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HUMOR

(Mordillo. Football. Grenoble: Glénat.)


O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer rir. Isso é comicidade, ou qualquer
outro nome que se escolha. Na verdade, humor é uma análise crítica do homem e da vida. Uma análise não
obrigatoriamente comprometida com o riso, uma análise desmistificada, reveladora, cáustica. Humor é uma
forma de tirar a roupa da mentira, e seu êxito está na alegria que ele promove pela descoberta inesperada da
verdade.
Não é a verdade que é engraçada. Engraçada é a maneira com que o humor nos faz chegar a ela.
(Ziraldo)
Fazer uma crítica, por meio de um mecanismo de interpretação humorística de um determinado fato
social, é muito mais direto. É um meio, um veículo muito mais eficaz, porque entra direto no inconsciente do
leitor. A gente faz um desenho humorístico sobre um fato qualquer, com poucos ou muitos traços, e consegue
dizer muito, tudo ou tudo e alguma coisa a mais. Não somente se informa como também se emite uma
opinião. Consegue-se colocar muita coisa num desenho que talvez uma pessoa, por exemplo um comentarista
político, faz muito esforço para dizer numa página inteira. Quanto mais capaz é o caricaturista, o humorista,
mais ele consegue atingir aquele ponto em que o leitor, o observador vê e entende. Mas não se pode fazer
esse tipo de comparação, porque o texto traz muito mais informações que o desenho. O desenho só traz o
essencial, um ou vários pontos essenciais, sejam políticos, sociais ou qualquer outro.
(Hilde)
O humorista, o artista, o grafista é um homem como outro qualquer, que sofre as consequências da
sociedade e que analisa o que observa.
(Zélio)
Um cartunista jamais poderá ser a favor do governo. Não pode haver cartum a favor. É uma condição
porque a razão pela qual existe o cartum é a força da sátira, e o poder nunca, jamais, ou quase nunca, que eu
me lembre, esteve a favor do povo.
(Zélio)
Tudo dá para charge. Não tenho preferências, mas a corrupção, a luta pelo poder dá um material muito
bom.
(Hilde)
O senso de humor está mais vivo do que nunca. Paradoxalmente é nas crises que o povo se aproxima do
humor para se vingar, ridicularizando os desacertos e as bobagens dos governantes. Os humoristas estão
sempre em alta, como boas opções da Bolsa de Valores. Isto porque em todo o mundo, em países com ou sem
crises, nós formamos um pequeno exército de idealistas. É possível verificar a valorização do humor na sua
utilização, sempre crescente, pela publicidade e propaganda.
Necessitamos do Humor e nem sempre nos damos conta disso. Somos sarcásticos, irônicos, irreverentes,
melodramáticos, o que é inerente ao Humor. [...]
Aprendemos que o dia em que não rimos é o dia mais perdido.
(Geandré)
A vida é demasiado curta; quando se sabe isso, é preciso não nos embaraçarmos com idéias negativas. E
por isso que eu gosto da frase de Boris Vian: “O humor é o desespero bem-educado”, que explica tudo. Estar
sempre desesperado é uma perda de tempo.
[...]
Depois de ter criado o mundo, Deus criou o Homem e a Mulher. E, para preservá-los da destruição, Ele
inventou o humor.
(Mordillo)
O homem sempre crê no futuro. É oposto a tudo e está sempre contra tudo. Para mim, é nisso que reside
sua força. É a razão de sua obstinação e de seu talento. E o que lhe dá a força criativa e vital.
(Mordillo)
inconsciente: termo da psicologia que designa o mundo interior, não consciente, que envolve os sonhos, os
traumas de infância, etc. cáustico: que fere, irônico, maledicente.
sátira: tipo de texto irônico, maledicente; zombaria, paradoxalmente: relativo a paradoxo, isto é, a uma
contradição de idéias.
inerente: que é próprio de alguém ou de alguma coisa, obstinação: persistência, perseverança.
(CEREJA e MAGALHÃES, 1998)
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
1. Leia os dois textos de Ziraldo.
a) Segundo eles, por que o humor é “uma análise não obrigatoriamente comprometida com o riso”?
b) No 1º texto, o autor afirma que o humor “não é apenas a arte de fazer rir”. Então, na opinião de Ziraldo,
qual seria o papel essencial do humor?
2. Em ambos os textos, Ziraldo relaciona o humor com a verdade e com a mentira.
a) Desse modo, quando o humor tira a roupa da mentira, o que aparece?
b) Se, na opinião de Ziraldo, a verdade não é engraçada, então por que rimos quando a descobrimos?
Justifique sua resposta com elementos do primeiro texto do humorista.
3. Hilde compara a análise da realidade feita por um comentarista político com a feita por um humorista.
Segundo a autora, os dois tipos de análise veiculam informações ao leitor.
a) Qual deles, contudo, veicula mais informações?
b) Qual dessas linguagens é mais econômica e direta? Por quê?
4. Observe os dois textos de Zélio. Segundo o autor:
a) De onde o artista do humor tira material para seu trabalho?
b) Qual a relação entre humor e política? N
5. Releia agora o depoimento de Carlos Eduardo Novaes.
a) Compare suas opiniões com as de Zélio. Elas coincidem quanto à relação existente entre humor e política?
Por quê?
b) Por que, de acordo com o texto de Carlos Eduardo Novaes, o humor é uma espécie de “vingança”?
c) Levante hipóteses: por que, na sua opinião, o autor considera os humoristas idealistas?
6. O cartunista argentino Mordillo cita uma frase que define o humor: “O humor é o desespero bem-
educado”.
a) Por que Mordillo considera o humor uma forma de desespero?
b) E por que uma forma de desespero bem-educada?
7. Compare estas duas afirmações:
“Aprendemos que o dia em que não rimos é o dia mais perdido.” (Geandré)
“E, para preservá-los da destruição, Ele inventou o humor.” (Mordillo)
De acordo com essas opiniões, o humor é necessário? Por quê?
8. Considerando as várias opiniões sobre a arte do humor, os itens que sintetizam as idéias centrais dos
autores são:
a) O humorista normalmente se coloca numa posição contrária à do poder vigente.
b) O artista do humor toma a perspectiva do povo; por isso, sua arte é uma espécie de protesto e resposta aos
governantes.
c) Os humoristas formam um grupo de idealistas que pretendem atingir a consciência de seus leitores e
transformar a realidade, tendo em vista um mundo melhor.
d) O humor consiste essencialmente em fazer rir, qualquer que seja o meio empregado para atingir esse
objetivo.
e) O humorista é um indivíduo comum, integrado aos problemas de seu tempo, que com sua arte dá voz
àqueles que não têm como se expressar.
TROCANDO IDEIAS
9. Imagine um mundo em que todos fossem sérios, ninguém fizesse uma brincadeira ou contasse uma piada;
sorrir seria proibido e mesmo uma simples ironia poderia levar uma pessoa ao tribunal. Seria fácil viver num
mundo sem humor? Agora discuta esta frase de Mordillo: “Deus criou o Homem e a Mulher. E, para preservá-
los da destruição, Ele inventou o humor”. Você concorda que o humor ajuda os homens a não se destruírem
uns aos outros? Por quê?
10. Os textos lidos enfatizam bastante o caráter político da arte produzida pelos cartunistas.
a) Você acha importante a existência do humor político? Por quê?
b) Você acha que pode haver outros temas para o humor? Se sim, cite-os e, se possível, cite também autores
que os abordam.
11. Você certamente já viu algum programa de humor na tevê.
a) Cite um a que já tenha assistido.
b) Compare esse tipo de humor ao humor proposto pelos artistas nos textos estudados. Que diferenças você
nota?
c) Esse humor da tevê também se empenha em conscientizar a população e transformar a realidade?
12. A respeito dos programas de humor, o professor de comunicação Ciro Marcondes Filho comenta:
Na televisão, os programas humorísticos [...] vivem da ridicularização dos homossexuais, dos pobres, das
feministas, dos negros, dos subalternos, das minorias estrangeiras, dos velhos, das mães solteiras, das
prostitutas, dos gordos, dos frágeis, dos desempregados, dos aposentados, dos deficientes, dos cegos, surdos
e gagos, dos judeus e de tantos outros grupos marginalizados, tidos como grupos de projeção de situações
ridículas e humilhantes. Nesses casos, o humor é radicalmente seletivo, pois só não ridiculariza aqueles que
compõem o tipo dominante da cultura a quem se dirige - branco, urbano, classe média, empregado - mas
tudo o que é divergente passa a ser motivo de chacotas.
(Televisão - A vida pelo video. São Paulo: Moderna. 1988. p. 65-6.)
a) Você concorda com a crítica feita pelo professor Ciro aos programas de humor da tevê? Por quê?
b) Você acha que esse comentário também se aplica ao humor presente na produção dos humoristas
estudados neste capítulo? Justifique.

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