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A Praça do Rossio, Carlos Mardel

Após a estabilização dos projetos da Praça do Comércio, a atenção passará para a praça do Rossio. Esta praça foi
projetada por Carlos Mardel, que tentou sempre seguir os planos de Eugénio dos Santos, mas enriquecendo-os,
juntando-lhes algumas caraterísticas suas86. Até este momento, Pombal esteve mais atento à construção das ruas
principais e depois à Praça do Comércio, mas, a 19 de junho de 1759, começou o planeamento da praça que, por muito
tempo, até aquele momento, teria sido a principal da cidade. Este espaço tinha como proprietários principais a
Inquisição, os Dominicanos e o Hospital Real 87, juntando-se-lhes outros proprietários individuais. Antes do terramoto,
esta praça era formada por um retângulo irregular de 180 metros de largura 88. O lado norte era ocupado pela
Inquisição e pelo Senado da Cidade. No lado nascente estavam instalados o Convento dos Dominicanos e o Hospital de
Todos os Santos que, após o terramoto, estava reduzido a ruínas.

Embora os planos de Eugénio dos Santos para esta praça fossem simples e abstratos, não deixaram por isso de ser
seguidos pelo arquiteto que lhe sucedeu, deixando apenas de lado a ideia do local do Convento e do Hospital. O projeto
baseava-se na regularização da praça, posicionando-a ortogonalmente com as ruas da nova Baixa e a própria Praça do
Comércio, aproveitando a forma primitiva. Nos projetos de Eugénio dos Santos nota-se uma grande falta de atenção a
esta praça, que antes fora um dos principais fóruns de Lisboa e onde estava a sede da Inquisição. Após a morte do
arquiteto, a praça irá ter mais atenção por parte do sucessor, e, desta maneira, irá receber, embora sem comparação
em relação à Praça do Comércio, uma maior monumentalidade e personalidade, distinguindo-se, mas, ao mesmo
tempo, integrando-se com uma grande perícia, no resto da reconstrução da Baixa Pombalina. O estudo para a
realização da praça começou com o lado Sul, que iria ser trabalhado de maneira a relacionar-se com o novo edifício da
Inquisição.

O Palácio da Inquisição foi construído no mesmo local que o antigo, tendo sido demolido em 1836, uns anos após
o fim desta instituição em Portugal, para dar lugar ao Teatro Nacional de D. Maria II. O palácio era composto por dois
andares, por cima de um rés-do-chão, sendo todos os andares constituídos por catorze vãos. O último andar, com
janelas mais reduzidas, era composto por mezzanines. A parte central, com sete janelas de cada lado, ocupava larga
parte da fachada e era coroada por um frontão triangular decorado com um brasão das armas reais e dominado por
uma estátua. O que existiria de mais monumental neste edifício estava concentrado no seu frontão, que juntava um
grande balcão da varanda com um portal barroco 89. Debaixo desse portal abria-se uma porta demasiado estreita. Estas
caraterísticas mostram um edifício simples, do qual apenas conseguimos ter uma perspetiva a partir de desenhos e
gravuras feitas na altura. Mas é certo que teria uma grande falta de monumentalidade, contrariamente ao que seria a
lógica de pensamento para o projeto, dada a importância deste edifício para os valores daquela época. Este edifício

86
Lisboa Iluminista e o Seu Tempo, UAL, Universidade Autónoma de Lisboa, Actas Colóquio, pág.16, Lisboa Pombalina e a Estética
do Iluminismo, José Augusto França
87
FRANÇA, José Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Segunda edição revista e aumentada, Livraria Bertrand, Lisboa, cap. IV,
Urbanização da Nova Lisboa, pág. 124
88
FRANÇA, José Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Segunda edição revista e aumentada, Livraria Bertrand, Lisboa, cap. IV,
Urbanização da Nova Lisboa, pág. 124
89
FRANÇA, José Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Segunda edição revista e aumentada, Livraria Bertrand, Lisboa, cap. IV,
Urbanização da Nova Lisboa, pág. 126

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