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O 'coaching' de Zé Correa...

Mas eu devo ter ímã pra repórter, não é possível. Vocês me amam? O que é,
hein? Meu charme? Minha aparência? Toda semana aparece um. Olhe, vou
lhe dizer: essa faixa aí da frente é antiga, de 2018. Já saiu até no jornal, veja,
mandei emoldurar e pendurei na parede. "Essa loja é de brasileiro." Escrevi
pra atrair mais freguês, só isso. Porque o comércio tá dominado por chinês.
E o público brasileiro gosta é de comprar de brasileiro. Não fica à vontade na
loja do chinês. Lá falam um com outro na língua deles e se xingam tua mãe
você passa por besta. Não te deixam abrir uma embalagem. Não pode olhar
nada, que eles desconfiam. Se pede desconto, fazem cara feia. Então, já que a
mercadoria é a mesma, vem do mesmo lugar, tem o mesmo preço, as pessoas
acham mais agradável comprar de brasileiro. Por isso resolvi sinalizar com a
faixa.

Aí falaram que era xenofobia. Eu nunca tinha ouvido essa palavra, nem sabia
do que se tratava. Hoje sei, porque leio muito. Sim, tenho mestrado e pós-
graduação em passar longe da escola. Se frequentei um ano foi muito. Não
possuo nem um papelzinho deste tamanhinho dizendo que fui um dia no
colégio. Escrevo quase nada. Mas leio. E tá tudo nos livros. Com livro e
cálculo a gente vai longe. A vida inteira eu soube calcular: isso tem
fundamento, aquilo não tem. Botar galinha preta na encruzilhada, por
exemplo. Qual o fundamento? Nenhum. É diferente de um livro que vendeu
milhões de unidades. Se tá escrito, se tanta gente leu, é porque tem
fundamento. Foi um livro que me deixou rico, inclusive. De modo que se
você quer conversar, vá dizendo. Pergunte e eu desenvolvo.

Me criei na roça até os vinte e poucos anos. Várzea Alegre, Ceará, que de
alegre não tinha nada. Um lugar no meio do mato com quatro, cinco
casinhas. Eu era muito pobre. Pobre, pobre, superpobre. Pobre-miséria.
Naquele tempo eu não conhecia outra palavra, que aprendi depois de velho:
"sobra". Em Várzea Alegre não tinha sobra, só falta. Nove irmãos, dois
morreram de fome. Aí diziam "coitadinho, não vingou". Nada. Era fome. Ou
disenteria. Ou nó na barriga porque comeu angu de milho com rapadura,
passou mal e não teve socorro. Era tudo tão medíocre, sem informação, que
a gente não fazia ideia de que existia um negócio chamado médico que
curava as pessoas. Só que eu tinha muita vontade de ser rico. Vontade não.
Eu tinha certeza absoluta que ia ser rico. Aí me falaram que em São Paulo a
gente ganhava dinheiro. Eu vim. Era 1968.

No começo vendia agulha e linha em ponta de feira, correndo do rapa,


dormia na rua e sonhava. No meu sonho eu pegava ovo de galinha, botava no
trem e ia vender. Parecia real, dava pra sentir o balanço do trem e o peso das
moedas no bolso. Eu ainda não tinha informação sobre isso, mas hoje,
sabendo das coisas do desenvolvimento pessoal, sei da importância de
sonhar, imaginar. Tanto que São Tomé estava errado, você deve saber. A
gente não tem que ver pra crer. Tem que crer pra poder ver. É o seguinte,
anote essa primeira lição que vou lhe dar: nesse mundo, se você quer ser
rico, tem que fazer um investimento — e sonhar é o primeiro investimento.
Anotou? Depois é trabalho e repetição. Um processo. Até Deus usou esse
processo. Ele imaginou o mundo e trabalhou seis dias pra criar. Descansou
no sétimo, não foi? Mas deixou o homem pro final, porque não era besta. Se
fizesse o homem no começo, ele ia dar palpite errado e bagunçar tudo. "Eu
vou primeiro é fazer tudo conforme sonhei, depois largo o homem aí e ele
que se vire."

Ah, meu processo é longo, melhor a gente se sentar pra você prestar atenção.
Eu devia estar com uns 15 anos de São Paulo quando comecei a trabalhar
com produto de limpeza. Arranjei um ximbiquinha, um caminhãozinho
velho, e vendia sabão, água sanitária, amaciante a granel pelos bairros. Um
dia fui a uma papelaria no Sacomã comprar letras pra desenhar umas frases
na carroceria do caminhão. "O melhor produto", "Preço baixo", "Fabricação
própria", essas coisas pra fazer propaganda e ajudar a vender. Quando
entrei, tinha uma mesa grande cheia de livros. Eu era quase analfabeto,
nunca tinha nem mesmo segurado um livro. Vendo aquela mesa lembrei do
dia, no Ceará, em que a professora me perguntou quem descobriu o Brasil.
Eu retruquei a ela: Saber isso dá dinheiro?. Ela: Dá não. Então não me
interessa. Mas naquela mesa tinha um livro que meu deu vontade de pegar.
"O poder do subconsciente", de Joseph Murphy. Peguei. Virei pra cá, pra lá,
pus de volta e fui embora. Caminhei até o ponto, meu ônibus chegou, todo
mundo entrou. Quando botei o pé na escada pra subir, senti um negócio me
puxando pra trás. Que diabo é isso? Nunca gostei de ler, o que aquele livro
quer comigo? Voltei na papelaria e comprei o livro. Fiquei deslumbrado. Nas
primeiras linhas eu já falei: Tô rico. Foi a certeza mais certa que senti na
vida. Eu tava rico. Era questão de tempo pra contar o dinheiro.

Isso, uma iluminação. Mas hoje em dia eu falo insight. Aquele livro dizia o
oposto de tudo o que eu ouvia lá com meu pai, minha mãe, naquela
regiãozinha miserável onde nasci. Que dinheiro não dá em árvore, que quem
tem dinheiro não vai pro céu, que dinheiro é coisa de gente ruim, que é mais
fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no reino do
céu, esse monte de baboseira que afasta o dinheiro em vez de trazer ele pra
perto. Lendo o livro eu calculei: bom, preciso zerar tudo que aprendi até
agora e me agarrar nesse negócio de subconsciente como se fosse uma tábua
no mar depois do naufrágio. Foi difícil não. Foi até fácil. Eu não tinha nada a
perder, não estava colocando nada em risco.

Funciona assim, vou lhe resumir. Primeiro, como eu disse, você muda você:
em vez de dizer que dinheiro não é capim, que é pecado, você inverte o
discurso, e diz "eu adoro dinheiro", "dinheiro é abundância", "vem,
dinheiro". Depois você mentaliza isso e fica repetindo 21 dias — é melhor
repetir por escrito, porque quando escreve a gente exercita o cérebro e a
coisa toda fica mais potente, mais verdadeira, mas repetir em voz alta
também vale. Aí então, a partir disso, o universo vai se reunir pra te dar
aquilo que você mentalizou. A chave é mudar o paradigma, entendeu?
Porque tudo tem dois lados, o direito e o avesso, a noite e o dia, o doce e o
amargo, até pra acender uma lâmpada tem fio positivo e fio negativo. Se
desde criança o subconsciente absorve só o lado negativo, é no lado negativo
que você vai viver. Tá entendendo o processo? O improviso não serve pra
nada. Se Deus está nos detalhes, o Cramulhão tá no improviso. Basta você
olhar pras favelas: um amontoado de improvisos. Tem que mover o
universo. E pra isso precisa imaginar. Porque até pra casar a gente primeiro
sonha, é ou não é? Ah, eu quero uma noiva loira, de olho verde, assim, assim.
Ou noivo: bonito, rico, forte. Quer dizer, você primeiro casa mentalmente e
depois materializa o casamento.

É científico provado por A + B. Pense assim: se existe um monte de gente


milionária no mundo, por que justo eu fui escolhido pra ser pobre? O
dinheiro tá jorrando por aí. Toda hora passa nota de 50, de 100 na nossa
cara. O problema é que o brasileiro não sabe pegar. Vive naquela prisão de
achar que todo rico é filadaputa e, em vez de ir ler Joseph Murphy, "O maior
vendedor do mundo", de Og Mandino, "O homem mais rico da Babilônia", de
George Clason, ou seja, em vez de abrir espaço na mente pra positividade,
prefere se atolar até a tampa ouvindo bobagem na porta do bar ou da boca
do pastor. E pastor fala mais no Capeta que em Deus, já reparou? Nós, seres
humanos, temos essa sede natural pela negatividade. Mas é que começamos
muito mal. Viemos de um lugar onde a família inteira fez cagada: a mulher
desobedeceu o pai e foi comer o fruto proibido, o irmão matou o outro irmão
por inveja. Uma desgraceira só. Fica complicado desse jeito.

Karl quem? Esse eu não li. Mas não tem esse negócio de dizer que o rico é
rico porque explora o pobre. Deixe de besteira. O rico é rico porque constrói,
cria avião, computador, asfalto, monta escritório e sai dando dinheiro.
Noventa e oito por cento das pessoas ricas vão pro céu. O inferno tá cheio é
de pobre. O povo acha que o rico botou cerca em volta da riqueza e não tem
mais lugar lá dentro pra ninguém. Não é nada disso. Tem riqueza pra todo
mundo, o que não tem mais é vaga pra pobre, lotou tudo. Talvez na Suíça
ainda tenha, mas aqui acabou. Tem que parar de ficar do lado da pobreza.
Olhe, esse negócio é contagioso. Se tiver cinco trouxas numa mesa e eu
sentar com eles eu vou ser o sexto trouxa. Se tiver cinco pessoas sábias,
ricas, eu passo a ser o sexto rico. Agora sou eu que te faço uma pergunta.
Com que você vai querer se sentar? Com quem? Quero que me responda.

— Ah, seu Zé, vou querer sentar com os pobres. Acho que eu tenho
mentalidade de pobre, deve ser mal de família. Pro senhor ter uma ideia,
meu pai trabalhou a vida inteira e só comprou um imóvel: a sepultura onde
ele foi enterrado. E olha que ele sonhou pra chuchu, viu. O sonho dele era
conhecer a Bahia e nem isso ele pôde fazer. Nunca teve conta em banco.
Quando recebia o salário, separava o do ladrão, o da cerveja e escondia o
resto no sapato pra voltar pra casa, onde entregava tudo pra minha mãe.

Aí que tá o erro. Pobre esconde o dinheiro. Eu, não. Eu gosto de espalhar um


milhão, dois milhões no chão lá em casa e ficar olhando. Quando a gente vê
dinheiro dá aquele impacto e mais dinheiro vem. Não é ostentar, que aí é
coisa de emergente. E o emergente senta na mesa dos trouxas. A diferença
do rico pro que pensa que é rico é uma só: o rico não se mata pra ser rico ou,
pior ainda, pra parecer que é rico. Dinheiro na mão de besta não adianta,
porque o sabido toma. Uma vez eu li que o cabra mais ruim das ideias, mais
atrapalhado do mundo era Moisés. Mas ele sonhou em libertar o povo dele,
mentalizou, trabalhou e conduziu os hebreus para terra prometida. Uma das
maiores façanhas da humanidade, abriu o Mar Vermelho e tudo. Então, se
até Moisés saiu da mediocridade você também consegue. Mas precisa de um
mentor. Sozinho é muito difícil.

Não, não, eu não. Já andei dando uns conselhos aqui e ali. Quando era mais
moço o pessoal caía em cima pra eu ensinar a ficar rico. Mas tive medo de
virar um bruxo, um guru desses aí. Eu era bonitão, mulherengo e pensei: vou
ter que deixar a barba crescer, vestir camisola e abrir mão de mulher, iiiiih,
sai de mim, não quero seguir por esse caminho. Eu quero é dinheiro, zoeira.
O cabra vira guru e vai logo cuspindo fora o gomo mais doce da mexerica. Tô
fora.

Ganhei bastante, sim. Hoje eu e meus três filhos temos mais de 160 lojas de
bijuterias. Brasil todo. Moro em Alphaville, eles em Orlando, mando ajuda
pros parentes no Ceará todo mês. Tenho imóvel alugado por R$ 10 mil por
mês. E não conto isso pra parecer o maior bacana da galáxia. É pra provar a
minha tese. Essa coisa de programar o subconsciente funciona. Pra mim o
milagre aconteceu assim: eu estava na rua com o caminhãozinho de produto
de limpeza e vi uma pessoa fazendo um colar com umas pecinhas de
televisão, bem miudinhas, branquinhas, de louça. Fiz uns iguais e levei na 25
de Março. Quando me dei conta tinha vendido três milhões do dinheiro da
época. Outra palavra que eu não conhecia, "milhões". Encostei a ximbica e fui
produzir mais colares. Em dois meses eu já tinha até linha telefônica em
casa, funcionários me ajudando, uma doideira. Vendia tudo no atacado pros
lojistas da 25. Até que eu também virei lojista e vim progredindo. Hoje vou
duas vez por ano a Hong Kong, Pequim, Xangai comprar mercadoria e fico
em hotel de R$ 5 mil por dia. Viajo tudo por aí, por prazer e conhecimento.
Egito, Jerusalém, Jericó, Amsterdã, Mar Morto, pra todo canto eu fui. De
inglês só sei "okay", mas com aplicativo no celular eu converso que nem
diplomata. Digo lá "a senhora me traz um copo de leite, faz favor", ai mostro
a tela do telefone pra chinesa no hotel e dali a pouco ela vem com o copo de
leite. Tudo simples e maravilhoso.

A China é assim, simples e maravilhosa. O que pode, pode. O que não pode,
não pode. Gosto da Grécia também, onde a gente vai tomar banho de mar,
deixa a filmadora na areia e ninguém mexe. Dubai, com aqueles túneis
recobertos de porcelanato. Mas a China é outro nível. Pequim. Cidade
deliciosa, você fica à vontade, não tem pobre desses que moram na rua só
com um cobertor sujo. A gente liga a televisão e não vê gente se matando,
ninguém com faca na mão, caminhão passando por cima de ciclista. Tudo é
censurado, mas pelo menos a televisão não faz mal pra mente das pessoas
como aqui. Depois que li o Joseph Murphy eu aboli a televisão da minha vida.
Televisão é feita pra medíocre. Ela corrompe o nosso subconsciente. Joga o
que ela quer na nossa cabeça e nem dá pra retrucar. Aí você vê televisão
antes de dormir, entope o subconsciente de desgraça e quando acorda só
consegue pensar em desgraça. Como vai ganhar dinheiro desse jeito? Cabra
que vê muita televisão depois de 20 anos mete a mão no bolso e não acha
nem moeda de 1 real.
Olhe, quando ficar rico e for a Pequim você vai ficar deslumbrado. Enquanto
isso, tome nota de mais essa: nunca entre em discussão. Com ninguém.
Jamais. Porque você vai perder. Procure sair fora logo, fazendo como eu faço.
Se alguém quer discutir eu já digo, "claro, eu lhe entendo". Ou seja, corta o
ego! O ego é o filadaputa que fode o processo. Sabe por que você nunca vai
vencer uma discussão? Porque o outro tem prática em baixaria e você não
tem. Não conheço ninguém que ganhou um centavo em discussão. Pelo
contrário: conheço só gente que perdeu — a vida, inclusive. Então pra quê?
Guarde 10% de tudo o que você ganha no mês, só gaste com o que for te
gerar mais lucro, e corte ego! Porque seu negócio é ficar rico, não competir
em baixaria.

Por hoje é só. Cortesia da casa, eu quis só lhe mostrar minha filosofia. Na
próxima a gente acerta, porque à essa altura do dia, se você ainda não
percebeu, é caso perdido e nem adianta voltar: a vida é uma venda,
jornalista. Uma venda

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