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A CRISE DOS ALIMENTOS E OS REFLEXOS NA AQUICULTURA BRASILEIRA

Eduardo Gianini Abimorad


Zoot., Dr., PqC do Polo Regional Noroeste Paulista/APTA
abimorad@apta.sp.gov.br

Giovani Sampaio Gonçalves


Zoot., Dr., PqC do Centro do Pescado Continental - Instituto de Pesca/APTA
gsgoncalves@pesca.sp.gov.br

Daniela Castellani
Biol., Dr.,PqC do Polo Regional Noroeste Paulista/APTA
daniela.castellani@apta.sp.gov.br

O salto que as commodities agrícolas deram nestes últimos meses agravou a crise nas
cadeias das carnes no Brasil e na Europa, principalmente para os setores de produção de
aves e suínos e consequentemente para demais atividades envolvidas no setor. O preço do
farelo soja e do milho em alta desde o início do ano está relacionado á grande exportação
desses produtos para diversos países no mundo, com destaque para quebra na produção
americana devido às condições climáticas e também, ao crescimento desenfreado do
consumo de alimentos pelos países asiáticos.

O milho e o farelo de soja são ingredientes básicos nas rações animais. Para se ter uma
idéia, de dezembro de 2011 para cá, o farelo de soja praticamente dobrou o preço e o milho,
somente em agosto de 2012 já foi reajustado em torno de 20%, como pode ser observado
nas Figuras 1 e 2, as quais mostram a variação de preço por tonelada do milho e farelo de
soja para uso nas indústrias de rações no estado de São Paulo.

No caso das indústrias de rações para aquicultura, a busca por alimentos alternativos, tanto
de origem animal como vegetal, tem sido desesperadora para substituir principalmente a
proteína do farelo de soja. Isso gerou um caos na disponibilidade e qualidade das matérias-
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primas uma vez que, oportunistas acabam por fraudar matérias primas em busca de maior
lucro no momento da comercialização.

Fig. 1 - Evolução do preço do milho Fig. 2 - Evolução do preço do farelo de soja


(R$/tonelada) nos últimos 12 meses, para a (R$/tonelada) nos últimos 12 meses, para a
indústria de ração na região noroeste indústria de ração na região noroeste
paulista. Dados levantados por Giovani paulista. Dados levantados por Giovani
Gonçalves em uma indústria de ração no Gonçalves em uma indústria de ração no
Estado de SP. Estado de SP.

Dentre os produtos com elevada alta no mercado devido ao preço do farelo de soja,
destacam-se os subprodutos de abatedouros avícolas como a farinha de vísceras e de
penas (Figura 3), assim como a farinha de carne e ossos (Figura 4) e a farinha de sangue,
as quais estão cada vez mais escassas no mercado. Tal fato se deve ao grande consumo
destas matérias primas por integrações produtoras de aves e suínos, que antes utilizavam
um maior percentual de farelo de soja nas rações e atualmente acabam por consumir um
volume antes jamais utilizado das fontes protéicas de origem animal.

Fig. 3 - Evolução do preço das farinhas de Fig. 4 - Evolução do preço das farinhas de
pena e de vísceras de aves (R$/tonelada) pena e de vísceras de aves (R$/tonelada) nos
nos últimos 12 meses, para a indústria de últimos 12 meses, para a indústria de ração
ração na região noroeste-paulista. Dados na região noroeste-paulista. Dados
levantados por Giovani Gonçalves em uma levantados por Giovani Gonçalves em uma
indústria de ração no Estado de SP. indústria de ração no Estado de SP.

Pesquisa & Tecnologia, vol. 9, n. 91, setembro de 2012


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Com a elevação dos preços das matérias primas apresentados na Figura 3, fontes protéicas
alternativas como o farelo de algodão, farelo de girassol, farelo de amendoim entre outros,
vem sendo utilizado de forma a possibilitar a produção de rações para a aquicultura, pois,
além de estar em alta à indisponibilidade das matérias primas dificultam a produção,
fazendo com que a qualidade também possa ser alterada e consequentemente os reflexos
dos resultados sejam percebidos no campo. Apesar de todos os esforços despendidos pelos
nutricionistas de forma a manter a qualidade e o melhor custo benefício das rações para
peixes, a atual situação compromete a digestibilidade dos alimentos, principalmente, devido
à qualidade das matérias primas e também, pela necessidade de uso de alimentos os quais
anteriormente eram utilizados com maiores limitações ou restrições de inclusão.

Essa conjuntura faz com que o conhecimento e as pesquisas na área de nutrição sejam
mais eficientemente utilizados, possibilitando a produção de rações que atendam o mais
próximo às exigências das espécies em produção. No entanto, mesmo com a elevação dos
preços das rações (Figura 5), estas não conseguem acompanhar o aumento dos preços do
mercado de matéria prima, pois o produtor não está apto a este impacto em tão curto
período e também, pelo fato de muitas vezes não viabilizar economicamente a compra deste
insumo com custos mais elevados. Em alguns casos as indústrias têm produzido, rações
com baixa qualidade para que possam ser comercializadas a preços menores.

Fig. 5 - Evolução do preço médio (R$/saco de 25kg) da ração 32% PB para tilápia do Nilo produzida em
sistema intensivo. Preços médios desde o inicio do ano, praticado na região noroeste-paulista. Dados
levantados por Giovani Gonçalves em uma indústria de ração no Estado de SP.

Pesquisa & Tecnologia, vol. 9, n. 91, setembro de 2012


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Desta forma, pode em algumas situações ocorrer o uso de rações com baixa digestibilidade
e níveis de nutrientes reduzidos que não atendam às exigências para o bom desempenho
da espécie principalmente, em produções intensivas. A situação poder ser prejudicial à
saúde dos peixes e consequentemente, aumentar a excreção de nutrientes para o meio
ambiente, piorando a qualidade de água e possibilitando o aumento na taxa de mortalidade
em momentos de manejo intensivo (classificações e carregamento de peixe vivo),
principalmente em altas temperaturas (acima 30°C).

O papel da pesquisa

Nas últimas décadas, uma série de teses e artigos científicos foi gerada com intuito de
mostrar resultados, principalmente, de desempenho e respostas fisiológicas dos organismos
aquáticos para eventuais substitutos á farinha de peixe, considerada um alimento padrão
para rações aquícolas. Não distante disso, o farelo de soja acabou sendo a fonte protéica
mais estudada e utilizada em dietas comerciais, e que atualmente é quem precisa ser
substituído.

Mesmo sabendo que este momento de crise tende a passar e, os preços voltarem à
normalidade, por mais que demore uma ou mais safras, como previsto pelos setores
especialistas (SINDIRAÇÕES), a pesquisa deve continuar desenvolvendo respostas ao
imponderável, visto que, esta mudança súbita de cenário foi devido a um choque climático,
que a qualquer momento está apto a acontecer novamente.

Lançado o desafio, cabe ao setor produtivo gerar as demandas (apresentar os alimentos em


potencial a serem estudados, por exemplo) e aos Centros de pesquisas gerarem resultados
e transferência de conhecimento para reduzir custos, porem sem perder o foco em manter o
desempenho produtivo e a saúde dos peixes, assim como manter a qualidade do ambiente
aquático.

Pesquisa & Tecnologia, vol. 9, n. 91, setembro de 2012

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