Você está na página 1de 43

Wonderwall – Cena do Capitulo 7

-Dominique, eu juro que se eu ouvir Wonderwall mais uma vez eu vou ficar louca. Uma pausa,
por favor? - Resmunguei me jogando ao lado do Christopher que só passou os braços ao meu
redor e soltou um suspiro. Ouvi o Kevin rindo perto de nó s dois ao lado da Dominique que mais
uma vez estava tocando wonderwall. O Kevin olhou para mim e para o Christopher e riu alto,
batucou as baquetas contra a parede ao lado dele e logo as largou, para pegar o violã o preto que
a Dominique pegou da coleçã o para tentar ensina-lo a tocar.
Ele é bem mais rá pido que eu, quero ver quando ele tentar ensina-la a tocar bateria. Vai ser
difícil, nem o Stefan conseguiu, e com certeza ele tentou.
Tentou muito.
-Eu tenho que aproveitar que ela nã o está, mas como já deve estar chato, eu vou voltar a ensinar
o Kevin a tocar os meus bebes. - Revirei os olhos para ela que só riu e voltou a se virar para o
Kevin que recolocou o violã o no colo. Soltei um alto suspiro ao ouvi-la tocar as escalas devagar e
ele a acompanhar; o Christopher que até agora nã o havia dito uma ú nica palavra me puxou para
mais perto e praticamente me escondeu no pró prio abraço. Encostei minha cabeça nos seus
ombros e me permiti descansar e fechar os olhos por alguns minutos, apenas sentindo o
perfume amadeirado e sutil impregnado nas suas roupas.
Eu gosto, combina perfeitamente com ele.

Cemitério – cena do Cap. 2

Empurrei o grande portã o de entrada e revirei os olhos para o som estranho já característico;
pelo menos sei que os filmes nã o mentem nos rangidos dos portõ es; ao menos isso. Olhei para
os lados andei em passos lentos rodando as rosas brancas e me sentei no chã o colocando as
flores no chã o, uma ao lado da outra.
-Oi mamã e, oi papai... – Soltei um suspiro baixo e comecei a brincar com as pétalas das rosas
secas. – Bom, espero que estejam me ouvindo, eu tenho muito para falar começando com aquele
remédio que eu estava tomando a alguns meses que me dava sonhos lú cidos, se lembram dele,
nã o é? De qualquer forma eu nã o estou mais tomando as pílulas, eles mudaram para outro que
simplesmente me apaga depois de alguns minutos. - Dei de ombros e limpei algumas folhas
secas que o vento soprou para cima de nó s. - Por um lado, isso é bom, faz tempos que nã o
consigo dormir sem acordar no meio da noite, mas por outro eu nã o fico muito ativa durante o
resto do dia, acho que estou muito mais chata do que de costume. – Sorri jogando a poeira das
pétalas secas para frente e por alguns segundos tirei meu colar do pescoço para rodá -lo entre os
meus dedos. - Na quinta-feira a Rebecca estava chorando enquanto ouvia Blackbird, ela nã o
sabia que eu estava em casa e eu perguntei o porquê e ela tentou mentir, mas eu lancei aquele
olhar para ela; - ri baixinho sentindo meus olhos arderem - aquele que o senhor falava que eu
conseguiria derreter até o coraçã o mais frio do mundo papai. Ela disse que essa era a mú sica
favorita da mamã e e que no aniversá rio de casamento de vocês o senhor nã o sabia o que lhe dar
de presente entã o pegou um dos violõ es do Joseph emprestado e passou um mês inteiro
ensaiando em segredo; a mamãe até achou que o senhor iria terminar com ela porque nã o
estava passando tanto tempo em casa, nã o é? – Revirei os olhos e bufei me virando para o lado
olhando para ela - Como se um dia ele fosse sequer pensar em algo assim. – Limpei o rosto com
a manga da minha blusa e xinguei baixinho vendo-a molhada. - Nã o sei se deveria contar, mas eu
tenho um admirador secreto ele me envia desenhos, sã o muito bonitos, mas é tã o estranho ter
alguém de antes disso tudo voltando agora e meio que me assusta revirar ainda mais o passado.
- Me inclinei para o lado quase vendo meu pai de braços cruzados me encarando com o olhar. -
Nã o é como se eu pudesse evitar, entã o nã o me olhe assim pai! - Olhei para os lados limpando o
chã o entre eles, tomando cuidado com as pedrinhas espalhadas. - Nã o deveria ter sido assim,
por favor. Ainda doe e eu nã o sei o que fazer para parar de doer, por que nã o dizem o que fazer?
Falem algo, por favor...
Encarei as placas por alguns minutos, esperando mais uma vez até ouvir o portã o. Limpei os
rastros molhados no meu rosto e suspirei tirando as flores secas para colocar as novas no lugar.
Fique por mais algum tempo contando para os meus pais sobre como havia sido a minha
semana até dar a hora de ir para casa. Limpei as folhas das lapides prateadas e sai do cemitério
em direçã o ao meu carro. Coloquei o cinto e peguei o CD que estava em cima do meu banco, o
coloquei no Display e sorri cantarolando baixinho “In my life”.

Capitulo 22

Bocejei guardando meus livros, salivei sentindo o gosto estranho na boca e me levantei da mesa
seguindo pelo corredor da forma mais lenta possível.

Preciso de café. Puro, forte e que o copo seja o maior existente.

Parei na primeira e única máquina de café de todo campos e coloquei o dinheiro na máquina, me
encostei no metal frio e procurei mais moedas na minha bolsa, já deixando o dinheiro pronto para os
próximos copos.

Assim que o meu copo ficou pronto coloquei as moedas no mesmo lugar e o virei todo na boca
sentindo o liquido levemente amargo descer pela garganta me deixando mais alerta.

-Viciada. - Revirei os olhos para o Christopher que assim como eu estava com um copo de café em
uma das mãos e uma barra de snickers na outra.

-Vai me dizer que esse copo na sua mão é chá? - Sussurrei pegando o segundo copo e me
aproximando dele. Seu sorriso de canto surgiu rapidamente enquanto eu mordia um pedaço da
barrinha. - Isso é tão bom...

-Tenho que começar a esconder melhor as embalagens, minha mãe curiosamente descobriu todos
os meus esconderijos. - Revirei os olhos para o seu tom sarcástico e dei de ombros sorrindo para
seus olhos estreitados na minha direção.
-Talvez tenha apenas que parar de dar ao Christian. - Fiz a minha melhor expressão atenciosa e ouvi
o seu bufar enquanto ele nos guiava até o seu carro. A lua brilhava de forma tímida, quase coberta
pelas nuvens, mas não seria um problema para nós.

Já decoramos esse percurso na minha primeira semana de faculdade, quase um ano e meio atrás.

-Preciosa, essa expressão fofa não me engana. Sei o que você fez, e terá volta. - Ri baixinho e dei de
ombros bebendo do meu café enquanto seus lábios pousavam com cuidado no topo da minha
cabeça.

-Não sei do que está falando. - Sussurrei entrando no carro, coloquei meus materiais no banco
traseiro e assim que o Christopher terminou de dar a voltar amontoei os dele ao lado. Puxei o cinto
ainda olhando para frente sem conseguir conter o sorrisinho no rosto, peguei algumas balas que ele
esconde no porta luvas e assim que ele se sentou a joguei na sua boca, o subornando.

-Obrigado, isso aplacou a minha irã. - Balancei a cabeça colocando o cinto, liguei o rádio e ignorei
seus assovios enquanto dirigia; durante o caminho peguei meu caderno e comecei a cantarolar
enquanto revia a matéria do dia.

Antes mesmo de começar na faculdade comecei a retirar os livros antigos das caixas no sótão da
minha casa; livros que meus pais usaram e que agora estão sendo cuidadosamente estudados todos
os dias.

Alguns dos meus professores tentaram descarta-los pelo conteúdo estar ‘ultrapassado’, porem
nunca dei ouvidos; a forma de apresentação do conteúdo pode ser ultrapassada, mas a base ainda é
a mesma.

Aumentei o rádio quando tive certeza que ele estava tentando me irritar com seus malditos
assovios, fechei meu caderno e me encolhi no banco fechando os olhos, usei meu sobretudo como
coberto e me encostei na janela bocejando.

-Ainda está com sono? Você acabou de beber dois copos de café! - Resmunguei o imitando
internamente, respirei fundo e preguiçosamente

Rompendo Correntes

Capitulo 14

e arqueei a sobrancelha olhando as propagandas pulando na minha cara. - Jade, como funciona a
distribuição de anúncios no google?

-Está falando do Algoritmo?

-Sim, é algo tipo, se eu procurar por determinada marca de chocolate, essa marca ficara aparecendo para
mim?
-Sim, mas a Savannah instalou alguns programas para impedir a transferência desses dados. Qualquer
tipo de informação é poder, sabe disso... - Dei de ombros e estendi o aparelho na sua direção,
observando apenas a tela espelhada. - O que tem demais?

-Sei lá, a não ser que vocês tenham procurado passagens e assinaturas online de jornais da América do
Sul... - Mais rápido do que deveria a Jade tomou o tablet das minhas mãos e acessou o histórico do
aparelho me fazendo rir do olhar em seu rosto.

Tão fodidamente irritada.

-Savannah, você não colocou a barreira nos novos aparelhos?

-Coloquei em todos que estamos usando, ainda tem dois na caixa. O que aconteceu? - Ela rodeou as
placas de vidro e se sentou ao meu lado olhando o histórico limpo do aparelho. - O aparelho não tem
nada instalado, mas está conectado ao wifi. Vou restaurar o histórico...

-Que burro, todo mundo sabe que apagar o histórico é a mesma coisa usar um sinalizador. - Joguei uma
pipoca no Marco o mandando calar a boca. - Baby, não é mais simples acessar as câmeras da sala?

-O que procurava é tão ou mais importante do que quem procurava. Só um segundo... - Peguei mais um
punhado de pipocas e sorri as atirando na cara do Marco. - Prontinho, são apenas voos, alguns sites de
turismo e jornais.

-Apenas? É analise de território Jade.

-Olha, estavam vendo esse comercial e ele é tão bonitinho! São pôneis! - Revirei os olhos para a
Savannah e observei a Jade acessar o arquivo das câmeras internas da sala... - Alexandria, te quiero!

-Pero yo no te quiero.

-Você fala espanhol?

-Eu era dançarina, aprendi a dar foras em pelo menos 5 línguas diferentes. - Ela revirou os olhos e
mandou um beijo na minha direção ecoando o som do beijo no comercial.

-Lexie... - Me inclinei na direção da Jade e aproveitei as imagens no vidro espelhando suas ações no
tablet. - A nossa intrusa. - Ri das imagens da garota se esgueirando pela sala. Há, olhos perspicazes! - Ela
não estava fazendo nada de ilegal Lexie, só estava pesquisando meios de voltar para casa, ela fica
afastada de todos, não fala nossa língua e deve sentir saudades de casa.

Estreitei meus olhos para ela prendendo o bufar que teimou em sair.

-Sei...

-Todos pulem da cama, vou começar a invadir quartos com um jarro de água em alguns minutos! - Joguei
algumas balas de menta na boca e mastiguei junto com as pílulas para a dor de estomago e cabeça. - Se
eu não consegui dormir vocês também não têm esse direito, ficaram até as duas e meia da manhã
comendo, bebendo e ouvindo música, agora é a hora de treinar!

Fiquei parada no corredor da academia vendo as portas se abrirem fazendo cabeças brotarem e me
encararem por alguns segundos antes do meu grupo começar a sair de seus quartos com os olhos fundos
e sonolentos. Eles já deveriam estar acostumados com isso, tivemos um ano e meio tão interessante e
divertido.

-Vamos voltar a rotina, temos trabalho a fazer. - Apontei para a academia e gemendo de desgosto cada
um deles passou por mim entrando no cômodo para se trocarem.

Nunca confie neles para fazerem isso em seus próprios quartos em menos de cinco minutos.

Deixei a jarra no canto do corredor e apertei meus tênis, olhei o relógio na parede da antessala e senti
minha cabeça vibrar com a sensação tão familiar de ressaca.

-O retorno é uma vadia Alexandria... - Pisquei meus cílios maravilhosos na direção da Jamille e levei todos
para fora. Circulamos correndo todo o território, me sentindo inspirada pela noite de ontem passei o
caminho inteiro puxando o coro de “I’ll Make A Man Out Of You”, entramos na academia bem mais
alertas e formei duplas mais uma vez.

-Uma vez que encontrarem o seu equilíbrio, a vitória será certa! - Mesmo na academia continuei a gritar
a música de Mulan, arrancando alguns risos da Jade que ajudava o Lucca a fortalecer alguns músculos no
lado oposto ao nosso. - Vamos Marco, tranquilo como uma floresta e ardente como o fogo! - Ele grunhiu
sendo imobilizado pela Giuliana e me distraindo por alguns segundos a Jamille me jogou no chão
deixando a nossa posição completamente espalhada a deles.

Fiz meu movimento ao seu redor alternando nossas posições e olhei de relance para o lado encontrando
o Marco rindo ao fazer o mesmo com a minha gatinha. Eu sempre disse que a sua guarda no chão é uma
merda.

-Ela foi vestida de Xena nos três últimos Halloween em que participamos. - Ergui a cabeça encontrando o
olhar do babaca parado na porta usando um moletom cinza e antes que qualquer coisa deixasse minha
boca a Jamille teve a sua chance. Ela escapou e me circulou com as pernas me prendendo no tablado na
mesma posição de submissão que havia sido presa; grunhi sentindo meus músculos doerem, mas mesmo
com o risco de distensão movi meu braço puxando seu pescoço e a trancando no chão.

Provavelmente não acostumada ao movimento sua mão livre bateu no tablado e imediatamente a soltei
a ajudando a se levantar.

-O que quer Alexandre?

-Vim me juntar ao treinamento. - O encarei por alguns segundos e ri apontando para a porta pedindo
com o olhar para que ele sumisse da sala.

-Suma. - Dei as costas para ele e verifiquei o pescoço da Jamille. Nunca fiz esse movimento sem a
intenção de quebrar o pescoço do alvo, isso me preocupa um pouco. - Está rígido, consegue virar?

-Consigo, mas dói bastante. - Balancei a cabeça e suspirei.

-Não deveria ter revertido o movimento. Tire o resto do dia de folga, coloque uma compressa com água
morna e beba alguns comprimidos para a dor; vai ajudar. - Peguei suas roupas do cabide e entreguei a ela
a seguindo com o olhar até passar pelo batente da porta. E ele ainda está aqui...

Capitulo 15

A arma foi descarregada sobre os três cadáveres, a respiração forte e descompassada e o choro alto da
Meredith encheram a sala, meus olhos fixados na tela foram fechados por alguns segundos antes de
saltar da mesa e subir a grade, a Jade estava ali, parada no corredor abraçando o Marco que balançou a
cabeça pedindo alguns minutos.

Ela tem limites que fazem uma ponte entre o que trabalhou como ética e moral – para a Jade uma coisa é
ver pessoas que nós consideramos culpadas serem mortas, outra completamente diferente é ver pessoas
consideradas inocentes serem mortas.

Ela tinha que escolher a corrente utilitarista.

-Porque você não fez nada? - Desci a grade e me virei encontrando a Meredith há alguns passos de mim,
os olhos vermelhos marejados, irritados e pingando dor. - Você poderia ter ajudado, eles poderiam estar
vivos! - Segurei seus braços que começaram a tentar me acertar e a puxei para perto a cercando com os
meus braços, sentindo seus punhos continuarem a me acertar.

-Eu não posso salvar todos, ninguém pode. - A apertei e respirei fundo sentindo os soluços contra o meu
corpo. Chamei o Leonard com o olhar e assim que a grade subiu entreguei a Meredith a ele; me movi
pela sala e voltei ao meu lugar ao lado da Jade.

-Voltei ao meu lugar, voltei a ficar centrada... - Circulei os ombros da Jade e a apertei contra mim
deixando um beijo na sua têmpora. - Posso encerrar a gravação? - Soltei a Jade e empurrei o babaca da
mesa deixando espaço para o Marco. Voltei a focar o olhar na tela acompanhando a van derrapando pelo
caminho. O que está feito está feito.

-Encerre, edite e tenha a certeza que ninguém conseguira nos rastrear através dele. - Peguei o tablet e
mandei uma mensagem para a Savannah, Lucca e o Derick entrarem no esquema, peguei o tablet que a
Savannah estava usando e anotei o nome do dono da van. - Quero as gravações das câmeras que todos
usaram na noite que queimamos a mansão, será o nosso último movimento nessa cidade.

-Edição natural ou cruelmente manipuladora? - Sorri para o Lucca e dei espaço para o três nerds se
sentarem em cima da mesa, recebi os arquivos com as filmagens da mansão no safes e me afastei para os
fundos da sala para me conectar a um dos computadores.

-Isso é cruel o bastante, não acha? - Conectei o celular e abri as filmagens de dois dos soldados. - Tente
focar nos rostos de todos eles.

-Tenha certeza que será isso que estarei fazendo. - Controlei o meu corpo para não me virar e suspirei me
sentando na poltrona, logo a Giuliana, a Jamille e o Marco tomaram seus lugares ao meu lado e pegaram
os vídeos dos soldados.

-O que vocês estão procurando? - Pausei o vídeo e inclinei a cabeça para trás encontrando o Dr. Reid a
vários passos de distância.

Estiquei minha mão na sua direção e revirei os olhos quando ele e o babaca se moveram juntos na minha
direção.

Eu tenho certeza que a gêmea sou eu.

-Eu estava te procurando, sabia que somos compatíveis até mesmo no tipo sanguíneo? - Fiz biquinho de
beijo e pisquei meus olhos na sua direção. Ele sempre fica tão vermelhinho! Ouvi o riso das meninas o
fazendo ficar ainda mais envergonhado e me virei para a tela aumentando a imagem. - Estamos
analisando os passos dos participando da noite em que invadimos a mansão, se tiver algo para aparecer
posteriormente em alguma investigação de local poderá aparecer agora e assim estaremos prevenidos. -
Troquei pela filmagem da Giuliana e suspirei acompanhando a sua entrada pelos fundos. Apenas ela e um
dos rapazes do Otavio usaram a saída dos fundos para invadir, após tudo ser fechado e os outros presos o
Otavio dispensou os colegas tomando conta do salão com a ajuda do Marco.
Os rapazes não devem ter mais que 20 minutos de filmagens.

-Porque pediu para a filmagem ser editada e o que fara com isso? - Rodei na cadeira e cruzei as pernas o
olhando de forma incisiva, quase debochando do meu inocente irmãozinho. Não está obvio?

-Ela vai soltar a filmagem para a imprensa. - Sorri batendo palmas e joguei um beijo na direção desse
homem corado e fofo. - Isso vai atrair muita atenção que será um problema para nós, não é uma boa
ideia. - Revirei os olhos para o meu loirinho e passei a minha filmagem para a Jamille, estalei os dedos na
frente dos olhos de whisky e me levantei os puxando comigo para a antessala.

Eu levaria apenas o Aaron, mas aparentemente ele tem um gêmeo siamês.

-Já que você parece ser um grande conhecedor sobre comoções publicas Aaron, por favor me ensine. -
Me sentei na poltrona e cruzei as pernas encarando os meninos. Ele é inteligente, o ensinaram muito
bem, mas tem alguma coisa...

Ele quase não abre a boca, não se impõem e isso é um desperdício.

-Não entendo o que você quer, apenas penso que essa exposição é uma péssima ideia.

-Vamos jogar, me diga por que é uma má ideia... - Saltei em direção a mesa de centro e puxei o fundo
falso, apontei o sofá de dois lugares e bati três copos na madeira, tirei a garrafa de conhaque do fundo
falso e enchi os copos empurrando na sua direção.

Seus dedos tocaram o copo e começaram a circular lentamente os enfeites no vidro, os olhos analisando
o liquido escuro enquanto o babaca começou a mandar o conhaque para dentro, tentando controlar a
careta que invadiu seu rosto. - Só não é inteligente Alexandria...

-Aaron, não aja como se fosse burro, apenas fale o que está martelando na sua cabeça.

-Se liberar esse vídeo as pessoas vão perseguir o garoto, vão encontrar o local e consequentemente as
celas no subsolo e irão fazer um caminho direto até cada um de nós. - Revirei os olhos para o babaca e
enchi mais uma vez o seu copo.

Desmaie nesse sofá, irá facilitar tanto a minha vida.

-Concorda Aaron? - Me inclinei na sua direção espelhando a sua postura e puxei seu olhar para o meu. -
Bom, vamos supor um passeio por toda essa situação, sintam-se confortáveis para me interromper caso
seja necessário. - Me levantei da poltrona com o copo do meu loirinho e os encarei de cima começando a
ouvir os sons irritantes das unhas de plástico batendo contra o vidro. Esta sala está tão silenciosa e a
atenção de ambos tão focada... - Uma vã banca transporta três adolescentes até um território
abandonado, eles saem da vã e são puxados para o mesmo lugar onde outros corpos são descartados e
um pente com doze balas é descarregado sobre eles. As pessoas pensam, “isso é repugnante, por que ele
fez isso?” - Me aproximei da janela e puxei as cortinas escurecendo o cômodo. Balancei a cabeça para os
dois sentados e voltei ao meu lugar cruzando as pernas, aspirando o cheiro do conhaque intocado no
copo. - As pessoas vão passar esse vídeo para frente mesmo sendo repugnante porque estão certas e
querem ajudar a prender o cara malvado e por isso vão pesar sobre qualquer membro ou órgão que
tenha a ver com segurança e deixa eu te contar, existe sim má publicidade, principalmente no ramo
político.

-E eles vão pressionar os responsáveis pela investigação. - Sorri balançando a cabeça e me inclinando na
sua direção lhe devolvi o copo, tomando o cuidado de fechar suas mãos ao redor do vidro aquecido pelas
minhas pequenas mãozinhas. - Mas a sua falha de raciocínio está nesse ponto Alexandria; nós sabemos
que você colocou os corpos naquele buraco e quando a investigação chegar até ele a bomba será
imensamente maior...
-Humm, acho que não... - Sorri puxando a almofada e quase grunhindo de felicidade ao encontrar um
pedaço de alcaçuz na poltrona. - Assim que pegarem a van irão encontrar as armas usadas, um pano de
mesa usado para arrastar os corpos estará no meio dos escombros e convenhamos, acha mesmo que os
poderosos chefões irão querer esse caso aberto por muito tempo? O sistema é complicado meninos, não
pelas regras, mas sim pelas pessoas que as criam.

-Amendoim em que mundo você vive? Acha realmente que as pessoas vão acreditar que um garoto de
vinte e poucos anos entrou em uma sala, matou 30 ou quarenta pessoas, arrastou cada uma delas para
um buraco do outro lado da propriedade, colocou fogo na casa e sumiu apenas para voltar quase
semanas depois para fazer o mesmo com mais três adolescentes? - Arqueei a sobrancelha para o babaca
e cruzei os braços dando uma mordida no meu doce.

-Alexandre, apenas lembrando que você está perguntando para a sua irmã de vinte e poucos anos... -
Balancei a cabeça concordando com a sua expressão de idiota. - E ela está certa, é muito fácil corromper
o sistema, eu já vi o Max fazer isso centenas de vezes. - Balancei a cabeça e grunhi enfiando o dedo na
minha boca. Tinha alguma coisa presa na minha tirinha...

-Amendoim, que nojo... - Abri a boca lhe mostrando a língua com o doce mastigado, quase me inclinando
na sua direção apenas para morder outro pedaço, forçando os meus dentes a fazerem ainda mais
barulho ao mastigar de boca aberta. Idiota.

-Fique sabendo que se você não estivesse aqui eu teria a certeza de deixar o cover do Matthew Gray ter
uma boa visão dos piercings nos meus mamilos. - Peguei o meu copo e saltei da poltrona mandando um
beijo na direção do rosto completamente vermelho do loirinho, fiz o meu caminho pelo corredor os
deixando para trás e puxei a grade da sala dos computadores. - Temos algo?

-Não achamos nada, os outros apenas entraram, limparam o território e saíram em menos de vinte
minutos. Os moveis, livros e documentos foram colocados no deposito e o restante do território foi
afogado em gasolina, coca, limão e sal. Tenho quase certeza que nada nunca mais vai crescer naquele
jardim. - Ri do Marco e saltei sobre a mesa bocejando. - A Savannah colocou os vídeos em CD’s, não
iriamos soltar nos fóruns?

-Sim, ela é esperta. - Saquei meu celular do bolso e me inclinei ao ouvir os soluços da Savannah. - Ela viu
o vídeo completo?

-Temos três versões, cada um deles fez de uma maneira diferente.

e sem sequer olhar para trás seguimos nosso caminho até nos aproximarmos da minha moto, apenas
coloquei o capacete e apertei os braços da garota ao meu redor antes de acelerar até a estação de trem
mais próxima.

Deixei a moto parada na rua e arrastei a Charlie para o metro, comprei nossas entradas e subi um pouco
mais as alças da sua mochila apenas para deixa-la com o tamanho normal. Nos aproximamos da
plataforma e entrei em qualquer trem que nos levasse para longe dessa área.

-Onde estamos indo?

-Vamos rodar um pouco, depois iremos para o apartamento pegar nossas coisas. - Me segurei na barra e
sorri a vendo se jogar em um banco vazio ao meu lado. Descemos alguns minutos depois, a deixei olhar
por alguns minutos um artista de rua dançando, comprei alguns doces e um café e entreguei a ela antes
de entrarmos em um vagão; paramos em pelo menos seis plataformas antes de finalmente começarmos
nosso caminho em direção ao centro de Nova York, o caminho foi bem mais extenso, ela basicamente me
usou como encosto e se cobriu com a mochila.

Sacudi seus ombros e a puxei para fora do trem, subimos as escadas e respirei fundo o ar puramente
poluído da minha cidade favorita. A deixei pedir um taxi e apenas fiquei parada ao seu lado revirando os
olhos para as atitudes infantis da garota; dentro do carro puxei o meu tablet e me conectei ao aplicativo,
abri as câmeras do último andar e enquanto a Charlie conversava com o motorista repassei a gravação
das últimas horas

----

-Não quero ficar do lado de fora sozinha. - Suspirei vencendo meu instinto de me virar com a arma em
riste e apenas balancei a cabeça.

-Va ficar do lado de fora piralha.

-Ela ainda não entendeu, repita garota. - Um riso inconsequente deixou minha boca ao ouvir uma voz
profunda atrás de mim. Ergui as mãos e ainda de joelhos em meio a mistura de coca e sangue nos fundos
da vã me virei com cuidado deixando claro cada um dos meus movimentos. - Vamos, repita.

-Vá pra casa do caralho, arrombado. - Ri da sua voz raivosa e das palavras rápidas quase cuspidas na sua
língua. - Vai ficar rindo ou vai meter a porrada nele?

-Não é assim que as coisas funcionam Karen, eu sigo um processo. - Relaxei sobre a minhas pernas e
suspirei piscando meus olhinhos na direção do ilustríssimo senhor de terno segurando uma arma contra a
coluna da Charlie. - Ela nos apresentou?

-Vá desamarrar aquele idiota e sequer tente fazer alguma gracinha ou juro que vou colocar uma bala no
seu fígado e você vai morrer bem lentamente.

-Ele tem razão, estamos a algumas horas de um hospital e com certeza você morreria. - Apontei com a
cabeça para Evan que ainda tentava se livrar das fitas. - Não seja mais lerda que de costume, ele não
parece ter muita paciência. - me arrastei de forma deliberada até a beirada da van e me sentei deixando
minhas pernas balançando como uma criança. - Sabe o meu nome?

-Eu vou matar você, não preciso saber o seu nome.

-E o pior é que nem posso discordar de você, sinceramente.

----

-Você não sabe da missa a metade Major! - Passando pela porta a Charlote entrou quase correndo no
cômodo, um sorriso enorme no rosto maquiado e o cabelo bem preso em uma transa lateral assim como
a Alexandria. - Hoje foi um dia fodidamente louco e ela estava tão calma, debochando e flertando.
Quando eu crescer quero ser como ela...

-Gostou do dia de folga enquanto nós ficamos aqui nos matando de treinar Charlote? - Revirei os olhos
para o Carrick e dei espaço para a garota se sentar.

Durante todos esses anos ela nunca falou nada, agora parece querer falar tudo em um único dia.
Ela tem o nosso respeito por fazer até mesmo o Aaron e eu de idiota, isso não é algo que alguém consiga
com frequência, principalmente durante tantos anos.

-Eu com certeza amei, só hoje eu usei uma roupa colorida depois de anos, andei de moto, entrei no
apartamento das meninas, participei de forma muito corajosa de um esquema, tomei o primeiro café
com gosto de café depois de anos, fomos a um mercado em um lugar com nome engraçado cheio de
vinho, comida, queijo e fomos perseguidas pelo filho dos Neal e um dos socios da empresa que iria cuidar
da segurança do centro de NY. - Respirei fundo passando a mão pelo meu cabelo, quase o arrancando de
nervosismo. Custava ter começado com isso? - Tentamos sair correndo, mas eles nos pegaram e o garoto
estava bem puto, a Alexandria havia me passado umas regras e assim que eles estavam nos pagando ela
começou a deixar ele com raiva e ele começou a bater nela que o provocava e as pessoas paravam para
ver, afinal o cara tava batendo em uma menina e no meio da confusão ela me empurrou e eu sai
correndo pela rua gritando ‘fogo’, ‘fogo’! Eu estava cagada de medo, mas agora olhando para trás foi tão
legal.

-Charlote, como ela está?

-Se você me deixar terminar de falar... - Revirei os olhos e me acomodei ao lado do Aaron no sofa, seus
olhos ainda focados no livro, porem obviamente ele não prestava atenção. Seus dedos sequer se moviam
na página. - Depois que eu sai correndo me lembrei que a Alexandria me deu dinheiro e um celular, então
eu liguei para a Jade e ela me passou para o Derick que foi me buscar e me levou de voltar para o
apartamento das meninas, aparentemente aquele lugar é quase um fort. Algum tempo depois a
Alexandria apareceu e ela estava encharcada de sangue, eu conseguia sentir o cheiro do sofá, onde por
acaso eu fingia dormir.

-Tantas perguntas, tão pouco tempo... - Estreitei meus olhos para a Meredith por atrapalha e acenei para
a Charlote continuar.

-Bom, pulando a parte em que eu a vi enchendo uma bolsa de armas e facas, nos juntamos um monte te
coisas e levamos para onde o filho dos Neal estava preso... - Me inclinei um pouco mais para frente
testando a sua hesitação, ergui os olhos e movi as mãos a apressando – ele estava preso na plataforma
de purificação.

-Ela...

-Não, não foi ela que trouxe, eu não tenho certeza, mas parece que ele trouxe para ela, como ela saiu
disso eu não sei.

-Ok, obrigado.

-Eu não terminei, o garoto ainda esta vivo e respirando Major... - Respirei um pouco mais aliviado e
balancei a cabeça apenas para confirmar. - Ela não matou o garoto, aparentemente tem outros planos
para ele já que na vã estava o cadáver do segurança e para encurta tudo já que o seu rosto esta meio
confuso ela limpou absolutamento tudo e as armas que foram usadas naquela noite foram colocadas no
carro do garoto e a Alexandria deixou um recado para ele passar para os outros quando forem visita-lo na
prisão; ela disse para ele se lembrar bem do rosto dela, para descreve-la certinho para os outros pois ela
e outras duas pessoas estavam indo atras deles e que eles iriam aprender as regras do jogo dela.

Epilogo de NY

Livro 2 – Alexandre
-Ela saiu?

-Ainda está no prédio, a Charlote está esperando no helicóptero. Não se preocupe, a Lexie dirige como se
não houvesse uma razão para existir, então ela estará no heliporto a tempo. - Balancei a cabeça para a
garota que viveu com a Amendoim pelos últimos anos e suspirei apertando a bolsa de gelo nos meus
dedos. - Ali está ela, sempre andando como se não tivesse um saco de pecados. Ela tem uma confiança
inabalável.

-Quando algo não saia como ela queria eu era o porto seguro, era para mim que ela corria e pedia ajuda.
- Sussurrei para ela que se sentou ao meu lado olhando a tela com cuidado, buscando algo que possa
atrapalhar a garota dirigindo calmamente por um dos bairros mais perigosos de NY.

Ou era a uns oito anos.

-Estou ouvindo. - Voltei meus olhos para ela e a acompanhei saltar da mesa e abrir mais quadros sobre a
tela, seus dedos basicamente voando sobre os teclados. - Ok, de acordo com o seu movimento estarei
liberando os sinais, tente se manter no limite de velocidade por favor. O helicóptero está programado
para sair em uma hora e meia.

Tentei pegar um dos pequenos pontos envoltos em plástico siliconado semi transparente que elas
usavam, mas ao colocar no ouvido nenhum som saiu me restando apenas acompanhar a movimentação
do seu carro nas câmeras. Enquanto ela obviamente ditava pedidos a garota a porta se abriu e o cheiro
de café encheu o ambiente, na sua maneira usualmente silenciosa o Aaron se aproximou e me estendeu
a xicara fumegante começando a observar as câmeras assim como eu.

Consegui relaxar um pouco a postura quando a Amendoim desceu do carro em frente ao prédio que
aparentemente é a nova sede da empresa que o papai e o Otavio fundaram com alguns amigos da elite.
Ela entrou andando como se tivesse o mundo na palma das mãos, sorrindo e parando para conversar e
cumprimentar os guardas da entrada; quando ela subiu no elevador mudei de câmera como a garota
havia me ensinado e a observei mexendo no celular com um sorriso, mas antes de sair no telhado onde
estão o heliporto e a Charlote ela ergueu o olhar e abriu ainda mais o sorriso piscando para a câmera.

Obviamente para a garota.

-Pilote com cuidado e já vou ter tudo o que me pediu assim que chegar aqui! Beijo gostosa! - Revirei os
olhos para elas e me levantei da mesa, fiz um sinal para o Aaron para sairmos da sala, mas seus olhos
ainda se mantinham na arvore de contatos que as meninas usam.

Quando se vive 24/7 com alguém durante oito anos se aprende algumas coisas.

-Quer ir a biblioteca?

Não esperei uma resposta pois não seria respondido, apenas o deixei olhando a imagem completa por
mais alguns minutos, o deixando absorver as informações; quando ele finalmente pareceu finalizar o seu
processo de memorização saímos para fora deixando a garota a e Savannah – que havia se juntado a ela
alguns minutos depois do Aaron chegar – e seguimos para a biblioteca.

Pelo horário os outros havia cessados seus treinamentos, mas o Joshua ainda estava na academia
correndo em uma esteira com pesos no tornozelo, o deixamos quieto como ele prefere e encontramos os
outros jogados nos sofás e puffs espalhados pela antesala, todos juntos enquanto ignoravam o Liam
sentado na poltrona do lado oposto com um copo de alguma bebida nas mãos.

Ele testa a minha paciência.


-Sua presença ainda nos incomoda, então saia da nossa frente Liam. - Peguei o copo da sua mão o
ignorando e o joguei pela janela, sequer olhei em seu rosto sabendo que o estupido sorriso malicioso
estaria me aguardando.

Amendoim também vive com esse sorriso idiota e malicioso no rosto, meu sangue ferve de raiva ao vê-
los e aparentemente eles sabem disso.

Provavelmente parte do castigo que ela está aplicando a mim.

Ela me ignora, como se eu não existisse e nem estivesse ao seu lado, mas também faz questão de se fazer
presente para me irritar.

-Cara, precisamos resolver isso. Como serão nossas futuras reuniões de família se você não se dá bem
com o seu único cunhado? - Respirei fundo me contendo para não atacar o idiota na frente dos outros,
apenas apontei para a porta e o segui o empurrando por todo o caminho até o final do corredor,
finalmente longe do ponto de vista dos outros. - Vai me mandar ficar longe da sua irmãzinha?

-Porque eu faria isso? Eu percebi que ela pode se defender melhor que qualquer um aqui, então o
máximo que posso fazer é te avisar para ficar longe deles, nós não iremos esquecer o que você fez para
ter a sua vida de bonequinho de luxo do lado de fora Liam, não chegue perto, se puder evitar sequer
respire o mesmo ar que esse grupo; você não merece...

-Mais uma vez me desculpe se eu queria ter uma vida além de servir de guarda, cantar noite após noite
com uma coleira no pescoço e ser trancafiado, me desculpe por querer mais! - O empurrei em direção a
saída e estreitei meus olhos em direção a sua expressão banhada em raiva.

Sempre as mesmas desculpas.

-Então meus parabéns Liam, três vidas pela sua. - Me virei para voltar a biblioteca, mas no meu primeiro
passo ouvi o riso debochado tão característico dele e sem me conter mais voltei alguns passos para trás,
fechei a porta e o empurrei contra a parede lançando meu punho contra seu rosto. Queria fazer isso a
anos! - Como eu nunca precisei mentir para você, devo dizer que isso também é por ter tocado na minha
irmã.

-Desgraçado.

-Não mais que você, com certeza. - O deixei segurando a cascata de sangue escorrendo pelo seu nariz e
voltei a antessala onde o Aaron e os outros já estavam ao redor da mesa de centro, peguei o livro que o
Aaron me estendeu e arranquei a minha própria lista de nomes de uma das paginas. - Ok, vamos
continuar, o Aaron conseguiu uma visão da arvore completa se quisermos sermos uteis nesse momento
temos que finalizar isso.

-Mais uteis? Aquela desgraçada me deixa moído e roxo todos os dias, até essa amanhã eu não estava
sentindo o meu braço esquerdo de tanto que ela o usou para me jogar no chão e ainda dizer o quanto a
minha guarda é horrível. - Revirei os olhos para o Carrick e estalei meus dedos tentando ignora-lo.

-Não seja mais estupido que o comum Carrick, só porque uma garota chuta a sua bunda não tente
colocar a culpa nela, afinal medroso e estupido você sempre foi. - Bufei uma risada olhando de forma
agradecido para a Meredith.

Eu tento não incentivar os conflitos entre eles, mas agora que a Amendoim está envolvida está se
tornando impossível manter a imparcialidade. Eu quero defende-la, quero ajuda-la, mas quando ela ou os
outros entram no meio do caminho...

-E devo lembra-lo que graças a essa desgraçada você está aqui fora Carrick? - A voz do Aaron encheu o
ambiente e sem sequer tirar os olhos do livro grosso em seu colo ele virou a página, passando os dedos
pelas linhas de forma rápida, lendo na sua velocidade normal já que apenas nos estamos na sala,
gastando menos de um minuto e meio por página. - Se está desconfortável no que está fazendo eu sei
que as meninas estarão finalizando a dispensa essa madrugada, fique à vontade para ir com os outros.

-Eu disse que irei ficar...

-Então colabore, pois absolutamente tudo que você fez até agora foi reclamar. - Voltei ao meu lugar e
peguei um lápis que a Meredith havia escondido entre os livros. - Ok, sabemos que ela dominou o polo
de NY de baixo para cima; Diccod, os Villen, Neal, o pastor, os cobradores, os Duvivier e o restante do
baile. Todo o polo de NY estava na comemoração, temos alguma exceção? Quem ficou responsável pela
agenda e pela recepção? - Bati o lápis na mesa e fixei meus olhos na Meredith e no Leonard, ambos
abraçados no sofá me olhando com a mesma expressão de exasperação que deve estar em meu rosto.

-Nós já lhe dizemos; eu estava responsável por escrever, selar, laminar e encaminhar os convites e eu fiz
83 deles, todas as famílias do nosso polo e estando na recepção os únicos que eu não vi foram os irmãos
Carrier e suas famílias. Não é uma surpresa, eles nunca compareciam mesmo... - Balancei a cabeça e
circulei pela terceira vez o nome dos Carrier.

Eles foram os únicos que escapar e para qualquer movimentação financeira, inclusão ou doação é
necessário o selo de ambos.

Posso contar nos dedos quantas vezes os vi nesses oito anos.

-Eles não são fixados no polo de NY, um é fixado em Chicago e o outro em NO, depois que a responsável
financeira do polo de NY morreu a uns 13 anos eles não viram motivos para promover alguém daqui,
afinal a sede de NY não é tão avançada e cheia como as outras. Eles apenas dividiram entre si a
responsabilidade e o dinheiro. - Concordei com o Aaron, mas suspirei ainda com o código de regras e a
história do grupo na minha cabeça.

É difícil se esquecer de algo que foi martelado na sua mente enquanto um chicote salpica suas costas e o
cheiro de pele cozinhando sobe no ambiente.

-Nós sabemos disso Aaron, mas pelas regras eles não poderiam fazer isso e com certeza alguém foi
nomeado pelo topo, mesmo que apenas para levar o título no papel... - Antes que alguém continuasse a
falar o som de um helicóptero se aproximou e logo se afastou, como se sequer tivesse pousado no solo. -
Encerramos por hoje, vamos esperar termos um pouco mais de tempo para conversar sobre isso.
Sozinhos, por enquanto, ok?

-Porque não avisa ela? No final de tudo ela ainda é a sua irmã e te ama Major. - Escondi o lápis, o livro e
qualquer outra anotação e dei de ombros para a pergunta do Leonard.

A Lexie sempre foi complicada, incrivelmente mimada e nunca teve problemas que eu não conseguisse
resolver, afinal ela é minha irmãzinha, mas eu ainda não achei essa garota na minha irmã.

Ainda não achei a Alexandria Masen, a garota arteira e a violonista com a óbvia paixonite pelo tutor, a
garota que me obrigava a fazer fantasias combinando todo maldito halloween.

Eu sei que essa mulher que eu vejo diariamente nos últimos dias é a minha irmã, mas eu não vejo a
minha irmã.

-Aparentemente minha irmã está tendo um momento complicado.

-Que eufemismo, não é mesmo? - Dei uma cotovelada no Aaron tirando o sorriso irônico de seu rosto.

Ele não perde a oportunidade de ser um bundão.

-É melhor vocês irem descansar, a Alexandria com certeza irá tomar as rédeas amanhã.
-Que ótimo... - Estreitei meus olhos para o Carrick que apenas bufou e se levantou puxando a camiseta de
treino e entrou no nosso banheiro, provavelmente para colocar gelo e alguns medicamentos nos seus
ferimentos.

Ele não deixa mais ninguém fazer isso.

-Estamos quebrados, iremos dormir. Boa noite Major, geniozinho... - Sorri me despedindo dos dois e o
Aaron fechou o livro o deixando em cima da mesa, nos levantamos e saímos da sala apagando as luzes,
saímos para a área e me sentei nos degraus vendo um pequeno ponto escuro no alto da coluna, o único
ponto de luz sendo segurando entre seus dedos.

-Ela é boa Alexandre, não precisa se preocupar.

-Não me preocupar com essa Alexandria? Impossível... - Respirei fundo observando o ponto de luz se
apagar completamente e em menos de um minuto outro se acender me fazendo apoiar meus cotovelos
nos joelhos para manter meu tronco ereto, segurei meu cabelo ainda a encarando e apertando meus
dedos com força, quase arranco os fios - Ela parece quebrada cara, eu olho para ela e não vejo nada,
absolutamente nada! Tudo parece ensaiado, pensado, não parece ela, não tem essência e eu sinto que
ela está escorrendo por entre os meus dedos sem que eu sequer tenha uma chance de me aproximar.

-Não se desespere Alex.

-Acho que é um pouco tarde para isso. - Pela segunda vez o ponto de luz se apagou e diferente da vez
anterior ela se virou e começou a vir na nossa direção com passos lentos e firmes, seus olhos mais
escuros a cada novo passo em direção a luz assim como os hematomas em seu rosto de porcelana.

-Boa noite loirinho, sentiu minha falta? - Revirei os olhos e bufei para o sangue se acumulando nas
bochechas do geniozinho. Estando a poucos passos de nós consegui ver com clareza a marca de dedos
em seu rosto, roxeado quase preto, quatro dedos perfeitamente marcados e antes que qualquer coisa
conseguisse deixar a minha boca ela passou por nos mexendo no cabelo do Aaron e entrando
novamente.

-Aaron...

-Não fale nada. - Bufei mais uma vez e me levantei ao notar a Savannah com uma garrafa térmica na mão
trazendo o cheiro forte de café até nós. Ela não bebe café, vive a base de chás e chocolate quente.

-Venha, as meninas estão trabalhando em alguma coisa...

-Elas sempre estão trabalhando em alguma coisa, quero ver nos deixar saber sobre. - Revirei os olhos e o
puxei para cima.

-Você se sentindo travado é um saco.

-Que bom que eu tenho fases, você geralmente é um saco o tempo todo. - Lhe dei um soco no ombro e
segui o arrastando junto para a sala dos computadores, abri as portas da forma mais discreta que
consegui e entrei na sala tendo plena consciência de que não enganamos ninguém com a nossa entrada
silenciosa.

O tamanho da sala não permitiria.

-Ok, disseminem ainda mais o vídeo do Evan, separem as edições por grupo e repassem, um dos meninos
é negro e a menina parece ter uns 13 anos, façam pressão nisso. - Me encostei na parede e observei a
Alexandria sentada entre a garota e a Savannah, seus olhos focados no garoto sentado em um canto
chorando, o rosto com grandes hematomas batendo a própria cabeça contra as algemas em seus pulsos.
- Eu deixei escapar para alguns dos meus contatos que os policiais do 16° distrito o tem sob custodia, mas
que as investigações não foram iniciadas, caso pressionem o detetive indicado para o trabalho soltem
informações apenas sobre os chefes do distrito, sobre os chefes de segurança da capital; façam o público
ir atras e pressionar os peixes grandes...

Movi meus olhos pela sala vendo todos compenetrados em suas próprias tarefas, ainda que ouvindo
enquanto ela ditava o ritmo do trabalho e algo se tornou bem claro para mim e acredito que para
qualquer um que tenha vivido com ela; ela arquiteta e delega, os demais apenas vão seguindo em
confiança basicamente cega, confiando que ela está os guiando pelo caminho certo.

-Façam pesquisas sobre os superiores, puxem escanda-los e esquemas, principalmente aqueles que
tiveram uma cobertura menor da mídia. - Os olhos da Savannah se voltaram para nós e um pequeno
sorriso se abriu em nossa direção enquanto a Alexandria continuava a digitar na tela do seu tablet me
ignorando. - Quando eles começarem a serem atacados irão jogar os responsáveis pela investigação na
fogueira, se você não quer que eles sejam atacados ira precisar de um contra ponto, matérias e notícias
sobre corrupção, esquemas, cortes de orçamente e casos administrativos que anteriormente não tiveram
tanto destaque.

-Façam isso. Babaca pesquise boas notícias sobre o distrito, eu sei que eles tiveram um aumento
considerável no número de casos solucionados e que a responsável pelos casos é uma das melhores
detetives de homicídios que NY tem a oferecer, se não a melhor. - Peguei o tablet que ela me ofereceu e
em seguida tirou um novo de uma caixa, o ligou e passou para Aaron, com um sorriso fletante o fazendo
corar. Novamente. - Loirinho...

-O outro lado, compreendi.

-Ótimo, preciso fazer algumas ligações e atualizar a minha lista de trabalhos. - Sem deixar que eu me
aproximasse ela saiu da sala, já com o celular em uma mão e a uma garrafa de vinho na outra, assumi o
seu lugar e os olhos claros da garota se fecharam nos meus enquanto seus dedos ainda digitavam de
forma rápida no teclado em seu colo.

-Ótima ideia Alexandre. Pesquise no nosso sistema o nome da detetive, Siarie Palmer Backet, ambas as
etapas já foram iniciadas; a Lexie já havia começado a fazer a pesquisa... - Bufei me encostando na mesa
de alumínio. - Quem sabe na próxima, seja mais presente e tente juntar os grupos ao invés de manter sua
reunião escondida só porque a sua irmã está em ‘um momento complicado’. - Senti meu rosto cair e se
tornar impassível a mesma medida que o Aaron voltava ao tom vermelho beterraba.

-Você não tem o direito de nos espionar dessa maneira.

-Você está em uma unidade de treinamento de uma instituição privada, deveria ter pedido o contrato
antes de escolher ficar, dessa maneira com certeza saberia que sim, eu tenho esse direito. Ira continuar
com a sua tarefa? Tem uma equipe trabalhando a mais de dois anos juntos que pode assumir e nos
próximos 60 segundos, quando finalmente se decidir entre ficar ou sair pela minha porta comece a
pensar sobre ficar aqui depois de saber que o que a Alexandria faz não é metade do que eu estou
disposta a fazer pela única família que me resta. - Ergui a cabeça encarando de cima a figura minúscula na
minha frente, sentindo sobre as minhas costas o olhar dos outros garotos sobre mim.

-Eu não vou me mover.

-Então tome cuidado, eu terei muito prazer em atropelar você se necessário. - Segurei o tablet com ainda
mais força e me sentei sobre a mesa endireitando a minha coluna me preparando para um possível
encontro bruto com o punho de alguém. Aparentemente eles resolvem tudo com força bruta. -
Savannah, vamos trabalhar em um mapa de interação para ver onde podemos soltar as informações e
separar os que serão usados como chafaris... - Sequer me dei ao trabalho de olhar para ela, apenas me
foquei no aparelho nas minhas mãos fingindo saber como usá-lo.
A última vez que tive um computador nas mãos foi dias antes de sermos levados e com certeza nada
como isso.

-Já estou nisso, peguei alguns foruns e o Twitter.

-O Facebook é meu e apenas como controle vamos listar os Foruns para não trabalharmos nos mesmos.
Luka, pare alguns minutos e ensine o Alexandre e o Aaron a usarem o tablet, por favor. - Revirei os olhos,
mas permaneci no lugar sem olha-la enquanto o Luka vinha na nossa direção com alguns fios pendurados
nos ombros e um sorriso no rosto.

Quem diria que ele estaria aqui, sempre foi tão sensível e frágil como uma criança pequena.

-Major, geniozinho... - lhe entreguei o aparelho e apenas cruzei os braços ponderando entre intimida-lo
para evitar mais perguntas ou me manter na minha. - Vocês não se parecem em absolutamente nada...

Intimida-lo, com certeza.

-Joshua, venha comigo... - Ergui os olhos perdendo a concentração nos exercicios da barra e me foquei na
Amendoim e no Josh por alguns segundos. É a primeira vez que ela realmente se aproxima de um de nós
- Você é forte, tem resistencia e isso é bom, muitos de nós demoram meses para conseguir ter o seu foco.

-Obrigado Senhora.

-Eu quero ver algo, apenas para ter certeza. Marco... - Me soltei da barra e suspirei sentindo meus
músculos queimarem, peguei uma garrafa com o shake que a Lizie nos faz beber para ganhar massa
muscular e me aproximei do tablado mantendo meus olhos na Lexie e nos meninos. - Marco ataque,
Joshua se defenda.

Com um movimento de cabeça ambos se cumprimentaram e de forma mutua os dois corpos se chocaram
um contra o outro – o Josh sempre foi grande e musculoso, mas o Marco é alto e esguio, parece difícil
segura-lo no lugar ou conseguir atingi-lo.

-Marco, o deixe te pegar e Josh finalize... - Franzi o cenho e cruzei meus braços os olhando, por um
segundo os olhos pretos da Amendoim encontraram os meus, mas logo voltaram a ignorar a minha
existência como tem feito durante a última semana. Suspirei e me foquei nos meninos vendo o Josh
segurar o Marco e joga-lo no chão travando seu pescoço por alguns segundos antes de solta-lo e saltar
para trás. - Marco... - Em um movimento rápido o Marco ainda no chão chutou as pernas do Josh o
fazendo cair de joelhos e como uma cobra se lançou sobre ele o derrubou e o prendeu no chão o
subjugando. - Aqui nós não desarmamos pessoas Josh, é necessário também os finalizar ou o movimento
pode se voltar para você como o Marco acabou de fazer. Quando estamos em treinamento e você for
finalizado como está sendo agora diga apenas vermelho ou se não conseguir falar como agora apenas
bata no chão 3 vezes, ok? - Dei um passo à frente observando o Josh ainda tentando se soltar do Marco
que mantem um aperto de aço ao redor dele, mas apesar de ter concordado com a instrução ainda se
mantinha tentando sair da posição de subjugado.

Ele é orgulhoso demais.

-Marco, ele não vai pedir para sair e está ficando sem ar, o solte por favor. - Me aproximei um pouco
mais, mas antes que conseguisse pisar na área próxima aos dois a Giuliana e Meredith apareceram ao
meu lado segurando meus braços.
-Então ele vai ter que aprender a pedir, ou vai sair dessa área desmaiado ou com o pescoço quebrado. -
Estreitei meus olhos para ela que ainda parecia impassível ao olha-los, até mesmo um pouco divertida
vendo o Josh começar a engasgar e ficar um pouco vermelho pela pressão. - Sabe o que acontece quando
ficamos muito tempo sem respirar? Nossa cabeça começa a ficar bem leve, como se estivéssemos
flutuando e o sono começa a vir, te levando e fica tão difícil manter os olhos abertos. É como se você
estivesse descendo de um orgasmo.

-Por Deus Alexandria... - Me soltei das meninas e bufei passando pela minha irmã, evitando olha-la. Que
merdas ela fez para falar isso? - Marco, o solte... - Com um bufar ele mandou um olhar na direção da
Alexandria que apenas balançou a cabeça negando.

-Babaca se interferir não serei eu que baterei em você e sim as duas que estão a alguns passos de
distância. - Olhei para trás encontrando a Giuliana e a Jamille sentadas no chão alongando a Meredith e
nos olhando com um sorriso de canto. - Ele precisa aprender a pedir ajuda, a parar para salvar pelo
menos a própria pele. Se não consegue fazer isso no treinamento não conseguira fazer na rua... - Apenas
balancei a cabeça a deixando fazer da sua maneira como o Otavio havia me dito e dei as costas para eles
um pouco antes de ver o Josh fechando os olhos e amolecendo. - Marco, fique como apoio no
treinamento dele, vocês com certeza são parecidos. Ele é teimoso assim como você era.

Sai da academia os deixando conversando, respirei fundo tentando me encontrar e arranquei a camiseta
encharcada de suor. Me refugiei no meu canto na varanda olhando para o pôr do sol através dos muros,
peguei alguns dos jornais jogados sobre a mesinha da varanda e suspirei olhando a cara do Evan
estampando a primeira página.

Me sentei na desconfortável cadeira de metal da delegacia e coloquei minha mão sobre


a do Christopher para acalmá-lo antes que ele acabasse xingando alguém, me inclinei na sua
direção e descansei a cabeça no seu ombro.
Comecei a apertar e rodar seus dedos, tirei a sua pulseira do meu pulso e a transei nos
seus dedos até finalmente ouvir um risinho baixo escapar dos seus lábios, olhei para ele, abri
um sorriso de canto e me ergui na cadeira para deixar um beijo na sua bochecha.
─ Não tente me distrair. Ainda estou muito zangado com você. – Bom, muito zangado
é bem melhor que extremamente puto, como ele havia quase gritado a alguns minutos. Ergui
seu braço e o passei pelos meus ombros, me inclinei ainda mais sobre ele, ficando mais uma
vez praticamente deitada sobre o seu tronco.
Ele me traz segurança quando me abraça.
─ Eu quis tentar conversar primeiro, Christopher. Eu o conheço a anos, é o mínimo que
eu podia fazer.
─ Podia ter me contado. Você e a Chapeuzinho podiam ter falado para mim e para o
Kevin, somos os namorados das duas, temos o direito de no mínimo saber quando tem um
louco observando e seguindo vocês. – Assenti concordando e passeias minhas unhas grandes
sobre os botons da sua camiseta de algodão. – Nem pense ou eu vou me vingar...
Olhei para ele com um sorriso de canto e continuei a passar as unhas pelo seu peito,
contornando com delicadeza os leves contornos de músculos muito bem feitos na sua barriga
e tórax.
─ O tempo realmente fez muito bem a você, Christopher. – Sussurrei sentindo o sorriso
no meu rosto se estender ainda mais, mas antes que eu continuasse com a minha brincadeira o
Joseph me chamou para entrar na sala junto com alguns policiais.
Me coloquei de pé, deixei um beijo na bochecha do Christopher e saí em direção ao
Joseph até sentir as suas mãos na minha cintura novamente, parei no meio do caminho e
coloquei a minha mão no seu peitoral o parando no lugar. Onde ele pensa que vai?
─ Christopher, eu tenho que ir sozinha.
─ Você se lembra do que aconteceu no supermercado, não é? Eu também tinha que ir
sozinho. – Bufei olhando para ele que apenas segurou as minhas bochechas fazendo um
biquinho ridículo aparecer no meu rosto, acertei o seu braço e me afastei indo na direção do
Joseph até sentir o forte estalo contra a polpa da minha bunda.
Parei no lugar e me virei para ele que voltou a caminhar calmamente ao meu lado, o
sorriso de menino que aprontou aparecendo aos poucos.
─ Você não fez isso, Christopher...
─ O que foi? O tempo também fez muito, muito bem a você, Preciosa.
Ele passou por mim e soltou um risinho ao ser mais uma vez atingido por uma
sequência de socos nos ombros, bufei pisando duro finalmente entrando na sala, passei pela
Demetria que ria discretamente de nós. Assenti para ela e me sentei ao lado do Joseph que
conversava com um senhor de olhos castanhos e rosto completamente fechado.
Aposto que um sorriso não aparece aí a séculos.
─ Ela o conhece da escola. Conte para ele os detalhes, Sapphire. – Soltei um suspiro e
olhei ao redor da sala até achar o Christopher encostado na parede, os olhos azuis
acinzentados presos em mim e o pequeno sorriso da brincadeira anterior ainda presente.
Me levantei da cadeira e fui até ele, passei os seus braços ao meu redor mais uma vez e
voltei a olhar o senhor sentado atrás da mesa. Ele é um pouco intimidador.
Principalmente esses olhos; parecem perfurar até a alma.
─ Eu o conheci há alguns anos na escola. Ele pareceu legal, sempre foi muito cavaleiro
e educado comigo e nunca foi mais que um colega de classe... – Comentei já deixando claro
para ele, afinal, pelos olhos sinistros que ele tem pude ver o clássico ex-namorado
rejeitado’aparecer na lista de itens que possivelmente sua mente está formulando. – Mas há
algumas semanas ele tem aparecido no meio da noite na minha casa para vigiá-la, mandando
mensagens, no sábado à noite ele apareceu em uma festa em que eu estava e me encontrou
sozinha no jardim com o Benjamin no colo. Ele tentou tocar em nós e eu não gostei do olhar
que passou pelo seu rosto quando eu recusei. – O olhar perfurador do senhor na cadeira saiu
de mim por alguns instantes, quase me fazendo soltar um suspiro de alívio.
Esses olhos...
─ Mais alguma coisa, senhorita?
─ Ele e o Christopher acabaram brigando em um supermercado a algum tempo atrás.
Nós estávamos em um passeio com a Dominique e o Kevin e paramos para comprar algumas
coisas, estávamos andando pelo corredor e ele apareceu, me tirou das costas do meu
namorado com um puxão, me jogou no chão e socou o Christopher que revidou. – Revirei os
olhos para o bufar que atingiu o meu pescoço, belisquei o seu braço e sorri para o reflexo do
sorriso da Dominique que aparecia pelo vidro da porta.
Ela não ficaria de fora disso.
─ E suponho que o seu namorado tenha registrado queixa, não é?
Olhei para o Christopher com a sobrancelha arqueada e voltei a olhar para o senhor.
─ Não.
─ Mas já que ocorreu em um local praticamente público deve ter filmagens para
comprovar e, além disso, a ordem de restrição geralmente é liberada nessas circunstâncias.
Ele é um risco em potencial para a segurança dela.
─ Eu não disse que não iria conceder a ordem de restrição rapaz, apenas questionei um
fato óbvio. Você devia ter prestado queixa e deve manter uma ordem para você também
afinal, se esse rapaz te atacou por causa do namoro de vocês já deve imaginar o que pode
acontecer, não é? – Senti o olhar da Demetria sobre nós e um baixo arfar saiu dos seus lábios
antes ir abrir a porta para a Dominique.
Ela já estava fazendo caretas pelo vidro a alguns minutos, possivelmente tentando fazer
com que abrissem a porta.
Ponto para ela.
─ Eu quero que ele fique longe da minha namorada, o restante pode ser considerado
secundário.
─ Ele vai querer uma também. – Falei sorrindo para o senhor que assentiu voltando a
escrever em uma folha branca diferente da que ele usava enquanto eu falava.
O inferno que o Christopher vai ficar assim; ele é forte, mas não é louco.
─ Ótimo, irei pessoalmente cuidar disso. Entro em contato com o Joseph caso seja
necessário. – A Demetria sorriu passando os braços pelos ombros da filha e abriu espaço para
os outros passarem pela estreita porta, e por último me roubou dos braços do Christopher e
saiu puxando a Dominique e eu porta a fora.
Do lado de fora a Rebecca mexia no celular e pelo olhar que ela e o Sebastian lançaram
na minha direção pude saber o motivo da ligação. Parece que ela já vai direto daqui para o
trabalho.
─ Sapphire, se importa de dormir na casa da Demetria hoje? Tenho uma emergência no
hospital, querida.
Novidade.
SAFIRA - COMPETIÇÃO

─ Timothy, ele é uma criança.– Sussurrei dando alguns passos para frente em direção
ao meu pequeno que me olhava confuso. ─ O que você está fazendo aqui? Eu tenho uma
ordem de restrição contra você.
─ Eu sei que você não quis fazer isso, meu Anjo, sei que você foi obrigada então eu
vim aqui te buscar antes que as coisas fiquem ainda mais complicadas. ─ Senti a minha
respiração se acelerar aos poucos trazendo o pânico de volta para a minha superfície,
obviamente estampando os meus olhos. Estendi meus braços e ele simplesmente deixou o
Benjamim correr até mim. ─ Sinceramente estou decepcionado com a Demetria. Achei que
ela cuidasse melhor de você.

Quando finalmente estava começando a ficar completamente entediada a Hope


começou a chamar as meninas. O sorriso da Carrie só superava o da própria Hope no quesito
tamanho, com uma rapidez impressionante ela retirou o moletom e seguiu a Hope até o canto
onde uma das meninas já estava quase pulando no pó de giz.
Com uma delicadeza incrível a Carrie apertou a mão da garota e pisou no pó de giz, se
inclinou e mergulhou as mãos na grande forma de madeira fixa no chão, deixando as luvas e
seus dedos mais do que brancos. Ela nem parecia a bola de energia dos nossos dias de treino.
─ Vamos lá, Tweedledee! – Ouvi a Andressa sussurrar ao meu lado, a voz alegre me
mantendo alerta. Virei o meu corpo e fiquei sentada de frente para a área próxima as Barras
Assimétricas, foquei meu olhar na garota de collant verde escuro que iria primeiro e quase ri
ao ver a Hope e a Carrie conversando muito próximas, sorrindo e se cutucando.
A alegria parece ser realmente legítima, afinal, não adianta nos dar avisos faltando
poucos minutos para começarmos.
Nem prestei atenção na garota, sequer me importei em saber seu nome, só esperei
pacientemente os giros, voltas completas e algumas paradas repetidas acabarem para chegar a
vez da minha colega de equipe. Eu sei que ela vai fazer melhor.
─ Vamos lá, Tweedledee, valendo meu coração pra você! – A Andressa gritou ao meu
lado, fazendo barulho junto com a Sasha. A Carrie passou mais pó nas mãos e subiu na área
solo com o sorriso enorme faiscando, o corpo levemente curvado, os braços erguidos com
firmeza e orgulho e por alguns segundos ela olhou na nossa direção e piscou para nós
complementando o sorriso e então correu para se jogar nas barras.
O treinador Silas e outro homem correram para perto do equipamento e pararam cada
um de um lado, os olhos fixos no corpo que rodava, parava, rodava e girava varia e várias
vezes com cada vez mais velocidade. Ela quase parece uma macaquinha se agarrando nas
barras com uma delicadeza e força incrível.
Antes mesmo do Silas conseguir chegar até a área de aterrissagem a Carrie deu um
último giro, curvando corpo com tanta graça que parecia outra pessoa e então caiu fazendo o
pó branco levantar uma leve nuvem aos seus pés, os braços estendidos e a postura com um
apoio incrível. Ela quase não se mexeu, fixou os pés no chão de tal forma que quase me
deixou com inveja.
─ Isso foi incrível, desde quando ela fixa os pés desse jeito? – Olhei de canto para a
Sasha e balancei a cabeça concordando. Acho que esse foi um pensamento generalizado do
nosso grupo.
─ A treinadora está testando novas rotinas e modos diferentes de controle em cada uma
de nós, vocês não perceberam? – Levantei a cabeça imitando a Elena e a Sasha e juntas
encaramos a Andressa, neguei com a cabeça a esperando perceber os três olhos a fuzilando. –
A Hope tem nos treinado com sequências de outros países e treinadores, mas como pode dar
errado tentou um pouco em cada uma de nós; com a Elena movimentos mais ilusórios que o
custume, a Carrie a aterrissagem e a flexibilidade, os seus movimentos cadenciados Sasha, a
incorporação e quebra de sequência da Sapphire. Ela nos testou e tem dado muito certo não
acham?
Bufei baixinho voltando a me virar para frente onde a Carrie vinha na nossa direção
junto com a Hope e por alguns segundos a fuzileiros com o olhar antes de voltar a parecer
calma e descontraída.
Ok, a Hope sabe o que faz. Ela é muito mais que nossa treinadora, com certeza fez isso
pensando em cada uma de nós.
─ Ok, espero que dê certo para todas. – Sussurrei para mim mesma e por alguns
segundos observei a Sasha assentir e abraçar a Carrie que se sentou no lugar dela enquanto a
Hope a levava para o canto próximo ao pó de giz. O cavalo.
Outra garota apareceu ao lado da Sasha e abriu um grande sorriso presunçoso, dando
um passo à frente se voluntariando a ser a primeira a se apresentar. Me inclinei para o lado,
praticamente escondendo o meu rosto nos ombros da Andressa, controlando a risada do mais
puro e verdadeiro deboche que estava querendo sair de mim.
─ Eu já prometi o meu coração a Carrie. Sapphire, agora é a sua vez! – Olhei de canto
para ela e balancei a cabeça negando, me inclinei para trás e vi a Elena sorrir e fazer o
mesmo, deixando a Carrie olhando para nós três com um sorrisinho de canto. É, ela vai
servir. – Carrie, o que vai prometer a Sasha?
Arqueei a sobrancelha a encarando e cruzei as pernas a vendo lançar um piscar na nossa
direção.
─ Se eu contar perde a graça!
Revirei os olhos para ela e me virei para a área próxima à trave onde a garota já estava
se preparando, e ainda no canto a Hope massageava os ombros da Sasha que dava pequenos
saltinhos no lugar, mexendo os punhos como se estivéssemos em um filme de luta. Era só o
que me faltava!
─ Eu não me lembro dessas garotas nas outras competições; elas não parecem ter muito
tempo de treino. Talvez 10 meses, no máximo 1 ano. – Dei de ombros para a Elena e balancei
a cabeça puxando os pés para cima do banco. Eu não conheço nenhuma dessas meninas, não
faço isso a anos!
─ Finalmente, achei que essa garota nunca iria acabar. – Abracei o joelho e inclinei a
minha cabeça para frente, notando a minha posição espelhada na Carrie, o corpo pequeno e
magro junto no banco enquanto abraçava os joelhos e remexia o corpo de um lado para o
outro como se estivesse dançando. – Agora sim! Vamos lá Sasha, valendo o número do meu
primo da Califórnia! Soltei um alto riso junto com as meninas acompanhando com o olhar a
Sasha acenar para nós, mandando um legal! Com os dedos na direção da Carrie, com certeza
esse é o estímulo que a Carrie gosta e precisa.
Quando finalmente ela subiu na trave paramos de fazer barulho e nos concentramos nos
lindos movimentos que o seu corpo executou quase perfeitamente; seu rosto sério, o olhar
focado em cada movimento elegantes em contraste com a bruta e firme saída.
Ela é incrivelmente elegante quando quer.
─ É, que bom que o Theo já tinha me pedido o número dela.
Ri baixinho e sem que conseguisse me controlar empurrei a Elena levemente com os
ombros, notando o sorriso aos poucos ser substituído pela coluna ereta e pelas mãos
dançantes que algumas meninas faziam quando eram menores. Ela seria a próxima.
─ E então? Tem alguma coisa para prometemos a você? – Sorri de canto a vendo se
levantar. Ela piscou para mim e balançou a cabeça concordando enquanto abraçava a Sasha
que rapidamente sentou ao meu lado enquanto colocava novamente a calça moletom e
dobrava nos braços a que a Elena tirou antes de andar calmamente até a Hope. Essa garota
tem fibra, por isso a Hope deve tê-la notado.
─ Sapphire, se prepare, você é a próxima. – Ergui o queixo do meu joelho e me virei
para a Andressa, seu sorriso faiscou na minha direção e apontou para as nossas bolsas atrás
de mim. Balancei a cabeça concordando e me inclinei para trás, apalpei a minha bolsa
colocando meu potinho em um dos bolsos, peguei meu celular e os fones, voltei a colocar o
meu queixo no joelho evitando olhar para frente ou para os lados, foquei apenas na tela do
meu celular, coloquei os meus fones e aumentei a minha música no volume máximo; fechei
os olhos me lembrando dos movimentos que havia feito algumas vezes em frente do espelho
antes do meu banho. Devo ter ouvido a música umas três vezes até sentir meu celular vibrar
na minha mão, abri a mensagem sorrindo e balancei a cabeça sem olhar na direção dele.

Valendo um final de semana inteiro comigo. Viu como sou um doce e compreensivo
namorado?
Você tem muita sorte, Preciosa

Abri um sorriso estupidamente enorme para a mensagem idiota e não resisti, dei uma
rápida olhada nas fileiras e sorri vendo o Christopher segurando o celular com os braços
jogados na cadeira da frente, olhando para mim com um sorriso matreiro. Pisquei para ele e
assenti aceitando o desafio, quando iria começar a digitar o braço da Andressa me atingiu
chamando a minha atenção e com um suspiro tirei os fones, entreguei o celular para ela e
olhei para frente vendo a Elena vir na nossa direção com sorriso incrivelmente orgulhoso, me
levantei e troquei um rápido abraço com ela, sentindo seu corpo tremulo. Ela se sentou no
meu lugar, recolocou as calças e sem a menor presa tirei a minha, a dobrei com cuidado e a
entreguei a Andressa; me virei para a Hope e fui calmamente até ela, notando o sorriso de
canto no seu rosto enquanto a Lucy já estava ao lado do treinador que deve tê-la levado.
Me coloquei ao lado da Hope, seus braços passaram pelo meu ombro me puxando e
acariciando a minha pele com cuidado, quase carinhosamente. Olhei para trás vendo o seu
sorriso faiscando e me encostei nela, sentindo os olhos castanhos em mim. Estranho,
geralmente a Hope não é dada a esse tipo de contato...
─ As músicas já estão prontas, quem será a primeira? – Sorri para a Hope e antes que
qualquer palavra saísse da minha boca a Lucy deu um passo a frente, mantendo o sorriso
cordial e fraco no rosto. Ok...
─ Melhor ir primeiro, afinal, a Sapphire deve estar nervosa por dentro, não é? Tanto
tempo longe disso tudo.
─ Claro, se você insiste...
Ri baixinho a vendo me ignorar e ir até o meio do tablado, ergui a cabeça para olhar a
Hope e ri do seu revirar de olhos; mantive meu corpo encostado no dela, sorri de canto vendo
a Lucy se apresentar para os colegas e abrir um enorme sorriso para a fileira. Olhei para eles
e sorri vendo o Christopher olhar para mim, suas mãos seguravam o Benjamin em pé no seu
colo e os olhos de cores tão diferentes me encarando quase me fizeram correr na direção dos
dois. É muito injusto esses olhinhos verdes e azuis tão intensos me encarando.
─ Ei, McCarthy, olhos em mim, e não naqueles dois homens lindos. – Voltei a olhar
para ela por alguns segundos até perceber que os seus olhos não saiam dos garotos. Não a
culpo, eles realmente estão parecendo uma pintura a óleo...
Tão diferentes, mas também tão bonitos.
─ Eles são lindos, não é? – Sussurrei encostando a cabeça no seu ombro e olhando na
mesma direção; dois olhos lindos de dois homens lindos nos observando.
Um homem e meio...
─ Pior que são. Eles são tão lindos, fico imaginando uma família inteira de olhos azuis.
– Ergui a cabeça a olhando de canto de olho, quase pasma por alguns segundos até ouvir o
seu riso baixo e as suas mãos me apertando mais um pouco, quase carinhosamente contra seu
corpo. Ok, isso é estranho. – Sabia que o Christopher falou para os seus pais que um dia
casaria com você?
─ Quando?
─ Quando você machucou o tornozelo seus pais foram te buscar. Você estava se
trocando e eu levei o Christopher até eles para tentar explicar o que tinha acontecido, mas
quando chegamos ele apertou a mão do seu pai e disse que um dia se casaria com você e
queria se desculpar por ter te machucado sem querer. – Encostei o braço no seu ombro e sorri
a vendo voltar a olhar o filho, suas mãos discretamente subiram até a gola do meu collant e
acariciou uma parte da corrente prata que estava ali.
─ Você se lembra o que meus pais disseram?
─ Claro que sim, eu venho remoendo isso a anos; sua mãe sorriu de canto, passou as
mãos no cabelo bagunçado dele e disse que para conquistar uma dama, ele precisaria se
tornar um cavalheiro, que era isso que eles ensinavam a você. – Sorri de canto concordando e
me lembrando das diversas vezes que minha mãe e meu pai já haviam me dito isso. Mamãe
me criou para ser poderosa, mas também fina e elegante. Como ela. – Seu pai ficou vermelho,
muito vermelho. Acho que se não fosse sua mãe ali ele teria pegado meu filho e o jogado no
rio. Depois de alguns minutos ele se abaixou na frente do Christopher e sussurrou algumas
coisas para ele. Foi a última vez que nós vimos seus pais.
Envolvi a Hope com os braços, mantendo a cabeça no seu ombro e sorri sentindo seus
olhos ainda pregados nos meus meninos, mas por alguns segundos eu precisei desse abraço
para voltar a mim. Isso era algo que eu precisava ouvir; tenho certeza que meus pais teriam
aprovado o meu namoro com o garoto estranho, bonito e inteligente sentado a alguns metros
de mim com o meu homenzinho no colo.
─ McCarthy, limpe as lágrimas. Em alguns segundos você entra. – Sorri me
desgrudando da Hope e passei as mãos delicadamente no meu rosto retirando as marcas das
lágrimas e espalhando a minha maquiagem para cobri-las. A Hope pegou o meu rosto e
delicadamente passou um lenço embaixo dos meus olhos, limpando qualquer vestígio das
lágrimas que eu nem notei que ainda estavam ali. Eu realmente tenho que parar de ser tão
chorona, eu nunca fui assim! ─ Vamos lá, arrase com ela, porque eu não gostei quando ela
tentou se enfiar na árvore genealógica da minha família.
─ Um bom motivo treinadora.
─ Óbvio que sim. Vou para perto da caixa amplificadora. – Balancei a cabeça vendo a
Lucy se curvar e vir correndo até o treinador dela. Em segundos ela se jogou nos braços dele
comemorando, mas por algum motivo seus olhos não saiam de mim, sorrindo amplamente
para mim.
Esperei a Hope voltar para ir até o centro da área, passamos pela Lucy que ainda estava
abraçada ao treinador e pisquei para ela e se a Hope não estivesse com as mãos nos meus
ombros eu teria até mandado beijos.
A treinadora soltou meus ombros e deu um passo à frente, me apresentando de forma
rápida antes de voltar para perto do amplificador, me curvei levemente para frente e dei
alguns passos para trás, lancei um rápido olhar a Hope e sorri de canto ouvindo a Andressa e
a Sasha.
─ Sapphire, valendo uma semana sem fofocas sobre você e o seu namorado!
─ E aproveite, o Christopher é lindo demais para ficarmos caladas!
Me virei para trás durante alguns segundos e pisquei para as meninas que sorriam na
minha direção, revirei os olhos para as 4 e voltei para frente onde o Christopher me encarava
com um sorriso de canto, como se falasse elas têm razão.
Juntei as pernas ao ouvir o amplificador ser ligado, sorri de canto virando o rosto para o
lado levemente até ouvir o começo da música aumentando aos poucos.
90 segundos.
Tivemos que condensar toda a coreografia em 90 segundos.
Me coloquei no meu lugar no centro do tablado, inclinei a cabeça para o lado e sorri
esperando a música soar pelo lugar imaculadamente branco e azul. No instante que o som
chegou aos meus ouvidos movi minhas pernas de forma circular, descartando o movimento
dos braços e me jogando para frente em uma parada de mãos que durou segundos antes de me
deixar cair me mantendo estendida. As mudanças na coreografia se concentraram apenas no
início então apenas me levantei com força usando o rolamento como impulso; usei os flic-
flac's a cada batida, acompanhando a contagem na música e acrescentando o parafuso no final
da contagem na batida do 1, 2, 3, 1, 2 ,3 drink.
Uma rotina, uma coreografia, vários movimentos e sequencias ensaiadas várias vezes.
Área de conforto para mim.
No refrão me joguei até o limite do tablado completando o Tsukahara e acrescentando
o carpada corri de uma extremidade a outra ganhando velocidade para conseguir o meu
parafuso, e sem me esquecer dos meus toques joguei meu corpo para frente duas vezes, na
primeira para fazer o Rodante. Parei próxima a borda e docemente rodei meu corpo como
uma bailarina formando um belo círculo ao meu redor.
I’m gonna live like tomorrow doesn’t exist
Like it doesn’t exist
Faltando segundos para o termino da música corri até o limite do tablado parando a
centímetros da linha e em frente aos lugares onde minha família sorria, me deixei escorregar
pelo chão em uma abertura e sorri fazendo os braços de boneca para a Dominique antes de
me agrupar e esconder o rosto nos meus joelhos.
And I'm holding on for dear life
Me curvei levemente para frente sorrindo de canto, controlei a minha respiração com
mais facilidade do que de costume e voltei para o canto onde a Hope me esperava com um
sorriso quase tão grande quanto o que havia no meu rosto, dei um rápido e apertado abraço
nela e me virei para a Lucy, fechei alguns centímetros do meu sorriso e balancei a cabeça em
respeito pela competição honesta entre nós duas.
Não que ela tenha ligado ou retribuído mudando a expressão amarga no seu rosto, mas
por dentro eu já havia a mandado ir se ferrar a anos. Não vai ser agora que isso irá mudar.
Porém, ela deveria aceitar a competição, não agir como uma mimada egoísta.
─ Essa é a minha garota. Agora volte para o seu lugar, beba muita água que em uns 15
minutos já vamos acabar aqui. – Assenti para ela e voltei correndo para perto das meninas,
me sentei no lugar da Andressa que já estava sem a calça e segurava a minha, troquei um
rápido abraço sentindo o seu já normal estado zen, completamente no controle.
Peguei o tecido dobrado de cima do banco, o coloquei no meu colo e peguei o meu
celular das mãos da Elena ao ver o número da Rebecca piscando no visor. Coloquei os meus
fones e recusei a chamada; não é uma boa hora para falar com ela.
Coloquei um lado do fone e olhei para frente vendo a expressão completamente calma
da Andressa; um grande contraste com o rosto branco demais da outra garota. Ela não parece
muito bem...
Soltei um suspiro e voltei a olhar para o celular, voltei a ouvir as minhas músicas e
recuei meu corpo no banco, subi minhas duas pernas e abracei meus joelhos. Deixei meu
olhar na garota que havia acabado de saltar sobre a mesa em um belo e simples salto e me
inclinei para o lado apoiando meu corpo na Elena. Somos colegas de equipe, acho que posso
fazer isso...
Depois de alguns segundos ela também juntou o corpo e jogou parte do seu peso para o
meu lado, nos mantendo niveladas enquanto víamos a Andressa no seu estado zen esfregando
os dedos enquanto corria na direção da mesa. Ela impulsionou o corpo para frente com
rapidez até o trampolim e por alguns milésimos de segundos suas mãos tocaram o material
revestido antes de se encolher e girar três vezes no ar, caindo com a destreza de uma bailarina
no centro.
O salto perfeito para mim.
─ Agora eu sei por que a garota estava tão branca, competir com a Andressa na área
que ela domina é fodidamente assustador. Ela foi para o campeonato nacional, é quase
injusto. – Escutei o baixo sussurro da Elena e balancei a cabeça concordando. Para quem não
tem muito tempo fazendo as coisas malucas que fazemos todos os dias isso pode com certeza
assustar um pouco. – Pelo menos acabou, vou aproveitar que moro aqui perto e ir de táxi.
Quero muito a minha cama.
Ri baixinho da frase sussurrada, desliguei meu celular e tirei os fones, me inclinei para
trás e o guardei novamente na bolsa e me levantei ao ver as meninas de pé esperando a Hope
e a Andressa ficarem ainda mais próximas.
Com certeza por trás dessa imagem de socialização amistosa entre ginásios o ego da
Hope foi amaciado, todos se exibiram e vários falharam ao tentar fortalecer a própria
imagem.
Incluindo o treinador que perturbou a Hope na festa beneficente.
Lições aprendidas!
─ Minhas meninas! – Acompanhei o riso das garotas e senti o braço da Andressa no
meu ombro esquerdo e o da Sasha no direito, quase formando uma corrente entre nós cinco.
Por alguns segundos senti seus braços forçando o meu ombro para baixo lentamente, fazendo
com que nos curvássemos delicadamente em frente a Hope.
Delicadas.
Voltamos a ficar eretas e ela retribuiu o cumprimento com um sorriso de canto antes de
nós dispensar. Ela sabe que as meninas moram nessa região. Voltei para trás e peguei a minha
bolsa, olhei o meu celular e coloquei o fone esquerdo para retornar à ligação da Rebecca. Ela
havia me ligado mais algumas vezes a alguns minutos.
Saí procurando um ponto vermelho vivo entre as pessoas com o celular nas mãos
ligando para a Rebecca, até chegar nas últimas cadeiras quase escondidas próximas a entrada
onde o casal usando jalecos brancos me olhavam; ela ainda com o celular vibrando nas suas
mãos.
Merda...
Guardei o celular na bolsa e lentamente me aproximei dos dois, arrastei uma cadeira
para me sentar de frente a eles e mesmo com os olhos idênticos aos meus me encarando
joguei minha bolsa no chão. Olhei para o Sebastian que sorriu animado e por alguns segundos
ele até se inclinou e tentou bagunçar o meu cabelo. Ele deve ter gostado da apresentação.
─ Por que não me disse que havia voltado para cá, Sapphire? E o seu trabalho? A
escola?
─ Porque eu não preciso de sermões diários Rebecca. Não sou mais criança, sei cuidar
de mim mesma. – Respondi tentando manter a voz calma. – Ainda estou ótima na escola e
não vou mais trabalhar como vendedora na Essencys. Tenho treino nesse horário...
─ Você não tinha o direito de esconder isso de mim, Sapphire! Eu me preocupo com a
sua saúde; e se você se machucar aqui? Se cair, bater em algum lugar, quebrar algum osso ou
até mesmo se tiver uma recaída! – Soltei um bufar a encarando com raiva por ter levantado a
voz comigo, olhei de canto para o Sebastian e respirei fundo tentando não gritar com a noiva
dele.
─ Não levante a voz para mim, Rebecca, e eu não precisei esconder nada de você,
afinal, nunca está em casa quando eu saio e se o seu trabalho é se preocupar com a minha
saúde está demitida. Sou sua sobrinha, não sua paciente e pelo que me lembro você deveria
cuidar do meu bem-estar não me deixar louca. – Falei da forma mais firme possível, quase
soando ríspida, olhei ao redor vendo algumas pessoas nos olhando de canto e balancei a
cabeça já de saco cheio. – Isso é o que eu gosto de fazer, isso é o que eu sentia muita falta e
não vou parar só por que você quer. É a minha vida. Eu amo tudo isso, você pode me
entender?
Me levantei delicadamente da cadeira, peguei a minha bolsa esperando uma resposta e
enquanto sentia os olhares em nós o Sebastian se levantou e me abraçou com força, suas
mãos passaram pelo meu cabelo tentando bagunçá-lo novamente e antes de desistir da ideia
ele deixou um pequeno beijo na minha testa, sussurrando para dar tempo a ela. Talvez ele
esteja certo; ela só precisa de tempo.
─ Vou sair para comer com alguns amigos. Vocês vêm? – perguntei da forma mais
amigável possível arrumando a bolsa nos meus ombros, olhei de relance para a Rebecca que
só balançou a cabeça. Uma hora ou outra ela vai ter que aceitar.
Não importa o tempo que levar, não tenho pressa.
─ Infelizmente temos que voltar ao hospital, só vimos para ver você. Podemos jantar
juntos hoje à noite, o que acha? – Assenti sentindo o alívio na sua voz ao perceber que ela
não iria tentar me impedir de qualquer outra maneira. Não deve ser legal começar o noivado
cheio de atritos em uma casa dividida por duas mulheres.
─ Claro, vai ser legal. Te envio uma mensagem, ok? – Dei um último abraço no seu
corpo sentindo o cheiro de éter invadir o meu nariz, me despedi da Rebecca com um aceno e
me virei para achar a Demetria.
Passei por outros ginastas e seus pais, alguns treinadores que me entregaram um cartão
de contato, algumas crianças até finalmente achar a Demetria conversando com a Hope e o
Christopher, o meu pequeno homenzinho ainda no colo do meu homem.
Joguei os cartões no lixo mais próximo e andei o mais sorrateiramente possível para
trás da Demetria e sorri ao ver os olhos verdes e azuis me acharem, mas continuarem em
silêncio esperando para ver o que aconteceria. Fiz a minha melhor expressão pasma e já a
deixei presa no meu rosto enquanto cutucava os dois lados da cintura da Demetria a fazendo
pular no lugar.
Ri baixinho envolvendo sua cintura por trás e por alguns segundos senti suas mãos
dando tapinhas no meu braço, me repreendendo por tê-la assustado em público até ouvir o
seu suspiro acompanhado de um leve puxão para perto dela, segurando meu corpo com força.
─ Você estava tão linda!
Sorri de canto apertando os braços ao seu redor, ergui a cabeça e senti seus lábios na
minha testa; leves como uma pluma, deixando ali todo o carinho que eu sei que ela sente por
mim e pelos filhos.
Soltei um baixo suspiro e soltei meu braço da sua cintura, olhei ao redor e me
aproximei do Benjamin, o peguei no colo com facilidade e em segundos senti suas mãozinhas
no meu rosto, o contornando com todo o cuidado do mundo, como se estivesse o decorando.
Beijei a ponta dos seus dedinhos enquanto passavam pela minha boca e antes que a Demetria
o tirasse de mim deixei muitos pequenos beijos por todo o seu rosto, fazendo pequenas
marcas rosas aparecerem nas suas bochechas.
Ele é tão fofo!
─ Podem me dar uma carona até o restaurante? Os outros já estão indo para lá! – Antes
mesmo do Benjamin enlaçar a cintura da Demetria duas mãos fortes envolveram a minha
cintura me puxando para trás. Senti as minhas bochechas corarem ao me arrepiar com a barba
por fazer raspando levemente no meu pescoço na frente da Demetria e do Benjamin. Apenas
assenti para ela ignorando o olhar da Hope debochando de mim internamente, passei meus
braços pelas mãos do Christopher, subindo até os seus ombros onde a alça da minha bolsa
descansava novamente. A peguei e avisei que iria trocar de roupa para irmos, saí quase
correndo de perto deles e me enfiei no primeiro banheiro que apareceu no meu caminho.
Suspirei me olhando no espelho, joguei minha bolsa sobre a pia a abrindo
imediatamente, peguei a camiseta preta e a coloquei sobre o collant, soltei os elásticos que se
prendiam nos meus dedinhos e abri os botões da minha nuca; fiz uma mágica incrível para
tirar a parte de cima do collant sem tirar a camiseta e minutos depois ela estava pendurada na
minha cintura, fechei os dois botões do meio da camiseta e dei um nó nas pontas soltas,
peguei o meu potinho e o pendurei no meu pescoço, sorrindo para o adorno. Ele é realmente
muito doce...
Tirei minha calça e as sapatilhas da bolsa, as coloquei de lado na pia e com alguns
puxões e movimentos nada legais de quadril consegui tirar o moletom e o que restava do
collant, os dobrei com cuidado e coloquei na bolsa; coloquei minha calça, calcei as sapatilhas
e comecei a desfazer o coque transado que a Andressa havia feito.
É lindo, mas puxa tanto a raiz do meu cabelo, que a cabeça chega a doer.
Sai do banheiro ignorando a pequena fila que havia se formado ali e passei os olhos
pelo hospital disfarçado de ginásio procurando pela Demetria. Passei pelos armários onde
algumas meninas se arrumavam para ir, pelos equipamentos completamente imaculados
assim como os do Ginásio e finalmente encontrei o meu namorado próximo a saída encostado
na parede, praticamente ao lado da porta.
Tentamos andar o mais rápido possível até o estacionamento dos fundos, pulamos as
pequenas rochas que ornamentavam o caminho até o local e quase consegui ouvir o coração
do Christopher dar a sua última batida ao ver a Hope sentada no banco da frente no seu carro.
Em uma velocidade incrível ele largou a minha cintura e correu até a frente do carro,
abriu os braços como um louco para segundos depois bater as mãos no capo, chamando a
atenção da Demetria no banco da frente.
Ok, o Christopher corre feito um louco; ele sabe disso, afinal, a Camille e eu já
reclamamos muitas e muitas vezes. Agora se ele que corre como se estivesse em um dos
filmes da franquia de Velozes e Furiosos e tem medo da mãe dirigir seu carro...
Conclusões podem ser tiradas disso.
─ Mãe, eu te amo e respeito, mas eu preciso que você saia do meu carro agora mesmo.
─ Esqueceu quem te ensinou a dirigir, filho?
─ Exatamente por isso quero que você saia, mãe. ─ Revirei os olhos para a ceninha e
deixei a minha bolsa na calçada, me aproximei da porta onde a Demetria se segurava e a abri,
ajudei a Demetria a sair do carro e olhei o mais fixamente possível para a Hope, ignorando o
Christopher inclinado na frente do carro.
─ Hope, eu estou com muita fome. Pode, por favor, deixar o Christopher dirigir? Nós
duas sabemos que ele não irá sair dali até você ir para o banco de trás. ─ Praticamente
sussurrei me inclinando no lugar vago ao seu lado, esperei por alguns segundos e voltei para
fora, deixando a porta aberta.
Ela sabe que o filho é perfeitamente igual a ela e que não vai sair dali até ter o que quer.
─ Só vou sair, porque vocês estão aqui como testemunhas e eu posso ser presa por
atropelá-lo.
Olhei de canto para a Demetria e cruzei os braços a vendo revirar os olhos, peguei a
minha bolsa da calçada e entrei no carro enquanto o Christopher abria a porta do carro para a
Hope a ajudando a ir para o banco de trás, segundos depois ele rodeou o carro e abriu a porta
para a Demetria, a deixando ao lado da Hope como o cavalheiro que ele tenta ser.
Ao passar pela minha cabine verificou se a porta estava realmente fechada, deu a volta
e se sentou ou meu lado, puxou o meu cinto de segurança e enfiou a cabeça no meu pescoço
enquanto prendia o cinto.
Atrás de nós ouvimos a Hope bufar de uma forma quase indignada, fazendo o riso
baixo ressonar pelo meu pescoço enquanto os lábios do Christopher passavam pela minha
pele. Subi as minhas mãos pelo seu tórax demoradamente e sorri ao parar as minhas mãos nos
seus ombros e com um suspiro o empurrei para o lado.
Não é o que eu queria, mas...
Tenho pelo menos a decência de não provocar ninguém enquanto a Demetria está com
os olhos em mim; algo que o Christopher não parece ter na frente da Hope.
É muita confiança de que ela não arrancará o rim do próprio filho com os dentes.
─ Onde fica o restaurante?
Sorri de canto vendo a Hope se inclinar no banco do filho e começar a guiá-lo; por
quase 10 minutos o carro se encheu de alguns pequenos gritos, palavras nem um pouco
bonitas, alguns suspiros e risadinhas por parte da Demetria. Quando finalmente o Christopher
parou em frente ao restaurante a algumas quadras do ginásio abri um sorriso imenso ao
identificar o pequeno e charmoso café praticamente colado ao restaurante.
Quando éramos menores a Demetria trazia a Dominique e eu para passarmos as tardes
de saco cheio andando por um parque a duas quadras da rua principal; corríamos por horas,
fazíamos piqueniques e assustávamos alguns corredores que tentavam passar por nós e no fim
do dia a minha mãe assumia e nos trazia a esse pequeno café.
Tentávamos parecer adultas ao nos sentar longe, bebendo ‘cafés’ chiques e
conversando a mesas de distância.
Como se elas não estivessem nos vigiando a cada segundo.
Por mais incrível que pareça nada mudou no local; as mesas beges ainda estão
amontoadas na calçada, se misturando com as mesas pretas do restaurante, as toalhas brancas
ainda com um vasinho de vidro com uma flor solitária no centro, as mesmas paredes creme
com fotos emolduradas de pessoas vestidas com roupas da década de 60 e a mesma sensação
de nostalgia que o rio Noth West possui sobre mim me invadiu.
Esse com certeza é um dos lugares especiais.
─ A anos não venho aqui. ─ Olhei de canto para a Demetria e aceitei a mão que o
Christopher me ofereceu ao abrir a minha porta, passei a bolsa para o meu ombro esquerdo e
me encostei na Demetria que logo se juntou a mim no momento nostalgia.
Assim que chegamos na calçada os fios vermelhos entraram no meu campo de visão
mais uma vez, andamos pelo labirinto de cadeiras até finalmente chegarmos a longa mesa do
centro; nos sentamos na ponta próximos a Dominique e o Kevin, acariciei de forma delicada
a barriga da Camille e sorri ao ver as três fitinhas rosas de tonalidades diferentes transadas no
pulso do Miguel.
Tenho quase certeza de que o Christopher acertou; não é um garotão.
─ Até que enfim, achamos que vocês tinham se perdido em algum banheiro por aí. ─
Revirei os olhos para o Kevin e apontei levemente com a cabeça na direção do Joseph,
fazendo os piercings lentamente ficarem mais baixos, acompanhando o seu sorriso que aos
poucos foi se desfazendo, trazendo algo que beirava o pânico para os seus olhos.
Bom garoto. Com certeza é bom ele ficar bem quietinho sobre mim e o Christopher ou
o Joseph iria saber de algumas informações que o deixarão em ponto de fúria.
─ Não, mas bem que queremos visitar o estúdio na casa do Joseph; você gosta muito do
lugar não é Kevin? ─ Sorri de canto ao ver o rosto dele ficar incrivelmente branco com a
insinuação do Christopher, virei o meu rosto para o lado e mordi levemente a pele do seu
ombro coberta pelo grosso tecido tentando em vão esconder o meu riso.
O Kevin não sabe com quem está mexendo. Nesse jogo vence quem sabe mais...
E ele não sabe a metade da metade.
─ Pedi uma lasanha para nós, Sapphire. ─ Me desencostei do Christopher e sorri
assentindo para a Dominique. Ela não quer ver o namorado se ferrar nas mãos do próprio pai
hoje. ─ E o Kevin uma torta para você Christopher.
─ Chocolate e avelã? ─ Depois de alguns segundos o pânico saiu dos olhos do Kevin.
Ele concordou com a pergunta do Christopher e olhou de relance para o Joseph para verificar
se ele estava prestando atenção na conversa.
Para a sorte do pânico do Kevin ele estava mais preocupado em distrair o Benjamin, o
mantendo no seu colo antes que ele subisse em cima da Demetria para pegar o celular da
mãe. Ele anda tão fascinado com essas coisas ultimamente.
Infelizmente está chegando ao fim meus tempos de pegá-lo no colo.
Soltei um suspiro o olhando e balancei a cabeça me encostando no ombro do
Christopher, passei meus braços pela sua cintura, deitei a cabeça no seu peitoral e fiquei
assim até a nossa comida chegar. Mudei de lugar com o Christopher para ficar de frente com
a Dominique, pegamos os nossos garfos e empurramos as cadeiras mais para frente, nos
aproximando do centro da mesa.
Depois de algumas garfadas ouvimos o alto suspiro da Demetria e nem olhamos na sua
direção.
Não vejo problema nenhum em comermos diretamente da bandeja de madeira onde a
lasanha havia sido entregue; o restaurante está praticamente vazio, estamos usando garfo e
faca, e além disso, por que usaríamos pratos se assim é bem melhor?
─ Christopher, Kevin um de vocês por favor trocar de lugar com uma das duas? Pelos
menos evitará que elas se inclinem sobre a mesa. ─ Sorri de canto para a Dominique e assim
como a Demetria havia pedido o Kevin se levantou e acenou para que eu fizesse o mesmo.
Ouvi um bufar vindo do Christopher e antes se sair dei um pequeno beijo no seu maxilar,
rodeei a mesa e me sentei no lugar ao lado da Dominique, puxamos a lasanha para mais perto
e voltamos a comer vendo os meninos brigando com os garfos pelas avelãs.
Depois de quase meia hora já estávamos no fim da lasanha, o Benjamin havia sentado
no meu colo e assim como a irmã comia as últimas fatias da lasanha. Chega de comida por
hoje.
Soltei meus talheres e por alguns segundos deixei meus olhos vagarem pelo pequeno
café ao lado do restaurante onde algumas pessoas já ocupavam duas mesas na calçada,
conversando calmamente com grandes xicaras fumegantes nas mãos.
─ Quer ir comigo? ─ Olhei de canto para a Dominique e assenti sem graça por ser
pega no meu momento nostálgico.
─ Pode terminar de comer, Dominique. ─ Com um revirar de olhos ela retirou o
Benjamin do meu colo e o colocou no seu lugar, pegou a sua bolsa e avisou a Demetria que
iriamos ao café ao lado. Meio desajeitada peguei a minha bolsa e saí atrás da Dominique já
ouvindo o risinho do Christopher ao ver meu rosto corado.
Andamos pelo mar de cadeiras pretas até o café, passamos pelas charmosas cadeiras
beges e entramos no local; olhei em cada canto vendo a delicada decoração atemporal, as
mesas fixas ao chão e grandes sofás em formato de U as rodeando e os mesmos vidros lisos e
longos com flores coloridas no centro.
Esse lugar é um charme.
Enquanto eu olhava a decoração a Dominique pediu o meu Mocaccino e um pequeno
milkshake para si e assim como eu olhou ao redor apreciando a decoração enquanto o jovem
que não tirava os olhos da lateral de renda do seu sutiã exposto pelas laterais completamente
abertas da sua blusa.
Quando finalmente nossos pedidos ficaram prontos eu peguei os dois copos e os
coloquei em uma das mesas da calçada e quase imediatamente a Dominique pegou o seu
copo e começou a mexer no canudinho azul, vendo o liquido branco formando um
redemoinho no copo transparente.
─ Isso é muito legal de se ver. ─ Balancei a cabeça sorrindo e me encostei na cadeira
já com o Mocca em mãos a vendo mexer no copo sem parar com certa satisfação no olhar;
depois de alguns minutos o seu celular começou a vibrar sobre a mesa mostrando o nome do
Will na tela de mensagens.
Levantei uma sobrancelha a vendo apagar a tela com rapidez e voltar a mexer no
Milkshake.
O Will nunca manda mensagens para ela, ele sabe que as ligações a irritam mais.
─ O que houve, Dominique?
─ Nada. Por quê? ─ Revirei os olhos para ela e me inclinei para frente pegando o seu
celular, abri as mensagens do Will e por pouco suas mãos conseguiram tirá-lo das minhas.
Isso não é certo, mas se há algo que eu possa fazer para ajudá-la eu tenho o direito de fazer
isso; sem mencionar também as várias vezes que ela já fez o mesmo comigo.
Abri as mensagens e coloquei o celular para cima da minha cabeça enquanto lia as
letras que ele havia mandado. Essa deve ser o dueto que eles estão tentando fazer a
Dominique cantar.
Musica bonita; nada menos do que a qualidade musical do Joseph para o melhor
cliente.
Dei de ombros e devolvi o celular para a Dominique e durante alguns minutos fiquei
analisando-a, vendo os olhos perspicazes me encararem de volta com toda a força que eu sei
que ela está usando para esconder algo.
Às vezes uma enorme vontade de balançá-la com força me invade, mas eu sei que ela
nunca responderia e por mais tentadora que essa ideia me pareça eu sei que não daria certo.
Não com ela; com a Camille talvez, com o Miguel com certeza, o Kevin deve ter aprendido
algo com a namorada, então ele não, e pior ainda o Christopher.
Mas a Dominique é a que mais me conhece, sabe como me dobrar e felizmente consigo
fazer o mesmo com ela. Com certa dificuldade, mas consigo.
─ O que foi?
─ Por que você não me diz? Ele pode lançar a sua carreira, Dominique. Várias pessoas
dariam um rim para ter os contatos que você tem nesse ramo!
─ Não acredito nisso, Sapphire, quantas vezes terei que falar que eu vou seguir a
carreira do meu pai? Não me irrite com isso você também! ─ Grunhi baixinho soltando as
mãos da borda antes que as minhas unhas se quebrassem e as coloquei sobre a mesa tentando
segurar as mãos frias da minha irmã. ─ É isso que eu quero.
─ Não é, eu tenho certeza disso!
─ Eu não vou discutir isso com você também, só tenha em mente que eu tenho mais o
que fazer. ─ Bufei sem conseguir segurar a expressão de deboche.
─ Não tem. Eu sei por que você nunca saiu daqui, Dominique, você cumpriu a sua
promessa; cuidou de mim quando eu estava em uma bolha, você é a minha rocha, o meu pilar
de sustentação. ─ Sussurrei encontrando os brilhantes olhos verdes e apertando seus dedos
trêmulos. ─ Você tem mais talento e mais paixão que qualquer outra pessoa que eu já
conheci. Faça isso, eu sei que você quer.
─ Eu prometi a tia Evy que cuidaria de você. ─ Sorri mudando de lugar e me movendo
para a cadeira ao seu lado. Passei meus braços pelos seus ombros a puxando para mim,
abraçando a minha rocha com toda a força disponível no meu corpo.
─ Eu sei e você nunca quebra suas promessas. ─ Sussurrei com a voz embargada
enrolando os cachinhos vermelhos e a sentindo fungar na manga da minha blusa. Ela não vai
chorar, eu não vou chorar; nós duas juntas somos duronas, idiotas e menininhas. ─ Me
promete que vai seguir seu caminho, que vai lutar e bater o pé até conseguir o que quer.
─ Se você precisar de mim...
─ Eu sempre vou precisar de você Dominique, você é a minha irmã, a minha rocha e eu
quero ser a sua. Eu preciso ser a sua. ─ A deixei se afastar com os olhos vermelhos, respirei
fundo tentando controlar a umidade nos olhos por alguns segundos até sentir suas mãos
voltarem a segurar meus dedos. ─ Promete para mim?
─ Nós somos muito menininhas, Sapphire. ─ Ri mudando uma das mechas do seu
cabelo de lugar e estendi o dedinho a esperando. De forma hesitante entrelaçamos nossos
dedos em um juramento quase sagrado, seu celular voltou a vibrar sobre a mesa e como um
sinal divino o nome do Will voltou a brilhar na tela. Peguei o celular e segurei o balançando
na sua direção; seus dedos tomaram o aparelho e com um sorriso quase radiando no rosto ela
mandou a mensagem. ─ Tenho que treinar a minha expressão de malvada, uma lágrima
quase surgiu nos meus olhos de boneca.
888888888888888888888888888888888
Quando o Benjamin finalmente largou o garfo eu tentei segurar o riso ao ver o Kevin se
inclinar sobre a mesa e pegar o último pedaço da massa e enfiá-lo na boca com pressa;
escondi o meu rosto nos cabelos lisos do meu homenzinho por alguns segundos antes de
pegar um dos guardanapos sobre a mesa, evitando os braços da Dominique que tentavam
acertar o namorado.
Ele há tempos estava de olho na nossa lasanha, não sei como ela não percebeu.
─ Sua boca está imunda, querido. ─ Sussurrei tentando limpar as marcas vermelhas na
sua bochecha e a marca preta de chocolate da torta dos meninos. O Benjamin com certeza
comeu muito do que não devia hoje. Com um suspiro avisei a Demetria que iria limpá-lo e
me levantei com ele no meu colo, passei pelo Christopher que envolveu a minha cintura
praticamente me parando no meio do caminho apenas para me abraçar e deixar um leve beijo
na pele do meu quadril.
Passei minha mão livre pelos cabelos loiro mel, deixei um simples beijo na sua testa, e
saí em direção ao banheiro, cruzei as cadeiras e quando finalmente cheguei as cabines
coloquei o Benjamin em cima da bancada de metal, puxei alguns pedaços de papel, coloquei
sabão e comecei a tentar limpá-lo.
Sorri de canto vendo os olhos verdes brilhando para mim enquanto as minhas mãos
passavam o papel úmido na sua bochecha, limpando a mancha escura da pele macia.
─ Sabia que eu me apaixonei à primeira vista, Sapphire?
Abri ainda mais o sorriso e levantei uma sobrancelha o encarando. Meu homenzinho
romântico, qualquer garota que começar a namorá-lo vai ter muita sorte.
─ Sério, como a conheceu?
─ Na escola. Ela é aluna nova de outro país, ela me lembra você. ─ Senti minhas
bochechas corarem e para me distrair voltei a passar o papel na sua bochecha. ─ Ela é como
um anjo, dança balé e é muito esperta. Mamãe vai me ajudar a fazer biscoitos para levar a ela
amanhã.
Balancei a cabeça em decresça, joguei o papel usado na lixeira e peguei outro, passei
novamente no sabão e dessa vez na água com cuidado para não o derreter completamente e
terminei de limpar o rosto do meu homenzinho.
─ Ela vai ser uma garota de muita sorte Benjamin, mas lembre-se que vocês ainda são
crianças. Sejam melhores amigos primeiro, depois de alguns anos namorem, se cassem e se
quiserem tenham uma família, ok? ─ Sussurrei me sentindo incrivelmente idiota de ter que
falar isso para uma criança que ainda irá completar 10 anos, mas nesse momento nada é mais
importante do que ele saber essas coisas.
─ Você e a Dominique não fizeram isso. Por que eu tenho que fazer?
─ Porque nós somos praticamente adultas Benjamin e os adultos sempre estão
apressados, sempre fazendo as coisas erradas e às vezes quando algo bom acontece nós temos
que agarrar com força e tentar fazer com que funcione. ─ Voltei a sussurrar passando os
meus dedos pelo cabelo quase chegando nos seus ombros e logo depois sorri de canto
tocando a sua bochecha. ─ Nós achamos que não temos tempo, mas você não; você tem
tempo para que no futuro as coisas fiquem fáceis, eu sei que você é um homenzinho educado
e extremamente romântico, mas continua sendo uma criança ok?
─ Espero que quando ela cresça fique parecida com você, Sapphire. ─ Sorri de canto o
descendo para o chão. Apontei para banheiro em dúvida e em segundos ele já havia se
trancado ali dentro. Limpei as mãos na pia e tentei limpar parte da bagunça de pedacinhos de
papel que havia ficado sobre a pia até ouvir o trinco da ponta atrás de mim. Senti um arrepio
subir pela minha nuca e antes que eu me virasse a voz baixa que a dias não escuto ressonou
próxima a minha nuca.
─ Você tem razão, ele é tão novo e os adultos vivem com pressa. É bonita a relação que
você tem com as crianças Princesa. ─ Engoli em seco algumas vezes até ter coragem de me
virar e encarar o Timothy encostado na bancada me olhando através das lentes grossas e as
roupas manchadas de terra.
─ O que você está fazendo aqui? Eu tenho uma ordem de restrição contra você
Timothy.
─ Eu sei que você não quis fazer isso, Princesa, sei que você foi obrigada então eu vim
aqui te buscar antes que as coisas fiquem ainda mais complicadas. ─ Senti a minha
respiração se acelerar aos poucos trazendo o pânico de volta para a minha superfície,
obviamente estampando os meus olhos. ─ Sinceramente estou decepcionado com a
Demetria. Achei que ela cuidasse melhor de você.
Balancei a cabeça e por alguns segundos pude ouvir o Benjamin dentro do banheiro
trazendo o desespero para o meu corpo; me aproximei das paredes me arrastando até a porta
da cabine onde ele estava, soltei um suspiro tentando manter a calma por alguns segundos e
pressionei o meu corpo ali, mantendo a porta travada.
─ Eu não preciso dos seus cuidados Timothy e eu juro que se você se aproximar eu vou
gritar. ─ Mantive a voz neutra como a pratica de anos havia me treinado e por alguns
segundos até consegui manter todo o meu rosto e corpo em uma neblina de falsa calma e
tranquilidade, mas ao sentir a porta atrás se mexer senti a bile subir pela minha garganta.
Por favor, fique quietinho.
─ Eu sei que você vai gritar, afinal, você ainda não está acostumada comigo, mas eu
tenho que fazer isso e prometo que serei o mais gentil possível. ─ Por alguns segundos senti
o meu coração parar ao acompanhar o movimento das suas mãos até o bolso da frente do seu
moletom.
Durante esses segundos parecia que a circulação inteira do meu corpo havia sido
congelada, meus pés nem se moviam do lugar e até sentir a porta atrás de mim se mover mais
uma vez nem parecia que eu estava respirando.
Não era a reação que eu achava que teria.
Durante os 50 segundos em que ele mexia no próprio bolso me senti novamente
naquele carro, abraçando o corpo frio da minha mãe, sentindo o cheiro de sangue e vendo o
corpo do meu pai, a alguns centímetros de mim. Acho que essa sempre seria a minha resposta
ao pânico, como se anos pensando no que faria, no que teria acontecido se eu fizesse algo não
valessem nada.
Mas a porta se mexeu...
Dei uma rápida olhada para onde o Timothy envolvia a própria mão com um grosso
pano e antes que ele começasse a vir na minha direção empurrei a porta atrás mim e senti
uma pequena mãozinha envolver a minha me puxando com toda força que ele tinha para
dentro.
Meu homenzinho.
Entrei dentro do banheiro com rapidez, quase tropeçando nos meus próprios pés e
fechei a porta com o trinco de metal; olhei para baixo vendo o rostinho assustado do
Benjamin e no mesmo instante senti meu coração dar um pulo, voltando a bater com força
fazendo meu corpo se curvar sobre o joelho para controlar a minha respiração acelerada.
Eu conheço essa sensação e não é nada bom.
─ Sapphire, está doendo?
Se no momento em que o Benjamin sussurrou isso próximo ao meu ouvido eu não
tivesse sentido o baque surdo contra a porta eu até me ariscaria a tentar explicar para ele, mas
a ondulação feita pela porta acabou me distraindo.
─ Meu anjo, eu não quero te machucar então apenas saia do banheiro, por favor. ─ Me
abaixei por alguns segundos apenas para sentir os bracinhos do Benjamin ao meu redor, me
apertando com toda a sua força e então senti o meu corpo ser empurrado para o lado,
acompanhando a fria ondulação da porta contra a minha pele fazendo a familiar sensação de
queimação e ardência se estender pelas laterais do meu corpo, reagindo tanto a força do
empurrão quanto a pancada contra a parede fria.
Tentei me levantar já sentindo o latejar na minha cabeça e com um cuidado assustador
senti dois braços me erguerem e sussurrando antes de aproximar algo felpudo no meu rosto.

─ A faculdade é legal, o problema são as aulas e a ideia de ter que frequenta-las. Eu


ficaria feliz em simplesmente ganhar nota por andar pelo campus e jogar cartas com pessoas
aleatórias nos bares... ─ Resmunguei a apertando a mim e a levando até o meu carro.

─ Você joga cartas? Baralho, 21 ou pôquer? ─ A coloquei no banco da frente e


coloquei o cinto ao seu redor, tentando não analisar demais a expressão complacente e os
olhos brilhando com algum tipo de humor fodidamente quente e desafiador.

Há, o lado competitivo dos McCarthy.

─ Os três.

─ E você joga bem?

─ Está me convidando para jogar, Preciosa? ─ Segurei seu rosto com cuidado,
analisando o meu sorriso favorito se abrir apenas para mim, destacando e complementando
esse brilho extremamente escuro em seus olhos. Seus dedos se fecharam nas minhas mãos e
lentamente guiaram os meus dedos até o seu lábio, me deixando completamente distraído
com o conjunto completo da obra sendo formada a centímetros de mim. Eu gosto das
possibilidades que estão se abrindo para mim nesse momento, gosto muito. ─ Antes da sua
resposta saiba que eu sou ótimo nesses jogos.

─ Então não teremos problemas. Onde podemos jogar?

─ Dupla ou em uma mesa?


─ Eu gosto de jogar com mais pessoas, gosto de dobrar os meus lucros, sabe como é,
certo? ─ Me afastei alguns centim

─ Pare de encara-la, iremos sair em alguns minutos. ─ Bufei como uma criança ainda
encarando o cavalo pela imensa janela no meu escritório.

É tão sexy vê-la tão concentrada e suada e forte e extremamente maravilhosa.

Mesmo que o meu coração quase entre em pane a cada queda.

─ Quando sairmos irei parar de encara-la. ─ Resmunguei jogando uma jujuba na boca.
Hoje é domingo e como durante o treinamento da minha pedrinha as meninas não tem
permissão para treinarem nos finais de semana após as duas da tarde – a treinadora
provavelmente inventou uma desculpa para isso, mas não me importei em descobrir qual –
estamos sozinhos dentro do ginásio, apenas nós três.

Agora durante a noite posso vê-la com muito mais facilidade, mesmo que isso gere
algumas broncas por sair mais cedo da faculdade; broncas da minha namorada – me
acostumei a acha-la gostosa quando está irritada – não da minha mamãe.

Minha mãe agora fica rindo e apontando.

─ Ela irá terminar essa sequência e ir se trocar. ─ Joguei mais algumas jujubas na boca
e tentei trancar o sorriso pervertido, me contentando apenas em continuar olhando pela janela
de vidro, a observando sair do aparelho. ─ Christopher...

─ Mãe...

─ Vou te dar uns cascudos, menino... ─ Ri a deixando levar o meu saquinho de jujubas
e com um suspiro peguei nossos casacos, tentando acompanhar os passos largos da chefe até
os armários onde a minha pedrinha já se arrumava com algumas roupas que a Demetria havia
deixado apenas alguns minutos atrás.

Estamos apenas nós três dentro do ginásio, o restante foi expulso para o estacionamento
quase 1 hora atrás.

Eu sou o acidente mais lindo do mundo, então pude ficar.

─ A feira começou uma hora atrás, temos que ser rápidos.

─ Mãe, é uma feira de rua, não o show da Shania Twain, não existe um horário
definido para comparecer no local. ─ Resmunguei como uma criança seguindo seus passos e
ao erguer os olhos quase assoviei ao encontrar a minha pedrinha inclinada sobre o banco
subindo o zíper das botas azuis.
Aparente a Demetria gosta muito de fazer trocadilhos com as suas roupas, eles vão
desde usar a cor azul em quase tudo até colocar pequenos detalhes do nome dela nos locais
mais escondidos possíveis.
Um dos meus novos passatempos é encontrar esses pequenos pontos de intenção.
No sobretudo azul petróleo que ela mais usa estão nos puxadores dos zipes – pequenos
cristais azuis – nas blusas de gola – ela tem muitas, por Deus – geralmente estão nas barras e
nas calças estão nos bolsos...
Eu adoro ficar procurando essas pequenas pecinhas...
─ Essas botas irão deixar seus pés ainda mais inchados e a sua sessão...
─ É só na semana que vem. ─ Sorri encontrando os olhos azuis mais fodidamente
lindos do universo e me sentei ao seu lado no banco, apenas a observando organizar seus
materiais; alguns livros no armário, uma bolsinha com cremes, álcool em gel, algumas
maquiagens. Ela é tão linda, principalmente quando lida com a minha mãe. ─ E essas são as
minhas botas mais confortáveis, tenho esse par a anos...
Eu gostaria de ter visto suas pernas usando essa calça justa e esse par de botas durante
vários anos.
─ E ainda assim aparentemente iremos andar muito hoje, então...
─ Gelo, descanso, faixas, massagens e um pouco mais de gelo, pois o tradicional tem a
sua garantia verificada. ─ Quase ri do pequeno sorrisinho em seu rosto, o lábio inferior
reproduzindo até mesmo o pequeno biquinho que a Treinadora usa quando finaliza seus
discursos. Elas gostam de ficar se alfinetando.
─ Eu também vou te dar uns cascudos, McCarthy.
─ E eu só queria uma torta, como o mundo é cruel.
─ Sem açúcar para você, para nenhum de vocês. ─ Revirei os olhos e tirei uma balinha
do bolso, a abri fazendo barulho e com os dentes a dividi ao meio imediatamente a colocando
na boca – já aberta – da minha pedrinha.
─ Sim, minha eloquente e obstinada mamãe, sem açúcar para nenhum de nós. ─
Resmunguei ainda mastigando e como uma criança me apeguei a cintura da minha namorada,
antes que a treinadora realmente me desse os cascudos.
─ Christopher...
─ Acho que estão nos esperando do lado de fora. ─ Quase pulei do banco e
imediatamente circulei o corpo firme, cheiroso e pequeno, a levando até os meus ombros. ─
Não sei o motivo das minhas botas terem entrado em discussão, eu sabia que ele iria fazer
isso.
Comecei a assobiar enquanto subíamos as escadas, no topo desci seu corpo alguns
centímetros e circulei suas pernas ao redor da minha cintura nos mantendo juntos e
abraçadinhos enquanto descíamos até os carros – e a única moto – no estacionamento.
O olhar do Joseph saiu do Kevin e pairou sobre mim por alguns instantes, quase me
fuzilando antes de ser desviado para a esposa. Eu adoro a Demetria, ela é uma das melhores
pessoas que eu conheci...
─ Estou com fome! ─ Ri da ousadia da Chapeuzinho ao estender a última silaba, quase
cantando ao gritar tão próxima ao Joseph. ─ Estava quase deixando vocês aqui e indo na
frente.
Ignorei os olhares e soprei uma mechinha castanha para longe do ombro da minha
pedrinha, deixando o espaço livre e disponível, nos levei até o meu carro e a prendi com o
cinto de segurança no banco ao lado do meu, escutando os resmungos ecoarem ao nosso
redor enquanto se moviam para os próprios veículos.
Isso aí, pelo olhar da Chapeuzinho todos seríamos xingados se permanecêssemos mais
dois minutos nesse estacionamento. Ela e o Kevin saíram na frente guiando os carros até o
local, a minha pedrinha mexendo no rádio e massageando seus pulsos e tornozelos com um
gel que eu comecei a manter dentro do carro...
Ainda me parte o coração vê-la com dor, mesmo que eu não possa fazer nada além
disso para ajudar.
─ Ontem o Joseph estava com vontade de comer comida japonesa... ─ Deixei de
cantarolar e me inclinei alguns centímetros para o seu lado, a encontrando com um sorrisinho
de canto e os olhos grandes brilhando de forma contida. ─ Eu quase me esqueci disso,
provavelmente será um show a parte.
─ O que ele faz?
─ Ele e a Dominique parecem duas crianças quando estão comendo comida japonesa, a
Demetria geralmente coloca cadeiras ou almofadas para separa-los e tentar conter a bagunça.
─ Ela já te...
─ Sim, eles derrubaram shoyu no meu cabelo e o meu Yakissoba foi literalmente usado
como arma. ─ Ri do seu dar de ombros e peguei sua mão fria, a guiando até o meu rosto.
─ Gosta de comida japonesa?
─ Gosto, mas ainda prefiro a mexicana. A minha mãe e eu comíamos muita comida
apimentada... ─ Desviei os olhos da estrada por alguns segundos e sorri beijando a sua palma.
Desde que nos reencontramos são raras as vezes que ela cita diretamente os pais, eu sei que
ela pensa muito nos dois, mas falar sobre é uma história completamente diferente.
Principalmente falar sem a sombra de dor em seus olhos, como esse exato momento.
─ Então, temos um lugar para ir hoje...
─ Onde?
Revirei os olhos e segurei sua palma no meu rosto, cantarolando e assoviando apenas
para ignorar o olhar incisivo em seu rosto. Consegui ignora-la por todo o caminho, mantive
seu pulso próximo ao meu rosto respirando o aroma doce, quase o sentindo na ponta da
língua; estacionei ao lado da moto monstruosamente enorme da Chapeuzinho, continuei
assoviando e peguei a minha pedrinha para simplesmente joga-la nas minhas costas.
─ O restaurante japonês fica aqui perto! ─ Quase saltei de susto com a voz animada do
Joseph e de comum acordo com a Demetria apenas balancei a cabeça levemente, deixando a
minha pedrinha cruzar os braços no meu pescoço e as pernas na minha cintura.
Eu sou um homem muito feliz nesse momento.
─ Você e a Dominique estão proibidos de comer comida japonesa fora de casa, já
conversamos sobre isso...
─ Eu estava muito distraído com o seu vestido, não absorvi muita coisa daquela
conversa. ─ Arqueei a sobrancelha encarando o segundo pai da minha namorada e apenas
dando de ombros ele circulou a esposa, se juntando ao Sam e a minha mamãe. ─ Eu sou
casado e pai dos filhos dela, não me olhe assim.
─ Eu não falei nada.
─ Mas pensou e pior ainda, expressou os pensamentos com o olhar. ─ Sorri de canto
sentindo um pequeno beijo no pescoço, obviamente desviando a minha atenção do Joseph.
Funcionou.
Acenei para o Kevin e seguimos em frente, nos emaranhando nas ruas repletas de
barraquinhas e pessoas circulando; deve ser uma feira itinerante, a Chapeuzinho parece estar
atrás de coisas mais boemias ou não estaria tão animada com as barracas de artesanato. Os
deixei com a Camille e o Miguel comparando alguns colares e tecidos...
Rodamos por algumas barracas com pessoas que fixando os olhos sobre nós – devemos
ser muito lindos juntinhos dessa maneira – e paramos em um pequeno lugar com algodão
doce e alguns pães de canela.
A desci das minhas costas por alguns segundos e a observei se afastar até um lugar com
chocolate quente e café; comprei alguns bolinhos – muito bolinhos – e a deixei me levar até
uma parte da praça menos movimentada.
A puxei para o meu colo e a deixei segurando o meu copo de café enquanto
mordiscávamos os bolinhos, observando as pessoas e rindo a cada vislumbre dos fios
extremamente vermelhos da Chapeuzinho; ela pula muito, fala muito, saltita muito, cantarola
muito e faz tudo isso nas costas do Kevin e ao lado do Joseph.
Respirei fundo praticamente enterrando meu rosto no pescoço a apenas alguns
centímetros de mim e suspirei mastigando o bolinho, sentindo as vibrações do seu riso
reverberarem na minha pele.
─ O Joseph está tentando convencer a Demetria... ─ Ergui a cabeça e segui seu olhar
até o Joseph tentando rodar a esposa enquanto alguns artistas de rua tocavam.
─ Ela não vai aceitar, aparentemente a tenacidade da Dominique foi herdada da mãe,
não do pai. ─ Resmunguei tomando um longo gole de café. Hoje o Sam roubou a minha
garrafa térmica e aparentemente o Kevin perdeu o meu copo térmico em uma das aulas de
bateria e composição que alguns amigos do Joseph ofereceram a ele, então eu realmente
preciso de uma cafeteira na minha sala.
─ Você não poderia estar mais certo.
─ Sabe, eu me lembro um pouco da Sra. McCarthy... ─ Mordisquei seu bolinho de
canela e observei seus dedinhos brincando com a massa doce; eu quero que ela queira falar
comigo, que consiga se lembrar deles como fez no carro.
─ O que você se lembra dela?

Você também pode gostar