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Governador

Rodrigo Garcia

Secretário de Agricultura

Francisco Maturro

Secretário-executivo

Adriano Quercia Soares

Chefe de Gabinete

Ricardo Lorenzini

Subsecretário de Agricultura

Orlando Melo de Castro

Coordenador CATI

Alexandre Manzoni Grassi


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO
COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL – CATI

GUIA DE PLANTAS
MEDICINAIS E AROMÁTICAS

Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva G. Blanco

Julho/2022
EDIÇÃO E PUBLICAÇÃO

Departamento de Extensão Rural – Dextru


Centro de Comunicação Rural – Cecor
Diretora: Bárbara Beraquet

Editoras Responsáveis: Cleusa Pinheiro / Graça D’Auria


Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo

Designer Gráfico: Paulo Santiago


Capa: Mariana Ahnelli
Fotografias: Banco de Imagens CATI
Distribuição: Cecor (CATI)

BLANCO, Maria Cláudia Silva Garcia.


Guia de Plantas Medicinais e Aromáticas, Campinas, CATI, 2022.
47p. 29,7cm (Impresso Especial).

CDD 633.88
SUMÁRIO
GUIA DE PLANTAS
MEDICINAIS E AROMÁTICAS

APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... i
ARNICAS .................................................................................................................... 1
ARNICA ...................................................................................................................... 1
ARNICA-BRASILEIRA .................................................................................................. 2
ARNICA-MINEIRA ...................................................................................................... 2
ARNICA-PAULISTA ...................................................................................................... 3
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................................... 3
AROEIRA-MANSA OU AROEIRA-PIMENTEIRA ......................................................... 5
ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 5
FÓRMULA .................................................................................................................. 6
ORIENTAÇÕES PARA O PREPARO ............................................................................... 7
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 7
BABOSA ...................................................................................................................... 8
ASPECTOS AGRONÔMICOS......................................................................................... 8
BENEFICIAMENTO ...................................................................................................... 9
FLUXOGRAMA INDUSTRIAL ........................................................................................ 9
USO MEDICINAL ......................................................................................................... 9
RECEITAS .................................................................................................................... 10
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 11
ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 13
CIDREIRAS ................................................................................................................. 12
ERVA-CIDREIRA .......................................................................................................... 12
USOS MEDICINAIS E PREPARAÇÕES CASEIRAS COM ERVA-CIDREIRA ........................ 13
CIDREIRA-BRASILEIRA ................................................................................................ 13
USOS MEDICINAIS E PREPARAÇÕES CASEIRAS COM CIDREIRA-BRASILEIRA .............. 14
CAPIM-CIDREIRA ....................................................................................................... 15
USOS MEDICINAIS E PREPARAÇÕES CASEIRAS COM CAPIM-CIDREIRA ..................... 16
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 17
ERVA-BALEEIRA ........................................................................................................ 18
ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 19
PROPAGAÇÃO ........................................................................................................... 19
USO MEDICINAL ....................................................................................................... 19
FORMA DE INFUSO, COMO COMPRESSA ................................................................. 20
FORMA DE GEL, USO TÓPICO ................................................................................... 20
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 20
ERVAS-DOCES ............................................................................................................ 22
ERVA-DOCE ................................................................................................................ 22
FUNCHO .................................................................................................................... 23
ASPECTOS AGRONÔMICOS........................................................................................ 24
ANIS-ESTRELADO ....................................................................................................... 25
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 25
GUACO ...................................................................................................................... 27
DESCRIÇÃO BOTÂNICA .............................................................................................. 28
ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 28
POSOLOGIA E FORMA DE PREPARO .......................................................................... 30
LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 30
HORTA MEDICINAL ................................................................................................... 32
RECEITAS MEDICINAIS ............................................................................................... 34
CONTROLE NATURAL DE MATO, PRAGAS E DOENÇAS NA HORTA MEDICINAL ...... 37
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 37
HORTA MEDICINAL .................................................................................................. 37
PRINCIPAIS PRAGAS DA HORTA MEDICINAL ......................................................... 38
ÁCAROS .................................................................................................................... 38
COCHONILHAS ......................................................................................................... 38
FORMIGAS ................................................................................................................ 38
LAGARTAS ................................................................................................................. 38
LAGARTAS-DO-MARACUJÁ...................................................................................... 39
LARVA-MINADORA .................................................................................................. 39
LESMA E CARACOL .................................................................................................. 39
PULGÕES .................................................................................................................. 39
VAQUINHAS ............................................................................................................. 39
PRINCIPAIS DOENÇAS ............................................................................................. 39
PLANTAS INFESTANTES OU DANINHAS.................................................................. 40
CONTROLE RECOMENDADO ................................................................................... 40
PLANTAS COMPANHEIRAS E PRODUTOS NATURAIS DE CONTROLE ................... 41
PLANTAS COMPANHEIRAS ...................................................................................... 41
PRODUTOS NATURAIS ............................................................................................. 41
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 43
SECAGEM E ARMAZENAMENTO DE PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS ........... 44
SECAGEM CASEIRA .................................................................................................. 46
CONSERVAÇÃO – ATÉ QUANDO GUARDAR? ......................................................... 47
LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 47
AS PLANTAS MEDICINAIS E SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS ....................................... 48
ÁCIDOS URÔNICOS (GOMAS E MUCILAGENS) ...................................................... 48
TANICOS ................................................................................................................... 49
GLICOSÍDEOS ........................................................................................................... 49
SAPONINAS .............................................................................................................. 50
ALCALOIDES ............................................................................................................. 51
ÓLEOS ESSENCIAIS .................................................................................................. 51
COMPONENTES MINEARAIS ................................................................................... 52
VITAMINAS ............................................................................................................... 53
LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 53
PROPAGAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS ............................................................. 54
LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 60

vii
APRESENTAÇÃO

A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) já vinha trabalhando, desde a década de 1990,
em projetos com plantas medicinais e aromáticas junto aos produtores rurais, grupo de mulheres
e de jovens, em arranjos produtivos locais e em parceria com órgãos municipais das áreas da
agricultura, saúde e educação. Durante todo esse período, continuamos a receber várias perguntas
deste público conquistado ao longo dos anos, tanto em relação à identificação botânica das espécies
quanto ao sistema de cultivo, aos tipos de beneficiamento, à obtenção das substâncias bioativas e
até mesmo sobre o uso seguro dessas plantas.

Diante disso, vimos a necessidade de atender a essas demandas e, para sistematizar, foram criados
diversos informes técnicos em resposta às dúvidas. Recentemente, selecionamos os mais frequentes
com o objetivo de elaborar uma coletânea com estas informações. Assim nasceu o presente Guia
sobre Plantas Aromáticas e Medicinais. Um Guia porque ele está sendo disponibilizado de forma
on-line no site da instituição e contará com a possibilidade de ser frequentemente atualizado com o
acréscimo de novos informes.

Esperamos que este Guia seja útil a todos os públicos interessados em saber mais sobre as plantas
medicinais e aromáticas e, com a facilidade de ser encontrado em nosso site, se torne bastante
utilizado. Outras dúvidas e/ou sugestões podem contribuir para que este Guia tenha cada vez mais
informações. Trata-se de mais um material com a qualidade da CATI para consulta de técnicos,
produtores e da população em geral, interessados em cultivar essas espécies visando à atividade
econômica ou apenas para adquirir saúde por meio de sua utilização correta.

Boa leitura, bom entretenimento e bons conhecimentos, porque a troca e a disseminação de


informações são sempre bem-vindas, fundamentais e saudáveis!

Maria Cláudia Silva G. Blanco


Engenheira agrônoma (CATI/SAA)
GUIAS DE PLANTAS
MEDICINAIS E AROMÁTICAS
Maria Cláudia Silva G. Blanco1
maria.blanco@sp.gov.br

ARNICAS
A identificação botânica das espécies medicinais é muito importante, pois muitas plantas diferentes
possuem o mesmo nome comum, geralmente adotado por razão de usos semelhantes.

Um exemplo típico é o das plantas denominadas ‘arnicas’. Neste guia descrevemos a identificação e
as principais características de algumas delas na tentativa de elucidar os frequentes questionamen-
tos que os extensionistas rurais recebem acerca destas plantas medicinais.

ARNICA
Arnica montana L.

Conhecida como arnica europeia, arnica-da-montanha, ar-


nica-verdadeira. É uma planta herbácea de 20cm a 60cm
de altura, com as folhas basais dispostas em roseta e flores
amarelas reunidas em capítulos isolados sobre um caule
ereto.

É nativa em regiões montanhosas do norte da Europa e


não é cultivada no Brasil. Planta medicinal de uso tradi-
cional, fazendo parte de várias farmacopeias, inclusive da
brasileira, nas formas de preparação extemporânea (chá),
tintura, gel e pomada.

Ações farmacológicas: anti-inflamatória, analgésica, antis-


séptica e cicatrizante.

Composição química: óleos essenciais, lactonas, taninos, ácidos fenólicos, flavonoides e outros.

Partes usadas: flores.

Usos: contusões, traumatismos, entorses, distensões musculares e dores reumáticas, por meio de
uso tópico. Também é usada em fitocosméticos e na homeopatia.

__________
1
Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA

1
ARNICA-BRASILEIRA
Solidago chilensis Meyen

É conhecida também como arnica, arnica-do-campo, arnica-silvestre,


erva-lanceta, erva-de-lagarto, espiga-de-ouro, macela-miúda, rabo-de-
-rojão.

É um subarbusto de 0,8m a 1,2m de altura, ereto, perene, entouceira-


do, rizomatoso, com folhas simples, alternas, ásperas ao tato. Capítulos
florais pequenos, de cor amarela, reunidos em inflorescências na extre-
midade dos ramos.

É nativa da parte meridional da América do Sul, incluindo o Sul e o


Sudeste do Brasil.

Trata-se de planta de crescimento vigoroso e persistente em pastagens,


beiras de estrada e terrenos baldios. Multiplica-se por sementes e prin-
cipalmente pelos rizomas.

Composição química: flavonoides, quercetina, taninos, saponinas, resinas e óleo essencial.

Partes usadas: folhas, flores e rizomas.

Uso popular: contusão, escoriações e traumatismos. Uso tópico.

Uso tópico: termo usado quando o uso é externo. É geralmente administrada na forma de
compressa, banho, cataplasma, tintura, pomada, unguento, gel. Seu uso é localizado na parte
do corpo afetada, após higienização prévia do local.

Curiosidade: no Brasil, uma preparação muito popular à base de arnica é a garrafada, por isso,
muitas vezes, a denominação ‘arnica’ é usada para a garrafada, a qual pode ter, também, outras
plantas adicionadas.

ARNICA-MINEIRA
Lychnophora pinaster M.

É também conhecida, popularmente, como arnica-de-mi-


nas, arnica-do-cerrado, arnica-do-campo, candeia, can-
deião e canela-de-ema.

É um arbusto que pode atingir até 3m de altura; possui fo-


lhas rígidas aciculares dispostas em espiral ao redor de um
caule circular. Sua inflorescência é um capítulo de flores
hermafroditas e tubulosas com cores variadas (lilás, púrpu-
ra e branca), fruto tipo aquênio.

A planta é restrita (endêmica) em algumas localidades de Minas Gerais e vive em ambientes acima
de 900m de altitude, como campos rupestres, campos sujos e campos limpos de altitudes de regiões
de Cerrado do Alto do Rio Grande. É considerada vulnerável à extinção.

2
Lychnophora pinaster é muito próxima de Lychnophora ericoides,
sendo a separação entre elas difícil. Ambas são bastante polimór-
ficas em porte, diâmetro dos ramos, forma, comprimento e
largura das folhas.

Alguns autores as consideram a mesma espécie e outros como


espécies diferentes. A primeira é endêmica de Minas Gerais e a
outra, conhecida como arnica-da-serra, ocorre em Minas Gerais,
Goiás e na Bahia.

Partes usadas: ramos, folhas e flores.

Uso popular: contusão, inchaço, inflamação, hematomas, trau-


matismos, picadas de inseto e varizes. Uso tópico, não deve ser
usada internamente.

Composição química: flavonoides, friedelina, quercetina, áci-


do lienofoico (derivado do cariofileno), 15-desoxigoiazenolídeo
(lactonases quiterpênica), glicosídeo.

ARNICA-PAULISTA
Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass

É conhecida também como arnica, arnica-do-mato, couvinha,


couve-cravinho, cravorana.

É uma erva anual, com até 1,2m de altura, bem ramificada,


com folhas membranáceas, elípticas, de cor cinza-azulada, aro-
máticas e com margens crenadas. Inflorescências em capítulos
alongados, esbranquiçados, solitários e com flores discretas.

Nativa nas regiões tropicais do Brasil. Cresce espontaneamente


em terrenos lavrados, pomares e terrenos urbanos. Bem
popular no Estado de São Paulo. Propaga-se exclusivamente
por sementes.

Composição química: flavonoides, taninos e alcaloides.

Partes usadas: folhas e planta inteira.

Uso popular: contusões, hematomas, traumatismos e picadas de inseto. Uso tópico.

LITERATURA CONSULTADA
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco-
peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

HARAGUCHI, L. M. M.; CARVALHO, O. B. (Org.). Plantas Medicinais: do curso de plantas medicinais.


São Paulo: Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, 2010. 248p.

3
KINUPP, V. F., LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: Ins-
tituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.

LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora, 2002.

RODRIGUES, V. E. G., CARVALHO, D. A. Plantas medicinais no domínio dos cerrados. Lavras: UFLA,
2001. 180 p. il.

4
AROEIRA-MANSA OU
AROEIRA-PIMENTEIRA

A aroeira-vermelha é uma espécie perenifólia que, quando jo-


vem, apresenta de 5m a 10m de altura e diâmetro à altura do
peito (DAP) entre 20cm e 30cm. Os indivíduos adultos chegam
a alcançar 15m de altura e 60cm de DAP.
Família: Anacardiaceae.
Nome científico: Schinus terebinthifolius Raddi.
Nomes populares: aroeira-mansa, aroeira-da-praia, aroeira-
-vermelha, aroeira-pimenteira, aroeira-de-remédio.

Folhas: compostas, imparipinadas, trifoliadas, com ráquis alada, com 8-11 folíolos membranáceos,
ápice agudo e base obtusa.

Flores: tanto as flores masculinas como as femininas são actinomorfas, pentâmeras, díclinas, com
cinco sépalas verdes, cinco pétalas brancas e disco nectarífero amarelo-ouro.

Frutos: drupáceos, globosos. Utilizados como substitutos da pimenta-do-reino. Com sabor suave,
levemente apimentado, sendo utilizados grãos inteiros ou moídos.

Floração: setembro-janeiro.

Frutificação: janeiro-julho.

Polinização: abelhas e pequenos insetos.

Dispersão: zoocórica, por aves e formigas.

Paisagístico: árvore ornamental, com flores brancas e frutos vermelhos, pode ser usada com suces-
so na ornamentação das cidades.

Utilização: espécie da qual se extraem compostos utilizados como inseticidas e em perfumes. Sua
madeira é usada como mourões para pomares, construção civil, palanques. Para a apicultura, a flo-
rada abundante oferta grande quantidade de pólen e uma produção significativa de néctar para a
entomofauna, muito visitada por abelhas (Apis mellifera).

Apícola: as flores da aroeira-vermelha são melíferas.

Ocorrência: em várias formações vegetais de Pernambuco, até o Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

ASPECTOS AGRONÔMICOS
Fazer a semeadura logo após coleta das sementes, sem qualquer tratamento, em canteiros a pleno
sol, contendo substrato argiloso. Quando o recipiente for tubete plástico de 280cm³, pode-se usar
como substrato uma mistura de solo com composto orgânico, na proporção de 1:1. Recomendam-
-se colocar, no mínimo, duas sementes por recipiente. As mudas estarão aptas para irem ao campo,
aproximadamente, 120 dias após a semeadura.

5
Quando houver previsão de estiagem, recomendam-se colocar na cova 2,5g de hidrogel hidratado
por cova, diluído em 1L de água.

Os espaçamentos devem ser sempre quadrados, variando de 4,5m x 4,5m até no máximo 6m x 6m.

Como a produção de frutos é dependente da floração dos indivíduos masculinos, recomenda-se que
plantios destinados a esse objetivo contemplem um maior número de plantas masculinas, entre
10% a 15% do total das árvores plantadas. É importante destacar que plantas masculinas não devem
ser podadas, até porque não são produtivas.

Colheita e corte dos galhos: envolvem duas etapas. Na primeira, é feito o corte do terço externo
dos galhos mais finos, onde ocorre a maior produção de frutos. O corte é realizado em bisel, com
auxílio de facão bem afiado ou de tesoura de poda. Na segunda etapa, os galhos mais grossos são
cortados com o auxílio de facão e/ou serrote florestal. Após os cortes, são feitas a catação de frutos
e a derriça dos galhos.

Nas áreas de plantio, após o procedimento da derriça, que encerra a colheita em si, os galhos
que permaneceram nas árvores são desfolhados, deixando a árvore totalmente desnuda, o que
localmente se chama “suruca”. Todos os resíduos descartados − como galhos, folhas e frutos verdes
− são espalhados próximo das árvores e nas ruas de plantio ou podem ser utilizados para fins
medicinais após seleção de partes sem danos e sujidades.

Composição química: catequinas, esteroides, chalconas, flavonas e terpenos.

Uso medicinal: a casca tem propriedades depurativas, é usada contra afecções uterinas em geral.
Utilizada no tratamento de diarreias e nas hemoptises. O chá da casca é utilizado contra dor ciática,
gota, reumatismo e infecções bacterianas como edema do tipo erisipela. A casca cozida também é
usada para banhos contra edemas das pernas.

Os ramos são utilizados no tratamento de doenças respiratórias e doenças das vias urinárias.
As folhas têm propriedades balsâmicas usadas na forma de infusão, banhos tônicos e loções no
tratamento de úlceras, erupções e feridas. Dos folíolos obtêm-se substâncias cicatrizantes; os frutos
têm propriedades diuréticas.

O cozimento das folhas com folhas de batatas é usado para gargarejos e afecções das cordas vocais.

Curiosamente, todas as partes dessa árvore possuem fins medicinais.

A aroeira-mansa (Schinus terebinthifolius Raddi) é uma das plantas da Farmacopeia Brasileira,


constando do Formulário de Fitoterápicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da
seguinte forma:

FÓRMULA
Componentes Quantidade

cascas do caule secas 1g

água q.s.p. 150mL

6
ORIENTAÇÕES PARA O PREPARO
Preparar por decocção, considerando a proporção indicada na fórmula.

Advertência: em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso.

Indicações: anti-inflamatório e cicatrizante ginecológico.

Modo de usar: uso externo. Fazer banho de assento, de três a quatro vezes ao dia.

LITERATURA CONSULTADA
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco-
peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

COLETTO, L. M. M., PEREIRA, B. M. R., CARDOSO Jr., E. L. C. Plantas medicinais nativas dos remanes-
centes florestais do oeste do Paraná. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009.

Cultivo da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) para produção de pimenta-rosa. [re-


curso eletrônico] / Edinelson José Maciel Neves ... [et al.]. - Colombo: Embrapa Florestas, 2016.

LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de estudos da Flora, 2002.

7
BABOSA

Originária da África, a babosa pertence à família botânica Xanthorrhoeaceae. Seu nome botânico
Aloe vera L. se origina do hebraico halal, que significa amargo, e da palavra vera do latim, que signi-
fica verdadeira. Sinonímia: Aloe barbadensis Mill.

A babosa tem vários nomes comuns, dependendo da região, pode ser conhecida como aloé, babosa-
grande, babosa-medicinal, erva-de-azebre, caraguatá, aloé-do-cabo.

Aclimatada no Brasil há mais de 100 anos, é encontrada em muitos jardins e quintais e é explorada
comercialmente para extração das substâncias bioativas: aloína (composto antraquinônico) e
mucilagem (polissacarídeo aloeferon). Em sua composição, também contém sais minerais (K, Na,
Cl, Ca, Mn, mg, Cu, P, Fe) e vitaminas (A, B1, B2, B6, C, E).

A babosa é uma planta herbácea que atinge até um metro de altura, com folhas grossas, suculentas
(parênquima de reserva), marginadas por espinhos, dispostas em roseta e presas num caule curto.
As flores são tubulosas e de cor amarelada.

Cresce em regiões de clima tropical e subtropical secos. É uma planta heliófita e xerófita, não tole-
rando ventos frios e geadas.

ASPECTOS AGRONÔMICOS
A sua propagação ocorre por meio de rebentos ou brotações laterais que podem ser plantadas dire-
to no local definitivo ou em recipientes para enraizamento das mudas em viveiro. A época de plantio
vai de setembro a fevereiro e a planta tem preferência por solos arenosos ou areno-argilosos, per-
meáveis, bem drenados, com boa M.O.% e com pH em torno de 7.

A babosa deve ser cultivada em locais que fiquem a pleno sol, no espaçamento de 0,5m – 1m X
0,5m – 1m. A adubação de plantio se faz com 1kg de composto + 150g de fosfato natural por planta.
É necessária uma irrigação diária nos três primeiros meses para “pegamento” das mudas e depois
basta irrigar uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias, conforme a região.

Um dos cuidados é realizar a ‘amontoa’ para favorecer a brotação lateral e adubação de cobertura
com composto orgânico. Retirar os perfilhos quando atingirem entre 10cm e 15cm, para não com-
petirem com a planta-mãe.

8
As folhas são as partes usadas da planta e devem ser colhidas nas épocas de outono e inverno. A co-
lheita ocorre após um ano de idade da cultura (plantas adultas) e de plantas não floridas. Devem-se
colher as folhas externas com 50cm a 60cm (cinco ou seis folhas), da parte de baixo da planta, usan-
do um instrumento afiado (cinco a seis folhas/planta). Para usar na forma fresca, retirar a mucilagem
logo após colheita, evitando a oxidação.

Produtividade: cerca de 70t/ha de folhas adultas frescas.

BENEFICIAMENTO
A extração industrial do gel envolve mesa de lavagem, separação do látex, desfibrador, prensa e
evaporadores.

Todos os equipamentos que mantêm contato com as folhas e o gel devem ser de aço inoxidável, para
evitar oxidação.

FLUXOGRAMA INDUSTRIAL

USO MEDICINAL
A babosa é utilizada tanto pela indústria de cosméticos quanto pela farmacêutica devido às suas ati-
vidades farmacológicas como cicatrizante, anti-inflamatória, antimicrobiana, antisséptica, antialérgi-
ca, bem como pela ação imunomoduladora. A babosa é planta da Farmacopeia Brasileira, constando
do Formulário de Fitoterápicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo indicada
para uso externo como cicatrizante nos casos de ferimentos leves, desordens inflamatórias na pele,
incluindo queimaduras (de 1.o e 2.o graus), escoriações e abrasões. O gel fresco das folhas pode ser
usado puro ou incorporado a um gel base até a homogeneização completa e deve ser aplicado nas
áreas afetadas até três vezes ao dia.

Alguns cuidados devem ser tomados para não rasgar a casca verde, que pode contaminar o gel com
exsudato de folha, de coloração amarelada e rica em heterosídeos antracênicos.

Preparações caseiras com babosa – Aloe vera

9
RECEITAS
Oficina do minicurso sobre babosa da XIV Semana de Fitoterapia Prof. Walter R. Accorsi,
Campinas (SP)

1. SABONETE EMOLIENTE E HIDRATANTE

Ingredientes
• 1 quilo de base glicerinada transparente ou branca.
• 2 colheres de sopa de lauril líquido (lauril éter sulfato de sódio de 27% a 30%). É um produto
tensoativo e que produz espumas.
• 2 colheres de sopa de mel puro.
• 3 colheres de sopa de gel de babosa (folha de babosa - Aloe vera, somente gel transparente, sem
a casca e sem o suco amarelo).
• 20 gotas de óleo essencial.
• Borrifador (spray) com álcool.

Preparo no fogão
Corte a base glicerinada em pedaços pequenos para derreter bem em banho-maria. Não deixe ferver
ou cozinhar; retire do fogo.

Misture em um recipiente separado, o gel de babosa, o mel, o óleo essencial e o lauril líquido.
Quando a base glicerinada estiver em temperatura suportável na mão, acrescente a mistura, mexa
e coloque nas forminhas. O spray com álcool é aplicado para evitar a formação de bolhas. Após
endurecer, tire das formas, embrulhe com filme plástico e coloque etiqueta.

Modo de usar: para lavar o corpo ou as mãos ressecadas.

2. GEL CONGELADO – contra queimaduras, assaduras e fissura anal

Ingredientes
• Folha fresca de babosa (de planta adulta, + 50cm).

Preparo
Pegue uma seringa descartável de 5mL e corte o bico.
Tire os espinhos da folha de babosa, lave-a na água corrente e deixe escorrer a resina amarela por
umas seis horas.
Corte em pedaços de 5cm e introduza a seringa no gel transparente tirando pedaços cilíndricos de
gel. Enrole cada pedaço em papel-alumínio e guarde no congelador até a hora do uso.

Modo de usar: como supositório (para maiores de 12 anos) no tratamento de fissuras anais. Para o
caso de queimaduras e assaduras, passar o gel congelado ou fresco diretamente no local lesionado.

10
Nota: existem outras espécies de babosa encontradas no Brasil.

Destaca-se a Aloe arborescens, comum no sul do país, a qual


tem um porte arbustivo e ramificado, flores vermelhas e menor
produção de mucilagem (gel) e por isso não tem o mesmo
interesse comercial e industrial como o da espécie Aloe vera. Aloe arborescens

LITERATURA CONSULTADA
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco-
peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de estudos da Flora, 2002.

SAA-CATI – oficina do minicurso sobre babosa da XIV Semana de Fitoterapia Prof. Walter R. Accorsi,
Campinas – SP. 2016.

SILVA JÚNIOR, A. A. Plantas bioativas – Babosa de botica (Aloe vera). Epagri: Agropec. Catarin.,
v.19, n.1, mar. 2006.

11
CIDREIRAS
O nome cidreira é utilizado para várias espécies de plantas e, na maioria das vezes, pelo motivo de as
tais terem ações calmantes ou sedativas semelhantes às da erva-cidreira Melissa officinalis, planta
medicinal de várias farmacopeias, especialmente da Europa, sendo utilizada, desde a Antiguidade,
na medicina tradicional e, até hoje, na medicina moderna. Por isso, muitas pessoas a chamam
também de cidreira-verdadeira.

Os nomes comuns, no entanto, variam conforme a cultura de cada local e adjetivos como falso ou
verdadeiro e nomes iguais para diferentes espécies apenas indicam que há uma espécie base que
tem uso mais antigo e ações mais estudadas que inspiram o nome popular de outras plantas usadas
de forma semelhante ou para o mesmo fim terapêutico.

No caso das cidreiras, a opção foi por selecionar três espécies mais utilizadas pela população
brasileira, destacando sua identificação botânica, seu cultivo e os usos terapêuticos na saúde e pela
alimentação.

ERVA-CIDREIRA
Melissa officinalis L.

A erva-cidreira Melissa officinalis L. é de origem


europeia e foi trazida ao Brasil pelos colonizadores,
sendo uma planta das Farmacopeias de vários países
da Europa.

Planta herbácea de até 60cm de altura, perene,


aromática, ramificada desde a base, com folhas rugo-
sas, de 3cm a 6cm de comprimento e coberta por
tricomas glandulares, cujas flores são em racemos e
de cor creme (dificilmente floresce no Brasil).

Princípios ativos: óleos voláteis (citral, citronelal, citronelol, linalol, geraniol, neral etc.), taninos,
flavonoides e ácidos fenólicos.

Nomes comuns: melissa, cidreira-verdadeira, cidreira.

Recomendações para plantio da Melissa officinalis

Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações

Pleno sol ou Regas moderadas. 0,6m x 0,4m. Mudas por sementes Mudas prontas para
meia-sombra. ou estacas. plantio com cerca de
10cm de altura.

Gosta de clima
ameno, mas não
tolera geadas.

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Recomendações para colheita e pós-colheita da Melissa officinalis

Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações

Folhas. A partir de seis meses da Usada fresca ou seca à Corte feito a 10cm acima
semeadura. sombra ou em secador a do solo.
35oC.

USO MEDICINAL E PREPARAÇÕES


CASEIRAS COM ERVA-CIDREIRA
Melissa officinalis

1. CHÁ DE CIDREIRA – Antiespasmódico, digestivo, ansiolítico e sedativo leve.

Ingredientes
• 1 a 4g de folhas secas (1 a 3 colheres de chá).
• 150mL de água potável e filtrada.

Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar por 15 minutos e coar.

Modo de usar: indivíduos acima de 12 anos de idade − tomar 150mL do infuso, logo após o preparo,
de duas a três vezes ao dia.

Advertências: não deve ser utilizado nos casos de hipotireoidismo. Cuidado, pois pode baixar a
pressão arterial.

2. SUCO DE ABACAXI COM ERVA-CIDREIRA – Função: o abacaxi tem propriedades digestivas e é


também rico em vitamina C, que auxilia no fortalecimento do sistema imunológico. A erva-cidreira
tem propriedades calmantes e relaxantes.

Ingredientes
• 1 pedaço de abacaxi.
• 1 ramo de erva-cidreira.
• 2 cubos de gelo.
• 300mL de água.

Preparo
Bater tudo no liquidificador. Não precisa ser coado.

CIDREIRA-BRASILEIRA
Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Ex Britton & P. Wilson

A cidreira nativa do Brasil apresenta ampla variedade genética em suas populações, por isso, foi
classificada em vários tipos botânicos separados em função de suas características morfológicas e
químicas, sendo três os tipos mais comuns.

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1. Com folhas largas e ásperas, inflorescências com até
oito flores liguladas externas em torno de flores centrais
fechadas e óleo essencial rico em citral e mirceno.
Indicação: calmante e antiespasmódica.

2. Com folhas e ramos mais delicados que o tipo 1, disco


central de flores rodeado de três a cinco flores liguladas e
óleo essencial rico em citral e limoneno.

Indicação: calmante, antiespasmódica, sedativa e ansiolítica.

3. Morfologicamente parecido com o tipo 2, porém com


óleo essencial rico em carvona e limoneno.

Indicação: mucolítica facilitadora da expectoração de


secreções.
Nomes comuns: cidreira-de-rama, lipia, cidreira em rama, cidreira-do-brasil, melissa-de-mulher.
Princípios ativos: óleo essencial, saponinas, taninos, flavonoides e alcaloides.

Recomendações para plantio da Lippia alba

Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações

Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com Pode ser plantada diretamente
três nós. no canteiro ou em viveiro
(mudas).

Recomendações para colheita e pós-colheita da Lippia alba

Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações

Folhas e ramos floridos. A partir de cinco a seis Usada fresca ou seca em Até duas colheitas anuais.
meses após o plantio. secador a 40oC. Cortes de 10cm a 20cm do solo.

USO MEDICINAL E PREPARAÇÃO


CASEIRA COM CIDREIRA-BRASILEIRA
Lippia alba

1. CHÁ DE CIDREIRA – calmante, digestivo, contra cólicas e flatulência (Formulário de Fitoterápicos.


Anvisa, 2011)

Ingredientes
• 1g a 3g de folhas secas (1 a 3 colheres de chá).
• 150mL de água potável e filtrada.

Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar por 15 minutos e coar.

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Modo de usar: indivíduos de três a sete anos de idade – tomar 35mL do infuso, logo após o preparo,
de três a quatro vezes ao dia.

Entre sete e 12 anos de idade: tomar 75mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro
vezes ao dia.

Acima de 12 anos de idade: tomar 150mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro
vezes ao dia.

Maiores de 70 anos de idade: tomar 75mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro
vezes ao dia.

Advertência: doses acima das recomendadas podem causar irritação no estômago e queda de
pressão.

CAPIM-CIDREIRA
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.

O capim-cidreira é nativo da Ásia tropical,


especialmente da Índia.

É planta herbácea, perene, aromática, cresce


em forma de moita, estolonífera, com folhas
amplexicaules linear-lanceoladas, com tricomas
nas margens. Inflorescências do tipo panícula,
de cor amarela (não floresce no Brasil).

Nomes comuns: capim-cidreira, capim-limão, chá-de-estrada, capim santo, erva-príncipe (Portugal).

Princípios ativos: óleo essencial (citral, geraniol, metileugenol, mirceno, citronelal).

Recomendações para plantio do Cymbopogon citratus

Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações

Pleno sol. Regas moderadas e 1m x 0,5m. Divisão de touceira. Prefere solos areno-argilosos.
frequentes.

Recomendações para colheita e pós-colheita do Cymbopogon citratus

Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações

Folhas. A partir de seis Usado fresco ou seco à Corte na altura de 10cm do solo. De dois a três
meses após o sombra ou a 40oC. cortes anuais. O óleo essencial é extraído por
plantio. meio da destilação das folhas.

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USO MEDICINAL E PREPARAÇÃO
CASEIRA COM CIDREIRA-BRASILEIRA
Cymbopogon citratus

1. CHÁ DE CAPIM-CIDREIRA – cólicas intestinais e uterinas, calmante suave e contra ansiedade e


insônia leves.

Ingredientes
• 3g de folhas secas
• 150mL água potável e filtrada

Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 5 a 10 minutos e coar.

Modo de usar: para indivíduos maiores de 12 anos de idade – tomar 150mL, cinco minutos após o
preparo, de duas ou três vezes ao dia.

Advertência: pode aumentar o efeito de outros calmantes.

2. SUCO DE CAPIM–CIDREIRA COM LIMÃO (calmante)

Ingredientes
• 6 folhas compridas de erva-cidreira (capim-santo).
• 1 xícara (café) de suco de limão.
• açúcar a gosto.
• água filtrada gelada (até completar o copo do liquidificador + 1,5L).

Preparo
Bater a erva-cidreira com água no liquidificador.
Coar em pano ou peneira fina.
Colocar o suco de limão e bater mais.
Adoçar com o açúcar. Servir gelado.

3. DOCINHO DE CAPIM-CIDREIRA (relaxante)

Ingredientes
• 1 xícara de chá de leite (desnatado ou integral).
• 25 folhas de capim-cidreira (aproximadamente).
• 1 lata de leite condensado.
• 1 colher de maisena ou 1 colher de leite em pó.
• 1 colher de sopa de manteiga.
• Açúcar cristal ou coco ralado, para enrolar os
docinhos.
Preparações com capim-cidreira em oficina de
plantas medicinais na zona rural de Nazaré Paulista.

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Preparo
Bater no liquidificador a cidreira com o leite. Em uma peneira, coe a mistura, acrescente a maisena
ou o leite em pó e dissolva. Coloque em uma panela com o leite condensado e a margarina, apure
até dar o ponto (desprender do fundo da panela), em fogo baixo.

Depois da mistura fria, enrole e passe em açúcar cristal fino ou coco ralado. Coloque em forminhas
de papel para servir.

Observação: preparações com açúcar não podem ser consumidas por diabéticos.

LITERATURA CONSULTADA
BLANCO, M. C. S. G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais.

Campinas-SP, CATI, 2007 (Boletim Técnico 247).

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia


Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora, 2002.

Medicina Verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu (SP):


Agricultores/Lin Chau Ming; Coord. Marcio G. campos. Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu:
Universidade Estadual Paulista, 2015. 46 p.

PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto,


UNAERP, 2011.

SAA-CATI. Apostila da aula prática de plantas medicinais do Módulo 2 da capacitação em plantas


aromáticas e medicinais da Rede CATI. 2015.

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ERVA-BALEEIRA
Varronia curassavica Jacq.

Folhas Flores Frutos

A partir de uma preparação caseira da erva-baleeira, utilizada numa contusão pelo empresário
Victor Siaulys, do Laboratório farmacêutico Aché, foram iniciados no Brasil, no Centro Pluridisciplinar
de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA-Unicamp), estudos das ações terapêuticas
desta planta, culminando no desenvolvimento do primeiro fitomedicamento brasileiro, a pomada
acheflan. Esta conquista prova o quanto o conhecimento popular sobre plantas medicinais pode ser
importante para a Indústria farmacêutica, para a pesquisa nacional, bem como para a conservação
da biodiversidade brasileira.

Família: Boraginaceae

Gênero: Varronia

Espécie: Varronia curassavica Jacq.

Sinonímias: Varronia verbenacea (DC.) Borhidi, Cordia verbenacea DC

Nomes populares: Erva-baleeira, catinga-de-barão, maria-milagrosa, salicínia, erva-preta.

Ocorrência: Planta da Mata Atlântica, distribuída ao longo da região costeira do Brasil.

Descrição botânica: Arbusto perene, ereto, muito ramificado, aromático, com a extremidade dos
ramos um tanto pendentes, hastes revestidas por casca fibrosa, de 1,5-3m de altura.

Folhas: Simples, alternas, ásperas, aromáticas, bordas denteadas, de coloração verde-escura, com
5-9cm de comprimento.

Inflorescência: Flores pequenas, brancas, dispostas em inflorescências racemosas terminais, de 10-


15cm de comprimento.

Floração e Frutificação: Pode ocorrer durante o ano todo, principalmente nos meses mais quentes
da primavera/verão.

Polinização: Insetos – abelhas, vespas e besouros.

Frutos: Os frutos são pequenos, tipo cariopse esférica, de cor vermelho-escura. Atrai muitos
passarinhos que realizam a dispersão das sementes.

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Observação: importante fonte de recursos florais, principalmente
para abelhas e vespas, pelo seu longo período de florescimento.

ASPECTOS AGRONÔMICOS
PROPAGAÇÃO

A propagação ocorre por estacas de ponteiro (+ 10cm) ou por sementes, após retirada do arilo
em água. Deve ser semeada em sacos plásticos contendo substrato de solo, areia e esterco na
proporção 3:2:1 e a 1cm de profundidade. Após três meses de viveiro, as mudas ficam prontas para
o transplante no campo.

Espaçamento: 1,6m x 0,5 metros.

Colheita: As folhas devem ser colhidas pela manhã, efetuando-se o corte acima de 40cm do solo.

A época de colheita vai de maio até novembro, ocorrendo a partir de seis a 12 meses do plantio; e,
depois, a cada quatro meses.

Extração de óleo essencial (OE): destilação por arraste a vapor.

Secagem: Natural, à sombra, em local arejado e protegido (pequena quantidade) ou em secador a


35oC.

Composição química: Flavonoides (artemetina), alantoína, açúcares e óleo essencial. O óleo


essencial é composto principalmente por mono e sesquiterpenos e seus principais constituintes são
α-pineno, trans-cariofileno, allo aromadendreno e também α-humuleno que é o marcador padrão
para o fitomedicamento.

USO MEDICINAL

A erva-baleeira possui propriedades antiinflamatórias naturais. Diferentes espécies deste gênero


botânico são usadas na medicina popular como agente antinflamatória em todas as regiões tropicais
e subtropicais do mundo.

Na medicina tradicional, suas folhas são usadas como antirreumáticas, antinflamatórias, analgésicas,
antiartríticas, tônicas, antiulcerogênicas, redutoras de edemas e contra dores musculares e das
costas, em diferentes formas de preparo, tais como extrato alcoólico (popular garrafada), decocção
e infusão (via oral ou tópica em compressas) ou ainda em cataplasmas.

O Formulário Nacional Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira descreve o uso tópico das folhas de
Varronia verbenacea como antinflamatório por meio de duas formulações:

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FORMA DE INFUSO, COMO COMPRESSA
FÓRMULA
Componentes Quantidade
folhas secas 3g
água q.s.p. 150mL

Preparo: Preparar por infusão considerando a proporção indicada na fórmula.

Modo de uso: Uso externo. Aplicar compressa na região afetada, duas ou três vezes ao dia.

Advertência: Em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso.

Indicação: Antinflamatório.

FORMA DE GEL, USO TÓPICO


FÓRMULA
Componentes Quantidade
Extrato hidroetílico das folhas 10mL
Gel base q.s.p. 100g

Preparo: Preparar o extrato hidroetílico de folhas secas por percolação, utilizando como líquido
extrator álcool etílico a 70%, seguindo a RDE 1:2. Transferir o extrato hidroetílico para recipiente
adequado. Incorporar no gel base e misturar até homogeneização completa.

Modo de uso: Uso externo. Aplicar nas áreas afetadas, três vezes ao dia.

Advertência: Em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso.

Indicação: Antinflamatório.

LITERATURA CONSULTADA
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia
Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2 ed., 2021.217p.

MING, L. C. Medicina verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu


(SP). Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2015, 46p.

20
LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora, 2002.

PANIZZA, S. T.; VEIGA, R. S. ; ALMEIDA, M. C. Uso tradicional de plantas medicinais e fitoterápicos.


1. ed. São Luis: Conbrafito, 2012. 267p.

PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto,


UNAERP, 2011.

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ERVAS-DOCES
Muitas plantas possuem nomes comuns ou populares iguais, apesar de serem plantas de espécies
diferentes. Por isso, é comum ocorrerem dúvidas em relação à sua identificação. As ervas-doces são
um bom exemplo.

No Brasil, temos duas plantas conhecidas como erva-doce, a Pimpinella anisum L.,de origem asiática
e sem cultivo expressivo no Brasil, sendo, portanto, produto essencialmente importado, e aquela
também conhecida por funcho, que possui duas variedades cultivadas em várias regiões brasileiras,
uma delas a Foeniculum vulgare Miller subsp. vulgare var. vulgare, para produção de frutos para
uso aromático e medicinal, e outra, a Foeniculum vulgare Miller subsp. vulgare var. dulce (Miller)
Thellung, cujo bulbo − ou cabeça − é comercializado como hortaliça.

Uma terceira espécie, que conhecemos como anis ou anis-estrelado (Iliciumverum Hook.f.), pode
também causar confusão, pois, na Europa, a planta conhecida como anis é a Pimpinella anisum L.,
aqui denominada de erva-doce.

Este guia tem o intuito de elucidar as diferenças dessas plantas, auxiliando na sua identificação
botânica e nos usos corretos de cada uma. No caso do funcho, também são descritas informações
técnicas de cultivo, para sua adequada produção.

ERVA-DOCE
Pimpinella anisum L.

Família: Apiaceae.

Nomes populares: erva-doce, anis, anis-verde, pimpinela-


--branca.

Planta tradicional da culinária e medicina europeia e asiática,


a erva-doce é de clima temperado. Sua produção no Brasil é
inexpressiva, sendo encontrada, especialmente, no Sul do País.

Flores Frutos

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Origem: Ásia, regiões temperadas.

Descrição botânica: erva aromática, ereta, que atinge até 50cm de altura. As folhas são compostas
de formas variadas e fendidas. As flores pequenas, de cor branca, são dispostas em umbelas com-
postas. Os frutos são ovoides, com dois aquênios, de sabor adocicado e aromático.

Composição química: óleo essencial (anetol – 90 a 95%), glicosídeos, cumarinas, flavonoides e es-
teroides.

Uso alimentício: os frutos são usados como aromatizantes de bebidas e de preparações culinárias,
como doces e artigos de panificação.

Uso medicinal: o fruto é usado como digestivo, contra perda de apetite, cólicas, resfriado, tosse,
febre e bronquite e como estimulante da lactação.

É uma planta da farmacopeia brasileira, sendo indicada como antidispéptica e antiespasmódica, na


forma de chá por infusão (7g de frutos secos e amassados para 150mL de água fervente).

Observação: as folhas da erva-doce e do funcho também podem ser usadas na


forma de chá, porém são menos aromáticas que os frutos, tornando a bebida
mais suave.

FUNCHO
Foeniculum vulgare Mill.

Família: Apiaceae.

Nomes populares: erva-doce, erva-doce-de-cabeça, falsa


erva-doce, falso anis, funcho-italiano, funcho-vulgar, erva-doce-
-brasileira, fiolho, entre outros.

Possui inúmeras variedades e cultivares, sendo que a variedade


dulce é hortícola e forma “cabeça”, que é o produto comercial.

Flores Frutos Bulbo ou cabeça

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Origem: Europa mediterrânea, sendo cultivada em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Descrição botânica: erva anual ou bienal, aromática, formação levemente entouceirada e que atin-
ge entre 40cm e 90cm de altura. As folhas são compostas pinadas, de formas variadas, dependendo
da cultivar ou variedade. As flores são pequenas, hermafroditas, de cor amarela, dispostas em um-
belas compostas. Os frutos são oblongos, com dois aquênios aromáticos.

Composição química: óleo essencial (anetol – 60 a 95%, funchona, foeniculina, metilchavicol, entre
outros), cumarinas, flavonoides e esteroides.

Uso alimentício: os frutos são usados como aromatizantes de bebidas e de preparações culinárias,
como doces e artigos de panificação. O bulbo ou cabeça, da variedade hortícola, é usado em saladas,
quiches etc.

Uso medicinal: o fruto é usado principalmente como digestivo, carminativo (contra gases intesti-
nais), antiespasmódico, para estimular a lactação e como expectorante.

É planta da Farmacopeia Brasileira, sendo indicada como auxiliar no tratamento sintomático de


queixas gastrintestinais leves, tais como cólicas, distensão abdominal e flatulência, na forma de chá
por infusão (7g de frutos secos para 150mL de água fervente). Como auxiliar no alívio de sintomas
dispépticos, antiespasmódico e antiflatulento, é usado na forma de tintura por percolação (10g e
frutos secos para 100mL de álcool etílico 40% q.s.p.).

ASPECTOS AGRONÔMICOS
Propagação: sementes, por meio de semeadura em linhas no local definitivo (de 3kg a 5kg de se-
mentes/ha) ou produção de mudas em recipientes.

Época de plantio: ano todo, em regiões de clima ameno; de março a abril, em regiões mais quentes.
O plantio deve ser feito em locais a pleno sol.

Espaçamento: 1,2m x 0,8m.

Desenvolve-se melhor em regiões de clima ameno, em plantio a pleno sol e em solos bem drenados,
profundos, leves e férteis.

Adubação: a adubação nitrogenada aumenta o teor de óleos essenciais, por isso, recomenda-se
aplicar no plantio 10kg/ha de N e, em cobertura, 50kg/ha de N, parcelando em duas vezes, aos 20 e
aos 60 dias após o plantio, repetindo nos anos seguintes. Fontes de N sugeridas: composto orgânico,
torta de mamona, estercos bem curtidos.

Doenças: pode ocorrer podridão bacteriana e doenças fúngicas por Fusarium, Phytium, Cercospora
e Alternaria.

Pragas: suscetível ao ataque de pulgões e cochonilhas.

Colheita: em torno do quinto mês, quando os frutos estão com os aquênios bem desenvolvidos e de
coloração esverdeada a parda. Logo após a colheita, devem ser colocados para secar, pendurados ou
sobre tela a sombra ou, quando necessário, no secador no máximo a 35oC.

Rendimento: de 0,8 a 2 toneladas de frutos secos/ha.

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ANIS-ESTRELADO
Illicium verum Hook.f.

Família: Magnoliaceae.

No Brasil, a planta Ilicium verum é conhecida como anis-es-


trelado; porém, no resto do mundo, a denominação anis ou
anis-verde é dada à planta Pimpinella anisum, que, no Brasil, é
chamada de ‘erva-doce’.

Origem: China e Vietnã. Não é cultivada no Brasil, sendo im-


portada principalmente da Europa e Ásia.

Descrição botânica: o anis-estrelado é uma árvore que pode chegar até 18m de altura em estado
nativo, mas, em cultivos, procura-se manter a planta com um porte bem mais baixo, entre 3m e 4m.
Possui folhas largas e de verde intenso. As flores, solitárias, são hermafroditas, e a coloração vai de
branca até vermelha. Os frutos têm o formato de estrela, consistindo em oito carpelos arranjados
em torno de um centro. Cada carpelo é rígido, com o formato de barca, contendo cada um uma se-
mente marrom, ovoide, brilhante e muito aromática, ou seja, rica em óleo essencial.

Composição química: óleo essencial (anetol, felandreno, safrol, terpinol, 1,4 cineol).

Uso alimentício: aromatizante de bebidas e preparações culinárias.

Uso medicinal: usado principalmente como digestivo, carminativo e antiespasmódico. Também foi
utilizado para fabricação do medicamento Tamiflu, indicado como antiviral.

LITERATURA CONSULTADA
BLANCO, M. C. S. G. et al. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Boletim Técnico 247, Campi-
nas-SP, CATI, 2007.

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco-


peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

HARAGUCHI, L. M. M.; CARVALHO, O. B. (Org.). Plantas Medicinais: do curso de plantas medicinais.


São Paulo: Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, 2010. 248p.

LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora, 2002.

25
MING, L. C. Medicina verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu
(SP). Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2015, 46 p.

Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Illicium_verum

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GUACOS
Mikania glomerata Spreng e
Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker

Mikania laevigata

Mikania glomerata

No bioma brasileiro da Mata Atlântica ocorrem duas espécies de guaco, cujas propriedades medi-
cinais foram comprovadas e, por isso, as duas espécies foram incluídas na Farmacopeia Brasileira.
Ambas possuem ação broncodilatadora, sendo indicadas como expectorante, e têm como princípio
ativo principal a cumarina.

Família: Asteraceae.

Gênero: Mikania.

Espécies: Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker e Mikania glomerata Sprengel.

Nome popular: guaco, guaco-de-cheiro, guaco-trepador, cipó-catinga, cipó-sucuriju, coração-de-


-jesus, erva-de-cobra.

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DESCRIÇÃO BOTÂNICA
Ambas as espécies são subarbustos trepadores perenes, de grande porte, possuindo ramos le-
nhosos, cilíndricos, ramificados e glabros. As folhas são opostas, ovaladas, de consistência rígi-
da, pecioladas, simples, com três a cinco nervuras bem evidentes, carnosas, na cor verde-bri-
lhante na parte superior.

Para ter certeza sobre a qual espécie pertence, basta observar as características e as diferenças entre
as folhas de cada planta.

Principais diferenças genéticas e morfológicas entre as duas espécies de guaco.

Características M. glomerata M. laevigata


Genéticas 2n = 36 2n = 38
Morfológicas Folhas têm medidas de Folhas de comprimento maior
comprimento e largura muito que a largura (ou seja, mais
próximas, com base hastada compridas e estreitas do que
e os dentes laterais muito as de M. glomerata), base
evidentes. não hastada e dentes laterais,
quando presentes, pouco
evidentes.

Flores: branco-creme, reunidas em capítulos.

Floração: julho e agosto.

Polinização: abelhas.

Ocorrência: nativa da região Sul do Brasil, sendo cultivada em outros estados.

Composição química: cumarina (princípio ativo principal), ácidos cafeoilquínicos (clorogênico e di-
cafeoilquínico), terpenos (ácido caurenoico).

ASPECTOS AGRONÔMICOS
Planta trepadeira, sendo recomendável
conduzir em espaldeira ou latada no
sentido N/S.

Para a produção de mudas, utilizar


estacas medianas ou basais com três
gemas ou nós e um par de 1/2 folhas.
Enterrar duas gemas ou dois nós da
estaca e deixar uma gema para fora com
um par de folhas cortadas ao meio.

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Espaçamento: 1m – 1,5m x 2m.

Desenvolve-se bem em solos com muita matéria orgânica e tolera solos ácidos.

Adubação de plantio: 2kg de composto + 150g de fosfato natural + 300g de cinza vegetal por planta.

Adubação de cobertura: realizar anualmente com composto e cinzas na dosagem do plantio.

Pode ser cultivado a pleno sol ou à meia-sombra, sendo que o sombreamento favorece a produção
de cumarina, o que indica que seu plantio em Sistema Agroflorestal (SAF) é positivo e recomendado.

Irrigação: realizada em dias alternados; planta exigente em água.

Doenças: já foi documentada a ocorrência de antracnose (Colletotrichum spp), doença fúngica que
ocasiona manchas nas folhas, e do fungo Macrophomina sp., típico de solo, que ocorre em rebolei-
ras, prefere período de pouca chuva e as temperaturas elevadas infectam a raiz da planta, que seca
e morre.

Pragas: podem ocorrer larvas formadoras de galhas nas folhas e lagartas nas inflorescências.O con-
trole das doenças e pragas deve ser natural, com práticas preconizadas pelo sistema orgânico ou
agroecológico de produção.

Colheita: a partir de oito a 12 meses do plantio. E depois, a cada seis meses. Colher 60% de ra-
mos das brotações secundárias (mais novas) e na pré-floração, pois os maiores teores de cumarina
(principal princípio ativo e mais significativo) são observados, segundo Castro et al. (2006), em fo-
lhas jovens (5,2mg.g-1 de matéria seca), seguidos por flores (1,04mg.g-1 de matéria seca), caules
(1,05mg.g-1 de matéria seca) e raízes (0,11mg.g-1 de matéria seca).

Rendimento anual: entre 1,5 e 2,5 toneladas/ha de massa seca.

A secagem deve ser realizada em secador a 45oC, por 36 horas.

Uso medicinal: age em gripes e resfriados, bronquites alérgica e infecciosa e como expectorante.
Tem ação broncodilatadora confirmada pela Central de Medicamentos (Ceme), fazendo parte da
Farmacopeia Brasileira e da RDC 10/2010, que trata das drogas vegetais.

É uma das plantas selecionadas pelo Projeto Farmácia Viva de Campinas/Sistema Único de Saúde
(SUS), com as seguintes orientações contidas na cartilha municipal, conforme indicações da Anvisa,
segundo o Formulário dos Fitoterápicos (2011):

Nome científico: Mikania laevigata Sch. Bip. Ex Baker.

Nome popular: guaco-de-cheiro.

Parte utilizada: folhas.

Constituintes principais: cumarina (princípio ativo principal), ácidos cafeoilquínicos (clorogênico e


dicafeoilquínico), terpenos (ácido caurenoico).

Indicações: alívio sintomático de afecções produtivas das vias aéreas superiores.

Uso interno: expectorante, broncodilatador.

29
POSOLOGIA E FORMA DE PREPARO
Uso interno: infusão - uma colher de sopa (3g) de folhas secas para uma xícara de chá (150mL) de
água. Acima de 12 anos de idade: duas vezes ao dia, logo após o preparo.

RECEITA DE XAROPE CASEIRO

• 25 folhas frescas picadas para uma e ½ xícara de chá (255g) de açúcar e uma xícara de chá (150mL)
de água. Em calor brando (60°C a 80°C), preferencialmente em banho-maria, dissolver o açúcar
na água até formar uma calda fina; em seguida, colocar as folhas, misturar e tampar. Ao levantar
fervura, desligar o fogo e deixar em repouso por uma hora tampado. Coar. Colocar em recipiente
higienizado, de preferência em vidro âmbar. Armazenar em geladeira ou em local fresco. Essa pre-
paração não pode ser usada por mais de sete dias e deve-se verificar frequentemente se o xarope
não fermentou (azedou). Crianças de três a seis anos de idade: tomar uma colher de chá (5mL),
duas vezes ao dia. Crianças de sete a 12 anos: tomar uma colher de sobremesa (10mL), três vezes
ao dia. Acima de 12 anos: tomar uma colher de sopa (15mL), três vezes ao dia. Agitar antes de usar.

Atenção: contraindicado a pacientes portadores de diabetes mellitus, gestantes, lactantes e


crianças menores de dois anos de idade.

Cuidados: não utilizar em caso de tratamento com anticoagulante. A utilização pode interferir
na coagulação sanguínea. Doses acima das recomendadas podem provocar vômitos e diarreia.

RECEITAS DE PREPARAÇÕES CASEIRAS COM GUACO

Algumas preparações caseiras com guaco foram testadas na Cozinha Experimental da Departamento
de Extensão Rural (Dextru/CATI/SAA) e podem ser conferidas via links:

1. Xarope de guaco com açúcar


https://www.youtube.com/watch?v=IpjWh5FqO_8

2. Xarope de guaco com mel


https://www.youtube.com/watch?v=PQ9Mw2vhRSQ

3. Bala de guaco com mel (contra tosse)


https://www.youtube.com/watch?v=zz8mhUgetms

LITERATURA CONSULTADA
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco-
peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.

CASTRO, E. M. et al. Coumarin contents in young Mikania glomerata plants (Guaco) under different
radiation levels and photoperiod. Acta Farmacêutica Bonaerense, v. 25, n. 3, p. 387-92, 2006.

COLETTO, L. M. M., PEREIRA, B. M. R., CARDOSO Jr., E. L. C. Plantas medicinais nativas dos remanes-
centes florestais do oeste do Paraná. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009.

30
LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum de estudos da Flora, 2002.

PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto,


UNAERP, 2011.

SUS - Prefeitura de Campinas. Cartilha de plantas medicinais, Campinas, 2019.

31
Maria Cláudia Silva Garcia Blanco 1
Beatriz Cantusio Pazinato 2

Cultivar saúde implica cuidar do corpo, da mente e do espírito. Nesse sentido, a prática de plantar
e manejar uma horta é uma terapia para se obter essa saúde integral, pois produz alimentos e re-
médios, promove atividades saudáveis para o corpo com a importante exposição ao sol, principal
fonte de vitamina D, e proporciona momentos de reflexão, meditação, contemplação e de sensações
(aromas e sabores) que beneficiam a mente e o espírito.

Ter uma horta medicinal pode significar ter plantas medicinais cultivadas junto com hortaliças ou
no meio do pomar, no jardim ou no quintal ou até mesmo em recipientes como vasos, garrafas PET,
caixotes, entre outros.

Para iniciar essa atividade produtiva deve-se, primeiramente, conhecer um pouco sobre cada planta
medicinal que se pretende cultivar:
• sua identificação botânica;
• seu tipo de crescimento ou porte (erva, arbusto, trepadeira, árvore etc.);
• sua necessidade de luz (pleno sol, meia sombra ou sombra);
• sua necessidade de água (regas abundantes, regas moderadas, frequentes ou pouca água).

Com essas informações, escolher o tipo e tamanho do recipiente (quanto maior o porte da planta,
maior o recipiente); o local adequado de incidência solar e o modo e a frequência das regas, que vai
depender da época do ano, da textura do solo e das necessidades de cada tipo de planta.

Após isso, devemos preparar o solo para receber as sementes ou mudas que precisam ser sadias e
de boa procedência.

__________
1
Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA.
2
Nutricionista, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA.

32
• Para cultivo direto no solo: fazer canteiros com cerca de 30cm de altura para proporcionar a
drenagem, utilizar 100g/m2 de calcário para correção da acidez do solo e cerca de 3 a 5kg/m2 de
húmus ou composto orgânico para adubar e proporcionar boa textura ao solo.

• Para cultivo em recipientes: utilizar uma mistura de terra, composto orgânico/húmus ou torta de
mamona nas seguintes proporções:
terra : húmus = 1 : 1 ou
terra : torta de mamona = 3 : 1 ou
terra : areia : húmus = 1 : 1 : 1, quando a terra for muito argilosa.

Ao montar os vasos, colocar no fundo pedriscos, cacos ou argila expandida para drenar o excesso
de água.

Após colocar a mistura de terra, fazer a semeadura que deve ser realizada na profundidade exigida;
quanto menor a semente, mais superficial é a semeadura. No caso de mudas, retirar do recipiente e
colocá-las em buracos na terra, apertando levemente com as mãos ao seu redor.

As mudas podem ser adquiridas no mercado ou produzidas em recipientes como copinhos ou sacos
plásticos, em local sombreado (viveiro) por meio de sementes, estacas de galhos ou a partir de ou-
tras estruturas propagativas como os rizomas e os rebentos, dependendo de cada planta.

Para completar, regar bem sem encharcar e cobrir o solo do canteiro ou do vaso com capim seco,
casca de arroz ou outra cobertura, evitando a erosão e os respingos de terra nas plantas quando
forem regadas.

Adubar com composto orgânico ou torta de mamona a cada dois ou três meses, para o bom desen-
volvimento das plantas.

É importante evitar o contato de animais domésticos em sua Farmácia Viva.

Colher sempre usando instrumentos limpos e afiados, na época certa e do modo adequado.

Seguem informações sobre seis plantas medicinais que não podem faltar em sua horta medicinal.

Recomendações para plantio


Necessidade Necessidade Espaçamento e
Planta medicinal Observações
de luz de água * propagação
Alecrim Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,6m. Arbusto aromático e perene.
Rosmarinus Mudas por ementes ou Transplantar quando a muda
officinalis L estacas apicais com 10cm tiver de 20cm a 25cm.
a 15cm.
Babosa Pleno sol. Pouca água. 1m x 0,6m. Erva perene. Os rebentos
Aloe vera (L.) Rebentos. podem ser plantados
Burm. f. diretamente no local
definitivo.**
Boldo Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Arbusto perene. Pode ser
Plectranthus Estacas com três nós. plantado diretamente
barbatus Andrews no local definitivo ou em
viveiro (mudas).
Capim-cidreira Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Erva aromática. Prefere
Cymbopogon Divisão de touceira. solos areno-argilosos.
citratus (DC.) Pode ser plantada
Stapf diretamente no local efinitivo.

33
Necessidade Necessidade Espaçamento e
Planta medicinal Observações
de luz de água * propagação
Hortelã comum Pleno sol ou Regas moderadas. 0,3m x 0,3m. Erva aromática perene.
Mentha x villosa L. meia-sombra. Estolões ou rizomas com Mudas são produzidas em
10cm ou sementes. viveiro. Prefere solo orgânico.
Manjericão Pleno sol. Regas moderadas. 0,6m x 0,25m. Erva aromática perene.
Ocimum Sementes ou estacas Plantio de sementes ou
basilicum L. apicais com 10cm a 15cm. mudas na primavera.
Planta muito visitada por
abelhas (melífera). Podem-se
cortar as primeiras florações
para aumentar o número de
folhas e o ciclo da planta.

* Verificar a aparência da planta: se estiver murcha, precisa de mais água. Nunca encharcar o solo, pois as raízes podem
apodrecer.
** local definitivo = canteiro, vaso ou outro recipiente.

Recomendações para colheita e pós-colheita

Planta medicinal Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações


Alecrim Folhas Primeira colheita Usada fresca ou seca Pode-se colher duas vezes/ano
após um a dois anos à sombra ou a 40oC. no outono (metade superior da
do plantio, quando planta) e na primavera (a 50cm
bem formado. do solo) ou uma vez por ano na
primavera (a 15cm do solo).
Babosa Folhas maiores A partir de um ano Usada fresca, manter Colher cinco ou seis folhas
que 50cm do plantio, após refrigerada. externas/planta. Após colheita,
primeira florada. fazer amontoa (chegar terra no
pé da planta).
Boldo Folhas A partir de quatro Usada fresca ou seca Colheitas a cada quatro meses.
a seis meses do em secador a 40oC. Durante a secagem, revolver as
plantio. folhas a cada duas horas.
Capim-cidreira Folhas A partir de seis Usada fresca ou seca Corte na altura de 10cm do solo.
meses do plantio. à sombra ou a 40oC. Dois a três cortes anuais.
Hortelã comum Parte aérea A partir de três Usada fresca ou seca Cortar a 5cm do solo. Até quatro
meses do plantio. ao natural ou em cortes anuais, conforme o
secador a 40oC. desenvolvimento.
Manjericão Folhas Após dois a quatro Usada fresca ou seca Cortes realizados a 15cm do
meses do plantio. a sombra ou em solo, colher preferencialmente
secador a 40oC. de manhã.

RECEITAS MEDICINAIS
1. CHÁ DAS FOLHAS DE ALECRIM – anti-inflamatório, antisséptico, cicatrizante, antioxidante e
contra má digestão e distúrbios circulatórios.

Ingredientes
• 2g de folhas secas ou uma colher de chá de folhas frescas.
• 150mL de água potável e filtrada.

34
Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 15 minutos e coar.

Modo de usar: uso interno acima de 12 anos de idade: tomar 150mL do infuso, 15 minutos após o
preparo, três a quatro vezes entre as refeições. Uso tópico ou externo: aplicar no local afetado duas
vezes ao dia.

Advertências: não usar em pessoas com gastroenterites e histórico de convulsões. Não utilizar em
gestantes. Doses acima das recomendadas podem causar nefrite e distúrbios gastrointestinais. Não
usar em pessoas alérgicas ou com hipersensibilidade ao alecrim.

2. GEL CONGELADO DE BABOSA – contra queimaduras e assaduras.

Ingredientes
• Folha fresca de babosa (de planta adulta, +- 50cm).

Preparo
Tire os espinhos da folha de babosa, lave-a na água corrente e deixe escorrer a resina amarela por
umas seis horas. Retire toda a casca e corte a massa de gel transparente em pedaços de dois a três
centímetros enrolando cada pedaço em papel alumínio, e guarde no congelador até o momento
do uso.

Modo de usar: para o tratamento de queimaduras e assaduras, passar o gel congelado ou fresco
diretamente no local lesionado.

3. CHÁ DE BOLDO – digestivo e contra mal-estar ocasionado por intoxicação alcoólica

Ingredientes
• 1g a 3g de folhas secas ou uma folha fresca.
• 150mL de água potável e filtrada.

Preparo
Com folhas secas ─ preparar por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar
por 15 minutos e coar. Com folha fresca - preparar por maceração, ou seja, picar e socar a folha,
acrescentar água fria e deixar macerando (“de molho”) por alguns minutos.

Modo de usar: tomar 150mL duas ou três vezes ao dia, logo após o preparo. Atenção: somente para
maiores de 12 anos de idade.

Advertências: não indicado para gestantes, lactantes, crianças e pessoas com hepatite ou
obstrução das vias biliares e hipotensas (seu uso pode diminuir a pressão arterial). Doses acima das
recomendadas e por período de tempo maior podem causar irritação no estômago.

4. CHÁ DE CAPIM-CIDREIRA ─ cólicas intestinais e uterinas, calmante suave e contra ansiedade e


insônia leves.

Ingredientes
• 3g de folhas secas.
• 150mL água potável e filtrada.

35
Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 5 a 10 minutos e coar.

Modo de usar: para maiores de 12 anos de idade ─ tomar 150mL, cinco minutos após o preparo, de
duas a três vezes ao dia.

Advertência: pode aumentar o efeito de outros calmantes.

5. PÓ DE HORTELÃ ─ antiparasitário (ameba e giárdia)

Ingredientes
• Folhas de hortelã.

Preparo
Secar à sombra ou em secador a 40oC e triturar até a forma de pó.

Modo de usar: usar o pó na dose de 1/2 colher de café, três vezes ao dia, durante cinco dias. Pode
ser misturado ao mel ou amassado com frutas. Para menores de 12 anos de idade: usar 1/4 da co-
lher de café do pó.

Observação: o tratamento deve ser repetido após 10 dias, devendo-se observar, durante e depois,
os cuidados na higiene pessoal e de toda família.

6. CHÁ DAS FOLHAS DE MANJERICÃO ─ contra distúrbios digestivos e sintomas da gripe e antioxidante

Ingredientes
• 3g de folhas ou uma colher de sobremesa.
• 150mL de água potável e filtrada.

Preparo
Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 15 minutos e coar.

Modo de usar: tomar uma xícara (150mL) antes das principais refeições ou de duas a três vezes ao
dia para combater os sintomas de gripes.

36
CONTROLE NATURAL DE MATO, PRAGAS E
DOENÇAS NA HORTA MEDICINAL
Maria Cláudia Silva G. Blanco1
Flávio M. Garcia Blanco2

1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, recebemos frequentes dúvidas de como acabar com o ataque de pragas e
doenças em pequenas lavouras e hortas. Primeiramente, torna-se importante esclarecer que nunca
acabamos com estes organismos, todavia controlamos sua população para que ela não ocasione
danos significativos ao desenvolvimento das culturas. A palavra-chave para isso é “convivência”.

Outro ponto relevante é saber que plantas saudáveis são mais resistentes a esses ataques
e, por isso, o controle começa no solo que irá recebê-las, o qual deve ser vivo, rico em organismos
e micro-organismos responsáveis pordisponibilizar nutrientes para as plantas, com bom teor de
matériaorgânica, sem contaminantes químicos (exemplo: agrotóxicos e metais pesados) e biológicos
(alta concentração de organismos fitopatogênicos).

Após a conscientização a respeito desses dois pontos, podemos iniciar a orientação para
um manejo integrado com diversas práticas agronômicas, para evitar a proliferação da população
dos insetos-pragas, dos agentes de doenças e do mato formado por plantas espontâneas, as quais
surgem no sistema e competem com as culturas por luz, água e nutrientes.

1.1 Horta Medicinal


A Horta Medicinal deve ser conduzida em sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção,
pois promovem o bom desenvolvimento das culturas, favorecendo o teor e a composição das
substâncias bioativas responsáveis pelas propriedades terapêuticas.

O maior equilíbrio do agroecossistema, promovido pelas técnicas do manejo agroecológico,


minimiza a pressão das populações de insetos, micro-organismos ou plantas capazes de prejudicar
as culturas. Porémqualquer desequilíbrio no sistema produtivo pode favorecer essas populações,
por talmotivo o controle fitossanitário deve ser realizado adotando-se um manejo complexo
constituídode várias práticas.

• Práticas culturais e preventivas

Seleção da área, uso desementes e mudas sadias, rotação de culturas, controle da erosão,
adubação equilibrada, cobertura do solo, adubação verde, usode biofertilizantes, policultivo com
plantas companheiras e plantasarmadilhas ou repelentes.

__________
1
Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA.
2
Eng. Agrônomo Pesq.Cient., Instituto Biológio/SAA.

37
• Práticas mecânicas

Catação manual de pragas, eliminação de plantas doentes e uso de armadilhas (placas


coloridas, atrativas e adesivas, luminosas e outras).

• Práticas biológicas

Emprego de inimigosnaturais (predadores eparasitas).

• Práticas químicas

Uso de produtos permitidos pela legislação federal, utilização de substânciasquímicas naturais


com baixo nível toxicológico, como enxofre, caldas bordalesa e sulfocálcica, sulfato de alumínio e
extratos de plantas (chás e alcoolaturas de plantas consideradas medicinais, como,por exemplo,
camomila e cavalinha). Importante lembrar que o aplicador desses produtos deve usar equipamento
de proteção individual (EPI).

2. PRINCIPAIS PRAGAS DA HORTA MEDICINAL

2.1. Ácaros
São aracnídeos sugadores, na maioriainvisíveis a olho nu. Sua presença é notada pela
presença de teias na parte inferior das folhas, em brotações novas, flores e frutos. Plantas como o
cravo-de-defunto (Tagetes sp), coentro e alho podem ser repelentes.

2.2. Cochonilhas
São insetos sugadoresminúsculos, podem ou não ter carapaça e se encontram na parte
inferior defolhas, ramos, perfilhos e raízes. Sugam a seiva das plantas, excretam substância açucarada
e, por isso, geralmente atraem formigas. Joaninhas e vespas são seus inimigos naturais.

2.3. Formigas
São insetos que, quando cortadeiras, podem desfolhar drasticamente as culturas. O tanaceto
(Tanacetumvulgare) é uma planta usada para repelir formigas.

2.4. Lagartas
São a fase jovem das borboletas e mariposas, umas podem ser urticantes, outras verdes da
cor da folha e, dessa forma, difíceis de serem percebidas. São insetos mastigadores os quais causam
grande prejuízo para a parte aérea das plantas.

Para controle, fazer catação manual (utilizar luvas adequadas). O alecrim (Rosmarinusofficinalis)
pode repelir algumas espécies de lagartas.

38
2.5. Lagartas-do-maracujá
Existem duas espécies, uma que vive em grupo (Dione junojuno) e outra solitária
(Agraulisvanilae), ambas desfolham o maracujazeiro, comprometendo a produção.

Em áreas pequenas da cultura, recomenda-se a catação manual dos ovos e das lagartas e o
plantio próximo às matas nativas, para aumentar os inimigos naturais. Alguns percevejos e vespas
são predadores dessas lagartas.

2.6. Larva-minadora
Na fase jovem, alguns insetos formam galerias nas folhas. Para controle, eliminar as folhas
afetadas e usar armadilhas amarelas e adesivas. O alho pode repelir esses insetos.

2.7. Lesma e caracol


São moluscos que atacam raízes e folhas. A maior infestação ocorre na época das chuvas e
em solos com deficiência de drenagem. Seu controle é realizado com uso de armadilhas atrativas
(estopas embebidas com leite ou cerveja) para captura e posterior eliminação (enterrio profundo ou
queima).

2.8. Pulgões
São insetos sugadores de multiplicação muito rápida. Apresentam coloração variada. Sugam,
preferencialmente, as brotações dos meristemas apicais e a face inferior das folhas. Produzem
substância açucarada que atrai as formigas.

As joaninhas são inimigas naturais e podem ser atraídas pelo mentrasto (Ageratumconyzoides).
Armadilhas adesivas de coloração amarela são utilizadas para seu controle e o cravo-de-defunto
pode ser plantado em meio àcultura, agindo como repelente.

2.9. Vaquinhas
São besouros pequenos, rajados, que se alimentam das folhas. Mentrasto (A. conyzoides)
e erva-de-santa-maria (Chenopodiumambrosioides) são plantas repelentes. O uso de armadilhas,
como as placas amarelas adesivas,também é recomendado.

3. PRINCIPAIS DOENÇAS
Os fungos causam as principais doençasnas plantas medicinais, seguidos das bactérias e dos
vírus.

O manejo equilibrado da adubação e da irrigação são muito importantes para o controle das
doenças, também é recomendada a eliminação das plantas doentes e o controle dos insetos vetores
de viroses.

Plantas medicinais como a cavalinha, rica em sílica, é usada para aumentar a resistência das
plantas. A perpétua, que é uma planta antiviral, pode ser usada na produção de mudas, sendo este
um estágio crítico das plantas em relação ao contágio por vírus.

39
4. PLANTAS INFESTANTES OU DANINHAS
São chamadas plantas infestantes ou daninhas as espécies que se desenvolvem no sistema
produtivo sem terem sido semeadas e que, dependendo da sua quantidade e conforme o estágio
de desenvolvimento das plantas cultivadas, podem prejudicar, significamente, sua produtividade.
Por isso, também devem ser controladas, mantendo-se uma população dessas plantas que não
proporcione grandes danos para as culturas.

Cabe salientar que muitas desssespécies de plantas são medicinais e/ou são atrativas de insetos,
atuando como armadilhas e companheiras (ex.: mentrasto, erva-de-santa-maria, tanaceto e picão-
-preto).

4.1. Controle recomendado


• Escolher a área para instalação da horta, evitando locais com presença de plantas que podem se
problemáticas – perenes, como a tiririca (Cyperusrotundus), trapoeraba (Commelinabenghalensis)
egrama-seda (Cynodondactylon).

• Preferir o sistema de cultivo mínimo ou plantio direto.

• Usar cobertura do solo com palhadas e outros materiais.

• Utilizar mudas, sementes, substratos e cobertura vegetal livres de propágulos destas plantas,
incluindo o maquinário e a ferramenta.

• Antes do plantio, realizar preparo prévio do solo, permitindo que ocorram os primeiros fluxos de
germinação dessas plantas e depois eliminar as suas plântulas com uma grade leve ou capina.

• Em áreas já infestadas, realizar plantio de adubos verdes, com corte e incorporação no solo, no
momento anterior àmaturação de suas sementes.

• Utilizar o espaçamento mínimo permitido (cultivo adensado), para que o sombreamento das
entrelinhas da cultura ocorra o mais breve possível, controlando o desenvolvimento dessas plantas,
devido àcompetição por luz.

• Utilizar plantio de plantas em consórcio, ocupando, assim, o solo com outras culturas, ou seja,
diminuindo o espaço disponível para essas plantas que podem ser danosas.

• Sempre aplicar a adubação e a irrigação próximas ao colo da planta medicinal, favorecendo, dessa
forma, a sua competição em relação às plantas infestantes.

• Realizar o controle mecânico por meio de enxadas, cultivadores, roçadeiras, logo após o início do
plantio, até que a cultura cresça e ocupe os espaços das entrelinhas.

• Não utilizar as roçadeiras quando as plantas infestantes estiverem no estágio de formação de


sementes, pois pode ocasionar uma chuva de sementes, aumentado significativamente seu
número no solo.

• NUNCA realizar roçadas em áreas com a presença de tiririca (Cyperusrotundus) egrama-seda


(Cynodondactylon) na época das chuvas, primavera/verão (região Sudeste), pois acarretará
aquebra de dormência dos rizomas e estolões, pela ação mecânica das capinas, resultando na
consequente ‘explosão’ das populações dessas espécies.

40
5. PLANTAS COMPANHEIRAS E PRODUTOS NATURAIS DE CONTROLE

5.1. Plantas companheiras


Plantas como citronela (Cymbopogon winterianus), arruda (Rutagra veolins), mentrasto
(Ageratum conyzoides), capuchinha (Tropaelum majus) e cravo-de-defunto (Tagetes sp) são
exemplos de plantas que repelem ou atraem para si insetos e devem ser cultivadas no meio da horta
medicinal, ajudando no controle de pragas.

O plantio pode ser em faixas, nas bordaduras ou entre os canteiros. Além de protegerem,
podem ser exploradas economicamente em função de suas qualidades terapêuticas.

5.2. Produtos naturais


A aplicação desses produtos deve ser complementar às práticas preventivas e realizada
somente quando for necessária, respeitando-se as dosagens, as frequências de aplicação e o uso
doequipamento de proteção individual (EPI). A seguir, algumas receitas desses produtos naturais.

Chá de cravo-de-defunto
(Tagetes minuta e Tagetes erecta)

Indicação: pulgões, ácaros e algumas lagartas.

Ingredientes:1kg de folhas de cravo-de-defunto, 10 litros de água.

Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e fervê-los por meia hora


ou deixa-los macerando durante dois dias. Coar e pulverizar sobre as
plantas.

Chá de losna
(Artemisia absinthium)

Indicação: lagartas e lesmas.

Ingredientes: 30 gramas de folhas secas de losna, 1 litro de água.

Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e fervê-lospor 10 minutos.


Para utilizar, adicionar o chá em 10 litros de água e pulverizar no início
da infestação.

41
Preparado de pimenta
(Capsicum spp)

Indicação: vaquinhas.

Ingredientes: 500 gramas de pimenta vermelha, quatro litros de água,


cinco colheres de sopa de sabão de coco em pó.

Preparo e aplicação: bater bem as pimentas em liquidificador com


dois litros de água. Coar o preparado e misturá-lo com sabão em pó,
acrescentando os dois litros de água restantes. Pulverizar sobre as
plantas atacadas.

Preparado com pimenta-do-reino


(Piper nigrum)

Indicação: pulgões, ácaros e cochonilhas.

Ingredientes: 100 gramas de pimenta-do-reino; 60 gramas de sabão de


coco, um litro de álcool e um litro de água.

Preparo e aplicação: colocar a pimenta no álcool durante sete dias;


dissolver o sabão de coco em água fervente; retirar do fogo e acrescentar
o álcool com pimenta já macerado durantesete dias. Utilizar um copo
cheio para 10 litros de água, fazendo três pulverizações, uma a cada
três dias.

Chá de camomila
(Chamomilla recutita)

Indicação: doenças fúngicas de sementeira.

Ingredientes: uma xícara de flores de camomila e um litro de água fria.

Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e deixa-losmacerando


durante um ou dois dias. Pulverizar as plantas da sementeira diariamente,
de forma preventiva.

Preparado com cavalinha


(Equisetum sp)

Indicação: doenças fúngicas.

Ingredientes: 300 gramas de cavalinha seca, 10 litros de água.

Preparo e aplicação: ferver a cavalinha na água por 10 minutos. Coar e


efetuar diluição na proporção de 1:10. Aplicar sobre as plantas.

42
Preparado com arruda
(Rutagra veolins)

Indicação: pulgões, formigas.

Ingredientes: 100 gramas de folhas picadas da arruda, um litro de água


fervente.

Preparo e aplicação: adicionar a água fervente sobre as folhas picadas


e abafar. Deixar em infusão por 24 horas. Coar, diluir em 10 litros de
água e pulverizar as plantas atacadas. Para controlar formigas, pode-se
colocar o filtrado dentro dos formigueiros.

Chá de perpétua
(Alternanthera brasiliana)

Indicação: resistência a viroses.

Ingredientes: 50 gramas de folhas de perpétua, um litro de água


fervente.

Preparo e aplicação: adicionar a água fervente sobre as folhas picadas e


abafar. Deixar em infusão até esfriar. Coar, acrescentar um litro de água
pura e aplicar sobre as mudas das plantas. Repetir a aplicação a cada
sete dias.

6. CONCLUSÃO
A adoção de Boas Práticas Agrícolas (BPA) – iniciando já no preparo de solo com práticas de
conservação e de adubação equilibrada, passando pela utilização de sementes e mudas sadias e
pelo desenvolvimento de um manejo agroecológico, aplicando-se tecnologias apropriadas para cada
cultura − já garante a produção de plantas sadias e resistentes a possíveis pressões desses agentes
que podem afetar sua produtividade.

Como muitas plantas medicinais atuam beneficamente na proteção da saúde do


agroecossistema, o policultivo, incluindo essas espécies companheiras, torna-se fundamental para o
controle fitossantário da horta medicinal e contribui para uma exploração sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU Jr., H. (coord.) Práticas de controle de pragas e doenças na agricultura: coletâneade receitas.
Campinas, SP: EMOPI, 1998.

BLANCO, M. C. S. G. et. al. Cultivo de plantas aromáticase medicinais. Campinas, CATI, 2007. (Boletim
técnico247).

GELMINI, G. A. Receituário caseiro para controle de pragas. Campinas: CATI, 1998, 29 p. (Impresso
Especial).

43
SECAGEM E ARMAZENAMENTO DE
PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS
Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco

As plantas aromáticas e medicinais são utilizadas como matéria-prima em várias indústrias


do setor de alimentos, químico e farmacêutico. O preparo após a colheita das plantas para o uso
nessas indústrias dependerá do produto final ao qual se destinam. Algumas indústrias se dedicam
às plantas desidratadas e moídas para serem usadas em alimentos prontos, semi-processados,
congelados, refrigerados, em chás ou, ainda, na elaboração de extratos, tinturas ou outras
preparações farmacêuticas.

Para a obtenção de plantas secas é fundamental que a secagem seja realizada ainda
na propriedade rural, pois dessa forma se mantém a qualidade do produto colhido por meio da
paralisação do processo enzimático responsável pelo metabolismo da planta o qual, após a
colheita, promove sua decomposição. Portanto, a paralisação deste processo por meio da secagem
é fundamental para a integridade física do material vegetal e para a manutenção dos teores das
substâncias bioativas que conferem as propriedades aromáticas, condimentares ou medicinais do
produto final.

Entende-se por qualidade do produto a preservação ao máximo da cor natural, dos princípios
ativos e a das características organolépticas da espécie em questão. Para tal, deve-se antes da secagem
fazer uma seleção do material, eliminando restos de outras plantas presentes e partes inadequadas
da planta que estejam sujas ou doentes. Também se faz necessário promover a eliminação de terra,
pedras e outras sujidades. Outro fator primordial é atentar para que plantas aromáticas de espécies
diferentes não sejam secadas no mesmo dia, evitando-se assim, a contaminação dos aromas.

A secagem pode ser natural, em local protegido da luz e da poeira, mas bem arejado. Para
tal, são utilizadas, preferencialmente, bandejas de tela plástica ou de nylon finas ou, ainda, bandejas
de aço inoxidável. Dependendo do volume do produto, recomenda-se a utilização de exaustores e/
ou desumidificadores que favorecerão a circulação de ar e a dissipação ou a retirada da umidade do
ambiente, acelerando o processo da secagem natural. Pode-se também usar para tal fim, secadores
que captam a energia solar.

Captação de energia solar

44
Desumidificador de ar

Para o caso de grandes volumes, a recomendação é que se faça a secagem artificialmente,


utilizando-se secadores a gás, a lenha ou eletricidade com controle de temperatura que não deve ser
superior a 40oC para folhas e flores e nem superior a 70oC para cascas e raízes. Importante em todos
os casos é fazer camadas finas, de até 5cm, para não criar condições de mofo.

O tempo de secagem pode variar até 10 dias, dependendo das características da planta, das
condições climáticas e do tipo de secador. De um modo geral, reduz-se a 1/3 o peso do material
colhido e a umidade final máxima permitida fica em torno de 15%, pois a partir deste teor tem início,
principalmente, o desenvolvimento de fungos. Por outro lado, uma secagem excessiva poderá fazer
com que a planta se esfarele, comprometendo a qualidade do produto.

Bandejas inoxidáveis para secagem

Secador a gás - Emater-PR

45
Desidratador elétrico ou a gás

A embalagem mais adequada para o acondicionamento e a conservação do produto seco é a


de polietileno atóxico, que deverá ser fechado hermeticamente. Cada embalagem deve possuir um
rótulo contendo: o nome do produtor, os nomes botânico e comum da planta, a parte colhida (folha,
flor, ramos etc.), a data da colheita, a temperatura e período de secagem e o peso do produto final.

O armazenamento do produto seco na propriedade deve ser em local adequado: escuro,


limpo e periodicamente desinfetado. As embalagens devem ser colocadas sobre estrados e o tempo
de armazenamento deve ser o menor possível, evitando-se contaminações e perdas normais no teor
das substâncias bioativas advindas com o passar do tempo e capazes de depreciar o produto a ser
comercializado.

Para o transporte a longas distâncias é recomendado que a embalagem de polietileno seja


revestida por outra de papel tipo ‘Kraft’ para evitar a incidência de luz no produto, capaz de alterar
sua coloração e diminuir seu valor comercial.

SECAGEM CASEIRA
Muita gente produz ervas aromáticas e medicinais em quintais, jardins e até mesmo em
vasos e quando chega a época de colheita precisam realizar a secagem para poderem usá-las ao
longo do tempo, conforme a necessidade. Como o volume é pequeno, o recomendado é a realização
da secagem natural, adotando-se os seguintes cuidados:

• Escolha de local adequado, arejado, à sombra e protegido (ex.: área de serviço, varanda coberta
ou local similar);

• Fazer a separação das partes das plantas a serem secas (ex.: separar folhas e flores dos ramos e
secar cada parte da planta separadamente).

• Utilizar peneiras ou assadeiras e nestas dispor as plantas em camadas de até 3cm, revolvendo-as
periodicamente); sacos/sacolas de papel; sacos de “filó” (estes devem ser pendurados em varais
em local com boa circulação de ar) ou outros tipos de recipiente que permitam que o ar circule e
a umidade seja dissipada;

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• Logo ao término da secagem, acondicionar em vidros ou sacos de polietileno bem fechados para
manter o material seco e guardar em local escuro, ao abrigo da luz, evitando a oxidação do produto.

CONSERVAÇÃO – ATÉ QUANDO GUARDAR?


A manutenção da qualidade da planta seca depende de vários fatores, que vão desde a forma
como foi cultivada, as condições de colheita e de secagem entre outros aspectos. É recomendável
que neste processo sejam observadas as características do produto como cor, aroma, sabor, assim
como a presença de mofo ou de insetos. Havendo alteração significativa das características em
relação ao produto obtido logo após o término da secagem ou a ocorrência de fungos ou insetos o
produto deve ser descartado, pois ficará impróprio para o consumo.

LITERATURA CONSULTADA
BLANCO, M.C.S.G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas-SP, CATI, 2007
(Boletim técnico 247).

CORREA Jr., C.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e
condimentares. 1 ed. Curitiba: EMATER-Paraná. 1991. 162 p.

47
AS PLANTAS MEDICINAIS E
SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS
Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco

As plantas medicinais são aquelas que vêm sendo usadas, no decorrer da história da
humanidade, para prevenir e curar dores e males que afetam a saúde e o bem-estar. Produzem
substâncias químicas capazes de agir no nosso organismo proporcionando saúde, alívio de sintomas
e cura de diversas doenças. Essas substâncias são denominadas princípios ativos ou substâncias
bioativas.

Existem muitos princípios ativos conhecidos e classificados, mas, uma vez que a biodiversidade
das plantas ainda tem muito a ser estudada, acredita-se que novos princípios ativos serão descobertos
e descritos conforme o avanço da ciência. Comentamos, a seguir, sobre os principais grupos destas
substâncias produzidas pelas plantas medicinais.

ÁCIDOS URÔNICOS (GOMAS E MUCILAGENS)


As gomas são constituídas de polissacarídeos e ácido urônico. Formam soluções adesivas
quando são colocadas em água quente. As soluções aquosas são neutras ou ligeiramente ácidas e
possuem propriedades emulsionantes e estabilizantes.

As mucilagens são semelhantes às gomas do ponto de vista químico, mas com água formam
uma solução coloidal viscosa e não adesiva. Possuem ação anti-inflamatória da mucosa, pois
formam uma camada protetora, diminuindo as irritações locais. Em contato com a água aumentam
de volume, manifestando um efeito laxativo. As mucilagens não devem sofrer ebulição prolongada,
pois o calor diminui a atividade biológica. Exemplos de plantas produtoras de ácidos urônicos:
tanchagem (Plantago sp), babosa (Aloe sp), folha-da-fortuna (Bryophyllum pinnatum).

A tanchagem é uma planta medicinal


contemplada em várias farmacopeias, inclusive a
brasileira, onde a Plantago major é indicada como
auxiliar no tratamento sintomático de irritações orais
e da faringite associada à tosse seca, sendo bastante
recomendada pelos dentistas e conhecida como
planta protetora das mucosas, devido às propriedades
emoliente e anti-inflamatória de sua mucilagem.

É considerada uma planta alimentícia não


convencional (PANC), sendo cultivada e consumida
como hortaliça em diversas regiões do Brasil no preparo
de refogados, sopas e saladas.

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A folha-da-fortuna é usada na medicina popular como
cicatrizante e contra acidez estomacal e gastrite. É considerada
uma PANC.
O suco verde feito com suas folhas batidas com sucos de
frutas ou com legumes, verduras e/ou frutas é recomendado por
ser nutritivo e funcional, por causa dos princípios ativos disponíveis.
Também é uma planta bastante ornamental em virtude do formato
de suas folhas e da beleza das inflorescências.

TANINOS
São substâncias encontradas na maioria das plantas medicinais. Sua propriedade terapêutica
resulta da adstringência que se manifesta por uma retração do tecido lesado e precipitação de
proteínas, formando uma camada protetora que possibilita o processo de cicatrização, associado
a uma ação hemostática e antidiarreica. São bastante solúveis no álcool e na água. Não devem
sofrer fervura prolongada e podem ser usados externa ou internamente. Exemplos de plantas
que produzem tanino: goiabeira (Psidium guajava), espinheira-santa (Maytenus sp), barbatimão
(Stryphnodendron adstringens).

A espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) é


uma planta nativa da Mata Atlântica do Brasil e uma
das primeiras plantas estudadas pela Central de
Medicamentos na década de 1990, obtendo-se, nos
estudos clínicos, excelentes resultados contra gastrite
e na cicatrização de úlcera gástrica. Faz parte da
Farmacopeia Brasileira e é uma das principais plantas
recomendadas pela Fitoterapia no Sistema Único de
Saúde (SUS), pois é segura, eficaz e usada na forma de
chá.

GLICOSÍDEOS
São substâncias compostas por uma fração de açúcar e outra não açúcar, denominada
genina. De acordo com a estrutura da genina, os glicosídeos são classificados em cardiotônicos,
antraquinônicos, sulfurados, salicílicos, flavonoides, cianogenéticos e cumarínicos. Com amplo
espectro de ação terapêutica e em alguns casos, podendo ser tóxicos para o organismo do homem,
exigem maior cuidado ao serem utilizados. Exemplos de plantas produtoras: babosa (Aloe sp), guaco
(Mikania glomerata, M. laevigata), calêndula (Calendula officinalis), soja (Glicine max) e uva.

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A calêndula possui flavonoides, carotenoides
(substâncias bioativas antioxidantes que conferem a
pigmentação do amarelo ao vermelho), óleo essencial,
mucilagens, saponinas e resinas. Indicada contra vários
males, na Farmacopeia Brasileira é recomendada como
auxiliar no tratamento de inflamações da mucosa oral
e orofaringe e nas inflamações leves da pele, como
queimaduras de sol e assaduras.

Os flavonoides atuam como antioxidantes, anti-inflamatórios, antitumorais, entre outras


ações terapêuticas e podem estar associados a pigmentos. As antocianinas são flavonoides que
conferem a coloração azul, roxa ou violeta para frutas e flores, como a uva, amora e a berinjela e
atuam principalmente como antioxidantes. A isoflavona da soja é um outro exemplo de flavonoide
e possui ação hormonal.

SAPONINAS
Substâncias que, quando agitadas com água, fazem espuma persistente e que não se
desfaz rapidamente. Suas principais ações terapêuticas são: expectorante, diaforética, depurativa
e especialmente aceleradora da absorção pelo organismo de outro princípio ativo associado a ela.
Exemplos de plantas produtoras de alcaloides: salsaparrilha (Smilax sp); ginseng brasileiro ou fáfia
(Pfaffia glomerata e P. paniculata).

As raízes de salsaparrilha possuem propriedades


depurativas do sangue e são usadas como remédio caseiro
contra reumatismo, gota e artrite. Estudos indicam que a
salsaparrilha atua evitando problemas de pele, como acne e
psoríase.

A fáfia é conhecida também


como ginseng-brasileiro porque é
planta nativa do Brasil e possui ações
terapêuticas semelhantes ao ginseng
oriental. Suas raízes são usadas na
medicina popular como tônica do
organismo atuando contra estresse,
cansaço físico e mental e como
afrodisíaca. Pessoas hipertensas
devem usar com supervisão médica.

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ALCALOIDES
Geralmente, toda planta que contém alcaloide é amarga. Os alcaloides são compostos
orgânicos nitrogenados que muitas vezes apresentam ação terapêutica pronunciada que pode estar
associada a uma elevada toxicidade, sendo que vários alcaloides atuam no sistema nervoso central.
Por isso, as plantas que contêm alcaloides com potencial tóxico devem ser usadas sob controle
médico. Exemplos de plantas produtoras: jaborandi (Pilocarpus microphyllus); café (Coffea sp);
trombeteira (Datura stramonium).
O jaborandi é uma planta nativa do Brasil que
produz a pilocarpina, alcaloide importante para a indústria
farmacêutica na fabricação de colírio contra glaucoma.
Quase foi extinta, pois sofreu um extrativismo desenfreado
antes do estabelecimento de seu manejo sustentável ou
cultivo. A pilocarpina ainda não é totalmente sintetizada
em laboratório e, portanto, só é obtida sendo extraída
diretamente da planta.

ÓLEOS ESSENCIAIS
São misturas de substâncias orgânicas muito voláteis, de consistência semelhante ao óleo. São
insolúveis em água e solúveis em álcool. As plantas que os produzem são denominadas aromáticas.
São extraídos das plantas, principalmente pelo processo de destilação por arraste de vapor ou por
hidrodestilação.
A maioria dos óleos essenciais (OE) possui aroma agradável, o que faz com que muitas
plantas aromáticas sejam utilizadas como temperos, na aromatização de ambientes e na fabricação
de perfumes. Suas propriedades terapêuticas são muito variadas e dentre elas temos as ações:
antisséptica, antiparasitária, expectorante, diurética, depurativa, antiespasmódica, emenagoga,
antiviral, carminativa, estomáquica, analgésica, antirreumática e anti-inflamatória.
A aromaterapia é um tipo de terapêutica que utiliza estes óleos essenciais de várias formas
como para inalação, massagem etc. Exemplos de plantas aromáticas: capim-cidreira – Cymbopogon
citratus (citral), hortelã – Mentha piperita (mentol), erva-baleeira – Varronia curassavica
(α-humuleno), alecrim – Salvia rosmarinus (cânfora, 1,8 cineol), tomilho – Thymus vulgare (timol),
alfazema – Lavandula angustifolia (linalol e acetato de linalila).

O alecrim é uma planta multifuncional, presente


na cultura de diversas populações; é usado em rituais
como benzimentos e purificações. Seu OE possui inúmeras
propriedades importantes para as indústrias farmacêuticas, de
alimentos e bebidas, de sanitizantes, higiene e limpeza, bem
como para a perfumaria e cosmética.
É usado na culinária, na fitoterapia e na aromaterapia. Dentre
os benefícios medicinais, destacam-se as ações antioxidante,
antimicrobiana, cardiotônica, estimulante da memória,
estomáquica, antiespasmódica e contra males respiratórios.
Na Farmacopeia Brasileira, é indicado contra problemas
espasmódicos do trato gastrointestinal.

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A erva-baleeira é planta nativa da Mata Atlântica
e está na Farmacopeia Brasileira. A partir de seu OE foi
desenvolvido o primeiro fitomedicamento totalmente
brasileiro numa parceria entre a Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) e o laboratório nacional Aché.
Seu OE é anti-inflamatório e formulações como chá das
folhas, pomadas e unguentos são usadas externamente
no tratamento de processos inflamatórios, em contusões e
entorces.

COMPONENTES MINERAIS
Os minerais são indispensáveis aos processos vitais do organismo humano, atuam na
atividade enzimática, fazem parte de tecidos e outros componentes do corpo humano, como o
cálcio, fundamental para a formação de ossos e dentes, o fósforo, essencial para o sistema nervoso,
e o ferro, cuja ausência no sangue provoca anemia. Exemplos de plantas ricas em minerais: ora-pro-
-nóbis (Pereskia aculeata), dente-de-leão (Taraxacum officinale), bertalha (Basella alba).

O dente-de-leão é uma planta da medicina tradicional


usada na fitoterapia de diversos povos. Também é uma PANC,
consumida como remineralizante. Na fitoterapia, suas raízes
e folhas são usadas contra distúrbios digestivos e como
diurético, as raízes para afecções de pele e suas flores para
inapetência. Na culinária, as folhas jovens são usadas em
refogados, omeletes, sopas, pães etc.
Na Farmacopeia Brasileira, é indicado como auxiliar
no alívio de sintomas dispépticos, tais como sensação de
plenitude, flatulência e digestão lenta e auxiliar no aumento
do fluxo urinário.

A bertalha também conhecida como espinafre


tropical e espinafre-da-índia é planta alimentícia não
convencional (PANC) muito apreciada pelo sabor suave
e textura tenra das folhas. Por causa da sua riqueza
mineral (Ca, Fe, Zn, P, K, Mg) e presença de vitaminas A e
C, são nutritivas e funcionais, podendo ser consumidas
em omeletes, refogados, bolinhos e outras receitas
substituindo o espinafre. As folhas novas podem ser
consumidas cruas compondo saladas.
Seus frutos possuem o pigmento betalaína
(antioxidante) e podem ser consumidos in natura ou
batidos em sucos.

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VITAMINAS
São substâncias não produzidas pelo organismo humano, porém essenciais para o crescimento
e a manutenção da saúde, sendo que sua ausência provoca várias enfermidades. São fornecidas
por plantas e alimentos, de preferência frescos e crus; quando houver necessidade de cozimento,
deve ser feito no vapor, com pouca água. Exemplos: capuchinha (Tropaeolum majus); tanchagem
(Plantago sp); acerola (Malpighia punicifolia).
Planta medicinal e alimentícia não convencional, a
capuchinha é rica em vitamina C e flavonoides presentes
especialmente na pigmentação de suas flores. As folhas e
flores possuem sabor picante que lembra o do agrião e são
consumidas em saladas, patês, bolinhos e refogados.
O fruto verde pode ser usado em conservas, sendo
chamado de falsa-alcaparra. Prefira consumi-la crua
para aproveitar melhor a vitamina C e utilize suas flores
enfeitando e enriquecendo as saladas. Na fitoterapia, é
indicada contra afecções pulmonares, como diurética,
desinfetante das vias urinárias e para prevenção de queda
de cabelo e fortalecimento do couro cabeludo.

Os frutos da acerola, também conhecida como cereja-


-das-antilhas, possuem elevado teor de vitamina C, podendo
chegar a até 5.000 miligramas por 100 gramas de polpa (1 a
5g/100mL de suco puro). Teores que podem vir a ser 100
vezes superiores ao da laranja ou 10 vezes maiores do que os
da goiaba e do caju. Por isso, é uma das plantas do Projeto
Farmácia Viva do Ceará, idealizado pelo Prof. Dr. Francisco José
de Abreu Matos.
A vitamina C aumenta a resistência contra infecções
e sua ação antioxidante retarda o envelhecimento. Um copo
de suco de acerola, recentemente preparado, fornece a
quantidade diária de vitamina C para manter o nível normal
desta vitamina para um indivíduo adulto; por isso, deve ser
consumido regularmente.

LITERATURA CONSULTADA
CORREA Jr.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares.
Curitiba: Emater-Paraná. 1991. 162 p.
MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas Medicinais; guia de seleção e emprego de plantas usadas
em fitoterapia e no nordeste do Brasil, Fortaleza, ÍCONE, 1988. VOL II
PANIZZA, S. Plantas que curam - cheiro de mato. São Paulo: IBRASA, 1997.

53
PROPAGAÇÃO DE
PLANTAS MEDICINAIS
Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco

A propagação de plantas é o primeiro passo para iniciar um sistema produtivo de qualquer


cultura, mas, no caso das plantas medicinais, logo nos vêm à cabeça onde e como conseguir sementes
e mudas, pois muitas delas não são encontradas facilmente no mercado agropecuário.
Portanto, a produção de sementes e mudas se torna um gargalo desta cadeia produtiva,
sendo considerada um problema para os produtores e uma oportunidade para os viveiristas de
plantas.
Assim sendo, dominar a arte da propagação de plantas se torna essencial para o sucesso
do empreendimento agrícola, seja para produção de culturas medicinais ou para a implantação de
viveiro de mudas.

PROPAGAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS


A propagação de plantas pode ser realizada por meio de várias técnicas agronômicas e
utilizando diversas estruturas ou propágulos reprodutivos como as sementes (propagação sexuada)
e as estruturas vegetativas dotadas de gemas reprodutivas (propagação assexuada ou vegetativa).

1. Propagação sexuada em plantas medicinais


1.1. Espécies silvestres:
No caso de espécies não domesticadas e/ou não melhoradas por tecnologias agronômicas
(melhoramento genético), a propagação por meio de sementes multiplica uma população com
variabilidade genética (indivíduos diferentes entre si e em relação aos seus pais), o que dificulta o
cultivo por causa da desuniformidade populacional (indivíduos com desenvolvimento vegetativo
e com potenciais produtivos de bioativos diferentes), desfavorecendo a estimativa da produção
almejada.
Exemplo: espécies nativas de polinização cruzada, cujas sementes são obtidas na mata ou no
campo. Nesse caso, muitas vezes o produtor tem que obter os propágulos na mata da propriedade,
o que requer cuidados especiais.

Cuidados na propagação e coleta de sementes de espécies silvestres


• Obter sementes de espécies com identificação botânica.
• Colher de plantas sadias e produtivas em relação à biomassa e ao princípio ativo (p. a.).
• Colher com tempo seco (baixa umidade).
• Observar se há necessidade de quebra de “dormência” para germinação; se sim, realizar o
tratamento necessário.
• Observar se há exigência em relação à luz para germinação, indicando que a semeadura tem que
ser superficial e sem cobrir as sementes (ex.: tanchagem e embaúba).

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Dormência
A dormência de sementes pode ser física (por impermeabilidade do tegumento) ou
fisiológica (por imaturidade ou presença de inibidores).

Tratamentos
• Escarificação mecânica: lixar ou cortar o tegumento sem danificar o embrião.
• Escarificação química: usar ácido sulfúrico e água quente.
• Estratificação: por meio de umidade + alta ou baixa temperatura.

1.2. Espécies agronômicas


No caso das sementes de plantas geneticamente melhoradas – as quais são variedades
agronômicas, cultivares ou híbridos –, ocorre germinação uniforme, pois as sementes não apresentam
dormência e as características morfológicas e fisiológicas apresentam semelhança. Assim, os
indivíduos se desenvolvem e atingem a maturação ao mesmo tempo, facilitando os processos de
manejo cultural e de colheita, o que possibilita maior garantia na estimativa de produção.
Exemplo: cultivares de camomila, manjericão e outras espécies comercializadas por empresas
de sementes.

População sem variabilidade genética

População com variabilidade genética

2. Propagação assexuada em plantas medicinais


Por meio de partes ou estruturas da planta que possuem gemas vegetativas. Neste tipo
de propagação, os novos indivíduos são idênticos à planta-mãe (clones), o que proporciona
produtividade uniforme de biomassa e de princípios ativos. Porém a falta de variabilidade genética
pode vir a ser um problema, aumentando o risco de danos e perdas de produtividade caso ocorram
mudanças climáticas adversas, patógenos ou pragas que prejudiquem a cultura.

2.1. Principais propágulos vegetativos


2.1.1. Estacas de galhos ou ramos (guaco, malvarisco e alecrim), estacas de folhas (folha-da-fortuna)
ou de raiz (casos raros como o exemplo da espinheira-santa, que também é propagada por
sementes).

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A coleta das estacas de ramos deve ser nas primeiras
horas do dia para evitar perda excessiva de água. As estacas
semilenhosas e herbáceas devem apresentar folhas na parte
superior, o corte da estaca deve ser feito imediatamente abaixo
de um nó.
Quando as folhas da estaca forem muito grandes, deve-
-se cortá-las ao meio, no sentido transversal à nervura principal,
visando diminuir a transpiração. O comprimento das estacas
normalmente é em torno de 7cm a 15cm, mas varia bastante
conforme a espécie.
Vários produtos químicos, denominados fitorreguladores
ou hormônios de enraizamento, foram desenvolvidos para
Estacas de ramos estimular o enraizamento mais rápido em estacas de galhos. Entre
eles, podemos destacar as auxinas, como o ácido-indolacético
(AIA), ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftalenoácetico (ANA).

Em relação às estacas de folhas, essas são


destacadas da planta-matriz e deixadas sobre ou
parcialmente enterradas com o pecíolo para baixo em
recipiente com areia, até a formação da parte aérea
e sistema radicular (brotações) nas gemas, as quais,
na folha da fortuna, se encontram ao redor de toda
margem da folha.

Estacas de folhas

As brotações são destacadas e,


posteriormente, colocadas em recipientes
com substrato até atingirem porte ade-
quado para o transplante no campo.

2.1.2. Rebentos (exemplo: babosa).


Os rebentos brotam da planta-mãe
ou planta-matriz e são destacados para
formar uma nova planta. Os maiores e
bem desenvolvidos podem ser plantados
em local definitivo, porém é conveniente o
preparo de mudas em saquinho ou outro
recipiente para reposição daqueles que não
enraizarem no campo. Os menores, com
pouca emissão de raízes, devem passar
pela formação de mudas em viveiro.

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2.1.3. Divisão de touceira (exemplos: capim-cidreira e citronela).
A divisão de touceira consiste na separação de brotações ou perfilhos enraizados da planta-
-matriz bem desenvolvida/entouceirada.
As divisões devem ocorrer, preferencialmente, após o término do período de florescimento
da planta-matriz, possibilitando o máximo desenvolvimento vegetativo das novas plantas.
Recomendam-se cortar as folhas e eliminar o excesso de raízes (toalete) no momento do plantio dos
perfilhos em recipientes ou no campo.

Parte de touceira Perfilho Perfilhos mudas

2.1.4. Rizomas (exemplos: hortelã, mil-folhas, poejo, açafrão-da-terra ou cúrcuma, gengibre).


Os rizomas são caules subterrâneos que acumulam reservas para a planta. Podem ser
carnosos − como no açafrão-da-terra e no gengibre − ou delgados − como no poejo e na hortelã.
Podem ser plantados em local definitivo, sem passar por formação de mudas, entretanto torna-se
conveniente o preparo de mudas para reposição daqueles que não enraizarem no campo.

Rizomas carnosos: gengibre e cúrcuma

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Rizomas delgados: hortelãs

2.1.5. Estolões (exemplos: morangueiro, hortelãs).


São caules que crescem horizontalmente ao solo, cujos “nós” possuem gemas que formam
raízes e folhas, ou seja, em cada nó é formada uma pequena muda.

Morangueiro Hortelã pimenta

2.2. Micropropagação

Além de proporcionar um meio de produzir cópias idênticas de uma planta, a micropropagação


também proporciona meios para a obtenção de plantas isentas de doenças, especialmente de
viroses. Isso se deve à descontaminação dos explantes (pedaços de tecido vegetativo da planta),
às condições estéreis empregadas (micropropagação in vitro) e, principalmente, ao uso da técnica
de meristemas e ápices vegetativos (explantes de tecido sem diferenciação de células e isentos de
contaminantes).

Após a fase de micropropagação em laboratório, as mudas são colocadas em vasos com


substrato e aclimatadas em viveiro antes de irem para campo. Essa técnica tem custo elevado, por
isso é utilizada principalmente para limpeza (eliminação de doenças) de plantas que serão matrizes
para produção de mudas por meio do sistema convencional, como ocorre, por exemplo, para a
cultura do morango.

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Esquema simplificado da micropropação do morangueiro

Cuidados para propagação vegetativa


• Obtenção de propágulos de espécies com identificação botânica.
• Obtenção de propágulos de plantas sadias e produtivas (biomassa e p. a.).
• Produzir mudas em viveiro ou telado (sombreamento 50% - 65%).
• Utilizar substrato adequado.

Para a produção de mudas, tanto por meio de sementes como de propágulos vegetativos,
deve-se usar substrato adequado em recipientes (tubetes, bandejas, sacos plásticos etc.) e
produzir em condições de viveiro (sombreamento 50% - 65%).

Oficina agrícola do H. Cândido Ferreira − Campinas (SP) Viveiro Municipal − Itatiba (SP)

3. Substrato para produção de mudas


Muitos materiais (terra, húmus, areia, vermiculita etc.) e misturas de diferentes fontes são
usados como substrato para a germinação de sementes e enraizamento de estacas. Uma mistura
muito utilizada para semeadura e enraizamento de estacas é a de três partes de terra + duas partes
de areia + uma parte de húmus ou esterco bem curtido. No caso de sementes miúdas ou exigentes
quanto às condições ideais para a germinação, é recomendado o uso de substrato industrializado.

Para a obtenção de bons resultados, as seguintes características devem ser observadas:


• o substrato deve ser suficientemente firme e denso, para manter as estacas e sementes nos
recipientes (tubetes, sacos, bandejas etc.) durante o enraizamento ou germinação;
• deve reter umidade suficiente para que as irrigações não precisem ser constantes;
• deve ser poroso, para promover uma drenagem eficiente;
• deve ser isento de sementes de ervas, de nematoides e de substâncias tóxicas;
• deve ter baixo nível de salinidade;
• deve poder ser esterilizado sem que suas características sejam alteradas;
• precisa ter uma adequada disponibilidade de nutrientes.
• a acidez do substrato também influencia o enraizamento de algumas espécies. O ideal é a
manutenção do pH entre 5,5 e 6,5.

LITERATURA CONSULTADA
BLANCO, M. C. S. G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas-SP, CATI, 2007
(Boletim técnico 247).
CAPELLARI Jr. L. e outros. Guia de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Piracicaba:
Facile, 2011. 168 p.
CARVALHO, J. M. F. C. e outros. Fatores Inerentes à Micropropagação, Campina Grande, 2006. 28p.
(Embrapa Algodão. Documentos, 148)
CORREA Jr.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares.
Curitiba: Emater-Paraná. 1991. 162 p.
RODRIGUES, V. G. S. Cultivo, uso e manipulação de plantas medicinais. - Porto Velho: Embrapa
Rondônia, 2004.

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