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Universidade Autónoma

de Lisboa

HISTÓRIA V
HENRI LABROUSTE
Arquiteturas do Século XIX

Docente: João Belo Rodeia

Discentes: Carlos Faustino e Filipe Costa

2022
Arquiteturas do Século XIX

Henri Labrouste
Foi um arquiteto francês da Escola de Belas Artes e a
figura central do racionalismo no Neoclassicismo.
Nascido em 1801, filho de um advogado de nome
François-Marie Labrouste. Desde muito cedo destacou-
se nas escolas de arte em que passou. 4
Henri Labrouste

Vida e obra Ainda marcado com o radicalismo ele teria enviado


Labrouste desde muito cedo esteve comprometido com estas reconstruções coloridas para Paris,
os movimentos de renovação, e em 1819 começou os entusiasmando os defensores da aplicação do ferro
estudos na École de Beaux-Arts, a escola de estilos nos edifícios por ser um material que lhes permitiria
académicos renomada, onde se destacou como um pintar.
trabalhador feroz e solitário. De regresso a Paris ele funda a sua própria
Deixou a escola com excelência, tendo conquistado academia privada de Arquitetura em que consegue
várias honras e prémios durante o tempo de escola. E influenciar quase 400 alunos que por lá passaram,
foi para Roma em 1823 graças a uma bolsa de estudos até o encerramento em 1856. Trabalhou também
concedida pela Académie dês Beaux-Arts e no ano como assistente do arquiteto Felix Duban (1797-
seguinte enviou um comunicado ao ministro da filial 1870), e durante estes estudos ele desenvolveu um
pedindo que tanto o júri como a maneira de se avaliar o gosto particular pela construção formal dos arcos.
vencedor fossem revistas. Labrouste participou de várias competições, no
Aos 23 anos abrigado na Villa Medici, Labrouste entanto apesar de os seus projetos terem sido
estudava as leis de proporção para transformá-las em selecionados, eles não foram realizados. E
fórmulas a serem usadas pelos professores e alunos de finalmente um dia ele recebeu uma comissão oficial
Paris. Anualmente ele enviava para a Académie de correspondente à um projeto sociocultural: uma
Beaux-Arts vários trabalhos, desde desenhos com biblioteca para consulta e leitura para alunos com
detalhes de edifícios antigos, levantamentos, e até capacidade para 400 vagas.
possíveis restaurações, e com desenhos reprodutivos
dos edifícios de Paestum, Pompéia ou Sicília, se
descobrem a policromia dos edifícios antigos
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Arquiteturas do Século XIX

Biblioteca de Sainte-Geneviève

Se localiza no Quartier Latin de Paris onde estava o Mesmo com a sua aparência exterior neoclássica,
antigo colégio de Montaigu, junto ao colégio Sainte- ela já integra os princípios higienistas e prenuncia
Barbe e entre o Panteão e a Igreja de Saint-Étienne-du- muito o urbanismo moderno que estaria por vir, o
Mont. A biblioteca se desenvolve respeitando o eixo da seu sistema de organização ensaia uma arquitetura
Place du Panthéon e faz a implantação paralela ao funcionalista, menos agarrado aos princípios
Panteão. A bibliotecta aparece no cimo de uma colina, genéricos clássicos e sem o desenho de espaços
evocando a ideia de informação e cultura destinada à desnecessários que muitas das vezes só apareciam
comunidade académica, razão até para ser este lugar por necessidade de exagero e luxúria, antes as
conhecido como a colina dos livros. bibliotecas em sua maioria integravam palácios e
Mandou-se construir a biblioteca que teve a sua tinham escadas monumentais e múltiplas peças
primeira pedra lançada em 1838 e foi aberta ao público decorativas, com galerias que duplicavam as
em 1851, para ser um espaço novo com melhores prateleiras por exemplo.
condições para consulta pública e armazenamento de Na fachada exterior na base dos diversos vãos que
livros importantes da antiga biblioteca, mas sobretudo asseguram a iluminação natural da sala de leitura
para ser uma resposta moderna, numa altura em que estão inscritos os nomes de 810 sábios relevantes
se precisava de difundir a informação principalmente na história do conhecimento, distribuídos por vinte
entre os indivíduos mais necessitados no bairro. Ou e sete painéis em ordem cronológica, desde
seja é um dos primeiros frutos da revolução francesa e Moisés até ao químico sueco Jöns Jacob Berzelius.
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
tendo como foco o acesso à informação.

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Henri Labrouste

Os repetidos vãos se assemelham aos da Catedral de escritores importantes para fazer essa transição entre o
Rimini, e do Banco Mediceo de Milão, ambos do século espaço público e a biblioteca. E preocupado com o risco
XV, tanto o desenho do alçado remetem exatamente à de incêndio, ainda com a memória fresca do não muito
viagem de Labrouste para Itália onde esteve por 5 anos e distante incêndio de 1666 em Londres e não só,
estudou a arquitetura histórica italiana. Ele teve a Labrouste fez o espaço com uma casca em pedra e uma
intenção de fazer um jardim para deixar a biblioteca estrutura interior em ferro e cobertura exterior em zinco
mais recuado e sem um acesso direto para a via pública, e até a sua localização quase que isolada ajudou a
mas por ter pouco espaço exterior, teria optado por estrutura a ter uma certa incombustibilidade.
pintar cenas referentes à um jardim para dar esta
sensação e decorar esse espaço com bustos de
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Arquiteturas do Século XIX

Planta do piso térreo da Biblioteca de Saint-Geneviève

Planta do primeiro andar da Biblioteca de Saint-Geneviève

O edifício é construído por dois volumes, um


maior que se desenvolve ao longo da Place du
Panthéon e que se forma a partir de dois pisos
e é adoçado pelo outro que se localiza no lado
oposto à rua onde estão as escadas principais-
duplas-de ligação entre os pisos, sendo cada
uma delas compostas por dois lanços. E é o
primeiro edifício construído de raiz como uma
biblioteca na história da arquitetura francesa,
porque outrora estas eram partes integrantes
ou associadas à outras funções principais.

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Henri Labrouste

No piso superior acontece o espaço de consulta e de que acompanham o arco e se quebram na superfície,
depósito, desta maneira os livros são abrigados do frio acompanhados pelas janelas nas paredes laterais, o teto
nada favorável de Paris, e Labrouste utiliza uma abobadado é revestido em gesso estruturado parecido
configuração espacial semelhante às plantas basilicais, com o que se fez na Sala Sistina da Biblioteca do
que até é o que caracteriza o projeto, mas por outro lado Vaticano, e de certa forma esta solução quase que torna
revela um problema na dificuldade de climatizar o a estrutura independente do revestimento exterior,
espaço designadamente no pé-direito do compartimento mesmo que na parte lateral há um sistema metálico que
por esta questão do inverno em Paris. A iluminação no agarra as paredes utilizando um disco metálico que se
espaço de leitura é garantida por janelas que percorrem percebe no exterior, a carga central é descarregada em
todo o edifício e por estarem a uma cota das paredes finos pilares metálicos. E as descargas laterais são feitas
trazem uma excelente homogeneidade na luz interior, só com uso de contrafortes que diferente das igrejas
no piso superior se encontram quarenta e uma janelas, góticas, aqui eles aparecem no interior, o que favorece a
dezanove se abrem para o Panthéon, quatro em cada sua função e espaço ao passo que reforça a estabilidade
uma das fachadas laterais e catorze nas traseiras e da construção, na parte interior usam-se asnas metálicas
metade em cada uma das fachadas laterais à caixa de curvas que estão juntas aos duplos semicilindros em
escadas. negativo para darem suporte às abóbodas leves e que
O edifício é o primeiro na França a utilizar o ferro forjado têm um revestimento em gesso e estruturado por uma
desde as suas bases até a cobertura. Labrouste malha metálica mantendo a estabilidade e a leveza.
trabalhou na sua função e proporções desde a fachada, e O edifício contou ainda com um inovador sistema de
minuciosamente pensou nos materiais, no mobiliário e iluminação e aquecimento à gás que permitia a
decoração. O teto é feito com abóboda de berço com utilização do espaço para leitura durante a noite.
linhas

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Arquiteturas do Século XIX

Corte construtivo com pormenorização da solução metálica da Biblioteca de Saint-Geneviève

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Henri Labrouste

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Arquiteturas do Século XIX

Biblioteca Nacional de França

Mais uma vez ele utiliza uma caixa em alvenaria que é


sustentada a partir do ferro em colunas e abóbodas em
cruzaria que Labrouste vai novamente até ao gótico
buscar este sistema.
Como não podia utilizar velas num lugar rodeado por
tanto papel, Labrouste abriu grandes janelas que são
clarabóias de vidro que se elevam em mais de 9 metros
do solo aproveitam ao máximo a luz natural com o apoio
das inovadoras lâmpadas a trabalharem com gás, no
subsolo instalou-se um sistema de aquecimento que
conseguia aquecer as pernas dos leitores. A sala de
leitura é estruturada com a utilização destas finas
colunas metálicas, que já vêm do exercício anterior de
Labrouste.

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Henri Labrouste

Na sala de reservas ele utiliza uma cobertura quase toda


em vidro e clarabóias que vão ladeando a cobertura para
trazer a iluminação. E arcos totais que vão distribuindo a
carga em duas colunas metálicas.

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MURTINHO, Victor, Adelino Gonçalves – Biblioteca de
Saint-Geneviève em Paris: um resgate da amplitude
espacial e da luz. Coimbra: Universidade de Coimbra.
0874-3738. Dezembro de 2014.

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