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INSTITUTO DE EDUCA ABERTA E À DISTÂNCIA – IEDA
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Maputo, Outubro de 2009


_________

0
Doc. 17
MANUAL DE
CAPACITAÇÃO ANDRAGÓGICA
DE TUTORES EM EXERCÍCIO

Elaborado por:

 Armando Machieie
 Arnaldo Chamusse
 Luis Tumbo
 Lurdes Patrocínia M.Nakala
 Manuel Simbine
 Marta Bazima
 Moisés Magacelane
 Rogério Balate

Adaptado por:

 Armando Machaieie
 Castiano Pússua Gimo

Maputo, Outubro de 2009

1
Nota introdutória

O estudo minucioso dos cursos organizados pelo IEDA permitiu constatar-se


que muito dos problemas que os beneficiários têm revelado no processo de
aprendizagem são decorrentes da falta de adopção de uma estratégia adequada
por parte do tutor no dia -a-dia de interacção com os aprendentes.

Este manual de andragogia tem em vista potenciar o tutor de informações que


lhe vão permitir melhorar as suas estratégias para a resolução de vários conflitos
pedagógicos e ou administrativos durante a facilitação do processo de
aprendizagem dos alunos, uma vez que andragogia é a arte ou ciência de
orientar o adulto a aprender.

Estamos convictos de que a informação contida neste manual é de grande


monta para ajudá-lo a agir com ciência perante os desafios que vai encarar no
desempenho da sua actividade como tutor. Assim, aconselhamo-lo a ler o
manual com muita atenção.

Tenha Bom Proveito!

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 1 Conheça o seu cliente

Antes de tudo o mais importante é que o tutor conheça o seu cliente, o aluno. O
conhecimento das características do aluno vai permiti-lo entender, interpretar,
compreender melhor os fenómenos relacionados com manifestações psico-
motoras do aluno e intervir duma forma adequada e consciente.

1.1 O aluno adulto

A definição de adulto é muito relativa: “ na verdade não há a nível mundial uma


definição concreta do adulto, sobretudo no que se refere ao momento inicial da
idade qu corresponde”. Porém pode-se definir o adulto (segundo o Dr. John
Norbeck) como sendo aquele que já ultrapassou a adolescência; é
responsável por si (e pelos outros) e tem uma experiência de trabalho a
tempo inteiro (remunerado e ou não remunerado).

1.1.1 Capacidade e limitações

Várias investigações demonstram que em caso de não haver doenças que


provoquem alterações de fundo, a capacidade de aprendizagem e a inteligência
mantêm-se até idade muito avançada. Apenas a memória mecânica, como aliás
está provado cientificamente se mantém activa até aos 25 anos para depois
começar a diminuir.

Mas por outro lado a memória do contexto que consiste na aprendizagem das
coisas relacionadas com o que já se sabe é mais eficaz por volta dos 25 anos e
mantêm-se até cerca dos 60 anos.

Portanto: o adulto tem uma memória mecânica


fraca e uma memória de contexto activa

3
Quando o adulto se queixa de falta de memória refere-se à memória mecânica e
imediata1
Desta forma entendemos ser importante que a educação de adultos, pelas suas
características, contribui para desenvolver a capacidade intelectual do adulto.

Esta conclusão não quer significar que se deva excluir a atenção particular que o
tutor deve dar a cada aluno tendo em conta que se vai deparando com várias
dificuldades de ordem psíquica e filosófica `a medida que a idade vai
avançando. Alguns exemplos destas dificuldades são: alteração de audição, de
visão, de tempo de reacção e da capacidade de ritmo de aprendizagem.
Destas vamo-nos debruçar das duas últimas.

1.1.2 Alteração do tempo de reacção

À medida que a idade vai avançando as nossas capacidades de resposta às


coisas, vão-se tornando cada vez mais lentas. O nosso raciocínio, apesar de
sólido, torna-se mais lento. O Adulto responde às solicitações com clareza e
objectividade, mas leva mais tempo a dar resposta do que um jovem.

1.1.1 Alteração de capacidade de aprendizagem

É comum ouvir-se uma pessoa a dizer que estudar e aprender são tarefas
destinadas às crianças; que fulano está perdendo tempo a estudar porque já
passou da idade.

Muitas vezes, são os próprios alunos a afirmar que não se podem matricular
porque já não têm capacidade nem idade para aprender. O pior é que muitos
estão convencidos de que de facto tais afirmações correspondem à verdade. O
importante para um formador de adultos é estar atento e preparado para
responder a questões do tipo: um adulto pode aprender?

Hoje há provas suficientes e com fundamentos científicos que nos permitem


responder afirmativamente e com muita convicção de que o adulto pode
realmente aprender.
Muitos investigadores depois de muitas experiências e análise dos diferentes
factores que interferem na aprendizagem tais como a memória, compreensão do
significado verbal, raciocínio indutivo, etc... chegaram à conclusão de que a
capacidade de assimilação não diminui até aos 60 a 65 anos. A partir desta
idade ela diminui mas muito lentamente.
_______________________________________________

1
Texto 2.1
Memória Mecânica é aquela que consiste na mera gravação e reprodução de conhecimentos e
comportamentos, ex.: a memória de uma criança que ouve, grava e reproduz informações sem
grande esforço.
4
Os factores que Interferem Negativamente no Processo de
Aprendizagem do Adulto

No processo de aprendizagem do adulto existem factores que interferem


negativamente no desempenho. Assim, o decorrer do tempo de vida de um
indivíduo, a resistência às mudanças, a tendência de transferir as atitudes
negativas, as dificuldades em partilhar vivências em dinâmica de grupo e em
avaliar positivamente suas realizações pessoais, constituem factores que
influenciam negativamente no processo da aprendizagem do adulto.

O facto de encontrarmos gente a pensar que “serei sempre deste jeito, sou velho
demais e errado demais, para mudar agora!...” ilustra que há pessoas que se
opõem às mudanças.

Algumas atitudes de facilitadores, tais como:

 você não deveria fazer deste jeito;


 seu modo de fazer está todo errado;
 você deve proceder exactamente deste modo;
 se não fizer deste modo, vou riscar tudo;

São exemplos de algumas mensagens negativas que podem ser


transferidas.

As dificuldades em partilhar vivências em dinâmicas do grupo e em avaliar


positivamente suas realizações pessoais estão relacionadas com o medo de
fracassar. O medo de fracassar coincide geralmente com a falta de confiança
em si próprio. Assim, os indivíduos que defendem ideias, tais como:

 eu é que determino minhas dificuldades ou facilidades no amor ou na


vida;
 eu sou responsável pelo que me acontece;
 não tem astro nenhum que influencie o meu destino.

Estes são alguns exemplos que demonstram as dificuldades em partilhar


vivências em dinâmicas do grupo.

Por seu turno, as dificuldades em avaliar suas realizações pessoais são outros
factores limitantes na aprendizagem do adulto que consistem em ideias tais
como:
 meus trabalhos nunca atingem a qualidade esperada;
 penso que o trabalho do meu colega é melhor!
Um outro factor que intervém de forma negativa num indivíduo é a falta de
autoconfiança como ilustram os exemplos seguintes:

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 não tenho condições de vencer porque, no fundo, sou limitado,
carente, despreparado, incompetente;
 eu sei que não vou conseguir isso, isso não é para mim;
 não vou conseguir resolver sozinho;
 sou fraco, não posso tomar minhas próprias decisões.

Em última análise, o sucesso de desempenho do individuo tem como base a


capacidade de adaptação, a auto-estima e a auto-confiança.

Questão para reflexão

Como minimizar os efeitos dos factores que interferem negativamente na


aprendizagem de um indivíduo?

Texto 2.2

6
Os factores que Contribuem Positivamente no Processo de
Aprendizagem do Adulto

Como vimos anteriormente, o adulto é prejudicado por factores negativos que


dificultam a assimilação de conteúdos. Porém, ele pode ser compensado por
aquisições (factores positivos) que facilitam esse processo de estudo-
aprendizagem conforme se pode constatar a seguir.

 assimilação e transferência das ideias criativas vindas de outras pessoas;


 construção da independência pessoal;
 responsabilidade pela organização da própria vida;
 consciência das suas potencialidades, da sua situação no mundo e do
limite das suas aspirações;
 gosto pela exibição de seus conhecimentos e orgulho do seu grau de
informação;
 visão pragmática da vida;
 consciência de si e da sua realidade;
 maior capacidade de organização dos conhecimentos adquiridos;
 vivência e orientação baseada na busca constante de informação;
 organização, disciplina, pontualidade, estrutura e capacidade de
planificação.

Observando estes requisitos de que o adulto é portador podemos concluir que


cabe ao facilitador da aprendizagem privilegiar-lhe as capacidades
melhorando deste modo a aprendizagem e, consequentemente, o seu
desempenho.

Questão para reflexão

Que estratégias podem ser utilizadas para explorar as capacidades do adulto de


forma a favorecer a sua aprendizagem?

Texto 2.3

7
Os factores que Contribuem para a Motivação

É importante lembrar que quando se trata de educação de adulto é preciso


ter cuidado com a questão da motivação, isto é, com a criação de condições
favoráveis para levar o individuo a agir com energia a fim de atingir um
determinado objectivo.

As metas da aprendizagem propostas para o adulto não podem estar abaixo


nem acima das suas capacidades de realização para que, deste modo, possa
ver as suas expectativas concretizadas. Um adulto pode alcançar um excelente
aproveitamento e satisfação pessoal se trabalhar tendo em vista as metas mais
altas que possa alcançar desde que esteja confiante de que no final terá a
recompensa desejada.

O adulto tem sempre em vista a sua auto-confiança. Atingir os objectivos, ter


sucessos e ser reconhecido são ingredientes básicos do seu dinamismo.
Quando é apresentado ao individuo a possibilidade de sucesso, o seu espírito
competitivo aumenta e entusiasma-se com o resultado do seu desempenho na
busca da realização dos objectivos que definiu para a sua vida, estabelecendo
uma competição consigo mesmo.

Em cursos para adultos para além dos conteúdos serem úteis, modernizantes,
importantes ou interessantes é necessário sobretudo, que sejam
compatíveis com os interesses, com as condições socioculturais e com as
expectativas de realização pessoal do sujeito a quem se destina. Quando o
adulto começa a aplicar o que foi aprendido à compreensão de factos e à
solução de problemas práticos, significa que está a realizar transferência da
aprendizagem e que esta tem significado e que, portanto, interessa ao seu
projecto de vida.

Cabe ao facilitador conhecer todos estes factores para poder fazer a sua gestão
no sentido de manter a motivação.

Questão para reflexão

Que estratégias o tutor deverá utilizar para a manutenção da motivação?

Texto 2.4

8
Significatividade e Relevância

Significatividade é o conjunto de associações que o adulto realiza a volta de


um conteúdo a ser aprendido. Quanto maior for o número de associações
relacionados ao conteúdo a ser aprendido, mais significativo ele será e mais
facilmente será incorporado ao universo que compõe a familiaridade do adulto.

A significatividade dos conteúdos depende em boa medida da aprendizagem


passada, ou seja do maior ou menor reportório de conhecimento e experiências
do aluno adulto.

Note que a significatividade está directamente relacionada com a relevância dos


conteúdos que o adulto aprende. Quando os conteúdos são importantes e ao
mesmo tempo compatíveis com os interesses, ou seja relevantes, o adulto
aprende com maior facilidade.

Quando os conteúdos que o adulto aprende são significativos e relevantes ele


tem capacidade suficiente de utilizá-los em diferentes situações a seu
favor.

Quando o aluno adulto começa aplicar o que está a aprender à compreensão de


factos e à solução de problemas práticos, significa que está à realizar a
transferência da aprendizagem e que esta tem significado portanto interesse
ao seu projecto de vida.

O facilitador deve conhecer as experiências ou vivências do adulto e seus


interesses para permitir a transferências dos seus conhecimentos.

Questões para reflexão

Qual deverá ser o papel do tutor na orientação da aprendizagem significativa?

Texto 2.5

9
Auto-Estima

Os seres humanos comportam-se de maneiras diferentes. É assim que


encontramos pessoas que se sentem seguras de si mesmas, são alegres e
desejosas de opinar e dispostas a aceitar as opiniões dos demais. Outras, ainda
são incapazes de gerir os seus sentimentos e conviver com as diferenças.

No primeiro caso, o individuo porque tem auto-estima alta tem confiança em si


mesmo, de forma que traça planos de acção visualizando o quê, onde, quando
e como atingir as suas metas, busca satisfazer as necessidades já que sabe
que só ele é capaz de fazê-lo, pois tem uma visão pragmática da vida.

No segundo caso o individuo traça metas, mas não consegue alcançá-las em


virtude da imagem negativa que tem de si mesmo.

Assim, podemos afirmar que a auto-estima é a fonte inesgotável que se


converte em energia que mobiliza o individuo em direcção às situações
que deseja tornar realidade.

Questão para reflexão

Que atitudes o tutor deve adoptar para desenvolver uma gestão participativa e
interactiva no Centro de Apoio e Aprendizagem?

Texto 2.6

10
Equilíbrio Emocional e Objectividade

O individuo que tenha alcançado um equilíbrio emocional será capaz de gerir a


sua vida de forma a não estar a mercê dos acontecimentos. Assim, deverá ter
domínio sobre eles dando-lhes a dimensão que verdadeiramente têm.

Quem tem domínio sobre os acontecimentos age de forma objectiva no


equacionamento dos problemas que terá de resolver tanto no âmbito de sua vida
pessoal e familiar quanto na sua actividade profissional, não permitindo que uns
interfiram sobre os outros em detrimentos de seu melhor desempenho num e
noutro sector.

Questão para reflexão

Qual deverá ser a postura do tutor ante os efeitos de seus problemas pessoais e
familiares sobre suas actividades no Centro de Apoio e Aprendizagem?

Texto 2.7

11
Assertividade

O individuo assertivo expressa suas ideias ou sentimentos de maneira


apropriada e directa no momento oportuno e sobre a pessoa precisa, com a
finalidade de comunicar. O individuo é responsável pelos pensamentos,
sentimentos que expressa, assim como pela sua conduta. A conduta assertiva
gera sentimentos de bem-estar, entusiasmo e sentido de equilíbrio nos demais.

Questão para reflexão

Que comportamento o tutor deve adoptar no seu relacionamento com o aluno


adulto?

Texto 2.8

12
Manejo das Condições do Desempenho

Sabemos que, por mais motivado que seja, um aluno está sempre sujeito a
baixas no seu desempenho. Algumas vezes em função de interferências
internas ou externas que diminui a sua capacidade de resposta ao desafio da
aprendizagem, outras, em consequência de distorções da memória, outras,
ainda, em virtude de certa dificuldade em seleccionar o que deve ser lembrado
ou incapacidade de realizar associações de ideias e descobrir analogias para
criar condições facilitadores de aprendizagem.

Para garantir-se o desempenho desejado na educação de adultos, é necessário


que as metas sejam realistas, de realização possível e de carácter significativo
para o aluno.

A manutenção do desempenho do adulto está ligada à realização do


“feedback”.
A prática e a repetição dos resultados positivos da aprendizagem ajudam a
manter os resultados já obtidos e facilitam a obtenção de novos resultados
positivos.

Cabe ao tutor-facilitador desenvolver junto dos seus alunos, técnicas individuais


ou de grupo, onde, por exemplo, se possa explorar o espírito de ajuda mútua,
proporcionando assim a manutenção de desempenho.

Questão para reflexão

Qual deve ser a actuação do tutor no sentido de ajudar o aluno a manter um


padrão desejável de desempenho?

Texto 2.9

13
Observação, Feedback e Retroalimentação do Desempenho

O facilitador do processo de aprendizagem do adulto precisa de observar


permanentemente o desempenho do individuo. No desempenho do individuo, o
facilitador deverá observar os factores de sucesso e de insucesso. No caso
de insucesso, o facilitador deverá identificar as causas que expliquem as
discrepâncias.
Com base no feedback fornecido pelo individuo e completado pela observação,
o deverá recorrer ao processo de retroalimentação, com o fim de ajudar o aluno
a ultrapassar as dificuldades demonstradas.

Para o aluno adulto, o conhecimento do resultado ou feedback é de capital


importância. Mesmo que o aluno esteja em um dado momento, cônscio de que
já domina a capacidade para realizar determinada tarefa, o desempenho real é o
melhor meio de assegurar que a aprendizagem de facto ocorreu. Por essa via,
ele tem a satisfação decorrente da percepção do produto de sua aprendizagem,
isto é, o reforço capaz de manter a motivação para as próximas aprendizagens.

Questão para reflexão

O individuo é reconhecidamente inteligente e aparentemente aplicado, mas


inexplicavelmente não consegue atingir o desempenho desejado.

O que tutor deve fazer para resolver esse impasse?

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 Demonstrar é melhor do que ensinar
 É melhor prevenir do que remediar
 Não dê peixe, ensine a pescar
 Correr não é chegar
 Cada coisa a seu tempo

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PROPRIEDADE DO IEDA – PROIBIDA A REPRODUÇÃO, COPIA OU
ADAPTAÇÃO
COPYRIGHT: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FORMATADO E IMPRESSO NO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ABERTA E


À DISTÂNCIA

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