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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE OLINDA

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

Thays Karyne Barbosa da Silva

PSICOLOGIA E RELIGIÃO: O PROCESSO SIMBÓLICO DAS ESTRUTURAS


ARQUETÍPICAS NA INDIVIDUAÇÃO DO NEGRO CANDOMBLECISTA

Olinda,
2021
1
Thays Karyne Barbosa da Silva

PSICOLOGIA E RELIGIÃO: O PROCESSO SIMBÓLICO DAS ESTRUTURAS


ARQUETÍPICAS NA INDIVIDUAÇÃO DO NEGRO CANDOMBLECISTA

Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia


da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda,
apresentado como requisito para a conclusão
da disciplina de Trabalho de Conclusão de
Curso – TCC II.

Professora orientadora: Prof. Mercia


Aparecida Souza de Melo Silva

Olinda,
2021
2
THAYS KARYNE BARBOSA DA SILVA

PSICOLOGIA E RELIGIÃO: O PROCESSO SIMBÓLICO DAS ESTRUTURAS


ARQUETÍPICAS NA INDIVIDUAÇÃO DO NEGRO CANDOMBLECISTA

Monografia apresentada ao curso de


Bacharelado em Psicologia da Faculdade
de Ciências Humanas de Olinda como
requisito parcial para obtenção do título
de bacharel em Psicologia em
16/12/2021.

MONOGRAFIA APROVADA PELA SEGUINTE BANCA EXAMINADORA:

_________________________________
Prof. Mercia Aparecida Souza de Melo Silva

Olinda,
2021
3

AGRADECIMENTO

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por mais um ciclo que se fecha, pois só
ele sabe da batalha interna que assume esse semestre, obrigado por me mostrar o quanto eu
posso ter e fazer tudo que eu quiser almejar, obrigado por me fortalecer nos momentos
difíceis, pois só o Senhor saber o quanto eu precisava passar por esse processo.
Gostaria de agradecer a minha mãe e ao João (meu padrasto) por sempre investirem
no meu sucesso, pois sem eles não poderia ter chegado até aqui, quero agradecer a eles por
terem me suportado nos dias difíceis e me amarem incondicionalmente em qualquer
momento.
Gostaria de agradecer a Gabi minha terapeuta, que foi essencial nesse processo, pois
sem ela eu não teria condições mentais para ter concluído meu “abismo”.
Gostaria de agradecer a todos os meus professores da FACHO, pois cada um em sua
maneira contribuíram para a minha formação, queria destacar dois professores em particular
que nesse ano foram fundamentais para nesse trabalho, o primeiro é o professor Fernando,
que quando estávamos na construção do projeto me orientava e meu auxiliava muito (me
castravar como um bom psicanalista) e a segunda é professora Mércia que aceitou minha
proposta e me compreendeu no meu momento mais difícil na escrita
Gostaria de agradecer a Tayça e Milena por terem se disponibilizado a lerem meu
trabalho enquanto ainda era um esboço e gostaria de agradecer a Raquel por sempre me
fortalecer em cada projeto que assumo.
Gostaria de agradecer a Larissa por todos os momentos no estágio onde eu chegava
desabafando minhas frustrações e também gostaria de agradecer as meninas do vôlei que
mesmo sem saberem estão me ajudando a evoluir profissionalmente e pessoalmente, pois é
com elas que aprendo a lutar por meus objetivos.
E por último, gostaria de agradecer a mim mesma por ser quem estou querendo ser,
por mais um processo doloroso de amadurecimento e por saber que a cada processo que passo
estou me tornando uma pessoa melhor e que saber, que quando tudo parecer impossível é aí
que eu tenho que tentar.
4

“Um povo com crise de abstinência


Procura explicação pra existência
Num mundo onde dão mais valor pra aparência
Tem sua consequência [...]
Pouco me importa sua etnia,
Religião, crença, filosofia
Absorvendo sabedoria
Desenvolvendo meu dia-a-dia
Nesse mundo poucas coisas são certas [...]
O preconceito velado
Tem o mesmo efeito, mesmo estrago
Raciocínio afetado
Falar uma coisa e ficar do outro lado
Se o tempo é rei vamos esperar a lei
Tudo que já passei nunca me intimidei
Já sofri, já ganhei, aprendi, ensinei
Tentaram me sufocar mas eu respirei”

(BATE A POEIRA, 2013)


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RESUMO

O presente trabalho busca apresentar, de maneira sucinta, uma perspectiva pouco explorada
academicamente no Brasil: compreender o processo simbólico das estruturas arquetípicas e a
individuação do negro, tendo como base teórica as ideias de Jung (1973), além de apresentar
uma breve historicidade da negritude no Brasil. Em vista disso, o objetivo geral desta
pesquisa é investigar a influência religiosa do simbolismo das estruturas arquetípicas sobre a
individuação do negro candomblecista. Trata-se, portanto, de uma análise bibliográfica, pois
foi realizada através de várias leituras de dissertações, artigos e livros a respeito da psicologia
junguiana e do candomblé. Esta produção encontra-se dividida em três capítulos: o primeiro
abordando a religiosidade em algumas perspectivas; já o segundo falando sobre a escravatura
sofrida pela pessoa negra, como também o sincretismo religioso, e o terceiro, que tem como
nosso último enfoque foi está no processo de individuação do negro candomblecista, trazendo
alguns relatos a respeito da ascensão da negritude, desde o Brasil colônia até os presentes
dias.

Palavras-chave: Arquétipo. Candomblé. Negro. Simbólicos. Religião.


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ABSTRACT

This work intends to present, in a brief way, a little explored perspective on the academic
field in Brazil: the focus is to comprehend the symbolic process of the archetypal structures
and the individuation of the black, based theoretically on Jung’s (1987) ideas besides the
presentation of a brief historicity of the blackness in Brazil. Therefore, the general objetive of
this research is to investigate the religious influence of the symbolism of the archetypal
structures on the individuation of the black candomblecist. Thus, this study is a bibliographic
analysis, since it was accomplished through several readings of dissertations, articles and
books of the matter of Jungian Psychology and of candomblé. This production is divided in
three chapters: the fist one approaches the religiosity in some perspectives; the second one
explores the slavery suffered by the black person, as well as the religious syncretism; and the
third, which evolves around the individuation of the black candomblecist, brings some reports
about the ascension of the blackness, since Brazil cologne until nowadays.

Keywords: Archetype. Candomblé. Black. Symbolic. Religion.


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Comparações entre os santos católicos e os orixás no candomblé ……… 20


8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…....................................................................................................9
OBJETIVOS...........................................................................................................12

1. RELIGIÃO: UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVAS……………….…13


1.1Conceituando o religare .........................................................................13
1.2 Perspectiva Junguiana sobre religião ..................................................14
1.3 Psicologia e religião na visão Junguiana ………………………….....15
2. HISTORICIZANDO A CULTURA ESCRAVOCRATA ….....................16
2.1 Ciclos, Influência e Candomblé…………............................................16
2.2 Simbologia dos cultos candomblecistas ...............................................17
2.3 Arquétipos dos santos católicos e orixás ……….................................19
3. ASCENSÃO DO NEGRO BRASILEIRO…………………………….....22
3.1 Ascensão do negro brasileiro no período escravista …………..........22
3.2 Ascensão do movimentos negros na conteporeanidade …..………..23
3.3 O processo de individuação no negro candomblecista.......................25

4. CONCLUSÃO ...........................................................................................27
5. REFERÊNCIAS ........................................................................................28

ANEXO - Termo de Responsabilidade e Compromisso Ético de Autoria….....32


9

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi desenvolvido por uma aluna do curso de bacharelado em psicologia
da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda, tendo como propósito a elaboração do trabalho
de conclusão de curso do ano de 2021.2.
A respectiva pesquisa pretende analisar as informações acerca da psicologia e da
religião para que possa estabelecer relações, de modo que traga explicações de como se dá o
processo simbólico das estruturas arquetípicas na individuação do negro candomblecista. Será
abordada uma breve explicação sobre a religião e, mais à frente, analisaremos a psicologia
analítica como mediadora desses conteúdos científicos de Carl Gustav Jung (1978) diante da
temática religiosa do assunto. Após essas análises iniciais, adentrarmos nas questões acerca da
influência do candomblé no processo de individuação do negro no Brasil.
Quando observamos o passado, vemos a exploração dos povos negros no Brasil, cuja
população fora trazida para atuar enquanto mão de obra escravizada. Conforme apresenta
Piazza (1979), Povos oriundos da África cujas crenças se caracterizavam como: politeístas
(povo Iorubá, povo Fon, povo Fanti-Axanti - vindo do Guiné); islamizadas (povo Haussá,
povo Mandinga, povo Pleura) e os animistas (povo Bantu - vindo da Angola, Congo,
Moçambique).
Esses povos foram divididos por toda a colônia e, em decorrência dessas divisões e do
poder exercido pelo sistema colonial, muitos se converteram ao cristianismo e outros
ressignificaram suas crenças, fazendo assim uma nova cultura intitulada atualmente de
afro-brasileira. Os africanos têm uma enorme contribuição na construção cultural brasileira,
porém, devido à repressão da colonização, essas culturas foram menosprezadas,
principalmente suas religiões e crenças culturais.
Uma dessas religiões é o Candomblé. Iniciado na realidade brasileira, na Bahia, por
volta do século XIX, o Candomblé é uma religião concebida por fundamentos teológicos e
rituais próprios, que tem como propósito alcançar a espiritualidade por meio dos orixás.
Assim, segundo Barbosa Junior (2017), tem como intuito a valorização da ancestralidade e o
misticismo que vai da crença de comunicar-se com os orixás, bem como inteirar-se dos seus
mitos históricos divinos.
Originalmente, o Candomblé foi constituído no Brasil como forma de reunir povos de
várias nações em um só terreiro, fazendo, dessa maneira, uma unificação das tribos africanas
10
como forma de resistência e de proteção de suas culturas apesar das diversas etnias, como
apresenta Barbosa Junior (2017). Cada vez mais o Candomblé tem influência na vida social
do brasileiro, através da sua cultura, das músicas e até na relação interpessoal. Antes, os
negros que eram escravos faziam suas celebrações como forma de conexão com seu
continente africano e hoje essa celebração é um resgate à ancestralidade.
Para fazer um paralelo com a religião, é importante pensarmos nos fundamentos da
psicologia junguiana com base epistemológica, que visa à relação que Jung tinha com a
psicologia e as práticas religiosas. É através dos estudos a respeito do inconsciente coletivo,
inconsciente pessoal e a estrutura arquetípica de Jung que iremos fundamentar este trabalho.
O inconsciente coletivo é responsável pela seleção da ação e percepção da psique, constituído
por um reservatório de imagens primordiais. Segundo Jung (1980, p. 60), as imagens
primordiais “[...] são as formas mais antigas e universais da imaginação humana. São
simultaneamente sentimento e pensamento. Têm como que vida própria [...]”, e vêm sendo
passadas de geração em geração não como forma consciente, mas de modo reativo às
respostas predispostas no mundo, que podem ser acionadas a qualquer momento com a
combinação de formas simbólicas.
O processo simbólico é o mediador das diversas contradições entre quaisquer
princípios e oposições do sujeito entre o consciente e o inconsciente. Segundo Sereba (2010),
essa oposição ativa uma ação inconsciente que se expressa de forma simbólica com uma
função de compensação dessa divergência, tornando o símbolo o equilíbrio da psique. Esse
processo simbólico que o candomblecista de forma inconsciente harmoniza começa a ser
buscado nos arquétipos a uma representatividade. Para Hall e Nordby (1973), os arquétipos
são os conteúdos do inconsciente coletivo. Nele, há diversas variações de arquétipos, como,
por exemplo, a representação de Deus, do Diabo, da morte, dos objetos naturais, dos objetos
criados pelo homem, etc.
Os arquétipos atuam como forma imaginária nessa construção, trazendo
representações dos deuses africanos que, de forma consciente, contribuem no
desenvolvimento da personalidade dos candomblecistas, fazendo com que o ego deles se
desenvolva através das experiências pessoais. Nessa forma consciente da representatividade
divina, os candomblecistas poderiam desenvolver duas funções: a extroversão, para se
relacionar com o mundo externo, e a introversão para se relacionar consigo mesmo.
Para Jung (1973, p. 427 apud FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 52) “O ego quer
sempre explicações, a fim de consolidar sua existência”. Nessa busca de realizações, o
candomblecista começa seu processo de individuação. Essa atividade se dá segundo a teoria
11
junguiana, por ser um fator singular do indivíduo, essa construção que requer um desenvolver
pessoal e social, tendo predisposição de agrupar elementos da psique coletiva, a fim de formar
uma personalidade única e exclusiva.
Diante dessas explicações, o problema de pesquisa deste trabalho decorrerá da
seguinte pergunta: como ocorre o processo simbólico das estruturas arquetípicas na
individuação do negro candomblecista? Observando por um lado científico, o trabalho tem a
finalidade de ressaltar a importância da psicologia analítica no contexto religioso, como forma
de ampliar os estudos voltados para essa área, examinando, de forma metafisicamente, que
está fundamentada no ser de modo geral e que não se limita a estudar uma área específica
como Jung costumava acreditar, exercendo, assim, um conhecimento que vai além da psique.
Desse modo, a produção dissertativa justifica-se socialmente na importância do
conhecimento da religião do candomblé nos dias atuais para que haja uma interrupção de
estereótipos negativos que a sociedade tem construído a respeito das religiões de matrizes
africanas. Há poucos estudos direcionados às religiões de matrizes africanas na psicologia
brasileira e, dessa forma, o objetivo da escolha deste trabalho é agregar na elaboração da
individualização do ser negro candomblecista em sociedade, com o intuito de fazer com que
ele contribua para estudos futuros a respeito da psicologia e da religião, não como áreas
individuais, mas como forma conjunta entre a ciência e a religiosidade.
A presente investigação trata de uma pesquisa bibliográfica, pois foi realizada através
de várias leituras de dissertações, artigos e livros a respeito da psicologia junguiana e do
candomblé. Na pesquisa bibliográfica, segundo Severino (2007 p. 122) “utilizam-se [de]
dados de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente
registrados”. Além disso, adotou-se a metodologia qualitativa, porque “ela se preocupa, nas
ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela
trabalha com o universo de significados” (MINAYO, 2001 p. 21). O trabalho tem como foco
compreender o processo simbólico das estruturas arquetípicas e a individuação do negro.
12

OBJETIVOS
objetivos gerais
Investigar a influência religiosa do simbolismo das estrututras arquetípicas sobre a
individuação do negro candomblecista
objetivos específicos
A) Analisar a religião como função psíquica numa perspectiva junguiana
B) Examinar a condição do simbolismo na formação dos arquétipos dos orixás
C) Explicar como ocorrre a construção da individuação do negro candomblecista
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1. RELIGIÃO: UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVAS


1.1 Conceituando o religare
Com o intuito de investigar o processo simbólico das estruturas arquetípicas na
individuação do negro candomblecista, cabe iniciarmos falando de forma breve a respeito da
religião, e ao longo do capítulo iremos abordar a psicologica analítica de Carl G. Jung (1978),
onde o fator religioso pode influenciar na construção da individuação do homem..
Durante muitos anos, pesquisadores religiosos tentam compreender a atuação da
religião na vida do ser humano, a religião é considerada um meio de comunicação entre a
humanidade e a espiritualidade. Segundo o Dicionário Online de Português (2021), a palavra
religião tem sua origem do latim, tendo em sua origem a estrutura do signo religare, trazendo
um significado de “ligar novamente”, “voltar a ligar” ou “religar”. O termo era utilizado como
um ato de voltar a unir o humano com o que era considerado divino. Alves (2003, p. 4) afirma
que “[...] a experiência religiosa era parte integrante de cada um, da mesma forma como o
sexo, a cor da pele, os membros, a linguagem. Uma pessoa sem religião era uma anomalia”,
com o avanço da civilização, a ciência ganha espaço e o homem inicia seu processo de
distanciamento, chegando a duvidar de suas próprias experiências, contudo a religião está
mais próxima de nossa experiência pessoal do que desejamos admitir, é através dela que
moldamos nossos próprios valores éticos e morais.
No século XIX, ocorreu um processo pela desconfessionalização dos filósofos
iluministas. Em decorrência disso, a história da religião vai lentamente se tornar uma
disciplina científica livre do jugo da religião, justamente a fim de melhorar o objeto de estudo.
Na segunda metade do século XIX, é possível perceber que as abordagens científicas a
respeito do fenômeno religioso herdaram os desígnios e desafios de compreender a relação
entre sujeito e objeto, considerando que todas as disciplinas buscavam afirmar sua identidade
e que todas elas atrelaram ao estatuto científico estabelecido, conforme defende Silva e
Mancini (2017). Ainda segundo os teóricos, a história das religiões tem um estudo distinto das
disciplinas teológicas, mesmo que cresça também uma profunda revisão das tradições, trata-se
de um conhecimento ideológico, evolucionista e naturalista de um método comparativo, em
que visava situar o lugar de cada religião em uma escala paralela ao modelo judaico-cristão do
qual se desfrutava seus referenciais e seus conceituais.
Ainda no século XIX, surgiu uma concepção de História das religiões fortemente
marcada pela fenomenologia. Esse aspecto reportava o fenômeno religioso às realidades,
meta-temporais e não modificáveis, tornando-se uma esfera transcendente. Tomado como
14
sagrado, a verdadeira essência das religiões assumia uma dinâmica própria, ontologicamente
independente e autônoma que, segundo uma cosmovisão dualista, passava a representar a
esfera complementar ao profano, ambos constituindo o ser em sua totalidade. Porém, segundo
Silva e Mancini (2017), no século XX, a história das religiões vai sendo influenciada por
várias abordagens científicas, como a psicanálise de Sigmund Freud e Melanie Klein, a
psicologia analítica de Carl Gustav Jung, a filologia de Károly Kerényi, a teologia de Rudolf
Otto, os estudo da figura da mitologia comparativa com Joseph Campbell e Georges Dumézil
e na antropologia social Claude Lévi-Strauss.

1.2 Perspectiva Junguiana sobre religião

Diante dos cientistas e estudiosos citados, Jung desenvolve estudos, através da sua
experiência pessoal, a respeito das várias religiões que existem para ele. Elas apresentam-se
como um fenômeno autêntico, na medida em que recolhem e conservam as imagens
simbólicas oriundas das profundezas do inconsciente e as criam em seus dogmas, fazendo que
haja conexões com as estruturas básicas da vida psíquica. Jung usava a palavra religião no
sentido de religio ou melhor re e ligar; para ele religar o consciente com certos poderosos
fatores do inconsciente a fim de que sejam tomados em atenta consideração (SILVEIRA,
1981).
Segundo Jung (1978) todas as religiões originam-se basicamente de encontros com
esses fatores dinâmicos do inconsciente, seja em sonhos, visões ou êxtases. Esses fatores
apresentam-se constelados em imagens dos mais diversos aspectos: deuses, demônios,
espíritos, no entanto reconhece todos os deuses possíveis e imagináveis, sob a condição única
de que sejam ou tenham sido atuantes no psiquismo do homem. Assim, “Como toda função, a
religiosidade é susceptível de ser desenvolvida, cultivada e aprofundada, e poderá também ser
negligenciada, deturpada ou reprimida.” (SILVEIRA, 1981,p.131).
A linguagem das religiões é construída através de símbolos ao longo dos tempos. Sem
dúvida, essa construção vem atuando profundamente sobre a vida dos homens, as cerimônias
religiosas coletivas originam-se de necessidades de proteção e funcionam como uma cautela
entre o divino e o humano, presente no inconsciente coletivo. Em vista disso, Silveira
apresenta a seguinte contribuição sobre o ego: “Quando Jung fala de religião não está nunca
se referindo a qualquer credo ou a qualquer igreja em particular. O que o interessa é a atitude
religiosa como função psíquica natural, é a experiência religiosa na qualidade de processo
psíquico” (SILVEIRA, 1981, p. 139).
15

1.3 Psicologia e religião na visão junguiana


No século XX, quando a psicologia iniciava sua trajetória, o Oriente não forneceu algo
que contribuísse para nossa psicologia, mas apenas uma metafísica. A psicologia é uma
ciência dos fenômenos únicos, sem implicações de qualquer ordem. Contudo, surgiram nesse
período do oriente inevitáveis críticas à teoria do conhecimento, pois o ser humano
permanecia preso à concepção de que um órgão de fé capacitava o homem a conhecer a Deus.
Diante a essas críticas, o Ocidente que ganhava entre um período científico, desenvolveu a
nova enfermidade de um conflito entre a ciência e a religião. De acordo com Jung (2013), a
filosofia crítica da ciência tornou-se, por assim dizer, metafisicamente negativa, tornando,
assim, materialista fazendo pré- julgamento errôneo na relação entre ciência e religião.
No Oriente, o arquétipo do espírito vem ser um princípio cósmico, a existência do ser
em geral. Todavia, no Oriente não existe um conflito entre a ciência e a religião, porque para
as populações dessa região a ciência não se baseia na paixão pelos fatos, do mesmo modo que
a religião não se baseia apenas na fé, o que existe é um conhecimento religioso é uma religião
cognoscitiva, o homem é deus e se salva por si próprio. O Oriente, pelo contrário, sublinha o
fato de que o homem é a única causa eficiente de sua própria evolução superior com efeito
disso. Eles acreditam na autorredenção, pois “Antigamente, as pessoas eram possuídas do
demônio; hoje elas o são, e não menos, por ideias.” (JUNG, 2013, p. 24).
Para nós, ocidentais, o homem é infinitamente pequeno, enquanto a graça de Deus é
tudo. Na psicologia ocidental, o espírito representa uma função da psique, ele é quem
determina a condição essencial para o conhecimento, o intelecto depende da psique
individual, é através dele que há condições subjetivas, para não citarmos as influências do
meio ambiente, o isolamento do homem no interior de sua própria psique sustenta a crítica da
teoria do conhecimento, trazendo um significado para a existência do mundo enquanto
representação e ideia, conforme defende Jung (2013).
Ainda segundo Jung (2013), quando se fala em matéria, entende-se algo que escapa ao
conhecimento, e que tanto pode ser o espírito como qualquer outra coisa, pode ser, inclusive o
próprio Deus. A crença religiosa recusa transcender sua concepção do mundo, contradizendo
as palavras de Cristo, os seus seguidores, por sua vez, tentam permanecer no estado de
crianças, prendendo-se ao mundo da infância. O mal-entendido entre ciência e religião no
fundo não passa de discursos mal interpretados de ambas as partes. O materialismo científico
introduziu apenas uma nova perspectiva ao homem de ver o mundo e isso constituiu um
pecado intelectual segundo os religiosos.
16
Todas as religiões originam-se, basicamente, de encontros com esses fatores
dinâmicos do inconsciente, seja através dos símbolos ou dos arquétipos que elas possuem.
Esses fatores aparecem ligados em imagens dos mais diversos aspectos: deuses, santos,
demônios, espíritos, orixás. Para Silveira (1981), a linguagem das religiões constroem
símbolos, ao longo dos tempos, desenvolvendo uma profunda relação na vida dos homens.

2. HISTORICIZANDO A CULTURA ESCRAVOCRATA


2.1 Ciclos, Influência e Candomblé
Neste capítulo, buscamos examinar como ocorre o impacto simbólico dos arquétipos
dos orixás no Candomblé . Quando observamos o passado, vemos a exploração dos povos
negros no Brasil, cuja população fora trazida para atuar nos campos, nas casas dos engenhos,
na minaração e etc. como mão de obra escravizada.
Historicamente, sabemos que o processo de abolição foi um processo longo e
resistente da primeira lei: a Lei Eusébio de Queiroz. Ela foi aprovada em 1850 e proibia a
entrada de qualquer negro escravizado no Brasil. 20 anos mais tarde, veio a Lei Rio Branco
ou, como muitos conhecem, a Lei do Ventre Livre. Esta, por sua vez, diz que a partir de 28 de
setembro de 1871, as crianças que nascem do ventre de mulheres negras escravas tinham o
direito de nascer livres no Brasil. Com isso, o processo da liberdade negra ganhou mais força,
pois em 1885, foi aprovada a Lei dos Sexagenários, explicitando a liberdade de idosos com a
idade maior que 60 anos, conforme afirma Annaes (1888). Contudo, durante esse processo de
liberdade os negros se reinventaram culturalmente e principalmente nas suas crenças
religiosas.
Uma dessas crenças religiosas é a religião do Candomblé, iniciada na realidade
brasileira na Bahia, por volta do século XIX, demarcada como uma religião concebida por
fundamentos teológicos e rituais próprios, que tem como propósito alcançar a espiritualidade
por meio dos orixás. Tem como intuito, como explicita Barbosa Junior (2017), a valorização
da ancestralidade e o misticismo que vai da crença de comunicar-se com os orixás até de
inteirar-se dos seus mitos históricos divinos.
Originalmente, o Candomblé foi constituído no Brasil como forma de reunir povos de
várias nações em um só terreiro, fazendo assim uma unificação das tribos africanas como
forma de resistência e de proteção de suas culturas apesar das diversas etnias, como apresenta
Barbosa Junior (2017). Cada vez mais, o Candomblé vem influenciando na vida social do
brasileiro através da sua cultura, das músicas e até na relação interpessoal. Antes, os negros
17
que eram escravos faziam suas celebrações como forma de conexão com seu continente
africano e hoje essa celebração é um resgate à ancestralidade.
O Candomblé é uma religião brasileira criada na Bahia pelos negros com diversas
tradições religiosas africanas, que teve contribuições dos indígenas, católicos e espíritas nessa
construção. Para Machado (2012), o processo de estruturação do Candomblé era feito nas
matas ou nas senzalas, não apenas como forma de conexão com os ancestrais, mas também
era propício para os grupos étnicos se reagruparam, já que quando chegavam ao Brasil eles
eram separados de forma estratégica para que não houvesse nenhum tipo de resistência.

2.2 Simbologia dos cultos candomblecistas


Segundo Machado (2012 apud LIGIÉRO, 1993) o nome Candomblé tem como
significado ação de adorar, dançar, cantar e venerar. Na África, os povos negros eram
divididos por nações/regiões, cada região era regida por um tipo de orixá fazendo assim uma
celebração monoteísta. No Brasil, devido à segregação estratégica, essas regiões ou nações
ganharam outras perspectivas, no território brasileiro eles ressignificaram esses cultos devido
a junção de nações em um mesmo espaço. Os cultos começaram a ser feitos em conjunto e em
segredo, por conta do poder dominante português sobre a conversão ao cristianismo, em
função disso:

[...] As consequências da imposição de uma outra concepção religiosa (Católica),


combinada com a identificação com elementos e entidades indígenas – Caboclos –
configuram uma típica inter-relação e correspondência entre distintas esferas de
espiritualidade a que se chama comumente de sincretismo (MACHADO, 2012 p.
33).

Para Barbosa Junior (2017), no mesmo tempo em que os portugueses obrigavam os


negros à conversão, os excluíam da participação dos cultos em reverência aos santos e é a
partir dessa proibição que surge uma comparação entre os orixás africanos e os santos
católicos para que, através desse modo, os negros pudessem manter as suas crenças vivas.
Segundo Piazza (1979), existiam cerca de 401 divindades africanas, no Brasil essas
divindades ganharam outras referências e outros nomes, essas modificações eram uma nova
forma litúrgica para que os negros não perdessem a fé.
As representações simbólicas dos cultos de Candomblé tem uma forte interferência na
vida dos candomblecistas, o modo de como vivenciavam seus rituais era um ato simbólico da
“melhor expressão possível de algo relativamente desconhecido, pois ele representa por
imagens, experiências e vivências” (SERBENA, 2010 p. 77). Esse ambiente ganhou o nome
18
de Terreiro devido ao amplo espaço que tinham como simbolismo da África. Os espaços de
cultos eram propícios para que cada um pudesse fazer a sua devoção aos seus orixás. Os
negros como forma de agregação faziam os cultos de maneira transcendental. Com isso,
surgiu, por volta de 1830 no estado de Salvador, essa organização de espaço, originado
através de uma filha de escrava liberta, tendo como início o primeiro espaço de terreiro fora
dos espaços das senzalas e das matas (BARBOSA JUNIOR, 2017).
No Terreiro, são feitos vários rituais simbólicos, como as oferendas, o axé, a
preparação do Ori e os cortes. As oferendas representam o propósito, as sensações e a aliança
do homem com o Orixá, atrelando a percepções de divindades. Jung compreende que a
psicologia e a religião juntas trazem uma linguagem de um simbolismo da alma, para que a
consciência e o inconsciente andem lado a lado, tornando assim conquistas espirituais para a
evolução do homem. Dessa maneira, segundo Goldbrunner (1961), a psicologia como ciência
entende que os símbolos são o modo religioso de viver.
O corte é um tipo de oferenda específica do Candomblé em forma de sacrifício vivo.
Nessa ação, tem como simbólico a representação do sangue para a movimentação do axé, o
sangue no Candomblé tem três tipos de cores: a vermelha, a branca e a preta. Cada uma delas
traz traços diferentes. Esse ritual simbólico é responsável pelos três reinos: o animal, o vegetal
e o mineral, o sangue vermelho traz como característica animal o próprio sangue vivo, o mel
como forma de sangue vegetal, e o cobre como referência mineral. Já o sangue branco tem
como reino animal, o sêmen, o vegetal, a seiva e o mineral o giz, e no sangue preto as
referências animais são as cinzas de animais mortos, o vegetal sumo escuro de plantas e no
mineral o carvão, como defende Barbosa Junior (2017).
Além disso, segundo Machado (2012), essas representações são o ponto crucial para
quem se dispõe a adentrar este modo religioso, é a iniciação, a cerimônia a qual o Candomblé
tem como finalidade a relação do indivíduo com sua divindade. Para essa mesma religião
essas conquistas têm como significado a responsabilidade em manter sua força sagrada vital
chamada de Axé (VERGER, 2002 apud MACHADO, 2012). O axé é a energia sagrada que
movimenta “a vida; força manifesta em todo ser vivente ou coisa existente na natureza. É a
energia e a força sagrada advinda dos orixás e pode se referir também a força mágica que
sustenta os terreiros do Candomblé” (ERISMANN, 2018). É desse modo que a fé no
desconhecido ou no imaginário traz essa força simbólica para o Candomblé. Assim,

[...] o homem tem de se libertar de qualquer estado de imaturidade demasiadamente


rígido ou categórico. Em outras palavras, esses símbolos dizem respeito à libertação
do homem - ou à sua transcendência - de qualquer forma de vida restritiva, no curso
19
da sua progressão para um estágio superior ou mais amadurecido da sua evolução
(JUNG, 2008 p.195).

A cabeça no candomblé é um estágio de evolução, pois ela é a ligação entre o


conhecimento e o espírito. Segundo a tradição Iorubá a cabeça, “trata-se, ainda, da
consciência presente em toda a natureza e seus elementos, guiado pelo o orixá” (BARBOSA
JUNIOR, 2017,p.65), é dessa forma que cada orixá escolhe o seu filho de santo, a quem
aquele Ori vai pertencer, será o responsável pela oferenda e os cuidados do assentos onde a
escultura simbólica do orixá vive.

2.3 Arquétipos dos santos católicos e orixás


Na África, a relação que os negros tinham com os seus deuses era de forma mais
proximal, pois eles acreditavam que o homem e os orixás eram iguais pelo fato de
vivenciarem do mesmo lugar terrestre; os mitos contam que os orixás, antes de serem
divindades, habitavam a terra e com essa passagem eles construíram, simbolicamente, uma
relação transcendental com os elementos da natureza. De acordo com Silva e Figueiredo
(2018), foi através desses elementos que as divindades ganharam características
representativas que as lendas e mitos contados foram passando de geração a geração.
Segundo Silva e Figueiredo (2018), os mitos vêm ganhando diferentes significados a
cada vez que são vivenciados. Sabemos que os povos africanos em sua terra de origem tinham
modelos de cultos monoteístas. Ao chegar ao Brasil, ganharam várias interpretações de mitos,
mas não mudavam os orixás. Jung (2008 p. 69) quando vem explicar sobre o arquétipo, faz
uma analogia de uma ave “tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho”, os
arquétipos quando ganham significado especial deixam de ser inconsciente e se tornam
conscientes pelo modo vivenciado.
Verger (2002 apud SILVA, FIGUEIREDO, 2018) alerta que o sincretismo parece ter
seguido uma lógica que vai de acordo com características semelhantes entre cada santo e o
Orixá, por mais que fosse confuso, sempre havia alguma caraterística que dava sentido para a
associação, essa relação, por exemplo:

[...] que Xangô, deus do trovão, violento e viril, tinha sido comparado a São
Jerônimo, representado por um ancião calvo e inclinado sobre velhos livros, mas que
é frequentemente acompanhado, em suas imagens, por um leão docilmente deitado a
seus pés. E como o leão é um dos símbolos da realeza entre os iorubás, São
Jerônimo foi comparada a Xangô, o terceiro soberano dessa nação (VERGER, 2002
p. 26)
20
As semelhanças dos Santos Católicos foram associadas com os Orixás de acordo com
o arquétipo que era constelado por esses povos, de acordo com as suas crenças e
conhecimentos. enquanto de uma forma individual, aqui no Brasil, a questão arquetípica
também se revelava individualmente (HOLANDA, 1998 apud SILVA, FIGUEIREDO, 2018).
Nos cultos de Candomblé há um modo de individuação específica para cada candomblecista,
onde a devoção é elaborada em conjunto, mas a adoração ao orixá é feita de maneira que a
representação arquetípica seja o criador de tudo que existe (SILVA, FIGUEIREDO, 2018). No
quadro abaixo podemos ver detalhadamente a respeito dos santos católicos e os orixás e suas
representações.

SANTOS CATÓLICOS ORIXÁS REPRESENTA

Diabo Exú Responsável pelo transporte


das oferendas aos orixás e
também pela comunicação.

Santa Bárbara Iansã Representando o


arrebatamento, a paixão ela
trabalha orientando os
desencarnados que estão à
margem da lei, para poder
encaminhar na outra linha de
evolução

Cosme e Damião Ibejis Contradição dos opostos que


se completam, representados
por gêmeos.

Nossa Senhora das Iemanjá Responsável pela união e


Candeias ou Nossa Senhora pelo sentido de família , seja
da Conceição, Nossa por laços sanguíneos ou não.
Senhora dos Navegantes ou
Nossa Senhora da Glória.

Santo Expedito Logun Edé Considerado príncipe dos


orixás, combina a astúcia
dos caçadores e a paciência
dos pescadores.

Nossa Senhora Sant’ana Nanã Responsável pela vida, pela


morte e pela maturidade ela
atua de forma racional na
vida dos seres
21

São Jorge Ogum Responsável pela aplicação


da lei, é vigilante e atento.

Jesus Cristo ou Senhor do Oxalá Responsável pela criação do


Bonfim mundo e do homem, pais de
todos os orixás .

São Sebastião Oxóssi Caçador, caça os espíritos


perdidos, buscando trazê-los
para a luz, representa a
sabedoria e conhecimento
espiritual a qual alimenta os
filhos fortalecendo-os com a
fé.

Nossa Senhora Aparecida Oxum Feminilidade, fertilidade,


maternidade, favorece a
riqueza espiritual e material
além de estimular
sentimentos.

São Bartolomeu oxumaré Responsável pela


comunicação entre céu e
terra, entre homem e
ancestralidade.

São Jerônimo Xangô Senhor da justiça,


representante da virilidade,
sensualidade e paixão

O Candomblé em toda sua história, como qualquer religião, se propõe a satisfazer as


necessidades afetivas dos seus, tendo como finalidade a busca de um sentido para a vida
(BARBOSA JUNIOR, 2017). O ser humano de hoje tem como objetivo resgatar a herança
dos seus ancestrais, as tendências inatas revelam-se também psiquicamente, e são guardadas
nos caminhos mais profundos do inconsciente onde se encontra toda da história da
humanidade - “[...] refletir de forma profunda sobre a relação que o homem estabelece com
seus deuses e os rituais de cada sociedade” (SILVA, FIGUEIREDO, 2018 p. 12)

3. ASCENSÃO DO NEGRO BRASILEIRO


3.1 Ascensão do negro brasileiro período escravista
Neste último capítulo, iremos contextualizar o ser negro na sociedade, através dos
movimentos sociais que surgiram no período do fim da escravidão e pós-abolição.
22
Abordaremos como esses movimentos sociais contribuíram para o processo de individuação
do negro candomblecista. No Brasil, hoje, o negro candomblecista passa por um processo a
mais, pois uma boa parte da sociedade ainda não conhece a religião do candomblé apesar de
ser criada no país. Há uma ignorância desenvolvida em forma de intolerância religiosa que
vem acompanhada de discriminação e preconceito racial.
No Brasil, houve um período na literatura, em que afirmavam que o negro escravizado
sofria passivamente as violências praticadas pelos brancos. Diante dessa construção da ideia
de passividade, as crenças sobre um povo cuja classificação de sofredor passivo interferiu na
concepção do inconsciente coletivo, afetando, assim, no imaginário social a respeito dos
antepassados negros. Essas ideias interferem na visão que temos sobre pessoas negras e de
como elas se relacionam com elas mesmas. Isso, segundo Munanga Gomes (2016), intervém
na idealização da identidade negra.
Ainda segundo os teóricos, para entendermos que tipo de estratégias ressignificaram
essa construção identitária, precisamos compreender alguns dos momentos históricos e o que
significava ser negro no Brasil Colônia. Observando uma concepção tradicionalista que
definia o negro economicamente, politicamente e socialmente como seres inferiores e não
possuindo um ponto de vista positivo, o negro se viu obrigado a entender que o branco era o
único modelo de identidade adequada para se torna livre na estrutura de ascensão social
(SOUZA, 1983).
Segundo Foucault (1977 apud SOUZA, 1983, p. 21) “o negro era paradoxalmente
enclausurado na posição de liberto: a ele cabia o papel do disciplinado - dócil, submisso e
útil”. Por conta desse posicionamento, o negro se via numa ruptura entre duas ideias, essas
divisões davam-se por conta de um lado que se confirmava com a vida de escravo e o outro
queria ir além da associação de negro como sinônimo de miséria. Foi a partir desse segundo
posicionamento que surgem os quilombos no Brasil. Erroneamente, fazia-se um
pré-julgamento a respeito do lugar desse grupo, pois era relacionado como “refugio de negros
escravos fugitivos [...]. Insistir em tal conceito significa negar ou tornar invisível o verdadeiro
sentido e a história dos quilombos” (MUNANGA e GOMES, 2016, p. 70).
Podemos entender que um dos primeiros movimentos sociais negros foram os
quilombos. A palavra Kilombo tem origem Banto, que ganhou referência por conta de
instituição sociopolítica militar na África Central. Na África, o quilombo era uma associação
de homens, mas era frequentado por todos os gêneros. Nessa associação, as pessoas tinham
treinamento inicial de coguerreiros. No final do século XIX, no Brasil, os quilombos
23
ganharam um sentido de luta, inspirando-se nas associações africanas, os escravos adquiriram
habilidades como uma forma de resistência, conforme apresenta Munanga e Gomes (2016).
Durante toda a existência do regime escravista, os escravos se organizavam de
diferentes modos como, por exemplo: nos quilombos eram simbolizados pelas fugas e pelo
abrigo e tinham também as insurreições das revoltas contra as autoridades dos senhores de
engenho. Um dos movimentos que teve grande impacto na década de 1880 foi a revolta dos
negros com os senhorios do café na Região de São Paulo, instigados pelo sentimento de
liberdade e pelas influências dos abolicionistas. Os escravos fizeram um movimento que
gerou caos e pânico nas casas de engenho, segundo Machado (1994 apud MUNANGA,
GOMES, 2016) esse movimento social foi o maior da década da abolição.
Foi através de movimentos que os negros foram intitulados de marginais pela
sociedade branca. A marginalização ao povo negro tem força até nos dias atuais, porém temos
que compreender que a criminalidade entre os escravos não era apenas dos escravos que
habitavam no Brasil, mas também daqueles que recém chegavam traficados. Esse sentimento
fazia parte de um inconsciente coletivo que marcava a história do povo negro brasileiro na
forma de resistência (MUNANGA, GOMES, 2016).

3.2 Acensão dos movimentos negros na conteporeanidade


Após tantas revoltas e movimentos sociais, em 11 de maio de 1888, foi levada à
princesa regente do Brasil, Isabel, a proposta de uma total liberdade ao povo negro, e em de
maio de 1888, Isabel e o Ministro da Agricultura da época, Rodrigo Augusto da Silva,
assinaram a lei que aprovava a abolição da escravatura no Brasil. Dessa maneira, os escravos
tinham o direito de receber sua carta de alforria. Então, o período pós-abolição foi marcado
por uma era mal planejada para o negro. Algumas pessoas na sociedade criaram um
imaginário social que, com a assinatura da Lei Áurea, a vida negra ganharia um
reconhecimento. Nesse período, contudo, o negro se viu numa posição que necessitava
reconstruir um novo processo de individuação de como ser livre, conforme explicita Munanga
e Gomes (2016).
Surgiu, então, em 1931, um movimento social chamado de “Frente Negra”. Tinha o
objetivo de educar os negros libertos para que essas pessoas pudessem ter uma nova
perspectiva de vida. Com o passar dos anos, a Frente Negra ganha força e em 1936 decide
formar um partido político para defender os direitos da população negra dentro do congresso.
Alguns dos membros não concordaram com a posição da frentenegrinas, mas, posteriormente,
acabaram aceitando. Porém, em 1938, o Brasil sofreu um golpe de estado e, conforme
24
Munanga e Gomes (2016), os partidos políticos deixaram de existir devido às crises
institucionais.
Para os negros brasileiros, os frentenegrinos tiveram uma grande representatividade,
pois desempenharam o papel que era função do Estado com a sua comunidade. Em 1964, o
golpe militar representou uma derrota para a luta social em questão, ainda que temporária: os
militares desarticularam uma coalizão de forças que surgiu naquele período. Nela, se
levantavam para fazer enfrentamento do “preconceito de cor” no país. Como consequência, o
Movimento Negro organizado entrou em refluxo, devido aos protestos contra o governo da
época. Em retaliação às revoltas, os seus militantes eram estigmatizados e acusados pelas
forças armadas de terem criado uma problemática que supostamente não existia para o
exército, a respeito do racismo no Brasil, como defende Domingues (2007).
Na década de 70, houve uma reorganização política voltada para o antirracismo, no
bojo da ascensão dos movimentos populares, sindicais e estudantis. Em Porto Alegre, nasceu
o Grupo Palmares, em 1971. Foi o primeiro no país a defender a substituição das
comemorações do 13 de maio para o 20 de novembro, data que é destinada à comemoração do
dia da consciência negra, momento em que nós refletimos a respeito das politicas públicas
para os negros e da compreensão das lutas feitas em prol da abolição. Entretanto, tais
iniciativas, além de fragmentadas, não tinham um sentido político de enfrentamento com o
regime. Conforme Domingues (2007), após o desmanche da frente negra, em 1978, surge a
fundação do Movimento Negro Unificado. A partir disso, tem-se a volta à cena política do
país o movimento negro organizado.
Para incentivar o negro a assumir a sua condição racial, o Movimento Negro
Unificado resolveu não só reconfigurar o termo “negro” de sua conotação pejorativa, mas deu
um novo olhar que adotou oficialmente para designar todos os descendentes de africanos
escravizados no Brasil. Assim, essa nova perspectiva passou a ser usada com orgulho pelos
ativistas, o que, segundo Domingues (2017), não aconteceria tempos atrás, no governo do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, houve o então reconhecimento oficial
da existência do racismo no Brasil. Com essa gestão, foi possível proporcionar oportunidade
referente às políticas públicas. Após muitos debates no governo seguinte, o de Luís Inácio
Lula da Silva, foi criado um conjunto de ações direcionado para a população negra, inclusive
leis de consciência educacional, conforme apresenta Silva (2011).
A Lei 10.639 foi articulada como ação preventiva no combate ao racismo, ela tornou
obrigatório o ensino de História, bem como o de Cultura Africana e Afrobrasileira nas
escolas. Ainda segundo Silva (2011), nesse período, o patrimônio cultural de origem africana
25
começou a ser valorizado nas políticas públicas governamentais, incluindo o tombamento de
terreiros. O discurso tanto da negritude quanto do resgate das raízes ancestrais conduziu o
comportamento da militância para uma nova visão do negro em sociedade e é através desse
movimento que o negro ganha uma estruturação simbólica para desenvolver sua individuação
nos dias atuais.

3.3 O processo de individuação do negro candomblecista


Como apresentado anteriormente, o homem negro desde o seu processo de
pós-abolição busca um sentido para a vida e no século XXI não é diferente. A identidade
negra se constrói gradativamente, em um movimento que envolve inúmeras variáveis, causas
e efeitos, desde as primeiras relações estabelecidas no grupo social mais íntimo. É entendida,
aqui, como uma construção social, histórica, cultural, que vai acarretar em uma formação do
olhar de um grupo sobre si mesmo, ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo racial, a
partir da relação com o outro. Referente a essas colocações, Souza (1983, p. 77) vem afirmar
que:

Ser negro é, além disso, tomar consciência do processo ideológico que, através de
um discurso mítico acerca de si, engendra uma estrutura de descobrimento que o
aprisiona numa imagem alienada, na qual se reconhece. Ser negro é tomar posse
desta consciência e criar uma nova consciência que reassegura o respeito às
diferenças e que reafirma uma dignidade alheia a qualquer nível de exploração.
Assim, ser negro não é uma condição dada, a priori, é um vir a ser. Ser negro é
tornar-se negro.

Ouane et al (2005) afirma que ao construir uma identidade negra positiva em uma
sociedade que, historicamente, ensina aos negros, desde muito cedo, que para ser aceito é
preciso negar-se a si mesmo, é um desafio enfrentado por essa população, sendo entendida
como um processo contínuo construído pelos negros nos vários espaços. É através dessas
novas percepções de vida que Souza (1983) traz o seu pensamento sobre o mito negro, ele se
configura em produzir uma singularidade para o problema do negro em sociedade, este mito
vai travar um desafio de modo que cause um rompimento com a submissão.
O mito negro constituído de anseios de um mundo opressor tem como foco fortalecer
uma conquista de identificação com os ancestrais. Segundo Souza (1982), essa reinvenção da
identidade negra reflete ao povo negro candomblecista. Contudo, essa concepção não veio de
forma gratuita, mas aponta para a intelectualização e politização da população afrorreligiosa.
O processo de individuação do negro candomblecista é marcado pela violência racial e pela
intolerância religiosa. Hoje, esses impasses ainda são pertinentes, pois o racismo é a base
26
estruturante de diversas violações no país. Dentre elas, podemos considerar a violação do
direito ao culto, em que os candomblecistas negros são os mais afetados psicologicamente.
Em vista disso, Rodrigues (2021) defende que o racismo religioso tem um sentido de uma
discriminação contra um povo etnicamente distinto de outros que habitam o território
brasileiro.
Segundo Rodrigues (2021), quando o racismo ataca a religiosidade negra, atinge todo
um complexo cultural afro que se manifesta nos terreiros, pois é a cultura que dá sentido de
vida aos candomblecistas, pois o candomblé é uma tradição cultural expressa numa religião
que cultua a natureza e o ser humano na sua forma intrínseca e extrínseca, sendo que essa
religião carrega em si uma riqueza de manifestações culturais que lhes são próprias.
O preconceito, a discriminação e a intolerância se caracterizam pelas formas perversas
de julgamentos precipitados, sustentados pela ignorância, pelo moralismo e pelo
conservadorismo. Conforme Pereira (2017), essas situações são consideradas racismo que
discrimina a religião de determinados povos e, ao mesmo tempo, discrimina esses povos que
ela representa, os quais culminam em ações prejudiciais a determinados grupos de pessoas.
Ainda segundo Pereira (2017), a preservação dos costumes religiosos representou muito mais
do que a valorização de aspectos meramente culturais, ela motivou uma forma de resistência
ao sistema hegemônico que tem pensamentos dominantes, bem como o fato de os negros
candomblecistas sempre serem alvos de intolerância no Brasil.
Pereira (2017) nos faz refletir que, com o avanço da ideia de uma suposta democracia
racial no país, a intolerância religiosa, assim como o racismo e a discriminação racial ganham
características ocultas. Contudo, surgem novos ataques e novas formas de aniquilação contra
os negros candomblecistas, fazendo, dessa maneira, uma reafirmação socio-historico-cultural
de uma formação preconceituosa do Brasil. A intolerância, atualmente, é o reflexo da
perseguição declarada no passado pela igreja católica. Logo, em vista desses problemas
sociais, o candomblé para o negro candomblecista representa muito mais do que a
espiritualidade em suas relações com suas divindades, pois traz a resistência secular de seus
ancestrais, produzindo uma importância na luta contra a dominação e opressão negra.
27

4. CONCLUSÃO
Compreendemos que, mesmo após décadas de lutas travadas pela negritude brasileira,
ainda estamos longe de vivenciar uma igualdade de liberdade religiosa, política, cultural,
racial, entre outras. Mesmo em pleno século XXI, ainda nos deparamos com situações de
racismo e preconceito estrutural, perpassando por todas as camadas sociais, jogando de forma
arbitrária a população negra à subalternidade, sendo vista como uma raça inferior. Esses
impasses são atribuídos também à cultura e à religiosidade de pessoas negras, que por décadas
a religião dessa sociedade não era vista como tal.
Atualmente, a legislação brasileira deu um passo importante na tentativa de solucionar
vários problemas históricos, porém com a falta de fiscalização e mecanismos de controle
infelizmente muitas leis ficam apenas no papel, deixando a população negra à mercê da
própria sorte. Falar sobre o processo de individuação da negritude candomblecista vai além da
esfera religiosa, pois se trata de uma identificação e afirmação negada historicamente a preço
de muito sangue. Hoje, não é diferente. O sangue do povo negro continua sendo derramando,
já que continua buscando seu lugar de direito que lhe foi retirado.
Dessa maneira, seguindo por este caminho, é possível perceber que as produções
acadêmicas e científicas são escassas no Brasil diante da produção eurocêntrica, havendo a
necessidade de maior aprofundamento neste tema. Assim, esperamos que este trabalho
contribua como mais uma ferramenta investigativa, tendo em vista que este assunto é bastante
vasto para ser apreciado em uma totalidade. Em suma, reconhecer o direito de fala e
autoridade da negritude não é um favor que se faz, mas sim é uma reparação histórica,
devolvendo aquilo que foi retirado à força desta população: sua dignidade e humanidade.
28

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-content-disposition=inline%3B+filename%3DA_PRESENCA_DOS_ARQUETIPOS_NO_S
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30
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SOUZA, Neusa Santos. Torna-se negro: as vicissitude da identidade do negro brasileiro em


ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
31

ANEXO
32

TERMO DE RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO ÉTICO DE


AUTORIA

Eu, THAYS KARYNE BARBOSA DA SILVA, estudante regular do curso de


PSICOLOGIA da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda, sob o número de matrícula
201710285, declaro, para os devidos fins de direito, que o projeto de pesquisa para a
monografia do trabalho de conclusão de curso intitulado PSICOLOGIA E RELIGIÃO: O
PROCESSO SIMBÓLICO DAS ESTRUTURAS ARQUETÍPICAS NA
INDIVIDUAÇÃO DO NEGRO CANDOMBLECISTA é de minha autoria, tendo sido
elaborado com a observância ao princípio do respeito aos direitos autorais de terceiros e em
conformidades às normas estabelecidas por esta Instituição de Ensino Superior (IES).
Declaro, ainda, que as citações e referências foram elaboradas sob as normatizações da
ABNT. Estou ciente, portanto, de que o ato de plágio ou realização de qualquer outro meio
ilícito na produção de trabalhos acadêmicos configura fraude, passível de sanções em
conformidade ao Regimento desta IES, das quais também declaro ter plena ciência. Declaro
também que tenho conhecimento de que o plágio constitui crime previsto no art. 184 do
Código Penal Brasileiro e que arcarei com todas as implicações civis, criminais e
administrativas, caso incorra nesta prática. Por fim, estou ciente de que este trabalho precisará
ser apresentado em comunicação oral pública para a comunidade acadêmica a fim de sua
conclusão, em data e horário agendados pela Coordenação do Curso.

Olinda, 07 de 10 de 2021.

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Assinatura do/a Estudante

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