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CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO

1. Apresentação

Moçambique é um dos países com muitos recursos naturais. O grau de conhecimento


geológico até agora atingido faz-nos perceber que todos os recursos minerais
considerados apresentam perspectivas favoráveis para a sua exploração, e a Província de
Cabo Delgado não está isenta deste fenómeno.

O distrito de Namuno em Cabo Delgado é um dos que também, detém dos recursos
minerais no país, acreditando-se que o sector mineiro representa um grande contributo
para a economia local. Mais também, é um dos grandes empregadores de mão-de-obra e
tem um grande potencial em termos de impacto rural podendo até constituir grandes
focos de desenvolvimento e de combate a pobreza nas áreas onde se encontra inserido
(BAKKER, 2008, p. 75).

Apesar de esse sector trazer ganhos, ainda notam-se impactos negativos advindo desta
área, que segundo o relatório de mineração 1”o processo de exploração mineira
efectivada frequentemente leva à degradação e contaminação do ambiente em geral.
Esses perigos ambientais têm implicações na saúde e no bem-estar dos mineiros
artesanais, das comunidades circunvizinhas e também do meio ambiente no geral. Os
perigos ambientais incluem degradação do solo, erosão e contaminação da água, sendo
este último, a maior preocupação da comunidade local.

O presente trabalho foi concebido com o tema Poluição das águas nas zonas de
exploração mineira no Distrito de Namuno, tendo como estudo de caso: Minas de
Macorongo (2016-2018), com o propósito de analisar os efeitos da actividade de
extracção mineira em relação contaminação das águas que atentam a saúde das
comunidades na Aldeia Natala, distrito de Namuno.

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Medicusmund - Projecto Mineração Artesanal, Direitos Ambientais e Culturais em Cabo Delgado, Março
de 2018.

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1.2. Estrutura do trabalho

O trabalho segue a seguinte estrutura, formada em capítulos:

Capítulo I: Introdução, que contém a apresentação do tema; delimitação do estudo;


problemas de pesquisa; os objectivos gerais e específicos; justificativa de escolha de
tema pesquisado; hipóteses de pesquisa;

Capitulo II: tem a ver com o enquadramento teórico, onde aborda questões relacionadas
com recursos naturais e a mineração. É neste capítulo que mostra as diferentes
abordagens relacionadas com a existência e exploração dos recursos naturais, tendo em
conta os seus impactos em Macorongo, mostrando as suas implicações na saúde das
comunidades abrangidas pela mineração.

Capítulo III: tem a ver com a metodologia, onde mostra os procedimentos usados para a
realização da pesquisa. Há que ter em conta o tipo de pesquisa, métodos usados, as
técnicas assim com como o tipo da amostra.

Capitulo IV: Contém a apresentação dos resultados, onde primeiro faz-se a localização
geográfica da área de estudo; também são abordados assuntos referentes ao processo de
exploração mineira nas minas de Macorongo. E por último, o capítulo V, foi reservado
para as conclusões, onde mostra -se uma resenha sobre o processo de contaminação das
águas em relação ao atentado á saúde da comunidade local.

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1.3. Delimitação do Tema

O trabalho foi concebido com o propósito de Analisar os efeitos da actividade de


extracção mineira em relação contaminação das águas que atentam a saúde das
comunidades na Aldeia Natala, num período compreendido entre 2016 á 2018. Com
este tema, foi desenvolvido um trabalho de pesquisa no distrito de Namuno, Localidade
de Mahossine, concretamente na aldeia Natala, local onde constituiu a nossa área de
estudo, devido a existência de número considerado de minas e pessoas que desenvolvem
a prática de extracção mineira como também a lavagem das camadas nas margens do
Rio Muatage. Foi com este e mais outos motivo da escolha do local para o
desenvolvimento do presente estudo.

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1.4. Problema

A acção de exploração de recursos minerais em Moçambique, particularmente na


Província de Cabo Delgado, distrito de Namuno, constitui uma realidade. Se esta
actividade for feita de forma transparente e adequada, pode até em algum momento
integrar alguns aspectos que podem gerar significativamente impactos positivos para
economia local, concretamente para o crescimento e desenvolvimento socioeconómico e
sustentável.

Embora nota-se que há maior preocupação com, dentre outras, a questão económica, há
também que ter em conta com alguns aspectos que, até um certo ponto, chama-nos
atenção numa perspectiva social, que é exactamente a questão de extracção dos recursos
minerais feito de forma artesanal sem, entretanto dar-se conta da questão da poluição
das águas em relação aos vários prejuízos, incluindo em particular, o da saúde das
comunidades que vivem nas zonas em que a exploração mineira é efectivada.

A acumulação de resíduos provenientes dos rios, que resultam do processo de lavagem


das camadas nas minas de Macorongo, tem como consequência, por um lado a poluição
da água, afectando a qualidade de vida da população local. E por outro lado, a
precipitação desta actividade acelera os efeitos erosivos das águas e estas, transportam
os poluentes existente nos rios, para o solo e água subterrânea e superficiais que, por sua
vez, acumulam-se em terrenos agrícolas e, em consequência, causar riscos para a saúde
da comunidade, criando condições para alteração da qualidade do ar, destruindo a fauna
e flora e do ecossistema fluviais, sabendo-se presentemente de forma mais exacta as
reais dimensões sobre a saúde humana.

Segundo estudos preliminares na Aldeia Natala, apontaram para resultados que indicam
um elevado risco de contaminação das águas do Rio Muatage resultante da actividade
de extracção mineira, e registou-se níveis elevados de problemas relacionados com a
intoxicação e casos de diarreias agudas resultantes do consumo da água naquela zona 2.
No entanto, os mesmos desconhecem os problemas de saúde destas populações
relacionando com os riscos do uso do mercúrio e outros químicos, como as principais
causas, devido ao consumo de água imprópria e pelo aumento das águas estancadas nas
zonas de lavagem das camadas nas margens do Rio Muatage.

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Suraji, jovem residente em Natala, em entrevista concedida na Sede da Localidade de Mahossine,
Distrito de Namuno em 26 de Junho de 2019.

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Em relação ao problema acima exposto, suscitou-nos a seguinte pergunta de partida:

 De que forma a exploração mineira constitui um atentado á saúde na


comunidade de Natala.

1.5. Objectivos

1.6.Objectivo Geral

 Analisar os efeitos da extracção mineira em relação a contaminação das águas


que atentam a saúde das comunidades na Aldeia Natala.

1.6.1. Objectivo Específicos

 Identificar os principais problemas de saúde no seio das comunidades abrangidas


pela poluição das águas do Rio Muatage na Aldeia Natala.
 Descrever as consequências dos efeitos da extracção mineira em relação a saúde
das comunidades na Aldeia Natala.

1.6.2. Hipóteses

 A prática de exploração mineira artesanal em zonas próximas da comunidade


contribui para que haja a existência de casos de mau estar de saúde da
população, devido a contaminação da água, resultante da lavagem das camadas
em rios que a mesma população usa no seu dia-a-dia.
 A não observância de regras e medidas positivas de exploração dos minérios,
pode também influenciar na existência de poluição das águas naquelas
comunidades.

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1.7. Justificativa

A escolha deste tema justifica-se pelo facto do distrito de Namuno, particularmente nas
zonas de extracção mineiras, nos últimos anos, haver maior registo de caso relacionados
com problemas de saúde das comunidades que vivem arredores das zonas de exploração
mineira, que em algum momento tem levantado vários debates no seio dos académicos,
sociedade civil, políticos, entre outros, sobretudo no que concerne ao processo de
exploração mineira em relação à contaminação das águas que a mesma comunidade usa
no seu dia-a-dia para diversos fins, bem como nas áreas onde esta actividade está sendo
exercida.

Segundo alguns pensadores, como GONSALVES (2013, p.54), Moçambique deveria


apostar no seu grande potencial em recursos minerais para o desenvolvimento
socioeconómico. Para que estes recursos beneficiem a maioria, sem que haja
necessariamente prejuízos no seio da população circunvizinhas das áreas de exploração
mineira.

Tal como afirma o autor:

“...actividade mineira continua a ser uma das profissões mais


perigosas do mundo, sendo os principais efeitos na saúde dos
trabalhadores assim como das populações à doenças diversas.”

No entanto, enfatiza-se a necessidade de implementar medidas de prevenção, correcção


e planos de reabilitação de atitudes que conduzam a uma redução de risco de doenças e
outros casos, apontado a necessidade de actuação imediata das autoridades competentes
nesta área de implementação de estratégias que visam a protecção das populações
expostas a estes males BAKKER (2008, p.79).

É neste contexto que surge a necessidade de se fazer um estudo a fim de compreender


os diferentes argumentos no seio da actividade de exploração dos recursos minerais ao
nível local, bem como avaliar as estratégias que estão sendo tomas sentido de estancar
os casos de poluição das águas e outros males que apoquentam a população nas zonas
de exploração mineira na Aldeia Natala.

Desta forma permitirá à comunidade em geral, despertar a atenção da importância social


e económica da actividade mineira que está sendo realizada em Macorongo, bem como

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o seu impacto ao nível de rendimentos, combate ao desemprego e redução da pobreza
absoluta no país, sem entretanto prejudicar a saúde dos residentes circunvizinhos.

No que concerne a área académica, esperamos trazer mais conhecimentos científicos em


relação aos impactos da exploração mineira, no sentido de criar mais oportunidades de
mais pesquisas sobre outros aspectos socias que constituem preocupação para a
população nessas zonas de exploração, propondo melhores medidas de segurança á
saúde. De igual modo também, irá fortalecer a capacidade do sistema de saúde na
prestação de serviços às comunidades das zonas de mineração, melhorando a
capacidade dos recursos humanos e desenvolvendo novos sistemas de registo que
permitam adequar a oferta de serviços aos novos perfis sociais e sanitários que a
mineração artesanal está a criar.

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CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA

2. Enquadramento teórico

Segundo MATOS (2017, p.281), as transformações político-económicas atravessadas


por Moçambique desde o alcance da independência forçaram o país a tornar-se num
território aberto aos incursos do capital internacional. Rico em recursos minerais, o país
passou por um período de relativo fechamento às baixas do capital internacional, devido
à estratégia de desenvolvimento alicerçada na socialização do campo, em que o Estado
era o principal e único responsável pelos destinos do país. O intervencionismo e a
nacionalização das empresas abandonadas pelos colonos, logo após a independência, e a
estatização da economia jogaram um papel importante na marginalização da iniciativa
privada.

Das literaturas revistas, constatou-se que, até muito recentemente a actividade mineira
em Moçambique tinha um papel muito reduzido no desenvolvimento da economia do
país devido entre outras razões, às más condições de segurança, dados geológicos
incompletos, um sistema legal e ambiente de negócios pouco desenvolvidos, e falta de
recursos financeiros internos e externos. Com a paz no país, Moçambique oferece agora
grandes perspectivas para a exploração dos recursos minerais.

Importa salientar que as publicações sobre a mineração artesanal em Cabo Delgado são
escassas e, em muitas ocasiões, oferecem dados fragmentados. Ademais, desde o ponto
de vista sociopolítico, o garimpo tem vindo a deteriorar as relações entre o Governo
local e os moradores das aldeias. Constata-se um aumento dos benefícios económicos
das populações envolvidas nesta prática e um aumento temporal de alguns postos de
trabalho. Porém, segundo a Direcção Provincial de Saúde-DPS (2017), citada pela
Iniciativa para Terras Comunitárias - Cabo Delgado (iTC, 2010, p.46), nas nessas zonas
de exploração mineira, presencia-se condições precárias nas pessoas que trabalham nas
minas, assim como, há falta de serviços adequadas de saúde, educação, entre outros.

Um estudo realizado em 2017 procurou descrever as minas artesanais no Distrito de


Namuno, na Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique e identificava alguns
factores condicionantes tais como o estado de saúde e as perspectivas dos mineiros
tradicionais que vivem na área em estudo.

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Destacam-se factores de comportamento das pessoas, como exercício de actividade
mineira sem protecção, hábitos tabagismos, alcoólicos, prática de relações sexuais não
protegidas, aliciamento de raparigas menores para a prática do sexo, entre outros
factores relacionados com os estilos de vida das pessoas envolvidas directa ou
indirectamente na exploração de recursos naturais 3. Não obstante, os garimpeiros, ou
seja, os trabalhadores de minas interagem com seus pares e comunidade imediata e
influenciam ou são influenciados por eles. Em seguida, para que as pessoas abrangidas
pela prática extractiva mantenham sua saúde, a sua capacidade é influenciada pelas
condições de vida e de trabalho, isto é, o fornecimento de alimentos, habitação,
condições de emprego e o acesso a bens e serviços essenciais com destaque para
escolas, saneamento básico, serviços de saúde. Finalmente, as influências ambientais,
políticas, legais e estruturais incluindo as condições socioeconómicas e culturais que
afectam a sociedade de Cabo Delgado em geral.

Acreditamos nós que, esta abordagem vem reforçar o pensamento de BAKKER (2008,
p.36), ao abordar sobre a necessidade de implementar medidas de prevenção, correcção
e planos de reabilitação de atitudes que conduzam a uma redução de risco de doenças e
outros casos, apontado a necessidade de actuação imediata das autoridades competentes
nesta área de implementação de estratégias que visam a protecção das populações
expostas á estes males.

Por sua vez DAHLGREN & WHITEHEAD (2006, p.82), destacam que os
determinantes da saúde podem ser influenciados por factores individuais ou decisões
políticas que podem ser factores de saúde positivos, factores de protecção e factores ou
condições de risco da prática extractiva. Entre os factores de saúde positivos da prática
extractiva, poderiam destacar os investimentos feitos pelas empresas de modo a
construir casas melhoradas, criar condições para produção alimentar nas áreas
abrangidas e a construção de unidades sanitárias sob o patrocínio das empresas
extractivas.

Entre os protectivos destacam-se aqueles que eliminam o risco de resistência à doença


ou acidentes. Por exemplo, a obrigatoriedade de uso de roupas e equipamento protector
3
Medicosmundi - Actividade realizada no âmbito do projecto: “Redução do impacto negativo da
mineração artesanal na saúde individual, comunitária e ambiental”, com especial enfoque nas
comunidades mineiras nos distritos de Montepuez, Namuno e Ancuabe.

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no local de trabalho, o apoio aos serviços de cuidados de saúde primários na promoção
de saúde, brigadas móveis para vacinação, suplementação com vitamina A,
desparasitação entre outras formas de melhoramento do bem-estar da comunidade nas
zonas em destaque.

Por último, os factores de risco são as várias condições oriundas da prática extractiva
informal e formal que causam problemas de saúde e doenças/enfermidades e que são
potencialmente evitáveis. Estes factores de risco podem ser do local de trabalho,
económicos ou podem estar associados a problemas ambientais específicos como o ar
ou água poluída entre outros.

3.Quadro conceptual

3.1. Poluição das águas

Segundo MAGALHÃES (2013, p.102), compreende que a poluição é a introdução de


substâncias ou energia de forma acidental ou intencional no meio ambiente, com
consequências negativas para os seres vivos.

Para autora, o fenómeno de poluição passou a ser mais intensa a partir da Revolução
Industrial, onde culminou no aumento da industrialização e urbanização. Ainda enfatiza
que actualmente a poluição é considerada como um grave problema ambiental.

Para PITCHER (2003, p.75), a poluição é qualquer alteração provocada no meio


ambiente, que pode ser um ecossistema natural ou agrário, um sistema urbano ou até
mesmo em micro escala. Segundo autor, a poluição que provoca alterações da água é
chamada de poluição da água, e ainda secunda que, o termo poluição deriva do
latim poluere, que significa “sujar.

Desta forma, percebemos que também, poluição pode ser resultado da introdução de
substâncias naturais, porém estranhas a determinados ecossistemas. É o caso do despejo
de matéria orgânica no leito do rio Muatage na aldeia de Macorongo.

Relativamente a esta abordagem, (PITCHER, 2003. p.72), aponta seguramente que, a


poluição pode ser causada pela introdução de substâncias artificiais e, portanto,
estranhas a qualquer ecossistema. Por exemplo: a deposição de agros tóxicos e de
recipientes plásticos no solo e nas águas, o lançamento de elementos radioactivos
artificiais na atmosfera, no solo e nas águas.

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Segundo o autor, existe variadas formas de poluição. Sendo que para o nosso estudo,
apenas nos cingiremos somente na poluição das águas.

Assim, importa-nos de seguida compreender o termo poluição das águas, que foi
apresentado por ARAÚJO (1989, p.103) e afirma que, é resultado das alterações de sua
qualidade e que a tornam imprópria para o consumo e prejudicial aos organismos vivos
que nela habitam. Como as suas propriedades são alteradas, a água poluída traz
prejuízos ao ambiente natural e ao homem.

Por sua vez SERRA (1991, p.32, na sua abordagem, dá a entender que a poluição das
águas é um tipo de poluição causado pelo lançamento de esgoto residencial ou
industriais não tratados em cursos da água (rios, lagos ou mares) ou ainda pela
contaminação por fertilizantes agrícolas.

Segundo este, o conceito de água poluída compreende não só as modificações das


propriedades físicas, químicas e biológicas da água, mas também a adição de
substâncias líquidas, sólidas ou gasosas capazes de tornar as águas impróprias para os
diferentes usos a que se destinam.

Entretanto, em torno das abordagens acima apresentadas, importa deter que a água
poluída perde a qualidade e por conseguinte, causa problemas graves de saúde e
aumenta a contaminação por diversas doenças, principalmente infecções.

3.2. Exploração mineira

Do francês “exploitre” que é “explorar” é um verbo que admite várias acepções, entre
os quais se destaca a acção de tirar proveito das riquezas de um negócio. A acção e
o efeito de explorar recebe o nome de exploração (SINOIA, 2010, p.29).

Desta feita a palavra “mineiro”, por sua vez, diz-se daquilo que pertence ou que é
relativo às minas ou seja, o trabalho que se realiza nas minas (idem).

Assim, do ponto de vista racional, tendo como base o ideia apresentada por (Sinoia,
p.2010), pode-se dar a entender que a exploração mineira (garimpagem), pode ser vista
como sendo um conjunto de actividades socioeconómicas levadas á cabo por
determinadas pessoas ou seja garimpeiros, para obter e aproveitar os recursos de uma
mina.

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Em alguns países como caso do Brasil, o termo “garimpagem” relaciona-se á actividade
que o “garimpeiro” faz nos locais chamados “garimpos”. A palavra “garimpeiro” é
depreciativa, uma vez que na sua origem no século XVIII, era atribuída a
“contrabandistas que catavam diamantes a furto nos distritos onde era proibida a entrada
de pessoas estranhas ao serviço legal da mineração” (FERREIRA, 1980, p.186).

Mineração é um termo que abrange os processos, actividades e indústrias cujo objectivo


é a extracção de substâncias minerais a partir de depósitos ou massas minerais. Podem
incluir-se aqui a exploração de petróleo e gás natural e até de água.

Do ponto de vista, industrial, a mineração é indispensável para a manutenção do nível


de vida e avanço das sociedades modernas em que vivemos. Desde os metais às
cerâmicas e ao, equipamentos eléctricos e electrónicos, cosméticos, passando pelas
estradas e outras vias de comunicação e muitos outros produtos e materiais que
utilizamos ou de que desfrutamos todos os dias, todos eles têm origem na actividade da
mineração. Pode-se sem qualquer tipo de dúvida dizer que sem a mineração a
civilização actual, tal como a conhecemos, pura e simplesmente não existiria, fato do
qual a maioria de nós nem sequer percebe.

3.4. Atentado à saúde

Antes de apresentarmos a abordagens sobre o significado (atentado á saúde), importa


trazer a prior, o conceito de saúde como forma de termos a ideia de perceber-se do que
se trata em relação à junção o termo “atentado”, uma vez que existe pouca informação
acerca do mesmo conceito nas literaturas.

Assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a
ausência de doença, mas sim, como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e
social (SAGRE et FERRAZ, 1997, p.539).

A definição de saúde da OMS está ultrapassada por que ainda faz destaque entre o
físico, o mental e o social. Para tecer considerações sobre a mencionada
“unilateralidade” da definição da OMS, há que se ter em conta com o conceito de
“qualidade de vida”. Esta que por sua vez, entende-se que “qualidade” seja algo
intrínseco, só possível de ser avaliado pelo próprio sujeito. Prioriza-se a subjectividade,
uma vez que, de acordo inclusive com o conceito de Bion (1967), a realidade é a de
cada um. Não há rótulos de “boa” ou “má” qualidade de vida, embora, conforme já se

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disse anteriormente, a saúde pública, para a elaboração de suas políticas, necessite de
“indicadores” (Idem).

Por sua vez em relação ao termo “atentado” segundo algumas literaturas de língua
portuguesa, pode-se perceber que um atentado (do latim tardio attentatum, "tentativa") é
um ato de violência que visa a causar algum dano ou mesmo destruir algo ou alguém.
Pode ou não ter uma motivação ideológica (seja ela religiosa, política, moral entre
outros) (CASTILHO, 2006, p.43).

No entanto, tendo como base as abordagens acima apresentadas, podemos entender que
a questão de atentado á saúde no contexto do nosso estudo, refere-se a uma determinada
situação que esteja em circunstâncias de lesar ao outrem, isto é, cometer actos de
violência dentro de uma relação social, que existe o risco de que se torne violento contra
outra a pessoa. Desta forma, as técnicas informais usadas no processo de mineração
praticada em Macorongo, tem causado grandes impactos sociais negativos, sobretudo no
que concerne à colocação de risco a saúde da comunidade, através do consumo das
águas contaminadas. Mediante á este acto, poderíamos dizer que estamos perante á uma
situação de atentado a saúde pública.

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CAPÍTULO III – METODOLOGIA

Segundo MARCONI & LAKATOS (2003, p. 221), afirmam que, a especificação da


metodologia da pesquisa é a que abrange maior número de itens, pois responde, a um só
tempo, às questões como? Com quê? Onde? Quanto? Correspondendo componentes
como métodos de procedimentos e de abordagem, técnicas de colecta de dados, tipos de
pesquisa, amostra entre outas.

4. Pesquisa Qualitativa

Para este este tipo de pesquisa SILVA & MENEZES (2001, p.20), advogam que a
pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito. Aqui, o pesquisador tende a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu
significado são os focos principais de abordagem.

O presente estudo foi suportado pela pesquisa qualitativa, onde efectuou-se um trabalho
de campo no distrito de Namuno, concretamente na localidade de Mahossine, na aldeia
de Natala, local onde se localizam as minas de Macorongo, através de método que
compõe a pesquisa qualitativa. O objectivo deste foi de compreender o fenómeno a
partir do significado e contextos. Neste caso o pesquisador foi o elemento principal no
processo de colecta de dados.

4.1. Pesquisa Exploratória

A pesquisa exploratória foi usada para familiarizar-se com o assunto em destaque entre
o pesquisador e o objecto estudado. Neste contexto, foram feitas entrevistadas à pessoas
a nível da comunidade, com conhecimentos sólidos a cerca do processo de exploração
mineira, relativamente á saúde da população. Assim também, as pessoas que já
passaram pelo problema de intoxicação advindo das águas contaminadas.

Em função desta abordagem, GIL (2008, p.27), diz que, a pesquisa exploratória tem
como principal finalidade desenvolver esclarecer, modificar conceitos e ideias, tendo
em vista a formulação de problemas mais preciosos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores.

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4.2. Pesquisa Bibliográfica

Também foi usada a pesquisa bibliográfica, que consistiu na elaboração de fundamentos


teóricos que imprimam a coerência e a estruturação do nosso trabalho com a pesquisa de
campo, a partir de leituras de materiais literários já publicados. Neste caso, constituíram
locais de pesquisa a efectivação do estudo as bibliotecas. Para além destas foram feitas
pesquisas em outras fontes como jornais e outras obras já publicadas, assim como
também, pesquisas electrónicas com base na internet.

4.3. Métodos de Procedimentos

Quanto aos procedimentos privilegiamos o método estruturalista Desenvolvido por


Lévi-Strauss. O método parte da investigação de um fenómeno concreto eleva-se a
seguir ao nível do abstracto, por intermédio da constituição de um modelo que
represente o objecto de estudo retomando por fim ao concreto, dessa vez como uma
realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social (MARCONI &
LAKATOS, 2003, p.110).

Este método permitiu-nos estudar as formas como a comunidade está estruturada no que
diz respeito à prática de lavagem da camada em rios onde a comunidade faz o uso e
consumo da água. Dessa forma, o método estruturalista caminhou do concreto para o
abstracto e vice-versa, dispondo, na segunda etapa, de um modelo que analisa a
realidade concreta do fenómeno estudado.

4.4. Método de Abordagem

Também foi privilegiado método o indutivo, que possibilitou induzir o estudo a chegar
á uma conclusão a partir de dados particulares colhidos no campo. Segundo cientistas
afirmam que, o método indutivo parte das observações particulares para chegar a
conclusões gerais. A constância e a regularidade dos fenómenos produzem uma
generalização, querem levar a uma lei geral e universal (PANASIEWICZ &
BAPTISTA, 2003, p. 94).

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4.5. Técnicas

Quanto à técnica, trabalhamos com a de recolha de dados, baseada no trabalho de


campo, através da entrevista abertas e semiestruturada na aldeia de Natala e nas minas
de Macorongo. Portanto, esta técnica permitiu dar a oportunidade e liberdade aos
entrevistados a se expressarem detalhadamente a respeito da informação referente e
equivalente ao nosso estudo, de acordo com o nível de conhecimento sobre o assunto.
Segundo MARCONI & LAKATOS (2003, p.197) na entrevista semiestruturada, o
pesquisador tem a liberdade de desenvolver cada situação em qualquer direcção que
considere adequada.

4.6. Amostragem

Trabalhamos com uma amostra intencional, onde tivemos como universo físico a
Localidade de Mahossine, Aldeia de Natala, por constituir um local com maior
facilidades no que concerne ao acesso às informações pretendidas, não só, mas também
por se localizarem as actividades de extracção mineira. Todavia, segundo MARCONI &
LAKATOS (2003, p.163) o pesquisador está interessado na opinião (acção, intenção
etc.) de determinados elementos da comunidade, mas não representativos dela. E
afirmam, “o pesquisador não se dirige, portanto, à “massa”, isto é, a elementos
representativos da população geral, mas àqueles, segundo seu entender, pela função
desempenhada, cargo ocupado, prestígio social, exercem as funções de líderes de
opinião na comunidade. Pressupõe que estas pessoas, por palavras, actos ou actuações,
têm a propriedade de influenciar a opinião dos demais”

Em relação ao universo humano pretendeu-se entrevistar 32 pessoas, com idades


compreendidas entre (15-60) anos, sendo (8) de sexo feminino e (12) de sexo
masculino, devido a disponibilidade e cargos ocupados pelas mesmas. Neste caso,
tivemos a amostra de 21 pessoas, num universo de32. É de salientar que, as entrevistas
foram feitas de forma individual á instituições como:

 Ao nível da Secretaria Distrital de Namuno (SDN), foi entrevistado técnicos (1)


da área de recursos minerais afectos naquele sector.
 Na sede da localidade de Mahossine, onde foram entrevistados (2) pessoas
responsáveis.

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 Ao nível do centro de saúde local, foram entrevistados (2) técnicos de saúde.
 Também pretendemos trabalhar com duas associações locais, onde foram
entrevistados (4) membros por cada associação, somando (6) pessoas.
 Na Aldeia de Natala, foram entrevistados (6) pessoas, sem distinção de sexo.

Com estas pessoas, acreditamos que foi possível colher as informações necessárias
relacionadas ao nosso estudo no distrito de Namuno.

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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E INTERPRESTAÇÃO DOS RESULTADOS

5. Localização geográfica da área de estudo

O distrito de Namuno está localizado na parte Sul de Cabo Delgado, confinando a Norte
com o distrito de Montepuez, a Sul com a Província de Nampula através do rio Lúrio, a
Este com o distrito de Chiúre e a Oeste com o distrito de Balama da Província do
Niassa. A superfície do distrito1 é de 6.003 km2 e a sua população está estimada em
202 mil habitantes à data de 1/7/2012. Com uma densidade populacional aproximada de
34hab/km2, prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 223 mil habitantes4.

A estrutura etária do distrito reflecte uma relação de dependência económica de 1:1, isto
é, por cada 10 crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa. Com uma
população jovem (48%, abaixo dos 15 anos), tem um índice de masculinidade de 92%
(por cada 100 pessoas do sexo feminino existem 92 do masculino) e uma matriz rural
acentuada5.

4
Perfil do distrito de Namuno, Província de Cabo Delgado, 1ª edição 2014.
5
Centro Nacional de Cartografia e Teledetecção http://www.cenacarta.com, acedido em 11 de Fevereiro
de 2020.

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5.1.1.Recursos Naturais

O Distrito é bastante rico em minérios como: pedras semipreciosas e preciosas, ouro,


tantalite, águas marinhas e ferro 6. Os mesmos podem ser encontrados nos montes
Chopa, Mahurusse e nos rios Muatage, Namicuio e Napuico.

5.1.2. Florestas/ vegetação

No Distrito de Namuno predomina a floresta aberta, possuindo árvores espalhadas com


uma altura que pode atingir os 20 metros. As espécies arbóreas mais salientes são a
Umbila, Jambire, Chanfuta, Pau-preto, Metonha e Messinge, principalmente nos Postos
Administrativos de Hucula, Machoca, Meloco, Ncumpe e Papai (idem).

A vegetação é variável, entre savanas, matas abertas, pradarias e florestas medianas


decíduas. O solo chega a ser coberto por gramíneas (capim) que atingem os 3 metros.
As árvores constituem uma fonte de material de construção, sendo, também, uma fonte
importante de combustível (lenha e carvão). O Distrito enfrenta pequenos problemas de
desflorestação, causados pela acção dos operadores florestais e pelas queimadas
descontroladas.

Existem várias espécies de animais, das quais se destacam: Elefante, leões, macacos,
javalis, gazelas, antílopes, leopardos, porcos do mato, búfalos e outros tipos de pequeno
porte, para além dos répteis. Estes animais habitam as florestas interiores de Hucula,
Machoca, Meloco, Ncumpe e Papai.

A pesca artesanal nos diversos rios existentes no Distrito constitui um suplemento


dietético para as famílias rurais. Para além da pesca em rios, no Distrito pratica-se,
igualmente, piscicultura, actividade que se encontra em franco desenvolvimento.

5.1.3. Geologia

No Distrito regista-se a ocorrência de minérios preciosos, pese embora o facto de ainda


não ser possível apurar o potencial existente, havendo indicações da presença de águas
marinhas, granadas e turmalinas nas zonas do Posto Administrativo de Machoca. Há,
igualmente, registos de rochas ornamentais, tais como Amazonite e Mármore, bem
como de pedras comuns muito utilizadas na construção civil, em quase todo o distrito.

6
Idem.

19
5.1.4. Centros de Saúde

A saúde, sendo um direito constitucional, representa uma componente fundamental para


o desenvolvimento humano e a redução da pobreza, e por isso é considerado como um
sector prioritário do governo7. Além disso, o desenvolvimento sustentável de uma
sociedade exige uma população saudável e com alta capacidade produtiva. O ciclo
vicioso em que a pobreza é uma causa directa de um número de doenças, que por sua
vez em várias ocasiões acentuam o estado de pobreza dum indivíduo, deve ser
eliminado progressivamente.

A rede de saúde pública do distrito é insuficiente, evidenciando os seguintes


índices de cobertura média:

 Uma unidade sanitária por cada 26 mil pessoas;

 Uma cama por 2.334 habitantes e;

 Um profissional técnico por cada 3.312 habitantes do distrito.

O perfil epidemiológico do distrito é caracterizado por doenças associadas à


pobreza e por determinantes principais de Saúde tais como, deficientes condições
de saneamento, baixa taxa de escolarização, sobretudo de raparigas em zonas
rurais

Apesar dos esforços realizados, importa reter que o estado geral de conservação em
manutenção das infra-estruturas não é suficiente, sendo de realçar a rede de bombas de
água a necessitar de manutenção, bem como a rede de estradas e pontes que, na época
das chuvas, tem problemas de transitabilidade na movimentação dos doentes.

5.1.5. Economia e Serviços

A agricultura é a actividade dominante e envolve quase todos os agregados familiares 8.


De um modo geral, a agricultura é praticada manualmente em pequenas explorações
familiares em regime de cultivo misto e consociação de culturas, com base em
variedades locais melhoradas.

7
Perfil do distrito de Namuno, Província de Cabo Delgado, 1ª edição 2014.
8
Idem

20
De uma forma generalizada pode-se dizer que a região é caracterizada pela ocorrência
de três sistemas de produção agrícola dominantes:

 O primeiro corresponde à vasta zona planáltica baixa onde predomina a


consociação das culturas alimentares, nomeadamente mandioca/milho/feijões
nhemba e boer, como culturas de 1a época (época das chuvas) e a produção de
arroz pluvial nos vales dos rios, dambos e partes inferiores dos declives.
 O segundo sistema de produção é dominado pela cultura pura de mapira,
ocasionalmente consociada com milho e feijão nhemba. As culturas de mexoeira
e amendoim podem aparecer em qualquer uma das consociações. A mandioca é
a cultura mais importante em termos de área e é cultivada tanto em cultivo
simples, como em cultivo consociado.

O algodão corresponde ao terceiro sistema de produção, e constitui a principal cultura


de rendimento da região. Os três sistemas de produção agrícola aqui descritos ocorrem
em regime de sequeiro.

O fomento pecuário no Distrito tem sido fraco. Porém, dada a tradição na criação de
gado e algumas infra-estruturas existentes, verificou-se algum crescimento do efectivo
pecuário (Bovino, Caprino, Suíno, Ovino e Aves).

As árvores constituem uma fonte de material de construção e são uma importante fonte
de combustível de uso doméstico (lenha e carvão). O Distrito enfrenta alguns problemas
de desflorestamento nas zonas periféricas dos centros habitacionais. A pequena
indústria local (carpintaria, Moageira, serralharia, artesanato e a pesca artesanal) surge
como alternativa à actividade agrícola, ou prolongamento da sua actividade.

21
6. PROCESSO DE EXPLORAÇÃO MINEIRA NAS MINAS DE MACORONGO

a) Mineração

Segundo o Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital (PEDD) 9, (2014-2018, p.11)


Distrito é bastante rico em minérios como: pedras semipreciosas e preciosas, ouro,
tantalite, águas marinhais, mármore, grafite e ferro. Esses podem ser encontrados nos
montes Chopa, Niute, Mahurusse e nos rios Muatage, Namicuiu, Napuico, e sua
exploração não é formal porque a extracção é em pequenos moldes.

6. 1. A mineração artesanal e a indústria extractiva em Macorongo.

A província de Cabo Delgado, particularmente no distrito de Namuno, tem-se


notificado um aumento na exploração de recursos minerais nos anos que vem se
arrastando. Neste processo, pode-se afirmar que existem dois tipos de actividade
principais nomeadamente:

 Indústria extractiva formal focalizada principalmente na extracção de ouro,


pedras preciosa, e outros minerais.
 A mineração artesanal e de pequena escala, informal, mas com impacto directo
no desenvolvimento social, económico, nas áreas onde é desenvolvida esta
actividade.

Esta última que apresentamos é praticada por indivíduos conhecidos como


“garimpeiros”. A atenção do Governo, das empresas internacionais, que trabalham em
prol de uma gestão eficiente e distributiva dos recursos tem-se concentrado na indústria
formal, enquanto a mineração artesanal ainda não recebe a devida atenção, facto que
inibe o seu potencial como um mecanismo de desenvolvimento e não permite alertar e
minimizar os riscos inerentes a essa actividade. A maior parte das discussões e debates
que se têm produzido sobre a mineração concentram-se em questões de enquadramento
legal e fiscal, transparência, exportações, entre outros, deixando de lado outras questões
igualmente importantes, como as transformações socioeconómicas, ambientais e
principalmente, o atentado saúde da população abrangida pelas zonas de extracção
mineira10.

9
Plano Estractegico de Desenvolvimento Distrital-Namuno (2014-2018).
10
Representante do Secretaria Distrital de Namuno, em entrevista concebida no dia 21 de Fevereiro.

22
O crescimento da mineração artesanal tem uma justificativa enquadrada nas condições
de desenvolvimento do país. Mais de metade da população no distrito de Namuno vive
em situações de extrema pobreza, sendo a agricultura a principal fonte de sobrevivência.
A escassez de chuvas, as técnicas precárias utilizadas e as mudanças climáticas
resultaram na redução da produção e na perda dos meios de subsistência. Os altos níveis
de pobreza registados nas zonas rurais, o desemprego generalizado (afectando
especialmente a juventude), a falta de oportunidades para a continuação de estudos, a
tolerância do Governo e, às vezes, os altos rendimentos decorrentes da exploração de
minerais, são algumas das causas da proliferação da mineração artesanal em quase todo
o distrito ou mesmo a nível do país.

À Luz da Lei 14/2002 de 26 de Junho, estabelece que no nosso país, os recursos


minerais encontrados no solo e subsolo, em águas interiores, no leito do mar territorial,
na zona económica exclusiva e na plataforma continental, no fundo do mar e o no
subsolo do leito do mar territorial são propriedade do Estado. Portanto, teoricamente,
qualquer pessoa individual ou colectiva, nacional ou estrangeira, pode explorar os
recursos minerais de acordo com os requisitos estabelecidos na legislação de mineração.

Mas importa realçar que, a extracção de qualquer recurso mineral em Moçambique


requer a obtenção do respectivo título mineiro, sendo o Ministério dos Recursos
Minerais a entidade emissora das Licenças de Reconhecimento, Prospecção e
Investigação, do Certificado Mineiro e das “concessões mineiras”. É ao Governador da
Província, portanto, a quem compete emitir Certificados de Mineração para materiais de
construção e sinais de mineração (autorizações para mineração credenciada) para as
áreas designadas.

Indo mais além, os dados recentes fornecidos por fontes do governo local indicam a
existência de 60 associações de mineração a nível do distrito de Namuno, número muito
inferior ao número estimado das pessoas envolvidas na actividade do garimpo.

Ainda não há dados oficiais e verificados, mas estima-se que, actualmente, cerca de
100.000 pessoas estejam directamente envolvidas no sector de mineração artesanal nas
minas de macorongo, sustentando a vida dos seus familiares em zonas rurais e com
maiores taxas de pobreza. Olhando para o contexto do nosso estudo, aferimos que as
actividades, em maiores casos, são ilegais e clandestinas

23
À luz da lei, a mineração artesanal e de pequena escala em Moçambique são reguladas
por dois estatutos: a Lei de minas (20/2014) e o Regulamento da Lei de Minas
(31/2015). Várias outras leis, é claro, colidem com a mineração artesanal. No entanto,
dada a natureza informal da maioria das actividades de mineração artesanais, leis como
o Regulamento de Comercialização de Produtos Minerais (20/2011) e o Regime
Específico de Tributação e de Benefícios Fiscais da Actividade Mineira (28/2014) são
provavelmente pouco aplicadas no presente.

No entanto, enquanto o Regulamento estabelece os limites máximos para a mineração


em pequena escala, não faz menção aos seus limites inferiores. Isso significa que, em
certas ocasiões, pode ser difícil distinguir claramente entre actividades de pequena
escala de baixo nível e mineração artesanal de alto nível. Além disso, os limites de
volume extraído e área coberta estabelecidos no Regulamento somente fazem sentido
quando aplicados a concessões licenciadas claramente demarcadas. Tais critérios não
têm sentido quando aplicados a locais de mineração e extracção artesanais não
licenciados, muitas vezes dispersos e mal definidos.

As evidências que existem nos locais em estudo alertam sobre alguns desafios como;
sociais (saúde), e ambientais entre outros que a mineração artesanal produz:

1. Problemas ambientais:
 Poluição da água causada pelo processo de britagem e lavagem de pedras
para a extracção, especialmente de ouro. Os mineiros artesanais em todo o
mundo usam mercúrio para extrair ouro. A técnica “amalgamação com
mercúrio” usa 10-25 gr. De mercúrio para produzir 1 gr. De ouro;
 Erosão causada pela eliminação da vegetação e a diminuição da fertilidade das
terras;
 Obstrução da rede hidrográfica por sedimentação devido à abertura de imensas
crateras (que impedem o posterior uso agrícola e sem regeneração da vegetação)
que arrastam os sedimentos para as linhas de água durante as chuvas.

Segundo Sadia11 (2020), nos últimos anos, tem-se demonstrado que esta técnica está
amplamente estendida, sendo a mineração artesanal para a extracção de ouro o primeiro
e mais importante factor de poluição das águas por mercúrio. Visto que, O processo de

11
Nome fictício, atribuida á uma residente da Aldeia Natala, em entrevista concedida em 20 de Fevereiro
de 2020.

24
lavagem afecta o lençol freático através do processo de infiltração, reduzindo ainda
mais a disponibilidade de água para consumo.

De acordo com uma fonte, existem pelo menos rios com água imprópria para consumo
humano na região de Namuno, devido aos níveis de poluição, como resultado do
garimpo ilegal. Esta situação implica graves ameaças à saúde pública, bem como ao
desenvolvimento das actividades socioeconómicas (idem).

2. Impacto social
 Separação das famílias por longos períodos e colocação do poder económico
em primeiro plano em detrimento de outros valores que os identificam;
 O uso de mão-de-obra infantil é observado em violação dos direitos das
crianças e das comunidades em geral. Nota-se o aumento do absentismo
escolar nas zonas de mineração artesanal entre crianças de 11 á 14 anos de
idade;
 Existem conflitos sociais entre os garimpeiros e as industrias que exploram
formalmente os recursos naturais através de concessões de mineração e
florestais;
 Deterioração das condições de trabalho, uma vez que os garimpeiros operam
em situações precárias, sem observância de padrões elementares de
segurança e higiene no trabalho. No caso da extracção de ouro com
mercúrio, se o operador funcionar sem protecção, pode inalaros gases e as
doenças causadas por este metal, podendo-se manifestar apenas entre 20 e 35
anos após a exposição ao mercúrio ou como resultado do consumo de
alimentos contaminados. Os sintomas são tremores, alterações de
personalidade, parkinsonismo e demência, resultantes da infecção do sistema
nervoso, entre outros;
 Existência de meninas que exercem o trabalho de prostitutas nas zonas de
mineração, em idades compreendidas entre 15 á 18 anos, e
consequentemente o aumento das doenças sexualmente transmissíveis e do
VIH.
3. Impacto económico
 A actividade de mineração também promove a mineração e a
comercialização ilegal que funcionam nos dois sentidos. Este facto contribui

25
para o desconhecimento da contribuição económica da Mineração Artesanal
de Pequena Escala a nível nacional;
 Relata-se que a insegurança alimentar e nutricional aumentou como
resultado do abandono da agricultura pelas comunidades para a mineração
artesanal;
 O Governo tem tomado iniciativas através do Fundo de Desenvolvimento de
Mineração a favor dos garimpeiros, fornecendo instrumentos usados na
mineração e comprando o produto extraído. Essa estratégia não só tem
contribuído para a proliferação da população de garimpeiros na província
motivada pelo facto de ter um mercado garantido, mas também tem
permitido ao Governo absorver este recurso e evitar o contrabando do
minério perpetrado pelos compradores estrangeiros.

4. Problemática para o sector da saúde e no seio de comunidades abrangidas


pela prática extractiva

De acordo com a base de dados do Sector da Saúde, não há unidades sanitárias dentro
de um raio de 8km (distância directa) do campo de mineração. Numa linha recta, a
unidade de cuidados de saúde primários mais próxima é o Centro de Saúde da vila de
Namuno. No entanto, vários membros da associação de mineração disseram que, para
os serviços de cuidados de saúde primários, a maioria das pessoas prefere usar o centro
de saúde, Embora a viagem a Namuno de carro demore mais de duas horas, seja
provavelmente mais fácil percorrer a pé ou usando outros meios. Além disso, de um
modo geral, quanto maior a vila, melhor reputação ela tem para ser bem equipada com
pessoal e equipamento.

Porém, o sistema de saúde desconhece o estado de saúde destas populações. Mas os


trabalhadores de saúde indicam algumas constatações como existências de casos
diarreicos devido o consumo das águas, supostamente contaminada:

 Verifica-se problemas de saúde pública provocados pela pressão


demográfica, devido à chegada de grandes colectivos estrangeiros a aldeias
pequenas como as ITS e do VIH/SIDA;
 Aumento dos traumatismos por acidentes na mina; aumento dos ferimentos
por agressões físicas;

26
 Aumento da desnutrição crónica por deixar “as machambas”; aumento das
gravidezes não desejadas;
 A população desloca-se durante vários dias para trabalhar em locais onde as
condições de trabalho e vida são difíceis, aumentando a incidência de
doenças como diarreias ou malária, devido ao consumo de água imprópria e
pelo aumento das águas estancadas nas zonas de lavagem das areias;
 Degradação significativa do saneamento do meio e aumento do consumo de
drogas e álcool.

Pés embora estes problemas acima citados, constata-se o aumento dos benefícios
económicos das populações envolvidas nesta prática e um aumento temporal de alguns
postos de trabalho. Porém, as condições precárias nos locais que trabalham os
garimpeiros, assim como a falta de serviços adequadas de saúde, educação, entre outros,
ainda continua a preocupar à todos.

5. Aspectos Organizacionais

Os líderes da Associação 3 de Fevereiro parecem bem organizados e conscientes dos


perigos envolvidos na contaminação das águas e do meio ambiente; especialmente do
rio - com o mercúrio. No entanto, enquanto as actividades de mineração continuam, a
quantidade do mercúrio libertado no ar, na forma de vapores quando a amálgama é
aquecida - provavelmente seja considerável. Além disso, é duvidoso que a associação
mineira tenha muito controlo sobre os métodos de trabalho dos inúmeros migrantes que
operam na área e que não são membros da associação.

Segundo os nossos interlocutores, a organização dos trabalhos mostram deficiências. É


frequente a produção através de métodos arcaicos e artesanais com estrutura familiar e
sem nenhuma preocupação científica de administração. Observa-se que o proprietário e
membros da família atuam directamente na produção, e quando o empreendimento toma
maiores proporções eles tendem a assumir funções de gestão ou direcção.

No que se refere às pequenas empresa, na sua maioria, as empresas têm as decisões


centralizadas, e tarefas estruturadas de forma simples e individualizada, de modo a
permitir a substituição dos operários e a utilização de pessoal despreparado. Com a
desqualificação e desconhecimento das normas de segurança, surgem os riscos de

27
desmoronamento no manuseio de explosivos, ocasionando acidentes de trabalho, que
dão enormes prejuízos ao pequeno minerador (CUNHA, 1991, s/p).

No contexto da mineradora em estudo, a falta de cumprimento da legislação é um dos


principais fatos que contribuem para a grande quantidade de acidente de trabalho e
problemas de insalubridade na mineração (BICHÉ, 2020, p.54).

Outro fato bastante comum, apontado é a falta de capacitação gerencial tem


impossibilitado a consolidação no mercado de inúmeros pequenos empreendimentos,
em geral conduzidos sem nenhuma técnica moderna de produção.

6. O Trabalho

A oferta de empregos nesse sector ficou praticamente visível e cada vez mais a
aumentar. Observou-se que, tanto nas minas quanto nas aldeias circunvizinhas, existe
maior absorção de pessoal com baixo nível de escolaridade, sendo um dos vários
factores que concorrem para a existência dessa situação anormal a nível do saneamento
da população abrangida (ver em apêndice).

7. Trabalho Infantil

Apesar de proibido por lei, existem vários casos de trabalho com crianças na faixa de 7
á 14 anos. Estes factos são relatados em pontos distintos a nível do distrito. Neste caso,
foram encontradas crianças trabalhando em condições precárias, com jornada de
trabalho integral que, em muitos casos dificultava ou impedia totalmente ao acesso
delas à escola.

Os líderes da associação local de mineração, no entanto, indicaram que o trabalho de


mineração não pode interferir nas actividades escolares. Deve-se notar, entretanto, que
muitas crianças em Natala pertencem a famílias de comunidades que não estão ligadas à
associação de mineração, o que pode explicar por que tantas crianças foram vistas
dentro e ao redor do campo (deve-se notar, igualmente, que muitas escolas primárias
operam em dois turnos).

Factos como estes são reportados por (OIT, 1998) ao relacionar com garimpo de
Rondônia (Nordeste da Asia), afirmando que as crianças trabalhadoras frequentavam
em locais de extracção mineira e arrecadavam entre R$ 100,00 e R$ 200,00 mensais,
que contribuíam de maneira expressiva para a renda familiar e dificultavam a sua

28
retirada do trabalho ilegal, dada a situação de miséria familiar, que leva as crianças a
este tipo de trabalho.

É por este motivo que faz com que haja maior número de crianças a desenvolver esta
actividade, porque em alguns casos vêm-se a conseguir valores que variam entre 400 á
800 meticais, que alegadamente lhes permite contribuir para a renda familiar 12, sem
entretanto preocupar-se com os perigos que eles correm ao realizar essa actividade
nestes locais.

Fonte: Autor (2020)

Em relação à periculosidade, um dos trabalhos mais perigosos é feito em barrancos que


são cortados por retro escavadeiras para ficar mais fácil visualizar o minério. As
crianças também são utilizadas para descer em poços de até 30 metros de profundidade
em busca de camadas. Esta acção é de duplo risco, uma vez que pode-se morrer tanto
sufocado pelo gás que vasa do subsolo quanto soterrado pelos barrancos.

8. Trabalho feminino

A entrada da mulher directamente no processo mineiro, ou seja, nos locais onde se


processam a extracção do ouro, também está condicionada a determinados factores
12
Caetano (nome fictício), garimpeiro da mina de Macorongo, em entrevista concedida em 22 de Janeiro
de 2020.

29
semelhantes aqueles encontrados no recrutamento e se dá através de mediadores, que
tanto podem ser os próprios acompanhantes, quanto parentes e afins, que integram a
equipe na qual irão trabalhar (MAPURANGO, 2014, p.32).

Em relação ao tipo de actividade a ser desempenhada pelas mulheres no garimpo, as


pesquisas realizadas apontaram para duas actividades básicas, que são a de cozinheiras e
mulheres de boate.

De facto Muitas mulheres e crianças trabalham no mercado vendendo produtos a


pessoas que trabalham no campo e preparando refeições para as mesmas.

Fonte: Autor (2020)

No geral segundo as fontes, as referências analisadas apontaram para duas situações


distintas do trabalho feminino. Actividades de cozinheira prevalecem os parâmetros de
confiança mútua característica de uma economia familiar, baseada nas relações de
parentesco e afinidade e das actividades das trabalhadoras do sexo, predominam formas
de imobilização apoiadas na violência e no constrangimento físico (RODRIGUES,
1994, p.86).

A mulher trabalhadora, designada localmente de cozinheira, desempenha função


essencial na manutenção e bom rendimento das unidades produtivas que extraem ouro
nas áreas denominadas localmente. Às mulheres são delegadas todas as tarefas relativas
ao controle da esfera de reprodução, assim como competências específicas na

30
organização e no consumo dos géneros básicos. Funcionam como factores equilíbrio no
cálculo contábil das despesas alimentares da chamada equipa. Há um consenso geral de
que ser cozinheira significa exercer uma boa profissão. Apesar de considerarem ser
difícil permanecer nesses locais, estar longe da família e acordar muito cedo, essas
mulheres afirmam que como cozinheiras em garimpos obtém rendimentos bem maiores
que em outras actividades, tanto no meio rural quanto nas cidades.

Com relação às perspectivas sobre o futuro, as mulheres cozinheiras remetem-se à sua


origem camponesa e apresentam a garantia da posse da terra para o grupo familiar como
a única possibilidade de libertarem-se da situação opressiva em que vivem. Sonham
coma recuperação da identidade temporariamente perdida e nesse sentido os serviços
prestados nos garimpos são vividos como de carácter transitório, e um artifício para
recuperar sua condição camponesa (RODRIGUES, 1994, p.92).

Autrora, as chamadas mulheres de boate também entram no garimpo através de convite,


nunca sozinhas e, da mesma forma que as demais mulheres, sempre acompanhadas, em
algum momento de alguém e dentro do garimpo. As redes de aparecimento ilegal das
trabalhadoras do sexo estendem-se pelos bairros dos distritos e aldeias circunvizinhas.

A diferença entre o acompanhante da mulher cozinheira e da mulher de boate é que,


enquanto o primeiro está vinculado directamente ao trabalho extractivo, o último ocupa
actividades que pouco ou nada têm a ver com o processo produtivo imediato (comércio,
bares, penões, entre outros).

9. Estratégias usadas no processo de lavagem da camada retirada do subsolo

De acordo com dados fornecidos por um grupo de garimpeiros, eles afirmam que:

“...depois de descobrirmos a área onde sai muito ouro, nós


costumamos cavar a área em que retirámos daí, colocamos em
sacos e transportamos para depositamos á beira do rio
(Muatage). Quando vê-mos que já conseguimos uma quantidade
suficiente para, encontrar o produto (ouro), começamos com o
processo de lavagem13 dessa camada amontoada. E a água que
nos usamos, retiramos do rio e essa água em algum momento
drena para o rio novamente, e acaba ficando suja [...] é daí onde
13
Vedes os instrumentos de lavagem da camadas em apêndice do trabalho.

31
os chefes locais dizem que os garimpeiros sujam água que a
comunidade consome...”.

De facto este fenómeno é mais notável do que aquilo que os garimpeiros mesmo
afirmam. Isto porque, no âmbito das nossas pesquisas constatamos que, para além de
poluírem a água a partir do processo de lavagem da camada, os mesmos usam mal o
precioso recurso a partir da falta de higiene que verifica-se nos locais. Os mineiros
nestes locais, fazem o fetalismo a céu aberto, sem entretanto ter a noção dos perigos das
várias doenças que podem advir dessa falta de higiene.

Segundo as nossas fontes, para além de método acima apresentado, existe uma outra
forma de extrair este recurso (ouro) é a partir de perfuração de rochas, com base em
máquinas de perfuração, de onde são retiradas as pedras em britagem e em seguida são
levadas à pequena industria (moagem), no sentido de poder moer as pedras e extrair-se
o ouro. De referir que, o ouro para estes casos é obtido a partir de um processo em que
envolve o uso do mercúrio tal com mostra a imagem a seguir:

Fonte: Medicusmund (2018)

9.1. Poluição das águas e suas


consequências

A água é fundamental para que os


organismos vivos possam existir e é
o principal componente do corpo
humano, que contém cerca de 70%
desta substância química em sua composição. Portanto, não é à toa que uma pessoa
adulta possa passar vários dias sem se alimentar, mas normalmente não sobrevive mais
do que 48 horas sem água (MOLICA, 2017, p.9).

A importância da água para a existência da vida é tão grande que nas explorações
espaciais ela é imediatamente procurada, pois é condição básica para que se possa
pensar na existência de algum tipo de ser vivo em outro planeta.

32
A água de um lago ou rio, pode ser tratada para o consumo humano, ser usada para a
recreação, pesca, irrigação de lavouras e em inúmeras actividades. Esses diferentes
usos, muitas vezes, geram conflitos, por exemplo: algumas actividades industriais
podem poluir as águas de um lago, impedindo que ela água seja utilizada pelas pessoas
(Idem).

Neste contexto do nosso estudo, o problema começa a existir quando notificou-se a


descoberta de minerais no sobsolo e a entrada de maior número de garimpeiros a extrair
estes e mais outros minérios e causando profundas e negativas transformações nesses
ambientes.14

As águas superficiais são em grande parte poluídas por causa do processo de lavagem
das camadas em seus leitos, retiradas para obtenção do ouro, ficando a água em alguns
casos tão contaminada que não serve nem para ser tratada novamente, como demonstra
a figura seguir:

Fonte: Autor (2019)

Desta feita, a poluição das águas devido, principalmente, a lavagem das camadas em
seus leitos, está associada á falta de acções para protecção dos mesmo recurso e,
contribui para a diminuição da oferta de água para abastecimento público nessa zona.

14
Anrunane (Nome fictício), líder comunitário, em entrevista no dia 24 de Janeiro de 2020, na aldeia
Natala-Distrito de Namuno.

33
Um dado mais preocupante, no entanto que surpreendeu o pesquisador, foi o uso de
mercúrio, água poluída e retirada dos poços onde a lavagem de cascalho para separação
de ouro (panning) era feita para ferver vegetais que estavam a ser servidos á vários
grupos de mineiros artesanais nas áreas de acampamentos dos garimpeiros.

Embora as comunidade sejam susceptíveis a uma variedade de infecções e riscos


biológicos muito comuns que as afectam, são doenças transmitidas pela água e
transmitidas por vectores, infecções sexualmente transmissíveis, HIV / SIDA e
tuberculose.15 A infra-estrutura de água e saneamento é frequentemente deficiente ou
inadequada em acampamentos de mineração artesanal e de pequena escala porque a
maioria dos acampamentos se encontra em zonas recônditas de difícil acesso e a
mineração é frequentemente uma actividade transitória.

Em algumas áreas de mineração, as latrinas convencionais são raras, se disponíveis, são


geralmente rasas e podem facilmente contaminar outras fontes de água, aumentando
assim o risco de doenças transmitidas pela água, como a cólera. A água estagnada
proporciona um ambiente favorável à reprodução dos mosquitos transmissores de
doenças como a malária e o dengue. A contaminação da água pode ocorrer em garimpos
e residências na forma de resíduos de garimpos e descargas químicas. (GOMONDA,
2018, p.74).

Ainda assim, existe um amplo reconhecimento do governo e da sociedade de que a


extracção mineira artesanal e de pequena escala desempenham um papel importante no
combate ao desemprego, na ocupação de jovens com dificuldade de continuar os
estudos, no aumento de rendimentos dos camponeses residentes nas áreas de mineração,
e, em última análise, concorre na redução da pobreza.

No quadro a seguir, ilustramos as vantagens e as desvantagens desta actividade:

Tabela-1: Descrição das vantagens e desvantagens da mineração

Vantagens Desvantagens

15
Medicu mundi- Projecto Mineração Artesanal, Direitos Ambientais e Culturais em Cabo Delgado.

34
 Fonte de emprego e auto-emprego;  Causa problemas ambientais e de saúde
 Fonte de rendimento das famílias pública graves;
camponesas;  É uma actividade de difícil controlo por
 Desincentiva a migração rural – parte do Esta do devido ao seu carácter
urbana da população das áreas informal desregulado e migratório;
mineiras;  Não presta nenhuma contribuição fiscal;
 Fonte de ocupação de jovens  Condições precárias de trabalho,
impossibilitados de continuar os  Fomenta a imigração de estrangeiros e de
estudos; práticas ilícitas de enriquecimento;
 Em última análise contribui para a  Ausência de formação e treinamento dos
redução da pobreza rural. mineiros artesanais;
 Ausência de organização dos mineiros em
associações, organizações comunitárias ou
em pequenas empresas;
 Existência de péssimas condições de
saneamento e higiene nos acampamentos dos
mineiros ambulantes.

Fonte: Autor (2020)

9.2.Consequências

Os diversos agentes etiológicos de acidentes e doenças em áreas de garimpos estão


associados ao processo de trabalho, relações de trabalho e condições de vida. Além da
exposição a elevadas concentrações de mercúrio, o processo de produção de ouro nos
garimpos apresenta outros graves riscos e efeitos, nos quais incluem-se:

▪ Diarreias agudas, Malária, doenças sexualmente transmissíveis (Sífilis,


Gonorreia, HIV/SIDA, entre outras); hanseníase, gastroenterites, verminoses,
violência, alcoolismo, dependência de drogas, efeitos traumáticos grave pela
manipulação de motosserras, esforços físicos excessivos, exposição aos
elementos da natureza, tétano, lesão por vibração excessiva, possibilidade da
ocorrência de desabamentos e o câncer de pele associado ao trabalho a céu
aberto.

35
As relações de trabalho geram violência, que tem origem nos conflitos entre agentes da
autoridade de Lei e Ordem com os garimpeiros, que muitas das vezes culmina com
mortes.

Para esses factos, COUTO & CÂMARA (1991, s/p), advogam que, as condições de
vida evidenciam renda insuficiente para os gastos, habitações em condições precárias,
falta de saneamento básico, alimentação não balanceada e a ausência completa de
assistência médica

A actividade garimpeira é realizada em espaço aberto, dentro das florestas ou nas


margens dos rios. Portanto, além dos efeitos adversos causados pelo mercúrio, o
trabalhador também fica submetido ao contacto directo com a natureza; aos factores
físicos (sol, chuvas, ventos, ruídos, postura anormal, entre outros); aos factores
biológicos (vectores e parasitos); aos factores químicos (argila) e aos factores sociais,
que estão relacionados com os baixos níveis de condição de vida e as relações de
trabalho adversas.

Além disso, a sazonalidade influencia o ritmo do processo de produção no garimpo e


Consequentemente também interfere no quadro de morbidade, ou seja, sãos e doentes.
Em relação às informações demográficas em áreas de garimpo de ouro, muitas vezes
são escassas e pouco confiáveis, devido ao intenso movimento migratório dos
garimpeiros. Sendo assim é necessário fazer pesquisas de campo mais abrangente para
obtenção de informações detalhadas que possam ser utilizadas no planeamento dos
sistemas de vigilância sanitária a nível distrital.

9.3.Possíveis Medidas

Como forma de melhorar o cenário, é importante que haja, capacitação dos agentes
polivalentes da saúde, nas comunidades de modo a promover o bem-estar da população,
difundir a informação sobre as formas de conservação da água, promovendo palestras
uso consciente dos recursos naturais . Garantir primeiros socorros na comunidade, em caso
de eclosão de qualquer doença.

36
CAPÍTULO V- CONCLUSÃO

10. Conlusão

Em conclusão, os mineradores artesanais reconhecem os efeitos devastadores no


ambiente e na saúde da comunidade local, e são unânimes em afirmar que preferem
continuar a exercer a actividade e que poderão melhorar as condições de trabalho agora
prevalecentes se tiverem formação e assistência técnica.

Desta feita, a poluição das águas devido, principalmente, a lavagem das camadas em
seus leitos, está associada á falta de acções para protecção dos mesmo recurso e,
contribui para a diminuição da oferta de água para abastecimento público nessa zona.

Como em qualquer sociedade, alguns destes querem evoluir, aprender o ofício, mas
outros querem apenas os benefícios imediato segundo o nosso estudo existe uma ampla
lista de razões pela qual um indivíduo se tornara mineiro artesanal. Para muitos, a
atracção pelo ouro e a possibilidade de ficar rico rapidamente é o motivo mais
apontados por eles. Muitos tornaram-se garimpeiros por acaso, simplesmente pela
descoberta de ouro em suas terras.

37
A resposta imediata é, naturalmente, dizer que os mineiros artesanais são muito pobres
ou empobrecidos para oferecer medidas eficazes de protecção ou prevenção ou que
certas pessoas são pobres ou empobrecidas para poderem evitar fascinação da
mineração artesanal e extracção. De uma ou de outra forma, e de todas as formas, a
mineração artesanal e a extracção são actividades impulsionadas pela pobreza. O grau
de impulso pode variar de indivíduo para indivíduo e de lugar para lugar, mas,
claramente, a pobreza e o empobrecimento estão por trás de muita mineração artesanal e
exploração de pedreiras.

Pode-se referir que, na mineração artesanal, a cultura desempenha um papel importante


na determinação do estado de saúde e das perspectivas. A cultura, neste contexto,
abrange uma ampla gama de crenças e condições, como analfabetismo funcional,
superstições, crenças irracionais, falta de informação sobre os perigos do manuseio do
mercúrio sem adoptar medidas de protecção adequadas, falta de conscientização social
sobre os perigos profissionais e habilidades deficientes em por exemplo, escorando os
poços e túneis subterrâneos. Contudo, a maioria dos garimpeiros é fruto da
marginalização social e da falta de uma política rural justa e estruturada. Muitas pessoas
provenientes de comunidades rurais extremamente pobres encontram na garimpagem a
desenvolver a actividade sem entretanto a noção dos vários riscos que correm nessas
áreas.

38
11. Referências Bibliográficas

1. ARAUJO, Manuel, (1999), O sistema das aldeias comunais em Moçambique:


Transformações na organização do espaço residencial e Produtivo, Faculdade de
Letra- Lisboa.
2. CASTILHO, E. w. volkmer, (2006), Crimes contra a saúde pública,
BuscaLegis.ccj.ufsc.br.
3. COUTO, Rosa Carmina de Sena e CÂMARA, V. (1991), Buscando ouro,
perdendo saúde: Um estudo sobre as condições de saúde no garimpo de Cumaru-
Pará. Rio de Janeiro
4. DAHLGREN, G. & WHITEHEAD, M. (2006), Adiscussion paper on European
strategies for tackling social inequities in health. Studies on social and economic
determinants of population health, No. 3. WHO Collaborating Centre for Policy
Research on Social Determinants of Health University of Liverpool. World
Health Organization.
5. Direcção Provincial da Saúde de Cabo Delgado, (2017), Balanço do Plano
Económico Social de 2016. Pemba.
6. MAGALHÃES, Lana, (2003), Poluição da Água, 1ª edição, Universidade
Federal, São Paulo.
7. MARCONI, M. Andrade, LAKATOS E. Maria, (2003), Fundamentos de
Metodologia Científica, 59ª Edição São Paulo, Editora ATLAS S.A.

39
8. MATOS, Carlos, (2017), Exploração mineira em Moçambique: uma análise do
quadro legislativo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
9. Ministério Da Administração Estatal, (2014), Perfil do Distrito de Namuno,
Província de Cabo Delgado, 1ª Edição- Maputo.
10. MOLICA, J.R. Renato, (2017), A Poluição do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Recife - Recife Águas e as Cíano
bactérias.
11. PANASIEWICZ, Roberlei, BAPTISTA, Paulo A.N. Agostinho, (2003),
Metodologia Científica: A ciência e seus métodos, Belo Horizonte.
12. PITCHER, A, Anne, (2003), Sobreviver à transição: O Legado das antigas
empresas Coloniais em Moçambique.
13. Plano Estratégico de desenvolvimento do Distrito- Namuno 2014-2018.
14. SEGRE, M. & FERRAZ, F.C., (2017), O Conceito de Saúde, Revista da
Faculdade de saúde pública, Volume 31, São Paulo.
15. SERRA, Almeida, (1991), Política agrária e desenvolvimento económico na
República Popular de Moçambique, 1975-85, contribuição da economia política
da República de Moçambique, Lisboa.
16. SINOIA, J. Nune, (2010), Actividade Mineira em Moçambique, Caso Específico
da Província de Tete: Sua contribuição para a economia local no período entre
2002-2008, Maputo-Maio.

Internet

1. BAKKER, Age, (2008), Moçambique deve apostar nos recursos minerais; FMI e
Banco Mundial, disponível em:
http://economia.uol.com.br/ultnot/lusa/02/22/ult3679u3267.jhtm; a cessado em
23.06.2019.

40
Apêndice

41
Índice
CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO........................................................................................1
1. Apresentação.................................................................................................................1
1.2. Estrutura do trabalho..................................................................................................2
1.3. Delimitação do Tema.................................................................................................3
1.4. Problema.....................................................................................................................4
1.6.Objectivo Geral ..........................................................................................................5
1.6.2. Hipóteses.................................................................................................................5
1.7. Justificativa.................................................................................................................6
CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA..............................................................8
2. Enquadramento teórico..................................................................................................8
3.1. Poluição das águas....................................................................................................10
3.2. Exploração mineira...................................................................................................11
3.4. Atentado à saúde.......................................................................................................12
CAPÍTULO III – METODOLOGIA...............................................................................14
4. Pesquisa Qualitativa....................................................................................................14
4.1. Pesquisa Exploratória...............................................................................................14
4.2. Pesquisa Bibliográfica..............................................................................................15
4.3. Métodos de Procedimentos.......................................................................................15
4.4. Método de Abordagem.............................................................................................15
4.5. Técnicas....................................................................................................................16
4.6. Amostragem.............................................................................................................16
42
CAPÍTULO IV – ANÁLISE E INTERPRESTAÇÃO DOS RESULTADOS...............18
5. Localização geográfica da área de estudo...................................................................18
5.1.1.Recursos Naturais...................................................................................................19
5.1.2. Florestas/ vegetação...............................................................................................19
5.1.3. Geologia................................................................................................................19
5.1.4. Centros de Saúde...................................................................................................20
5.1.5. Economia e Serviços.............................................................................................20
6. PROCESSO DE EXPLORAÇÃO MINEIRA NAS MINAS DE MACORONGO....22
a) Mineração.................................................................................................................22
6. 1. A mineração artesanal e a indústria extractiva em Macorongo...............................22
4. Problemática para o sector da saúde e no seio de comunidades abrangidas pela ática
extractiva.........................................................................................................................26
5. Aspectos Organizacionais........................................................................................27
6. O Trabalho...............................................................................................................28
7. Trabalho Infantil.......................................................................................................28
8. Trabalho feminino....................................................................................................30
9. Estratégias usadas no processo de lavagem da camada retirada do subsolo............31
9.1. Poluição das águas e suas consequências.................................................................33
9.2. Consequências..........................................................................................................36
CAPÍTULO V- CONCLUSÃO.......................................................................................38
10. Conlusão....................................................................................................................38
11. Referências Bibliográficas.........................................................................................40
Apêndice..........................................................................................................................42

43

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