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Visões brasileiras
Venezuela:
Visões brasileiras
ISBN 85-7631-004-X
7
Mauro Mendes de Azeredo
Diplomata e escritor.
Wilson Cano
8
Laura Tavares Ribeiro Soares
9
MESA 1
TECNOLOGIA,
ENERGIA E MEIO AMBIENTE
A política de energia elétrica na Venezuela
Luiz Pinguelli Rosa*
Introdução
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em 1942 passou a chamar-se Companhia de Luz Elétrica de Venezuela,
comprada pela Companhia Elétrica de Caracas em 1963. Caracas teve
iluminação elétrica a partir de 1897, com uma pequena central
hidrelétrica de 420 kW, a segunda da América Latina.
A exploração industrial do petróleo na Venezuela começa na
segunda década do século XX. O país tem uma expansão e a urbanização
gera um incremento da demanda de eletricidade. O sistema elétrico
venezuelano desenvolveu-se baseado no uso da energia hidroelétrica.
Em 1933 três usinas hidroelétricas entram em operação com uma
capacidade de 7,6 MW. A seguir outras usinas foram construídas, duas
totalizando 4,9 MW, uma outra de 3,2 MW. As termoelétricas são
desenvolvidas, primeiramente a diesel, com pequenas capacidades, até
que a usina termoelétrica Ricardo Zuloaga, com 27 MW, iguala o total
da geração hidrelétrica até então. Em 1947 a capacidade instalada
atingiu 174 MW, 40 MW para Caracas e suas vizinhanças, ano em que
foi criada a Corporação Venezuelana de Desenvolvimento, incluindo
em seus objetivos o planejamento da energia elétrica. Estudos são feitos
para a construção de várias térmicas e hidroelétricas em lugares
diferentes do país. Em 1949 um estudo de aproveitamento do rio Caroni
foi feito. Em 1950 o Plano Nacional de Eletrificação contemplou a
aquisição, por parte do CVF, de companhias de eletricidade que
operavam em muitas partes do país de forma bastante ineficiente. Em
1953, o governo venezuelano, devido às necessidades de energia dos
projetos de desenvolvimento econômico, resolveu desenvolver o
potencial de geração de energia elétrica do rio Caroni. A usina de
Macágua teve sua construção iniciada em 1956 e a primeira das suas
seis unidades entrou em operação em 1959. Foi um marco; alcançou
uma capacidade de 360 MW. Macágua teve um grande significado na
região de Guayana, como talvez a usina de Paulo Afonso no Nordeste
do Brasil. Contribuiu para criar um dinamismo industrial, servindo às
instalações da Companhia Mineira de Orinoco - hoje CVG -
Ferrominera Orinoco - e para a Siderúrgica Aço do Orinoco. Em 1954
chegou, depois, a 395 MW, e em 1957, a 570 MW, quando a capacidade
instalada média por habitante da Venezuela era de 88 watts, em
comparação com 17 watts no ano 1947. Em 1958 foi fundada a Cadafe,
como parte de um esforço que racionaliza a operação das 15 companhias
de eletricidade dependentes do Estado. A partir do final da década de
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60 acontecem eventos importantes: em 1968 a primeira de dez unidades
da hidroelétrica de Guri entra em operação; em 1973 a hidroelétrica de
Santo Domingo entra em operação, com uma capacidade de 240 MW;
em 1978 foi concluída a primeira fase de Guri e chega à capacidade de
2 GW. Em 1976 ocorre a nacionalização da Enelven. O Estado adquire
as ações da maioria das companhias em mãos de grupos internacionais.
Guri é terminada em 1986, um fato histórico, com capacidade instalada
de 10 GW, a maior no mundo naquele momento, próxima de Itaipu,
brasileiro-paraguaia, com 12 GW. Os últimos fatos importantes no setor
hidroelétrico foram: em 1987, a primeira fase do sistema Uribante -
Caparo, com uma capacidade de 300 MW de um total, no final, de
1.320 MW; o começo das obras em Macágua com 2, 5 GW. No campo
termoelétrico, nas últimas três décadas ocorreram a ampliação de Tacoa
em 1,2 GW, a construção em Moron, com capacidade de 2 GW.
Situação atual
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As tabelas 1 e 2 dão o quadro atual do setor elétrico venezuelano,
mostrando que o setor público totaliza mais de 20 GW contra menos
de 3 GW da capacidade instalada privada5. As figuras 1 e 2 mostram o
parque gerador e o sistema de transmissão6.
O setor elétrico venezuelano se estrutura em forma integrada
pelo setor público e por companhias privadas. A política é ditada pelo
Ministério de Energia e Minas. O crescimento e a expansão do setor se
apoiaram em investimentos públicos, o que foi favorecido pelos recursos
da produção do petróleo. O Estado teve recursos para empreender a
exploração do potencial gigantesco do rio Caroni, como também de
outros potenciais menores e em geração térmica.
O desenvolvimento elétrico do país deve ser discutido dentro de
uma realidade de crescimento demográfico, industrial com requisitos
de qualidade, segurança, exigindo volumes crescentes de investimento.
Porém, o país confrontou-se, como toda América Latina com problemas
de investimento público, que levou a um processo de deterioração no
setor elétrico da maioria dos países do continente. O Brasil não escapou
a esta regra, com um processo de privatização mal sucedido. Houve
em geral a ausência ou a insuficiência de instrumento para regular as
relações jurídicas diferentes que emergem desta atividade, mas também
perdeu-se o instrumento de política econômica e social em mãos do
estado na América Latina em geral. O estado nacional saiu e não foi
substituído adequadamente pelo investidor estrangeiro. O Brasil sofre
hoje uma crise no setor elétrico por falta de investimento, esperado do
setor privado, principalmente estrangeiro.
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de agosto de 1993 (...). Em março de 1994, o Presidente Itamar Franco,
em visita à Venezuela, firmou o Protocolo de Guzmania e um Comunicado
Conjunto, em cujo item 11 é feita menção à compra de energia pelo Brasil
e à construção da linha de transmissão correspondente (...); foi instituído o
Grupo de Trabalho-Energia, que identificou como prioritário o projeto de
interligação entre os dois países”. Em agosto de 1994, realizou-se a primeira
reunião do grupo técnico constituído para o estudo
Os problemas técnicos decorrentes incluíam: trajeto básico
acompanhando a rodovia existente e sempre reduzindo os custos em
geral e os impactos ambientais; estudo de alternativas para os níveis de
tensão padrão em cada país e para o nível ótimo econômico; custos
decorrentes do respeito a critérios nacionais de projeto; preços de
referência para a energia; montante de energia garantida a ser vendida
pela Venezuela ao Brasil; moeda de referência para as operações.
Passos necessários foram dados desde então para concretizar a
interligação de Guri ao Brasil, não só pelo aspecto energético, importante
para o Brasil que atravessa uma crise de energia elétrica neste momento,
como também para a integração latino-americana. No seminário do
IPRI em 1995 fiz a seguinte intervenção, cujos pontos principais reitero5:
“É muito importante a constatação do crescimento das relações
Venezuela-Brasil, (...) a transmissão de Guri teria a vantagem opcional
de estabelecer um vínculo forte entre os dois países, que é um objetivo
além do energético. Entretanto, a questão econômica deve ser verificada
quanto a custos, garantia do abastecimento. (...) A potencialidade da
mudança no setor do petróleo é notável caso seja criada uma grande
empresa latino-americana a partir da associação entre a grande empresa
venezuelana, que detém tecnologia e reservas, e a Petrobrás, que tem
tecnologia complementar, no caso offshore. A tecnologia, o mercado e
as reservas juntas poderão criar caminho e dar um rumo a essa mudança
institucional. O sistema que o governo venezuelano está usando para a
abertura do setor petróleo é um modelo que coloca a PDVSA no centro
(...). A associação da PDVSA com a Petrobrás poderia também nos dar
um modelo institucional de como proceder essa abertura sem ser apenas
por um imperativo, porque o Banco Mundial deseja ou o FMI pressiona,
e, sim, porque o Brasil precisa e a Venezuela pode cooperar e vice-versa”.
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op. cit. nota 1.
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Anexos
Tabela 1
Indicadores básicos do Setor Elétrico ano - 1999
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