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PALEOLÍTICO & NEOLÍTICO

MATEUS GONÇALVES DE MEDEIROS


Estética e História da Arte
Mito é o sonho público. Sonho é o mito privado*
Joseph Campbell

*CAMPBELL, 1990, página 42


Cena de Caça. Barranco de la Valltorta. Castellón, Espanha.

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INTRODUÇÃO

A arte paleolítica é inseparável do caráter mítico-mágico


“Suas cabanas existem tanto para abrigá-los da chuva, do vento e do sol quanto
para protegê-los dos espíritos que produzem tais fenômenos”. GOMBRICH, 38.

• Nossa concepção de obra de arte não existia no paleolítico.


• Fronteira entre real e imagem é vaga e imprecisa.

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SAGRADO E PROFANO

O Sagrado e o Profano: dois modos de ser-no-mundo.

• O espaço profano é da ordem do homogêneo, do caótico (caos), do amorfo, do não significado.


• O espaço sagrado é da ordem do simbólico, do ordenado (cosmos), do ponto fixo, do centro do mundo.

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“Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo: o espaço apresenta roturas,
quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras. ‘Não te
aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as sandálias de teus pés, porque o
lugar onde te encontras é uma terra santa’ (Êxodo, 3: 5).'"

Há, portanto um espaço sagrado, e por consequência “forte”, significativo,


e há outros espaços não-sagrados, e por consequência sem estrutura nem
consistência, em suma, amorfos.
Para o homem religioso essa não-homogeneidade espacial traduz-se pela
experiência de uma oposição entre o espaço sagrado – o único que é real, que
existe realmente – e todo o resto, a extensão informe, que o cerca”.

Extraído de ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. p. 25.

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INTRODUÇÃO

Inferências que descartariam a hipótese de serem pinturas com


função decorativa:
• Figuras gravadas ou pintadas são sobrepostas
• Figuras sem uma ordem aparente (exceção para Lascaux)

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INTRODUÇÃO

O PODER através da IMAGEM


• Pintura e gravura rituais: poder sobre a natureza.
• A maior intenção dessa pintura é mágica.

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LINHA DO TEMPO
Paleolítico
Inferior | Primeiros utensílios de pedra
2.500 000 – 2.000 000 até 120 – 100.000 a.C.
Médio | Homo Sapiens (linguagem falada)
300 – 200.000 até 40 – 30.000 a.C.
Superior | Primeiras pinturas rupestres
40 – 30.000 até 10 – 8.000 a.C.

Neolítico
10 000 – 8.000 a.C. até 3.000

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ARTE PALEOLÍTICA

Pintura Rupestre
As mais marcantes obras do paleolítico são imagens de animais
gravadas, pintadas ou esculpidas na superfície rochosa de cavernas.
Três dos sítios arqueológicos mais notáveis estão em Altamira na
Espanha e em Lascaux e Chauvet, na França.

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Caverna de Altamira, Espanha
Mapa da Caverna de Altamira | 300 metros de comprimento.

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Teto da Grande Sala em Altamira, Espanha 16
Bisão Ferido, Altamira
15.000 – 10.000 a.C.

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Reprodução de uma pintura em Altamira

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Bisão - Altamira

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Reprodução de uma pintura em Altamira
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ARTE PALEOLÍTICA

Caráter mágico, não decorativo:


• Imagens se encontram escondidas do observador casual.
• Representação de linhas (dardos ou lanças) apontando aos animais.
• Sobreposição das imagens (uma imagem “morta” pode ter perdido sua
função mágica e talvez fosse preciso desenhar novamente)
• Confusão entre imagem e realidade

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ARTE PALEOLÍTICA

Aspectos e propósitos possíveis das imagens:


• Garantir que a caça seja bem-sucedida.
• Aumento do suprimento para a alimentação.
• A tentativa de criar um animal nas entranhas da terra pode não ter sido casual.
• Rituais podem ter sido sazonais, de acordo com a demanda.
• Pinturas e relevos acompanham a forma natural da rocha.

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Caverna de Lascaux, França, Sala dos Touros.
Desenhos datados por volta de 18.000 e 17.000 a.C. 23
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Cavalo
[15000-10000 a.C.]

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Caverna de Chauvet, França. Desenhos são datados entre 37.000 a 28.000 a.C. 27
Caverna de Chauvet, França.
37.000 a 28.000 a.C. 28
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Nude woman Rock carving, c. 15.000-10.000. La Magdelaine Cave, Penne (Tarn), France
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ESCULTURA PALEOLÍTICA

• Peças em tamanho reduzido.


• Eram produzidas tanto pequenas esculturas quanto talhas em pedra.
• Materiais usados:
• Pedras
• Ossos
• Chifres
• Dentes
• (Madeira?)

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HORSE, from Vogelherd Cave. c. 28,000 B.C. Mammoth ivory, length 2 1// (6.4 cm).
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VENUS OF WILLENDORf
(25,000 20,000 B.C Stone, height 4%" (11 cm).
Naturhistoriches Museum. Vienna

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Bison licking insect bite - 20,000 and 12,000 B.C. (15,000 BP according to the museum). 10,15 cm

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Técnicas e materiais
Paleolítico

Exemplar de um machado de
Mão feito em obsidiana

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Técnicas e materiais
Paleolítico

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Técnicas e materiais
Paleolítico

Minério de Obsidiana

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Técnicas e materiais
Paleolítico

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Técnicas e materiais
Paleolítico

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Técnicas e materiais
Paleolítico

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NEOLÍTICO ≅ 8.000 a.C. até 3.000

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NEOLÍTICO
Revolução neolítica
• Cultivo de plantações e domesticação de animais
• Comunidades fixas e permanentes.
• Rocha ainda era matéria prima básica para o fabrico de ferramentas.
• Primeiros indícios de cerâmica, tecelagem e fiação
• Arquitetura era produzida com base em madeira, tijolos e pedra.

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NEOLÍTICO

A mudança do modo de vida nômade para a sedentário ocasionou


transformações profundas na perspectiva dessas pessoas sobre si mesmas
e sobre o mundo, influenciando fortemente sua produção artística.

Pode haver um vastíssimo capítulo desconhecido sobre a arte neolítica que se perdeu por causa de seus trabalhos em madeira e outros materiais menos
permanentes”. Cf. JANSON

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NEOLÍTICO

PRIMEIRAS CIDADES: JERICÓ | Palestina

• Casas de pedras com pisos de argamassa.


• Rodeada por muros e torres de guarda construídas em alvenaria.

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NEOLÍTICO

Escultura em Jericó
Imagens: Crânios humanos com a face reconstruída em argamassa tingida. Datados de 7000 a.C.

Primeiros objetos de uma tradição de “retratos” que alcançará o império romano.

As cabeças de Jericó NÃO OBJETIVAVAM CRIAR VIDA,


mas PERPETUÁ-LA substituindo a carne uma substância mais resistente.

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Neolithic plastered skull, from Jericho. c. 7000 BC
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NEOLÍTICO

“É possível que estas cabeças fossem postas à mostra acima da terra, enquanto que
o resto do corpo ficava enterrado abaixo do piso da casa”.

“Supõe-se que de tal forma os ancestrais eram venerados e era possível aproveitar-
se de sua presença beneficente”. Cf.JANSON

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NEOLÍTICO

PRIMEIRAS CIDADES: ÇATAL HÜYÜK | Anatólia, Turquia.

• Por volta de 6000 a.C.


• Casas construídas em tijolos de barro cozidos ao sol e vigas de madeira
• Não haviam ruas nem portas
• Os primeiros santuários religiosos de que temos notícia

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NEOLÍTICO

Pintura em Çatal Hüyük


• PRIMEIRAS PINTURAS feitas em uma superfície produzida pelo homem.
• Pinturas indicam que a mudança do paleolítico para o neolítica teria sido
relativamente recente.
• Não representam uma atividade cotidiana relacionada à sobrevivência, mas
possuem o CARÁTER DE RITUAL em reverência à uma deidade masculina para qual
o búfalo e o cervo são sacrificados.

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NEOLÍTICO

Pintura em Çatal Hüyük


• Comparados com as pinturas em cavernas no paleolítico, estes animais se
mostram SIMPLIFICADOS E IMÓVEIS. São os caçadores que estão em
movimento.
• Animais relacionados a DEIDADES FEMININAS se mostram ainda mais
rígidos, tanto na imagem espelhada de um leopardo, quanto nos leopardos
que formam os dois lados do trono de uma divindade.

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FERTILITY GODDESS, from Shrine
AIM, Çatal Hüyük. 6000 B.C
Baked clay, height 8" (20.3 cm).
Archaeological Museum, Ankara,
Turkey

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FERTILITY GODDESS, from
Romania. 5.000 B.C.
Baked Clay
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NEOLÍTICO

Monumentos Megalíticos:
• A Europa neolítica nunca atingiria o nível de organização social de Jericó ou de
Çatal Hüyük. Suas estruturas arquitetônicas mais célebres não possuíam propósito
cívico ou utilitário. Seu objetivo era religioso.

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Stonehenge. Salisbury Plain (Wiltshire), England, 2000 B.C. Diameter of circle 97' (29.6 m).

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Silbury Hill. Primeira fase de
construção datada em
2400 BC.

Monte artificial de 40 metros


de altura e base de 167
metros de diâmetro. O topo
possui diâmetro de 30 metros.
Feito de cal e argila.

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Círculo de Swinside, nordeste da Inglaterra, 3500 and 3300 BCE


Cromlech de Almendres, Évora. 85
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Cromlech de Calçoene, Amapá, BRASIL.

O círculo megalítico tem 30 metros de diâmetro, com pedras de


granito com até 4 m de comprimento. Construção entre 2000 e 500 a.C.

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Dólmen em Carnac, França
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Dolmen em Carnac, França
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Dolmen em Carnac, França
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Dolmens de S. Geraldo, Portugal
BIBLIOGRAFIA

ADORNO, Theodor. HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Trad. Br. Guido Antonio de
Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.


ELIADE, Mircea. O sagrado e o Profano. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2001.
GOMBRICH, Ernst. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013
GRAÇA PROENÇA. História da Arte. São Paulo: Ática, 2007.
JANSON, H. W. História da Arte. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1989.
____________. A Basic History of Art. 4. ed. Incorporated, New York: 1992.

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