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Futuro

da
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Guana
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espaço
Profusão de
embarcações da
indústria do petróleo
gera atritos com
pescadores e ruídos que
atrapalham botos
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Navios fundeados ocupam o espelho d'água da baía de Guanabara, próximo à ponte
Rio-Niterói, Gabriel Monteiro - 16.nov.2021 / Folhapress
31.jan.2022 às 12h35

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Italo Nogueira

Nicola Pamplona

RIO DE JANEIRO
Durante as Olimpíadas de 2016, o Inea (Instituto Estadual do Ambiente)
sobrevoou diariamente a região sul da baía de Guanabara para monitorar
o aparecimento de manchas de óleo. Embarcações também faziam parte
do esforço para manter a qualidade do espelho d’água, palco das
competições de vela dos Jogos.

Nos 22 dias da operação de monitoramento, foram encontradas 76


manchas —mais de 85% detectadas a partir das aeronaves. Só no dia 12 de
agosto daquele ano foram 7.

Os números ligaram um alerta no órgão ambiental do estado não apenas


pela quantidade, mas, principalmente, pela comparação com o histórico de
identificação de mancha de óleo no corpo d’água da baía. Entre 1983 e
2016, a média era de oito ocorrências por ano.

A partir dos dados do período olímpico, a estimativa do Inea é de que o


despejo real de óleo na baía chegue a 1.325 por ano. Entre 2017 e 2021,
novamente sem sobrevoos diários, a média de manchas detectadas ficou
em 12.

A disparidade revela o descontrole sobre o real passivo ambiental causado


pelo uso crescente da baía por embarcações, principalmente ligadas à
indústria do petróleo. Os riscos e a ocupação do espelho d'água são
desafios que permanecem mesmo com o eventual cumprimento das novas
promessas de despoluição.

Localizada em frente aos maiores campos de petróleo do país, a baía de


Guanabara é um dos principais pólos da atividade de apoio a plataformas
em alto mar.

Do Porto do Rio de Janeiro e de bases em Niterói saem embarcações que


vão ajudar na instalação de plataformas e sistemas submarinos ou apenas
fornecer mantimentos para as plataformas.

A atividade na região cresceu na década passada, diante da saturação da


base de apoio da Petrobras em Macaé e do aumento das operações por
petroleiras privadas no país. Atualmente, enfrenta a concorrência do Porto
do Açu, no litoral norte fluminense.

Ainda assim, segundo a Companhia Docas do Rio de Janeiro, o fluxo segue


intenso. Entre janeiro e setembro de 2021, 1.336 embarcações de apoio
passaram pela baía. Antes da pandemia, que reduziu o tráfego dos navios,
o número chegou a 2.926. Estudo da companhia feito em 2014 previu para
2030 um total de 6.000 atracações.

Ao lado da Ponte Rio-Niterói, um ponto de fundeio abriga dezenas de


embarcações à espera de viagens ou de contratos. Em 9 de novembro,
havia 42 delas, segundo informações do sistema de rastreamento de
navios Marine Traffic.

Em nota, o Inea afirma que desde outubro deste ano executa "projeto que
tem o objetivo de realizar monitoramento marítimo periódico na região".

As embarcações se somam aos dutos e terminais da Petrobras espalhados


no fundo e em ilhas da baía como risco potencial de um acidente.

O mais grave ocorreu em 2000, quando a ruptura num dos dutos causou o
vazamento de cerca de 1,3 milhão de litros de óleo combustível, atingindo
quase um terço do espelho d’água, incluindo a APA (área de proteção
ambiental) de Guapimirim —uma das poucas áreas de manguezal
preservadas.

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Pescadores brigam por indenização após vazamento de óleo em 2000

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O pescador Rafael Santos Pereira mostra o pouco que conseguiu pegar Zô


Guimarães/Folhapress

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O histórico de grandes vazamentos, porém, é mais antigo. O primeiro


registrado foi em 1975, quando o navio iraniano Tarik Ibn Ziyad despejou
6 milhões de litros de óleo na baía.

"Essas embarcações transformam a baía de Guanabara num


estacionamento industrial de alto risco", afirma Sérgio Ricardo Potiguara,
fundador do Movimento Baía Viva.

As atividades da indústria do petróleo e marítima tomam cerca de 60% do


328 quilômetros quadrados do espelho d’água, de acordo com o atlas do
Comitê da Bacia Hidrográfica da baía. Somada às áreas poluídas, de
proteção ambiental e outras, restam aos pescadores cerca de 12% para
atuar sem restrição

Segundo Alexandre Anderson, presidente da Ahomar (Associação Homens


do Mar), a redução de área tem gerado conflitos entre os pescadores
artesanais que usam a baía como local de trabalho.

"Hoje divido esse espaço com o pescador de São Gonçalo, que está sendo
espremido pelo terminal de GNL e GLP. Gera-se um conflito entre
comunidades pesqueiras. Essa disputa não é natural. Não fomos nós que
pedimos isso", afirmou ele, que atua em Magé.

Até mesmo o deslocamento dos botos-cinza, símbolo da capital do estado,


é afetado pelo uso intensivo da baía pela indústria do petróleo. Além dos
ferimentos causados por acidentes, a poluição sonora sob o espelho d’água
interfere na comunicação dos cetáceos.

"Aqueles navios parados ficam com gerador ligado e fazem um barulho


desgraçado dentro da água. Os botos usam mais o lado de São Gonçalo e
Niterói, e propusemos uma espécie de corredor para eles. Mas isso nunca
foi para frente", afirma José Lailson Brito Junior, coordenador do
Laboratório Maqua (Mamíferos Aquáticos) da Faculdade de Oceanografia
da Uerj.

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Baía de Guanabara
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Pescador na Baía de Guanabara, próximo ao município de Magé, região


metropolitana do rio de Janeiro Gabriel Monteiro/Folhapress

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A pressão da indústria sobre a baía seria ainda maior caso o Comperj


(Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) tivesse saído por completo do
papel. Desenhado para abrigar uma refinaria, petroquímicas e uma
unidade de tratamento de gás em Itaboraí, o projeto naufragou após o
início da Operação Lava Jato.

O complexo aumentaria o trânsito de embarcações, ampliaria a


quantidade de dutos sob a baía e seria um indutor de crescimento urbano
próximo à APA de Guapimirim.

Atualmente, apenas a unidade de gás está em construção no Comperj.


Petrobras e o estado assinaram em setembro um convênio para tentar
atrair para a área de 43 mil metros quadrados indústrias que dependem do
combustível, como plantas química, de fertilizantes e de vidros.

A expectativa é que a infraestrutura local e a proximidade com o


fornecimento garantam investimentos de R$ 15 bilhões.

Apoiadora do projeto, a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de


Janeiro) defende que a atração de novas indústrias não coloca em risco o
projeto de despoluição.

O gerente de Sustentabilidade da federação, Jorge Peron, diz que estudo


de 2012 já mostrava que a atividade industrial tinha pouca influência na
poluição da baía, provocada principalmente pela falta de saneamento
básico no entorno.
"Complexos industriais vão continuar sendo implantados e operados em
todo o país e também no entorno da baía. Mas hoje há questões que vêm
surgindo de forma mais recorrente na agenda empresarial, na agenda
ESG. Tudo isso é pressão adicional para que a indústria olhe com muita
atenção para o propósito da sua atividade", afirma Peron.

O resíduo industrial foi, por muito tempo, um dos grandes problemas da


baía de Guanabara. Fiscalizações iniciadas na década de 1980 reduziram o
passivo. Em 2011, o governo do estado assinou um TAC (Termo de Ajuste
e Conduta) com a Reduc (Refinaria Duque de Caxias) que também reduziu
significativamente os impactos no corpo d’água.

"A Reduc poluía mais do que outras 130 empresas juntas. Fizemos um
TAC de R$ 1,1 bilhão para exigir mudanças tecnológicas", disse o deputado
estadual Carlos Minc (PSB-RJ), ex-secretário estadual do Ambiente.

Potiguara, porém, defende "uma moratória nos licenciamentos


ambientais" da baía.

"Vivemos aqui uma expansão ilimitada da indústria do petróleo. Várias


espécies estão em risco de extinção e quase não há mais área para pesca. A
baía vive um sacrifício ambiental", disse o ambientalista.

Para o pesquisador Francisco Mendes, do Grupo de Economia do Meio


Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da UFRJ, a baía de Guanabara
tem espaço para os diferentes usos econômicos atuais: lazer, pesca,
indústria e transporte.

Falta, para ele, clareza do poder público sobre como dividir o espelho
d’água da baía e ordenar a exploração de seu entorno. Mendes afirma que
esse é o principal debate a ser feito após a eventual concretização das
novas promessas de despoluição.

"Afinal de contas o que a gente quer da baía de Guanabara? Que ela seja
um porto importante? Um local de serviços para a indústria de óleo e gás?
Que seja uma área de lazer? Retome seu papel de produtora de produtos
pesqueiros? Palco de competições esportivas? Um espaço para meio de
transporte mais bem estruturado?", questiona ele.

"São diferentes usuários, mas não vemos uma conversa de forma


integrada. Com certeza tem espaço para todo mundo. O problema é
negociar esse espaço. Isso não é simples. Faz parte de um amadurecimento
político que o Brasil ainda precisa viver", afirma Mendes.

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APA de Guapimirim

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Imagens aéreas da APA de Guapimirim, região mais preservada da baía de


Guanabara Gabriel Monteiro/Folhapress

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e-guanabara-despoluida-tera-disputa-por-espaco.shtml
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ROGER Z MOIRE

3.fev.2022 às 9h56

ESG é o famoso "criar dificuldade para vender facilidade". Primeiro se cria, na


mídia, uma série artigos favoráveis a "criar dificuldade". O próximo passo , "
vender facilidade", serão as "Consultorias de ESG" , em sua esmagadora maioria
pessoas, que não conhecem nada do seu negócio mas serão remuneradas a peso de
ouro para emitir "Certificados de ESG".

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