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Módulo 1

Educar na
turbulência

Introdução

Nessa viagem que é a vida, como podemos aprender a lidar com a turbulência? Às
vezes, parece que a vida do(a) professor(a) se encontra em uma corrida constante contra
o tempo. E também parece que a bagagem está muito pesada. Teremos turbulências cada
vez mais constantes nessa viagem e não podemos ignorar esse fato! Então, o que podemos
fazer? Aprender a lidar com a turbulência em nosso dia a dia. Mais do que isso: precisamos
saber educar em tempos de turbulência!
Começaremos nosso curso com algumas reflexões importantes, para compreendermos
melhor os desafios de educar em um mundo inconstante impactado pelo ritmo de mudança
da sociedade. Vamos lá? Acesse o vídeo disponível em https://bit.ly/BNCC_mod1_video1.
O pensamento da “modernidade líquida” do sociólogo Zigmunt Bauman nos convida
a uma reflexão sobre o ritmo intenso das mudanças da sociedade ao mostrar que estamos
vivendo em tempos de liquidez, em que tudo muda muito rapidamente. Ao assistir a entre-
vista completa concedida pelo sociólogo ao programa Milênio, da Globo News, você terá a
oportunidade de ampliar sua visão sobre o conceito de “modernidade líquida”. Acesse o vídeo
disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_vid2.

“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” (Zygmunt Bauman Brasil)

Podemos dizer que vivemos em uma época de liquidez, de fluidez, de incerteza e inse-
gurança. Uma época em que as mudanças sociais são uma constante e a escola precisa ficar
atenta às tendências para fortalecer o seu potencial educativo. Partindo dessa ideia, introduzi-
mos um outro estudo sobre as mudanças geracionais do sociólogo espanhol Mariano Enguita

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que destaca as três fases dessas mudanças: suprageracionais, intergeracionais e intrageracio-
nais. Para melhor explorar esse tema, faça a leitura do texto Centro, Redes e Proyectos. Acesse
o material disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_text1.
Veja que estudos como esse sinalizam a necessidade de aprender a lidar com as incer-
tezas, com a pressão das constantes mudanças e com a intensidade de agitação e turbulên-
cia que elas provocam. Dentro do contexto da educação, não há outra alternativa a não ser
aprender uma nova arte para educar para o presente e para o futuro, a arte de educar na
turbulência e para a turbulência.

Durante o módulo, veremos o que podemos fazer para


+ leituras
aprender a educar na turbulência e abordaremos algumas
ações que podem ajudar nesse processo. Aproveite
para conhecer o blog Cuaderno de Campo do sociólogo
Mariano Enguita e conheça os seus estudos no campo da
educação, disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_text2.

Painel de controle

Existe uma relação entre a agitação de uma sala de aula com um voo em plena turbu-
lência? Acesse o vídeo disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_vid3.
Temos que ficar atentos aos instrumentos da cabine de comando. Às vezes, é necessá-
rio desligar o piloto-automático! É fundamental, tanto para a condução do voo, quanto para a
coordenação da sala de aula, saber ler os sinais internos e externos. Os sinais são mensagei-
ros da realidade, nos ajudam a compreender o que está acontecendo. Tração, arrasto, peso
e sustentação. Aprendizagem, resistência, contexto social e conteúdo. Esses são elementos
fundamentais para o nosso voo da educação.
Tanto na cabine de um avião quanto na coordenação da sala de aula, é preciso apren-
der a interpretar os indicadores internos e externo para a tomada de decisão diante de
determinadas situações. Assim como o piloto de um avião precisa compreender alguns si-
nais para conduzir um voo em plena turbulência, o(a) professor(a) também precisa estar
preparado para interpretar os sinais que podem influenciar na sua prática pedagógica e na
aprendizagem dos estudantes. Aqui, destacamos a importância de saber identificar os si-
nais que estão dentro da sala aula (ritmo, emoção e esforço) e fora da sala de aula (aprendi-
zagem, resistência, contexto social e conteúdo), entendendo que esses sinais podem indicar

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desafios ou até mesmo novas oportunidades que não podem ser ignoradas no campo da
aprendizagem. A cultura digital, por exemplo, é um desses fatores que acende a lanterna do
painel da educação e sinaliza para a mudança de rotas importantes.
Para saber mais sobre as possibilidades, as tendências e os desafios de aprender e en-
sinar em tempos de cultura digital, acesse o artigo publicado em EmRede – Revista de Educação
a Distância, disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_text3. Esse estudo, ao discutir sobre a cul-
tura digital no campo educacional, propõe que o uso pedagógico das Tecnologias Digitais
de Informação e Comunicação (TDIC) deve fugir do pensamento reducionista de trabalhar
somente as competências e habilidades que essas tecnologias oferecem para o cotidiano es-
colar, mais do que isso, espera-se que o fazer pedagógico possa compreender e fazer uso das
TDIC, de modo a subsidiar uma nova forma de pensar a cultura da escola.
Observe que, no campo da educação, a mudança é uma ação esperada. O problema é
que podemos ter dificuldade para pensar o diferente, para aprender o que não sabemos. Foi
nesse sentido que destacamos o pensamento científico do filósofo Francês Gastor Bacherlard,
na obra A formação do Espirito Científico, em que o autor alerta que nós avançamos no conhe-
cimento novo contra o conhecimento antigo. Leia atentamente o trecho apresentado a seguir,
extraído de uma obra referenciada:

“...a experiência que não retifica nenhum erro, que é monotonamente verdadeira,
sem discussão, para que serve? A experiência científica é, portanto, uma experiência
que contradiz a experiência comum. Aliás, a experiência imediata e usual sempre
guarda uma espécie de caráter tautológico, desenvolve-se no reino das palavras e
das definições; falta-lhe precisamente esta perspectiva de erros retificados que ca-
racteriza, a nosso ver, o pensamento científico.” (BACHELARD, 1996, p. 12)

+ leituras
Para aprofundar sua visão sobre o pensamento científico
proposto por Gaston Bachelard, faça a leitura do livro
O Pensamento Científico. Acesse o material disponível em
http://bit.ly/BNCC_mod1_text4.

Agora que discutimos sobre a importância de interpretar os fatores internos e externos


que podem impactar na aprendizagem, continuaremos a falar sobre as ações que podem ser
feitas, já que o tema da necessidade de mudança é permanente na educação.

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Manual de sobrevivência

Assista ao vídeo disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_vid4.


Percebemos que alguns fatores podem ser controlados e outros não, exigindo uma cer-
ta preparação para a tomada de ação no campo da educação. Educar em tempo de incertezas
exige a revisão constante da caminhada a ser percorrida. Com base nessa análise, apresen-
tamos algumas ações que podem ajudar a enfrentar os tempos de turbulência e de excessos
de desafios. Como vimos, é preciso desligar o piloto automático e fazer os ajustes necessá-
rios; rever a intensidade de trabalho e inserir momentos de pequenas pausas para avaliar os
indicadores e pensar nas coisas do dia; e, cultivar a esperança, cuidar do olhar esperançoso,
do “inédito viável”, como insistia Paulo Freire. A escritora Ana Maria de Araújo Freire, viúva de
Freire, traz uma análise sobre o termo na Nota 1, página 106, do livro Pedagogia da Esperança.
Acesse o material disponível em http://bit.ly/BNCC_mod1_text5.
Por outro lado, refletimos também que, em situações de turbulências, executar essas
ações não é tão simples, pois o excesso de desafios pode enganar os nossos sentidos e dificul-
tar a leitura dos indicadores internos e externos da sala de aula. Assim, identificamos que não
há outra saída, é preciso problematizar a realidade e assumir uma postura de engajamento
para seguir adiante. Ignorar as mudanças, as tendências e os seus impactos não são a me-
lhor saída, as consequências podem ser desastrosas para a educação. A melhor alternativa,
portanto, é se preparar para as turbulências e para as mudanças do cotidiano escolar. Na
verdade, esperamos que as mudanças e as turbulências aconteçam, então, precisamos nos
organizar para enfrentá-las.
Temos que aprender a ler sistematicamente o painel do voo da nossa sala de aula e da
nossa vida. Algumas perguntas podem nos ajudar nessa breve pausa: O que eu penso sobre
o que aconteceu hoje? O que farei a partir do que aconteceu? O propósito aqui, deste rito
de pausa, é deixar de correr atrás da vida e caminhar com ela. Uma outra ação fundamental
em tempos de turbulência é cultivar a esperança. O olhar educativo é aquele carregado de
esperança. É preciso lembrar, quantas vezes for necessário, que “o avião foi feito para voar”.
Parafraseando Guimarães Rosa, o que a educação precisa é de pilotos de coragem. E que
tenhamos uma boa viagem.

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