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Danilo Oliveira
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pesar do avanço nos deba-
tes nos últimos três anos, o
desmantelamento de navios FR H o H REUH
ainda não se viabiliza eco-
nomicamente no país, sobretudo para D PD pULD H R
embarcações de maior porte. O Bra- H DOHLUR H HP
sil não ratificou até hoje convenções
internacionais sobre a matéria e os UH LFH H T D R j
estaleiros seguem reticentes quanto
à sustentabilidade do negócio. Espe-
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cialistas afirmam que, assim como no
reparo, serviços de desmonte custam
menos em outros mercados fora do Carreteiro observa que os debates
país. Eles alertam para a necessidade como do ciclo de vida, economia cir-
de o Brasil ampliar as discussões sobre cular e o da gestão de resíduos conti-
a logística reversa e legislação ambien- nuam, embora agora impactados pela
tal, principalmente no momento em pandemia. O workshop sobre extensão
que o mundo revisita conceitos e pro- A Sobena constituiu um grupo de es- da vida útil promovido pela Sobena,
cessos consolidados há décadas. tudos com a participação de Marinha, por exemplo, foi adiado para outubro.
A Sociedade Brasileira de Engenha- governo do estado do Rio de Janeiro, A gestão de resíduos, particularmente,
ria Naval (Sobena) tem promovido certificadoras, especialistas, empresas tem sido debatida em um comitê técni-
alguns dos principais debates sobre de gestão de resíduos, estaleiros e pro- co da Sobena e será tema de palestra no
o desmonte de navios e descomissio- fissionais de empresas. Carreteiro diz workshop sobre desmantelamento de
namento de plataformas no país. O que os estaleiros de pequeno e médio navios e descomissionamento de plata-
engenheiro e membro da Sobena, Ro- porte vêm demonstrando interesse em formas, previsto para o dia 5 de agosto.
nald Carreteiro, observa que o mundo desmantelamento de embarcações O desmantelamento de navios, as-
foi abalado com o novo coronavírus abaixo de 3.000 toneladas de arque- sim como o descomissionamento de
(Covid-19) e, em consequência do ação bruta, alguns deles já operacio- plataformas, tem sido objeto de in-
isolamento social, a atividade de des- nais. “Estaleiros de grande porte estão tensa discussão na Sobena. A associa-
mantelamento de navios sofreu forte analisando atualmente com bastante ção acredita que as conquistas com as
impacto, embora se saiba que alguns interesse o assunto como mais uma convenções internacionais relaciona-
países fora da zona europeia vêm per- oportunidade de negócios. Outros de das ao meio ambiente devem ser man-
mitindo o desmonte de navios e es- grande porte, que se encontram em tidas e adequadas à realidade brasilei-
truturas flutuantes, face à geração de grave situação financeira, aguardam o ra. Os principais destinos dos navios
empregos. posicionamento de investidores. que trafegam na costa brasileira, ao fi-
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nal de sua vida útil, estão no mercado de Federal Fluminense (CESS/UFF), forma mais abrangente as oportuni-
externo de desmonte. Newton Narciso Pereira, destaca a ne- dades dentro do mercado nacional,
“Temos observado que navios que cessidade de se ratificar a Convenção por exemplo, apoiando os serviços de
trafegam em nossa costa, por ausência de Hong Kong (2009) para criar am- descomissionamento das plataformas
de regulamentação desta atividade, seus biente com segurança jurídica para offshore. A criação de uma cadeia re-
proprietários são forçados a promove- desenvolvimento da atividade no país. versa para reaproveitamento dos ma-
rem o desmantelamento fora do Brasil Outro ponto a ser visitado é a opera- teriais oriundos da reciclagem envolve
quando estes navios chegam ao final cionalização dos estaleiros nacionais recicladores, empresas de tratamento
do ciclo operacional”, comenta Carre- que tiverem interesse para a recicla- de resíduos, destinação final, siderúr-
teiro. Quanto à profissionalização da gem de navios. gicas, empresas de equipamentos de
atividade de desmantelamento, existem Esse processo passa pela verifica- segunda mão, entre outros.
movimentos surgindo nas instituições ção de licenças de operação dos es- As atividades de desmantelamen-
educacionais para a promoção de cursos taleiros. A maioria pode operar em to e sobretudo a reciclagem de navios
técnicos, tecnológicos e de boas práticas, construção e reparo, porém precisa de ainda atraem pouco interesse dos es-
não apenas para atividade de desmante- licenças para reciclagem. O professor taleiros brasileiros. Para Pereira, existe
lamento de navios, como também do lembra que, quando se fala em resídu- uma questão histórica no Brasil rela-
desmantelamento de estruturas flutu- os, a remuneração é inferior em com- cionada ao fato de a indústria naval
antes que são oriundas do descomis- paração com as receitas de construção sempre ter tido o DNA em construção e
sionamento de plataformas. de navios. O fomento à indústria pode reparo. Segundo o professor, enquanto
O professor adjunto e coordenador acontecer por meio da criação de li- reciclar navio nunca foi uma premissa
do Centro de Estudos para Sistemas nhas de incentivos para navios serem no país, a indústria de reciclagem teve
Sustentáveis da Escola de Engenharia reciclados no país. passagens por diversos países entre as
Industrial Metalúrgica da Universida- Um caminho pode ser observar de décadas de 1960 e 1970, indo dos Es-
PORTOS E NAVIOS MAIO/JUNHO 2020 21
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE
Maarten Zeehandelaar
na década de 1980. O mercado asiático
se consolidou, a partir de 1980, em três
grandes mercados: Índia, Bangladesh
e Paquistão e, posteriormente, Turquia
e China. Em 2019, a China baniu a ati-
vidade, que hoje se concentra quase
40% nos outros quatro países.
O mercado sofreu mudanças nos
últimos quatro anos em razão da Con-
venção de Hong Kong, que ainda não
entrou em vigor, e do Regulamento
para a Reciclagem de Navios (SRR), de
2013, que entrou em vigor em janeiro
do ano passado. Estaleiros europeus
entraram no mercado de reciclagem
de navios para atender à demanda
interna, pois o SRR não permite que
navios de bandeira europeia sejam de-
molidos nas praias asiáticas. Para que
o SRR entrasse em vigor, havia neces-
sidade de haver capacidade de reci-
clagem interna superior a 2,5 milhões
de toneladas de deslocamento leve
(MLDT) interna ou quando chegasse a
1º de janeiro de 2019, conforme o que
acontecesse primeiro. Atualmente, a Montar uma cadeia logística rever-
capacidade interna é de aproximada- sa e tornar o Brasil um país com reci-
mente 2,7 MLDT. clagem de navios passa pela questão
Para chegar a essa capacidade, eles da oferta e demanda. Pereira entende
precisaram contar com estaleiros fora que é preciso identificar os clientes
da União Europeia — alguns oriundos internos e quem serão os usuários e
dos Estados Unidos e da Turquia, por beneficiados com a reciclagem de na-
exemplo. Nenhum estaleiro brasilei- vios no Brasil, antes de saber se existe
ro se candidatou a fazer parte da lista demanda dos insumos da reciclagem
europeia. Pereira avalia que, embora de navios. Adicionalmente, listar quais
o Brasil tenha estaleiros com pouca indústrias vão comprar os insumos da
ocupação, é preciso haver incentivos reciclagem. O professor explica que o
para estabelecer uma indústria de re- mercado de aço está definido e que o
ciclagem de navios no Brasil. “Temos produto chega a 85% do peso do navio.
algumas vantagens, pois os estaleiros No entanto, um navio é composto por
nacionais têm elevada mecanização, ao menos 300 mil itens diversos, desde
as condições de trabalho são ótimas — parafusos a motores, elementos que
quando comparadas às asiáticas, bem também terão de ser reciclados.
como, a questão ambiental ser tratada Outro questionamento é quem se
dentro da legislação com boas práti- interessaria por motores e diesel ge-
cas”, observa o professor. radores de navios antigos. Além de
Ele acrescenta que os estaleiros na- definir o que será feito com essa ma-
cionais são capazes de receber grandes quinaria, é preciso saber quem vai re-
navios para a reciclagem, o que não ciclar botes salva-vidas, coletes, toda a
acontece facilmente na Europa. Ele parte de mobiliário, artigos de antigui-
ressalta que, como a indústria nacio- dade. São pequenos exemplos de uma
nal não está acostumada a desmontar, cadeia que precisa ser identificada e
deveria haver incentivos diversos para RONALD CARRETEIRO verificar se teremos condições de lidar
que se tornasse essa atividade mais Estaleiros de pequeno e médio com todos esses elementos e onde.
atrativa para os estaleiros e se criasse porte vêm demonstrando Pereira salienta que o mapeamento e
uma nova indústria. interesse em desmantelamento a preparação dessa cadeia reversa são
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H PD HODPH R GH mente o mesmo gasto para construir
embarcações, o que leva armadores
D LR D LP FRPR a endereçar os navios para desmonte
Desmantelamento e reciclagem de
navios ainda atraem pouco interesse
dos estaleiros brasileiros