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Sumário

4 Editorial

6 Relatório PN

8 Portos e Logística

26 Indústria Naval
CAPA |08 Escoamento multimodal e Offshore
Crescimento do transporte de grãos cada
vez mais dependerá de diversificação
da logística
39 Navegação

16 Investimentos adiados Fabricantes de equipamentos para minérios 44 Mural


abrem olhar para outros países, além de demandas em minas de extração

36 Olhar para a frente Estaleiros traçam estratégias de diversificação 46 Canal de Acesso


e avaliam oportunidades no novo ciclo do setor de petróleo

39 Cabotagem na mira Para Syndarma, acordo Mercosul-UE ameaça 48 Calendário


cabotagem regional e beneficia armadores europeus

42 Muito espaço para crescimento Antaq e UFPR lançam estudo 49 Produtos e Serviços
com informações detalhadas sobre perspectivas e regulação da Hidrovia
Paraguai-Paraná

26 Transparência para avançar


Indústria quer mais informações sobre
descomissionamento de plataformas e cobra
definições sobre regulação e bioinvasão

PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 3


Editorial

O
agronegócio produziu 128,7 milhões de toneladas de soja Diretores
Marcos Godoy Perez e Rosângela Vieira
e milho nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em
Reportagem
2017, quase 60% do total plantado no país. Com déficit Danilo Oliveira
de infraestrutura portuária no Arco Norte calculada entre Direção de Arte
40 e 50 milhões de toneladas de grãos, o escoamento sofre com os Alyne Gama

gargalos no transporte. As obras da BR-163 completam uma década Revisão


Francisco Aguiar
sem que haja uma previsão confiável para sua conclusão. De Sorriso
Comercial
(MT) a Paranaguá (PR), o custo do transporte é de US$ 126 a tone- Janet Castro Alves
lada, quando se sabe que poderia ser reduzido a US$ 80 a tonelada Assinaturas
caso o embarque fosse realizado em Miritituba (PA). A demora na Assinatura no Brasil: 1 ano: R$ 204,00.
Números avulsos: R$ 20,40.
conclusão da BR-163 atrasa o desenvolvimento do agronegócio, já Assinatura no Exterior: América Latina 1
que há mapeadas terras disponíveis para duplicar ou até triplicar a ano: R$ 324,00. resto do mundo 1 ano:
R$ 588,00
produção e baratear os custos logísticos. A reportagem de capa desta
Portos e Navios é uma publicação
edição traz detalhes sobre toda a operação logística de grãos e as de Editora Quebra-Mar Ltda. CNPJ
consequências do baixo investimento em infraestrutura multimodal. 01.363.169/0001-79 (registro no INPI nº
Veja à página 8. 816662983)
Outubro de 2018 - Ano 60 - Edição 693
Nos próximos anos, o descomissionamento de plataformas será mais
Redação: Rua Leandro Martins, 10 - 6º
do que uma alternativa de negócio para os estaleiros. Promete tornar-
andar - Centro - CEP 20080-070 - Rio de
-se uma atividade essencial para o desenvolvimento da indústria do Janeiro - RJ
petróleo. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Telefax: (21) 2283-1407

Biocombustíveis (ANP), 64 plataformas de produção estão com mais Impressão


Gráfica Stamppa
de 25 anos de uso no país. E a postergação do descomissionamento
Foto da Capa
requer milhões de reais com manutenção. Estima-se que até 2025 o Periodicidade mensal
investimento em retirada parcial, remoção total ou permanência de As matérias jornalísticas e artigos
plataformas aquecerá o setor naval. Mas à medida que o debate sobre assinados em Portos e Navios somente
poderão ser reproduzidos, parcial ou
o assunto amadurece, aumentam as dúvidas sobre as regras a serem integralmente, mediante autorização
estabelecidas para a atividade. A reportagem à página 26 revela quais da Diretoria. Os artigos assinados não
refletem necessariamente a opinião de
são as principais dúvidas existentes e quais são as ações institucio- Portos e Navios
nais em curso para saná-las. contato@portosenavios.com.br
www.portosenavios.com.br

4 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018


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RELATÓRIO PN

Wista na ONU Os principais tópicos da


conferência incluem ener-
to de 20 centímetros já
significa transformação nos
lista antes do final do ano,
aumentando a capacidade
O conselho de Administra- gia e logística, crescimen- resultados da movimenta- aprovada.
ção da IMO (International to do cruzeiro no Ártico, ção, ampliando em cerca A Associação de Armadores
Maritime Organization) novas tecnologias para o de seis mil toneladas por da Comunidade Europeia
aprovou o pedido da Wista Ártico e busca e salvamen- navio, segundo as próprias (ECSA) estima que a de-
International e com isso a to. A prefeita de Tromsø, empresas transportadoras manda máxima de sucata
associação de mulheres se Kristin Røymo, abrirá a e os produtores. na Europa é mais alta,
tornou membro consultivo conferência e apresentará Desenvolvido pela profes- chegando a 1,6 milhão de
da IMO. o conceito de Tromsø como sora Suzana Vizon, da Uni- toneladas por ano. Tam-
Na opinião da presidente uma “cidade livre de plás- versidade Federal do Rio bém questiona a exatidão
da Wista Internacional, tico”. O discurso principal de Janeiro (UFRJ), o Projeto da capacidade máxima
Despina Panayiotou Theo- será dado pelo Secretário Barra Norte foi apresentado utilizada na estimativa
dosiou, “o status consulti- de Estado do Ministro do pela ATP à Marinha em 2016. da ONG e registra que os
vo nos dá a oportunidade Comércio e Indústria da Desde então, a entidade estaleiros da UE nunca
de promover a diversidade, Noruega, Daniel Bjarmann- tem buscado sensibilizar o reciclaram mais de 65 mil
a inclusão e o empode- -Simonsen. setor para que o projeto seja toneladas num ano.
ramento das mulheres, implementado. As navega- Alguns proprietários euro-
que são nossos principais
objetivos”, acrescentando: Calado ções experimentais foram
iniciadas a partir da adesão
peus alertaram que podem
ter que mudar a bandeira
“Agora podemos contri- O navio STH Athens, con- dos profissionais da pratica- de seus navios se a UE
buir formalmente para a tratado pela Cargill, gem da região ao projeto. não expandir a lista para
discussão sobre o aumento transpôs a região de Curuá, incluir recicladores não-
da capacidade em nossa
indústria, tanto em terra
no Amapá, onde a profun-
didade foi aumentada de Desmonte -europeus. A indústria in-
dica a aprovação de alguns
quanto embarcada. Os 11,50 metros 11,70 metros De acordo com o Regula- dos shipbrokers da Ásia
esforços da Wista apoiam nas águas do Rio Amazo- mento de Reciclagem de que atualmente lideram o
os princípios gerais do nas. A operação realizada Navios da União Europeia comércio de navios para
Plano Estratégico da IMO, em setembro foi o primeiro (UE), o SRR, a partir de desmanche. A ONG alega
especialmente a promoção teste desde a autorização janeiro próximo as embar- que os estaleiros do sul da
da igualdade de gênero da Marinha, assinada em cações com bandeiras ba- Ásia têm condições insegu-
e o empoderamento das julho. A embarcação, de seadas nos países do bloco ras de trabalho e poluem o
mulheres. bandeira das Ilhas Marshal, terão que ser demolidas meio ambiente marinho.
A Wista International tem tem 199 metros de com- em estaleiros previamente No entanto, alguns desses
sido a voz das mulheres primento e transportou 60 aprovados, localizados na estaleiros investiram em
da indústria marítima mil toneladas de carga. A região. Membros da indús- atualizações e certificações
desde 1974. Hoje, a Wista ação experimental indica tria marítima expressam de instalações para atender
International tem mais de que embarcações poderão ceticismo sobre se eles têm ao padrão da Convenção de
3.000 membros em todo transportar, em média, 1,8 capacidade, embora um re- Hong Kong para a recicla-
o mundo, representando toneladas a mais, a partir latório divulgado pela ONG gem de navios.
44 associações nacionais. da ampliação de 20 cen- Shipbreaking Platform afir- Os estaleiros de navios na
A Wista International par- tímetros do calado nesse me que os recicladores de Índia, no Paquistão e em
ticipou de várias iniciati- trecho do rio Amazonas. navios europeus dispõem Bangladesh compram e
vas globais destinadas a Na avaliação de mercado, de espaço suficiente. demolem a esmagadora
aumentar a diversidade e os ganhos no transporte A ONG calcula a capaci- maioria da tonelagem
a inclusão, a igualdade de de grãos podem chegar a dade máxima média dos descomissionada do
gênero e o empoderamen- R$ 2,7 milhões por embar- atuais pátios listados na UE mundo. Nas tarifas atuais,
to das mulheres no setor cação. em 1,15 milhão de tonela- esses pátios são capazes de
de transporte marítimo. A Associação dos Terminais das, bem acima dos níveis oferecer entre US$ 425 e US$
De 23 a 26 de outubro Portuários Privados (ATP) históricos de ocupação. 450 por tonelada. Devido a
membros da Wista, orado- defende, junto à Marinha, Mesmo que os estaleiros uma variedade de fatores
res, convidados e delega- a ampliação definitiva do não sejam suficientes, de mercado, os comprado-
dos estarão em Tromso, a calado do canal para 11,70 afirma a instituição, pátios res europeus pagam muito
capital do Ártico na Norue- metros. A associação tem adicionais na Escandi- menos — cerca de US$ 125
ga para discutir questões intenção de alcançar 12,30 návia, na Turquia e nos por tonelada, de acordo
de importância crítica para metros de profundidade, Estados Unidos provavel- com uma estimativa recen-
o futuro do Ártico. mas ressalta que o aumen- mente serão adicionados à te da indústria.
6 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
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PORTOS E LOGÍSTICA

Escoamento
multimodal
Crescimento do transporte de
grãos cada vez mais dependerá
de diversificação da logística

8 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018


Danilo Oliveira

A
demora na conclusão de im-
portantes obras de infraes-
O Brasil perde
trutura impede desembolsos competitividade
bilionários de investimen-
tos para a logística de escoamento
para países como
de grãos. Entidades do setor avaliam Estados Unidos e
que, além das rodovias, é vital haver
a expansão da malha ferroviária e o Argentina pela falta
desenvolvimento de hidrovias e da
cabotagem nacional. A avaliação do
de diversificação da
agronegócio é que a infraestrutura ru- matriz de transportes
ral está pronta da porteira para dentro
da lavoura. No entanto, o Brasil perde
competitividade no preço em rela-
ção a países como Estados Unidos e
Argentina, grandes exportadores de
grãos, pela falta de diversificação de serviços de manutenção, para garan-
sua matriz de transportes. tir a trafegabilidade na rodovia. Nessa
O desafio para a redução de custos época são realizadas ações de recom-
continua sendo a logística de esco- posição do revestimento primário da
amento da produção brasileira para pista e de drenagem, além de coloca-
manter a curva de crescimento nos ção de rocha. O próximo período chu-
próximos anos. A demora na conclu- voso está previsto para novembro de
são da BR-163, que liga o Mato Gros- 2018.
so aos terminais portuários do Pará, O DNIT prevê para 2019 o término
levou as tradings a perder milhões de da pavimentação do corredor até o
reais, pagando multas de contratos de distrito de Miritituba (PA). A conclu-
frete, ou contratando fretes rodoviá- são integral da pavimentação do tre-
rios mais caros para não serem pena- cho entre a divisa dos estados de Mato
lizadas no transporte pelo Arco Norte. Grosso e Pará até a cidade de Santarém
Para o consultor de logística e in- (PA) está estimado em R$ 2,55 bilhões.
fraestrutura da Confederação da Agri- Dos 710 quilômetros da BR-163, locali-
cultura e Pecuária (CNA), Luiz Antônio zados desde a divisa com Mato Grosso
Fayet, o atraso de 10 anos das obras até a entrada para o Porto de Mirititu-
da rodovia BR-163 é um crime contra ba (PA), 637 quilômetros já foram pavi-
o país. Ele também cita a necessidade mentados pelo DNIT, com R$ 1,975 bi-
de o governo licitar urgentemente os lhão de investimentos federais. Os 73
terminais de Santarém e de Outeiro, quilômetros a serem asfaltados estão
no Pará. Ele diz que as obras da BR- divididos em dois lotes de obras, sen-
163 seguem aos trancos e barrancos. do um deles ao sul da Vila do Caracol,
“Todos os anos fica para ser concluído sob a responsabilidade do Exército.
no ano que vem. Agora estamos com O órgão informa que o trecho da
horizonte de 2020 para chegar a Mi- BR-163 mais afetado pelas chuvas,
ritituba e quase chegar com asfalto a próximo à vila do Caracol, hoje está
Santarém”, lamenta. com os serviços de terraplenagem e
O governo pretendia concluir em drenagem realizados, o que elevou o
2018 as obras da BR-163 até Mirititu- nível da rodovia. Entre junho e setem-
ba (PA). Os produtores não acreditam bro de 2018 foram pavimentados mais
que os serviços serão concluídos este de 18 quilômetros no trecho ao norte
ano, nem em 2019, na medida em que da vila do Caracol e o objetivo da au-
não se pode trabalhar o ano inteiro tarquia é concluir 100% desse trecho
devido ao regime de chuvas da região. pavimentado em 2018. “O principal
O Departamento Nacional de Infraes- empecilho para não atingir o planeja-
trutura de Transportes (DNIT) afirma mento deste ano são as chuvas atípi-
que, no período de chuvas intensas, as cas que estão acontecendo na região,
obras concentram-se basicamente em em pleno verão amazônico”, explica o
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 9
PORTOS E LOGÍSTICA

Capacidade Portuária (milhões de toneladas)


Projeções de Potencial de Potencial de
Realizado
Exportações Operação Operação
MDIC
Exportações | Soja/Milho 2018 2017 2018
2015 2017 ABIOVE/ANEC CTLOG CTLOG
1 Itacoatiara Manaus 3,34 4,17 4,20 5,0 5,0
2 Santarém 2,67 3,84 3,70 5,0 5,0
3 Santana 0,00 0,00 1,5 1,5
Sistema Belém/Guajará 2,76 7,50 7,70 15,0 15,0
Bunge - - 4,0 4,0
4
HB - - 5,0 5,0
ADM - - 6,0 6,0
Sistema São Luís 7,18 8,06 9,15 10,0 10,0
5 Berço 105 - - 4,0 4,0
TEGRAM - - 6,0 6,0
6 Salvador/Cotegipe 3,76 4,16 4,00 4,5 4,5
7 Vitória 6,98 5,69 6,10 8,0 8,0
8 Santos 30,56 35,62 37,10 32,0 35,0
9 Paranaguá 17,92 19,64 20,20 20,0 20,0
10 São Francisco do Sul 7,43 6,30 7,05 8,0 8,0
11 Imbituba 0,72 1,46 1,40 2,0 2,0
12 Rio Grande 14,44 14,80 14,50 14,0 14,0
13 Outros 0,31 0,35 - - -
 Total 98,07 111,59 115,10 125 128

Fonte: CNA

DNIT. Com o avanço físico das obras sensíveis na qualidade da via para o
nesse trecho, restarão 22 quilôme- transporte de cargas. Do total dos 51
tros, que já contam com revestimento quilômetros pendentes até o momen-
primário de rocha britada e que está to, a meta para 2018 é de avanço em 15
pronto para receber pavimento asfál- quilômetros no trecho. “Este corredor
tico até novembro de 2018. vem se consolidando como rota alter-
O DNIT acrescenta que houve avan- nativa ao escoamento da produção
ços nas obras sob a responsabilidade para o Porto de Santos, que já se en-
do Exército no sentido de eliminação contra bastante saturado. A carga teria
dos principais pontos de gargalos na rota para o Porto de Miritituba através
trafegabilidade, que são as serras da da pavimentação completa da BR-
Anita e do Moraes. Por questões téc- 163”, diz o DNIT.
nicas, os trechos constantemente Fayet, da CNA, conta que parte do
precisam ser bloqueados no inverno asfalto que foi feita em governos pas-
amazônico pelo tráfego pesado de sados está com aproximadamente me-
carga. O departamento ressalta que tade da espessura que deveria ter sido
ambas avançaram consideravelmen- feita. O resultado disso é que grande
te e a meta até o início do inverno é a parte desse asfalto mais antigo precisa
conclusão da mudança do traçado da de manutenção pesada com recapea-
rodovia com tráfego no novo trecho mento para atingir as especificações
construído e pavimentado sem o grei-
de, grau de inclinação que dificultava
a passagem dos caminhões na região.
Outro ponto da rodovia no trecho A demora na conclusão da BR-163
do Exército está em vias finais de pa- levou as tradings a perder milhões
vimentação para permitir melhorias de reais
10 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Tony Oliveira/CNA/Divulgação
técnicas necessárias para um trecho As exportações nos portos abaixo
com passagem de volume grande de do paralelo 16° foram de 84,1 milhões,
carga pesadas. O consultor considera 75,2% do volume exportado dessas
que foi uma solução adequada na épo- cargas em 2017. A produção de soja e
ca e com risco calculado, mas pondera milho nessa região em 2017 foi de 88,3
que o problema foi ter se demorado milhões de toneladas, 40,7% do total
tanto tempo para fazer esse recapea- no Brasil. Como o consumo interno
mento. abaixo do paralelo foi de 80,1 milhões
A CNA defende a divisão em trechos de toneladas, a CNA aponta que houve
de aproximadamente 200 quilômetros superávit de 8,2 milhões de toneladas.
a fim de não deixar acumular as obras Fayet ressalta que a região só pode
na mão de um único concessionário. exportar porque recebeu de fora. “O
A confederação observa que em go- excedente que veio de lá (acima do
vernos passados houve modelagens paralelo) serviu muito para o abaste-
distorcidas e empresas entraram em cimento interno porque o consumo
concorrências sem oferecerem contra- LUIZ ANTONIO FAYET (80,1 milhões /toneladas) da região
garantias de execução e depois tiveram Atraso de 10 anos das obras da abaixo do paralelo 16° é praticamen-
dificuldades, seja por culpa delas, seja rodovia BR-163 é um crime te do tamanho da produção (88,3 mi-
por atraso de pagamentos, seja por de- contra o país lhões/toneladas)”, analisa. A Câmara
sorganização do governo. “Já devería- de Logística e Infraestrutura (CTLOG)
mos estar com essa rota até Miritituba do Ministério da Agricultura, Pecuária
consolidada há 10 anos pelo menos e “Estamos perdendo oportunidades. Se e Abastecimento (Mapa) calcula que o
não estamos”, afirma Fayet. pudéssemos produzir milho, haveria déficit de infraestrutura portuária no
Outra perda motivada pela falta de renda maior ainda. Pelo fato de não Arco Norte esteja entre 40 e 50 milhões
infraestrutura é a produção inviabili- existir sistema portuário adequado, o de toneladas de grãos.
zada por falta de competitividade do prejuízo é maior para região de Mato O eixo da BR-163 preocupa o agro-
preço. Fayet afirma que o setor perde Grosso e para o país do que R$ 4 bi- negócio porque existem terras prontas
produção adicional de cinco milhões lhões a R$ 5 bilhões por ano”, estima. para duplicar ou até triplicar a produ-
de toneladas só por conta do aborta- A expectativa é que o sistema Be- ção e baratear os custos operacionais
mento provocado pelo custo logístico. lém/Guajará estará com aproxima- em aproximadamente US$ 46/tonela-
damente 25 milhões de toneladas de da. O custo logístico de Sorriso (MT)
capacidade na virada 2018/2019. Hoje, até Paranaguá (PR) é de US$ 126/to-
o potencial de movimentação é de 15 nelada e a CNA estima que se pagaria
milhões de toneladas e deve crescer US$ 80/tonelada se pudesse mandar
10 milhões para a próxima safra. Esse tudo por Miritituba (PA).
sistema é composto por operações A economia de US$ 46/tonelada
de empresas privadas, entre as quais corresponde a 10% do valor de refe-
a Bungue, Hidrovias do Brasil e ADM. rência/estimado do importador chi-
Os produtores também apontam que nês, que considera US$ 450/tonelada.
um dos gargalos na região está na não A simulação foi feita pela CNA com
licitação do terminal de Santarém e de dados da Associação dos Produtores
Outeiros (Belém). de Soja do Mato Grosso (Aprosoja).
Considerando o preço de referência
A produção de soja e milho de Nor- de US$ 450/tonelada, os produtores
te, Nordeste e Centro-Oeste acima do de soja gastam um terço para sair das
chamado paralelo 16° foi de 128,7 mi- fazendas e chegarem ao consumidor
lhões de toneladas em 2017, 59,3% do final. No caso do milho o valor é mais
total de 217 milhões toneladas desses baixo (US$ 200/tonelada), o que reduz
produtos produzidas no Brasil no ano a margem para exportação do produ-
passado. Se descontados o consumo to.
interno (25 milhões de toneladas) e as O Mato Grosso deixa de ganhar em
exportações (27,8 milhões) da produ- torno de US$ 1,2 bilhão/ano, segundo
ção dessa região, sobra um exceden- cálculo da CNA com dados da Aproso-
te de 75,9 milhões de toneladas que, ja. Esse dinheiro seria dividido entre
teoricamente, foram escoados para transportadores, produtores e forne-
o Sudeste e o Sul, seja para consumo cedores de todo tipo, gerando renda
interno, seja para exportação. interna das cadeias produtivas. “Como
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 11
PORTOS E LOGÍSTICA

e terminais de uso privado (TUPs)


acontecendo no segundo semestre
de 2018, preparando a capacidade do
Arco Norte para expansão da deman-
da. Além da exportação de soja, o mi-
lho tem sido muito beneficiado pelos
menores fretes do Arco Norte, motiva-
do pela maior sensibilidade ao preço
do transporte.
A soja vem apresentando cresci-
mento constante nos últimos anos.
De acordo com a Agência Nacional
de Transportes Aquaviários (Antaq),
a soja foi o principal destaque no se-
gundo trimestre, com crescimento de
13,2% na comparação com o mesmo
período de 2017, tendo sido responsá-
vel por 2,7 milhões de toneladas acres-
cidas nas operações portuárias. No pe-
ríodo a movimentação de soja cresceu
11,9%.
Nos portos públicos houve aumen-
to da movimentação de granéis sólidos
por navegação interior, com crescimen-
tos de 38,9% em Santarém, 1.912% em
tem esse custo de US$ 46 dólares/ to-
nelada a mais usando a rota Sul/Su-
Os acessos ferroviários Vila do Conde (PA) e 1.266,8% em San-
tana (AP). Nos TUPs, a movimentação
deste e não se consegue retirar tudo aos portos públicos de cargas foi de 181,6 milhões de tone-
lá por cima, muitas áreas não conse- ladas brutas, 0,4% acima do registrado
guem produzir com rentabilidade”, têm problemas, no segundo trimestre de 2017. Segun-
aponta Fayet. em sua maioria do a Antaq, a maior movimentação foi
reflexo do aumento na movimentação
O Sindicato da Indústria da Constru- de minério de ferro, soja (+10,3%) e
ção Naval do Pará (Sinconapa) estima carvão mineral.
que o prejuízo total causado pela de-
mora na conclusão das obras da BR- logística brasileira e não apenas para
163 é incalculável e absolutamente a região Norte ou para a indústria na-
significativo. O presidente do sindi- val”, ressalta Vasconcellos.
cato, Fabio Vasconcellos, lembra que O atraso no asfaltamento da BR-
os projetos de escoamento pelo Arco 163 impactou os fretes rodoviários e
Norte foram realizados tendo como se tornou um gargalo logístico que
premissa a promessa do governo na afetou toda a cadeia do Arco Norte. A
conclusão da rodovia, o que não se ve- expectativa é que, com a conclusão
rificou até o momento. Sem a estrada da BR-163, a infraestrutura aquaviária
adequadamente funcional, os fretes seja novamente alavancada. O dire-
rodoviários sobem, reduzindo dras- tor administrativo da Estaleiros Ama-
ticamente a vantagem sobre o escoa- zônia S/A (Easa), Thiago Lemgruber,
mento pelo Sudeste. observa novas encomendas de frotas
Para o sindicato, essa solução de de empurradores, barcaças, obras de
longo prazo passa pela concessão da estação de transbordo de carga (ETCs)
rodovia à iniciativa privada. Outras
obras essenciais para o aumento na
demanda por embarcações abrangem
a efetivação do derrocamento do Pe-
O DNIT prevê para 2019 o término
dral do Lourenço, no Rio Tocantins,
da pavimentação do corredor até o
e a concretização da Ferrogrão. “São
distrito de Miritituba
investimentos fundamentais para a
12 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
A Antaq verificou que, na comparação entre os segundos O diretor da Antaq, Adalberto Tokarski, avalia que a gre-
trimestres de 2017 e 2018, o granel sólido se manteve está- ve dos caminhoneiros, que ocorreu em maio, foi um susto
vel na participação entre os portos privados, ficando com para o setor e aguçou o debate sobre a matriz de transportes
fatia de 67,2% da movimentação no segundo trimestre de e a busca por soluções mais eficientes de logística. “Preci-
2018, ante os 67,0% alcançados no mesmo período de 2017. samos aprimorar e utilizar os outros modais de forma mais
A leitura da agência é que os granéis sólidos vêm mantendo eficiente”, defendeu Tokarski durante o Enaex 2018 — En-
tendência de crescimento quando considerados os cinco úl- contro Nacional de Comércio Exterior — em agosto, no Rio
timos períodos analisados, registrando no segundo trimes- de Janeiro. Na ocasião, ele disse que o Porto de Santos só não
tre deste ano 122,1 milhões de toneladas movimentadas em parou porque parte da carga passa por ferrovia e hidrovia.
terminais privados. A Antaq fez levantamentos de todos os acessos ferrovi-
Os granéis sólidos foram responsáveis por 64,7% da to- ários aos portos públicos. Tokarski considera importante
nelagem de cargas movimentadas no Brasil no segundo tri- que os agentes do setor conheçam a ferrovia na chegada ao
mestre, fato relacionado à pauta de exportações brasileira, porto. Ele identifica que a maioria dos portos públicos bra-
concentrada principalmente nas commodities agrícolas e sileiros tem problemas de acesso. “Se resolvermos nos 10 a
em minerais. Dentre os segmentos de mercadorias, a soja 20 quilômetros chegando ao porto, conseguimos eficiência
representou 22,2% de toda movimentação no período, se- muito maior. Santos melhorou, mas precisa muito mais. Se
guida pela bauxita (4,2%). resolvermos pequenos gargalos nos portos, a chegada da
No longo curso, as exportações da soja cresceram 10,1%. ferrovia já vai avançar.”, apontou.
Na navegação interior a movimentação correspondeu a 18 Tokarski acrescentou que com a greve dos caminhoneiros
milhões de toneladas, representando aumento de 18,4% ficou mais forte a discussão sobre o que precisa ser aperfei-
no comparativo dos segundos trimestres de 2017/2018. O çoado no transporte da cabotagem, com menos impactos
bom desempenho se deve em parte à boa performance e mais eficiência. “Precisamos ter uma proposta logo para
da soja, principal mercadoria operada nesse tipo de na- aperfeiçoar a lei. Senão uma série de outros aspectos vincu-
vegação, que registrou aumento de 20,3% no segundo tri- lados a ela não vai andar”, comentou. O diretor lembrou que
mestre deste ano, quando comparado ao mesmo período o Brasil terá alguns hub ports no futuro, o que trará neces-
de 2017. sidade de desenvolver melhor a cabotagem nacional, já que
A região hidrográfica do Tocantins-Araguaia é a segun-
da em importância quando considerado o total transpor-
tado em nível Brasil, com o montante de cerca de 2,7 mi-
lhões de toneladas e crescimento de 30,1%. De acordo com
a Anta, o perfil de carga também envolve o transporte de
soja: dois milhões de toneladas e crescimento de 26,9%. O
principal par origem-destino dessa hidrovia é a navegação
dentro do Pará.

Estratégia e M&A e Concessões e Arbitragem e


Operações Investimentos Setores Regulados Contencioso

– Estratégia – Due Diligence – Assessoria em – Estratégia de


corporativa – Fairness opinion leilões/licitações defesas
– Plano de – Valuation – Análises – Assessoria técnica
crescimento regulatórias e avaliação
– Estudos para
– Estudos de captação de – Reequilíbrio de – Avaliação
mercado e capital/dívida contratos de independente
estratégia concessão
comercial – Business plan
– Ple
Pleitos para
– Projeto conceitual – Avaliação autoridades
e dimensionamento preliminar/Proof of
concept – Estudos setoriais
– Melhoria de – Estruturação de
desempenho licitações

www.terraf.com.br
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PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 13


PORTOS E LOGÍSTICA

Ivan Bueno/APPA
navios de grande porte não chegarão a
todos os portos.
O tempo para retirada da carga e os
custos envolvidos com a fiscalização
dos agentes competentes tornam-se
impeditivos para que os destinatá-
rios optem pela cabotagem. Tokarski
observa alto custo com tripulação
comparado à média internacional e
burocracias na liberação de embar-
cações, semelhantes à navegação de
longo curso. Ele também apontou fal-
ta de isonomia com o longo curso para
o preço do bunker, sem isenção de
ICMS, PIS e Confins.
Nas últimas décadas, o Brasil de- ADALBERTO TOKARSKI
senvolveu o aproveitamento de áreas Precisamos aprimorar e utilizar
e aumentou a produtividade para sa- os outros modais de forma mais
fra de grãos. Muitos terminais portu- eficiente
ários ampliaram a movimentação dos
produtos nos últimos anos e existem
projetos de expansão que preveem
ampliação da capacidade de mo-
vimentação. Empresários e analis-
tas entendem que terminais podem
ser construídos pelas operadoras de
grãos, mas as infraestruturas ferroviá- o ambiente jurídico-regulatório não
ria e rodoviária ainda são muito caren- permite investimentos.
tes de ações governamentais. “O setor privado está pronto a in-
vestir e temos obstáculo comum que
Nos últimos 10 anos, o minério de é desatar esses nós dos últimos anos
ferro vem sendo o principal produto criados para impedir investimentos
voltado para exportação pelas fer- no setor privado. O custo desse não
rovias. A Associação Nacional dos fazer vai ser altíssimo. É preocupante
Transportadores Ferroviários (ANTF) o ambiente que se instalou em relação
também destaca o crescimento das ao investimento privado na área de
commodities agrícolas nas ferrovias, infraestrutura”, destaca Paes. Ele ale-
em especial a soja, e potencial de mi- ga que as prorrogações estão previstas
gração do milho e do açúcar via esse nos contratos de todas as ferrovias. A
modal. “Não transportamos somente ANTF afirma que o pacote de cinco re-
minério. Nos últimos anos, o percen- novações de ferrovias terá impacto de
tual de crescimento de soja, milho e 10% na matriz de transportes.
açúcar foi maior do que minério”, con- O setor ferroviário foi pego de sur-
ta o diretor-executivo da ANTF, Fer- presa com a decisão do governo, du-
nando Paes. Os principais benefícios rante a paralisação dos caminhonei-
do modal, de acordo com o segmento, FERNANDO PAES ros, de desonerar o diesel somente
são o custo do frete, a segurança e a Nos últimos anos, o percentual de para o transporte rodoviário. A ANTF
menor emissão de poluentes. crescimento de soja, milho e açúcar considera que essa política pública
As concessionárias prometem in- foi maior do que minério tende apenas a tornar nossa matriz
vestimentos de R$ 25 bilhões num pe- ainda mais desequilibrada.
ríodo curto, mas esbarram em incer- A associação considera esse tipo de
tezas relacionadas à discussão sobre decisão uma contradição com o Plano
prorrogação ou relicitação das atuais Nacional de Logística (PNL). “Não faz
concessões. A ANTF avalia que o poder sentido termos o diesel mais barato
público está incapacitado de inves- para rodovia e não termos o diesel,
tir na infraestrutura e o setor privado pelo menos, em condição de igualda-
fica com os braços amarrados porque de com transporte aquaviário e fer-
14 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
O Sinconapa estima toneladas de grãos por hora. Quando
concluída, a expectativa do Tegram
que o prejuízo pela é receber 80% do volume pelo modal

demora na conclusão ferroviário e os 20% restantes pelo mo-


dal rodoviário.
das obras da BR-163 O consórcio Tegram-Itaqui é forma-
do pelas empresas Terminal Corredor
é incalculável Norte, Glencore Serviços, Corredor
Logística e Infraestrutura e ALZ Ter-
minais Portuários. Os administradores
do Tegram acreditam que o terminal
se consolidou como alternativa logís-
tica aos portos das regiões Sudeste e
Sul para escoamento da safra de grãos
de estados das regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste.
As apostas para logística do agrone-
gócio são proximidade de mercados
para a agricultura brasileira e o uso
de equipamentos de alta tecnologia
em seus processos. Os administrado-
res acreditam que o escoamento pelo
O Terminal de Grãos do Maranhão terminal estimula a produção agríco-
(Tegram) embarcou 5,4 milhões de la nas suas regiões de abrangência,
toneladas entre agosto de 2017 e julho em que ainda há grande potencial de
de 2018. Desse volume, 44% foram re- expansão em função da área de pasta-
roviário. Concorrência desleal e é um cebidos pela moega ferroviária e 56% gens que pode ser convertida em plan-
duro golpe para quem tenta equilibrar pelo modal rodoviário, totalizando 85 tio de grãos.
a matriz de transporte”, lamenta. O navios embarcados no período. Em Um estudo da ANTF cruzando da-
diesel representa em torno de 30% do agosto teve início a segunda fase do dos das agências nacionais de trans-
custo de uma ferrovia atualmente, se- projeto, instalado no Porto do Itaqui. portes terrestres (ANTT) e aquaviários
gundo a ANTF. O Tegram informa que a nova fase (Antaq) que avaliou a participação das
Paes lembra que a meta do PNL visa atender à crescente demanda na ferrovias nos principais portos brasi-
para participação do modal ferroviá- produção de grãos em algumas das leiros apontou problemas mais em re-
rio na matriz nacional de transportes, principais regiões agrícolas do Bra- lação a commodities agrícolas e carga
que já foi de 25%, hoje é de 15%. “Tan- sil. Além de duplicar a capacidade na geral do que a contêineres. O minério
to 15% quanto 25% são muito baixos e movimentação de carga pela recep- não é considerado problemático na
precisamos evoluir esse número para ção ferroviária, o terminal ganhará medida em que o produto é atendido
aproximarmos aos poucos a participa- uma segunda linha de embarques de tanto por ferrovias quanto por dutos.
ção do modal daquilo que temos hoje navios em mais um berço de atraca- “Poucos produtos, principalmente
no Porto de Itaqui (MA)”, analisa. Ita- ção no porto, redimensionando as commodities agrícolas, ainda temos
qui é considerado exemplo na medi- capacidades do terminal para uma atendimento muito baixo pelo modal
da em que grande parte da carga que movimentação de volumes superio- ferroviário. Boa parte dessas cargas
chega ao porto para exportação vem res a 10 milhões de toneladas ao ano. está em rodovias, percorrendo longas
por ferrovia. O porto é atendido pela A Empresa Maranhense de Admi- distâncias”, ressalta Paes.
Estrada de Ferro Carajás (EFC), opera- nistração Portuária (EMAP) destaca Um levantamento de julho do Mi-
do pela Vale. que o novo berço de atracação englo- nistério da Agricultura mostra que a
O diretor da ANTF acrescenta que o ba a aquisição de um segundo shiplo- exportação de milho cresceu de 18,8
trecho da ferrovia Norte-Sul que está ader, que permitirá ao terminal alcan- milhões de toneladas, na safra de
em operação entre Açailândia e Porto çar uma taxa de embarque de cinco 2015/16, para 30 milhões de toneladas,
Nacional, foi garantido pela duplica- mil toneladas de grãos por hora, dis- na safra 2017/18. Já a exportação de fa-
ção da EFC pela Vale, que garante a tribuídas nos dois berços, permitindo relo de soja e soja em grãos cresceu de
passagem de grãos. “Atualmente são o embarque de dois navios de forma 66 milhões de toneladas em 2015/16,
quase 20 milhões de toneladas úteis simultânea. A ativação da segunda para 88,5 milhões de toneladas em
que a Vale permite por ali a passagem linha da moega ferroviária permitirá 2017/18. Em dois anos, houve aumen-
de qualquer carga que não seja miné- a descarga de oito vagões simulta- to de 33,7 milhões de toneladas de ex-
rio”, destaca Paes. neamente, a uma taxa de quatro mil portação de milho e soja. n
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 15
PORTOS E LOGÍSTICA

Investimentos adiados
Fabricantes de equipamentos para minérios abrem olhar
para outros países, além de demandas em minas de extração

Danilo Oliveira

N
ovos projetos portuários A Aumund avalia que a tendência tação do licenciamento e da conclusão
com movimentação de mi- dos preços da commodity é de esta- de obras de acessos ferroviários. “Esses
nérios dependem da recu- bilidade nos próximos anos. A fabri- projetos dependem de investimentos de
peração desse mercado em cante acredita que alguns projetos longo prazo e sabemos que não estamos
nível internacional. A queda do preço portuários ainda devem permanecer num ano favorável. Esse tipo de obra de
do minério de ferro nos últimos qua- engavetados a curto prazo. A empresa infraestrutura no Brasil leva muito tem-
tro anos adiou a compra de equipa- acompanha o desenvolvimento de no- po para sair”, observa Soares.
mentos e a expansão de terminais no vos projetos de terminais portuários Para a Aumund, a América do Sul é
Brasil. As instalações portuárias de mi- na Bahia (Porto Sul), Espírito Santo um grande referencial nesse segmento
nérios têm demandado, basicamente, (Porto Central) e na região Norte que na medida em que grande parte das
manutenção e pequenas adaptações. estão em fase de definição ou licencia- consultas recebidas sobre equipamen-
Os fabricantes olham oportunidades mento. Para manuseio de minérios, a tos para portos é para aplicações com
em outros países sul-americanos, em Aumund tem uma linha desde equipa- manuseio de minérios. Soares explica
especial Chile e Peru, além de deman- mentos de pátio e armazenagem até a que o principal produto do segmento
das em minas de extração. A avaliação fase do carregamento, como empilha- de mineração no Brasil é o minério de
é que o volume de produção de miné- deiras e retomadoras. ferro para exportação, enquanto Chile
rios está aumentando, porém os maio- O gerente de vendas da Aumund, e Peru se destacam na movimentação
res investimentos estão concentrados Átila Soares, diz que no Brasil existem de concentrados de cobre. Soares diz
na expansão da capacidade produtiva muitos projetos demorados em fun- que o governo peruano concedeu re-
das minas. ção, dentre outros fatores, da trami- centemente a operação de portos pú-
16 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Marcelo Coelho
blicos à iniciativa privada e agora vive portuários de minérios está relaciona- não ainda no nível que gostaríamos.
certa retração desses movimentos, da ao preço da commodity, que esteve Mas já recebemos mais que no ano
aguardando a concretização de planos muito baixo nos últimos anos, mas passado. Pelo menos dois estudos so-
de novas concessões. identifica tendência de recuperação, licitados de modernização de shiploa-
A Aumund vendeu duas empilha- com aumento de consultas e retorno ders. Um deles está relacionado à au-
deiras radiais sobre esteiras para o de investimentos a médio prazo. “Mas tomação”, conta Lambert.
terminal multicargas (TMULT) loca- a tendência de retomada ainda não se A fabricante investe na redução de
lizado no complexo do Porto do Açu traduziu em novas consultas”, conta o emissões de particulados nas opera-
(RJ). A empresa também forneceu car- diretor comercial da empresa, Paulo ções portuárias de minérios. Recente-
regadores de navios para movimen- Lambert. mente, a TMSA teve sucesso no projeto
tação de concentrados no Chile e no Entre os terminais portuários que da ADM em Santos, na área de grãos, e
Peru. O momento atual, no entanto, é operam minério, a TMSA forneceu quer repetir o desempenho investindo
de compasso de espera. “Observamos transportadores de correia do Porto do em estudos para melhorar esse tipo de
nos últimos anos mais movimentos Açu (RJ), além do transportador tubu- aplicação em terminais de minérios. A
no sentido de reforma e serviço desses lar para descarga de carvão em Pecém TMSA aposta que o principal negócio
equipamentos e um pouco de projetos (CE). A fabricante também vendeu a curto prazo será conseguir operar
represados em função da situação do equipamentos para a termelétrica do de forma mais contínua, sem paradas
mercado”, avalia. Porto de Itaqui (MA). A TMSA recebeu em função de problemas de emissão.
A TMSA também avalia que a redu- esse ano algumas propostas de manu- “Hoje esse é um grande desafio: quan-
ção nos investimentos em terminais tenção de equipamentos. “Existem, do vento aumenta muito, o pessoal co-
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 17
PORTOS E LOGÍSTICA

meça a ter dificuldade de operar por- finição das paradas para manutenção.
que começa a ter emissão grande de “Atrelado ao ganho produtivo, temos
particulados”, explica Lambert. melhora considerável na segurança
O diretor diz que, atualmente, existe operacional dos equipamentos, redu-
interesse mais pelo aspecto ambiental ção no custo de manutenção, além da
do que aumento de capacidade. “Mas fabricação de equipamentos mais le-
acreditamos que os volumes de expor- ves e mais confiáveis”, destaca Almei-
tação devem aumentar porque o país da.
precisa exportar. Os portos ainda têm A leitura da Takraf/Tenova é que os
capacidade grande para atender, mas investimentos realizados ao longo dos
vão precisar se adequar aos novos li- últimos anos nos terminais portuários
mites de emissão de particulados que brasileiros, embora tenham existido,
vêm sendo exigidos pelos órgãos am- não caminharam no mesmo ritmo das
bientais”, aponta Lambert. demandas. A análise é baseada na ex-
tensão da costa brasileira, no volume
Na visão da Takraf/Tenova, há pers- de alimentos e commodities gerados
pectivas de o volume exportado de mi- ATILA SOARES no Brasil para exportação e na neces-
nério aumentar nos próximos anos. A Projetos dependem de sidade de importação de outros pro-
tendência inclui possíveis investimen- investimentos e sabemos que dutos escassos no mercado nacional.
tos da Vale em S11D, Salobo e Carajás não estamos num ano favorável A fabricante participou da amplia-
que estão no radar da empresa. “No ção do Terminal Integrador Portuá-
segmento de mineração, a região Nor- rio Luiz Antônio Mesquita (Tiplam),
te ainda é a mais promissora do Brasil. em Santos (SP), concluída no início
Por outro lado, é possível observar um de 2018. Nesse empreendimento, a
grande esforço para manter as minas Takraf/Tenova forneceu um conjunto
de Minas Gerais em operação”, obser- de transportadores de correia conven-
va o gerente de engenharia da empre- cionais e tubulares para carregamento,
sa, Rafael Rodrigues de Almeida. estocagem e desembarque de grãos,
Almeida estima que a moderniza- farelo, açúcar, enxofre e fertilizantes.
ção de máquinas de pátio e sistemas “Com exceção desse projeto de expan-
pode representar aumento de até 20% são, os investimentos nos terminais
na produtividade, por meio da obten- portuários brasileiros foram mínimos,
ção de taxas de transporte mais homo- A venda de equipamentos no país mais voltados para serviços de manu-
gêneas, da eliminação das paradas de sofreu com a queda do preço do tenção e reparos em equipamentos
emergência e de maior precisão na de- minério de ferro nos últimos 4 anos existentes”, resume Almeida.
Alguns clientes da TMSA fizeram
consultas sobre sistemas anticolisão
com radar que evitam choques do sis-
tema de carregamento com os navios
ou com outros equipamentos do cais.
Os equipamentos mais modernos já
vêm com esse sistema que os mais
antigos não têm. “Nos equipamentos
novos vendidos já disponibilizamos
toda essa automação. Alguns clientes
já solicitaram estudos para colocar
esse tipo de automação em shiploa-
ders mais antigos”, revela Lambert. Ele
acrescenta que a operação de equipa-
mentos de grande porte para movi-
mentação de minérios exige investi-
mentos em treinamento e qualificação
do pessoal que manuseia as máquinas
como shiploaders, que podem custar
mais de US$ 10 milhões.
Ele conta que na área de minérios a
empresa vem trabalhando em projetos
18 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
O Grupo TMSA é especializado
no projeto e produção de
carregadores de navios
TMSA
para uma ampla variedade
de granéis sólidos, desde Carregadores
commodities agrícolas até
de Navios

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minerais. Seu Departamento
de Engenharia é formado por
especialistas em soluções de
movimentação, garantindo
projetos únicos, voltados para
a realidade de cada cliente.

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navios de alta
capacidade para
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Açucar 3.000 TPH • Projetos flexíveis:
carregadores de torre
fixa ou móvel
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manutenção simples
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PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 19
PORTOS E LOGÍSTICA

Rimac/Divulgação
mais voltados para melhorias opera-
cionais nas minas, já que as consultas
para portos estão limitadas a refor-
mas de equipamentos. No interior, a
empresa tem recebido boas consultas
e trabalhando com vários projetos, o
que indica tendência de melhoria. A
TMSA trabalha com carregadores e
os transportadores. Em relação a des-
carregadores, a venda é dominada por
chineses, que conseguem ser compe-
titivos com esse tipo de equipamento
em grande parte do mercado mundial.

No Brasil é comum rodas de caçam-


bas que levam minério para esteiras
em projetos de alta capacidade. A Au-
mund desenvolve soluções equivalen-
tes para pátios de minérios por meio
de retomadoras tipo portal. “A área de
movimentação de projetos é um foco
nosso. Temos contatos e referências
— não só na questão portuária — com
grandes players no Brasil e no exterior. Produção de minérios Almeida vê como diferencial da em-
São clientes em que temos atuado e presa encontrar soluções customiza-
fornecido nos últimos anos, inclusive está aumentando mas das e inteligentes que reduzem o cus-
na área de minas. Estamos sempre de
olho porque nossos produtos se encai-
investimentos estão to de investimento e manutenção das
plantas. A estratégia integra as áreas de
xam bem nas soluções deles”, afirma concentrados na processo, com produtos da linha Delkor, a
Soares. de manuseio de materiais (produtos da
Ele explica que essa máquina per- expansão das minas linha Takraf/Tenova), atuando em todo
mite automação mais simples porque processo produtivo. Uma das soluções
ela tem perfil de retomada constante. é a motorização com sistemas gearless,
O cliente pode instalar sensores que cujo acionamento dos equipamentos é
monitoram a pilha e consegue fazer feito por motores especiais, que dispen-
toda operação de retomada automa- sam a utilização de redutores.
ticamente, sem influência de um ope- que o perfil das retomadoras roda de A Takraf/Tenova desenvolve novas
rador. Ele compara à roda de caçam- caçamba, pelo tamanho da máquina, tecnologias que prometem economia
ba, equipamento em que o operador praticamente inviabiliza a construção nos investimentos de capital e cus-
precisa focar num ponto da pilha, fa- de galpões cobertos. Ele acrescenta tos de operação. A linha inclui equi-
zer toda extração ali, depois colocar que os carregadores de navios podem pamentos de empilhamento a seco
a máquina em outro ponto da pilha e ter filtros instalados em todas as trans- (transportadores móveis, spreaders,
fazer a extração daquele outro ponto e ferências, além de reduzir a velocida- empilhadeiras tipo ponte, grasshoppers);
assim sucessivamente. de do material que chega ao portão e britadores de rolos compactos de alto
Soares afirma que a retomadora minimizar geração de pó tanto no re- desempenho; e transportadores cur-
portal consegue dar a capacidade que cebimento de uma esteira quanto no vos, que ainda têm presença restrita
o cliente precisa, sendo uma máquina carregamento do porão. no mercado nacional, segundo Almei-
menos robusta. “Nossa retomadora A Takraf/Tenova aposta na moder- da, por desconhecimento dos usuários
vai comendo a pilha do início até o nização dos equipamentos e, princi- sobre a maturidade da tecnologia.
fim dela, sem precisar mover de ponto palmente, na inovação nos conceitos O gerente de engenharia da em-
ao longo dessa pilha. Com sistema de de projeto. A estratégia é voltada para presa diz que as automações mais co-
sensores, é mais fácil verificar e reto- incorporação, pela área de engenharia, muns são: controle de fluxo de mate-
mar a pilha, mantendo a continuidade de tecnologias desenvolvidas em diver- rial nas correias transportadoras, para
do processo de forma automática, sem sos ramos da indústria visando a bus- evitar derramamentos e sobrecargas;
necessidade de um operador”, descreve. ca por maior segurança para pessoas e sistemas de posicionamento por GPS
Além disso, esse equipamento pode equipamentos, bem como para o alcan- para empilhadeiras, retomadoras,
ser para pátio coberto. Soares compara ce de maior produtividade. transportadores de correia e outros
20 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
equipamentos móveis. Outros desta- para manuseio de materiais permite grab para evitar paradas corretivas de
ques são os sistemas de segurança an- operação remota ou automática, não manutenção e possibilitar a produtivi-
ticolisão por scanners a laser ou radar; demandando operador embarcado. dade maior do acessório.
mapeamento de pilhas para gestão de No portfólio de equipamentos com Para a Terminal Full Dealer (TFD), a
materiais; e sistemas para gestão de operação automática ou remota, a em- crise dos dois últimos anos diminuiu
ativos que monitoram temperatura e presa desenvolve empilhadeiras, recu- o ritmo dos investimentos em novos
vibração dos principais componentes, peradoras, máquinas combinadas de equipamentos, porém aumentou a
que detectam possíveis falhas de for- empilhadeira/recuperadora, crawlers, procura por máquinas usadas, inves-
ma prematura. descarregadores de navios. timentos em manutenção e peças. O
A automação das operações, geral- O diretor comercial da Rimac, Mar- diretor comercial da TFD, João Cagno-
mente desenvolvida a quatro mãos com celo Vieira, conta que que houve com- ni, destaca que, apesar de ocorrerem
o cliente, visa aumentar a confiabilida- pras de guindastes do tipo MHC equi- em ritmo mais lento, os investimen-
de, a eficiência e a segurança operacio- pados com grabs para movimentação tos seguem acontecendo e, este ano,
nais. Essa automação reduz a possibi- de minério e carvão. Ele destaca o for- a Konecranes Gottwald já entregou
lidade de erro humano e possibilita a necimento de grabs da Peiner-Smag, dois guindastes móveis sobre pneus
criação de redundâncias que, por sua principalmente para o Porto do Pecém no Brasil.
vez, reduzem a possibilidade de falhas (CE). “Nossos grabs são fabricados A TFD, através da sua represen-
nos sistemas de automação. “Ao afastar com aço altamente resistente à abrasi- tada Konecranes Gottwald, oferece
o pessoal de operação das máquinas, vidade e possuem sistema de vedação soluções de guindastes que podem
monitorando e controlando uma even- nas conchas capaz de reduzir ao má- ser montados sobre pneus, pórticos
tual aproximação, em caso de necessi- ximo o vazamento de material e assim ou fixos no cais ou em flutuantes. Os
dade, o risco de acidentes é drastica- eventuais problemas com órgãos do equipamentos prometem alta perfor-
mente reduzido”, explica Almeida. meio ambiente”, detalha. Vieira conta mance no manuseio de granéis com
Ele diz que a maioria dos equipa- que a Peiner-Smag está desenvolven- caçambas e contam ainda com softwa-
mentos projetados pela Takraf/Tenova do um sistema de monitoramento do res e dispositivos desenvolvidos para

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E NAVIOS OUTUBRO 2018 21
PORTOS E LOGÍSTICA

melhorar a produtividade e aumentar


o conforto e a segurança da operação.
Cagnoni cita sistemas antibalanço,
sistemas semi-automáticos ponto a
ponto, com ciclo semi-automático en-
tre porão do navio e moega, além do
sistema de controle da tensão dos ca-
bos do grab, o qual permite otimizar o
enchimento.
Cagnoni explica que a automação
nas máquinas de pátio aumenta sen-
sivelmente a produtividade, já que
permite a movimentação de grandes
volumes de minérios, substituindo
empilhadeiras e recuperadoras bull-
dozers (escavadeiras) e pás carregadei-
ras. Os equipamentos comercializados PAULO LAMBERT
pela TFD têm sistemas de segurança Tendência de retomada ainda
que permitem melhor visualização da não se traduziu em novas
carga e do porão do navio, além de evi- consultas
tar a sobrecarga ou movimentos que
possam pôr em risco a segurança da
operação do equipamento e do ope-
rador. Além disso, a automação dos
guindastes portuários móveis (MHC’s)
permite ao operador trabalhar de ma-
neira mais confortável.
Na movimentação de contêineres,
a Konecranes já conta com equipa-
mentos capazes de realizar a operação e conforto do operador, além de per-
100% automatizada, sem a presença mitir, se necessário, a operação com
de operadores, apenas com supervisão controle remoto.
de uma sala de controles à distância. Há perspectivas de o volume expor-
Cagnoni explica que nas operações tado de minério aumentar nos próxi-
com granéis este tipo de solução ainda Licenciamento ambiental e mos anos, na visão da TFD. Em termos
não ocorre, apesar de a automação ter obras de acesso atrasam os de granéis, não só os volumes de ex-
aumentado produtividade, segurança investimentos portação de minérios, mas também as
exportações de grãos e as importações
Bruno Menezes
de fertilizantes e carvão têm aumen-
tado. “As regiões Norte e Nordeste são
as mais promissoras, exceto para a im-
portação de fertilizantes, ainda muito
forte no Sul e Sudeste. Aumenta ainda
a demanda para apresentar soluções
eficientes para o transbordo de cargas,
principalmente em áreas com pouco
ou nenhuma infraestrutura portuária”,
analisa.

Nos últimos quatro anos, houve


evolução crescente e constante dos
granéis sólidos, tanto minério de fer-
ro quanto soja. A movimentação de
minérios cresceu de 85,1 milhões de
toneladas, no segundo trimestre de
2014, para 98,7 toneladas no mes-
mo período de 2018. De acordo com
22 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
TUPs. Esse produto é quase totalmen-
te exportado, atingindo no longo cur-
so para portos privados um embarque
total da ordem de 85,3 milhões de to-
neladas.
No segundo trimestre de 2018, o
minério de ferro representou 47,8% do
total de mercadorias mais movimenta-
das nos portos privados, o equivalen-
te a 86,9 milhões de toneladas. As dez
principais mercadorias representaram
94,6% da movimentação dos terminais
privados. De abril a junho, foram mo-
vimentados nos portos organizados e
terminais privados 179 milhões de to-
neladas brutas de granéis sólidos, au-
mento de 0,3% quando comparado ao
mesmo período de 2017. A Antaq des-
taca que os granéis sólidos foram res-
ponsáveis por 64,7% da tonelagem de
cargas movimentadas no Brasil nesse
trimestre, devido à pauta de exporta-
ções brasileira, concentrada princi-
palmente nas commodities agrícolas e
minerais.
A agência avalia que a relativa esta-
bilidade de 0,3% na movimentação de
granéis sólidos no segundo trimestre,
comparado com o mesmo período de
a Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq), a movimentação
Baixo preço do 2017, pode ser explicada pelo equilí-
brio entre o aumento da movimenta-
de cargas nos terminais de uso privado minério adiou ção de minério de ferro (+1,8%) e soja
(TUPs) no segundo trimestre de 2018
foi de 181,6 milhões de toneladas bru-
investimentos em (+11,7%) frente ao recuo em bauxita
(-19,2%) e adubos (-8,9%). Os portos
tas, valor 0,4% maior do que o registra- terminais portuários privados movimentaram 68,2% da
do no mesmo período de 2017. fatia dos granéis sólidos, enquanto
Essa maior movimentação nos TUPs no país os portos públicos obtiveram partici-
foi reflexo do aumento na movimenta- pação de 31,8%. “A alta concentração
ção de minério de ferro (+1,6%), soja e na movimentação dos granéis sólidos
carvão mineral (+29,4%). Um dos des- pelos portos privados se justifica pela
taques entre os terminais privados é o quase exclusividade na movimentação
Terminal de Ponta da Madeira (MA), de minério de ferro por parte deste
que teve alta de 18,8% na comparação tipo de instalação portuária”, destaca
com o segundo trimestre de 2017 — a Antaq.
incremento de aproximadamente 7,5 trada expansão das atividades nesta No longo curso, o minério de fer-
milhões de toneladas. Nesse terminal, instalação portuária. ro mostrou-se estável com 0,8% de
99,3% da carga é minério de ferro e o Os 10 principais terminais portuá- crescimento em relação ao mesmo
restante manganês. rios privados do Brasil correspondem trimestre de 2017, sendo responsável
O Terminal de Tubarão (ES) regis- a 67,3% do total movimentado nesse por 57,1% do volume total de expor-
trou um decréscimo na movimen- tipo de instalação, equivalente a 122,2 tações. A movimentação de bauxita
tação da ordem de 0,1% no período. milhões de toneladas. Somente Pon- representou 8,5% do total de merca-
Segundo a Antaq, tal fato mostra que ta da Madeira representa 26% desse dorias transportado por cabotagem de
o crescimento apresentado por Ponta montante. A Antaq informa que essa abril a junho de 2018. O produto não
da Madeira no segundo trimestre não quantidade expressiva pode ser expli- registrou acréscimo nesse tipo de na-
pode ser atribuído exclusivamente a cada, principalmente porque o miné- vegação, tendo uma queda da ordem
um aumento da produção de minério rio de ferro é o principal produto mo- de 29,1% no segundo trimestre deste
de ferro em geral, mas sim da concen- vimentado por três dos 10 principais ano. n
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 23
PORTOS E LOGÍSTICA

Imbituba a maior movimentação da história do


Porto de Imbituba; atraímos novas li-
Diversificação na nhas e novas cargas, como o arroz em
casca, os bois vivos e as toras de ma-
exportação deira e continuamos trabalhando para
que o porto seja agente de desenvol-
O Porto de Imbituba tem aprovei- vimento de Santa Catarina, em espe-
tado o reaquecimento do mercado in- cial do sul do estado. Este cenário é ao
ternacional para ampliar seu portfólio mesmo tempo extremamente positivo
de exportação. No fim de agosto, em- e desafiador”, afirmou.
barcou 15 mil toneladas de eucaliptos
de reflorestamento no navio Zambesi, Sepetiba Tecon
do tipo break bulk, especializado no
transporte de carga geral, soltas ou Terminal recebe
fracionadas. Este foi o segundo em-
O terminal movimentou 1,3 milhão
de toneladas em dois anos barque de toras realizado pelo porto cargas especiais
este ano. O primeiro, feito em março,
T-Mult foi uma operação piloto com 13 mil O Sepetiba Tecon, por intermé-
toneladas. dio da Brasil Projects e da CET Brazil
600 mil toneladas Antônio Guimarães Neto, diretor Transmissão de Energia, fechou uma
da Simetria Logística, responsável parceria com a chinesa State Grid,
em oito meses pela operação, explica que a empresa uma das maiores empresas de energia
vem trabalhando há quase três anos do mundo, para a importação de cer-
O Terminal Multicargas do Porto no desenvolvimento desse nicho de ca de cinco mil toneladas de cargas.
do Açu (T-Mult) movimentou 600 mil mercado. “Havia um interesse mui- O projeto, com previsão de término
toneladas nos primeiros oito meses to grande de produtores florestais de em outubro, terá no total a atracação
deste ano, superando o volume regis- Santa Catarina e Rio Grande do Sul de três navios break bulks e descarga
trado ao longo de todo o ano passado. de desenvolver esse tipo de exporta- de sete transformadores de 800 KVAs,
Em dois anos de operação, são 1,3 mi- ção. A demanda do mercado interna- nove reatores e mais de cem contêine-
lhão de toneladas movimentadas, 55 cional foi aumentando cada vez mais res com cargas diversas. Para receber o
embarcações recebidas e quase 38 mil e então a gente começou a se dedicar carregamento, que foi dividido em três
carretas expedidas. Hoje, o T-Mult mo- forte para entender o funcionamento etapas, foi necessário um minucioso
vimenta coque, carvão, bauxita e gip- da operação e buscar, principalmente, planejamento operacional e uma co-
sita, além de carga geral e de projetos. a conexão entre produtores florestais municação contínua entre os parcei-
O terminal ainda tem autorização para e compradores do exterior, a maioria ros envolvidos.
operar veículos e contêineres. chineses”, conta Antônio. Dentre as cargas importadas, já fo-
Segundo o diretor de Operações Segundo o operador portuário, a ram descarregados cinco transforma-
do Porto do Açu, Ideraldo Goulart, previsão é de que um novo embarque dores que pesam 355 toneladas cada.
superar a movimentação de um ano seja realizado ainda este ano. “Acre- “Essa operação mostra que o terminal
inteiro em oito meses é só o indício ditamos que as operações vão se es- possui infraestrutura diferenciada e
de um desenvolvimento natural. “O tabilizar em Imbituba, pois há ainda mão de obra especializada para mo-
T-Mult tem atingido um volume de muitas oportunidades de negócios na vimentar cargas especiais”, destacou
movimentação de carga crescente e área florestal e madeireira entre Brasil Marcelo Xavier, gerente operacional
isso é resultado dos esforços das nos- e China. A demanda lá só aumenta, do Sepetiba Tecon. Para retirar cada
sas áreas comercial e operacional. In- então é importante Santa Catarina já transformador do terminal, foi utiliza-
vestimos constantemente na melhoria estar saindo na frente e continuar pre- do um meio de transporte especial for-
de nossos processos e treinamentos e, parada, porque tem muita coisa boa mado por carretas linha de eixo com
aos poucos, nos consolidamos como para acontecer nos próximos anos”, 111 metros de comprimento, seis me-
importante alternativa logística e por- destaca Antônio. tros de largura e cinco metros de altura
tuária para as empresas brasileiras”, Diretor comercial da SCPar Porto de cada. Segundo Xavier, isso demonstra
salientou. Imbituba, empresa pública que admi- que o Sepetiba Tecon conta também
O T-Mult movimentou cargas iné- nistra o porto, Paulo César Dagostin com um eficiente acesso rodoviário.
ditas neste ano, incluindo pás eólicas e acompanhou a operação e se disse Todo esse carregamento será res-
gipsita, também conhecida como pedra muito satisfeito com as conquistas que ponsável pela conexão entre a Usina
de gesso ou somente gesso. É um miné- a comunidade portuária de Imbituba Hidrelétrica de Belo Monte (PA) e a
rio composto por sulfato de calcário hi- vem alcançando nos últimos anos: subestação de Paracambi na Baixada
dratado e tem diversas aplicações. “Estamos prestes a fechar o ano com Fluminense (RJ).
24 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 25
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Transparência
para avançar
Indústria quer mais informações
sobre descomissionamento de
plataformas e cobra definições
sobre regulação e bioinvasão

Danilo Oliveira

À Atividade
medida que amadurece o de-
bate sobre descomissionamen-
to de plataformas no Brasil, tem desafios
aumentam as dúvidas do
setor sobre a complexidade e as regras ambientais e
desse processo. A indústria quer mais necessidade de
informações da Petrobras sobre o tema e
cobra dos órgãos reguladores definições desenvolvimento
sobre regulação e bioinvasão. Como o
descomissionamento de estruturas of-
de tecnologia e
fshore envolve unidades de produção, insumos para
sistemas submarinos e poços, especia-
listas dizem que a atividade tem desa- os processos de
fios ambientais, sociais e econômicos, desmanche
dentre os quais a geração de resíduos
e rejeitos, proteção de atividades eco-
nômicas locais e a necessidade de de-
senvolvimento de tecnologia e insumos
para os processos de desmantelamento.
A crescente demanda dos proces-
sos de descomissionamento de siste-
mas de produção de petróleo e gás no
mar está relacionada a fatores como:
redução do preço do barril, vida ope-
racional das plataformas, término de
contratos de concessão e mudanças
na estratégia de desenvolvimento dos
campos. De acordo com a Agência
26 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Descomissionamentos x resíduos
Parada de Amarra
Unidade PD PDI Riser Âncora
Produção (Km)
P07 19.01.15 20.01.15 Janeiro/2016 19 8 5,8
P12 14.05.15 27.05.15 Fevereiro/2015 29 8 4,2
P15 16.07.15 17.07.15 Fevereiro/2017 28 8 4,6
P33 30.05.15 Julho/2016 Dezembro/2019 25 8 8,6
FPRJ 13.06.18 21.06.18 Junho/2018 30 18 6,8
Aguardando
FPRO 14.11.17 Dezembro/2017 3 12 4,6
definição do projeto
Fonte: Destri Consulting

Nacional do Petróleo, Gás Natural e quilômetros — e oito manifolds (2,4


Biocombustíveis (ANP), 64 de 158 uni- mil toneladas).
dades de produção offshore no Brasil A expectativa do setor é que os gas-
estão com mais de 25 anos de uso, ce- tos com o descomissionamento alcan-
nário expressivo para atividade de des- cem montantes na casa dos bilhões de
comissionamento nos próximos anos. dólares por ano no período 2018-2025.
Segundo a ANP, 24 unidades (15%) têm A atividade tem três formas de ser rea-
idades entre 15 e 25 anos e outras 70 lizada e todas as opções são conside-
(44%) têm idade inferior a 15 anos. radas custosas: retirada parcial, remo-
O Brasil perde milhões de reais com ção total ou permanência no local. O
plataformas desativadas que aguar- coordenador do Centro de Estudos
dam solução de destino e que geram para Sistemas Sustentáveis da Uni-
despesas com manutenção e pessoal. versidade Federal Fluminense (CESS/
Essas unidades também precisam de UFF), Newton Pereira, acredita que o
equipes terceirizadas para atender a descomissionamento vai trazer opor-
manutenções que resguardem suas tunidades para realização de serviços
salvaguardas e as mantenham ínte- na cadeia de suprimentos reversa.
gras até o descomissionamento. O Sem perspectiva de encomendas para
mercado estima que esses valores se- construção naval, ele enxerga nessa
jam consideráveis na medida em que nova atividade um movimento impor-
uma unidade parada em sua locação tante para indústria que hoje está pra-
precisa de uma equipe que a mante- ticamente parada.
nha operacional em seus sistemas de
sobrevivência. Ao considerar o tempo Em crise desde o final de 2014, a cons-
desde a parada de produção de três trução naval e offshore busca novas
unidades (P-07, P-12 e P-15) e a pro- oportunidades. Como não existem ne-
vável parada da P-33 ainda este ano, gócios para estaleiros no curto prazo,
analistas acreditam que os valores so- os empresários desse segmento bus-
mados cheguem a dezenas de milhões cam se familiarizar com o descomis-
de reais ao final deste ano. sionamento. Ivan Fonseca, da Icmar
Seis unidades (P-07, P-12, P-15, Consultoria Industrial, diz que esse
P-33, FPRO e FPRJ) estão para serem mercado chama atenção dos estalei-
descomissionadas entre 2018 e 2019. ros, que estão procurando investigar
A lista, que abrange abandono de como essa atividade funciona e enten-
aproximadamente 50 poços, inclui 26 der as incertezas no aspecto regulató-
âncoras (31 toneladas), 48 árvores de rio. “Os estaleiros investiram bilhões
natal molhadas (960 toneladas), 292 para estarem aptos para construírem
manilhas (340 toneladas), quatro SS e plataformas e navios. É sempre com
uma FPSO, além de 20 quilômetros de muito cuidado que eles vão para esse
amarras, 400 quilômetros de linhas, 12 mercado [descomissionamento] por
dutos de óleo e gás — totalizando 65 causa da equação econômico-finan-
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 27
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Quadro geral de descomissionamentos


Entrada
FPRJ em
P07 Produção
Cação

P12
FPRO

UEP1 e
P15 UEP2 P18
P33 P47 P37

P35
P26
P32
2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030
P19
P20
Fonte: Destri Consulting

ceira dessa atividade”, conta o enge-


nheiro.
Fonseca diz que a demanda para o
setor ainda é uma grande incógnita.
Ele sente falta de a Petrobras detalhar
mais em seus planos os serviços rela-
cionados às plataformas a serem de-
sativadas. “Não há clareza por parte de normatização. Ele acredita que a
da Petrobras de quais unidades seriam maior complexidade esteja nas jaque-
descomissionadas. Há um grande ní- tas, que são estruturas metálicas fixas
vel de incerteza”, analisa o consultor. e teoricamente mais difíceis de serem
Outra preocupação é o tempo de removidas do que unidades flutuan-
execução desses serviços, já que a des- tes. “Essa operação terminou em 2010
tinação de unidades descontinuadas e pretendem terminar [a remoção] em
pode levar muitos anos. O caso mais 2019. Precisamos entender por que
citado por quem acompanha o as- 64 de 158 unidades demorou tanto”, avalia.
sunto é do descomissionamento das
plataformas fixas Cação 1, 2 e 3, em
de produção ‘offshore’ A Petrobras descontinuou as pla-
taformas: P-27 (Campo de Voador);
Linhares (ES), posicionadas a 3,8 mi- no Brasil estão com P-34 (Campo de Jubarte); Espadarte
lhas náuticas da costa. Essa concessão, FPSO (Campo de Espadarte); FPSO
operada pela Petrobras entre 1978 e mais de 25 anos Marlim Sul (Campo de Marlim Sul); e
2010, foi encerrada antecipadamen- FPSO Brasil (Campo de Roncador), to-
te em 2014. Em julho de 2016, numa
reunião de ANP, Marinha, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-
cursos Naturais Renováveis (Ibama) e
Petrobras, foi decidida a remoção total
dessas estruturas.
A fase de contratação de empresa
para o serviço foi aberta em setembro
de 2017 e está prevista para terminar
em outubro. A etapa seguinte, destina-
da ao corte e à remoção dos conveses e
jaquetas, está prevista para acontecer
de março a julho de 2019. Entre agosto
e dezembro do mesmo ano, deve ser
emitido um relatório final de desativa-
ção dessas instalações.
Fonseca diz que o setor precisa
entender se a demora no descomis-
sionamento de Cação está relaciona-
da a questões econômicas ou à falta
28 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
ANP, Ibama e Marinha ANP, Ibama e Marinha trabalham
em conjunto na revisão e na elabo-
estudam mudanças ração dos normativos para entendi-

na Resolução mento e análise dos projetos. O Ibama


afirma que o tempo de análise dos
27/2006, sobre processos é proporcional à complexi-
dade e à qualidade do projeto e que
descomissionamento não obriga estritamente à remoção de
toda e qualquer estrutura do fundo do
mar. O órgão esclarece que não permi-
te o “abandono temporário por tempo
indeterminado” de estruturas no leito
marinho. Segundo o instituto, as nor-
taforma após sua remoção. “Dentre es- mas ambientais marcam limites, mas
tas alternativas, a utilização da jaque- não são obstáculos. O instituto ressal-
ta para a criação de recifes artificiais, ta que o planejamento não pode ser
após a remoção do topside, pode ser deixado para depois, pois é crucial e
uma possibilidade”, avalia a empresa. os projetos não podem ser apresenta-
Uma unidade parada em sua loca- dos parcialmente. O órgão considera
ção precisa de uma equipe que a man- importante haver uma visão total do
tenha operacional em seus sistemas projeto para não causar a percepção
de sobrevivência, além de equipes dos impactos ambientais de forma
das na Bacia de Campos. Ao longo dos terceirizadas para atender a manuten- fragmentada.
próximos anos, a estatal desenvolverá ções que resguardem suas salvaguar- Segundo o Ibama, existem desafios
os seguintes projetos de descomissio- das e a mantenham íntegra até o mo- na complexidade de execução de tra-
namento: P-07 (Campo de Bicudo), mento de seu descomissionamento. A balhos no mar, no planejamento e na
P-12 (Campos de Badejo, Linguado e Petrobras acrescenta que, em todas as qualidade das informações disponí-
Trilha), P-15 (Campos de Bonito, Ma- etapas do descomissionamento, estão veis. Outros pontos observados pelo
rimbá e Piraúna), P-33 (Marlim), PCA- planejadas atividades e recursos para instituto são estruturas que não foram
1, PCA-2, PCA-3 (Campo de Cação) e garantia da segurança e atendimento pensadas para remoção, a diversidade
FPSO Rio de Janeiro (Campo de Espa- aos requisitos legais aplicáveis. A em- de cenários ambientais e uma cadeia
darte). Outras demandas estão em fase presa ressalta que não divulga os cus- de soluções ainda não estruturada. O
inicial de avaliação de alternativas. A tos associados às suas operações. órgão diz que o Plano Coral-Sol está
Petrobras afirma ter como prioridade em vias de ser publicado e demonstra
a busca por soluções para extensão da A ANP pretende publicar em dezem- preocupação com espécies exóticas
vida produtiva dos campos e maximi- bro a revisão da resolução 27/2006, bioinvasoras. A avaliação é que não
zação do fator de recuperação. que trata das regras para o descomis- existe mais espaço para discussão se
A companhia segue com a ideia sionamento de plataformas. Ibama e existe bioinvasão ou se ela é um pro-
de reutilizar equipamentos em no- Marinha, juntamente com a agência, blema, pois o momento é de buscar
vos projetos de desenvolvimento ou compõem o grupo que estuda as mu- medidas e implementá-las.
de vendê-los. As plataformas podem danças na resolução. A atualização, A Marinha é favorável à remoção
ser reaproveitadas em novas locações segundo a ANP, foi adiada anterior- das unidades fixas ou flutuantes e ar-
ou serem convertidas para utilização mente para análise de aspectos eco- ranjos submarinos após o devido pro-
com outros objetivos, como sondas de nômicos e relacionados à extensão cesso de descomissionamento, consi-
perfuração de poços, por exemplo. “A da vida útil das unidades. A atual pro- derando viabilidade técnica, avaliação
companhia irá priorizar a reutilização posta de submissão de programas de de riscos e análise individual de cada
em novos projetos de desenvolvimen- descomissionamento prevê três anos situação. A autoridade marítima en-
to ou a alienação. Nesse último caso, de antecedência, quando envolver o tende que o abandono dessas estrutu-
as plataformas são vendidas como descomissionamento de uma parte ras representa perigo potencial à na-
embarcação e podem ser reutilizadas do sistema de produção em campo, vegação, tornando a responsabilidade
pelos novos proprietários”, informa a e cinco anos antes da interrupção da da permanência das unidades ao pro-
Petrobras. produção do campo. Também esta- prietário, que deverá manter aspectos
Para o caso de plataformas fixas, a belece a apresentação simultânea do de segurança previstos na legislação.
Petrobras vai avaliar, a partir da aná- programa à ANP, ao Ibama e à Mari- A autoridade marítima aponta a ne-
lise de critérios técnicos, ambientais, nha. As etapas consistirão na entrega cessidade de menor exposição de ope-
de segurança, sociais e econômicos, do programa preliminar, discussões, rários e tripulantes aos riscos de segu-
alternativas à destinação final da pla- apresentação e aprovação. rança. Segundo a Diretoria de Portos
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 29
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Geraldo Falcão

O Brasil perde milhões de reais


com plataformas desativadas que
aguardam solução de destino

e meio ambiente da ANP, Edson Mon-


tez, disse que a atualização da reso-
lução servirá de base para os órgãos
envolvidos formularem regras espe-
cíficas e para a indústria se planejar.
“A resolução não restringe possibili-
dade de apresentação de planos de
descomissionamento ou proposta de
novos usos para as instalações”, pon-
derou Montez, que participou do 2º
Workshop sobre Descomissionamen-
to de Plataformas da Sociedade Bra-
sileira de Engenharia Naval (Sobena),
e Costas (DPC), é necessário manter realizado em agosto, no Rio de Janeiro.
itens de segurança funcionais, como Na ocasião, Montez acrescentou
sistemas de combate a incêndios, que muitos aspectos da norma fo-
alojamentos e guindastes, bem como ram baseados em recomendações da
auxiliar na remoção das partes e nos Organização marítima Internacional
planos de evacuação. A Marinha re- (IMO). Ele explicou que a decisão pela
comenda que as empresas envolvidas remoção total, parcial ou não remo-
procurem a capitania dos portos da ção dependerá de análises individuais,
área de jurisdição em que a platafor- A expectativa é que devem utilizar ferramentas de
ma será descomissionada para orien- avaliações comparativas. Definidas as
tações sobre planejamento, retirada que gastos com o alternativas, serão necessários estudos
de resíduos, destinação final, local de
desmonte e plano de reboque.
descomissionamento de impacto ambiental e análises de
riscos operacionais e para navegação.
alcancem bilhões de Instalações parcialmente removidas
O coordenador de descomissiona- deverão ser cartografadas e sinaliza-
mento e recuperação de área do de- dólares por ano das para evitar acidentes. As unidades
partamento de segurança operacional que não forem removidas deverão ser
inspecionadas e monitoradas.
O analista ambiental do Ibama Tho-
más de Oliveira Bredariol revela que o
órgão pretende publicar até o fim do
ano uma nota técnica sobre resíduos
gerados no descomissionamento. Ele
diz que, antes de tratar da redução de
impactos, é preciso discutir melhor
os projetos de descomissionamento
das instalações. “O tempo de análise
será proporcional à complexidade do
projeto e a quanto ele muda enquanto
os projetos estão nas mãos do Ibama”,
ressalta.
A criação de recifes artificiais e o
uso de parte das instalações para ge-
ração eólica offshore, por exemplo, de-
penderá do debate sobre os diferentes
usos das plataformas desativadas no
futuro. Segundo Bredariol, a opção por
30 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
recifes artificiais não será incentivada FPSO Marlim Sul (Campo Marlim Sul) O Instituto Brasileiro de Petróleo,
pelo governo, mas o órgão é aberto a e de três plataformas fixas no campo Gás e Biocombustíveis (IBP) sugere
essa alternativa. Ele explicou que, se de Cação já foram aprovados pela ANP. contínuo e amplo debate entre órgãos
houver iniciativas nessa direção, os Também estão em análise na superin- governamentais responsáveis com os
projetos serão encarados como novos tendência de segurança operacional setores que atuam no ambiente mari-
empreendimentos e, consequente- e meio ambiente da agência os pro- nho para o aperfeiçoamento de possí-
mente, passarão por licenciamento gramas das plataformas: P-07 (Bicudo veis soluções e medidas para mitiga-
ambiental. – semissubmersível); P-12 (Linguado ção de riscos associados à bioinvasão
O objetivo do grupo de trabalho –semissubmersível); P-15 (Piraúna por bioincrustação. O IBP considera
é atualizar a resolução de forma ali- –semissubmersível); P-33 (Marlim – esse um tema emergente no cenário
nhada e sem extrapolar competências FPSO); FPSO Cidade do Rio de Janeiro internacional que teve longo debate
de cada órgão. O capitão de corveta (Espadarte); e FPSO Piranema Spirit e estabelecimento de estratégias para
Marcelo Coelho, da DPC, destaca que (Piranema). enfrentamento da questão por alguns
é preciso harmonizar os procedimen- Associado ao projeto de revitaliza- países. No entanto, o IBP observa que
tos para avaliação de programa de ção do campo de Marlim, existe ex- as regulamentações nacionais e inter-
descomissionamento de instalações pectativa de descomissionamento das nacionais são recentes e ainda carentes
marítimas. “Não estamos só revisan- unidades P-18 (semissubmersível), de posicionamentos convergentes por
do uma resolução, estamos criando P-19 (semissubmersível), P-20 (se- conta da complexidade da questão.
um procedimento interno; unindo os missubmersível), P-26 (semissubmer- O IBP observa que estaleiros e por-
três órgãos para dar maior agilidade sível), P-32 (FSO), P-35 (FPSO) e P-47 tos no Brasil já sofreram impactos
ao processo”, disse Coelho, que é chefe (FPSO), o que deve acontecer após em termos operacionais, judiciais, fi-
do departamento de pesquisas e obras 2021. O descomissionamento da P-33 nanceiros e ambientais em razão de
em vias navegáveis da Marinha. é parte da revitalização do campo de ações sem uma visão integrada sobre
Marlim, onde duas novas plataformas o tema. Em 2018, o Ministério do Meio
Os planos de descomissionamento substituirão as unidades descomissio- Ambiente (MMA) instituiu o plano de
da FPSO Brasil (Campo de Roncador), nadas. implementação da estratégia nacio-

PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 31


INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Agência Petrobras

A Marinha é favorável
à remoção das
unidades fixas
ou flutuantes

nal para espécies exóticas invasoras,


aprovada pela Comissão Nacional de
Biodiversidade (Conabio). Além do co-
ral-sol, existem exigências crescentes
para apresentação de medidas aplicá-
veis a todas as espécies exóticas passí-
veis de vinculação com a indústria de
petróleo.
O IBP destaca que as atividades do
setor de E&P são uma fração de toda
navegação em águas jurisdicionais
brasileiras. O IBP ressalta que, de to-
das as unidades marítimas do país,
somente sondas de perfuração, barcos
de apoio marítimo e plataformas são O engenheiro destaca que os painéis
licenciadas pelo órgão ambiental. Da- técnicos do segundo seminário da So-
dos de fevereiro da ANP contabilizam bena sobre o tema foram de alto nível
nas atividades marítimas de E&P 44 e contribuíram para boas práticas do
sondas de perfuração e 145 unidades descomissionamento de plataformas.
estacionárias de produção. Não há clareza “A análise efetuada pela Marinha, Iba-
O IBP pleiteia que os requisitos dos ma e ANP sobre a visão regulatória do
laudos de inspeção estejam claros, in- por parte da descomissionamento deixou impres-
terfiram o mínimo possível na rotina
das operações e evitem novas etapas
Petrobras de quais são muito positiva da coordenação en-
tre as autoridades do país. As aborda-
ao licenciamento. O instituto identifi- unidades seriam gens sobre bioinvasores trouxeram ao
ca limitações de tecnologias disponí- mercado a relevância da continuidade
veis para remoção da bioincrustação. descomissionadas dos estudos e pesquisas sobre a nossa
O IBP também aponta necessidade de realidade”, resume Carreteiro.
capacitação nacional e definição de
áreas ao longo da costa para atividades Agência Petrobras
de manutenção de embarcações, ins-
talações e equipamentos incrustados
por coral-sol.
O coordenador do comitê técnico
sobre desmantelamento de navios e
descomissionamento de plataformas
da Sociedade Brasileira de Engenha-
ria Naval (Sobena), Ronald Carretei-
ro, considera o assunto relativamente
novo para o mercado brasileiro e ainda
carente de ajustes. Carreteiro explica
que as operadoras estrangeiras já par-
ticiparam desse tipo de atividade no
Golfo do México, no Mar do Norte e na
África.
32 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Em fevereiro, uma missão da Sobe- 29 risers que precisam ser desconec-
na em Houston (EUA) contou com 15 tados e estão infestados de coral-sol.
empresas brasileiras, que participa- Segundo o consultor, existem muitas
ram de um seminário de descomis- oportunidades para a indústria na-
sionamento e abandono de poços. Em cional, mas elas precisam ser mostra-
seguida, participaram de um encontro das. “Tem muita coisa ainda sem ser
de negócios, no auditório da Petrobras descortinada. Falta alguém para lide-
America, com 50 empresas especiali- rar [esse processo]”, comenta.
zadas em descomissionamento, com
apoio do Consulado Americano do Rio A advogada Taciana Amar, do es-
de Janeiro e da Câmara Brasil Texas. critório Amar & Rolian, destaca que
Em 2015, foram gastos US$ 2,4 bi- o descomissionamento mobilizou a
lhões em atividades de descomissio- indústria do petróleo e promete ser
namento somente no Golfo do Mé- cada vez mais debatido nos próxi-
xico, segundo o relatório do Offshore mos anos. Ela explica que existem
TACIANA AMAR
Decomissioning Study Report. plataformas com diferentes regimes
Descomissionamento
Para o consultor Mauro Destri, da aduaneiros. Taciana cita a mudança
mobilizou indústria e será
Destri Consulting, a interação entre do Repetro para Repetro-SPED, que
cada vez mais debatido
os órgãos reguladores, operadoras, possibilita empresas adiarem inves-
universidades, empresas de tecno- timentos em descomissionamento à
logia e sociedade será o fator chave espera da adequação ao novo regime
para o sucesso da atividade de desco- aduaneiro especial do setor de pe-
missionamento no Brasil. Ele consi- tróleo. Isso porque o regime anterior
dera importante promover engenharia (Repetro) permanecerá vigente até o
e tecnologia já na fase inicial do estu- final de 2020. O novo regime (Repe-
do de viabilidade técnica e econômi- tro-Sped) será opcional durante todo
ca (EVTE) para desenvolvimento do o ano de 2018 para os atuais benefi-
campo, a fim de permitir a execução ciários do Repetro.
do processo de forma ambientalmente A retirada de alguns bens terá que
sustentável e menos custosa possível. passar em área alfandegada, um pro-
A questão do coral-sol será um de- cesso que não é considerado simples,
safio importante, sobretudo na desa- nem rápido. Taciana percebe que os
tivação de instalações submarinas. estaleiros já começam a olhar com
Destri explica que, se houver intenção mais atenção para as oportunidades
de justificar a eventual instalação de envolvendo os serviços de descomis-
estruturas em áreas com corais, tor- sionamento. Ela observa que o tema
na-se ainda mais complexo justificar MAURO DESTRI vem ganhando força nos últimos
que não possam ser retiradas. Por ou- É importante promover anos, além de ter se transformado
tro lado, se foram instaladas em épo- engenharia e tecnologia já na numa tábua de salvação da indústria
ca pretérita ao reconhecimento da fase inicial do estudo como um todo. A advogada diz que o
presença dessa formações, ele reflete desmonte é inevitável e demandará
se elas não podem permanecer onde alguns investimentos em instalações,
estão. “Não haverá mais impacto na pessoal e tratamento de resíduos.
remoção? E aquelas que não estão in- Atualmente, existem grupos mul-
terferindo com ambientes sensíveis tidisciplinares com representantes
podem permanecer temporariamen- dos órgãos para chegar a soluções
te ou definitivamente no leito mari- para questões ambientais, como a do
nho?”, questiona. marinho. O consultor aponta necessi- coral-sol, ou para o destino dos com-
Para Destri, o impacto sobre corais dade de discutir conjuntamente solu- ponentes das plataformas desmobi-
de águas profundas, rodolitos ou ou- ções para remoção de todos os itens. lizadas. Taciana ressalta que, quando
tras espécies na fase de desconexão Ele acrescenta que o mercado esse grupo de unidades for desmobi-
dos planos de descomissionamento, precisa saber quais itens e em quais lizado, provavelmente começará um
deve ser apreciado de forma firme, condições sairão de debaixo da lâ- novo ciclo de descomissionamento de
tanto pelo operador quanto pelo ór- mina d’água. Destri explica que cada plataformas que hoje estão iniciando
gão ambiental, em especial quando plataforma tem seus poços interliga- operação. “Temos um ciclo longo pela
for feito lançamento e/ou retirada de dos e, pelo menos, três linhas, que frente, precisamos aprender muito”,
linhas, dutos e equipamentos no leito têm risers. A P-12, por exemplo, tem afirma. n
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 33
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Fusão Enseada
FMM para a Marinha
Transocean adquire Força tarefa tenta atrair
Sinaval pede urgência
a Ocean Rig investimentos
ao Congresso
A Transocean Ltd. e a Ocean Rig O governo da Bahia criou uma força
UDW Inc. firmaram um acordo de tarefa para tentar reaquecer a indús- O Sindicato Nacional da Indústria
fusão definitivo pelo qual a Transo- tria naval no estado. O foco é a reto- da Construção e Reparação Naval e
cean adquirirá a Ocean Rig em uma mada de operação do estaleiro Ense- Offshore (Sinaval) pede engajamen-
transação em dinheiro e ações ava- ada, localizado em Maragojipe, no to do presidente da Câmara dos
liada em cerca de US$ 2,7 bilhões, Recôncavo Baiano. A intenção é atrair Deputados, Rodrigo Maia (DEM-
inclusive a dívida líquida da empre- investidores e parcerias, além de apoio -RJ), e de líderes partidários para
sa. A contraprestação da transação é institucional, para que o empreendi- tentar aprovar regime de urgência
composta de ações recém-emitidas mento volte a gerar emprego e renda do projeto de lei que altera a Lei
pela Transocean mais US$ 12,75 em na região. A unidade, que chegou a 10.893/2004, que trata do Adicional
dinheiro para cada ação ordinária da empregar mais de sete mil pessoas, ao Frete para a Renovação da Mari-
Ocean Rig, num valor total de US$ tem apenas 35 funcionários cuidando nha Mercante (ARFMM) e o Fundo
32,28 por ação da companhia, com da manutenção dos equipamentos na da Marinha Mercante (FMM). O ob-
base no preço de fechamento em 31 planta industrial. Com área de 1,6 mi- jetivo é garantir a disponibilidade
de agosto de 2018. Representa um lhão de metros quadrados, o estaleiro de recursos para os navios patrulha
prêmio de 20,4% para o preço médio tem capacidade de processar 100 mil da Marinha já em 2019.
ponderado de 10% das ações da Oce- toneladas de aço por turno/ano e po- A proposta prevê um repasse
an Rig. tencial de gerar quatro mil empregos. anual de 10% do FMM para proje-
A transação foi aprovada por una- O grupo de trabalho foi anunciado tos de programas do comando da
nimidade pelo conselho de admi- durante visita de uma comitiva da Se- Marinha destinados à construção e
nistração de cada empresa. Deve cretaria de Desenvolvimento Econô- a reparos, em estaleiros brasileiros,
ser concluída durante o primeiro tri- mico (SDE) às instalações da Enseada de embarcações auxiliares, hidro-
mestre de 2019 e está sujeita à apro- Indústria Naval. “Precisamos fazer este gráficas, oceanográficas e demais
vação dos acionistas da Transocean e importante ativo operar. Não tem nin- embarcações a serem empregadas
da Ocean Rig e às aprovações regula- guém que não se sensibilize com este na proteção do tráfego marítimo
mentares aplicáveis. Após a conclusão panorama. Trata-se de um empreen- nacional. Os recursos do FMM se-
da fusão, os acionistas da Transocean dimento com investimento altíssimo, rão aplicados às empresas públicas
e da Ocean Rig terão cerca de 79% e que fomentou a economia do estado, não dependentes vinculadas ao Mi-
21%, respectivamente, da empresa mas que sofreu um revés devido à cri- nistério da Defesa, até 100% do va-
combinada. se nacional do petróleo e da indústria lor do projeto aprovado.
A frota da Ocean Rig é composta naval”, disse a secretária estadual de Com a alteração, esses recursos
por nove navios-sonda de águas ul- desenvolvimento econômico, Luiza não serão classificados mais como
traprofundas de alta especificação e Maia. O presidente do empreendi- financiamento porque os valores
dois semissubmersíveis. Além disso, mento, Maurício de Almeida, destaca serão repassados diretamente à for-
sua frota inclui dois navios-sonda que a planta foi preparada para cons- ça naval, sem a intermediação de
para águas ultraprofundas de alta truir navios de alta complexidade. Ele agente financeiro. O projeto exclui
especificação, atualmente em cons- lembra que, durante quatro meses, um parágrafo da lei atual no qual
trução na Samsung Heavy Industries. mais de 100 integrantes do estaleiro está estabelecido que os desembol-
Essas duas novas construções deverão foram enviados ao Japão para serem sos anuais decorrentes dessa ope-
ser entregues no terceiro trimestre de capacitados. Almeida conta que al- ração devem observar a dotação
2019 e no terceiro trimestre de 2020, guns profissionais que participaram prevista no orçamento da Marinha
respectivamente. dessa transferência de tecnologia ain- para o projeto financiado.
Jeremy Thigpen, presidente e dire- da não conseguiram recolocação pro- O PL também propõe 0,4% para
tor executivo da Transocean, disse: “A fissional. Outros foram trabalhar em contribuir com o pagamento das
proposta de aquisição da Ocean Rig estaleiros de outros regiões do país. despesas de representação e estu-
nos oferece uma oportunidade única Em agosto, o estaleiro conquistou dos técnicos em apoio às posições
de continuar aprimorando nossa frota contrato de manutenção da sonda de brasileiras junto à Organização Ma-
de flutuadores de águas ultraprofun- perfuração Norbe VI, da Ocyan. A En- rítima Internacional (IMO), cujos
das e agressivas, sem comprometer seada aguarda o resultado da concor- recursos serão alocados em catego-
nossa liquidez ou a flexibilidade geral rência para construção de quatro cor- ria de programação específica.
do balanço patrimonial”. vetas classe Tamandaré para Marinha.
34 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Geraldo Falcão

Equinor tes e muita reserva de gás natural.


“Junto com Norte de Carcará, tere-
Empresa defende mos dois milhões de barris de óleo
equivalente. O ativo vai aumentar a
estabilidade de regras produção Equinor substancialmen-
te”, adiantou.
A Equinor acredita que a estabili- A empresa avalia que a indústria
dade de regras é o ponto central para de óleo e gás no mundo ainda está
viabilizar projetos e novos investi- em recuperação em razão da que-
mentos no setor de petróleo e gás no da brusca no preço da commodity.
Brasil. A vice-presidente sênior da Verônica disse que as operadoras já
Equinor, Verônica Coelho, disse que estavam apertadas em 2014, mesmo
o desafio das petroleiras no Brasil é com barril a US$ 100, e tiveram que
conseguir desenvolver propostas de se adaptar. Ela destacou que a em-
negócios competitivas para obterem presa trabalha continuamente em
O contrato prevê a manutenção de
preferência de suas matrizes. Por Peregrino para garantir produção, já
nove plataformas na Bacia de Campos
conta dos riscos para os investidores tendo reduzido mais de 30% dos cus-
e do longo prazo de maturação, os tos totais do campo nos últimos qua-
Manutenção de plataformas projetos no Brasil precisam ser me- tro anos. Lá foram adotadas práticas
lhores do que os de outros mercados para aumento do fator de recupera-
Petrobras contrata mundiais. “Todas nossas propostas ção. A Equinor tem 70% desse campo,
de investimentos competem pelos em parceria com Sinopec. “Perfura-
Aker Solutions recursos em bases mundiais. Temos mos mais de 45 poços e continuamos
que garantir que vamos conseguir perfurando continuamente para ma-
A Petrobras assinou com a Aker So- desenvolver as propostas competi- ximizar operação dos reservatórios e
lutions um contrato para fornecer ser- tivas para ganhar essa corrida e em- a vida útil desse campo”, explicou.
viços de manutenção e modificações placar esses investimentos”, disse Ve- Uma plataforma está em cons-
para nove plataformas em campos de ronica, durante o seminário Desafios trução e será trazida para o Brasil
petróleo e gás na Bacia de Campos, no e Oportunidades para o Mercado de no final de 2019. Deve começar a
litoral do Brasil. A Bacia de Campos se Petróleo e Gás, promovido pela Fede- ser instalada até o início de 2020, na
estende por aproximadamente 100 mil ração das Indústrias do Rio de Janei- parte sul do campo de Peregrino. A
quilômetros quadrados. O contrato de ro (Firjan). expectativa da Equinor é começar a
três anos está avaliado em mais de R$ A executiva destacou que as mu- produzir essa segunda etapa do cam-
250 milhões e inclui uma opção para danças regulatórias promovidas re- po ainda em 2020. A plataforma terá
uma prorrogação de dois anos. A Aker centemente no mercado de óleo e capacidade de processamento de 60
Solutions reformará, consertará e atu- gás se refletiram positivamente no mil barris/dia. Com a nova unidade,
alizará unidades de produção offshore resultado dos últimos leilões de no- a empresa deve acrescentar 270 mi-
para a Unidade Operacional da Bacia vos campos. Presente em mais de 30 lhões de barris de volumes recuperá-
de Campos (UO-BC) da Petrobras. O países, a Equinor está há 17 anos no veis ao campo.
contrato também permitirá que a Aker Brasil. A empresa estima já ter inves- No final de 2017, a Equinor e a Pe-
Solutions demonstre seu valor como tido mais de US$ 10 bilhões no país trobras firmaram parceria para aqui-
prestadora de serviço completo e ge- e pago mais de US$ 1 bilhão em tri- sição de 25% do campo de Roncador
rencie o estaleiro onde peças de re- butos. A empresa norueguesa tem pela empresa norueguesa. Localiza-
posição e outros equipamentos serão projetos em fase de desenvolvimento do na Bacia de Campos, ele é uma das
fabricados. nos campos de Carcará, na Bacia de maiores descobertas da Petrobras na
“Temos o prazer de expandir nos- Santos, e Peregrino, na Bacia de Cam- década de 1990, com produção de
sos negócios no Brasil, um mercado pos. 240 mil boe/dia. A meta é aumentar
internacional chave”, disse Luis Arau- A meta é que a produção de óleo o fator de recuperação desse cam-
jo, diretor executivo da Aker Solutions. em Carcará tenha início entre 2023 po para agregar em torno de 500 mil
“Este é o segundo grande contrato que e 2024. A empresa, que já obteve li- barris recuperáveis. No horizonte até
assinamos depois de entrar no merca- cença ambiental, partirá para perfu- 2030, a Equinor pretende aumentar a
do de manutenção e modificação no rações no norte desse campo, onde capacidade diária de produção, que
Brasil, reforçando a importância de poderão ser construídos até cinco atualmente é de 100 mil barris, para
ter um portfólio completo e ser capaz poços. Verônica revelou que a área até 500 mil barris/dia, somando ativi-
de fornecer uma solução integrada do tem reservas de petróleo interessan- dades em Peregrino e Roncador.
conceito ao descomissionamento”.
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 35
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

Olhar para a frente


Estaleiros traçam estratégias de diversificação e avaliam
oportunidades no novo ciclo do setor de petróleo
Danilo Oliveira

R
epresentantes de grandes es- O setor de petróleo e gás tem a
taleiros nacionais presentes A redução do maior participação no plano de ne-
na feira Rio Oil & Gas 2018 conteúdo local e gócios da Enseada Indústria Naval,
defenderam o potencial de que está atenta a oportunidades para
construção e de serviços para o se- os altos custos construção de módulos e de FPSOs. O
tor de petróleo e gás. A 32ª edição do
evento, realizada em setembro no Rio
continuam sendo presidente da empresa, Maurício Al-
meida, diz que a empresa passou por
de Janeiro, destacou a retomada da encarados como um processo de reestruturação nos
indústria a partir da recuperação dos últimos anos. Ele destaca que as insta-
preços do barril de petróleo, que su- desafios para a lações estão prontas para atender a
perou os US$ 80, e dos novos leilões indústria o mercado de módulos e que a compa-
do Brasil, previstos para ocorrer ain- nhia aguarda a retomada do mercado
da este ano e em 2019. A redução do de óleo e gás. “O Brasil possui empre-
conteúdo local e os altos custos con- sas e profissionais qualificados para
tinuam sendo encarados como desa- produzir aqui os navios e plataformas
fios para a indústria, que tem perdido que o país precisa, gerando emprego e
projetos para estaleiros localizados na renda em diversas localidades do Bra-
Ásia. Paralelamente, as administra- sil”, enfatizou.
ções dos estaleiros se preparam e bus- No setor de óleo e gás, a empresa
cam diversificar atuação para não ficar também mira os navios aliviadores
de fora desse novo ciclo. DP2 e cascos de FPSOs. Outro negó-
36 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
cio no radar da Enseada é o mercado produtos. Ele considera que o Brasil acrescenta que o Mauá continua in-
de cabotagem para navios de grande é um dos poucos países do mundo vestindo em tecnologia para diminuir
porte. A área industrial da Enseada em que o governo deu as costas para o tempo e aumentar a qualidade dos
tem capacidade de construir módulos uma indústria importante como a reparos. “Isso faz com que, nessa cri-
dentro da oficina e em zonas externas, construção naval ao reduzir as metas se, o estaleiro tenha um carro-chefe
contando com um guindaste de 1,8 mil de conteúdo local num ambiente que de reparo que continua trabalhando
toneladas. A empresa tem capacidade depende de incentivos para ampliar a normalmente, num segmento cada
de processar até 108 mil toneladas de competitividade. “Sempre entregamos vez mais competitivo e com mais con-
aço anualmente, o equivalente a seis bons produtos e eles sempre foram corrência”, descreveu. O Mauá, que
navios Aframax por ano. O estaleiro foi premiados. Temos capacidade produ- chegou a ter quatro mil trabalhadores
construído com investimentos da or- tiva. A feira mostra a capacidade que o no boom da indústria nos anos 2000,
dem de R$ 3 bilhões. Brasil tem para atender a esse merca- hoje conta com cerca de 500 pessoas
Almeida lembra que o estaleiro foi do”, enfatiza. realizando serviços de reparos.
concebido para uma realidade com ín- O estaleiro dragou os cais para rece- O Mauá também tem estudado o
dices altos de conteúdo local. A Ensea- bimento de navios de maior porte e re- descomissionamento de plataformas.
da reconhece o pleito de aumentar o fez toda parte de oficinas do estaleiro Vanderlei conta que houve algumas
conteúdo local, porém considera que para ser mais competitivo. Vanderlei sondagens, porém avalia que a maio-
é importante para a empresa pensar ria dos estaleiros não teve negociações
para a frente. O presidente entende relevantes até o momento. “Não é sim-
que essa política é uma forma de cor- ples como algumas pessoas querem
rigir a assimetria causada pelos custos acreditar que seja. Depende de ques-
de construção que retiram competi- tões muito acuradas por causa da ges-
tividade dos estaleiros nacionais. Al- tão ambiental. Ainda não é realidade
meida cita que o imposto de importa- no Brasil, mas procuramos estar aptos
ção protege, por exemplo, a indústria para isso. Não sei se é saída para o Bra-
automobilística brasileira. “Como não A direção do estaleiro sil, mas é um negócio e temos estuda-
tem imposto de importação para a
indústria do petróleo, fica difícil para
Mauá aposta na do”, explica.
O estaleiro Mauá tem brigado ju-
nós competirmos de igual com estalei- continuidade do dicialmente para retomar as obras de
ros chineses”, afirma. três petroleiros encomendados pela
Atualmente, a Enseada participa empreendimento Transpetro e que estão em litígio. O
da tomada de preço para construção impasse impede a finalização de dois
de quatro corvetas classe Tamandaré
para a Marinha. Além da Enseada, o
consórcio Villegagnon tem a Mectron e
a francesa Naval Group (antiga DCNS),
com a qual a Odebrecht, principal acio-
nista da Enseada, mantém parceria no
projeto dos submarinos brasileiros em
construção em Itaguaí (RJ).

O diretor-presidente do Estaleiro
Mauá (RJ), Ricardo Vanderlei, diz que a
capacidade de construção de módulos
e plataformas e a prestação de serviços
portuários e logísticos são diferenciais
para atuar nesse mercado. O portfólio
do estaleiro, segundo ele, se contra-
põe à ideia de que o Brasil não tem
capacidade para construir. “O Mauá já
construiu muita coisa e vai continuar
fazendo”, projeta.
Vanderlei acredita que, apesar de o
governo ter flexibilizado as regras de
conteúdo local, a indústria continua
resistindo e mostrando que continua
capaz de construir e entregar bons
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 37
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE

navios com 90% de grau de acabamen- de fazer isso da melhor maneira pos-
to e outro em torno de 60% que está na sível, inclusive, fazendo em ambos os
carreira. “Não se trata de um projeto lugares”, analisou.
que não saiu do papel, se trata de uma O Estaleiro Ilha S/A (Eisa-RJ) divi-
série de oito navios dos quais entrega- diu suas atenções em duas linhas prin-
mos cinco e existem dois quase prontos cipais de atuação. Dos 160 mil metros
na Baía de Guanabara”, diz Vanderlei. quadrados de área disponível, 80 mil
“Não tem cabimento a Transpetro afre- metros quadrados estão voltados para
tar navios estrangeiros, sendo que esses a atração de novos projetos de cons-
navios nacionais poderiam estar nave- trução e os demais 80 mil metros qua-
gando. Eles estão fadados a virar sucata, drados prospectados para diversifica-
mesmo que quase prontos. É dinheiro ção dos demais negócios. O objetivo é
público sendo jogado fora e alguém tem dar sustentação financeira ao estalei-
que dar conta disso”, acrescenta. ro, que está em recuperação judicial
Ele lamenta que a cada dia que passa desde dezembro de 2015.
esses ativos se deteriorem e enferrujem Como o mercado vivencia há qua-
na Baía de Guanabara, além do desper- MAURICIO ALMEIDA tro anos um cenário de escassez de
dício de dinheiro público ali depositado. Brasil possui qualificação projetos de construção, o Eisa vem
O presidente do Mauá afirma que o esta- para produzir aqui os navios e oferecendo a alguns armadores a
leiro já propôs até terminar esses navios plataformas que o país precisa possibilidade de conclusão de navios
a preço de custo. “Entramos na Justiça, inacabados da Log-In e da Brasil Su-
todas as fases periciais até agora dão pply, que estão em suas instalações.
razão ao estaleiro, mas a Justiça é lenta. A administração do Eisa destaca que
Enquanto não se trocar o governo e a di- o estaleiro continua com capacidade
reção dessas empresas estatais, nada vai de içamento e que tem conseguido dar
acontecer. Estamos lutando pelo direito a manutenção a guindastes, máquinas e
de terminar”, contou. licenças de operação.
Na concorrência das corvetas da O estaleiro também olha oportunida-
Marinha, o Mauá está com o consór- des ligadas ao tratamento de efluentes e
cio formado pelo grupo Synergy, seu à cadeia de petróleo e gás. Um dos negó-
controlador, além da GRSE (Garden A Enseada participa cios em estudo é a possibilidade de de-
Research Shipbuilder Engineers) e da
Elbit Systems. Vanderlei esclarece que
da licitação de quatro senvolver uma unidade flutuante para
tancagem. A ideia é aproveitar o casco
esse consórcio tem vantagem de poder corvetas para de um dos navios inacabados que servi-
construir esses projetos no Mauá, no ria de estrutura flutuante para abasteci-
Eisa ou em ambos. “Se o consórcio sair a Marinha mento de navios fundeados na Baía de
vencedor, teremos ótimas condições Guanabara.
“O estaleiro reduziu bastante a es-
trutura e o custo. Mantemos atividades
como as de lay up e reparo. Estamos
com estrutura reduzida para retomar as
atividades com a retomada do merca-
do”, afirmou o presidente do Eisa, Diego
Salgado. Ele conta que algumas nego-
ciações estão estagnadas devido às in-
certezas sobre o resultado das eleições.
No final de 2015, o estaleiro entrou
em recuperação judicial e aproxima-
damente 3.000 trabalhadores foram
demitidos. O Eisa aderiu ao programa
de parcelamento de impostos federais
e depositou pagamentos atrasados do
FGTS para alguns dos trabalhadores
demitidos do estaleiro. A expectativa
agora, segundo Salgado, é conseguir a
aprovação do acordo de recuperação
judicial do Eisa no início de 2019. n
38 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Cabotagem
na mira
Para Syndarma, acordo
Mercosul-UE ameaça
cabotagem regional e
beneficia armadores europeus

Danilo Oliveira

O
presidente Michel Temer As empresas nacionais de cabota-
(MDB) deu sinal verde ao
ministro das relações ex-
A cabotagem regional gem temem que o governo brasileiro
adote contrapartidas comerciais a esse
teriores, Aloysio Nunes representa um terço acordo que, na prática, prejudiquem
(PSDB), para retomada das negocia-
ções por parte do Brasil no acordo
de toda a cabotagem a competitividade delas e promova a
“entrega” do mercado regional a em-
de livre comércio do Mercosul com a brasileira presas estrangeiras. “Querem entregar
União Europeia, em discussão há qua- um terço do que fazemos de mão bei-
se 20 anos. A orientação, que foi dada jada ou obter outras vantagens para a
em setembro, agitou o mercado de na- navegação europeia”, disse o presiden-
vegação, que vê riscos de a cabotagem te do Syndarma, Bruno Lima Rocha. O
entre Brasil, Argentina e Uruguai ser segundo terço do mercado de cabo-
aberta a empresas europeias. A cabo- tagem é feito entre portos brasileiros
tagem regional representa um terço de Durante a 73ª Assembleia Geral da com cargas nacionais e o outro é de
toda a cabotagem brasileira, segundo Organização das Nações Unidas (ONU) operações de feeder.
o Sindicato Nacional das Empresas de em Nova Iorque, no final de setembro, Representantes do Syndarma ten-
Navegação Marítima (Syndarma). Temer afirmou que representantes do tam convencer o governo de que uma
Os armadores afirmam que a nego- Mercosul e da União Europeia teriam decisão a favor da abertura a empre-
ciação não avançou nas últimas reu- uma reunião dentro de 20 dias para sas europeias descumpre o marco re-
niões porque a União Europeia não negociar pontos pendentes visando gulatório e vai contra posicionamen-
flexibilizou em relação aos pedidos de ao acordo entre os dois blocos econô- tos manifestados anteriormente pelo
acesso aos mercados europeus. Até o micos. “Num prazo de 15, 20 dias, os Ministério dos Transportes, Portos e
fechamento desta edição, o Ministé- chanceleres dos países, junto com os Aviação Civil (MTPA) e pela Marinha
rio de Relações Exteriores (MRE) ainda negociadores, vão se reunir para ve- na defesa da cabotagem regional. Na
não havia definido a nova agenda de rificar os últimos tópicos possíveis de avaliação do Syndarma, também re-
negociação. Apesar disso, as empresas negociar referentemente ao acordo presentaria o fim de acordos bilaterais
brasileiras de navegação (EBNs) conti- da União Europeia e Mercosul. E, logo firmados há décadas.
nuam mobilizadas para tentar impedir em seguida, se reunirão os presiden- As empresas brasileiras de navega-
a possível cessão da cabotagem regional tes, para dar o toque político para esse ção não veem condições de competir
como moeda de troca nesse acordo. acordo”, disse Temer a jornalistas. com as concorrentes europeias, na
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 39
NAVEGAÇÃO

Agronegócio critica reserva de mercado

A
Confederação da Agricultura e cabotagem brasileira fossem seme-
Pecuária (CNA) é a favor da en- lhantes aos do longo curso, o litoral
trada de empresas europeias estaria cheio de embarcações des-
na cabotagem regional por conside- se tipo e seria possível uma série de
rar que as empresas brasileiras de operações por mar que hoje são feitas
navegação (EBNs), historicamente, somente por via terrestre”, aponta.
se estruturaram com empresas do Ele acrescenta que a redução de
Peru ao Uruguai, estendendo a reser- custos diminuiria os preços de produ-
va de mercado por meio de acordos tos no mercado interno e ampliaria a
bilaterais. A avaliação é que a aber- capacidade competitiva no mercado
tura da cabotagem na região aumen- internacional. O agronegócio avalia
taria a competitividade e diminuiria que acordos bilaterais de navegação,
os preços do frete. Uma pesquisa da alta tributação, normas trabalhistas
Confederação Nacional da Indústria são alguns dos fatores que levaram ao
(CNI) aponta existência de cinco mil quadro de custos operacionais e tari-
empresas potencialmente exporta- fas de serviços oferecidos incompatí-
doras para o Chile impedidas de fa- veis com a necessidade de aumentar
zer negócios por causa dos acordos a competitividade. medida em que elas podem oferecer
de navegação vigentes. A CNA também critica as restrições custos inferiores. Um dos motivos,
“Temos cerca de cinco mil empre- à importação (afretamento) de em- segundo Lima Rocha, é que as con-
sas que gostariam de exportar para o barcações pelas EBNs, que obedecem correntes costumam ter um segundo
Chile se houvesse custos de fretes pa- à reserva de mercado da indústria registro que se equipara à bandeira de
recidos com os do longo curso e que nacional, cujos custos de construção conveniência, mas não é o REB (Regis-
não podem exportar por via maríti- em nível nacional são considerados tro Especial Brasileiro). “Não podemos
ma porque é muito caro”, diz o con- altos. Fayet também cita as incertezas competir com isso, dado o custo Brasil.
sultor de logística e infraestrutura da em relação aos prazos de entrega por A navegação não conta com impostos
CNA, Luiz Antônio Fayet. Ele conta alguns estaleiros nacionais. de importação, como a indústria, para
que existem máquinas brasileiras Procurada pela Portos e Navios, a proteger-se da competição estrangei-
que são enviadas para o Chile de ca- CNI, que também é favorável à aber- ra”, ressalta.
minhão porque o frete rodoviário, tura da cabotagem regional, não co- O Syndarma observa donos de car-
mesmo com a distância de 3.000 qui- mentou as negociações envolvendo o gas no Brasil (afretadores) querendo
lômetros e atravessando a Cordilhei- acordo Mercosul-União Europeia. Já se beneficiar dos fretes das empresas
ra dos Andes a 3.200m de altitude, sai o Syndarma alerta para o risco de os europeias, pagando mais barato, o que
mais barato que de navio. usuários não terem navios estrangei- “mataria” a atividade das empresas
A CNA defende que as EBNs te- ros disponíveis nos momentos em que nacionais. Isso porque navios de lon-
nham tratamento isonômico com a o mercado estiver em baixa, deixando go curso vindos da Europa já vêm com
navegação de longo curso. Segundo as cargas por conta dos armadores de frete pago dos serviços até o Brasil e
Fayet, isso faria com que a cabota- fora. O sindicato alega que, mesmo poderiam aproveitar para estender as
gem, no mínimo, duplicasse de ta- com a resolução da Antaq que trata dos rotas e prestar serviços até países vi-
manho em até três anos. “Estamos direitos e deveres dos usuários de por- zinhos, principalmente a Argentina.
cansados de exportar milho e trigo tos (RN-18/2017), não existe uma regu- “Houve certa pressão de alguns seto-
do Paraná para outros países da Áfri- lação efetiva desses armadores. O vice- res da economia brasileira para que
ca e da Europa e importar milho e tri- -presidente executivo do Syndarma, isso fosse aberto, visando pagar fretes
go para abastecer o Nordeste porque Luis Fernando Resano, cita a dificulda- menores nas exportações do Brasil
a navegação aqui é muito mais cara”, de enfrentada por empresas cearenses para Argentina. Se ocorrer [essa con-
lamenta o consultor. exportadoras de granito, em setembro, trapartida], é o início do fim do marco
Fayet também enxerga um filão causada pela falta de navios para em- regulatório da navegação brasileira”,
para barcaças oceânicas que pode- barque desses produtos. Ele acredita afirma.
riam transportar produtos e insumos que, se houvesse uma marinha mer-
por cabotagem. Ele estima que uma cante brasileira mais forte haveria mais Uma nota técnica do Syndarma an-
embarcação desse tipo, com capaci- chances de a agência reguladora impor teriormente encaminhada ao MTPA,
dade de 20 mil toneladas, equivale a o atendimento a uma demanda desse considera imprescindível a integra-
quase 500 carretas. “Se os custos na tipo. ção de serviços, como o do Mercosul,
à cabotagem doméstica para garantir
40 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
Os armadores granel líquido, veículos, carga geral, pe-
tróleo e derivados e carga de projetos.
brasileiros não Representantes de EBNs estiveram

veem condições de reunidos na Casa Civil e no comando


da Marinha em Brasília na primeira
competir com os quinzena de setembro, para tentar
convencer o governo a não apoiar me-
europeus didas para abertura da cabotagem re-
gional para empresas europeias. Após
as reuniões, o Syndarma informou que
interlocutores se comprometeram a
levar os pontos apresentados pelas
empresas de navegação aos minis-
empresas brasileiras. “Se perdemos tros para tentar convencer o governo
um terço do negócio, não conseguimos a desistir da abertura da cabotagem
reduzir custos imediatamente. Talvez regional. O sindicato também enviou
leve a aumentar preço da cabotagem uma assessora ao Uruguai para acom-
brasileira e do feeder, mas não dá para panhar as tratativas. O Syndarma alega
se afirmar isso nesse momento”, anali- que a reserva de cabotagem é comum
sou Lima Rocha. Perder o tráfego entre em muitos países, inclusive europeus,
a regularidade da oferta e aumentar Brasil e Argentina — rota chamada de que impedem navios de outras nacio-
a frequência dos navios. Essas linhas, grande cabotagem — significaria para nalidades de praticarem transporte
aponta o sindicato, viabilizam investi- as EBNs uma dificuldade grande de so- marítimo em suas águas. A nota cita
mentos por parte das companhias de brevivência. Um navio que vai a Bue- Itália, Espanha, Alemanha, Dinamarca
navegação e melhoram as condições nos Aires, por exemplo, passa por vá- e Noruega com mais instrumentos de
dos usuários. Os armadores entendem rios portos ao longo da costa brasileira. proteção e fomento que o Brasil.
que, embora crescente, o serviço de O documento também aponta que a As empresas europeias teriam van-
cabotagem exclusivamente doméstico abertura do transporte de contêineres tagens por falta de regulação e me-
no Brasil ainda não gera demanda su- vazios para empresas europeias repre- nores custos com tripulação e com
ficiente para viabilizar o investimento sentaria perda de parte significativa compra de embarcações. O Syndarma
na navegação doméstica. de serviços e de importante receita de ressaltou que os investimentos em
Os serviços Mercosul e Feeder Mer- frete para as EBNs, além de deixar de frota mercante no Brasil permitem às
cosul representaram de 21% a 24% do arrecadar divisas e impostos no país, EBNs oferecerem serviço dedicado
total transportado pelas empresas bra- sem qualquer contrapartida de in- com regularidade e frequência sema-
sileiras de navegação (EBNs) de 2015 vestimentos das empresas europeias nal no trade Mercosul aos clientes que
a 2017. O feeder representou de 53% localmente. O serviço de transporte têm volumes regulares de cargas. As
a 59% e o Mercosul, de 41% a 47% do de contêineres vazios prestado pelas empresas também atendem a deman-
total transportado nos anos de 2013 a empresas brasileiras para terceiros no das por transporte não frequentes, que
2017, de acordo com o Syndarma. Mercosul está contido no Feeder Mer- são contratadas por viagem.
No segmento de contêineres, as cosul. Nesse trade, as empresas trans- De acordo com o Syndarma, o in-
empresas têm 31 navios dedicados à portam contêiner vazio próprio e de vestimento na navegação brasileira é
cabotagem doméstica e ao trade Mer- terceiros, geralmente de companhias viabilizado pelo conjunto dos servi-
cosul, sendo 17 navios de bandeira estrangeiras de longo curso, que utili- ços de cabotagem doméstica, feeder e
brasileira e 14 afretados a longo prazo zam o transporte de empresas de na- grande cabotagem. Dessa forma, a per-
de bandeira estrangeira operados pe- vegação até países do bloco. da de parte importante das cargas do
las EBNs. Também existem dois navios O Syndarma defende ainda a obri- Mercosul resultaria no encerramento
tipo ro-ro para transporte de veículos gatoriedade do credenciamento das da rota ou na eliminação de serviços de
e uma frota própria de navios para empresas de navegação interessadas navegação brasileira, devendo atingir
transporte de granéis sólidos, líquidos, em realizar o transporte marítimo pe- inclusive a cabotagem doméstica que é
e carga geral. Esses dados, segundo o los países signatários, tendo em vis- integrada à rota dos países vizinhos. A
Syndarma, não contabilizam navios ta existência de acordos bilaterais de nota conclui que, tão logo as empresas
da frota do sistema Petrobras/Trans- transporte marítimo entre Brasil e Ar- brasileiras sejam inviabilizadas, o Bra-
petro. gentina, bem como entre Brasil e Uru- sil e demais países do Mercosul estarão
Na avaliação do Syndarma, uma guai. Atualmente, existe um conjunto sujeitos aos serviços exclusivamente
eventual abertura às companhias eu- de empresas dos países do Mercosul das empresas de navegação europeias,
ropeias representaria perda de um ter- que oferece transporte marítimo nos e a tendência natural é que elevem os
ço de toda a cabotagem operada pelas segmentos de contêiner, granel sólido, preços. n
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 41
NAVEGAÇÃO

Muito espaço
para crescimento
Antaq e UFPR lançam estudo com
informações detalhadas sobre perspectivas e
regulação da Hidrovia Paraguai-Paraná

A
Agência Nacional de Trans- Em função da disponibilidade dos das. A hidrovia configura-se como uma
portes Aquaviários (Antaq) dados nos países signatários à época do das principais vias fluviais da América
e a Universidade Federal do início do projeto, definiu-se 2015 como do Sul. Inicia-se no município brasileiro
Paraná (UFPR) lançaram o ano-base dos levantamentos. de Cáceres (MT) e se estende até a cida-
Estudo da Prática Regulatória, Vanta- O trabalho apresenta dados do de portuária de Nueva Palmira, no Uru-
gens Competitivas e Oferta e Demanda market share, ou seja, participação de guai. Percorre cinco países — Argentina,
de Carga entre os Países Signatários do mercado dos cinco países no transporte Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai —,
Acordo da Hidrovia Paraguai-Paraná. fluvial pela hidrovia. A participação bra- com uma extensão navegável de 4.122
O documento, que abrange três eixos sileira foi pequena, movimentando 4,47 quilômetros.
(infraestrutura, mercado e regulatório), milhões de toneladas em 2015 (5% do No mercado externo, as trocas co-
contempla um diagnóstico detalhado total da hidrovia). No Brasil não foram merciais dos cinco países perante as ou-
da Hidrovia do Paraguai-Paraná com o registradas exportações e importações tras 211 nações totalizaram 166 milhões
intuito de fomentar o desenvolvimento do mercado externo pela Hidrovia Para- de toneladas. A movimentação de gra-
do transporte aquaviário na matriz de guai-Paraná. Apenas foram registradas nel sólido agrícola foi destaque, concen-
transportes do país, promover uma re- exportações de 4,47 milhões de tone- trando quase 50% das movimentações
flexão sobre a participação brasileira no ladas para o mercado interno. O miné- de carga, seguida pela de granel líquido
fluxo de cargas na hidrovia e fortalecer rio de ferro foi o produto com maior agrícola (26%). Ainda constatou-se um
a concepção da Paraguai-Paraná como representatividade nessas exportações grande fluxo comercial dos cinco países
vetor de desenvolvimento regional. “Es- (88,24%), seguido pelo minério de man- por onde a hidrovia passa com a Ásia e
pera-se que este estudo possa oferecer ganês (10,59%). Os demais produtos fo- a Europa, reforçando o potencial dessas
subsídios às decisões governamentais ram açúcares de cana, óleos de petróleo rotas na otimização do uso da Paraguai-
no acompanhamento do Acordo da Hi- e ferro fundido bruto. -Paraná.
drovia Paraguai-Paraná e na política de Cerca de 184 milhões de toneladas Nos 1.270 quilômetros de hidrovia
apoio ao transporte fluvial, com base foram movimentadas pela Hidrovia Pa- em território brasileiro, foram iden-
na oferta e demanda do transporte de raguai-Paraná no período estudado, das tificadas 11 instalações portuárias. A
cargas, visando ao desenvolvimento de quais 56 milhões de toneladas pelo Bra- concentração de terminais na porção
toda área de influência”, afirmou o dire- sil. A Argentina apresentou a maior mo- oeste do estado do Mato Grosso do Sul,
tor da Antaq, Adalberto Tokarski. vimentação, com 92 milhões de tonela- especialmente em Corumbá/MS, pode
42 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018
O Brasil é o país No eixo regulatório, a Antaq e a UFPR
estudaram 12 pontos e fizeram uma
de mais baixo comparação entre os países signatários

aproveitamento do Acordo da Hidrovia Paraguai-Paraná.


Entre os pontos analisados, estão a for-
da hidrovia, o mação de tripulação, requisitos neces-
sários para a autorização da empresa de
que o torna o de navegação, regras de segurança de tráfe-
maior potencial de go na hidrovia e restrições aduaneiras.
O estudo traz, também, algumas
aproveitamento futuro propostas para que a hidrovia seja mais
utilizada. Entre elas, estimular a prorro-
gação do Acordo, que expira em 2020,
bem como realizar os ajustes conforme
Grosso do Sul movimentam um grande a evolução e as necessidades da nave-
volume de diversos produtos. A região gação fluvial. A criação de um obser-
apresenta produtos potenciais como vatório de boas práticas da Hidrovia
milho, soja, açúcar, algodão, carne, leite, Paraguai-Paraná para que haja desen-
adubos, fertilizantes, além de minério volvimento de um sistema unificado
de ferro e manganês. Entretanto, a in- de informações atualizadas e relaciona-
fraestrutura portuária existente no país das à infraestrutura fluvial e portuária é
apresenta um baixo número de portos outra das propostas, o que permitiria a
na hidrovia e sem a capacidade de aten- simplificação das gestões de documen-
der ainda a todos os tipos de categoria tação física nos processos de importa-
de carga. As potencialidades identifica- ção e exportação.
das para os produtos da categoria carga O superintendente do Instituto Tec-
geral, como algodão e carnes, depen- nológico de Transportes e Infraestrutura
dem de investimentos e portos e termi- da UFPR, Eduardo Ratton, destacou al-
nais aptos a movimentar esse tipo de gumas conclusões do estudo. “A Argen-
ser justificada pela proximidade com a carga. tina é o país que mais utiliza a Hidrovia
Bolívia, pelas maiores profundidades Paraguai-Paraná. O Paraguai é quem usa
do canal de navegação (em comparação Ao todo, o estudo identificou 110 por- melhor. O Brasil é o que menos utiliza o
com o trecho Cáceres-Corumbá) e pela tos e terminais hidroviários ao longo potencial da via”, pontuou. Para o espe-
existência da rodovia BR-262, que per- da Paraguai-Paraná, discriminados em cialista, é preciso que haja uma unifor-
corre o estado no sentido leste-oeste. portos públicos (20%) e terminais de uso mização das legislações dos países para
Com base nos levantamentos efetua- privado (80%). A Argentina, por exem- que a Paraguai-Paraná seja utilizada
dos pelo Estudo de Viabilidade Técnica, plo, conta com 48 instalações. O Para- com mais eficiência. Além disso, é fun-
Econômica e Ambiental (EVTEA) da guai dispõe de 44 estruturas. Já o Brasil damental que se atualizem as informa-
Hidrovia do rio Paraguai (UFPR/ITTI, tem apenas 11. Em relação à infraes- ções referentes à via fluvial e que se dê
2015b), as principais cargas transpor- trutura portuária, o trabalho observou mais visibilidade e utilidade ao modal
tadas nos terminais brasileiros na área uma disparidade entre os cinco países. hidroviário.
de influência foram: minério de ferro, A Argentina detém um sistema portuá- O diretor da Antaq, Francisval Men-
manganês, combustíveis, açúcares e rio organizado e de fácil acesso. O Para- des, ressaltou a potencialidade da Hi-
malte. Ressalta-se que em outubro de guai tem concentrado grandes esforços drovia Paraguai-Paraná como uma via
2015 ocorreu a reativação do terminal de investimentos em sua infraestrutura fluvial para a movimentação de cargas
de Porto Murtinho para o transporte de portuária nos últimos anos. A Bolívia e o que transcende as fronteiras do Brasil:
açúcar a granel. Brasil ainda apresentam baixa represen- “Realizar estudos e fomentar a hidrovia
Além disso, em 2017, entrou em ope- tatividade na infraestrutura portuária da são atribuições da Agência que, tradi-
ração o TUP Porto do Rio Iguaçu, loca- Hidrovia Paraguai-Paraná. cionalmente, mantém no seu escopo de
lizado em território brasileiro na tríplice Foram identificadas 124 obras de in- trabalho planos visando subsidiar as de-
fronteira na cidade de Foz do Iguaçu-PR, fraestrutura na via fluvial. No Brasil, o cisões governamentais e suas políticas
no trecho a montante do rio Paraná. estudo apontou 17 obras de infraestru- de incremento da navegação interior,
O baixo aproveitamento da Hidrovia tura planejadas entre 2015 e 2030. Como bem como a marítima. Dessa forma,
Paraguai-Paraná pelo Brasil também comparativo, a Argentina tem 54 inves- estaremos garantindo a interação políti-
torna o país com o maior potencial de timentos planejados, distribuídos pelos ca, social e econômica entre Argentina,
aproveitamento futuro, conforme o es- três modais de transporte. Já no Para- Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil para
tudo. Os estados do Mato Grosso e Mato guai, esse número é de 29 obras. o fortalecimento da América do Sul.” n
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 43
MURAL

1 2

3 4

5 6

Fotos 7 a 21: Marcelo Mendes

7 8

9 10

44 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018


MURAL

11 12 13

14 15 16

17 18

19 20

21 22
Fotos 1 a 6 - Flashes da
Rio Oil & Gas 2018,
no Riocentro;

Fotos 7 a 22 - Jantar de
confraternização da
NBCC durante a Rio Oil
& Gas, no Itanhangá
Golf Club.

PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 45


CANAL DE ACESSO

Setor de petróleo
lidera transformação
Ivan Leão

A
produção de petróleo e gás lidera o O petróleo é o segundo maior item da pau-
volume de investimentos e represen- ta de exportações brasileiras. No primeiro se-
ta a mais visível transformação entre mestre de 2018 as vendas somaram US$ 13,5
os setores produtivos no Brasil. O bilhões, cerca de 10% do total exportado no
evento Rio Óleo e Gás, realizado de 24 a 27 de período. A Petrobras é o principal investidor e
setembro de 2018, promovido a cada dois anos o setor assumiu o papel de principal gerador
pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Bio- de riquezas no país.
combustíveis (IBP), demonstrou a mudança A Federação das Indústria do Rio de Janei-
ocorrida desde a última edição, em 2016. A ro (Firjan), promoveu, em 19 de setembro de
presidente da Exxon no Brasil, a brasileira Car- 2018, por intermédio da área de petróleo, gás
la Lacerda, resumiu: o fim da exigência da Pe- e indústria naval, o debate Tendências para o
trobras como operador único; ajuste no con- mercado de petróleo e gás – Inovação, em par-
teúdo local para valores atingíveis e extensão ceria com a Abespetro (Associação Brasileira
do Repetro; a regularidade nos leilões de áreas. das Empresas de Serviços de Petróleo) e apoio
Esses ajustes na política tornaram o setor líder da Onip (Organização Nacional da Indústria
em investimentos no Brasil, informa o BNDES. do Petróleo), reestruturada com a participação
Em 2017 foram investidos R$ 57,9 bilhões. De das federações da indústria dos diversos esta-
2018 a 2021 a previsão é de investimentos de dos e do Sebrae. É um novo ambiente para a
R$ 291,4 bilhões, em média R$ 72,8 bilhões em contribuição ao debate da indústria fornece-
cada ano. dora ao setor de petróleo e gás.
A Firjan e a Abespetro trazem a visão de que
os elos produtivos do setor de petróleo par-
tem de dezenas de petroleiras, para centenas
de empresas especializadas de engenharia, fa-
bricação e serviços e atinge milhares de indús-
trias fornecedoras em diversas regiões do país.
“O formato pede a ampliação do debate para
evitar que instrumentos que não se conectam
produzam efeitos contrários ao pretendido”,
diz Telmo Ghiorzi, da Aker Solutions, diretor
da Abespetro.
O professor José Eduardo Cassiolato, do Ins-
tituto de Economia da UFRJ e coordenador da
Rede Sist, define a inovação como o processo
que inclui atividades técnicas, concepção, de-
senvolvimento e gestão que resulta em novos

Em 2017 foram investidos


R$ 57,9 bilhões no setor
de óleo e gás

46 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018


CANAL DE ACESSO

Agencia Petrobras/Gabriel Lordelle


O petróleo é
o segundo
maior item
da pauta de
exportações
brasileiras

produtos ou sua melhoria. A inovação ocorre arrecadações governamentais na produção


com o aumento no conhecimento sobre pro- de petróleo somaram R$ 376 bilhões. Sendo
dutos, processos e formas organizacionais. 76% royalties sobre o petróleo produzido; 24%
Surge para lidar com a diminuição do ciclo de bônus de assinatura de concessões e partilha;
vida dos produtos resultante da crescente in- 8% tributos; 1% outros. Esses valores, previs-
teratividade que as novas tecnologias possibi- tos em lei, são pagos por todas petroleiras que
litam. É um processo coletivo e sistêmico que operam no país, portanto não dependem só da
envolve elevado risco, já que nem todo esforço Petrobras. A maior contribuição exclusiva da
de inovação é bem-sucedido. Novas tecnolo- Petrobras são 8% do total pago em dividendos
gias estimulam inovação, mas é a demanda do ao governo.
mercado que puxa as empresas para processos A Abespetro vê o conjunto de regras que
de inovação. compõem a política industrial do setor de
O professor Paulo Figueiredo, da FGV-E- petróleo como instrumentos desalinhados e
bape (Escola Brasileira de Administração Pú- que geram efeitos contrários aos pretendidos.
blica), ressalta que o investimento em PD (pes- Durante o evento foi apresentada proposta de
quisa e desenvolvimento) é essencial, mas não mudança no PDI que estabelece as regras para
resulta necessariamente em inovação. O Brasil a aplicação dos recursos a serem destinados à
investe cerca de 1,3 % do PIB em pesquisa e Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I)
desenvolvimento, que o coloca numa boa po- presentes nos contratos para exploração, desen-
sição internacional, mas se encontra na pior volvimento e produção de petróleo. Na visão da
posição em produtividade, que identifica pro- Abespetro as regras não atendem ao “objetivo
blema nos resultados obtidos. O investimento de viabilizar a atração de investimentos no se-
em pesquisa e desenvolvimento é realizado tor petrolífero nacional, criando um ambiente
pelo governo nas universidades. É um trânsito de inovação aberta, que contemple a totalida-
do governo para o governo, já que os principais de do sistema produtivo e de fato promova a
destinatários dos recursos são as universida- capacitação tecnológica e a competência para
des públicas. Não se trata de atacar esse mo- inovar no setor”. Nos comentários finais Alfre-
delo, mas de perceber que a inovação ocorre do Renault, da ANP, informou que a agência
nas empresas. Sendo necessário que a inova- está aberta ao diálogo e que examina a propos-
ção melhore a capacidade de competição das ta. Karine Fragoso, gerente da área de petróleo,
empresas, gerando mais receitas, exportações, gás e indústria naval da Firjan, disse que os de-
empregos e melhores rotinas organizacionais. bates prosseguirão. n
A apresentação da Abespetro, realizado por
Telmo Ghiorzi, ressalta que de 1998 a 2015 as * Ivan Leão é diretor da Ivens Consult
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 47
CALENDÁRIO

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48 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018


PRODUTOS E SERVIÇOS

‘Manual Portos’ O documento apresenta 14 pontos


que reforçam o compromisso das
acordo, a Siemens pagará € 0,6 bilhão
para adquirir a empresa, que mante-
Pela primeira vez no Brasil é lança- empresas na adoção de boas práticas rá sua marca e sua cultura distintas
da uma publicação que reúne as con- e tolerância zero em relação à viola- e continuará atendendo clientes de
venções internacionais aplicáveis às ção das leis anticorrupção. Assinaram uma série de setores com sua plata-
legislações nacionais e boas práticas o documento: Repsol Sinopec Brasil, forma exclusiva.
recomendáveis em áreas costeiras e Petrobras, Shell, BP, Chevron, Total, Com as empresas investindo na
portuárias. Trata-se do Manual Portos, Equinor, Siemens, TechnipFMC, digitalização das suas operações, a
publicado pela Suatrans, empresa Schlumberger, Halliburton, GE Oil & demanda por aplicativos de negó-
brasileira que atua em atendimento Gas, Ocyan e Aker Solutions. cios cresce com mais rapidez do que
a respostas de emergências nas áreas a capacidade das organizações de
marítimas e terrestres. A publicação, TI de fornecê-los. As plataformas de
coordenada pelo diretor técnico da Anti-incrustante desenvolvimento low-code forne-
empresa, Dennys Spencer, contém Um dos principais desafios do cem recursos para acelerar o desen-
602 páginas e foi dividida em cinco setor marítimo é manter embarcações volvimento, a implementação e a
capítulos. A Suatrans pertence ao livres de incrustações, principalmente execução de aplicativos na nuvem.
Grupo Ambipar. aquelas que navegam em águas tro- “Adquirimos a Mendix para ampliar
picais, onde geralmente a incrustação nossa posição de liderança na digi-
mais se desenvolve. Com o objetivo talização do mundo industrial, que
Nova marca de oferecer melhor performance, é a base da nossa Visão 2020+”, disse
O Grupo Vallourec lança uma especialmente para embarcações com Klaus Helmrich, membro do con-
nova marca para atender a todas baixa atividade, a AkzoNobel trouxe selho de administração da Siemens
as necessidades de serviço de seus para o mercado o Intersmooth 7670 AG. “A Mendix é uma importante
clientes, em toda a cadeia de valor. SPC, uma tinta anti-incrustante de empresa no segmento low-code que
Essa iniciativa reflete a estratégia da autopolimento (SPC), isenta de cobre, está em acelerada expansão; sua
empresa de fornecer serviços digi- para uso em novas construções ou plataforma ajudará nossos clientes
tais para complementar as soluções manutenção e reparos. A tecnologia na adoção mais rápida do MindS-
tubulares. Vallourec.smart é a nova global também é produzida no Brasil, phere”, acrescentou o executivo.
marca comercial para soluções smart, na Unidade de Santo André, trazendo
combinando serviços físicos e digitais. maior agilidade no tempo de entrega
“Nosso Grupo está evoluindo de uma para os clientes da região e garantia Lego
empresa que projeta e fabrica produ- do estoque. A TPC Logística encontrou a solu-
tos para um parceiro global focado “Desenvolvemos o Intersmooth ção para ajudar no desenvolvimento
em fornecer soluções digitais para os 7670 SPC para atender às particulari- do potencial de seus colaboradores. A
clientes. É uma experiência global e dades do nosso mercado marítimo de Play in Company aplicou a metodo-
digital para nossos clientes, foco na navegação costeira no Brasil e na Amé- logia Lego Serious Play — que utiliza
otimização de ativos e maior integri- rica do Sul, aliando alta performance os blocos da marca — em workshops
dade durante o desenvolvimento de e maior produtividade. Isso porque a para desenvolvimento de liderança,
seus projetos”, diz afirma Philippe tecnologia do novo produto reduz o nú- com o objetivo de ampliar a percep-
Crouzet, CEO do Grupo Vallourec. mero de demãos no esquema anti-in- ção dos participantes no entendimen-
crustante com uma alta performance. to de toda a cadeia da TPC Logística e
Com isso, há redução significativa no nos processos envolvidos, bem como
Pacto tempo de docagem e nos custos para melhorar o modelo de atendimento
14 empresas do setor de petróleo o cliente, já que o número de demãos ao cliente e a tomada de decisão nos
e gás já aderiram ao Pacto de Integri- impacta diretamente no tempo em que negócios. O Programa serviu também
dade da Indústria de Petróleo, Gás e a embarcação fica parada no deque, para trabalhar as competências que
Biocombustíveis, iniciativa liderada no valor do aluguel e equipamentos”, são hoje fundamentais para líderes de
pelo IBP em parceria com o Instituto explica Gustavo Gomes, gerente de todos os segmentos, como a comu-
Ethos. O documento tem por objetivo Novos Negócios de Revestimentos nicação, a resolução de problemas, a
a luta contra a corrupção e a pro- Marítimos América do Sul. criatividade, o senso crítico, o rela-
moção de um ambiente de negócios cionamento interpessoal e a visão
ético, integro, transparente, susten- sistêmica.
tável, ambientalmente e socialmente Aquisição Os treinamentos piloto foram apli-
responsável. A iniciativa foi lançada A Siemens anuncia a assinatura cados inicialmente nas unidades de
durante a cerimônia de encerramento de um acordo de aquisição da Men- Campinas (SP), para 50 pessoas, e de
da Rio Oil & Gas, em 27 de setembro, dix, empresa de desenvolvimento de Salvador (BA), para mais 80 partici-
no Rio de Janeiro. aplicativos low-code na nuvem. No pantes.
PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018 49
PRODUTOS E SERVIÇOS

Perigosas incêndios em contêineres no Sistema


de Notificação de Incidentes de Carga
Representação
A Maersk implementou novas (CINS), a Maersk definiu o que pode A Wärtsilä Brasil e a Flender GmbH,
diretrizes sobre o armazenamento ser armazenado em cada zona de do grupo Siemens, fecharam acor-
de mercadorias perigosas que visam risco. do de parceria que vai movimentar
melhorar as práticas de segurança Nos próximos meses, uma revisão alguns setores da economia. A partir
em toda a sua frota, na esteira do com o objetivo de criar as melhores deste segundo semestre, a área de
incêndio a bordo do navio de con- práticas de gestão para o armazena- Services da Wärtsilä Brasil se tornou
têineres Maersk Honam, que matou mento de mercadorias perigosas será responsável pelos contratos de distri-
cinco tripulantes no início deste ano. realizada com a participação da ABS, buição e fornecimento de estrutura da
Após o incidente, a Maersk avaliou do Lloyds Register, do Grupo Inter- Flender no Brasil — regulando a en-
mais de três mil documentos da ONU nacional de P & I Clubs, do National trega de produtos, peças de reposição,
sobre materiais perigosos, a fim de Cargo Bureau, do TT Club e da Exis além dos serviços de oficina e campo.
compreender e melhorar o armazena- Technologies. A Flender é uma das maiores fabri-
mento desse tipo de carga a bordo de cantes mundiais de redutores, mul-
contêineres. Como resultado, desen- tiplicadores de velocidade e acopla-
volveu um novo conjunto de princí- ‘Riser’ híbrido mentos, contemplando um dos mais
pios chamado Estocagem de Merca- A Ocyan apresenta o CompRiser, completos portfólios de produtos e
dorias Perigosas Baseadas em Risco. um riser híbrido criado em parceria serviços com aplicações em diferentes
Juntamente com o American Bu- com a Magma Global para uso na in- setores da indústria mundial, incluin-
reau of Shipping (ABS), a empresa de dústria de exploração de petróleo em do energia e marítimo — segmentos
navegação convocou um workshop águas profundas e ultraprofundas. em que a Wärtsilä Brasil já atua há 20
com outras partes interessadas do O duto de composição termoplásti- anos — mas também outros, como
setor para conduzir um estudo abran- ca (TCP – Thermoplastic Composite mineração, cimento, siderurgia, açú-
gente de identificação de riscos que Pipe) usado no CompRiser será o car e álcool, papel e celulose.
validou essas novas diretrizes. As mu- m-pipe, fabricado pela Magma. O TCP “A parceria com a Flender GmbH
danças foram implementadas na frota traz alta resistência à corrosão (por consolida a posição da Wärtsilä no
de mais de 750 embarcações da Maer- exemplo CO2 e H2S), significativa mercado de serviços, tornando-a
sk Line. Os princípios de Estocagem redução de peso e a possibilidade de uma parceira de negócios ainda mais
de Mercadorias Perigosas Baseados suportar alta temperatura e pressão. atrativa. Estamos confiantes que os
no Risco também foram apresentados Sua flexibilidade mecânica permi- clientes de ambas as empresas se
à Organização Marítima Internacional te o projeto de um novo conceito beneficiarão de uma forte oferta de
(IMO), bem como às autoridades para a terminação inferior (patente serviços e comprometimento com a
marítimas dinamarquesas. pendente) que permitiu o riser ser qualidade”, comemora Ville Packalén,
A Maersk ainda aguarda o fim conectado diretamente ao flowline – presidente e diretor da área de Servi-
da investigação para determinar a tanto rígido quanto flexível. ces da Wärtsilä Brasil.
causa raiz do incêndio que explodiu Seu método de fabricação com-
em um porão de carga a bordo do pacto e modular possibilita alto
Maersk Honam enquanto o navio conteúdo local. Adicionalmente o Projeto social
estava navegando no Oceano Índico duto é entregue em bobinas e não A Petrobras assinou acordo de exe-
em 6 de março de 2018. O navio requer solda, o que simplifica a cução de projeto social com o Programa
transportava mercadorias perigosas montagem do bundle, que pode ser das Nações Unidas para o Desenvolvi-
no compartimento de carga onde o realizada em menos de 30 dias. A mento (PNUD) para atuar na amplia-
fogo se originou. No entanto, não há instalação offshore leva outros 20 ção de capacidades locais e estimular o
evidências de que o incêndio tenha dias, sem a necessidade de embar- desenvolvimento territorial sustentável
surgido a partir de mercadorias cações especiais e pouca exposição em 110 municípios onde a companhia
perigosas. a condições de mau tempo. Como está presente. A parceria alcançará
As cargas cobertas pelo Código uma solução desacoplada, o pro- cerca de 2,2 mil participantes, incluin-
Internacional Marítimo de Mercado- duto utiliza menos de 20% da carga do gestores municipais, instituições
rias Perigosas não serão mais arru- aplicada pelas outras soluções nas executoras de projetos socioambientais
madas ao lado da acomodação e da unidades de produção. O resultado apoiados pela companhia e por outros
instalação de propulsão principal, que dessa diferença pode ultrapassar atores locais relevantes.
é definida como a zona de menor to- 9.000 toneladas-força por FPSO, con- O desenvolvimento comunitário e
lerância a riscos. A tolerância ao risco dicionado à quantidade de risers do a proteção de direitos humanos serão
é baixa abaixo do convés e no meio projeto. A redução de peso e carga na promovidos por meio de fomento ao
do navio e maior no convés anterior e operação dos FPSOs é uma demanda desenvolvimento local e à conserva-
posterior. Utilizando estatísticas sobre constante dos operadores. ção ambiental.
50 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2018

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