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para adultos. O assunto é sobre um tipo de brinquedo que virou uma verdadeira febre entre
os meninos. Será que você ou algum colega tem ou teve um desse?
FEBRE GUERREIRA
A bióloga Ana Paula Gaspari bem que tentou organizar a bagunça. Primeiro arranjou
uma sacola para juntar os bonecos, depois comprou cestas que permitiam ao filho
encontrar os favoritos sem espalhá-los pelo chão. Por fim, arrumou um baú para os mais
de 100 mini-guerreiros da coleção de Mateus, de 6 anos.
“São tantos que o baú nem fecha mais. A tampa rachou”, diz Ana Paula, conformada
com a mania do caçula pelas figuras de ação – nome técnico dados pelos fabricantes aos
bonecos que são a nova onda entre garotos de 4 a 11 anos. O volume anual de vendas no
Brasil desses guerreiros implacáveis chega a US$60 milhões – o que representa 15% do
mercado nacional de brinquedos.
A febre atingiu um estágio tal que os colégios se viram obrigados a impor limites às
brincadeiras. Não é todo dia que os lutadores cheios de apetrechos podem participar do
recreio.
Arthur Queiroz de Castro, também de 6 anos, não tem a mesma sorte – seu colégio,
o Santo Inácio, permite apenas um boneco por aluno. “É difícil escolher só um”, diz. A mãe,
Tatiana Queiroz, revela que o problema se repete quando Arthur entra na loja de
brinquedos. “Ele quer comprar todos. Dá peninha, mas não tem jeito: os bonecos são muito
caros”.
O inimigo estava distraído. Ufa! Lucas respirou aliviado. Agora, se tivesse sorte,
escaparia do monstro sem ser visto. Neutralizou o hipercondutor sob o braço, deslizou pelo
espaço cósmico vagarosamente...
Mas a tarefa ainda lhe oferecia perigos. Muitos perigos. Afinal, era uma trajetória
complicada... deveria seguir da nave-mãe até o comboio-abastecedor e esse caminho
passava pelos mais arriscados esconderijos de feras cósmicas e bandoleiros das Forças
do Mal.
Será que o Guerreiro Maligno já retornara à sua própria nave central? E se ele o
emboscasse, traiçoeiro, atrás daquela dobra espacial? Debaixo do capacete, Lucas sentia
o suor escorrendo da testa. Resolveu mudar de tática. Subiu corajosamente em sua
prancha cósmica e impulsionou os jatos com força total!
Vrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!
Ainda ouvia os rugidos da fera distante, acrescidos agora dos berros do atarantado
Guerreiro Maligno:
- Depressa! Quanto é? – Lucas passou o valor necessário para quitar sua despesa e
voltou a impulsionar seus jatos, sem se despedir da atendente.
E agora, como retornar à nave-mãe? Podia ser um caminho mais longo, mas optou
por outro quadrante cósmico. Assim, escaparia das feras ruidosas ou guerreiros do mal,
mas...
Então Lucas ajeitou o capacete para o lado, experimentou seus jatos com as solas
dos pés, agarrou a encomenda de suprimentos nos braços e partiu. Habilmente, conseguiu
ser mais rápido que o som e escapou da inimiga! Ouvia seus resmungos e reclamações às
costas, mas agora ela não poderia mais lançar qualquer feitiço. Falatava pouco para
alcançar a segurança da nave-mãe. Apenas milissegundos para chegar ao seu espaço
cósmico familiar. Dez, nove, oito, sete, seis...
- ... cinco, quatro, três, dois, um! CHEGUEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIII !! Estou a salvo! –
jogou o boné para um lado e o pacote de encomenda do outro.
- Nossa Lucas, quanta bagunça só para trazer o pão! E que sujeirada é essa? Não
me diga que você foi de skate até a padaria? Vê se pode menino?
E a mãe reclamava:
- Pensa que eu não ouvi os latidos dos cachorros da dona Alberta? Mania que você
tem de provocar o bicho! Onde está o troco? Daqui a pouco você vai buscar o leite que eu
vou fazer um bolo.
Lucas suspirou fundo, antes de ligar a televisão. “Uma nova missão”, pensou. “Logo
terei de enfrentar mais perigos na rua... e aí?” O programa de TV lhe deu a ideia e logo a
sua criatividade o levava a cavalgar como um cavaleiro medieval, usando um guarda-chuva
como espada e uma velha cortina como capa mágica da invisibilidade.
No passado e no futuro,
preste muita atenção,
para os dois não misturar,
pois só vai dar confusão!
Os políticos prometem,
se ganharem a eleição.
Se mentiram no passado,
no futuro mentirão!
Os cantores e as cantoras
vão cantar suas canção.
Se cantaram no passado,
no futuro cantarão!
25 12
39 23
64 15
132 45
146 99
239 36
345 74
162 88
386 64
257 87
598 93
450 20
480 30
630 40
580 50
b) O produto de 100 e 36 é
c) O triplo de 460 é
f) A metade de 25.000 é
h) O quádruplo de 20.000 é
m) O sucessor de 7.899 é
Circo vira-vira
E não vamos ter dó de você! Agora que você descobriu a acentuação, leia o texto
abaixo, encontre e circule: 9 palavras que estão acentuadas e não deveriam estar e 9
palavras que devem levar acento e não estão.
Voces não vão acreditar, mas, para alguns deles, é mais facil enfrentar os desafios
de uma competição do que se locomover pela cidade onde móram! Faltam elevadores nos
onibus para as cadeiras de rodas, rampas nas entradas dos predios e estações de metro,
rebaixamento nas calçadas para que consigam descer e atravessar as ruas. Um simples
passeio pode tornar-se um suplício!
Desde 1991, existe uma lei que estabelece que as empresas com mais de 100
empregados dévem preenchér parte de seus cargos com portadores de necessidades
especiais, mas muitas delas ainda não seguem a lei.
A espada na pedra
( Neil Philip)
Era Natal. Os barões e cavaleiros que andavam disputando e brigando entre si desde
a morte do Rei Uther Pendragon estavam reunidos na grande igreja de Londres. Tinham
sido convocados por Merlim, uma figura feroz que fora o principal conselheiro do rei Uther.
Ninguém sabia por que estavam ali.
Quando saíram da igreja, viram no átrio uma poderosa espada enfiada e
atravessando o meio de uma bigorna de metal e penetrando em um enorme bloco de
mármore. Na pedra estavam gravadas estas palavras: “Quem tirar esta espada da pedra é
o legitimo rei de toda a Inglaterra.”
Cada um dos cavaleiros e barões pensou que poderia ser o rei. Todos puxaram e
tentaram arrancar a espada, mas nenhum conseguia movê-la. Finalmente todos desistiram.
Foi anunciado que haveria um torneio no dia de Ano- Novo. Haveria justas e
festividades. Depois, qualquer um que reivindicasse o trono poderia tentar novamente tirar
a espada da pedra.
As pessoas vieram de todos os lugares do país para participar do torneio. Entre eles
estavam um cavaleiro do norte, Sir Ector, e seus filhos: o orgulhoso Sir Kay e seu irmão
mais novo, Artur.
Kay estava tão excitado em tomar parte de seu primeiro torneio que esqueceu sua
espada. Não percebeu seu erro até que chegaram ao campo das justas. “Vá pegar minha
espada no alojamento”, disse para Artur. “E vá rápido.”
Artur cavalgou o mais rápido que podia até a hospedaria, mas todos tinham saído e
a casa estava trancada. Kay tinha um temperamento difícil, e Artur não queria ter de lhe
dizer que não tinha achado sua espada. Então, quando viu uma espada enfiada no meio da
pedra no átrio da igreja decidiu tomá-la emprestada. Rapidamente puxou a espada e a
levou consigo. Logo que Sir Kay viu a espada, soube que era a que estava, soube que era a
que estava no átrio. Levou-a para Sir Ector, dizendo: “Olhe, pai! Eu arranquei a espada da
pedra. Devo ser o legitimo rei”.
Sir Ector levou Sir Kay e Artur de volta ao átrio. “Agora”, ele disse, “mostre-me
novamente, Kay, como você conseguiu esta espada.
Kay não podia olhar seu pai nos olhos. “Pai, meu irmão Artur a trouxe para mim.”
Então Sir Ector perguntou a Artur: “Como você conseguiu esta espada”?
“Espero não ter feito nada de errado”, disse Artur. “Kay tinha esquecido sua espada,
e esta estava aí na pedra. Só a tomei emprestada. Deixe-me colocá-la novamente.” E Artur
enfiou a espada de volta através da bigorna, até a pedra.
Sir Ector agarrou o punho com toda sua força. A espada resistiu. Então Sir Kay
tentou, e ainda assim a espada não se mexeu. Mas quando Artur segurou a espada, ela
respondeu à sua mão e deslizou para fora da pedra como se fosse seda.
Sir Ector ajoelhou.
“Pai, por que está ajoelhado”?, perguntou Artur. “Não sou seu pai”, confessou Sir
Ector, “apesar de amar você como um filho. Você foi trazido à minha porta em uma noite
tempestuosa, um bebezinho chorão nos braços de Merlim, o mago, o leitor de sonhos. E
agora compreendo que você deve ser o filho do Rei Uther Pendragon e legitimo soberano
de toda a Inglaterra”.
E foi assim que o jovem Artur, que ainda nem era cavaleiro, foi aclamado Rei da
Inglaterra pelo povo; pois, por mais que tentassem, ninguém mais conseguia tirar a espada
da pedra.
O lugar ficava cada vez mais cheio e barulhento. Tinha uns meninos da quinta série
brincando com uma caixinha de leite pela metade na mesa ao lado. Carly viu o Chuck enfiar
uma bala de goma, daquelas vendidas a metro, inteira na boca.
Carly tinha onze anos, mas era muito pequena para sua idade. Para completar,
também tinha o rosto redondo e um toquinho de nariz (que detestava e queria que fosse
mais comprido) que a faziam parecer mais nova ainda.
Sabrina era alta, morena e tinha uma aparência sofisticada. Ela usava o cabelo preto
liso preso num rabo-de-cavalo. Tinha também olhos escuros enormes. Quem as via juntas
achava que a Sabrina tinha uns doze ou treze anos. Porém, na verdade, a Carly era um
mês mais velha que a amiga.
A aventura da mudança
Os homens que voavam no mar
Havaí, 1907
Victor Swift foi levado para a ilha do Havaí contra sua vontade. Um talento nato para
os esportes, campeão de salto em distância, aluno brilhante da escola londrina que
freqüentava, Victor foi enganado por seu pai.
Disseram-lhe que passariam apenas as férias naquela ilha selvagem, quando, na
verdade, mudavam-se para lá em busca de um novo começo de vida. Os negócios do pai
de Victor não deram certo e ele perdera todos os bens. Endividado até o ultimo centavo,
aceitou o convite de um amigo norte-americano para cuidar de suas propriedades naquela
terra longínqua. Não sabia nada sobre o povo e os costumes do lugar, mas sua única saída
era se aventurar a viver lá.
Victor passou os três primeiros meses no Havaí afundado no tédio e mau humor.
Apesar de excelente nadador, não se interessava pela praia. Estava cheio daquelas férias.
Sonhava em voltar para Londres e rever os amigos. Descobriu a verdade sobre a decisão do
pai em ficar na ilha quando o surpreendeu contando tudo a um amigo durante uma noite
quente de verão. Viveriam lá por muitos anos, Victor não frequentaria mais a antiga escola.
Quando voltasse a ter dinheiro, seu pai mandaria buscar um professor na Inglaterra.
Naquela noite, Victor saiu de casa revoltado. Caminhou durante horas pela praia,
chutando as ondas do mar. Sua vida chegara ao fim, ele pensava. E ainda era tão jovem!
Tinha apenas doze anos... O que seria do resto de seus dias?
Chutar as ondas à noite acabou se transformando em um hábito. E foi num de seus
passeios noturnos que Victor os viu pela primeira vez- os homens que voavam no mar.
Montados em pranchas de madeira, os nativos da ilha, os canacas, deslizavam sobre
as ondas espumantes. Observando aquelas silhuetas contra a luz mutável do amanhecer,
Victor imaginou que aqueles eram os filhos de Netuno, deus do mar.
De repente, uma voz o fez voltar á realidade:
- Veja, meu filho, não é uma beleza? Isso se chama surfe, é um esporte de reis, de
reis naturais da terra.
Victor logo percebeu que o sotaque do homem que lhe dirigia a palavra não era
londrino. O desconhecido sorriu, franzindo os olhos, e Victor se aproximou, sentando-se ao
seu lado na areia. O homem continuou a falar:
- Você já tentou surfar? Deveria experimentar, não há nada melhor no mundo. Como
você se chama? – E antes que Victor respondesse, ele se apresentou: - Meu nome é John
London, mas pode me chamar de Jack.
Victor contou-lhe por que estava no Havaí e disse que só pensava em voltar para a
Inglaterra, mas, quando tornou a pousar os olhos no mar, quase concordou com a opinião
de seu primeiro amigo na ilha. Novas idéias vagavam em sua mente.
Em sua antiga escola, Victor aprendera a desprezar a selvageria dos povos nativos
dos mares do Sul. Mas ali sentado, na praia de Waikiki, ao nascer do sol, observando os
movimentos mágicos dos jovens canacas sobre as pranchas que percorriam as ondas,
Victor começou a duvidar da selvageria deles.
Em suas aulas de esportes, aprendera que o principal era ser sempre o primeiro,
chegar à frente de todos, fazer o maior número de pontos para depois caçoar dos pobres
perdedores.
Porém, naquela manhã, à medida que o sol pintava os corpos de dourado, Victor
começou a mudar. Porque aqueles jovens canacas montados em suas pranchas pareciam
estar se divertindo muito mais do que ele jamais fizera em sua escola.
Victor ainda não era capaz de comunicar-se com eles. Mas tinha a nítida sensação de
que não apostavam uma corrida, de que não competiam com os outros. O grande desafio
era o próprio mar. Quando os canacas conseguiam emparelhar suas pranchas e assim
chegar à praia, riam muito, como se aquele entrosamento de movimentos lhes
proporcionasse um grande prazer.
Naquele mesmo dia, Victor pediu ao pai que lhe arrumasse uma prancha de surfe.
Não foi difícil consegui-la: alguém o havia presenteado com uma delas, afinal seu pai
sempre fora generoso e gentil. Pela primeira vez, Victor ousou pensar que ele poderia estar
gostando daquela ilha.
Na manhã seguinte, ao raiar do sol, o garoto voltou á praia. O mar estava furioso,
mas Victor sempre se considerara um menino superior à media: aceitaria o desafio da
natureza. Entrou no mar até a arrebentação, tentou sentar-se na prancha e... foi engolido
por uma onda gigantesca. Quando despertou, estava cercado de canacas, já na areia
quente da praia.
Irritado, sentindo-se envergonhado de seu fracasso, Victor tentou levantar-se, mas
não conseguiu. Um jovem nativo sorria para ele enquanto os outros falavam muito e faziam
gestos. Victor compreendeu que aquele garoto o havia resgatado do mar.
No dia seguinte, quando Victor voltou à praia carregando sua pesada prancha de
madeira, o garoto adiantou-se para recebê-lo. O pequeno canaca parecia tão amistoso e
Victor se sentiu tão só que resolveu aceitar sua companhia. Victor pensava cismado se
todos os nativos eram mesmo canibais, ferozes como ele ouvira falar na Europa. O garoto
parecia muito menos ameaçador do que os antigos colegas de classe. Será que se
transformava em comedor de gente quando sentia fome? Porém , quando entraram no mar
e alcançaram a arrebentação, Victor esqueceu-se de todas as lendas a respeito dos
canacas. Naquela ilha, o mar era a grande aventura.
Aos poucos, Victor descobriu que precisava pedalar com as mãos para fazer sua
prancha deslizar. Aprendeu a posicionar o corpo na prancha e a conduzir os movimentos
com os pés. E sua primeira onda foi inesquecível. Victor voou. A onda e ele eram uma coisa
só. O mar habitava sua alma. Céu, água e movimento. Nunca se sentira tão livre. Nunca
dera tantas risadas.
Enquanto ia aprendendo a surfar, Victor descobria que não devia lutar contra as
águas, e sim deixar-se conduzir por elas. Pois, no mar, ser um herói não era vencer, mas
sentir as águas.
O espírito de aventura habitava as ondas e era preciso que sua espuma macia
banhasse o coração do homem. No mar, só se pode vencer a si próprio.
Depois desse dia, Victor teve a impressão de que o idioma canaca não era tão difícil.
Foi aprendendo as lendas, os costumes, a gostar das comidas havaianas. E, como não
podia deixar de ser, Victor acabou se apaixonando por uma linda canaca.
Por isso, quando enfim seu pai se recuperou financeiramente e o convidou a voltar
para a Europa, Victor preferiu ficar. Tornara-se um havaiano. Teria filhos havaianos. Seria
um protetor da ilha, um homem do mar.
Quase morri de medo nas asas do Condor. Voei, voei muito alto, mas a verdade é
que renasci...
Quando?
Faz muito tempo, mas me lembro do dia, mês e ano: 7 de setembro de 1958.
Lembro-me também do lugar, pois há lugares da infância que ficam bem guardados na
memória. Naquela época, na manhã do Dia da Independência, eu estava na beira do rio
Xapuri, lá no Acre, brincando com meus amigos... Nós cavávamos buracos na areia a fim de
encontrar ovos de tracajá. Em cada buraco havia dezenas de ovos que as nossas mãos
transformavam em pequenas pirâmides e colinas brancas... Suávamos sob o calor
inclemente, e, de vez em quando, a gente mergulhava no rio, nadava e voltava para a praia
à procura de ovos... Quando terminei de construir a terceira pirâmide, tive minha primeira
crise de asma. Senti falta de ar, abri a boca para tentar respirar...
Não há nada pior do que sentir falta de ar, porque, sem ar, eu, você e o mundo
inteiro não podemos viver. Meus amigos, assustados, correram até minha casa e viram
minha tia Leila limpando um peixe na varanda. Apontaram para a beira do rio, e um deles
disse que meu rosto estava estufado e vermelho. Tia Leila, a mais dramática das minhas
tias, pensou que eu tinha me afogado no rio e correu para avisar minha mãe, que correu
para o rio e entrou nas águas do Xapuri. Estava tão nervosa que não me viu na beira do rio
e, é claro, não me veria nas águas do rio. Quando voltou para a praia, seu vestido azul
colado no corpo e seus cabelos longos escorridos lhe davam um ar engraçado. Assim, vi
minha mãe e tive vontade de rir, mas eu mal conseguia respirar, imagine se podia rir.
Minha mãe, atônita, correu para avisar meu pai, e no meio do caminho ela se lembrou de
que meu pai não estava em casa, nem na cidade. Meu pai estava viajando num barco. Ele
subia e descia o rio Acre, vendendo tecidos e roupas ou trocando tecidos e roupas por pélas
de borracha e sacos de castanhas. Nossa casa ficava na praça Plácido de Castro, a menos
de cem metros da prefeitura da cidade. Minha mãe se lembrou de que havia um médico em
Xapuri, o Dr. Monte, um médico de Rio Branco que a cada dois meses visitava a cidade.
Mas o Dr. Monte tinha ido atender a um doente em Brasiléia, lá na fronteira da Bolívia.
Então, apavorada, ela se dirigiu à prefeitura, pois o prefeito era primo de meu pai. O
prefeito correu para a praia e me viu estendido na areia, cercado de pirâmides e colinas de
ovos de tracajá. Meu rosto devia estar vermelho que nem melancia, porque o prefeito olhou
para mim e disse:
_ Por Deus, o menino tá sufocado!
Ele olhou para o céu e disse para minha mãe e tia Leila:
_ Fiquem aqui, eu vou cuidar desse menino.
Ele me pegou pelos braços. Carregou-me como se eu fosse um boneco de pano e me
levou até o carro dele, um Ford velho e enferrujado que nunca saía da cidade, porque não
havia estrada de Xapuri a nenhum lugar, nem de nenhum lugar a Xapuri. Mas havia uma
estrada que cortava a floresta e terminava numa pista de cascalho que devia ter uns
duzentos metros. Não sabia para onde o prefeito me levava. Então eu ouvi a voz dele:
_ Lá está ele, lá está o bonitão!
E quem era ele, o bonitão?
O Condor...
Nos braços do prefeito eu entrei no Condor. Era um avião verde e prateado, um
bimotor alemão que passava por Xapuri a cada quinze dias e fazia uma viagem
impressionante para São Paulo. O Condor escalava em seis cidades (duas da Bolívia e
quatro do Brasil) antes de aterrizar na capital paulista. O prefeito, que sabia pilotar, disse
ao dono do Condor que ia dar uma volta comigo. Alem da falta de ar, comecei a sentir
medo. Nunca viajara de avião, e agora estava num aviãozinho que parecia um sapo
metálico. Tremia de medo, e, com medo e falta de ar, sentado na cabina, percebi que o
avião corria na pista de cascalho. Fechei os olhos...
Minha primeira aventura: voar com falta de ar aos dez anos de idade. Quando abri
os olhos, a cidades parecia uma maquete, uma cidade de brinquedo, vi os dois rios, o Acre
e o Xapuri, como se fossem duas cobras amarelas. O condor ainda chacoalhava, o barulho
dos motores era infernal e o vento que entrava pela janelinha da cabina tinha a força de
um furacão. Aos poucos, fui me acostumando com aquela idéia louca de voar. Estava
nervoso, mas no ar. Era um milagre... e também uma alegria, pois navegando no espaço,
não sei por quê, comecei a respirar melhor... Já não sentia a angústia de estar perdendo o
fôlego, de abocanhar em vão um punhado de ar.
Voltava a ser como você, que respira pelo nariz, normalmente sem ânsia. Sem
sufoco. O prefeito-piloto, ao notar minha melhora sorriu. Logo depois ele riu e disse:
_ Agora vamos conhecer as nuvens.
Ele puxou um pouquinho o manche, o Condor começou a subir, subir... E subimos
tanto que entramos nas nuvens, essas nuvens que lá embaixo parecem enormes blocos de
mármore, que nem esculturas aéreas flutuando no céu azul da Amazônia. Nuvens de todos
os tamanhos e formas: nuvem-dragão, nuvem-serpente, nuvem-tartaruga, nuvens que são
as formas do céu da minha infância. Depois começamos a baixar, e sobrevoamos o rio
Acre, sinuoso, barrento, como uma cobra- d’água sem fim. Vi um barquinho navegando
perto de uma vila, imaginei que podia ser o barco do meu pai e dei um adeus na janelinha
da cabina. Depois o Condor baixou mais ainda. O piloto apontou para uma árvore e disse:
uma sumaumeira. Outras árvores: a castanheira, a seringueira, árvores enormes que eu via
do alto. No meio da floresta, vi uma cortina esverdeada, com tons amarelos. O piloto me
disse que era um bambuzal. Vi um barracão de um seringal, o Soledad, e canoas que
pareciam de papel pardo, pequeninas a frágeis. Em vinte minutos de vôo vi coisas que só
podia imaginar.
Hoje, quase quarenta anos depois desse vôo, penso que escrever uma história se
parece com isso: voar, ver o que nunca vimos... imaginar.
Aterrizamos na pista de cascalho. No galpãozinho á beira da pista, minha mãe e tia
Leila estavam ao lado do dono do avião. Minha mãe xingou o prefeito-piloto de louco e
irresponsável; tia Leila, de cara emburrada, mal falou com ele. Mas quando me viram são e
salvo, respirando como uma criança sadia, ficaram aliviadas.
Olhei para o avião na pista, e me despedi daquele sapo metálico que havia me
curado. Enfim, agradeci aos céus, mas nunca perdi o medo de voar. Anos depois, iria voar
muito, e em aviões menores que o Condor. Mas aquele vôo foi inesquecível.
Até hoje me lembro daquela manhã em que voei no Condor e vi lá do alto o mundo
da minha infância.
Nome:______________________________________________________________________________ Data
______/______/______
O TEMPORAL NO AMAZONAS
Passamos o dia em Ponta Alegre, aldeia dos índios Maués, banhada pelo rio Andirá .
Muito aprendi com o jovem tuchaua, conhecedor de ervas má gicas e amigo das estrelas. Ao
entardecer, saímos de canoa com motor de popa, ao rumo da Freguesia, pequenina comunidade
no coraçã o da floresta. Era tempo de cheia. Soprava de leve o vento geral. É ramos quatro a
bordo. Viajá vamos rente à margem abarrancada, já na metade do percurso, quando, de repente,
o temporal desabou.
“Este vai ser dos medonhos”, disse sereno, lá na popa, onde manejava o motor, Moró n,
um índio meu amigo. Junto a ele, no chã o da canoa, o seu filho menino, todo encolhido de frio.
Lembro-me de que, onde eu viajava, virei-me e vi o brilho intenso dos seus olhos enormes. Era
o pavor. Na proa, sem camisa, o caboclo Jari, morador da Freguesia.
Enfrentamos o temporal em silêncio, solidá rios. A correnteza crescia, a canoa se
balançava na alta crista das ondas, depois se despencava com violência. A chuva nos atingia por
todos os lados. Houve um momento em que nã o vimos mais nada. Repetidas vezes a proa
tocava num tronco. O baque surdo, a canoa parecia que ia virar. Moró n inclinava o motor para a
frente, de jeito que a hélice ficasse fora da á gua.
Só os relâ mpagos nos ajudavam, cortando o céu de um lado a outro: a luz nos mostrava
um tronco enorme, um pedaço de á rvore ainda com ramos frescos, já quase em cima de nó s. O
índio, á gil e calado, desviava a canoa num golpe de leme. A escuridã o era tanta que eu sequer
enxergava a minha mã o aberta a centímetros do meu rosto. Mesmo assim, em alguns instantes,
tive a certeza de que o piloto conseguia distinguir, dentro da treva espessa, alguma coisa das
á guas e das margens. Um filho da floresta.
Thiago de Mello
1. O texto relata uma aventura vivida num rio, no interior de uma floresta brasileira.
a) Em que rio acontece a histó ria?__________________________________________________________
b) Observe o título do texto. Em que floresta se encontra esse rio? Você sabe em qual
regiã o do Brasil essa floresta está situada?
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R:___________________________________________________________________________________________________
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R:___________________________________________________________________________________________________
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5. No primeiro pará grafo, o narrador diz que o tuchaua da tribo era “conhecedor de
ervas má gicas e amigo das estrelas”. Moró n era filho da floresta. Com base nessas
informaçõ es, como é a relaçã o dos índios com a natureza?
R:___________________________________________________________________________________________________
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6. Navegando pelos rios da Amazô nia, o narrador conversou com os índios. Você acha
que o homem branco tem muito o que aprender com os índios e com a floresta? Por
quê?
R:
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a) 2 substantivos
comuns:_________________________________________________________________________
b) 2 palavras polissílabas:
_________________________________________________________________________
c) 3
verbos:_________________________________________________________________________________________
“ Só os relâ mpagos nos ajudavam, cortando o céu de um lado a outro: a luz nos mostrava
um tronco enorme, um pedaço de á rvore ainda com ramos frescos, já quase em cima de nó s. O
índio, á gil e calado, desviava a canoa num golpe de leme.”
a) 2 palavras paroxítonas
acentuadas:____________________________________________________________
b) 1 palavra
proparoxítona:_______________________________________________________________________
c) 2
adjetivos:______________________________________________________________________________________
_
“Passamos o dia em Ponta Alegre, aldeia dos índios Maués, banhada pelo rio Andirá .
Muito aprendi com o jovem tuchaua, conhecedor de ervas má gicas e amigo das estrelas. Ao
entardecer, saímos de canoa com motor de popa, ao rumo da Freguesia, pequenina comunidade
no coraçã o da floresta.”
a) 2 substantivos
pró prios:______________________________________________________________________
b) 2 verbos:
_______________________________________________________________________________________
c) 4 palavras trissílabas:
_________________________________________________________________________
Índio _______________________________________________
Escurecer ____________________________________________
Correnteza ___________________________________________
Direçã o _________________________________________________
Coraçã o ________________________________________________
Hélice ___________________________________________________
Tempestade ____________________________________________
Nome:___________________________________________________________Data____/____/
______
Estava quase paralisado pelo medo, as mãos grudadas no convés, quando fui cuspido para
fora do navio, que já se inclinava perigosamente. Senti meu corpo envolto na água gelada do mar
no momento em que dei por mim – confesso que não lembro como consegui – estava num
pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o
máximo possível do Antílope que começava a afundar. Sabíamos que, se ficássemos por perto,
seríamos tragados pelo oceano por causa do redemoinho que sempre se forma em torno de uma
embarcação quando está afundando.
O esforço valeu, mas foi difícil. Exaustos, largamos um pouco os remos e deixamos-nos levar
pelas ondas, apesar do perigo ainda presente. Foi só o tempo de curvar um pouco o corpo para a
frente, a fim de aliviar a tensão nas costas... De repente, uma onda traiçoeira, surgida da escuridão,
jogou o bote longe, despejando-nos outra vez na água.
Ao voltar à tona, apavorado, tentei enxergar algum companheiro do bote. Sentindo que ia
afundar, gritei por eles como pude. A única resposta foi o estrondo das ondas e o zunir dos ventos.
Parecida definitivo: eu estava ali, no meio do oceano, sozinho...
No entanto, logo reagi. Estava vivo e isto, diante das circunstâncias, já era alguma coisa.
Minha preocupação passou a ser uma só: manter-me vivo. Comecei então a nadar às cegas. Lutei
com as ondas durante horas a fio. Foi assim, que consegui chegar à uma praia, onde, exausto, deixei
meu corpo cair sobre a areia fofa. Estava a salvo, pelo menos de morrer afogado. Olhando o céu,
ainda com as estrelas, a primeira imagem que me apareceu foi a de minha mulher Mary e das
crianças.
Mary havia discordado totalmente desta minha viagem: fez de tudo para que eu desistisse.
Lembrou minhas promessas de nunca mais navegar, contou velhas histórias de navios engolidos
pelo oceano ou devorados por monstros.
Não adiantou. Minha paixão pela aventura tinha uma força irresistível. Exercia uma atração
incontrolável sobre mim e despertava-me uma sensação que eu amava desde a juventude. Logo
que me formei em medicina, embarquei como médico de bordo para correr o mundo e os riscos das
novas rotas de navegação. Por causa disso tudo, eu embarcava no Antílope, deixando o porto de
Bristol, na Inglaterra, no dia 4 de maio de 1699.
Não sei quantas horas dormi. Ao acordar, senti o sol nos olhos e tentei mover a minha
cabeça e não consegui: meus cabelos estavam presos ao chão. Tentei me levantar e não pude: meu
corpo estava como que colado na areia. O que estaria acontecendo? Para piorar minha situação,
senti algo subindo pela minha perna esquerda. Aquela coisinha logo chegou ao meu peito... Baixei
os olhos, como se fosse examinar a ponta do meu nariz, e vi uma criaturinha humana de menos de
um palmo de altura, observando-me com o mesmo olhar de espanto com que eu a encarava.
Jonathan Swift, Viagens de
Gulliver
Trabalhando com o texto
1. O narrador dessa histó ria participa dos acontecimentos ou só observa e conta o que
aconteceu. Retire do texto uma frase que justifique a sua resposta.
R:_______________________________________________________________________________________________________
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R:____________________________________________________________________________________________________
b) O personagem estava assustado. Que trecho do pará grafo confirma essa ideia?
R:_____________________________________________________________________________________________________
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c) Em sua opiniã o, por que o título do texto é Após a tempestade, um reino em miniatura?
R:____________________________________________________________________________________________________
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d) Como o personagem conseguiu vencer esse desafio?
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R:
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7. Leia o trecho:
“Com o resto das forças caminhei em direçã o à praia, onde, exausto, deixei o corpo cair
sobre a areia fofa.”
( ) substantivo
( ) adjetivo
( ) verbo
c) Desse mesmo trecho, retire outra palavra que pertence a mesma classe da palavra do
item a:
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“ Sabia que mesmo sem remar deveria avançar durante o mau tempo e meio em dú vida,
decidi pela primeira vez recolher a â ncora do mar.”
a) Como seria reescrito esse trecho se começasse com o pronome eles?
R:
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“Pulei no barco e, antes que eu me afastasse, Helena atirou uma chuva de flores no mar.”
R:
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O aniversário de ____________________
J A M A R P I R E X N A G A R S A P Ê R
U P O R T U G U Ê S Ô N I X I O F I X E
I Ó D U R E X G R A O Â B S O F R E R F
Z S U M I R Á I E C R O I É U Á E G P U
J A C A R É C U A I A Z A R C A G I A M
A B A R E P Ô R L E R Á C T A T U V P P
C Ã F O F A C Õ E S A L O Ê P I Ê O E E
A O É X É A N E S O I E M I A R S Á L L
Í S S O M O A C O Ê Z F P A Z O E R A É
S A L Ô A Z M B A M B U R U B U S E I C
U U N I R Á É A Z N A N A D A R T A O I
T V O A R C M L U Á T I R A T O R T O P
I A L H O N B Ã M T O L Ô A E S T O R Ó
à A T U M U L O L A M T M E M E M B É R
Letras cruzadas
EM EN
CON EN
EN
BAM CAN
CON COM
EN
EN
AN
DEN
SAN