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Todos os anos a cidade de Oeiras-PI, reconhecida até hoje como a capital da fé,
apesar de já não ser mais a capital do Piauí, carrega consigo uma história colonial
singular, regulada imageticamente e simbolicamente polos ditames e poderes
imaculados da igreja. Ponto alto da Semana Santa, momento onde centenas de fiéis
reencenam os paços de jesus até o momento da sua ressureição, é a procissão do
fogaréu, momento em que os homens encenam a perseguição dos soldados romanos
em busca da sua imagem e semelhança. Os homens saem portando tochas de fogo
em perseguição ao senhor, anunciada pelo som do clarim e uma bandeira da imagem
de cristo, como representação do seu aprisionamento.
O silêncio ensurdecedor lançado com essa pergunta assola o coração de muitos fieis,
que sem respostas põem-se em silêncio, observação e reinterpretação.
Seguindo a direção entoada pelo som dos sinos somos lançados a operar em dois
modos: um que resplandece o júbilo, alegria, euforia e outra envolta e enclausurada
pela contrição, tristeza e luto, contrição aqui assume o significado de uma criação
cristã que expressa o arrependimento pelos próprios pecados. No jardim paradisíaco
uma serpente aguarda ansiosa pela chegada dos homens que atiçados pela traição
ao senhor são lançados para fora do reino prometido. A arte como metáfora se aplica
e se reveste das peles de cobras rasteiras e traiçoeiras, seduzida pelo conhecimento,
independência, liberdade, prazer e autonomia lança os homens a um questionamento
crucial do nosso tempo espiralar: Qual é a imagem e semelhança dos homens? Essa
imagem perpetua poder e controle ou uma construção comunitária rumo a paz?
Aqui a máquina do tempo paira sobre cabeças inconformes e corpos marcados por
linhas temporais forçadas a repetições socialmente controlados por regimes de
violência excludentes, que definem e ordenam os modos de vida, morte e a própria
visão do mundo que nos foi dado a conhecer, reconhecendo os limites imagéticos e
sonoros orientados pelas imagens reproduzidas nas igrejas e museus e os sons que
soam despertando o povo para os elos imaculados previamente organizados.
Nesse sentido, proponho lançar não mais as tochas acessas rumo a iluminação dos
caminhos em busca da imagem e semelhança do senhor, mas sim um apagão, capaz
de desorientar, reorientar e reordenar os corpos em busca de elementos que
extrapolem as representações imagéticas e sonoras perpetuadas nos espaços
públicos destinados a arte na cidade de Oeiras-PI. O projeto se inicia pois em um
processo de escuta e aprendizagem juntos a comunidades tradicionais da referida
cidade, em busca de narrativas outras, descentralizadas e a margem dos discursos
perpetuados e reinterpretados. A partir disso, proponho a criação de uma obra
audiovisual que mescla texto ensaio, teatralidade, ficção documentária e sussurros
sonoros buscados no contexto real vivenciado pela população.
Objetivos:
Produção:
Execução:
Referências: