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Os sonhos do velho Rei

Aquele olhar já era conhecido de sua esposa e filho...

Lá se vem mais um projeto maluco, um sonho impossível ou uma ideia sem pé nem cabeça.

Era o que todos pensavam. Ele era assim, ou digamos que estava assim. Aos 80 anos era cada

vez mais frequente vê-lo com uma agenda velha, uma régua quebrada e uma caneta sem bocal

que ele encontrava em alguma estante ou fundo de gaveta.

Ele riscava para um lado e para outro, fazia vários pontos e anotava números. Ele era

apaixonado por números e contas. Seus riscos, pontos e anotações eram parte de um sonho, de

um dos sonhos. Ele sonhava em construir. Ele não queria só construir uma casa, um edifício,

um móvel. Seu desejo era construir algo inusitado, algo diferente de tudo que todos os

grandes construtores e inventores já tivessem feito. Uma de suas ideias mais sonhadas era o

restaurante giratório e a outra o pedalinho giratório dentro de uma lagoa. O que essas duas

invenções têm em comum? As duas seriam usadas para proporcionar lazer. O ideal do velho

Rei era sempre criar algum objeto ou instrumento que fosse utilizado para fazer as pessoas se

sentirem felizes, seja comendo, ou passeando num parque, aproveitando o dia de sol numa

lagoa. Às vezes ele se via inspirado por alguma dificuldade do dia a dia que ele queria

solucionar, deixar uma atividade mais prática para outras pessoas, como uma vez ele pensou

em fazer um trilho da garagem até a casa de cada morador do condomínio onde morava, nesse

trilho um carrinho de supermercado levaria as compras para que não carregassem sacolas

pesadas de seus carros até as suas casas. Logo sua ideia foi descartada pelo filho e a esposa

deixando-o muito chateado. Mas eles não faziam por mal, era só para não deixar ele continuar

se iludindo com algo que certamente não seria aprovado pelos moradores e o deixaria ainda

mais frustrado no futuro. A verdade é que nem todo mundo compreendia a necessidade de Rei

de divagar em seus projetos e invenções. Mas quem disse que ele parava de sonhar?
Ele sempre tinha uma nova ideia surgindo na cachola e de ele também se dedicava a uma

outra paixão: a leitura.

Era um leitor assíduo e não escolhia temas ou gêneros porque tudo o interessava. Era sedento

por conhecimento, lia, às vezes, um livro por semana. Quando era muito interessante lia sem

parar dia e noite, chegava até a perder a fome. Deve ser por isso que sua cabeça vivia

inventando coisas, quem lê muito viaja por muitos mundos, desperta a criatividade e acredita

em muitas possibilidades, porque quem descobre a leitura é como se descobrisse uma fonte

sem fim de portas e cada uma delas pode levá-lo para uma aventura diferente.

Rei amava ler histórias reais, principalmente da vida dos outros, assim como amava contar a

sua história de vida. Um dia ele me contou a história da vida dele.

Em 19 de setembro de 1938, nasceu em Boararema, no sul da Bahia um menino tão pequeno

que cabia numa caixa de sapatos. Era o

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