, 6, 7, 10, 16, 19, 20, 22, 23, 24,
25; 8.1, 3, 9, 10, 13, 15, 16, 18, 21, 23, 26, 27, 28, 29, 30, 35; 9.2, 3, 6, 8, 15, 22, 24, 27; 10.1, 4, 6, 7, 8, 9, 12, 15,
17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 31, 33, 34, 36, 38, 40, 41, 42, 43; 11.6, 7, 9, 10, 12, 13, 15, 16, 18, 21, 23;
12.7; 13.1; 14.1, 6, 13; 15.13; 17.4, 14, 15, 17; 18.3, 8, 9, 10; 19.49, 51; 20.1; 21.1; 22.1, 6, 7; 23.1, 2; 24.1, 2, 19,
21, 22, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 31; Jz 1.1; 2.6, 7, 8, 21, 23; 1Sm 6.14, 18; 1Rs 16.34; 2Rs 23.8
34
Estes escritos compõem o bloco que os especialistas chamam de Obra Historiográfica Cronista. “1. Unidade,
inversão e divisão. – É universalmente reconhecido que os livros de 1-2Cr, Esdras e Neemias foram elaborados
como uma unidade literária a que se deu o nome de história cronística. Esta obra nos oferece uma visão global de
toda a história de Israel, com suas etapas iniciais, desde a criação do mundo até à época de Esdras e Neemias. Seu
redator, o Cronista, aparece como o autor do conjunto justamente pela unidade da línguagem, do estilo e do
método de trabalho, como também pelo universo de suas ideias sempre iguais e que gravitam em torno do templo,
do culto, da lei do instituto dos levitas e da dinastia davídica. Além disso, esta conexão original também se percebe
a partir do fato de que a conclusão dos livros das Crônicas, ou seja, 2Cr 36.22s, coincide quase literalmente com
Esd 1.1-3. Isto vem confirmar a suposição, aliás evidente em si mesma, de que a sequência correta dos livros deve
ser Crônicas-Esdras-Neemias, ao contrário do cânon hebraico (Esdras-Neemias-Cronicas). (...) 3. Conteúdo e
Objetivos. – O conteúdo dos livros, que só se pode indicar em suas grandes linhas, revela os objetivos da obra. Ao
contrário do reino ateu do norte, o reino de Judá, com a dinastia davídica e o templo de Jerusalém, é o verdadeiro
Israel e o depositário da soberania divina, que se realizou no reino davídico. Sua herdeira legítima não e a
comunidade samaritana que estava então se formando, mas a comunidade cultual de Jerusalém, depois de sua volta
do exílio, a comunidade que preserva e continua essa tradição. (...) 4. Origem. – Para se determinar a época de
origem da obra cronística é preciso ter em conta, em primeiro lugar, que esta obra conhece todo o Pentateuco,
inclusive o documento sacerdotal já então utilizado. Em segundo lugar, a obra pressupõe a atividade de Esdras e
Neemias, a qual deve mesmo ter ficado para trás desde há muito, pois o cronista pode agir arbitrariamente com a
tradição referente aos mesmos. Evidentemente que a atuação destes dois homens é datada de maneira muito
diferente. Se o trabalho de Neemias se desenvolveu nos anos 445-432 e o de Esdras a partir de 398 – como parece
muitíssimo provável – o Cronista deve situar-se, quando menos, na segunda metade do século IV a.C. Tendo em
vista que, apesar do antagonismo mais antigo entre a comunidade jerosolimitana e Samaria, a atenção do Cronista
está voltada concretamente para a comunidade samaritana que surgiu depois de 350, a redação de sua obra deve ter
sido executada por volta de 300 a.C. Que ela tenha surgido em Jerusalém deduz-se por si mesmo, a partir da
própria exposição.” SELLIN-FOHRER, op. cit. , vol. 1, pags. 337-339.

35
Yeshua. Veja as referências: 1Cr 24:11; 2Cr 31:15; Ed 2:2, 6, 36, 40; 3:2, 8, 9; 4:3; 5:2; 8:33; 10:18; Ne 3:19; 7.7,
11, 39, 43; 8.7, 17; 9.4, 5; 10.9; 11.26; 12.1, 7, 8, 10, 24, 26. Observação muito útil é que tirante estes textos
(escritos depois do exílio babilônico), o nome Yeshua não ocorre mais no original hebraico do Antigo Testamento.
Observação muito útil também é que em Esdras e Neemias só ocorre a soletração aramaica YESHUA.

36
Yehôshua. Veja as referências: 1Cr 7.27; Ag 1:1, 12, 14; 2.2, 4; Zc 3.1, 3, 6, 8, 9, 11. Destas referências a única
que se refere a Oséias, Filho de Num, servidor de Moisés é 1Cr 7.27. Agora verifique que em Ageu e Zacarias só
ocorre a soletração YEHÔSHUA. Vale a pena ressaltar que nos livros das Crônicas ocorrem as duas soletrações:
YESHUA em 1Cr 24.11 e 2Cr 31.15; e YEHÔSHUA em 1Cr 7.27. Considerando-se que o autor da Obra
Historiográfica Cronística (1Cr e 2Cr, Ed e Ne) é o mesmo, podemos ver que ele usou as duas soletrações: a) em
um único lugar da sua tradição Yehôshua (1Cr 7.27); b) e Yeshua em todas as outras ocorrências do nome.
Podemos assim fazer um quadro compreensivo das duas soletrações no hebraico pós-exílico: Na Obra
Historiográfica Cronística prevalece o uso da soletração aramaica Yeshua (com apenas uma ocorrência da
soletração hebraica Yehôshua, em 1Cr 7.27) e em Ageu e Zacarias prevalece unicamente a soletração hebraica
Yehôshua.

37
Declinações: a declinação serve para indicar a função sintática da palavra na oração: se a palavra é sujeito, objeto
direto ou indireto, etc. O alemão atual, o grego atual, e o latim são exemplos de línguas que usam a declinação
para indicar a função sintática da palavra na frase. Em português nós não temos declinação, mas ela existia no
latim. Dando um exemplo: em português se falarmos: “o amigo o homem soltou”, ficamos sem saber quem soltou
quem. A função sintática em português é reconhecida pela posição que a palavra ocupa na frase: “o amigo soltou o
homem”, temos o amigo como sujeito e o homem como objeto; já em “o homem soltou o amigo”, as funções são
invertidas. Numa língua em que se usa a declinação, independente da ordem das palavras, a função é determinada
pela desinência de caso. Exemplo: em “o amigo soltou o homem”, em grego fica assim: “τόν ἄνθρωπον ὁ φίλος
ἔλυσεν”. Já para “o homem soltou o amigo”, fica assim: “ὁ ἄνθρωπος τὸν φίλον ἔλυσεν”.
38
VULGATA LATINA: “Duas são as versões latinas que se distinguem: a Antiga Latina, que engloba todas as
traduções feitas até o século IV, e a Vulgata Latina, preparada por Jerônimo entre 383 e 405. As evidências
indicam que as primeiras traduções latinas começaram no norte da África, provavelmente em Cartago, um dos
centros da cultura romana, e, pelos indícios de textos latinos que há nos escritos de Tertuliano, essas traduções
remontam ao último quartel do século II. Pouco depois, talvez já no século III, outras traduções começaram a
surgir na Europa, em países como Itália, Gália e Espanha, onde o grego, que predominara até então, começava a
ser superado pelo latim. A Antiga Latina, portanto, está dividida em duas famílias ou grupos de traduções: a
africana, mais antiga e mais livre em relação ao original, e a europeia, que, embora não tenha surgido sem
conhecimento e utilização do texto africano, não consiste em mera recensão deste, senão em nova tradução. Às
vezes se tem falado ainda numa terceira família, a italiana, que teria surgido no século IV provavelmente para
amenizar as diferenças entre as traduções africanas e européias. Boa parte dos críticos, porém, questiona essa
tríplice divisão, argumentando que o suposto texto italiano representa apenas uma forma da Vulgata Latina. São
conhecidos até o momento cerca de 70mms. e fragmentos da Antiga Latina, dos quais nenhum possui o NT
completo...” PAROSCHI, WILSON. op. cit., pág. 62.
39
“As características do aramaico ocidental são hoje melhor conhecidas graças ao crescente número de inscrições
encontradas na cidade de Jerusalém, em tumbas, sarcófagos, ossários e outros objetos. O NT conserva expressões
aramaicas como Talitha koum (Mc 5.41), Maranatha (1Co 16.22), Effatha (Mc 7.34) e Eloi eloi lema sabakthani
(Mc 15.34), assim como nomes próprios e topônimos tais como Hacéldama, Golgota, Getsemani e Betesda. Jesus
e seus discípulos falavam o dialeto galileu, diferente do falado em Judá (Mt 26.73). As cartas de Bar Kokba
(132d.C.), junto com a literatura aramaica e as inscrições nos ossários e tumbas antes citados, constitui uma fonte
importante para o conhecimento do dialeto galileu (Kutscher)”. BARRERA, J. T., op. cit., págs. 80-81.
40
Confira o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0:
 2501 Iwshf Ioseph
de origem hebraica 03130 Powy; ; n pr m
José =" deixe-o acrescentar"
1) o patriarca, o décimo primeiro filho de Jacó
2) o filho de Jonã, um dos antepassados de Cristo, #Lc 3.30
3) o filho de Judá [ou Judas; preferível Jodá] outro antepassado de Jesus, #Lc 3.26
4) o filho de Matatias, outro antepassado de Cristo, #Lc 3.24
5) o marido de Maria, a mãe de Jesus
6) um meio-irmão de Jesus #Mt 13.55
7) José de Arimatéia, membro do Sinédrio, que favoreceu Jesus. #Mt 27.57,59; Mc 15.43,45
8) José, cognominado Barnabé #At 4.36
9) José, chamado Barsabás e cognominado Justo, #At 1.23
Veja a origem hebraica deste nome também em BOL 3.0:
 03130 Powy Yowceph
futuro de 03254, grego 2501 Iwshf; n pr m
José =" Javé adicionou"
1) o filho mais velho de Jacó com Raquel
2) pai de Jigeal, que representou a tribo de Issacar entre os espias
3) um filho de Asafe
4) um homem que casou com uma esposa estrangeira na época de Esdras
5) um sacerdote da família de Sebanias na época de Neemias.
41
“AT Iesous é a forma gr. do antigo nome judaico Yeshua‘, forma esta que se obtém mediante a transcrição do
heb., acrescentando-se um –s para facilitar a declinação. Yeshua‘ (Josué) segundo parece, veio a ter uso geral perto
dos tempos do exílio da Babilônia, substituindo a forma mais antiga yehôshûa‘. A LXX interpretava tanto a forma
mais antiga como a mais recente, de modo uniforme, como Iesous. Josué, filho de Num que, segundo a tradição,
era o sucessor de Moisés e que completou a obra deste mediante a ocupação da terra prometida pelas tribos de
Israel, aparece com esta forma do nome transcrito. (cf. Ex 17.8-16, 24.13, 32.17, 33.11, Nm 11.27 e segs.; 13.8,
14.6-9, 30-38, 27.28, 21 e segs.; Dt 31.3, 7, 8, 14-15, 23, 34.9, e no livro de Josué). É o nome mais antigo que se
forma com o nome divino Javé, e significa “Javé é socorro” ou “Javé é salvação” (cf. o verbo iâsha‘, “ajudar”,
“socorrer”, “salvar”). Além disto, “Josué” aparece também numa passagem pós-exílica do AT heb. (Ne 8.17)
como Yeshua‘, filho de Num, e não yehôshûa‘, que é que consta dos textos mais antigos.
Entre os judeus da Palestina, assim como entre os judeus da dispersão, o nome “Jesus” era distribuído de modo
geral durante o período pré-cristão e na parte anterior da era cristã. De acordo com Aristéias 48-49 (século ii a.C.,
disputa-se a fixação mais precisa da data), também era o nome de dois dos estudiosos da Palestina que se
dedicavam à versão do Pentateuco heb. para o Gr. na Alexandria. Cronologicamente, talvez possamos recuar para
um tempo mais remoto com a ajuda de Jesus ben Siraque, o autor do Livro de Siraque (Eclesiástico) nos Apócrifos
(cf. Sir. 50.27). O historiador judaico Flávio Josefo que vivia no século I d.C., e que pertencia a uma família
sacerdotal da Palestina, menciona nada menos do que 19 pessoas com o nome “Jesus”, nos seus escritos
volumosos em Gr. Estes surgem na História, tanto recente quanto antiga, do povo dele, e cerca de metade eram
contemporâneos de “Jesus o assim chamado Cristo” o qual ele menciona também (Ant., 20, 9, 1). Além disso,
porém, o nome também ocorre neste período em numerosos textos não judaicos, inclusive inscrições em túmulos,
(em Leontópolis ou Tell el-Yehudieh ao nordeste de Cairo, ZNW 22, 1923, 283) e em ossuários da vizinhança de
Jerusalém. Alguns destes estão escritos em Heb. ou Aram., outros em Gr. Um exemplo tem o nome Yêshûa‘ bar
Yehôsêp, “Josué filho de José” (E. L. Sukenik, Jüdische Gräber Jerusalems um Christi Geburt; 1931, 19-20, ver
também as ilustrações).
NT 1. O NT facilmente se encaixa neste quadro, que demonstra que o nome “Jesus” era muito divulgado entre
os judeus nos tempos de Jesus de Nazaré e Seus discípulos. Assim, na genealogia de Jesus que Lucas registra
(3.29), é o nome de um dos ancestrais dEste, sem este fato ser notado como coisa extraordinária. Cl 4.11 menciona
um cristão judeu com o nome de “Jesus”, e este, conforme o costume da época e, talvez também como cidadão
romano, tinha um segundo nome, não semítico, “Justo”. À luz daquilo que já foi dito, é natural que Josué
aparecesse como “Jesus” no NT (At 7.45; Hb 4.8). Há indicações que parecem ser claras, de que Barrabás, o
Zelote, que Pilatos colocou como escolha alternativa com Jesus para o povo, tinha “Jesus” como seu primeiro
nome. A tradição textual de Mt 27.16-17 torna claro que a conexão do nome com este homem já fora encarada
como dificuldade num período relativamente primitivo. Assim a maioria dos MSS, inclusive alguns muito antigos
e valiosos, suprime este nome. Exemplos de outras alterações com a tradição original podem ser suspeitadas como
prováveis numa série de trechos do NT, onde a tradição combinada já não registra o nome “Jesus” (cf. Lc 3.29, At
7.45, 13.6, Cl 4.1, juntamente com , especialmente, Mc 15.7, Fm 23-24; cf. A. Deissmann, em G. K. A. Bell e A.
Deissmann, eds., Mysterium Christi, 1930, 18 e segs.). O motivo aqui é claramente profunda reverência para com
o nome de Jesus, pensa-se que o nome não deve ser permitido para qualquer outro a não ser “Jesus”, o Autor e
Consumador da nossa fé (Hb 12.2). A reverência para com o nome de Jesus tinha como seu ponto culminante
lógico – e isto dentro de pouquíssimo tempo – a renúncia quase geral, da parte dos cristãos, de continuar a
empregá-lo como nome secular. Não é menos significativo, porém que o nome “Jesus” já ficara incomum como
nome pessoal entre os judeus também, até o final do século I d.C., No seu lugar, o nome veterotestamentário
yehôshûa‘ reapareceu com uma distribuição bem divulgada, acompanhado pelo nome Iasôn como equivalente gr.
entre os judeus da dispersão, entre os quais, no decurso da assimilação, este último nome já tinha sido adotado
havia muito tempo (cf. Aristóteles 49; Josefo, Ant. 12,10,6).
Há, no mesmo contexto, o fato de que o judaísmo talmúdico logo se acostumou, quando era obrigado a
mencionar o nome de Jesus de Nazaré, a se referir a ele como Yeshû e não como Yêshûa‘. Embora a razão disto
talvez se ache no fato meramente externo de que os cristãos se referiam ao seu Senhor com o nome de Yeshû
(deixando de lado o a‘ da forma básica hebraica), também é uma expressão, não somente da antipatia judaica,
como também de até que ponto este nome, entre todos os nomes, se tornara exclusivo entre os cristãos.
2. Conforme Mt 1.21 e Lc 1.31, o nome de Jesus foi determinado por instruções celestiais dadas ao pai
(Mateus) ou à mãe (Lucas). Neste contexto, Mateus também dá uma interpretação do nome “Jesus”. Ao mesmo
tempo descreve a tarefa futura do filho de Maria: “ele salvará o seu povo dos pecados deles”. Esta interpretação
certamente se vincula com o significado do nome yehôshûa‘ (formado do Nome divino e shua‘, da raiz ys‘) o que,
conforme mostramos, continua a subsistir no Gr. Iesous: “Javé é nosso Socorro”, ou “Javé é nosso Ajudador” (ver
M. Noth, Die israelitichen Personennamen im Rahmen der gemeinsemitischer Namengebung, 1928, 154). Filo, o
exegeta e filósofo religioso alexandrino, atesta que o nome era perfeitamente bem conhecido neste período,
quando interpreta como segue o nome de Josué: Iesous sôtêria kyriou, “Jesus significa ‘salvação mediante o
Senhor’” ” BROWN, C. Ed., O Novo Dicionário de Telogia Internacional do Novo Testamento, Vol. 2, pág. 484-
486.
Veja também: “JESUS CRISTO. 1. Nome. O gr. iesus corresponde ao hebr. e aramaico yeshû‘a, forma tardia
do hebr. yehôshû‘a. O nome Josué era muito comum nos tempos do NT. Em Mt 7.21 e Lc 2.21, se alude ao
significado do nome (“Iahweh é salvação”): o título do Salvador foi um dos títulos cristãos de Jesus. O gr. christos
traduz o hebr. mashî’ah, ‘o ungido’: com esse nome, os cristãos confessavam sua fé na messianidade de Jesus.”
McKENZIE, J. L., op. cit., pág. 479.
Veja ainda: “Jesus. Este nome vem da transcrição grega (Ἰησοῦς) do hebr. yêshûa‘, forma tardia de y ehôshûa‘
ou yôshûa‘, nome judaico frequente (Javé é, ou dá salvação). As seguintes pessoas bíblicas têm esse nome: Josué
(Jos passim, 1Mac 2.55; At 7.45, Hb 4.8); um levita do tempo de Ezequias (2Cr 31.15); um sacerdote (1Cr 24.11);
vários contemporâneos de Zorobabel (Ed 2.6), Esdras (3.9) e Neemias (8.7); o sumo sacerdote – Josué (Zc 3.1,
etc); um dos antepassados de Jesus Cristo (Lc 3.29); cf. ainda Jesus, filho ou neto de Sirac (Eclo 50.27), Jesus o
Justo, um colaborador de São Paulo (Cl 4.11), Jesus Cristo. As palavras do anjo em Mt 1.21 aludem ao sentido do
nome hebraico: ele (Jesus) há de libertar seu povo, já não de inimigos políticos (Sl 17.22,24s) mas dos seus
pecados (Sl 130.8).” BORN, A. VAN DEN, Ed., Dicionário Enciclopédico da Bíblia, pág. 778.
Confira ainda o Dicionário Eletrônico de BOL 3.0:
 2424 Ihsouv Iesous
de origem hebraica 03091 ewvy; TDNT-3:284,360; n pr m
Jesus =" Jeová é salvação"
1) Jesus, o filho de Deus, Salvador da humanidade, Deus encarnado
2) Jesus Barrabás era o ladrão cativo que o judeus pediram a Pilatos para libertar no lugar de Cristo
3) Jesus [Josué] era o famoso capitão dos israelitas, sucessor de Moisés (#At 7.45, Hb 4.8)
4) Jesus [Josué], filho de Eliézer, um dos ancestrais de Cristo (#Lu 3:29)
5) Jesus, de sobrenome Justo, um cristão judeu, cooperador de Paulo na pregação do evangelho (#Cl 4.11)
42
“A língua original do NT é o grego, embora os logia ou ditos de Jesus e outras partes do NT tenham sido
transmitidos, por algum tempo, em aramaico (ou hebraico).” BARRERA, J. T., op. cit. pág. 83. O grifo é meu.
Para uma discussão bem elaborada do assunto da língua do Novo Testamento, sugiro ver KOESTER, HELMUT,
op. cit., vol. 1, págs 112-123.
44
Black, M., Martini, C. M., Metzger, B. M., & Wikgren, A. (1993, c1979). The Greek New Testament (electronic
ed. of the 4th ed.) (Lc 3.29). Federal Republic of Germany: United Bible Societies.
45
Black, M., Martini, C. M., Metzger, B. M., & Wikgren, A. (1993, c1979). The Greek New Testament (electronic
ed. of the 4th ed.) (At 7:44-45). Federal Republic of Germany: United Bible Societies.
46
Black, M., Martini, C. M., Metzger, B. M., & Wikgren, A. (1993, c1979). The Greek New Testament (electronic
ed. of the 4th ed.) (Hb 4:8). Federal Republic of Germany: United Bible Societies.
47
A versão hebraica de Mateus 1.1 foi copiada da Bíblia Eletrônica E-SWORD, e a tradução é minha.

48
Há um livro muito importante que sugere como foram as missões cristãs nos três primeiros séculos:
HOORNAERT, E. A MEMÓRIA DO POVO CRISTÃO, Petrópolis, Editora Vozes, 1986, 263. Neste livro temos
uma visão menos poética da expansão do cristianismo nascente. Vale a pena ser lido.
49
Confira alguns sites para conhecer a História da Língua Portuguesa:
http://www.línguaportuguesa.ufrn.br/pt_2.php;
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3696;
http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/historia-da-língua-portuguesa.html.
50
Seria necessário um estudo profundo e prolixo para detalhar as mudanças fonéticas do latim para o atual
português, e este não é o nosso interesse aqui. Quanto especificamente ao caso da mudança da pronúncia [i] da
letra (j) para a pronúncia [ž] atual, o processo foi basicamente este:
 “No latim clássico I representava a vogal [i] (a semivogal [j] não existia ainda e veio a ser criada na Idade
Média).
 A letra J: esta letra não existia em latim clássico, foi criada na Idade Média para fazer diferença entre o i
vogal e o i consonântico para o que muitos i latinos foram evoluindo.
 Nos grupos escritos ci, ce e gi, ge, as consoantes c e g pronunciavam-se em latim clássico como as iniciais
das palavras portuguesas quilha, queda e guizo, guerra, ou seja, eram oclusivas velares.
 Mas em latim imperial o ponto de articulação destas consoantes aproximou-se do ponto e articulação das
vogais i e e que se lhes se guiam, isto é, da zona palatal, levando à ronúncia: [kyi], [kye] e [gyi], [gye]. Esta
palatalização iniciou-se já na época imperial em quase toda a România e iria ocasionar modificações importantes:
[kyi], [kye] passaram a [tši], [tše] e, finalmente, a [tsi], [tse]; ex.: ciuitātem > port. cidade, centum > port. cento,
reduzido a cem.
 Para os grupos gi, ge o resultado da palatalização será inicialmente um yod puro e simples [y] que
desaparece em posição intervocálica; ex.: regina > port. rainha, frigidum > port. frio. Mas, em posição inicial, este
yod passa a [dž]; ex.: gente (donde o g representa na Idade Média [dž]). O yod inicial saído de gi, ge confundiu-se,
pois, com o que provinha diretamente do latim clássico e que, naturalmente, também deu [dž]; ex.: iulium > port.
julho.
 Em galego português medieval os grupos gi, ge e ju eram pronunciados em todas estas palavras [dži],
[dže] e [džu]. Em várias outras palavras um i ou um e não tônicos, seguidos de uma vogal, eram pronunciados yod
em latim imperial; ex.: pretium, platea, hodie, video, facio, spongia, filium, seniorem, teneo. Resultaram daí os
grupos fonéticos [ty], [dy], [ly] e [ny] que se palatalizaram em [tsy] e [dsy], [lh] e [nh].
 Para os grupos [ky], [gy], ex.: facio, spongia, a palatalização chega inicialmente a [tšy] e [džy], mas os
resultados definitivos serão complexos, pois dependerão da posição na palavra e do caráter mais ou menos popular
dessa palavra. Ter-se-á, por exemplo, pretium > port. preço, pretiare > port. prezar, platea > port. praça, hodie >
port. hoje, medium > port. meio, video > port. vejo, facio > port. faço, spongia > port. esponja. Em galego-
português medieval as letras c, z e j representavam, respectivamente, em todas estas palavras, as africadas [ts], [dz]
e [dž]. Na origem destas transformações fonéticas há sempre, em latim imperial, uma palatalização.” P.
TEYSSIER, História da língua portuguesa, págs. 11-12.
Veja ainda:
 “CONSONANTIZAÇÃO DAS SEMIVOGAIS
o h.1) /w/ > [β] ou [v]: transformação do u-semivogal em consoante bilabial fricativa ou fricativa
labiodental sonoras: uinu (LC) > vinu (LV) > vinu (sard.) > vino (it.) >vin (fr.) > vino (esp.) > vinho (port.) [u] [v]
[b] [v] [v] [β] [v]
o h.2) /j/ > [dž] ou [ž]: desenvolvimento de uma consoante palatal, a partir do i semivogal -
Período latino : o i-semivogal /j/ (iode) adquire uma pronúncia palatal, confundindo-se na pronúncia com o g(e,i)
 - Período românico – torna-se uma africada [dž] na România Oriental ou fricativa [ž] na România
ocidental
o - Ex: iulium > julho ; iustum > justo; ianuariu > janeiro
o - Ex: iugu (lt.) > juu (sard.) > giogo (it.) > jugo (port.)
o - [j] [dž] [ž]
 - A evolução do iode acarretou no surgimento das consoantes palatais, fricativas e africadas inteiramente
novas como veremos a seguir:
o i) PALATALIZAÇÃO por interferência do iode (grupos tj, kj, dj, lj, nj entre outros assumem
uma pronúncia palatal):
 I) /tj >tsj > tš > ts/ (chegando a [s] em português) : pretium > preço; fortia (L.V) > forza
(sard.) > forza (it.) > force (fr.) > fuerza (esp.) > força (port.) [ts] [ts] [s] [θ] [s]
 OBS: Em transcrições do século II d.C, vê-se crescentsianus (LV) por
crescentianus (LC.)
 II) /kj >tj > tsj > ts/ (chega também a [s] em português): facio> fatio > faço
 OBS: Confusões gráficas em II d.C mostram aproximação: terciae (L.V.) por
tertiae (L.C.), definicio por definitio
 III) /dj/ e /gj/ > /j/ > /dž/ (como ocorreu com /j/) ( > africada palatal /dž/ > fricativa
palatal /ž/ em português): hodie > hoje; video > vejo; medium > meio [dž] > 0
o OBS: Confusões aiutor por adiutor
 IV) /lj > l/: folia > folja > fola (folha); filium > filho
 V) /nj > h/: seniorem > senhor; teneo > tenho; vinea > vinha
 Síntese: [t,d,l,n] > [tš, dž, l, h] / - [j] e [k,g] > [tš, dž] / - [j]
o j) /ke,i/ > /ts/ e /ge,i/ > /dž/: PALATALIZAÇÃO das velares antes de vogais anteriores /e/ e
/i/
 “Em latim vulgar, a pronúncia das velares (também) passou a palatal diante das vogais anteriores”.
o K (e,i) > kj (e, i)
o g (e,i) > gj (e,i)
 Tal processo não foi idêntico em toda România.
o na Sardenha - desaparece o caráter palatal;
o na România Oriental (incluindo Itália do sul e centro) chega-se a uma africada [tš ] ou [tò];
o na România Ocidental, [tš ] ou [tò] evoluiu para [ts] e posteriormente para [s] ex: quinque (LC) >
*cinque (LV) > chimbe (sard.) > cinci (rom.) > cinque (it.) > cinq. (fr.) > cinco (port.) [k] [k] [tš] [tš] [s] [s] cella
(lt. ) > cela (português): [kela > kyela > tyela >tšela > tsela > sela]
o Ex: ciutatem > cidade gestum > gesto centum > cento > cem gente [g] > gente [dž] > [ž] (hoje em
port.) cera [K] > cera [tš]] ([ts] > [s] (hoje em port.).” Apostila da Profa. Célia Lopes da EFRJ
Veja mais:
“As mudanças ocorridas em posição inicial foram de três espécies: 1) /k/ - /g/, diante de /e,i/, quando eram pós-
palatais, e não velares, sofreram um processo de assimilação à vogal anterior que se lhes seguia, e se tornaram
anteriores, perdendo a oclusão; /g/ adquiriu afinal, no romanço lusitano, um som chiante, que até hoje conserva e é
uma das origens do fonema português /ž/; /k/ passou a constritiva [fricativa] dental, mas por muito tempo não se
confundiu com /s/, só com ele confluindo em época relativamente recente; gestum /gestum/ > gesto /žestun/,
cera /kera/ > cera /sera/; 2) /i/ consonântico evoluiu no romanço em geral para uma consoante plena, de caráter
palatal, que em português se fixou como /ž/, em confluência com o reflexo de /g(ei)/: iustum > justo; 3) /ụ/
consonântico sofreu processo análogo de consonantização, ainda em latim depois do período áureo, e introduziu
no sistema de consoantes latinas a labiodental sonora /v/ em simetria com /f/: uacca > vaca.” CÂMARA JUNIOR,
Joaquim Matoso. História e estrutura da língua portuguesa. pp. 51-52.
51
Ainda que se argumente que os Evangelhos tiveram partes primitivas escritas em hebraico ou aramaico, como,
por exemplo, é o caso do Evangelho de Marcos, em que Papias afirma que Marcos compilou, em aramaico, a
pregação de Pedro (Veja esta probabilidade em W. G. Kümmel, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo,
Edições Paulinas, 1982, págs. 97-117), e neste caso o nome “JESUS” teria sido soletrado como YESHUA, mesmo
assim o Livro de Atos dos Apóstolos, as Epístolas paulinas e as Epístolas aos Hebreus, de Tiago, de Pedro, de João
CAPÍTULO II
OS ORIGINAIS DA BÍBLIA

O material abaixo é um pequeno adendo à questão dos originais do Antigo e Novo


Testamentos, uma vez que muitos cristãos não conhecem este assunto, que é da mais alta relevância
em tempos de crise doutrinária.

 AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA


A Bíblia é composta basicamente de dois grandes blocos distintos entre si e harmônicos,
chamados pela Igreja Cristã de “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”. Destes, o “Antigo
Testamento” é também compartilhado pela religião judaica, que o chama de Tanak:

A base da fé judaica é a Bíblia. Para os judeus, as Escrituras são chamadas de Tanak. Este
termo é um acrônimo formado com a letra inicial das palavras que designam as três divisões da
Bíblia hebraica: Tora (instrução); Neviim (profetas); Ketuvim (escritos).52

O Novo Testamento é aceito apenas pelos cristãos e pelos judeus messiânicos. O judaísmo
não reconhece o Novo Testamento como Escritura.

o A LÍNGUA ORIGINAL DO ANTIGO TESTAMENTO É O HEBRAICO


O Antigo Testamento ou Tanak foi originalmente escrito em hebraico 53, com pequenos
trechos em aramaico em Esdras, Jeremias e Daniel (Ed 4.8-6.18, 7.12-26; Jr 10.11 e Dn 2.4b-7.28).
A língua hebraica passou por vários períodos de formação:

A língua hebraica é conhecida na Bíblia como a “língua de Canaã” (Is 19.18), e mais
frequentemente como “judaica” (Is 36.11; 2Cr 32.18). Os grupos de hebreus relacionados com
os hapiru, encontrados em Canaã em finais do Século XIII aC, somaram-se a outras tribos do
futuro Israel ali sediadas desde a Antiguidade. Depois da sedentarização em Canaã, os grupos
vindos de fora começaram também a falar o hebraico. 54

e de Judas, além do Apocalipse, foram originalmente escritos em grego, onde o nome “JESUS” foi soletrado
(pronunciado) e grafado como Ἰησοῦς – Iesoûs – Jesus. No entanto, conforme a Referência Bibliográfica 62
abaixo, esta possibilidade embora real, não produziu o texto de Marcos, seja em hebraico ou aramaico. Assim, não
há a menor justificativa para se defender uma pronúncia exclusivamente hebraica ou aramaica para o nome
“JESUS”, pois os próprios autores inspirados pelo Espírito Santo não procederam assim, pelo contrário, adaptaram
foneticamente o nome do Salvador ao ambiente linguístico grego em que estavam inseridos. Além deste fato,
temos ainda a tradução da Septuaginta, feita pelos judeus de Alexandria, que antes procederam da mesma forma.
O hebraico é uma das línguas semíticas faladas na antiguidade, na maior parte do Oriente
Próximo e Médio. Dentro das línguas semitas, o hebraico pertence ao tronco cananeu da costa do
Mediterrâneo, ao lado do idioma Ugarit da Fenícia e de Moab55.

 Não se sabe ao certo quando o hebraico passou a ser a língua falada por
Israel. Presume-se que foi a partir da conquista da terra sob Josué.
 Abraão falava uma língua semita da Babilônia.
 Não há muitos registros do hebraico fora da tradição bíblica.
 O hebraico escreve-se apenas com consoantes, sem vogais. Escreve-se da
direita para a esquerda, ao contrário do que escrevemos em português.
 Dois grupos de massoretas, imitando os sírios, que inventaram sinais para
designar as vogais, tardiamente introduziram sinais no texto hebraico para
representar as vogais. Estes sinais foram colocados abaixo da linha e em
baixo das palavras. Todos os sinais massoretas derivam de duas famílias, a de
Ben Asher e a de Ben Naftali, entre 750 e 1100 d.C. O sistema que hoje é
usado para designar as vogais deriva da escola de Tiberíades.

Exemplo do texto hebraico sem vogais:


Gn 1.1-9 sem os sinais dos massoretas:

Gênesis ‫בראשית‬
Urah taw Mymsh ta Myhla arb tysarb 1”
Mymh ynp-le tpxrm Myhla xwrw Mwht ynp-le Ksxw whbw wht htyh Urahw 2
rwa-yhyw rwa yhy Myhla rmayw 3
Ksxh Nybw rwah Nyb Myhla ldbyw bwj-yk rwah-ta Myhla aryw 4
dxa Mwy rqb-yhyw bre-yhyw hlyl arq Ksxlw Mwy rwal Myhla arqyw 5
Myml Mym Nyb lydbm yhyw Mymh Kwtb eyqr yhy Myhla rmayw 6
Nk-yhyw eyqrl lem rsa Mymh Nybw eyqrl txtm rsa Mymh Nyb ldbyw eyqrh-ta Myhla veyw 7
yns Mwy rqb-yhyw bre-yhyw Myms eyqrl Myhla arqyw 8
“Nk-yhyw hsbyh hartw dxa Mwqm-la Mymsh txtm Mymh wwqy Myhla rmayw 9

Exemplo do texto hebraico com os sinais massoretas:

Genesis ‫בראשית‬
‫ֱֹלהים אֵ ת הַ ּׁשָ מַ יִ ם וְ אֵ ת הָ אָ ֶרץ׃‬ ִ ‫ ְּב ֵר‬1”
ִ ‫אׁשית ּבָ ָרא א‬
‫ל־ּפנֵי הַ ּמָ יִ ם׃‬
ְ ַ‫ֱֹלהים ְמ ַרחֶ פֶ ת ע‬ ִ ‫רּוח א‬ַ ְ‫ל־ּפנֵי ְתהֹום ו‬ ְ ַ‫ וְ הָ אָ ֶרץ הָ יְ תָ ה תֹהּו וָבֹהּו וְ חֹ ׁשֶ ְך ע‬2
‫ֱֹלהים יְ ִהי אֹור וַיְ ִהי־אֹור׃‬ ִ ‫ וַּי ֹאמֶ ר א‬3
‫חׁשֶ ְך׃‬ ֹ ַ‫ֱֹלהים ּבֵ ין הָ אֹור ּובֵ ין ה‬ ִ ‫ֱֹלהים אֶ ת־הָ אֹור ִּכי־טֹוב ַוּי ְַב ֵּדל א‬ ִ ‫ ַוּי ְַרא א‬4
‍‫ֱֹלהים לָ אֹור יֹום וְ לַ חֹ ׁשֶ ְך קָ ָרא לָ יְ לָ ה וַיְ ִהי־עֶ ֶרב וַיְ ִהי־בֹקֶ ר יֹום אֶ חָ ד׃ פ‬ ִ ‫ וַּיִ ְק ָרא א‬5
‫יהי מַ ְב ִּדיל ּבֵ ין מַ יִ ם לָ מָ יִ ם׃‬ִ ִ‫יע ְּבתֹוְך הַ ּמָ יִ ם ו‬ ִ ‫ וַּי ֹאמֶ ר א‬6
ַ ‫ֱֹלהים יְ ִהי ָר ִק‬
‫יע‬
ַ ‫יע ּובֵ ין הַ ּמַ יִ ם אֲׁשֶ ר מֵ‍עַ ל לָ ָר ִק‬ ַ ‫יע ַוּי ְַב ֵּדל ּבֵ ין הַ ּמַ יִ ם אֲׁשֶ ר מִ‍ּתַ חַ ת לָ ָר ִק‬ ַ ‫ֱֹלהים אֶ ת־הָ ָר ִק‬ ִ ‫ ַוּיַעַ ׂש א‬7
‫וַיְ ִהי־כֵ ן׃‬
‍‫יע ׁשָ מָ יִ ם וַיְ ִהי־עֶ ֶרב וַיְ ִהי־בֹ קֶ ר יֹום ׁשֵ נִ י׃ פ‬ ַ ‫ֱֹלהים לָ ָר ִק‬ִ ‫ וַּיִ ְק ָרא א‬8
‫ֱֹלהים יִ ּקָ וּו הַ ּמַ יִ ם מִ‍ּתַ חַ ת הַ ּׁשָ מַ יִ ם אֶ ל־מָ קֹום אֶ חָ ד וְ תֵ ָראֶ ה הַ ּיַּבָ ׁשָ ה וַיְ ִהי־כֵ ן׃‬ ִ ‫ וַּי ֹאמֶ ר א‬9

A língua hebraica sofreu pequenas influências da língua aramaica, depois do exílio


babilônico. Embora estas influências não sejam, em absoluto, relevantes para o estudo da língua
hebraica, elas se tornam fundamentais para o nosso estudo do nome de “Jesus”. No caso específico
do nome “Jesus” a soletração teve uma mudança significativa.
Os patriarcas falaram línguas semitas e cananéias. Os hebreus no Egito falaram copto. Os
judeus falaram hebraico desde o período da conquista da terra sob Josué (cerca de 1200 a.C.) até o
exílio babilônico (597 a.C.). No exílio babilônico os judeus que foram levados para o exílio
deixaram de falar hebraico e passaram a falar aramaico (Dn 1.4). Quando os judeus retornaram para
a Palestina no reinado dos medo-persas, trouxeram como idioma falado para Israel o aramaico, e
passaram daí em diante a falar aramaico, de modo que o idioma falado por Jesus e seus circundantes
era o aramaico. Com o advento da dominação grega, e tendo os judeus já experimentado várias
diásporas, os judeus de fora da Palestina passaram a falar grego. Foi produzida uma versão do
Antigo Testamento em língua grega chamada de Septuaginta ou LXX. Veja o texto de Gn 1.1-9
nesta tradução:

Ἐν ἀρχῃ̂ ἐποίησεν ὁ θεὸς τὸν οὐρανὸν καὶ τὴν γη̂ν. 2 ἡ δὲ γη̂ ἠ̂ν ἀόρατος καὶ
ἀκατασκεύαστος, καὶ σκότος ἐπάνω τη̂ς ἀβύσσου, καὶ πνευ̂μα θεου̂ ἐπεφέρετο ἐπάνω του̂
ὕδατος. 3 καὶ εἰ̂πεν ὁ θεός Γενηθήτω φω̂ς. καὶ ἐγένετο φω̂ς. 4 καὶ εἰ̂δεν ὁ θεὸς τὸ φω̂ς ὅτι καλόν.
καὶ διεχώρισεν ὁ θεὸς ἀνὰ μέσον του̂ φωτὸς καὶ ἀνὰ μέσον του̂ σκότους. 5 καὶ ἐκάλεσεν ὁ θεὸς
τὸ φω̂ς ἡμέραν καὶ τὸ σκότος ἐκάλεσεν νύκτα. καὶ ἐγένετο ἑσπέρα καὶ ἐγένετο πρωί, ἡμέρα
μία.
6
Καὶ εἰ̂πεν ὁ θεός Γενηθήτω στερέωμα ἐν μέσῳ του̂ ὕδατος καὶ ἔστω διαχωρίζον ἀνὰ
μέσον ὕδατος καὶ ὕδατος. καὶ ἐγένετο οὕτως. 7 καὶ ἐποίησεν ὁ θεὸς τὸ στερέωμα, καὶ
διεχώρισεν ὁ θεὸς ἀνὰ μέσον του̂ ὕδατος, ὃ ἠ̂ν ὑποκάτω του̂ στερεώματος, καὶ ἀνὰ μέσον του̂
ὕδατος του̂ ἐπάνω του̂ στερεώματος. 8 καὶ ἐκάλεσεν ὁ θεὸς τὸ στερέωμα οὐρανόν. καὶ εἰ̂δεν ὁ
θεὸς ὅτι καλόν. καὶ ἐγένετο ἑσπέρα καὶ ἐγένετο πρωί, ἡμέρα δευτέρα.
9
Καὶ εἰ̂πεν ὁ θεός Συναχθήτω τὸ ὕδωρ τὸ ὑποκάτω του̂ οὐρανου̂ εἰς συναγωγὴν μίαν, καὶ
ὀφθήτω ἡ ξηρά. καὶ ἐγένετο οὕτως. καὶ συνήχθη τὸ ὕδωρ τὸ ὑποκάτω του̂ οὐρανου̂ εἰς τὰς
συναγωγὰς αὐτω̂ν, καὶ ὤφθη ἡ ξηρά.56

 A LÍNGUA ORIGINAL DO NOVO TESTAMENTO É O GREGO


O grego era a língua comercial nos dias de Jesus. Desde as conquistas de Alexandre, o
Grande, o idioma grego tornou-se universal. O grego bíblico é o grego chamado “Koinê”, ou seja, o
grego comum, a língua helênica espalhada pelo império57.
o Todo o Novo Testamento foi escrito nesta língua58.
o Exemplo do grego do Novo Testamento:
 Mt 6.5-13
5 Καὶ ὅταν προσεύχησθε, οὐκ ἔσεσθε ὡς οἱ ὑποκριταί, ὅτι φιλοῦσιν ἐν ταῖς συναγωγαῖς καὶ
ἐν ταῖς γωνίαις τῶν πλατειῶν ἑστῶτες προσεύχεσθαι, ὅπως φανῶσιν τοῖς ἀνθρώποις· ἀμὴν λέγω
ὑμῖν, ἀπέχουσιν τὸν μισθὸν αὐτῶν. 6 σὺ δὲ ὅταν προσεύχῃ, εἴσελθε εἰς τὸ ταμεῖόν σου καὶ κλείσας
τὴν θύραν σου πρόσευξαι τῷ πατρί σου τῷ ἐν τῷ κρυπτῷ· καὶ ὁ πατήρ σου ὁ βλέπων ἐν τῷ κρυπτῷ
ἀποδώσει σοι. 7 Προσευχόμενοι δὲ μὴ βατταλογήσητε ὥσπερ οἱ ἐθνικοί, δοκοῦσιν γὰρ ὅτι ἐν τῇ
πολυλογίᾳ αὐτῶν εἰσακουσθήσονται. 8 μὴ οὖν ὁμοιωθῆτε αὐτοῖς· οἶδεν γὰρ ὁ πατὴρ ὑμῶν ὧν
χρείαν ἔχετε πρὸ τοῦ ὑμᾶς αἰτῆσαι αὐτόν. 9 Οὕτως οὖν προσεύχεσθε ὑμεῖς·
     Πάτερ ἡμῶν ὁ ἐν τοῖς οὐρανοῖς·
     ἁγιασθήτω τὸ ὄνομά σου·
10     ἐλθέτω ἡ βασιλεία σου·
     γενηθήτω τὸ θέλημά σου,
ὡς ἐν οὐρανῷ καὶ ἐπὶ γῆς·
11     Τὸν ἄρτον ἡμῶν τὸν ἐπιούσιον δὸς ἡμῖν σήμερον·
12     καὶ ἄφες ἡμῖν τὰ ὀφειλήματα ἡμῶν,
ὡς καὶ ἡμεῖς ἀφήκαμεν τοῖς ὀφειλέταις ἡμῶν·
13     καὶ μὴ εἰσενέγκῃς ἡμᾶς εἰς πειρασμόν,
ἀλλὰ ῥῦσαι ἡμᾶς ἀπὸ τοῦ πονηροῦ.59

o OS ORIGINAIS DOS ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS SÃO DIFERENTES


Pela simples observação dos caracteres podemos perceber que os originais do Antigo
Testamento e do Novo Testamento são totalmente diferentes. O hebraico pertence a um tronco
semítico, enquanto que o grego pertence a um tronco indo-europeu:

O grego pertence à família de línguas ou ao tronco linguístico chamado indo-europeu e


dentro desse grupo ao grupo chamado grego ou helênico dentro do mesmo grupo temos ainda:
micênico, grego moderno ou romaico. Dialetos micênicos: grego ocidental, grego oriental,
eólio, arcado-cipriota e koiné. O grego era uma língua falada por um povo que se
autodenominava de helenos. Dentro desse povo havia os seguintes grupos: aeolians, dórios e
ionians (Jônios).60

Estas diferenças precisam ser respeitadas, principalmente no que diz respeito à escrita do
Novo Testamento. Há, hoje em dia, um movimento que procura desmerecer o Novo Testamento,
por ter sido escrito em grego. Estas pessoas afirmam que a língua espiritual que pode conter a
revelação de Deus tem que ser o hebraico.61 Deus escolheu as línguas originais para conter a sua
Revelação, hebraico para o Antigo Testamento e grego para o Novo Testamento.

o NÃO EXISTE O ORIGINAL HEBRAICO DO NOVO TESTAMENTO NEM


MESMO FRAGMENTOS EM HEBRAICO OU ARAMAICO DO NT

Conforme já foi asseverado acima, a língua falada na Palestina nos dias de Jesus era o
aramaico. Isto significa afirmar que toda a comunicação pessoal ocorria nesta língua. Se um anjo
falasse com alguém, precisaria falar em aramaico, como no caso do sonho que José (marido de
Maria, mãe de Jesus, Mt 1.20-24) teve, ou da visitação que teve Zacarias (Lc 1.8-22), ou mesmo
Maria (Lc 1.26-38), assim também a visão que teve Pedro (At 10.9-17), e assim por diante.
Não existe o original hebraico destas conversas, e muito menos o original hebraico das
Escrituras do Novo Testamento que contam estas visitações, e além disso, é necessário afirmar que
não há fragmentos do Novo Testamento em originais hebraicos ou aramaicos e nem mesmo há
evidencias de que o NT de alguma forma tenha tido originais integralmente escritos em aramaico e
muito menos em hebraico62.
Outro dado importante é que jamais se chamou Jesus de “Yehôshua”, pois esta era palavra
hebraica, e nos dias de Jesus não se falava mais hebraico. Chamava-se Jesus de “Yeshua”, a forma
aramaica do nome Yehôshua, onde ambas as formas têm o mesmo significado: “O Senhor é
Salvação”.
Existem muitas mitologias e fantasias tolas no meio cristão, e outras que além disso são
nocivas à saúde da fé cristã, como esta que quer desmerecer a língua grega como a depositária da
revelação do Novo Testamento.
CAPÍTULO III
UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A
LEGITIMIDADE DO ORIGINAL GREGO DO
NOVO TESTAMENTO

Permita-me um comentário pessoal sobre um perigo que vejo em pessoas mal intencionadas
que desmerecem o Novo Testamento grego. Refiro-me especificamente a uma seita denominada
“Testemunhas de Yehôshua”.
Tenho percebido um grande movimento de retorno a Israel chamado de neo-sionismo. Este é
um bom movimento, pois retorna ao centro geográfico de origem da nossa fé cristã. Esclareço que
sou simpático ao neo-sionismo, pois é justo que amemos Jerusalém e oremos pela Terra Santa:
“Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam” (Sl 122:6). Mas há pessoas que
usam indevidamente do neo-sionismo para perverter a legitimidade da língua original do
Novo Testamento, que é o grego e não o hebraico.
AO TENTAR DIZER QUE O NOME ORIGINAL DE JESUS NÃO É "JESUS", O QUE
ESTA SEITA ESTÁ NO FUNDO DIZENDO É QUE A LÍNGUA DOS ORIGINAIS
NEOTESTAMENTÁRIOS NÃO É A LÍNGUA LEGÍTIMA PARA SE FALAR DE DEUS. PARA
MIM NADA PARECE SER MAIS PERIGOSO E PERNICIOSO QUE ISTO, PARA
DESCARACTERIZAR AS DOUTRINAS MAIS PROFUNDAS DO CRISTIANISMO. Com isto
parece que só uma tradução hebraica do Novo Testamento seria legítima.
Há uma série de conceitos neotestamentários que não encontram correspondentes em língua
hebraica, pelo simples fato de em todo o Antigo Testamento não se conhecer esta revelação, que só
foi dada no Novo Testamento. Para citar apenas alguns destes conceitos, basta falar da palavra
“graça”, que vem do grego “CHÁRIS”, palavra que inexiste em hebraico com o sentido que tem
nos escritos paulinos; outros conceitos como: “eleição”, “predestinação”, “regeneração ou novo
nascimento”, “conversão”, “justificação”, “adoção”, “glorificação”, que foram formados com
base em palavras gregas, poderiam ter seus entendimentos prejudicados.
Este ato de negar o ORIGINAL GREGO DO NOVO TESTAMENTO tem a cara de uma
grande heresia, QUE VEM TRAVESTIDA DE PURISMO ÉTNICO QUANTO AO POVO
JUDEU E À LÍNGUA HEBRAICA. Isto me parece satânico. É claro, pessoas de Deus podem se
enganar, como Pedro fez com Jesus (Mt 16.22). A diferença entre Jesus e nós é que Ele com rapidez
identificou a origem do pensamento de Pedro e repreendeu, enquanto nós, por não identificarmos
logo de onde vem o pensamento, demoramos em reagir e deixamos o DIABO fazer o estrago em
muitas vidas.
Este tipo de ataque ao Novo Testamento usando como desculpa a língua hebraica e
atrelando o nome de Jesus a uma pronúncia exclusivamente hebraísta é danoso para a pureza da fé

52
LAWRENCE, P. op. cit., pág. 68
53
Muito útil é observar que não existem, hoje, os documentos originais chamados de autógrafos, isto é, os reais
documentos que os reais autores bíblicos escreveram, mas apenas cópias muito tardias. MANNUCCI, depois de
considerar os materiais de escrita do mundo antigo, chega à seguinte conclusão sobre os originais tanto do Antigo
como do Novo Testamentos: “Se também a Bíblia nasceu em tal situação editorial, compreende-se facilmente por
que os originais se perderam. Papiros, mais ainda do que pergaminhos, deterioram-se logo. Praticamente só no
Egito o clima seco e a areia do deserto favorecem uma longa conservação dos papiros, que contudo – no que se
refere à Bíblia – nunca são textos originais. O caso de Qumran foi uma nova feliz circunstância. O deserto árido de
Judá e as suas cavernas secas permitiram conservar até 1948, ano da descoberta fortuita, uma notável quantidade
de rolos e códices, certamente antiquíssimos (até o século II a.C.) mas não originais, e além do mais muito
danificados. Além disso, deve-se levar em consideração o fato de que rolos e códices originais, logo deteriorados
pelo uso, tornavam necessárias uma transcrição dentro de breve tempo. As transcrições de um texto bíblico
sucediam-se rapidamente, e em consequentemente aumentavam também os erros de transcrição, feita sobre cópias
de cópias. (...) Portanto, não possuímos o original de nenhum texto bíblico, mas apenas testemunhas do
texto, isto é, exemplares que chegaram até nós através de correções e modificações e também revisões
bastante amplas.” MANNUCI, V., op. cit., págs. 109-110, o grifo é meu. Das testemunhas diretas, citadas acima
por MANNUCCI, ele ainda escreve: “As testemunhas do texto são de natureza diversa. Chama-se diretas, as que
reproduzem o texto por si mesmo... (...) Chamam-se testemunhas indiretas, aquelas que reproduzem passagens da
Bíblia por ocasião de outras obras literárias.” Ibidem, pág. 110. Isto vale para o Antigo e Novo Testamentos. A
cópia mais antiga conhecida do Antigo Testamento inteiro é o Manuscrito de Leningrado B19, datado de 1008 ou
1009 d.C. Portanto não existem originais do Antigo Testamento. Para uma lista das testemunhas diretas e indiretas,
ver Ibidem, págs. 111-121; veja também uma discussão bem ampla em BARRERA, J. T., op. cit., págs. 310-395.
54
BARRERA, J. T. op. ci., pág. 69.
Confira também a Enciclopédia Barsa:
“Hebraico.
No começo do século III a.C., o hebraico, até então falado na Palestina, foi superado pelo aramaico, mas
continuou a ser usado na liturgia e na literatura. No século XIX, com o movimento sionista na Europa oriental e na
Palestina, o hebraico ressurgiu como língua viva e tornou-se o idioma oficial, escrito e falado, de Israel.
Língua semita dos hebreus, o hebraico liga-se intimamente ao fenício e ao moabita, com os quais os estudiosos
a situam no subgrupo cananeu. Seu nome, como a de seu povo, deriva provavelmente de Eber, filho de Sem,
ancestral de Abraão. Nos textos ugaríticos, há referência ao povo de hapiru ou habiru, que Hamurabi teve a seu
serviço. Mais tarde passou-se a afirmar que o nome "hebreu" proveio de ivri, "o que está do outro lado (do rio)".
Na versão grega da Bíblia, "Abraão, o hebreu", é traduzido por "Abraão, o que atravessou (o rio)", ou seja, o
alienígena, o imigrante (Gn 14:13).
A história da língua hebraica é normalmente dividida em quatro grandes períodos: (1) bíblico ou clássico, até
meados do século III a.C., em que foi escrito o Antigo Testamento; (2) mischnaico ou rabínico, língua da Mischná,
código jurídico-religioso dos judeus, escrito por volta de 200 da era cristã; (3) hebraico medieval, do século VI ao
XIII da era cristã, quando muitas palavras foram tomadas do grego, espanhol, árabe e outras línguas; e (4)
hebraico moderno, a língua de Israel no século XX.
O mais antigo documento conhecido em hebraico, grafado em caracteres fenícios, é o canto de Débora (Jz 5),
que se acredita ser anterior ao ano 1000 a.C. A destruição de Jerusalém e a partida dos judeus para o cativeiro da
Babilônia, no século IV, marcam o declínio do hebraico falado na Palestina. A língua sofreu infiltrações das
línguas canaanitas, bem como do acadiano e do aramaico. Assimilou ainda grande número de palavras sumérias,
latinas e persas. (...)
O hebraico moderno, baseado na língua da Bíblia, contém inevitáveis inovações e modernizações. É,
curiosamente, a única língua falada que se baseia numa língua escrita. Sua pronúncia é uma alteração da língua
usada pelos judeus sefarditas (espanhóis e portugueses) e a sintaxe se baseia na da Mischná. As velhas consoantes
cristã verdadeira. Isto parece ser aquelas comichões que Paulo diz que surgirão nos últimos dias
(2Tm 4.3). É preciso denunciar que o pensamento e o argumento desta seita são falsos, fruto de
ignorância travestida de piedade, purismo linguístico hebraísta, e principalmente, visando a
destruir a legitimidade do original grego do Novo Testamento, em prol de uma versão
hebraica deste. Há hoje algumas traduções do Novo Testamento para o hebraico 63, que são
legítimas, mas como tradução, não como fonte do pensamento neotestamentário. Estou
preocupado com a possibilidade de substituir o original grego do Novo Testamento por uma

guturais, tão características da língua antiga, perderam-se, ou não são perceptíveis, exceto na pronúncia dos judeus
orientais.
Um traço de todos os estágios do hebraico é a utilização de palavras-raízes, normalmente com três consoantes,
a que são acrescentadas vogais e outras consoantes para formar palavras derivadas de sentidos diversos. A língua
hebraica é escrita da direita para a esquerda e seu alfabeto tem 22 letras.”
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Veja também na Enciclopédia Barsa: línguas Camito-semíticas
“Camito-semíticas, línguas.
Família linguística do sudoeste da Ásia e África setentrional. Subdivide-se nos grupos camítico e semítico.
Suas principais línguas são o árabe, o hebraico, o copta, o aramaico e o berbere.”
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
55
Veja a Enciclopédia Barsa:
“Línguas, classificação das Famílias e grupos linguísticos:
Segundo a genealogia, as línguas se classificam em grandes famílias, divididas em grupos, subgrupos e ramos.
A classificação aqui apresentada acha-se sujeita a variações segundo os diferentes autores, que podem estabelecer
unidades maiores ou menores. Ou seja, as tentativas de agrupar essas famílias, grupos e subgrupos se baseiam
mais em hipóteses, de maiores ou menores fundamentos, que em dados irrefutáveis.
(1) Família indo-européia, a mais estudada e de maior número de línguas, que compreende pelo menos oito
grupos vivos (o indo-irânico, o armênio, o céltico, o germânico, o itálico, o balto-eslavo, o grego e o albanês), e
dois grupos extintos (o anatólico e o tocariano);
(2) Família camito-semítica ou afro-asiática, com os subgrupos semíticos ocidental e oriental, o aramaico-
cananeu (a que pertencem o aramaico e o hebraico), o arábico-etíope, o egípcio-copta, o líbico-berbere, o cuchítico
e o tchádio.”
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

56
Septuaginta. 1979; Published in electronic form by Logos Research Systems, 1996 (electronic ed.) (Gn 1:1).
Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft.
57
Veja a Enciclopédia Barsa:
“Grego.
Língua clássica por excelência, como o latim, o grego serviu de veículo a uma das culturas mais opulentas do
mundo e teve grande importância na história do Ocidente, o que explica por que todos os idiomas europeus são
devedores dessa língua, sobretudo no vocabulário erudito.
Idioma pertencente à grande família indo-européia -- mas não ao mesmo grupo de que deriva o latim --, o
grego é uma língua foneticamente doce, cheia de vogais e cantante a tal ponto que usa a mesma nomenclatura da
música. O vocabulário é muito rico, pois os gregos desenvolveram a ciência, a lógica, a filosofia e a matemática,
de tal modo que criaram grande número de palavras em cada um desses ramos do saber. Cerca de noventa por
cento da terminologia científica, filosófica e artística baseia-se em radicais do grego e do latim. O grego moderno,
ou romaico, é falado atualmente na Grécia continental e insular e pelas comunidades gregas da Turquia, Albânia,
Rússia, Egito, Romênia, Itália e Estados Unidos. É resultante da evolução do grego antigo.
Grego antigo. Os assentamentos de povos indo-europeus de língua grega no território da Grécia continental e
nas ilhas e costas orientais do mar Egeu ocorreram durante o segundo milênio antes da era cristã. Os primeiros
registros da língua grega remontam ao século XIV a.C., quando florescia a civilização micênica. Devido à invasão
dórica do século XII, perdeu-se a antiga escrita silábica (em que cada signo correspondia a uma sílaba). Os gregos
só voltaram a ter outra escrita no século VIII, quando, a partir de um modelo semítico, criaram seu próprio
alfabeto, no qual cada letra representava um som. Entre os séculos VIII e V, esse alfabeto teve distintas variações
locais, numa das quais baseou-se o alfabeto latino. A partir do século IV, em todo o mundo helênico passou a ser
adotada a modalidade jônica de escrita e chegou-se a uma forma definitiva do alfabeto grego, até hoje corrente na
tradução hebraica. Só mesmo no inferno poderia haver um plano para desautorizar o original
grego, onde está o nome de JESUS DE NAZARÉ.
Talvez, alguns nomes importantes se deixem levar por esta dissimulação do inferno, mas nós
temos a mente de Jesus para vislumbrarmos o erro de longe e impedirmos que nossas ovelhas sejam
atraídas pela COMICHÃO NOS OUVIDOS, como afirma a Palavra de Deus: “Porque virá tempo
em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores
conforme as suas próprias concupiscências” (2Tm 4:3 RC).

Grécia moderna. (...)


O grego antigo, a julgar pelas inscrições e escritos conservados, não era geograficamente uniforme. Havia
quatro grandes grupos dialetais: o ocidental ou dórico, o eólico, o jônico-ático e o acádio-cipriota. Os três últimos
procediam da antiga língua da era micênica. No entanto, em que pese à fragmentação dialetal, a língua se
mantinha unida na essência. A partir do século V a. C. o dialeto ático ganhou maior prestígio, fundamentalmente
devido ao extraordinário nível cultural de Atenas. Os grandes mestres da tragédia e da comédia, além do
historiador Tucídides, escreveram em ático.
O grego clássico é a língua desse século e do século posterior, quando se afirmou a predominância cultural de
Atenas. A dominação macedônica, imposta por Filipe II e Alexandre o Grande, grandes admiradores da cultura
ateniense, consolidou a predominância do ático. Com a formação do império helênico por Alexandre, teve lugar a
grande expansão do grego ao longo das costas do Mediterrâneo oriental. A língua que se propagou foi a chamada
he koiné diálektos ("a língua comum"), que, embora baseada no ático, simplificava bastante a gramática e alterava
a pronúncia. A escrita baseou-se na forma jônica do alfabeto".
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
58
“Os escritores cristãos antigos escreveram na língua do seu tempo, o grego coiné”. KOESTER, HELMUT, op.
cit., pág. 118. Para estudar as testemunhas do Novo Testamento sugiro os seguintes livros: PAROSQUI,
WILSON, op. cit.; ALAND, K & ALAND, B., O Texto do Novo Testamento; BITENCOURT, B. P. O Novo
Testamento: metodologia da pesquisa textual; METZGER, B. M. Um Comentario Textual al Nuevo Testamento
Griego, págs. 1-16; OMANSON, R. L. Variantes Textuais do Novo Testamento, págs. I-XXXVII; MANNUCCI,
op. cit., págs. 116-124; BARRERA, J. T. op. cit., págs. 396-499. Para se ter uma ideia da problemática das
testemunhas do Novo Testamento basta ver o que este diz: “Conhece-se cerca de 5.000 manuscritos gregos do NT,
aos quais é preciso acrescentar uns 10.000 manuscritos das distintas versões antigas, assim como milhares de
citações nos Padres da Igreja. Todo esse material (manuscritos, versões e citações) contém um número de
variantes calculado entre 150.000 e 250.000 ou até maior. Não existe uma só frase do NT que a tradição
manuscrita não tenha transmitido com alguma variante”. BARRERA, J. T. op. cit., pág. 396.

59
Black, M., Martini, C. M., Metzger, B. M., & Wikgren, A. (1993, c1979). The Greek New Testament (electronic
ed. of the 4th ed.) (Mt 6:5-13). Federal Republic of Germany: United Bible Societies.
60
RIBEIRO, J, NETO, Breve histórico do grego do Novo Testamento, no endereço:
http://biblistas.blogspot.com/2009/04/breve-historico-do-grego-do-novo.html, copiado às 23:53h dia 31/08/09.

61
Exemplo disto é Josué Breves Paulino, no endereço (copiado às 23:53h dia 31/08/09):
http://conteyb.spaces.live.com/blog/cns!899564EB452C4E01!153.entry?sa=772710275: Ele escreve: “Assim
sendo, perguntai: Que Nome foi dado pelo Anjo ao Salvador, quando ele nasceu em Belém? – A verdade está no
original hebraico. Na Bíblia de Jerusalám, em Mat. 1:21, na nota marginal, ao rodapé da página, traz o seguinte
comentário dos tradutores: ‘Jesus: hebraico Yehôshua’. Sabemos que no hebraico, o Nome Yehôshua significa
o Nome que Salva. Portanto, a Vereda Antiga do Nome Sagrado é YEHÔSHUA! – Meu irmão, perguntai pela
Vereda Antiga! – A verdade está lá no original hebraico.” (O grifo é meu). É necessário fazer algumas
observações: 1ª) José não falava hebraico, mas aramaico – caso o anjo lhe falasse em hebraico ele não
compreenderia, portanto o anjo deve ter lhe falado em sua língua materna, vernácula, o aramaico; 2ª) José também
não falava grego, portanto o anjo não deve ter se dirigido a ele em grego; 3ª) a fala original do anjo, que muito
provavelmente foi em aramaico, talvez jamais foi escrita; 4ª) o que temos no Novo Testamento é uma adaptação
do nome aramaico, não de um nome hebraico, pois José não o entenderia; 5ª) o mais forte argumento é que não
existe o suposto original hebraico do qual fala o Sr. Josué.
62
Veja este fato bem elucidado: “Todos os livros do Novo Testamento foram originalmente escritos em grego;
nenhuma obra do cristianismo primitivo em grego pode ser considerada tradução do hebraico ou do aramaico. É
CONCLUSÃO

O nome “JESUS” é a soletração ou “pronúncia” mais apropriada para chamarmos o Nosso


Senhor e Salvador em língua portuguesa.

preciso ter isso em mente quando se analisa o problema difícil e muito polêmico das influências semíticas sobre a
língua do Novo Testamento. Existem certos semitismos no Novo Testamento, nos Padres Apostólicos e nos
Apócrifos. Algumas obras contêm mais semitismos que outras, mas de modo geral seu número é relativamente
alto; esse fato é indiscutível. As dificuldades surgem quando se procura determinar instâncias específicas e o tipo e
origem desse semitismo.” KOESTER, HULMUT, op. cit., pags. 120-121. A seguir, o autor passa a explicar a
natureza dos semitismos nos originais gregos do Novo Testamento, confira Ibidem, págs. 120-123. Veja ainda:
“Os testemunhos antigos (de Papias, Irineu, Orígines e Eusébio) sobre o Evangelho de Mateus escrito
originalmente em aramaico, hoje são redimensionados pela crítica. Que existisse uma coleção de palavras e
discursos de Jesus em aramaico é sumamente provável; mas deve-se também reconhecer que o Mt grego é escrito
num grego muito perfeito, que dificilmente pode ser, ainda que só em parte, uma simples tradução do aramaico.”
MANNUCCI, V., op. cit., pág. 93.

63
Veja este exemplo: HEBREW NEW TESTAMENT, Ed. David Stanford, Impresso em Great Britain at the
University Press, London (England), Trinitarian Bible Society, 1985, 540p. Nesta tradução, como de resto em
outras, como a Bíblia Eletrônica E-SWORD, versão Hebrew New Testament (já citada acima), como também na
Bíblia Eletrônica THE SWORD PROJECT, versão Modern Hebrew Bible: (“‫המשיח בן דוד בן‬ ‫ישוע‬ ‫ספר תולדת‬
‫ – ”אברהם׃‬YESHUA – Mt 1.1), o nome “JESUS” é sempre adaptado como “ ‫“ – ”ישוע‬YESHUA”. Sugiro ao leitor
que faça um download destas duas Bíblias Eletrônicas, que são gratuitas: E-SWORD: http://www.e-sword.net/; e
THE SWORD PROJECT: http://www.crosswire.org/sword/index.jsp.
Eu nasci numa família cristã “de berço”, pode-se dizer. Meus avós paternos e maternos eram
todos cristãos, sendo que meu avô materno era pastor da Convenção Batista Brasileira. Tenho tios e
primos pastores, meu pai é pastor... eu sou pastor... em minha família somos 17 pastores ao todo,
incluindo aí aqueles que se agregaram à família pelo casamento. Cresci ouvindo falar “JESUS” e de
Jesus.
Estou feliz ao terminar este livro, pois descobri que a Igreja de Jesus está no caminho certo
da revelação, invocando o Nome que está sobre todo nome, o Nome de Jesus:

“9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de
todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai.” (Fp 2:9-11)

Quantos hinos lindos e louvores inspirados temos cantado com o Nome Bendito de Jesus!!!
Quantos demônios expulsamos, quantas curas ordenamos, quantos milagres manifestados, quantas
orações atendidas, quantos livramentos!!! Deus tem nos atendido e o sobrenatural tem se
manifestado quando invocamos o Nome de Jesus.
JESUS, só Ele e mais ninguém... só Ele sobre tudo e todos...
É claro que em ocasiões muito especiais podemos fazer referência às pronúncias hebraica,
aramaica, grega ou latina, mas no dia-a-dia não devemos proceder assim, pois isto poderia gerar um
mal entendido, principalmente no processo evangelístico da Igreja.
Vamos continuar chamando Jesus de “JESUS”, pois este é o seu nome em português, como
outrora foi “YESHUA” em hebraico e aramaico, foi “IESUS” em latim, e assim por diante.
Deus abençoe o amado leitor e leitora, e que este Nome continue a fazer toda a diferença na
sua vida. Deus lhe conceda ampla entrada em Seu reino:

“10 Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa
vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. 11
Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2Pe 1:10-11)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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