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14/10/2022 15:34 Explorar petróleo na foz do Amazonas é agenda anti-ESG | Opinião | Valor Econômico

Opinião

Explorar petróleo na foz do Amazonas é agenda


anti-ESG
Do ponto de vista climático, não há mais tempo para adiar o corte das emissões
oriundas das fontes fósseis

Por Suely Araújo e Daniela Jerez


14/10/2022 05h02 · Atualizado há 5 horas

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— Foto: Pixabay

A concessão de blocos na Foz do Amazonas, em 2013, representou um marco na


história da indústria petrolífera no Brasil. A maioria dos blocos foram arrematados
pela empresa britânica British Petroleum (BP), pela francesa Total e pela Petrobras.
Corre à boca pequena que a Foz do Amazonas, pela quantidade e qualidade do óleo
estimado, seria o novo pré-sal. Passados quase 10 anos, a euforia passou e o
cenário mudou drasticamente pressionado pela emergência climática. As duas
petroleiras estrangeiras saíram do negócio, e a brasileira tenta seguir com o intuito
de explorar petróleo em uma região com alta sensibilidade ambiental, próxima ao
grande sistema recifal amazônico e que é influenciado pelo maior desemboque de
água doce no mar do mundo. Porém, desde a concessão desses blocos, poucos
passos foram dados.

A licença ambiental do bloco FZA-M-59 ainda não foi concedida porque os órgãos
competentes entendem que faltam elementos que garantam um plano de
emergência eficiente para o caso de um derramamento de óleo (que pode causar
danos transfronteiriços, chegando por exemplo à Guiana Francesa, além de
impactar estados brasileiros como Amapá, Maranhão, Pará). Tem-se exatamente o
mesmo problema que levou o Ibama a negar licença para empreendimentos da
empresa Total na região, em 2018. MPF, Ibama e pesquisadores também apontam
que a modelagem da exploração do FZA-M-59 que simula a dispersão do óleo em
caso de acidentes com dados de 2013 está defasada e não garante segurança ao
processo.

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Produção porá em risco ecossistemas importantes e modos


de vida que deles dependem, como o dos indígenas

Outra condicionante à liberação, cobrada pelo MPF, é a obrigatoriedade da consulta


livre, prévia e informada aos povos locais sobre a forma como os seus modos de
vida seriam impactados. Noves fora, a empresa que quer fazer a exploração não
consegue comprovar que a operação seja segura, mas, ao mesmo tempo, já
promete ganhos econômicos e movimenta o setor petroleiro com aluguel de navios,
contratação de embarcações e outras atividades. Além disso, nem todos os
pescadores e pescadoras locais foram informados sobre estarem na rota das
embarcações, tampouco os indígenas foram consultados sobre como uma alta de
3.000% do fluxo de aviões no aeroporto pode alterar a dinâmica da cidade e
impactar suas terras, rotinas e até a vida da fauna local.

Investir na Margem Equatorial, onde está localizada a Foz do Amazonas, implica


assumir grandes riscos geológicos: o Iseg - índice de sucesso exploratório geológico -
da Foz do Amazonas atualmente é de apenas 2%, bem menor que a média brasileira
na exploração offshore (64%). Isso ilustra o pouco conhecimento geológico sobre a
região, sobre a qual não há garantia de existência de reservas viáveis para produção
comercial.

Mesmo na hipótese de existência de reservas em quantidade e volumes suficientes,


é preciso acumular conhecimento sobre a área, o que estende os prazos para
desenvolvimento da produção para além da média brasileira de 10 a 15 anos.
Ademais, o desenvolvimento da produção exigiria preparar a infraestrutura logística,
criando-se bases de apoio offshore, inexistentes na região.
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Isso indica que a produção de petróleo na região, caso viável, só deve ocorrer depois
de 2037, num contexto mundial muito mais restritivo para o desenvolvimento de
novas fronteiras petrolíferas. Nesse caso, as empresas deixarão de investir no
desenvolvimento de bacias não consolidadas e priorizarão a produção em áreas
tradicionais, com baixo custo de produção, infraestrutura logística de escoamento
existente e impacto ambiental equacionado, ao mesmo tempo em que ampliam
investimentos em fontes renováveis de energia. Investimentos não consolidados em
P&G tendem a se tornar ativos encalhados, sobre os quais não será possível obter
retorno financeiro. Do ponto de vista climático, não há mais tempo para adiar o
corte das emissões oriundas das fontes fósseis. Do ponto de vista financeiro, trata-
se de uma agenda anti-ESG, que trará prejuízos a todos envolvidos nesse tipo de
produção.

A exploração de petróleo é a segunda atividade que mais emite gases de efeito


estufa no planeta. Mas o cenário global mudou muito e o fiel da balança pode ser o
investidor, que está mais atento para os índices dos ativos ESG, de empresas que se
adaptam ao fato de termos de reduzir emissões para termos direito ao futuro.

Além de conhecer o setor de combustíveis brasileiros como nenhuma outra


empresa, a Petrobras possui experiência em geração de energia, áreas em que a
possibilidade de desenvolvimento de cadeias produtivas de baixo carbono é
enorme. Ela pode, por exemplo, produzir hidrogênio verde, insumo energético cada
vez mais valorizado pela sua baixa emissão, e utilizá-lo em refinarias, ou mesmo
fornecê-lo para o setor industrial ou de transportes.

Desenvolver esses novos negócios é complexo e exige muita inovação, mas é


também uma guinada em direção a setores que serão a base da economia nas
próximas décadas. Só assim o Brasil poderá gerar emprego e renda
verdadeiramente sustentáveis. O caminho certamente não é a dependência da
renda petroleira.

Sem olhar para o presente das comunidades locais e para o futuro do planeta, ao
passo que pelo menos quatro empresas que participaram da 11ª rodada desistiram
de atuar na Foz do Amazonas, a Petrobras tenta, a todo custo, a licença ambiental
de exploração de petróleo do bloco FZA-M-59 (e outros 5 blocos adjacentes),
colocando em risco ecossistemas importantes e complexos e modos de vida que
deles dependem, como os dos indígenas, quilombolas e extrativistas e outros povos
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e comunidades tradicionais. Isso tudo no Brasil, reconhecidamente um país com


vastas possibilidades de desenvolvimento de energias renováveis.

Não há mais espaço e é um contrassenso investir bilhões de reais, que poderiam ser
investidos em fontes de energia limpa, para abrir novas fronteiras exploratórias para
exploração de combustíveis fósseis, com uma perspectiva de curto prazo - se é que
será encontrado óleo comerciável. E, se for encontrado, depois de 2030, ano em que
o país assumiu como meta reduzir em 50% suas emissões de gases de efeito estufa,
como fica esse investimento?

Suely Araújo é especialista sênior de políticas públicas do Observatório do


Clima e ex-presidente do Ibama

Daniela Jerez é analista de política pública do WWF-Brasil

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