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br/seleneherculano
Nem todos repudiam a doxa: em defesa da doxa, do senso comum, militantes das
esquerdas e ecologistas críticos do cientificismo moderno defendem o conhecimento
tradicional das etnias e das classes sociais subalternas, que vem sendo espezinhado e
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extinto pelo mundo moderno, científico. Ou roubado pelos cientistas, que isolam
princípios ativos da fauna e flora amazônica às quais são apresentados pelas
populações tradicionais locais. Por outro lado, o senso comum, apartado das
informações científicas, provoca acidentes como o do Césio 137 (em Goiânia, em
1986), ou do envenenamento pelo uso doméstico do óleo ascarel (Rio de Janeiro).
espaço doméstico e eram atributos dos não-cidadãos, das mulheres, dos metecos (os
estrangeiros) e dos escravos, como por exemplo a Economia.
“Saber para prever, prever para prover” é um lema positivista, eternizado por
Augusto Comte (1798-1857) e põe em foco o caráter instrumental do
conhecimento, que é o de ganhar controle sobre as coisas, o que é dado pelo
estudo da relação entre fenômenos, de forma a desvendar leis de regularidade
entre eles e assim antecipar acontecimentos.
INDUÇÃO E DEDUÇÃO
VERDADE
Para S. Abranches a questão climática não pode ficar restrita à academia dos
doutores e precisa ser transparente e inteligível. Seria construir consensos e
confiança recíproca, a emunah de Chauí, para ir além de relatos e silêncios.
Os metodólogos dizem que sim, que as ciências humanas podem ser objetivas,
através do que chamam de “objetivação”, ou “objeto construído”, ou seja, a
construção do objeto. Embora o objetividade/neutralidade não seja realizável, a
objetivação é possível, ou seja, um rigor de instrumental teórico e técnico
adequado (MINAYO, 1997, p. 35). A objetivação seria “um processo de
construção do objeto da pesquisa que reconhece sua complexidade e
especificidade”, repudiando o “discurso ingênuo ou malicioso da neutralidade”
(MINAYO). Pedro DEMO acompanha: “não trabalhamos com a realidade, pura e
simplesmente, de forma imediata e direta, mas com a realidade assim como a
conseguimos ver e captar[...] Não captamos a realidade, mas a interpretamos
[...] o dado não fala por si, mas pela boca de uma interpretação.” (DEMO,
1987, p. 45-46). Em suma, a objetivação teria a ver com explicitar os
instrumentos, recortes e inspirações do nosso olhar. Para Minayo, enquanto o
positivismo aplicado às ciências sociais leva a quantificações que podem ser o
reino do senso comum, a perspectiva construcionista elege os métodos
qualitativos. Ela cita Dilthey e sua obra Introdução às Ciências do Espírito, onde
ele afirma que os fatos humanos não seriam suscetíveis de quantificação e
propõe como método a “ciência compreensiva”, do sentido, ou Hermenêutica.
(E, no entanto, seres humanos e suas atitudes são quantificáveis, sim, pois são
previsíveis, submetidos às leis dos grandes números, segundo Gramsci. Mas
isso é outro debate...)
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A mais antiga das ciências sociais é a História, que se pretendia empírica, mas
sem fazer generalizações. A História tinha um caráter idiográfico, isto é,
debruçava-se sobre fenômenos sociais únicos, não generalizáveis.
O mundo moderno viu surgir três esferas sociais: o Estado, a sociedade civil e o
mercado capitalista e, para lidar com elas, três disciplinas novas: a Ciência
Política, a Sociologia e a Economia. Estas são disciplinas nomotéticas, isto é,
que buscam regularidades e leis gerais.
Foi criado então nos EUA o “estudo de área” (area studies) reconciliando
estudos de natureza idiográfica com pretensões nomotéticas. Um conceito
operou a síntese: o de desenvolvimento e sua teoria dos estágios. Outros
debates surgiram dentro do tema do desenvolvimento: teoria cepalina, teoria
da dependência...
Que tipo de pesquisa então se faz a partir deste arcabouço conceitual? Veremos
ao final, no último módulo do curso. Por enquanto, a atenção dada a esta
proposta de Wallerstein foi para mostrar uma análise que explica o surgimento
das ciências sociais e humanas e seus métodos a partir da economia política
mundial.
[6] DEMO, Pedro. Introdução à Metodologia da Ciência. São Paulo: Atlas, 1987.
[7] MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento – pesquisa
qualitativa em saúde.São Paulo: Hucitec e Rio: Abrasco, 1996.
[8][8] WALLERSTEIN, Immanuel. World-systems analysis – na introduction. Durham
and |London. Duke University Press, 2007 (2004)