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PRAÇA, s.f.

Lugar público, cercado de edifícios; largo; mercado; o conjunto das


casas comerciais de uma cidade, o seu comércio; circo; leilão; vila ou cidade
fortificada; etc.

Pela descrição de Praça tirada de um dicionário, diria que, mesmo se fosse


leiga, entenderia que praça é um lugar de muitos acontecimentos sociais e de
vital importância para uma cidade.
De mercado a circo passando por comércio e demais funções que este lugar
possa abrigar, entende-se que, mesmo não tendo uma única definição para essa
palavra, este espaço deve ser criado com o cuidado de quem projeta uma praça
pela primeira vez.
Como definição, acho que os autores do livro Praças Brasileiras, Fábio Robba e
Sílvio Soares Macedo usam as palavras perfeitas:

Praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da


população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos.”

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A ORIGEM DO ESPAÇO LIVRE
Praças Gregas

Os gregos tinha um entendimento todo único de “cidade organizada”. Isso


refletia na sua arquitetura, seus costumes e até mesmo nas suas atitudes em
relação à eventual superpopulação.

Naquela época, falo de meados de 3 d.c, no entender da população grega em


relação a si própria é que a população deveria ser numerosa o suficiente para
formar um exército na guerra, mas não tanto que a impeça o funcionamento da
assembléia, isto é, que permita aos cidadãos conhecerem-se entre si e
escolherem seus magistrados. Se ficar por demais reduzida, é de temer a
carência de homens; se crescer demais, não é mais uma comunidade ordenada,
mas uma massa inerte, que não pode governar-se por si mesma.
Nessas cidades, não havia zonas fechadas ou independentes nem espaços
reservados a determinadas classes ou estirpes, exceto, logicamente, as
residências. Nessa mesma organização existiam três zonas: as áreas privadas
(residências), as áreas sagradas (templos dos deuses) e as áreas públicas que
eram destinadas às reuniões políticas, ao comércio, ao teatro, aos jogos
desportivos, etc.

Somente nesta pequena descrição da cidade grega, observamos que havia um


zelo pela qualidade de vida e que o espaço aberto estava diretamente ligado a
isso.

Outra prova disso é que, quando a cidade atingia a sua “população máxima” um
grupo era organizado para deixar a cidade e formar outra vila ou cidade em
outro lugar não muito distante dali.
Mesmo com poucos habitantes, a nova cidade começava a ser construída a
partir das residências mas já com lugar reservado para os templos e demais
prédios públicos.

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A ORIGEM DO ESPAÇO LIVRE


Praças Romanas
O desenvolvimento das cidades européias não se deu numa constante. Por mais
estranho que possa parecer, Roma, em meados do século XV, era um pequeno
centro abandonado e empobrecido, enquanto Florença, Veneza e Nápoles eram
cidades formadas.

A Igreja, depois de inúmeras tentativas, resolve transformá-la numa cidade


moderna sob a autoridade de um Papa, ou seja, reconstruir o que estava em
ruínas e recuperar o que não era utilizável. E começa a reconstrução liderada
pela Igreja e engajada em satisfazer seus interesses. O tecido emaranhado de
uma cidade medieval é cortado sem hesitações para dar lugar a novas ruas
retilíneas e, principalmente, Igrejas.

Á frente dessas Igrejas, na maioria das vezes havia praças abertas para a
recepção de fiéis ou, quando não dessa função, recepcionavam feiras mais
modestas ou apensa transeuntes.

Essas praças, por uma questão de praticidade ou despreocupação era,


geralmente, desprovida ou com uma vegetação rarefeita, já que havia parques
maiores na cidade.

Não por acaso, essas “piazzas” que haviam em frente as igrejas, não raramente
recebiam estátuas, obeliscos, fontes, etc. tudo intencionalmente em grande
escala para que o cidadão se sentisse diminuto em relação à Igreja.

Essa atitude da Igreja em relação aos seus fiéis ocorreu em grande parte da
Itália.

Gravura da praça da Igreja Sta Maria Maggiore, (esq.) seu espaço e marcos.
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A ORIGEM DO ESPAÇO LIVRE


Praças Medievais

As cidades medievais, por terem surgido numa época de batalhas por reinos e
terras, tem uma arquitetura semelhante. Grandes fortificações que cercam uma
cidade espremida junto à uma igreja ou castelo.

De uma forma geral essas cidades se desenvolveram normalmente (como


Milão) mas há exceções fazendo com que esses lugares ficassem como que
parados no tempo mantendo o aspecto e os limites de séculos atrás. Nessas
cidades, geralmente havia uma pequena praça no meio do vilarejo, logo à frente
do castelo que, normalmente era a primeira construção naquele local e a qual
originava o vilarejo. Essas praças, assim como tantas outras surgidas em
épocas e lugares diferentes, serviam para festas públicas, feiras e mercados,
dentre tantos outros usos que esta poderia ter.

Assim como esta localizada na Itália, outras cidades que se expandiram até
seus limites máximos como Veneza, acabaram por ter várias pequenas e
médias praças, quase todas desprovidas de vegetação e uma grande praça
(Piazza San Marco) que, como a grande maioria das praças italianas, tinha
como cenário principal a igreja e o palácio da monarquia local. (Palazzo Ducale).
Foto da cidade Italiana de Carcassone. Não modificada desde a Idade Média

Outro exemplo clássico de cidade medieval é Siena, na região da toscana. Vista


de longe ela tem o mesmo aspecto apertas e cercada de grandes muitos. Esta
cidade, no entanto possui, sem que para isso fossem necessárias modificações,
uma grande praça central em forma de leque. Nesta praça, diferente de tantas
outras, o edifício principal é um prédio público e a igreja, como se pode ver na
figura, está um pouco distante.
Esta praça, também como as outras, serve de palco para manifestações,
passeios, corridas famosas feitas desde o período medieval como forma de
entretenimento como o Pálio que atrai milhares de turistas todos os anos.

Imagens presas nas paredes de uma cafeteira localizada nesta praça, denuncia
ao usos que a mesma já teve desde o século XVIII.

Entre as imagens, encontramos feiras, apresentações de teatro, crianças


brincando e, em grande maioria, senhoras passeando.

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A ORIGEM DO ESPAÇO
Praças Renascentistas

No século XV, o Renascimento é praticamente restrito à Itália. Durante o século


XVI, suas idéias expandem-se por toda a Europa. O termo Renascimento
significa “nascer de novo”, isto é, a volta do olhar às formas artísticas da
Antiguidade Clássica – Grécia e Roma – como motivos de inspiração.
A urbanística renascentista vai de início manifestar-se em alguns campos
específicos: construção de sistemas de fortificações, modificação de zonas da
cidade com a criação de espaços públicos ou praças e arruamentos retilíneos,
reestruturação de cidades pelo rasgamento de nova rede viária, construção de
novos bairros e expansões urbanas, utilizando quadrículas regulares. O traçado
quadricular das cidades ideais de Francisco di Giorgio é arrematado,
perifericamente, por uma muralha poligonal: a idéia de um novo conceito de
ordem urbana, ainda, está ligada à tradição defensiva medieval.

Mesmo assim, a praça passa a ser entendida como um recinto ou lugar especial
e não apenas um vazio na estrutura urbana.

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A ORIGEM DO ESPAÇO LIVRE
Praças Modernas - Usos e Atividades
O lugar público moderno teve suas funções, aparência e caráter renovado em
relação ao espaços públicos que o antecederam por vários aspectos:
crescimento do número de apartamentos com áreas reduzidas, crescimento
populacional nos grandes centros, etc..

Para esses novos lugares foi usada todo o tipo de conhecimento para que o ser
humano pudesse ver no espaço público não só a contemplação mas também o
descobrimento, o lazer de uma forma mais generalizada.

Como exemplo cito o Parque La Villete em Paris, abriga em seu entorno museus
e casas de espetáculos. No interior do parque, brinquedos,circuitos, e uma série
de atividades podem entreter seus visitantes por horas.

Neste grande espaço estão, entre outras coisas, o mais interessante centro
auto-explicativo de ciência do mundo.

HISTÓRICO DO PAISAGISMO NO BRASIL


O surgimanto do Espaço Aberto no Brasil Colonial
A implantação do espaço livre no Brasil inicio-se, inevitavelmente com a
colonização e a formação das cidades. Com origem predominantemente
portuguesa, muitos espaços públicos como o Pátio do Colégio em São Paulo e o
Terreiro de São Francisco em Salvador, Bahia, trazem em suas características
semelhanças com praças medievais e renascentistas européias. Tanto uma
como a outra e outras tantas que foram construídas nessa época são praças
secas que assim como na Europa, tinhas como edifício principal uma igreja,
edifício público e, no caso de São Paulo um Colégio Jesuíta.

“De uma forma ou de outra, sendo à frente da igreja ou não, o largo ou terreiro
como também era chamado, era o espaço de interação de todos os elementos
da sociedade de todas as classes sociais. Era na praça que a população
manifestava sua territorialidade, os fiéis demonstravam sua fé, os poderosos,
seu poder, os pobres, sua pobreza. Era um espaço polivalente, palco de muitas
manifestações dos costumes e hábitos da população.”

Terreiro de São Francisco – espaço aberto à frete da igreja que recebia a população e suas diversas
manifestações

Como em muitos outros casos do período colonial e em diversas cidades, as


tendências para moda, costumes, arquitetura e outras formas de arte vêm dos
seus países colonizadores.

No caso do Brasil, o Passeio Público, que teve a sua motivação justamente


porque tanto Portugal como outras cidades da Europa estavam adotando novas
idéias por influência da burguesia que, sem rodeios, carecia de um espaço onde
poderia mostrar sua riqueza e poder sem ter que “se misturar”, foi o primeiro
grande projeto de paisagismo propriamente dito. Mas ao contrário do sucesso
deste projeto na Europa, o Passeio Público do Rio de Janeiro não vingou por
falta de público, isto é, não existia uma burguesia numerosa que fizesse jus à
tamanha área construída.
Após alguns anos de desuso e abandono, o Passeio foi restaurado e a época
desta restauração, segunda metade do século XIX, coincidiu com a implantação
dos jardins nas casas pois a elite urbana viria a apreciar o ato do passeio em
meio à vegetação.

Nesta época iniciam-se as construções de mansões soltas nos lotes rodeadas


por grandes jardins.

Antes secas, as praças as cidades que, agora estavam recebendo influência


européia, começaram a receber vegetação e tratamento de jardins com árvores
e plantas ornamentais. Este novo espaço de contemplação perde as funçoes de
lugar de marcado e palco para manifestações sendo, seu uso direcionado
somente para passeio e contemplação.

Aparência da Av. Paulista no fim do séc. XIX. Mansões soltas no lote e início da prática do paisagismo.

Como padrão de qualidade do espaço livre, as praças mais importantes e


mais bem localizadas, agora recebiam os primeiros projetos de
paisagismo, recebendo vegetação variada e organizada e elementos da
Belle Époque. Mesmo que com estilo eclético, as praças se fizeram
necessárias em razão do rápido crescimento demográfico das capitais.

Com o avanço da população aos grandes centros os espaços que antes


recebiam vegetação nativa foram dando lugar a edificações fazendo com
que o espaço público recebesse maior atenção e valor.

Começa assim o lançamento das prefeituras de grandes parques e praças


não diferente do que acontecia em meados de 1876 com a construção do
Central Park em Nova Iorque.
Foi no início do séc XX que surgiu, por exemplo o Parque Farroupilha, em
Porto Alegre, Parque do Anhangabaú em São Paulo e Parque 13 de maio
no Recife, entre outros.
Nas cidades do interior as praças centrais já tinham o paisagismo em seus
projetos originais.
O Central Park em Nova Yorque, o Vale do Anhangabaú em São Paulo e
o Parque Farroupilha em Porto Alegre.

AS TENDÊNCIAS E ADAPTAÇOES SOCIAIS

O modernismo surgiu como um movimento que contradizia a


materialidade, a volumetria e as regras do ecletismo na arquitetura. Por
isso começou a usar linhas mais retas e formas mais puras. Como o
paisagismo sempre refletiu as idéias da arte de uma forma semelhante, no
modernismo os jardins ganharam formas mais retas e perderam
completamente a simetria tão presente nas paisagens ecléticas e
clássicas.

Como as funções do espaço aberto mudaram em virtude da evolução de uma


série de fatores, a praça ganhou novos espaços que não só o de passeio e
contemplação.
Algumas praças receberam área para esportes, circuitos para caminhadas, etc.
O espaço aberto estava aberto para ser mais explorado, inclusive fragmentado
de acordo com as funções que o espaço exerceria.
Grandes espaços, agora, esta-vam recebendo um tra- tamento diferenciado e
bem menos orgânico.

Na praça da Sé, por exemplo, um lugar inicialmente de passagem, ganhou com


o projeto, muitos jardins em diversos níveis e um tratamento de piso diferenciado
à frente da Catedral.
A praça Belmar Fidalgo, localizada em uma área mais residencial teve
elementos em seu projeto que visavam o lazer e o esporte.

BURLE MARX

Nos livros de paisagismo esta frase é quase uma unanimidade:

“Como falar em paisagismo moderno sem falar em Burle Marx?”

Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo no dia 4 de agosto de 1909 e, em


1913, mudou-se para o Rio de Janeiro. Estudou pintura na Alemanha nos anos
de 1928 e 1929 e, nesse período, passa a freqüentar o Jardim Botânico de
Berlim onde descobre a Flora Brasileira, em estufas. De volta ao Brasil,
ingressa, em 1930, no curso de Belas-artes da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, onde recebe a Medalha de Ouro em Pintura, no ano de 1940.
Paralelamente à pintura e ao desenho passa a desenvolver projetos
paisagísticos.

Pelo seu trabalho, Burle Marx torna-se o paisagista de maior valor no País e no
estrangeiro, pela elaboração de projetos de jardins, praças, aeroportos, palácios
e residências em diversas cidades brasileiras, como os do Museu de Arte
Moderna e do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, o do Parque Ibirapuera,
em São Paulo, e do Eixo Monumental em Brasília, entre muitos outros.

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