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Para orlando Ribeiro, o atlântico e o mediterrâneo são fundamentais para a caracterização de

Portugal com território, população, património e cultura?

Ou assim:

O Portugal de Orlando Ribeiro esta intimamente ligado ao Atlântico e Mediterrâneo como


território, população e cultura. Caraterize esta relação complexa.

Ou assim:

“Portugal é mediterrâneo por natureza, atlântico por posição” – comente e desenvolva esta
afirmação, considerando a complementaridade e as diferenças dessa relação, num continente
em miniatura, segundo a afirmação de Orlando Ribeiro. Caracterize essa ligação complexa.

Resposta:

Identidade e cultura
Para responder devemos entender quais os elos capazes de caraterizar quem somos e de
influenciar o que fazemos, somos várias referencias, várias pertenças e várias atitudes e
valores, ainda que a identidade que assumimos seja muito demarcada, a verdade é que
procuramos sempre uma síntese que parta da situação concreta e da particularidade para
uma visão universalista.
Por isso quando falamos em cultura, no sentido etimológico da palavra tem a ver com o
cultivar da terra, com o semear e com a colher, contudo ao longo do tempo passou a ter
um sentido de culto e de construção (bildung) e passou a ligar se ao próprio processo
transformador da humanidade.
Todo o português tem uma identidade pessoal, que o torna único, resultante da sua carga
genética e das suas experiências de vida, contudo esta é influenciada pela sua pertença a
um coletivo: Portugal, um país que tem toda uma história e narrativas próprias, e, como
tal, tem também uma identidade nacional.
A cultura percebe se pelos feitos históricos, e José Matoso elaborou uma explicação
cronológica, que juntamente com o entendimento das raízes antiga nos permite
compreender melhor o período da formação de Portugal, que é caracterizado por uma
consolidação gradual da identidade política social e cultural portuguesa, enquanto
realidade una e múltipla, que engloba o ir as origens, a economia a política a geografia
os feitos históricos e seus períodos cruciais.
Inicialmente, entre 1096 e 1131, criou-se uma nova instância política entre os condados
de Portucale e de Coimbra, começando assim o poder condal a organizar-se á
semelhança das monarquias. De seguida, de 1131 a 1190, “nasce” vencedor da batalha
que estabelece em S. Mamede contra a sua mãe – D. Teresa – o primeiro rei de Portugal
– D. Afonso Henriques, ampliando o território português para mais do dobro, contudo,
tendo sempre de lidar com as constantes pressões de invasão dos almorávidas na
tentativa de recuperação do território.
Entre 1190 e 1223 Portugal sofre de uma crise económica provocada pelos maus anos
agrícolas, tendo ocorrido a criação de medidas de centralização do poder real por parte
do Rei D. Afonso II. Contudo os anos seguintes (1223 a 1248), terão sido de extrema
fragilidade, uma vez que, se instaurou uma nova crise económica e da peste que levou á
ocorrência de uma guerra civil, tendo sindo um dos períodos mais frágeis da história da
formação de Portugal, derivado á grande debilidade do reinado de D. Sancho I.
Contudo os anos que prosseguiram trouxeram novamente robustecimento a Portugal,
sendo que entre 1248 e 1279, D. Afonso III, conhecido por conde de Bolonha, vencedor
da guerra civil, reforça o poder central com toda a sua determinação, bem como
completa a conquista pelo Algarve. Desta forma, é possível verificar que a ideia de
centralização de um poder real forte e político, é consistente ao longo dos tempos,
iniciando com D. Afonso Henriques, e prosseguindo nos reinados de D. Sancho I e D.
Afonso II.
Em suma, nasce o Homem que mantem uma política de continuidade, mas que
desenvolve grandes ações, rei D. Dinis, conhecido por o Lavrador, devido ao facto de se
ter dedicado ao desenvolvimento da agricultura, proporcionando a política de
povoamento de território (terras para a exploração agrícola). Para alem deste feito, em
1297, D. Dinis assinou o tratado de Alcanizes, marcando o seu reinado pela definição
das fronteiras de Portugal, o que lhe conferiu um prestígio internacional, bem como, o
terminar de uma guerra contra Castela. Resolveu os problemas existentes entre a Coroa
e a Igreja, criando a Ordem de cristo, sendo que em 1308 assinou um tratado de
comercio com Inglaterra, fundando assim a Marinha Portuguesa.
No que concerne as iniciativas culturais, D. Dinis estabeleceu o uso da língua
portuguesa como língua oficial da corte, realizou a retificação da fundação da
universidade de Coimbra, bem como, a fundação em lisboa do Estudo Geral. Terá sido
um rei poeta, onde compôs cantigas trovadorescas, tendo sido o seu reinado marcado
por os dos maiores centros literários da península ibérica.
E o porque de mencionar estas datas e acontecimentos e estes ilustres, porque é por isso
que também dizemos que a cultura é considerada como um lugar de encontro entre o
que recebemos das gerações que nos antecederam, onde se inclui o património
construído (os monumentos as pedras vivas e as pedras mortas) e o património imaterial
(as tradições e os costumes) e tudo o que criamos, acrescentando ainda os que as novas
gerações trazem e criam como a inovação, lembrança e memoria.
E não podemos descartar a ideia de que ao falarmos de cultura não tenhamos de falar de
memoria, com uma peculiaridade, falar de uma memoria que permita ter em
consideração o criar condições para o respeito e para a compreensão, assim devemos
cultivar uma memoria equilibrada e justa, pois o dever de lembrar obriga ao dever de ser
justo.
Notando se assim que a memoria e a lembrança são fatores de coesão e regulação
pacifica de conflitos, impedindo assim a criação de condições para se criar uma
memoria de ressentimentos.
Assim podemos dizer que a lembrança histórica de quem somos é o começo da
compreensão de quem somos, e do que carateriza a nossa cultura, a cidadania que se
liga a polis, à cidade, a partir e para alem do Oikos, do lar e de casa, permite nos
despertar seguindo a lembrança e a memoria, a herança e um património comum,
despertar para a liberdade, e aqui nos vamos encontrar no centro da Paideia Cívica, da
aprendizagem cidadã e ética, e do respeito pela dignidade da pessoa humana.
Outro facto é que a cultura e a educação também se unem, e completam se, a paideia
grega e a humanitas latina ( Cícero) significam assim o caminho de cada um se assumir
como pessoa,, onde encaixa um primeiro fator, na procura de identidade que é a busca
de nos e dos outros, na dignidade humana, a busca como fator de diferença e de
pluralidade, a pessoa não pode ser compreendida sem a comunidade concreta em que se
insere e sem os laços que a ligam aos outros membros desse grupo de proximidade.
Tratando se assim de considerar a pessoa como ponto de encontro entre o universalismo
da dignidade e da diferença de várias pertenças.
Depois entra então a diversidade das influências de outras culturas e povos que por aqui
passaram e aqui deixaram o seu marco na construção desta cultura e identidade a nossa
a portuguesa.
Primeiro a cultura , a palavra cultura é uma palavra que só encontramos a partir do
seculo 16, isto com referencia à literatura, depois na antiguidade clássica também não se
falava de cultura , os romanos falavam de cultura para se referirem á agricultura ao
cultivo, ao semear e colher, sentido da terra , cultivar a terra, e só a partir do humanismo
se começa a falar da cultura de espirito, e aqui entram logo definições a considerar, pela
diversidade cultural dos povos os gregos falavam de Paideia que significaria também
aprendizagem, com a ideia inerente de aprender e de ensinar, os latinos por sua vez
usavam a expressão humanitas, e aqui Cícero usava esta palavra, para falar daquilo que
se refere a uma cultura do espirito, por isso há medida que avançamos para perceber as
nossas origens, vamos também perceber a relação que temos com a natureza e com a
paisagem que corresponde a dinâmica de compreender o que é a essência da
humanidade, e neste aspeto a paideia e a humanitas interligam se.
O bulding atualmente usado pelos alemães refere se a esta construção, o conhecimento
vai se construindo ao longo do tempo, já que por exemplo a palavra supra citada
também significa educação, portanto ao falarmos de cultura passa por sabermos e
entendermos quem somos afinal e o que nos distingue uns dos outros, esta ideia de
Portugal identidade e diferença, com estas duas relações biunívocas, quem somos quem
são os nossos pais onde nascemos, um exemplo desta identidade era o bilhete de
identidade que passou a ser designado por cartão do cidadão.
Tudo isto servira para nos distinguir mos, podemos ter José da Silva, mas temos de
saber são naturais de onde de Olhão, de Lisboa de Trás os montes e depois quem é o pai
quem é a mãe, sem esquecer a importância de sermos tao diferentes e sermos iguais, um
exemplo disto é não sermos conhecidos por um numero, a constituição proíbe isso que
sejamos conhecidos por um numero, igualdade em contrapartida da liberdade, igualdade
identidade e diferença distinguem se entre si, por isso se afirma que a sociedade atual,
contemporânea, é uma sociedade paradoxal, contraditória por um lado envolve uma
grande diferenciação e autonomia e depois por outro lado uma tentação uniformizadora
e a cultura não pode ser uniformizadora deve de ser diferenciadora, a crise financeira de
2008 deu se por exemplo pela dificuldade de se criar inovação, a inovação é símia,
quando falamos de cultura, falamos de um triangulo educação ciência e cultura, pois a
criação como fenómeno ela é semelhante no artista e no cientista, se a economia de um
pais não entender esta capacidade inovadora, se a economia não compreender a criação
cultural então nada compreende.
Duas figuras podem ser destacada quando falamos de cultura Rita Levi Montalcini a
maturidade não depende de perder mos células neuronais, depende sim da capacidade
que tivermos pela nossa atividade intelectual, de encontrar novos canais e novas redes
que nos permitam afinal pensar criar e inovar, e depois temos T.S.Elliot o grande poeta
Anglo americano, com um poema extraordinário que nos diz o seguinte, quanto
conhecimento perdemos na informação, a sociedade é uma sociedade de informação, a
informação é uma galáxia complexa e tao diversa que nos faz perder o essencial, ele
ainda diz quanta sabedoria perdemos no conhecimento, e portanto a cultura obriga nos a
perceber o que é acessório e passageiro e o que é permanente.
Fala se em património cultural primeiramente no sentido de ser vasto, o património
genético, afinal há sempre a expressão você é tao parecido com o seu avô, de facto
transportamos este património genético que nos é transmitido de geração em geração,
um exemplo disto podem ter sido as doenças de consanguinidade, oriundas da ideia de
comunidades fechadas entre si os casamentos davam se entre os membros da família,
falamos ainda de um património cultural que afinal significa aquilo que nos rodeia, que
vem etimologicamente de duas palavras latinas Patreas os pais avos, os nossos
antepassados e monos o serviço prestado o que recebemos dos nossos antepassados, a
herança dos nossos pais, portanto o património genético só se ganha se houver
diversidade, se encontrar mos formas de reproduzir fora da comunidade, a própria
sociedade só se fortalece quando há relações que se estabelecem fora da comunidade, e
assim se realça a ideia de que a noção de identidade terá de ser aberta para se tornar
numa relação enriquecedora, a cultura é o quanto mais rica, quanto mais ela receber
outros contributos veja se as pedras vivas, as receitas recebidas da avó a gastronomia os
hábitos e costumes, a língua, a nossa língua alem mar e fronteiras que nasceu fora do
continente de Portugal, mas que também reflete a passagem de tantos outros povos, que
nasceu na Galiza o galaico português, com os trovadores que aproveitavam a presença
de São Tiago de Compostela, mas também da influencia que recebemos deste al…povos
oriundos do norte de Africa, Almada Alcântara, Alfacinhas uma cultura que se fez de
norte para sul e de sul para norte..
Por isso também se diz que a cultura portuguesa é uma cultura de melting pot, uma
cultura como se fosse um caminho com muitos contributos, dado que a península ibérica
era e foi finisterra, era o fim era o termo da Europa, a partir daqui já não se sabia o que
seria, as ilhas atlânticas já se conheciam há muito tempo, na antiguidade mas, não havia
modo de la chegar, poderia ate se chegar mas havia o incerto e misterioso problema de
não se conseguir mais regressar, o processo de ir e vir e ter as condições para ir e voltar.
Mais uma vez é importante a historia para se perceber as origens culturais, por exemplo
os italianos designados navegadores de Génova quando identificavam as ilhas dos
açores olhavam de longe e diziam, azorre identificavam as ilhas pela sua cor azul, e
depois a geografia um pais com uma costa marítima, com uma atração pelo mar, pelo
desconhecido, mas acima de tudo com uma costa atlântica a ser explorada, no entanto
com um mar adverso, mar complicado de ser navegado vem dai também as fotos
antigas onde vê mães e crianças vestidas de preto representando assim viúvas e órfãos, e
por isso só tardiamente começa mos a navegar este mar, através da caravela e do
astrolábio para não se perderem usavam os astros, caravela que nos possibilitava
lidarmos com os ventos do atlântico norte, só possível no entanto com o uso da vela
triangular, caso contrario as embarcações eram empurradas mar adentro, já o astrolábio
era usado para não navegar pela costa uma navegação de cabotagem, por isso por
exemplo para os pescadores da Nazaré ficava difícil quando viam os canhões da Nazaré.
Hoje as ondas gigantes da Nazaré são boas para os surfistas, mas muito más para os
pescadores, mais uma vez se diz o mar carateriza nos, carateriza nos este património
natural material e imaterial, as tradições, as festas e romarias, a gastronomia a língua e
os hábitos o cantar popular a natureza e esta nossa relação com a natureza, e depois
Orlando Ribeiro ainda falava deste Portugal em miniatura e temos ca tudo a montanha e
a planície a paisagem como imagem do pais, e o património digital, a criação
contemporânea os nossos artistas, e uma noção dinâmica e progressiva, o passado é
apenas uma parte que recebemos mas temos o dever de enriquece la, e isto é uma
realidade viva e dinâmica não é uma história que se conta só de passado mas de presente
e de futuro neste cadinho a beira mar.

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