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UNIVERSIDADE LÚRIO

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMMENTO DE ENGENHARIA MECÁNICA

LICENCIATURA EM ENGENHARIA MECÁNICA

2° ANO, I SEMESTRE

Mecânica dos fluídos e Máquinas hidráulicas

Escoamento em condutos livres

Discente: Docente:

Eng°. Nelson Envelope

Pemba, Setembro de 2022


UNIVERSIDADE LÚRIO

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMMENTO DE ENGENHARIA MECÁNICA

LICENCIATURA EM ENGENHARIA MECÁNICA

2° ANO, I SEMESTRE

Mecânica dos fluídos e Máquinas hidráulicas

Escoamento em condutos livres

Trabalho de pesquisa de carácter avaliativo


apresentada à disciplina de Mecânica dos
fluídos e máquinas hidráulicas, a ser
apresentado ao docente da disciplina.

Eng°. Nelson Envelope

Pemba, Setembro de 2022


Índice

LISTA DE SÍMBOLOS .................................................................................................... V

ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................VI

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................. VII

RESUMO....................................................................................................................... VIII

ABSTRACT .....................................................................................................................IX

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10

1.1. OBJECTIVOS ....................................................................................................... 11

1.2. Objectivo Geral...................................................................................................... 11

1.3. Objectivos específicos ........................................................................................... 11

2. CONDUTOS LIVRES .............................................................................................. 12

2.1. FORMA GEOMÉTRICA DOS CANAIS ............................................................. 12

2.2. CASOS TÍPICOS DE CONDUTOS LIVRES ...................................................... 13

2.3. CARACTERÍSTICAS DOS CONDUTOS LIVRES ............................................ 13

2.3.1. Canais Naturais .................................................................................................. 13

2.3.2. Canais Artificiais ............................................................................................... 13

2.4. PARÂMETROS GEOMÉTRICOS DA SECÇÃO TRANSVERSAL .................. 13

2.5. ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SEÇÃO DE UM CANAL................. 15

2.6. BORDA LIVRE DO CANAL ............................................................................... 17

2.7. SECÇÕES RECTANGULARES E TRAPEZOIDAIS ......................................... 18

2.8. DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES NOS CANAIS .................................... 20

2.8.1. Secção molhada e perímetro molhado ............................................................... 21

2.9. TIPOS DE ESCOAMENTO ................................................................................. 21

3. VARIAÇÃO DA PRESSÃO NA SECÇÃO TRANSVERSAL ............................... 22

3.2. FACTOR CINÉTICO E NÚMERO DE FROUDE .................................................. 25


3.4. Escoamento critico ................................................................................................ 29

3.5. MOVIMENTO UNIFORME ................................................................................ 31

3.6. PERDA DE CARGA EM CANAIS ...................................................................... 31

3.7. VALORES DO COEFICIENTE N DE MANNING ............................................. 34

3.8. ESCOAMENTO UNIFORME .............................................................................. 35

3.9. CAPACIDADE DE TRANSPORTE .................................................................... 36

4. Conclusão .................................................................................................................. 40

5. Bibliografia................................................................................................................ 41
LISTA DE SÍMBOLOS

B =largura da superfície livre ou largura da boca;

b =largura de fundo ou rasto;

A= área molhada da secção transversal perpendicular à direcção do escoamento ocupada pela


água;

Pm =perímetro molhado é o comprimento da linha de contorno da área molhada;


𝐴
Rh = raio hidráulico é o quociente entre a área molhada e o perímetro molhado 𝑅ℎ = 𝑃
𝑚

N = coeficiente de Manning (adimensional.)

Q = caudal (m3/s)

I = inclinação do fundo i = tan(𝜃)

V
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.Seção transversal de um canal trapezoidal. Fonte: Adão Wagner............................. 12

Figura 2.Tipos de condutos livres. Fonte: ANDREOLI (1965)............................................... 13

Figura 3.Parâmetros Geométricos da Secção Transversal. Fonte: ANDREOLI (1965 ........... 14

Figura 4.Geometria da secção transversal. Fonte: Paschoal Silvestre ..................................... 15

Figura 5.Borda livre em canais. Fonte: Adão Wagner............................................................ 17

Figura 6.Secção trapezoidal. Fonte: Adão Wagner ................................................................. 18

Figura 7. Secção rectangular. Fonte: Adão Wagner ............................................................... 19

Figura 8. Secção com geometria irregular. Fonte: Adão Wagner............................................ 19

Figura 9.Distribuição das velocidades no SL. Fonte: Pascoal Silvestre .................................. 20

Figura 10.Distribuição das velocidades no SL. Fonte: Pascoal Silvestre ................................ 20

Figura 11.Perimetro molhado. Fonte: ANDREOLI (1965) ..................................................... 21

Figura 12.Variação da pressão na secção transversal. Fonte: Pashcoal Silvestre .................... 23

Figura 13. Profundidade média dos canais. Fonte: Paschoal Silvestre .................................... 24

Figura 14. Energia específica. Fonte: Paschoal Silvestre ........................................................ 24

Figura 15. Variação da energia específica. Fonte: ANDREOLI (1965) .................................. 27

Figura 16. Escoamento com variação de profundidade. Fonte: ANDREOLI (1965) .............. 28

Figura 17. Perda de carga em canais. Fonte: ANDREOLI (1965) .......................................... 32

Figura 18.Curva de capacidade de transporte para canais rectangulares ou trapezoidais.


Fonte: Paschoal Silvestre ......................................................................................................... 37

VI
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.Elementos de geométricos de canais. Fonte: Paschoal Silvestre............................................ 16

Tabela 2.Valores do coeficiente de Mannig. Fonte: ANDREOLI (1965) ............................................ 34

VII
RESUMO
Os condutos livres estão sujeitos à pressão atmosférica, pelo menos em um ponto da sua
seção do escoamento. Eles também são denominados canais e normalmente apresentam uma
superfície livre de água, em contacto com a atmosfera. Os cursos d'água naturais constituem
o melhor exemplo de condutos livres. Além dos rios e canais, funcionam como condutos
livres os colectores de esgotos, as galerias de água pluviais, os túneis-canais, as calhas,
canaletas, etc. São, pois considerados canais todos os condutos que conduzem águas com
uma superfície livre, com seção aberta ou fechada. Os cursos de águas naturais constituem o
melhor exemplo de condutos livres, além dos rios e canais, funcionam como condutos livres
os colectores de esgotos, as galeiras de águas pluviais. A superfície livre pode variar no
espaço e no tempo, consequentemente os parâmetros hidráulicos (profundidade, largura,
declividade, etc.) também podem variar. Apresentam grande variabilidade na forma e
rugosidade das paredes.

Palavras-chave: Condutos livres.

VIII
ABSTRACT

IX
1. INTRODUÇÃO

Entre todos os recursos naturais, o mais importante para o bem-estar da humanidade é a


água. Durante milénios, constituiu-se em património inteiramente livre de que os
habitantes da terra se serviam despreocupadamente.

Com o progresso, surgiram os grupamentos urbanos, cujas múltiplas actividades exigem,


a cada dia que passa, maior quantidade de água. O abastecimento, para suprir suas
necessidades, tornou-se extremamente complexo envolvendo, além dos problemas
técnicos, factores sociais, económicos, legais e políticos-administrativos.

Em muitas oportunidades, o problema não se limita apenas à provisão de água para uns
domésticos e industrias, mas estende-se à agricultura e a pecuária , as quais dependem da
quantidade e da distribuição das chuvas. Tais sejam as exigências locais, as precipitações
atmosféricas devem ser completadas pela irrigação. Em outros casos, os rios e os lagos
formam notável rede hidroviária para transporte de passageiros e mercadorias. Os
mesmos rios e lagos são utilizados como corpos receptores dos refugos industrias e
humanos.

A água necessária para suprir todas as exigências do mundo moderno provém de


manancias de superfície ou subterrâneos.

10
1.1.OBJECTIVOS

1.2.Objectivo Geral

• Falar do escoamento em condutos livres

1.3.Objectivos específicos

• Classificar os condutos;
• Caracterizar o escoamento

1.4.METODOLOGIA

Para o sucesso deste trabalho, utilizou-se a pesquisa bibliográfica , segundo Fonseca( 2002,
pág:32), a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já
analisadas e publicadas por meio escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos ,
páginas de web sites, etc.

11
2. CONDUTOS LIVRES

Denominam-se condutos livres ou canais, os condutos onde o escoamento é caracterizado por


apresentar uma superfície livre na qual reina a pressão atmosférica. Neste contexto, os cursos
d’água naturais constituem o melhor exemplo de condutos livres. Além dos rios, funcionam
como condutos livres os canais artificiais de irrigação e drenagem, os aquedutos abertos, e de
um modo geral, as canalizações onde o líquido não preenche totalmente a seção do canal.

Os escoamentos em condutos livres diferem dos que ocorrem em condutos forçados porque o
gradiente de pressão não é relevante. Nesses condutos, os escoamentos são mais complexos e
com resolução mais sofisticada, pois as variáveis são interdependentes com variação no
tempo e espaço. Uma importante característica da hidráulica dos canais além da superfície
livre, é a deformidade desta. Nos condutos livres, ao contrário do que ocorre nos forçados, a
veia líquido tem liberdade de se modificar para que seja mantido o equilíbrio dinâmico.
Dessa forma a deformidade da superfície livre dá origem a fenómenos desconhecidos nos
condutos forçados, como o ressalto hidráulico, o remanso etc...

2.1.FORMA GEOMÉTRICA DOS CANAIS

Os canais são projectados usualmente em uma das quatro formas geométricas seguintes:
Rectangular, trapezoidal, triangular e semi-circular, sendo a forma trapezoidal a mais
utilizada.

Figura 1.Seção transversal de um canal trapezoidal. Fonte: Adão Wagner

12
2.2.CASOS TÍPICOS DE CONDUTOS LIVRES

Figura 2.Tipos de condutos livres. Fonte: ANDREOLI (1965)

2.3.CARACTERÍSTICAS DOS CONDUTOS LIVRES

2.3.1. Canais Naturais

A superfície livre pode variar no espaço e no tempo, consequentemente os parâmetros


hidráulicos (profundidade, largura, declividade, etc.) também podem variar;

Apresentam grande variabilidade na forma e rugosidade das paredes.

2.3.2. Canais Artificiais

Canal é prismático: a seção do conduto é constante ao longo de toda a sua extensão.

Canais prismáticos recto: Escoamento permanente e uniforme: características hidráulicas


constantes ao longo do espaço e do tempo.

2.4.PARÂMETROS GEOMÉTRICOS DA SECÇÃO TRANSVERSAL

Os parâmetros geométricos e hidráulicos, utilizados nos cálculos hidráulicos, são dimensões


características da seção geométrica por onde flui o líquido.

13
Seção ou área molhada (A): seção transversal perpendicular à direcção de escoamento que é
ocupada pelo líquido.

Perímetro molhado (P): comprimento da linha de contorno relativo ao contacto do líquido


com o conduto.

Largura superficial (B): Largura da superfície líquida em contacto com a atmosfera.


Profundidade (y): É a distância do ponto mais profundo da seção do canal e a linha da
superfície livre.

Raio Hidráulico (Rh): É a razão entre a área molhada e o perímetro molhado.

Profundidade hidráulica (yh ): Razão entre a área molhada (A) e a largura superficial (B).

Figura 3.Parâmetros Geométricos da Secção Transversal. Fonte: ANDREOLI (1965

Os parâmetros geométricos da secção transversal têm grande importância e são largamente


usados nos cálculos dos canais.

Quando as secções têm forma geométrica definida (caso dos canais artificiais) podem ser
matematicamente expressos pelas suas dimensões e profundidade da água. Para as secções

14
irregulares, como a dos canais naturais, não é fácil o cálculo e usam-se curvas para
representar as relações entre as dimensões dos canais e respectivas profundidades.

A profundidade y do escoamento é a distância entre o ponto mais baixo da secção do canal e


a superfície livre.

1
m

b D

Figura 4.Geometria da secção transversal. Fonte: Paschoal Silvestre

B =largura da superfície livre ou largura da boca;

b =largura de fundo ou rasto;

A= área molhada da secção transversal perpendicular à direcção do escoamento ocupada pela


água;

Pm =perímetro molhado é o comprimento da linha de contorno da área molhada;

𝐴
Rh = raio hidráulico é o quociente entre a área molhada e o perímetro molhado Rh =𝑃
𝑚

Um canal é prismático quando a secção transversal se mantém invariável em toda a sua


extensão.

2.5.ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SEÇÃO DE UM CANAL

Área (A) – é a seção plana do canal, normal a direcção geral da corrente líquida;

15
Seção molhada (A) - parte da seção transversal que é ocupada pelo líquido. Os elementos
geométricos da seção molhada são:

• Profundidade (h) - altura do líquido acima do fundo do canal;


• Área molhada (Am): é a área da seção molhada;
• Perímetro molhado (P): comprimento relativo ao contacto do líquido com o conduto;
• Largura Superficial (B) - largura da superfície em contacto com a atmosfera;
• Raio hidráulico (R) - relação entre a área molhada e perímetro molhado;
• Profundidade Hidráulica - relação entre a área molhada e a largura superficial

Tabela 1.Elementos de geométricos de canais. Fonte: Paschoal Silvestre

16
bs.:  = 2.arccos (1− 2.h/D) , onde  deve ser calculado em radianos.

2.6.BORDA LIVRE DO CANAL

Em canais abertos e fechados, deve-se prever uma folga de 20 a 30% de sua altura, acima do
nível d’água máximo do projecto. Este acréscimo representa uma margem de segurança
contra possíveis elevações do nível dá água acima do calculado, o que poderia causar
trasbordamento

Figura 5.Borda livre em canais. Fonte: Adão Wagner

Os rios e ribeiras são o melhor exemplo de condutos livres. Além deles, os canais de
irrigação, os colectores de esgotos, os aquedutos, etc. funcionam também sob regime livre.

Apesar das semelhanças entre os dois regimes os problemas apresentados pelos canais são de
mais difícil resolução porque a superfície livre (SL) pode variar no espaço e no tempo e
portanto variam também a profundidade de escoamento, o caudal, sendo a inclinação do
fundo e a inclinação da superfície grandezas interdependentes. São de difícil obtenção os
dados experimentais sobre condutos livres.

Em condutos forçados a secção circular é a mais usual, o mesmo não sucedendo com os
condutos livres. Os condutos livres, quando de pequena secção são circulares. Os grandes
aquedutos apresentam a forma ovóide. Os canais escavados em terra apresentam secção
trapezoidal, a maioria das vezes semi – hexagonal. Os canais abertos na rocha são de forma
rectangular com a largura igual a duas vezes a altura. As calhas de madeira, aço ou cerâmica
são geralmente circulares.

17
2.7.SECÇÕES RECTANGULARES E TRAPEZOIDAIS

Figura 6.Secção trapezoidal. Fonte: Adão Wagner

18
Figura 7. Secção rectangular. Fonte: Adão Wagner

Figura 8. Secção com geometria irregular. Fonte: Adão Wagner

19
2.8.DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES NOS CANAIS

Nos canais o atrito entre a SL e o ar e a resistência oferecida pelas paredes e pelo fundo
originam diferenças de velocidades.

A determinação das várias velocidades em diferentes pontos de uma secção transversal é feita
por via experimental.

SL

Figura 9.Distribuição das velocidades no SL. Fonte: Pascoal Silvestre

A velocidade máxima será encontrada na vertical VV' no centro da secção transversal e num
ponto abaixo da SL. As curvas que unem pontos de igual velocidade são as isotáquicas.

Figura 10.Distribuição das velocidades no SL. Fonte: Pascoal Silvestre

20
A velocidade máxima, numa vertical da secção transversal, aparece entre os valores 0,05y e
0,25 y.A velocidade média, que é utilizada para o cálculo do caudal, é a média das
velocidades à profundidade 0,20y e 0,80y ou seja é a velocidade à profundidade 0,6y.

Há hidráulicos que consideram como mais exacta a média das profundidades:

𝑉0.2 +𝑉0.8 +𝑉0.6


Vm = (1.0)
4

2.8.1. Secção molhada e perímetro molhado

Os condutos livres apresentam as mais variadas formas, (como por exemplo os rios) e podem
funcionar com várias profundidades. Há necessidade de se introduzirem novos parâmetros
para melhor se fazer o seu estudo.

A área útil do escoamento é a secção molhada numa secção transversal.

O perímetro molhado é a linha que limita a secção molhada junto às paredes e no fundo, não
abrangendo a SL.

Área

SL

Perímetro molhado

Figura 11.Perimetro molhado. Fonte: ANDREOLI (1965)

2.9.TIPOS DE ESCOAMENTO

Em condutos livres o escoamento pode ser classificado em diversos tipos e de várias


maneiras. São os seguintes:

Permanente Q = constante

• Uniforme

21
• Velocidade média constante
• Profundidade constante

Variado

• Gradualmente ou Bruscamente
• Secção e velocidade média variáveis com o espaço

Não permanente Q = variável

• Secção e velocidade media variáveis no espaço e no tempo

Trajectória das partículas

Linhas de corrente

Paralelo ou não paralelo

O estudo do movimento permanente nos condutos livres é feito através da equação da


continuidade e da equação da quantidade de movimento e de uma fórmula que calcula a
resistência que as paredes oferecem ao fluxo em escoamento.

3. VARIAÇÃO DA PRESSÃO NA SECÇÃO TRANSVERSAL

Os diâmetros dos tubos, em regime à pressão são pequenos quando comparados com as
respectivas alturas piezométricas. A diferença de pressão entre os pontos superior e inferior
da secção é pequena e é dispensada na prática. Já nos canais, a diferença de pressões entre a
superfície livre e o fundo numa secção qualquer não pode ser desprezada.

A distribuição das pressões na secção recta de um conduto livre á linear e obedece à lei
hidrostática.

22
y
d

Figura 12.Variação da pressão na secção transversal. Fonte: Pashcoal Silvestre

A pressão no fundo do canal é:

p = γ ⋅d (1.1)

ou seja:

p = γ ⋅ y ⋅cos(θ) (1.2)

Quando a declividade é pequena θ<5º pode-se considerar cos 𝜃 = 1 e então y = d


e P = γ⋅d

A distribuição das pressões nas secções transversais do conduto livre segue a Lei Hidrostática
mesmo nos escoamentos não paralelos onde a divergência ou convergência das linhas de
corrente não forem muito acentuadas

Profundidade média A forma das secções dos canais apresenta grande variedade, motivo
porque tem que se definir uma profundidade média.

23
Figura 13. Profundidade média dos canais. Fonte: Paschoal Silvestre

Em que:

𝐴
ym = 𝐵 (1.3)

Sendo:

Ym = profundidade média (m)

A= Área da secção transversal (m2)

3.1.Energia específica

Em qualquer secção transversal de um canal a carga média é a soma das três cargas

Figura 14. Energia específica. Fonte: Paschoal Silvestre

𝑈2
H = z + y + 2.𝑔 (1.4)

24
(z + y) define a linha piezométrica, quando coincide com a superfície livre denomina-se
gradiente hidráulico:

i = m/m

A perda de carga entre duas secções (1) e (2) é dada por I ou ∆H

Gradiente hidráulico:

Energia especifica é a quantidade de energia por unidade de peso do liquido, medida a partir
do canal. É representada por:

𝑈2
E = y + 2.𝑔 (1.5)

3.2.FACTOR CINÉTICO E NÚMERO DE FROUDE

Se multiplicarmos e dividirmos a carga cinética por ym, vem:

𝑦𝑚 𝑈2
E=y+ × (2.𝑦 ) (1.6)
2 𝑚

𝑈2
A expressão é o factor cinético do escoamento e a sua raiz quadrada é o Numero g de
2.𝑦𝑚

Froude:

𝑈2
λ= (1.7)
2.𝑦𝑚

𝑈
Fr = (1.8)
√𝑔𝑦𝑚

Sendo:

Fr = numero de Froude (adimensional);

U = velocidade média (m/s);

G = aceleração da gravidade (m/s2 );

Ym = profundidade média (m)

25
𝐴
ym = (1.9)
𝐵

A energia específica vem sob a forma:

𝑦𝑚
E=y+ ×Fr2 (1.10)
2

o numero de Froude Fr é muito importante no estudo de canais pois permite definir regimes
de escoamento dinamicamente semelhantes.

3.3.Regimes de escoamento

Na secção A de um canal a velocidade média em regime permanente é:

𝑈2
E = y + 2.g (1.11)

Ou

𝑄
E = y + 2 g.𝐴2 (1.12)

Se o caudal for constante e A = f(y) a energia especifica depende somente de y:

𝑄
E = y + 2 g.𝑓(𝑦)2 (1.13)

Para um caudal constante pode-se estudar a variação da energia específica em função da


profundidade y

26
Figura 15. Variação da energia específica. Fonte: ANDREOLI (1965)

Abcissas: valores da energia específica

Ordenadas: valores da profundidade

1 - A variação da energia específica E com a profundidade y é linear e representa-se pela


recta E, (recta da energia potencial) que é a bissectriz dos eixos coordenados.

2 - Curva da energia cinética assintotica aos eixos coordenados. Se a profundidade tender


para zero, também tenderá a secção A, e a velocidade tenderá para infinito

𝑄
U=𝐴 (1.14)

lim A→0 U = ∞ (1.15)

e E será infinitamente grande

Mantendo constante o caudal e fazendo variar a profundidade y obtemos a curva E2 que


mostra como varia a energia cinética com a profundidade do canal. Quando y aumenta, A
também aumenta e U e E tendem para zero.

3 - Se, para cada valor da profundidade, somarmos os respectivos valores da energia


potencial e da energia cinética obtém-se a curva da energia específica (E1 + E2). Por esta
curva deduz-se que:

27
➢ Há um valor mínimo Ec da energia específica correspondente ao valor da energia
crítica Ec.
➢ Para cada valor da energia específica existem dois valores recíprocos Es e Ec
referentes a duas profundidades ys e yi ou seja existem dois regimes de escoamento
(regimes recíprocos).

O escoamento com a maior profundidade ys denomina-se superior, tranquilo, fluvial ou


subcrítico. O escoamento a que corresponde a menor profundidade yi denomina-se inferior,
torrencial, rápido ou supercrítico. O escoamento a que corresponde uma única profundidade
yc é chamado de crítico.

Figura 16. Escoamento com variação de profundidade. Fonte: ANDREOLI (1965)

Num canal com A e Q constantes e i invariável (i inclinação ou declividade) Aumentando i


diminui y e vice-versa, portanto o aparecimento de um dos regimes depende da declividade i
do canal.

Para:

i= ic, declividade critica, o regime é critico

i < ic, regime subcritico

i > ic, regime supercrítico

28
Sendo:

𝑈2 𝑈
λ=g y ou Fr= (1.16)
√g.𝑦𝑚

3.4.Escoamento critico

Ao escoamento critico corresponde a energia especifica mínima. Se igualarmos a zero a


derivada da expressão

𝑄2
E = y + 2 g.𝐴2 (1.17)

Obtemos a equação característica do regime critica:

dE 𝒅 𝑄2
= (𝑦 + ) (1.18)
dy 𝒅𝒚 2 g.𝐴2

𝑄2 𝑑𝐴
× 𝑑𝑦 = 1 (1.19)
g.𝐴3

Como:

𝑑𝐴
=𝐵 (1.20)
𝑑𝑦

Obtém-se a equação característica do regime critico em canais

𝑄3 𝐴3
= (1.21)
g 𝐵

Como:

Q = A⋅U (1.22)

𝐴
ym = 𝐵 (1.23)

Temos:

𝑈
=1 (1.24)
√g.𝑦𝑚

29
No regime critico o factor cinético e o número de Froude são iguais à unidade, O escoamento
no regime critico não é estável porque a menor mudança de energia especifica provoca
alteração na profundidade da água no canal e, com ela, uma mudança no regime de
escoamento.

Tendo em vista que no regime critico:

𝑈2
= ym (1.25)
g

Podemos escrever:

𝑈2 𝑦𝑚
= (1.26)
2.g 2

e concluir que no regime critico a carga cinética é igual a metade da profundidade media. Se
o canal for rectangular B = b e considerando um caudal por unidade de largura:

𝑄
q=𝑏 (1.27)

e sendo a área da secção:

A = b⋅ yc (1.28)

Teremos:

3 𝑞2
yc= √ g (1.30)

Uma expressão aproximada para a profundidade critica em canais rectangulares é:

3
yc = 0.48.√𝑞 2 (1.31)

30
3.5.MOVIMENTO UNIFORME

Um movimento uniforme em canais é caracterizado por:

• A profundidade, a secção molhada, a velocidade média e o caudal são constantes ao


longo do canal
• Linha de carga, a superfície livre e o fundo do canal são paralelos.

Em canais naturais (rios) raramente ocorre o movimento uniforme, mas costuma admitir-se
em cálculos para fins práticos.

O movimento uniforme verifica-se após uma zona de transição que coincide com a zona de
entrada no canal. Igualmente na parte final, onde há mudança de declividade ou secção,
verificase uma zona de transição onde o movimento não é uniforme.

Os comprimentos das zonas de transição dependem do caudal e da declividade ou secção. Se


não se verificar um comprimento suficiente não haverá movimento uniforme. Denomina-se
profundidade normal yn a profundidade de escoamento no movimento uniforme.

3.6.PERDA DE CARGA EM CANAIS

A perda de carga I entre duas secções do canal, distando de um comprimento L entre si é


expressa por :

I = H1 - H2 (1.32)

Sendo H1 e H2 as cotas das duas secções.

31
Figura 17. Perda de carga em canais. Fonte: ANDREOLI (1965)

𝑈12 𝑈22
I = (𝑧1 + 𝑦1 + ) -(𝑧2 + 𝑦2 + ) (1.33)
2.g 2.g

Mas, no movimento uniforme:

y1 = y2 e U1 = U2 (1.34)

Então:

I = z1 - z2 (1.35)

Perda de carga unitária é:

𝐼 𝑍1 −𝑍2
I = 𝐿= = sin 𝜃 (1.36)
𝐿

Em pequenas declividades θ<5° (como é o caso dos canais) o valor da declividade do fundo
confunde-se com o da perda de carga.

Considerando a fórmula de Darcy-Weisbach para o cálculo das perdas de carga em


tubulações em pressão:

𝑓 𝑈2
J = 𝐷 × 2.g (1.37)

32
e o raio hidráulico para condutos circulares é dado por:
𝐴 𝐷
Rh = 𝑃 = (1.38)
4

e substituindo:

𝑓 𝑈2
I= 4.𝑅 × 2.g (1.39)

Ou seja:

8g
U = √ 𝑓 × √𝑅ℎ. 𝑖 (1.40)

sendo:

8g
C =√ 𝑓 (1.41)

temos:

U = C. √𝑅ℎ. 𝑖 (1.42)

Conhecida como a fórmula de Chezy em que C é o factor de resistência, válido para condutos
circulares.

O factor de resistência C obtém-se experimentalmente em função do raio hidráulico Rh e da


natureza das paredes do canal definida por um coeficiente n.

Bazin (1897) baseado em experiências, propôs a seguinte equação:

87
C= γ (1.43)
1+
𝑅ℎ.

Manning propôs a seguinte equação:

1⁄
𝑅ℎ 6
C= (1.44)
𝑛

Sendo n um coeficiente que depende do material. Substituindo C de Manning em:

U = C. √𝑅ℎ. 𝑖

33
temos a formula de Manning:

1 2⁄ 1⁄
U= × 𝑅ℎ 3 × 𝑖 2 (1.45)
𝑛

Sendo:

U -velocidade (m/s);
𝐴
Rh -raio hidráulico Rh = 𝑃 (m)

A - área da secção (m2)


Pm- perímetro molhado da secção (m)
I - inclinação ou declividade do canal (m/m)
n - coeficiente de rugosidade, dependente na natureza do material do leito (s/m1/3)

3.7.VALORES DO COEFICIENTE N DE MANNING


n
Material do canal
(s/m1/3)

Alvenaria de pedra bruta 0,020

Alvenaria de tijolos sem revestimento 0,017

Alvenaria de tijolos revestida 0,012

Canais de terra em boas condições 0,025

Canais de terra com vegetação 0,035

Manilhas cerâmicas 0,013

Tubos de betão 0,013

Tubos de ferro fundido 0,013

Tubos de fibrocimento 0,011

Canais de betão lisos 0,012

Tabela 2.Valores do coeficiente de Mannig. Fonte: ANDREOLI (1965)

34
A fórmula de Manning tem as seguintes expressões para condutos circulares funcionando
com a secção cheia:

2 1
0.397.𝑈 ⁄3 .𝑖 ⁄2
U= (1.46)
𝑛

8 1
0.312.𝑈 ⁄3 .𝑖 ⁄2
U= (1.47)
𝑛

A fórmula de Glaucker-Strickler é análoga à de Manning

2⁄ 1⁄
U= k.𝑅ℎ 3.𝑖 2 (1.48)

Diferindo apenas nos valores de k.

3.8.ESCOAMENTO UNIFORME

O escoamento uniforme á caracterizado por caudal, velocidade média e profundidade


constantes. O perfil da superfície livre, a linha de energia e o perfil longitudinal do leito são
constantes, rectilíneos e paralelos. A perda de carga unitária I é igual à diminuição da cota do
perfil longitudinal do fundo por unidade de percurso.

I = sin(𝜃) (1.49)

Sendo θ o ângulo que o perfil forma com a horizontal.

Como a inclinação dos canais é geralmente pequena é aceitável que se considere:

I = sin(𝜃) ≈ tan(𝜃) = i (1.50)

Quando se trata de água, o escoamento é turbulento e aplica-se a equação de Manning:

0.666 0.5
𝑅ℎ .𝑖
Q= ×𝐴 (1.51)
𝑛

Sendo:

𝐴
Rh - raio hidráulico Rh = 𝑃 (m);

Área da secção;

35
∆𝐻
I - inclinação do leito i = ;
𝐿

n- coeficiente de Manning.

Em grandes canais é mais acertado recorrer-se à fórmula de Colebrook-White:

𝑓 𝑈2
J = 𝐷 × 2.g (1.52)

Substituindo D pelo diâmetro hidráulico:

Dh = 4. Rh (1.53)

Com as fórmulas não se consegue achar directamente a profundidade uniforme ou normal yn.

3.9.CAPACIDADE DE TRANSPORTE

Para o cálculo de yn usam-se processos iterativos ou utilizam-se tabelas ou ábacos que


exprimam, em função da altura y as grandezas chamadas por capacidade de transporte. Estas
grandezas são obtidas através de formulas de Chezy.

Q = C.A. √𝑅ℎ. 𝑖 (1.54)

ou de Manning

1 2⁄
Q= × 𝑅ℎ 3 × 𝑖 0.5 .A (1.55)
𝑛

Profundidade normal é o valor de y que satisfaz a igualdade:

2⁄
𝐴.𝑅ℎ 3 𝑄
= (1.56)
𝑛 √𝐼

Sendo:

A-área da secção transversal do canal (m2);


𝐴
Rh-raio hidráulico Rh = 𝑃
𝑚

n-coeficiente de Manning (adimensional.)


Q-caudal (m3/s)

36
I - inclinação do fundo
i -tan(𝜃)

Figura 18.Curva de capacidade de transporte para canais rectangulares ou trapezoidais. Fonte: Paschoal Silvestre

Exercícios

Exercícios extraídos de: Frank M. White, Mecânica dos Fluidos, 6ª ed. Porto Alegre: AMGH,
2011.

1. Cinco tubos de esgoto, cada um com 2 m de diâmetro e feitos de argila, funcionam a


meia seção, com uma declividade de 0,25°, descarregando em um único tubo feito de
asfalto, também com declividade de 0,25°. Se o tubo maior também deve funcionar a
meia seção, qual deverá ser seu diâmetro?

Resolução

𝐴
𝑅ℎ =
𝑃𝑚

𝑛𝜋𝑅 2
𝑅ℎ = 2
2𝑛𝜋𝑅
2

Logo

𝐷 2
𝑅ℎ = = 2 = 0.5𝑚
2
2 2

37
A vazão em cada tubo é dada pela equação

𝑄 = 𝑉𝐴

Onde

𝑅ℎ2⁄3 𝑆01⁄2
𝑉=
𝑛

Como são 5 tubos de esgoto:

𝑅ℎ2 3 𝑆01⁄2

𝑄 = 5𝑉𝐴 = 5 𝐴
𝑛

Substituindo os dados, temos:

(0.5)2 3 (𝑡𝑎𝑛0.25)1 2 𝜋𝑅 2
⁄ ⁄
𝑄=5
𝑛 2

(0.5)2 3 (𝑡𝑎𝑛0.25)1 2 𝜋12


⁄ ⁄
𝑄=5
0.014 2

𝑄 = 23.31 𝑚2 /𝑠

Usando os mesmos procedimentos, irei achar o raio

𝑅ℎ2 3 𝑆01⁄2 𝜋𝑅 2

𝑄=
𝑛 2

𝑅ℎ = 𝑅⁄2

Logo

2⁄3
(𝑅⁄2) 𝑆01⁄2 𝜋𝑅 2
𝑄=
𝑛 2

𝜋(𝑅)8⁄3 𝑆01⁄2
𝑄=
25⁄2 𝑛

38
25⁄2 𝑛𝑄
𝑅 8⁄3 =
𝜋𝑆01⁄2

Elevando ambos os lados a 8/3

3⁄ 25⁄2 𝑛𝑄 3⁄
(𝑅 8⁄3 ) 8 =( ) 8
𝜋𝑆01⁄2

𝑛𝑄 3/8
𝑅 = 25⁄2 ( )
𝜋𝑆01⁄2

Substituindo temos

0.016 ∗ 23.34 3/8


𝑅 = 25⁄2 ( )
𝜋(𝑡𝑎𝑛0.25)1⁄2

𝑅 = 1.92𝑚

𝐷 = 2𝑅

𝐷 = 1.92 ∗ 2

𝐷 = 3.84𝑚

2. Um canal retangular feito de tijolos com S0 = 0.002 é projetado para conduzir


6.51 𝑚3 /𝑠 de água em escoamento uniforme. Discute-se se a largura do canal deverá
ser de 1,22 ou 2,44 m. Qual o projeto requer menos tijolos? Em que percentual?

Resolução

𝐴 𝑦𝑏
𝑅ℎ = =
𝑃𝑚 2𝑦 + 𝑏

Escreva uma equação aqui.

𝑅ℎ2 3 𝑆01⁄2

𝑄 = 5𝑉𝐴 = 5 𝐴
𝑛

39
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que condutos livres estão sujeitos à pressão atmosférica, pelo menos em um ponto
da sua seção do escoamento. Eles também são denominados canais e normalmente
apresentam uma superfície livre de água, em contacto com a atmosfera

Os cursos d'água naturais constituem o melhor exemplo de condutos livres. Além dos rios e
canais, funcionam como condutos livres os colectores de esgotos, as galerias de água
pluviais, os túneis-canais, as calhas, canaletas, etc.

Se ao longo do tempo o vector velocidade não se alterar em grandeza e direcção em qualquer


ponto determinado de um líquido em movimento o escoamento é qualificado como
permanente. Nesse caso as características hidráulicas em cada seção independem do tempo
(essas características podem, no entanto, variar de uma seção para outra, ao longo do canal:
se Em certas instalações, como por exemplo estações de tratamento, são comuns canais e
canaletas relativamente curtos, com fundo sem declividade, assim construídos por facilidade
ou conveniência estrutural. elas não variarem de seção para seção ao longo do canal o
movimento será uniforme).

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5. BIBLIOGRAFIA

1. ANDREOLI, A., Critérios para o projecto Hidráulico dos vertedores em canal,


Curitiba,1965.
2. BAKHMETEFF, B.A. e MATZKE, A,E.., THE Hydrilic jump in Terms of Dynimic
similiary. Transaction of the ASCE, 1936.
3. BAKHMATEFF, B.A., Hydraulics open channels. Nova iorque , 1932.
4. BLAISDEL, F. W.Devlopment and Hydraulic Design of stable Channels. Transaction
of ASCE,1935.

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